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 Termo usado pela primeira vez em 1909 por Freud em

uma reunião da Sociedade Psicanalítica de Viena,


quando o apontou como um estágio necessário entre o
auto-erotismo e o amor objetal. Aparece em outros
artigos, mas em “Para introduzir o narcisismo” surge em
sua plenitude.
Ensaios sobre a sexualidade

Freud trata da questão da sexualidade como etiologia das neuroses. Fala
em uma equação etiológica composta por 4 fatores: 1) precondição; 2)
causa específica; 3) causas concorrentes; 4) causa precipitante ou
desencadeante.

 A precondição são fatores sem os quais o efeito não se manifesta, mas


que são incapazes por si mesmos de produzi-lo. Dentre as
precondições, Freud assinala a hereditariedade (embora não a
considere indispensável).

 A causa específica é condição necessária para que o efeito ocorra. Pode


ser suficiente ou não, necessitando nesse caso da concorrência de
outros fatores. A causa específica da neurose de angústia é sempre um
fator sexual.
Ensaios sobre a sexualidade

 As causas concorrentes são aquelas que podem ou não estar presentes
e que, qualquer que seja a sua quantidade ou intensidade, jamais serão
capazes, por si mesmas, de produzir o efeito. Pode ser qualquer
perturbação banal, exaustão física, terror, etc.

 A causa precipitante ou desencadeante é a que ocupa o último lugar


porque precede imediatamente a emergência do efeito. Qualquer das
demais pode ser precipitante, desde que preceda imediatamente o
efeito.
Os três ensaios sobre a
sexualidade

Os três ensaios sobre a sexualidade
 Aberrações sexuais – A sexualidade humana é em si
mesma aberrante e perversa, isso porque a sexualidade
animal é regida pela reprodução, e a humana pelo
princípio do prazer.
A sexualidade infantil

 O termo “sexualidade infantil” deixa de ser utilizado
para designar um comportamento sexual na infância,
imaturo e parcial, e passa a ser empregado como
conceito explicativo designando a natureza da
sexualidade humana.
 Não é fenômeno exclusivo da infância, oposto à
sexualidade adulta, madura e completa; mas
característica definidora da sexualidade humana,
sempre parcial, não plena e marcada pela incompletude.
A sexualidade infantil

 Sugar – uma das primeiras exteriorizações da
sexualidade infantil, não tem finalidade de nutrição,
embora ocasionalmente possam estar associados.
 Frequentemente tem por objeto uma parte do próprio
corpo (dedo), o que a torna independente de um objeto
externo.
 Independência de um objeto externo e independência da
finalidade de nutrição levam Freud a pensar no conceito
de autoerotismo.
A teoria da libido

 Libido – energia psíquica. Usa libido e pulsão sexual como
sinônimas.

 Características do conceito:
a) libido é referida à pulsão sexual e apenas a ela (Jung propôs
uma libido primordial indiferenciada que poderia ser sexualizada
ou dessexualizada, designando uma tensão geral, indeterminada,
uma espécie de élan vital/entusiasmo).
b) fala sobre um aspecto quantitativo (quantum de libido) e
também qualitativo (responsável pela distinção entre a libido e
outra energia)
c) diferencia a libido como energia das pulsões sexuais, diferentes
das pulsões de autoconservação (às vezes denominava de interesse
essa energia).
A teoria da libido

 Em Além do princípio do prazer (1920), Freud introduz o
conceito de pulsão de morte (enfatiza o dualismo):
pulsões sexuais e de autoconservação são unificadas sob o
nome de pulsões de vida, cuja energia é a libido, e
contrapostas à pulsão de morte, cuja energia é
destrutividade.
 Libido é considerada essencialmente masculina, pois é
sempre ativa. (?)
 Busca a experiência primária de satisfação, obtida através
do seio materno: reencontro. Mas o reencontro é
impossível.
O auto-erotismo

 Estado original da sexualidade infantil anterior ao do
narcisismo, no qual a pulsão sexual encontra satisfação (parcial)
sem recorrer a um objeto externo (marca definitivamente a
diferença da sexualidade humana, impedindo a redução da
pulsão sexual ao instinto).
 Os lábios funcionaram como zona erógena e o bico do seio e o
fluxo morno do leite funcionaram como estímulo da sensação
prazerosa, e a criança procura repetir esse prazer já obtido
antes, independente agora da função de nutrição. Ocorre agora
de forma auto erótica (ex.: polegar).
 Apoio – a pulsão sexual inicialmente se apoiaria e se
confundiria com o instinto, para, em seguida, desviar-se e
tornar-se autônoma.
 A libido vai pouco a pouco ampliando seus objetos.
O narcisismo

 Para introduzir o narcisismo (1914): começa com a
pergunta: qual a relação entre o narcisismo (...) e o auto-
erotismo (...)?
 Freud responde que não existe, desde o começo, uma
unidade comparável ao eu, o eu tem que ser
desenvolvido. O que se acrescenta ao euto-erotismo, para
dar forma ao narcisismo, é o eu (ich).

 Eu – representação que o sujeito faz de si mesmo; imagem


unificada de si mesmo; sentimento-de-si

 Investimento libidinal no eu.


Narciso

Narciso (1881), Gyula Benczúr


Narciso

 A versão mais conhecida do mito de Narciso é aquela
contada pelo poeta romano Ovídio (43 a.C.-18 d.C.) em sua
obra Metamorfoses.
 Diz o mito que Narciso é filho da ninfa Liríope e de Céfiso,
deus dos lagos. Certa vez, quando Narciso ainda era uma
criança, sua mãe procurou o adivinho Tirésias para saber se
o filho teria uma vida longa. A resposta deixou Liríope
perturbada: “Ele só viverá muito se não se conhecer”.
 Desde pequeno, Narciso chamava a atenção pela sua
beleza. E conforme os anos foram passando, não faltaram
pretendentes, tanto meninas quanto meninos, interessados
pelo belo rapaz. Mas Narciso não queria saber de ninguém:
desprezava todos.
Narciso

 Certo dia, enquanto caçava no bosque, Narciso foi
surpreendido por Eco, uma ninfa condenada a repetir o final
das frases que os outros falavam. Essa maldição havia sido
imposta pela deusa Hera, irritada com o fato da ninfa distraí-
la com sua tagarelice enquanto Zeus, seu marido, se
encontrava com suas amantes.
 O diálogo entre Narciso e Eco, como se pode imaginar, não
foi nada bom. Eco só conseguia repetir as últimas palavras
que Narciso dizia. Confuso e um tanto irritado, Narciso
repeliu Eco no momento em que a ninfa tentou abraçá-lo.
 Sentindo-se rejeitada, a pobre Eco se isolou no meio do
bosque e já não queria mais comer nem beber.
Tempos depois, ela morreu, mas sua
voz permaneceu. Eis a origem do eco.
Narciso

 Após o incidente com Eco, Narciso continuou desprezando todo
mundo que ousasse querer conquistá-lo. Até que um dia uma ninfa
clamou aos deuses que Narciso fosse punido. E a punição veio
pelas mãos de Nêmesis, a deusa da vingança.
 Durante um passeio pelo bosque, Narciso encontrou uma fonte de
água cristalina que até então nenhum ser vivo havia tocado.
Debruçou-se sobre a fonte e, sem se dar conta de que se tratava de
seu próprio reflexo, viu um belíssimo jovem olhando diretamente
para ele. O deslumbramento foi tão grande que Narciso não
conseguia parar de olhar para aquele misterioso rapaz. Estava,
enfim, apaixonado.
 Mas logo veio a decepção. O amor de Narciso não era
correspondido. Nem abraçar o seu amado ele podia. Apesar disso,
recusou-se a abandonar a fonte de água, na esperança de que um
dia pudesse concretizar o seu amor. Mas isso jamais aconteceu.
Narciso

 Profundamente deprimido, Narciso deixou de
comer e beber e acabou definhando à beira da
fonte de água. No lugar onde morreu, nasceu uma
flor amarela e branca, que hoje conhecemos pelo
nome de narciso.
Narciso

Eco e Narciso (1903), John William Waterhouse


Narciso

Narciso (1597-1599), Caravaggi


O narcisismo

 Antes do artigo o narcisismo era visto como
perversão (escolha do próprio corpo como objeto de
investimento amoroso), agora passa a ser visto como
forma necessária de constituição da subjetividade.
 No auto-erotismo há o prazer do órgão: não é o
corpo como um todo, uma unidade, sendo tomado
como objeto de investimento libidinal, mas partes de
um corpo fragmentado.
O narcisismo

 O narcisismo primário é a confluência da imagem
unificada que a criança faz de seu próprio corpo e da
revivescência do narcisismo paterno (eu ideal).
 O narcisismo secundário resulta de um retorno ao eu
dos investimentos feitos sobre os objetos externos.
 Entre o narcisismo primário e o secundário há um
investimento em objetos externos ao eu.
 Não pode ser visto como etapas, pode haver
concomitância com predominância de uma delas.
 Neurose – há uma retração da libido em favor do eu,
mas sem que o indivíduo elimine inteiramente o vínculo
erótico com pessoas e coisas. Esse vínculo é conservado
na fantasia, substituindo os objetos reais por objetos
imaginários.

 Psicose – a retração da libido não se faz pela substituição


de objetos reais por imaginários, não há o recurso da
fantasia. Ocorre um corte com relação ao objeto e uma
acumulação da libido no eu.
 Conclui-se sobre três pontos importantes: auto-
erotismo – narcisismo – escolha do objeto (-
narcisismo secundário?)
 Narcisismo originário – anterior ao auto-erotismo,
designa um estado anobjetal e monádico, no qual o
indivíduo estaria inteiramente fechado em si mesmo
sem qualquer mediação com o mundo exterior (que
momento na vida do sujeito seria isso? Recém-nascido,
adulto psicótico no máximo de seu fechamento
patológico, sonho...). Mas a discussão é em torno de um
funcionamento sexual e não modos de relação com o
mundo em geral.

 Vídeo - Christian Dunker


Referências

 GARCIA-ROZA, A. L. Introdução à Metapsicologia
Freudiana. vol. III. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

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