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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv8n3-077
Sheila Borges
Mestre em Ciências da Saúde pela Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)
Instituição: Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS)
Endereço: Setor Médico Hospitalar Norte, conjunto A , bloco 1, Edifício FEPECS. Asa Norte.
Brasília - Distrito Federal. CEP: 70710-907
E-mail: sbnutri12@hotmail.com
RESUMO
Introdução: A doença renal crônica (DRC) e as complicações decorrentes do tratamento afetam as
habilidades funcionais do indivíduo e a limitação das suas atividades diárias, juntamente com o
declínio da condição de saúde, leva esses indivíduos a necessitarem de cuidados para uma melhor
qualidade de vida. Objetivo: Avaliar os sintomas, o estado nutricional, a funcionalidade e a
percepção do tratamento dialítico. Método: Foi realizado um estudo transversal e descritivo com
indivíduos portadores de doença renal crônica em uma unidade de diálise do Hospital Regional de
Taguatinga. Foram avaliados os sintomas frequentes por meio da Escala de Avaliação de Sintomas
de Edmonton, o estado nutricional por meio do IMC (índice de massa corporal), a funcionalidade
por meio do Índice de Karnofsky, a percepção do tratamento dialítico por meio de questionário
previamente elaborado pela pesquisadora e o grau de comorbidades por meio do Índice de
comorbidade de Charlson. Resultados e discussão: Os achados deste estudo corroboram com o
censo brasileiro de diálise (2020), no que diz respeito à predominância de pacientes do sexo
masculino em hemodiálise (56,25%), e sobre essa ser a terapia mais utilizada se comparada à
diálise peritoneal. Assim como em outros estudos que analisaram: os sintomas relacionados à
DRC, a repercussão e o impacto que a doença produz na vida cotidiana desses indivíduos, foi
possível constatar que o manejo não adequado dos sintomas refletem em maior sofrimento a esta
população. Conclusão: É essencial que mais estudos abordando os cuidados paliativos na doença
renal crônica sejam realizados, e assim haja um plano de cuidado direcionado para o contexto em
que se está inserido, proporcionando melhoria na qualidade de vida desses indivíduos.
ABSTRACT
Introduction: The chronic kidney disease (CKD) and complications arising from treatment affect
the functional abilities of the individual and the limitation of their daily activities, along with the
decline in health status, leads these individuals to require care for a better quality of life. Objective:
To evaluate symptoms, nutritional status, functionality and perception of dialysis treatment.
Method: A cross-sectional and descriptive study was carried out with individuals with chronic
kidney disease in a dialysis unit of the Regional Hospital of Taguatinga. The frequent symptoms
were evaluated using the Edmonton Symptom Assessment Scale, the nutritional status through the
BMI (body mass index), the functionality through the Karnofsky Index, the perception of the
dialysis treatment through a questionnaire previously prepared by the researcher and the degree of
comorbidities through the Charlson Comorbidity Index. Results and discussion: The findings of
this study corroborate with the Brazilian census of dialysis (2020), regarding the predominance of
male patients on hemodialysis (56.25%), and about this being the most used therapy if compared
to peritoneal dialysis. As in other studies that analyzed: the symptoms related to CKD, the
repercussion and impact that the disease produces in the daily life of these individuals, it was
possible to verify that the inadequate management of symptoms reflects in greater suffering to this
population. Conclusion: It is essential that more studies addressing palliative care in chronic
kidney disease be carried out, and thus there is a care plan directed to the context in which it is
inserted, providing improvement in the quality of life of these individuals.
1 INTRODUÇÃO
O avanço tecnológico alcançado, em especial a partir da segunda metade do século XX,
associado ao desenvolvimento da terapêutica, fez com que muitas doenças mortais se
transformassem em crônicas, levando os portadores à longevidade (MATSUMOTO, 2012).
As doenças crônicas possuem evolução lenta, de longa duração, normalmente recorrentes
e exigem tratamento permanente. (Silveira & Ribeiro, 2005). O desenvolvimento no indivíduo de
uma doença crônica que gera incapacidades na vida adulta é comumente associado à deterioração,
à redução de competências, à dor física e emocional resultante da perda da independência e ao
aumento da necessidade de ajuda e assistência (CASTRO et al., 2004).
O envelhecimento populacional, associado à evolução no controle de doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT), faz com que a discussão sobre os problemas sociais, psicológicos e físicos
causados pelas DCNT torne-se cada vez mais importante. O acúmulo de comorbidades interfere
diretamente na qualidade de vida do paciente. Pacientes portadores de qualquer DCNT apresentam
um aumento de 1,7 vezes o número de internações e deixam de realizar suas atividades habituais
4 até 3,1 vezes mais (MALTA, 2017).
Além disso, estes pacientes estão fadados a conviver com sintomas diários, angústia
emocional e maior dependência social. Entender a complexidade destes pacientes e o contexto no
qual estão inseridos é de fundamental importância para o correto manejo e melhora da sua
qualidade de vida (ZERTUCHE-MALDONADO, 2018).
Apesar dos esforços dos pesquisadores e do conhecimento acumulado, a morte continua
sendo uma certeza, ameaçando o ideal de cura e preservação da vida, para o qual os profissionais
da saúde são treinados. (PUPIM,2018).
Diante dessa realidade, nota-se que um tipo de DCNT vem ganhando destaque devido ao
crescimento exponencial observado nas últimas décadas, trata-se da Doença Renal Crônica (DRC),
definida como a presença de danos nos rins ou a diminuição da função renal, durante três meses
ou mais, com repercussões no estado geral do paciente (KDIGO, 2012). Os rins tornam-se,
portanto, incapazes de manter o equilíbrio metabólico e hidroeletrolítico, o que resulta em um
quadro denominado de uremia (SMELTZER et al., 2008).
Os principais sinais e sintomas descritos são: fraqueza, fadiga, confusão mental, cefaleia,
prurido, edema, hálito de amônia ("hálito urêmico"), náuseas, vômito, anorexia, constipação,
diarreia, anemia, infertilidade, cãibras musculares, osteodistrofia renal, entre outros. A intensidade
desses sintomas na DRC depende do grau de comprometimento renal e de outras condições
subjacentes. Em seus estágios avançados, está relacionada a aumento de internações hospitalares,
mortalidade cardiovascular, piora na qualidade de vida e elevados custos para a saúde pública
(SBN, 2012).
Em 2017, as causas primárias mais frequentes da DRC terminal foram, a hipertensão
arterial sistêmica (34%) e diabetes mellitus (31%) (SESSO et al., 2017), ambos importantes
problemas de saúde pública, com grande impacto no perfil de morbimortalidade dos portadores.
Em julho de 2018, o número total estimado de pacientes em diálise foi de 133.464, sendo 58% do
sexo masculino e a maioria na faixa etária entre 45-64 anos (41,5%), seguido dos que estão com
mais de 65 anos (35%) (NEVES et al., 2020).
Não há dúvidas que a diálise, seja hemodiálise ou peritoneal, é capaz de prolongar a vida
do paciente. Entretanto, um novo estilo de vida, com severas mudanças, associado à uma série de
comorbidades ou envolvendo estar conectado à uma máquina, pode ocasionar sentimentos
negativos, além de não garantir a preservação da qualidade de vida (ROSA, 2012). A doença renal
e as complicações decorrentes do tratamento afetam as habilidades funcionais do paciente,
limitando suas atividades diárias, sendo que, frequentemente, essas alterações não são observadas
nas avaliações clínicas e biológicas convencionais. (HIGA et al., 2004).
O estudo do envelhecimento humano é uma temática de grande relevância no meio
acadêmico, pois a busca da promoção de uma velhice digna, ativa e saudável torna-se fator
relevante para a sociedade e para os diversos espaços onde a pessoa idosa está inserida. O
acometimento por condições patológicas, tais como câncer, doenças osteomusculares e
neurológicas crônicas, acarretamdependência funcional para a realização de atividades básicas,
que, junto ao declínio da condição de saúde, levam idosos a necessitar de cuidados paliativos
(COSTA et al., 2016).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o cuidado paliativo é aquele prestado
ao paciente cuja enfermidade não responde mais aos cuidados curativos, ou seja, ele visa melhorar
a qualidade de vida do paciente e de sua família por meio da identificação e do alívio da dor,
considerando a morte um processo natural, sem, no entanto, acelerá-lo ou retardá-lo, devendo,
também, proporcionar o cuidado nos aspectos psicológicos, espirituais e emocionais do paciente e
de sua família (WHO, 2014). Sendo assim, Cuidados Paliativos podem complementar e ampliar
os tratamentos modificadores da doença ou podem tornar-se o foco do cuidado, de acordo com os
desejos e as necessidades individuais de cada paciente(AZEVEDO et al., 2015; COOK et al.,
2014).
Taquemori e Sera (2008) defendem que as habilidades de uma equipe interdisciplinar
devem estar presentes para ajudar o paciente a adaptar-se às mudanças de vida impostas pela
doença, pela dor, e promover a reflexão necessária para o enfrentamento desta condição de ameaça
à vida para pacientes e familiares. As equipes interdisciplinares que atuam em Cuidados Paliativos
geralmente são compostas pelo médico, enfermeiro, assistente social e psicólogo, além de contar
com a assistência de outros profissionais como o nutricionista, fisioterapeuta, farmacêutico,
terapeuta ocupacional, capelão, dentista, fonoaudiólogo, entre outros.
Em Cuidados Paliativos, a terapia nutricional deve ser determinada de maneira
proporcional à expectativa de vida do paciente, visando conforto e qualidade de vida. A autonomia
do paciente deve ser priorizada, colocando-o no centro do atendimento, permitindo que ele faça
escolhas, considerando-se aspectos individuais, para a definição do cardápio, da consistência e do
volume da dieta. Desta maneira, a assistência aos pacientes em cuidados paliativos exclusivos (sem
possibilidade de tratamento modificador da doença) inclui a abordagem dos sintomas relacionados
à alimentação, de acordo com a tolerância e a aceitação do paciente, mediante uma conduta
nutricional individualizada e contextualizada (PINHO, 2016; MAGALHÃES, 2018).
A prática paliativa no Brasil teve seu início na década de 1980 e conheceu um crescimento
significativo a partir do ano 2000, com a consolidação dos serviços já existentes, alguns deles
pioneiros, e a criação de outros não menos importantes. O acesso aos cuidados paliativos é restrito
no nosso país, uma vez que os serviços se encontram limitados a hospitais de maior complexidade
(MARCUCCI et al., 2016).
Portanto, levando em consideração que o cuidado paliativo é uma forma de oferecer ao
portador de uma doença “sem perspectiva de cura”, uma opção na assistência e que o agravamento
da DCNT leva, cada vez mais, a perda da independência e aumento da necessidade de um cuidado
integral ao indivíduo prestado, de preferência, por uma equipe multi e interdisciplinar, com
respeito a sua autonomia e dignidade, o presente estudo, pensando em possibilitar qualidade e
manutenção da vida com o mínimo de sofrimento possível, oriundos do processo de adoecer
cronicamente, optou por meio de ferramentas específicas. Diante desse contexto, o objetivo desta
pesquisa é avaliar os sintomas, o estado nutricional, a funcionalidade e a percepção do tratamento
dialítico.
2 METODOLOGIA
Foi realizado um estudo transversal, descritivo, prospectivo com abordagem
quantitativa.Será desenvolvido por residente do Programa Multiprofissional em Nefrologia. O
estudo foi realizado na unidade de nefrologia do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) do
Distrito Federal, composta por 80 vagas do programa de Hemodiálise, nas quais atendem a
pacientes fixos e rotativos.
o paciente atribui uma nota de 0 a 10, sendo 0 sua ausência e 10 a sua maiorintensidade. Nos casos
em que a possibilidade de estabelecer uma comunicação com o paciente seja prejudicada, o
instrumento pode ser preenchido pelo cuidador, exceto os itens subjetivos de cansaço, depressão,
ansiedade e bem-estar. O instrumento é de fácil aplicação e utilizado nos cuidados paliativos como
direcionamento para ações necessárias no alívio de sintomas (FALLER et al., 2016).
O Índice de comorbidade de Charlson (ICC) (Anexo 3) é um método utilizado para
classificar a gravidade dos pacientes através do emprego da sua condição clínica,registrada a partir
da avaliação de diagnósticos secundários, no cálculo do risco de óbito.São descritas 17 condições
clínicas que podem influenciar na chance do paciente vir a falecer,sendo atribuído um peso para
cada uma delas, variando de 0 a 6. Juntamente com as comorbidades tem-se a idade como um
preditor de óbito (ICC corrigido por idade), sendo atribuído um peso para casa década de vida a
partir de 50 anos. Quanto maior o peso final, maior é a chance dopaciente vir a óbito (LUCIF e
ROCHA, 2004; MARTINS et al., 2008).
A escala de performance de Karnofsky (Anexo 4) avalia o comprometimento cognitivo,
funcional, presença de sintomas e complicações clínicas relacionadas aos cuidados paliativos em
portadores de DRC em tratamento dialítico, desenvolvida em 1948, é um instrumento utilizado
para avaliação funcional através da capacidade física e da autossuficiência. É composta por 11
variáveis, que descrevem diferentes estados funcionais, correlacionados com valores percentuais
que variam de 100% (sem evidência de doença, sem sintomas)a 0% (morte). A pontuação
escolhida deve ser aquela que melhor se adequa ao estado funcional do paciente (CABIANCA et
al., 2017; SANVEZZO et al., 2018).
3 RESULTADOS
A amostra foi composta por 32 indivíduos portadores de DRCT, a média de idade foi de
56,53±16,14 anos, sendo 56,25% participantes do sexo masculino e 46,68% com idade superior a
60 anos. A média de escolaridade relatada foi de 6,38±4,00 anos, 50% dos entrevistados estavam
casados e 93,75% declararam possuir rede de apoio. Ainda em relação às informações
sociodemográficas, observou-se que 50% eram aposentados, enquanto 9,38% não possuíam renda
e 87,50% residiam no Distrito Federal. Analisando o tempo de diálise,metade da amostra (50%)
iniciou o tratamento a mais de 2 anos, uma média de 69,19±94,85 meses em TRS (tabela 1).
Tabela 1. Características gerais dos participantes com doença renal crônica em tratamento dialítico na unidade de
nefrologia do Hospital Regional de Taguatinga (n=32).
Variáveis Número (N) Porcentagem (%)
Tipo de modalidade
Hemodiálise 30 93,75%
Diálise peritoneal 02 6,25%
Sexo
Masculino 18 56,25%
Feminino 14 43,75%
Idade
Até 60 anos de idade 17 53,12%
Acima de 60 anos de idade 15 46,88%
Tempo de hemodiálise
Até 12 meses 09 28,12%
Entre 13 e 24 meses 07 21,88%
Acima de 24 meses 16 50,00%
Estado civil
Solteiros 08 25,00%
Casados 16 50,00%
Viúvos 04 12,50%
Divorciados 04 12,50%
Escolaridade
Alfabetizados 30 93,75%
Analfabetizados 02 6,25%
Rede de apoio
Presente 30 93,75%
Ausente 02 6,25%
Situação previdenciária
Aposentado 16 50,00%
Pensionista 00 0,00%
Beneficiário 13 40,62%
Sem renda 03 9,38%
Local de residência
Distrito Federal (DF) 28 87,50%
Outro estado (entorno do DF/Goiás) 04 12,50%
Total 32 100,00%
Com relação ao índice de massa corporal (IMC) dos adultos, mais da metade (58,82%) da
amostra encontrava-se no IMC adequado (18,5-24,9 kg/m²), 41,18% com sobrepeso/obesidade
(IMC ≥ 25 kg/m²) e nenhum participante foi identificado com baixo peso neste grupo. Já entre os
idosos, 47,67% apresentavam-se abaixo do peso (IMC <22 kg/m²) e 40% se mantinham com peso
adequado (22-27 kg/m²).Em relação a etiologia, a principal doença de base que contribuiu para o
desenvolvimento da doença renal foi a hipertensão (40,62%), seguida de outras (28,13% que
englobam etiologia desconhecida, por uso de anti-inflamatórios não esteróides, antibióticos e por
bexiga neurogênica) e diabetes mellitus que representaram 18,75%.A qualidade do sono, foi
relatada como irregular por 34,38%. A condição funcional e física do paciente, calculada por meio
da escala Palliative Performance Scale (PPS), eque avaliou os domínios: deambulação,
atividade/evidência de doença, auto-cuidado, ingestão oral e nível de consciência, mostrou que a
maioria dos participantes (28,13%) obtiveram a pontuação de 60.Já na Escala deKarnofsky (KPS),
queavaliou o nível de função, capacidade de auto-cuidado e mobilidade, a pontuação com maior
número de paciente foi a de 70 e 50, representadas por28,13% da amostra, cada uma (tabela 2).
Tabela 2. Características clínicas dos participantes com doença renal crônica em tratamento dialítico na unidade de
nefrologia do Hospital Regional de Taguatinga (n=32).
Variáveis Número (N) Porcentagem (%)
Causas da doença renal
Diabetes 06 18,75%
Hipertensão 13 40,62%
Glomerulopatias 03 9,38%
Rim policístico 01 3,12%
Outras 09 28,13%
Escore da escala de performance paliativa
Menor de 50%
50%* 00 0,00%
60% 04 12,50%
70% 09 28,13%
80% 07 21,87%
90% 05 15,62%
100% 04 12,50%
03 9,38%
Estado nutricional dos adultos**
Baixo peso 00 0,00%
Eutrofia 10 58,82%
Sobrepeso 01 5,88%
Obesidade 06 35,30%
Estado nutricional dos idosos***
Baixo peso 07 46,67%
Eutrofia 06 40,00%
Obesidade 02 13,33%
Escore da escala de performance de
Karnofsky
100% 04 12,50%
90% 03 9,38%
80% 06 18,75%
70% 09 28,13%
60% 01 3,12%
50% 09 28,13%
Abaixo de 50% 00 0,00%
Qualidade do sono
Regular 21 65,62%
Irregular 11 34,38%
Total 32 100,00%
* Dos quatro participantes com 50% na escala de performance paliativa, um faz diálise peritoneal e três em
hemodiálise.
**Classificação utilizada para adultos OMS (1997).
*** Classificação utilizada para idosos Lipschitz (1994).
Mais da metade dos pacientes (59,37%) seguem apenas algumas das orientações dietéticas
feitas pelo nutricionista. 40,62% afirmaram ter uma autopercepção de saúde regular e 46,87%
mostraram algum conhecimento superficial sobre doença renal crônica e o tratamento seguido. Em
relação ao tratamento dialítico, a maioria (59,37%) acredita que o tratamentoauxilia na
manutenção da vida, enquanto 21,88%, acredita que o tratamento possibilita a cura da DRC. Um
total de 84,38% dos participantes nunca ouviu falar em cuidados paliativos. 56,25% dos pacientes
relataram que a qualidade de vida se tornou muito boa diante dos cuidados prestados pela equipe
de saúde e 71,87% afirmaram conseguir esclarecer dúvidas sobre a DRC e o tratamento com os
profissionais de saúde (tabela 3).
Tabela 3. Avaliação da percepção do tratamento dialítico dos participantes com doença renal crônica em tratamento
dialítico na unidade de nefrologia do Hospital Regional de Taguatinga (n=32).
Variáveis Número (N) Porcentagem (%)
Adesão às orientações dietéticas
Não segue a dieta prescrita pelo nutricionista 02 6,25%
Segue a dieta prescrita pelo nutricionista
Segue a dieta apenas se estiver sintomático 07 21,88%
Segue apenas algumas orientações dadas
pelo nutricionista 04 12,50%
19 59,37%
05 15,62%
Qualidade de vida com os cuidados
prestados
Muito boa 18 56,25%
Razoável 12 37,50%
Pouca qualidade 02 6,25%
Consegue esclarecer dúvidas com os
profissionais de saúde
Não 09 28,13%
Sim 23 71,87%
Total 32 100,00%
Gráfico1. Valores referentes aos sintomas na autoavaliação dos participantes em diálise, a partir do Edmonton
Symptom Assessment System (ESAS-r), n=32.
Após a análise dos dados, verifica-se que há correlação entre o tempo de diálise eidade;
Índice de Charlson e idade;tempo de diálise eÍndice de comorbidades de Charlson; e PPS e
Karnofsky. Não houve correlação entre as demais variáveis (tabela 4 ).
Tabela 4. Correlação entre a idade, tempo de diálise, escore da escala de performance paliativa, índice de massa
corporal, índice de Charlson e escala de Karnofskydos participantes com doença renal crônica em tratamento dialítico
na unidade de nefrologia do Hospital Regional de Taguatinga (n=32).
Variáveis Tempo de PPS* Índice de Índice de Escala de
diálise massa Charlson Karnofsky
corporal
Idade r -0,393 0,044 -0,028 0,729 0,069
p 0,026 0,813 0,877 <0,000 0,708
Tempo de diálise r -0,105 0,005 -0,382 -0,086
p 0,568 0,977 0,031 0,638
PPS* r 0,093 -0,205 0,844
p 0,614 0,261 <0,000
Índice de massa r 0,100 0,068
corporal p 0,586 0,710
Índice de r -0,170
Charlson p 0,351
Legenda: r = coeficiente de correlação de Pearson e Spearman. P valor <0,05 para significância estatística.
*
PPS: Escala de Performance Paliativa.
4 DISCUSSÃO
Analisando-se comparativamente os dados dos censos de 2009, 2013 e 2018, observou-se
que a prevalência global estimada de pacientes em diálise crônica passou de 405 pmp em 2009
para 640 pmp em 2018, correspondendo a um aumento absoluto de 58%. O número estimado de
novos pacientes em diálise em 2018 foi de 42.546, um aumento de 54,1% em relação a 2009, e o
Distrito Federal é o estado com maior taxa de prevalência estimada de pacientes em diálise, com
931 pmp (NEVES et al., 2020).
Corroborando com os achados deste estudo, o censo constatou que a hemodiálise continua
sendo o método de depuração renal predominante, adotado atualmente para 92% dos pacientes
com doença renal em estádio terminal (DRCT) e no que tange ao perfil dos pacientes deste estudo,
permanece o predomínio do sexo masculino (58%) (NEVES et al., 2020).
A prevalência de homens em diálise, pode ser explicada pelo fato de que esse público tende
a usar menos os serviços de saúde, como procura por médicos, realização de exames e práticas de
promoção e prevenção, quando comparado com as mulheres (MALTA et al., 2017).
Diferentemente dos EUA e da maioria dos países na América Latina, onde a diabetes
mellitus é a principal etiologia de DRCT, o Brasil mantém a hipertensão como principal causa-
base, com cifras estáveis há alguns anos. (CHAN et al., 2019; USRDS, 2019; SLANH, 2018).
Observa-se uma tendência global no aumento progressivo da faixa etária dos pacientes,
com expressiva porcentagem de idosos. Tal fato pode ser explicado pelo aumento da expectativa
de vida da população em geral, além do aprimoramento progressivo das técnicas dialíticas e
medicações de suporte às complicações da doença renal crônica terminal, permitindo também
maior longevidade aos pacientes prevalentes. Entretanto, o aumento da porcentagem de pacientes
longevos implica aumento de carga de comorbidades entre os pacientes realizando terapia renal
substitutiva. O aumento do número de pacientes idosos com falência funcional renal associado a
maior presença de comorbidades tem levado à discussão sobre a necessidade de planejamento de
cuidados e de tratamento dialítico nessa população (CHAN et al., 2019; SLANH, 2018;
SCHMIDLI et al., 2018; KDOQI, 2018).
Uma vez que, com a progressão da doença é recorrente o surgimento de dificuldades na
funcionalidade do indivíduo, surgem dores lombares, fraqueza, tremores, dentre outros sintomas,
podendo esses fatores influenciarem na dificuldade de realização de tarefas diárias e
compromissos, o que pode justificar as menores médias para função física e trabalho. Pacientes
em hemodiálise também são suscetíveis ao desenvolvimento de transtornos de humor como
ansiedade e depressão, sendo esses atrelados a diminuição da qualidade de vida (OTTAVIANI et
al., 2016).
Em um estudo com 122 pacientes em hemodiálise do prospectivo, coorte multicêntrico
“Desnutrição, dieta e disparidades raciais na doença renal” que foram submetidos a avaliações
protocolizadas do Índice de Sintomas de Diálise, os sintomas autorrelatados mais prevalentes
incluíram sensação de cansaço/falta de energia (71%), pele seca (61%), coceira (42%), cãibras
musculares (42%) e dormência/formigamento nos pés (41%)92. Os pacientes também relataram
uma alta frequência de problemas gastrointestinais, sintomas mentais e/ou emocionais, distúrbios
do sono e dor. (GELFAND at al., 2020; ZARANTONELLO et al., 2021).
Segundo ABDEL et al., (2019), o número médio de sintomas em pacientes com
insuficiência renal e o sofrimento causado pela alta carga sintomática são semelhantes aos
experimentados por pacientes com neoplasias terminais, afetando a vida diária e resultando em má
qualidade de vida relacionada à saúde e perda de produtividade. Portanto é de grande importância
a atenção do nefrologista e da equipe multiprofissional para antecipar, identificar e aliviar esses
sintomas. A partir do momento que se compreende, dá-se um passo importante para alcançar o
objetivo de viver bem com a doença renal por meio do manejo eficaz dos sintomas (KALANTAR,
2021).
Adequar a dieta ao estágio da doença renal é uma poderosa ferramenta no controle dos
sintomas da DRC, como a restrição de sal, para o controle da hipertensão arterial e do edema; e a
parcimônia no uso de determinadas frutas, legumes e verduras, para controle do potássio sérico;
porém são algumas das limitações dietéticas que tendem a diminuir ainda mais a aderência do
paciente. (KALANTAR, et al., 2015). O papel do nutricionista é fundamental para se alcançar o
sucesso nessa estratégia, pois com o avançar da DRC, a presença de edema se torna uma condição
muito frequente, principalmente nos pacientes que apresentam baixa aderência à restrição dietética
do sal e não realizam o controle na ingesta hídrica. Nesses casos, é comum o uso de diurético de
alça e diurético tiazídico, como uma ferramenta poderosa no controle do edema e na redução dos
níveis de pressão arterial (WILCOX, 2002; SICA, 2011). Entretanto, seu uso imprudente pode
provocar hipovolemia, piora de câimbras, hipo ou hipernatremia, além de hipocalemia.O uso dos
quelantes de fósforo, objetivando evitar a hiperfosfatemia e controlar a elevação progressiva do
paratormônio, também contribui para a geração de efeitos colaterais relacionados ao trato
gastrointestinal.
O tamanho da amostra desta pesquisa impossibilitou comparação na avaliação de pacientes
em hemodiálise e em diálise peritoneal, o fato dos pacientes em hemodiálise estarem na unidade
de nefrologia três vezes por semana, diferentemente dos pacientes em diálise peritoneal, que
comparecem para consultas periódicas com o nefrologista, contribuiu para a dificuldade em maior
número de participantes desta segunda modalidade citada. Porém, mesmo com tais limitações,
através dos dados obtidos neste estudo e consultando a literatura, foi possível compreender a
necessidade de mais estudos voltados para a abordagem de cuidados paliativos da doença renal
crônica.
A implementação adequada de um gerenciamento eficaz de sintomas, incluindo cuidados
paliativos focados na DRC, necessita de participação dos pacientes e da sua rede de cuidados na
organização, priorização e avaliação dos cuidados. Essa abordagem pode incluir, por exemplo, um
uso expandido de cuidados paliativos focados na DRC, de modo que, em vez de ter uma consulta
única de cuidados paliativos durante uma hospitalização, um paciente em diálise ou um potencial
candidato à diálise possa ser avaliado para tratamento concomitante de sintomas, como
ambulatorial e depois durante cada internação, independente da gravidade da doença
(KALANTAR et al., 2020).
4 CONCLUSÃO
Através da aplicação do questionário e dos instrumentos, observou-se qual a percepção do
indivíduo em relação à condição de sua vida diante da enfermidade com suas consequências e dos
tratamentos seguidos, assim como a influência na realização das atividades do cotidiano, grau de
resistência física, de dependência de um cuidador/familiar, estado psicológico e social.
REFERÊNCIAS
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