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A resposta da Rússia às sanções ocidentais ao petróleo

Szymon Kardaś, OSW

A Rússia envia cerca de 5 milhões de barris/dia de petróleo bruto (cerca de metade vai
para a Europa), e 2,7 milhões de barris de produtos petrolíferos.

Em 27 de dezembro, Vladimir Putin assinou um decreto sobre medidas para responder ao


limite de preço imposto pelos países ocidentais ao petróleo e aos produtos petrolíferos
russos. O documento proíbe o fornecimento desses produtos a pessoas físicas e jurídicas
estrangeiras caso os fornecimentos sejam realizados com base em contratos que prevejam a
utilização – direta ou indireta – do teto de preço. A proibição aplica-se a todas as fases de
entrega, não excluindo a entrega ao cliente final. Para o petróleo bruto, a disposição entrará
em vigor em 1º de fevereiro de 2023 e vigorará até 1º de julho de 2023. Já para os derivados
de petróleo, a data de implementação será definida pelo governo. Ao mesmo tempo, o
documento estipula que o Presidente da República pode autorizar o fornecimento de
petróleo bruto e de produtos petrolíferos mesmo que reúnam as condições de proibição
previstas na lei.

Comentário

• O decreto de Putin é uma reação esperada às restrições impostas pelos países ocidentais ao
comércio de petróleo e derivados russos. O documento foi anunciado anteriormente pelo
porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, e pelo vice-primeiro-ministro Aleksandr Novak. Nem
seu conteúdo nem a substância da resposta de Moscou são surpreendentes. Mesmo antes das
decisões finais do Ocidente sobre a questão do teto de preços, Putin anunciou repetidamente
que a Rússia não forneceria recursos energéticos a países que impusessem restrições de
preços relacionadas às importações de petróleo e gás da Rússia.

• A redação do documento indica que a intenção de Moscou era redigi-lo de forma que o
Kremlin pudesse ter grande flexibilidade na implementação dos regulamentos introduzidos.
Em primeiro lugar, foi dado ao presidente o direito de decidir arbitrariamente sobre a
aplicação de isenções à proibição de abastecimento. Há muitos indícios de que Moscou
pode estar interessada em exercer tal opção no caso de países que, embora tenham apoiado
as decisões de teto de preços, ao mesmo tempo seguem uma política voltada para o
fortalecimento da cooperação energética com a Rússia (Hungria). Em segundo lugar, o
decreto concede ao Ministério da Energia, após acordo com o Ministério das Finanças, o
direito de fornecer explicações sobre a aplicação do regulamento, o que também abre espaço
para mudanças interpretativas em função das necessidades políticas da Rússia. Em terceiro
lugar, a data relativamente distante de entrada em vigor do decreto relativo ao abastecimento
de petróleo (1º de fevereiro de 2023) e a falta de uma data específica relativa aos produtos
petrolíferos podem indicar que o Kremlin pretende acompanhar de perto a evolução dos
mercados petrolíferos nas próximas semanas e tomar decisões finais sobre a implementação
das proibições adotadas dependendo dos resultados observados. Isso também é confirmado
pela duração relativamente curta do documento (até 1º de julho de 2023).

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• É difícil prever até que ponto o decreto pode ser uma resposta eficaz – da perspectiva de
Moscou – às restrições ao petróleo implementadas pelos estados ocidentais. Isso é
influenciado pela já mencionada falta de clareza quanto ao processo de implementação de
suas disposições e, acima de tudo, pela mudança da situação no mercado mundial de
petróleo. Em primeiro lugar, o documento terá pouca relevância prática se os preços do
petróleo russo permanecerem tão baixos quanto nas últimas semanas de 2022. Em 21 de
dezembro, um barril de petróleo dos Urais custava menos de US$ 42 (Primorsk e Ust-Luga)
e US$ 40 (Novorossiysk ) nos portos europeus, bem abaixo do preço máximo estabelecido
pelos países do G7, UE e Austrália (US$ 60 por barril). Além disso, para os membros da
UE, o significado do decreto adotado será limitado pelo embargo às importações marítimas
de petróleo bruto da Rússia, em vigor desde 5 de dezembro. Em segundo lugar, não está
claro qual atitude em relação à Rússia será adotada pelos parceiros comerciais de países que
não aderiram às restrições introduzidas pelos países ocidentais. Embora Pequim ou Nova
Délhi, que aumentaram significativamente a oferta de petróleo da Rússia em 2022, não
tenham apoiado a decisão do G7, da UE e da Austrália, é possível que estejam ansiosos para
usar o teto de preço estabelecido para negociar descontos ainda maiores de Moscou. Em
terceiro lugar, o mercado global de petróleo é significativamente influenciado por fatores de
oferta e demanda, como o tamanho das reservas de petróleo nos EUA ou mudanças nas
previsões de demanda de petróleo nos próximos meses em países como a China.

• Embora não se possa descartar que Moscou usará o decreto como justificativa legal para
cortar o fornecimento de petróleo aos países da UE que importam petróleo através do
oleoduto Druzhba, tal cenário parece menos provável neste estágio. Por um lado, tal decisão
faria parte da lógica da escalada energética, um elemento da qual tem sido a redução e
suspensão do fornecimento de gás a muitos clientes europeus desde a primavera deste ano.
Além disso, os países que recebem o petróleo transportado por este oleoduto (Polônia,
Alemanha, República Tcheca, Eslováquia e Hungria) apoiaram formalmente a introdução de
um preço máximo. Por outro lado, no entanto, o abastecimento a esses países através do
oleoduto Druzhba foi formalmente isento do embargo da UE e, portanto, do mecanismo de
limite de preço. Assim, há muitas indicações de que as empresas russas poderão fornecer
petróleo aos clientes dos países indicados sob condições legalmente inalteradas (incluindo a
fórmula de preços).

Artigo original: Russia’s response to Western oil sanctions.

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