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Hugo José Alves¹; Joice Viviane de Sousa Rocha¹; Ana Luiza Exel²
1 Discente do Curso de Fisioterapia – Centro Universitário Tiradentes – UNIT. Maceió, AL - Brasil.
2 Docente do Curso de Fisioterapia – Centro Universitário Tiradentes – UNIT. Maceió, AL - Brasil.
RESUMO
INTRODUÇÃO: A doença renal crônica (DRC) é causada por uma série de doenças que
compartilham uma diminuição progressiva na taxa glomerular de filtração, afetando diversos
sistemas e acarretando em uma baixa qualidade de vida. Uma maneira de manter uma
resposta satisfatória ao esforço e atividades diárias é inserir exercícios físicos na rotina dos
pacientes em hemodiálise (HD). OBJETIVO: Relacionar os benefícios do exercício aeróbico
e resistido intradialítico em pacientes com doença renal crônica. METODOLOGIA: A busca
sistemática deste estudo foi conduzida através das bases de dados: SciELO (Scientific
Electronic Library Online), PubMED (via National Library of Medicine) e LILACS (Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). RESULTADOS: A partir da
estratégia de busca foram encontrados 38 estudos potencialmente relevantes identificados
através de uma pesquisa nos bancos de dados (PubMED = 26; SciELO = 12; LILACS = 0).
Destes, apenas nove estudos foram considerados elegíveis para análise dos dados.
CONCLUSÃO: Os estudos afirmam de maneira similar que o exercício físico intradialítico,
seja ele aeróbico ou resistido em pacientes com DRC se mostra eficaz, apresentando
melhora da força muscular e capacidade funcional.
ABSTRACT
MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os oito estudos escolhidos foram publicados entre 2015 e 2019, sendo que o
tamanho das amostras variou de 14 a 306 participantes por estudo. O tamanho da
amostra agrupada foi de 653 participantes, com uma média de 81 participantes por
estudo.
Características dos participantes, grupos, intervenções e resultados
As características dos participantes e dos grupos, assim como os resultados, foram descritas na Tabela 1.
Tabela 1: Características dos participantes dos estudos incluídos
Moriyama G Intervenção= 306 70+/- Foi utilizado um dinamômetro para avaliar a força O programa de resistência foi associado a um
(2019) 47,7% (F) / 52,3% (M) 11 muscular de extensão de joelho. aumento da força muscular das extremidades
inferiores e aumento do desempenho físico.
Silva G Controle= 15 54 +/- A atividade física foi avaliada por meio da versão O treinamento aeróbico intradialítico resultou em
(2019) G Intervenção= 15 16,1 resumida do IPAQ; o VO2máx e a FCmáx e em uma redução estatisticamente significativa de
15 (F) / 15 (M) repouso foram avaliadas por um teste de exercício aldosterona no GI. Esse mesmo grupo apresentou
em esteira usando o protocolo de Bruce; para diferença em relação aos valores basais, com
realizar as medidas do coração, realizaram redução do tamanho do septo interventricular e a
Ecocardiografia transtorácica; por fim, analisaram parede posterior em diástole.
exames laboratoriais.
Cruz IAT = 15 Os participantes foram avaliados através da Doze semanas de treinamento aeróbio intradialítico
(2018) Controle = 15 18 +/- Antropometria, Indice de Kt/ V, amostra de sangue, foi eficaz no controle dos níveis de marcadores e
13 (F) / 17 (M) 65 marcadores inflamatórios, Teste de Desempenho na melhora da capacidade funcional através do
aumento da distancia percorrida no (TC6M) dos
Fisico: TC6M.
pacientes com doença renal crônica. Observamos
redução significativa do IMC.
Guio DRC=14 Todos foram submetidos a A RCP intradialítica nesta população foi segura e
(2017) 8 (F) / 6 (M) 50,2 ecocardiografia transtorácica, avaliação de capacida- permitiu melhora objetiva da capacidade funcional e
± 15,2 de funcional pelo TC6M e questionário de qualidade tolerância ao exercício, melhora subjetiva na
percepção do esforço, aumento significativo da
de vida (SF-36). Para definir a dose de exercício, a
função cardíaca, bem como melhoria na qualidade
fórmula de Karvonen foi aplicada para calcular a de vida em diferentes domínios.
frequência cardíaca de treinamento.
Thompson Ciclismo, n = 7; 57,6 Para avaliar força, resistência e equilíbrio o SPPB foi Vários pacientes atribuíram melhorias nas funções
(2016) Resistência, n = 6; (49,2– realizado. O TC6M para capacidade funcional em diárias e participação no exercício intradialítico,
Ciclismo e treinamento 75.1 seguida para testar a resistência muscular foi usado melhorias na diálise e sintomas relacionados
de resistência, n = 7;
sentar-para-ficar 30s. A força muscular foi medida também foram mencionados, principalmente
Alongamento n = 6
77% (F) / 23% (M) com uma repetição do teste máximo (1-RM) e a diminuição das cãibras e pernas inquietas.
qualidade de vida: SF-36.
Marchesan G Controle + G 54,3 A avaliação da capacidade funcional dos pacientes Os resultados deste estudo evidenciaram que o
(2016) experimental = 15 foi realizado antes e após o treinamento através do exercício modifica positivamente a capacidade
4 (F) / 11 (M) TC6M. A resistência dos músculos dos membros funcional, como aumentou a distância percorrida no
TC6M, força muscular respiratória e o número de
inferiores: avaliada pelo STS. O manômetro foi usado
STS repetição em pacientes em HD.
para medir a força muscular respiratória.
Bennett G1= 51 68,1 Função física: STS de 30 segundos, TUG e FSST; O treinamento de resistência intradialítico contribuiu
(2015) G2= 61 +/- Qualidade de vida: KDQOL; Envolvimento nas positivamente no resultado do teste de sentar e
G3= 59 12,6 atividades da comunidade foi medido usando o FAI; levantar e no TUG.
37,4% (F) / 62,6% (M) Escala de Eficácia de Quedas Modificada.
Olvera- G Controle= 31 29 (21 O estado nutricional foi determinado com a Avaliação A intervenção no grupo de exercícios de resistência
Soto G Exercício= 30 – 39,5) Subjetiva Global; Medidas da circunferência do braço promoveu aumento da circunferência e área
(2015) 28 (F) / 33 (M) foram tiradas com fita antropométrica; Dinamômetro muscular do braço e de força de preensão manual.
de punho para força de preensão manual.
F: Feminino; M: Masculino; G: Grupo; IPAQ: Questionário Internacional de Atividade Física; FCmáx: Frequências cardíaca máxima; GI: Grupo Intervenção;
IAT: Treinamento aeróbio intradialítico; TC6M: Teste de caminhada de 6 minutos; IMC: Índice de massa corporal; DRC: Doença Renal Crônica; SF-36:
Questionário de qualidade de vida; RCP: Reabilitação Cardiopulmonar; SPPB: Short Physical Performance Balance; STS: Teste sit-to-stand de 30
segundos; HD: Hemodiálise; KDQOL: Qualidade de vida em doenças renais; TUG: Timed up and GO; FSST: Teste de Quatro Quadrados; FAI: Índice de
Atividades Frenchay;
Fonte: Autores.
Todos os estudos desta presente revisão utilizaram a população de pacientes
com DRC que realiza HD e variaram a intervenção entre exercício intradialítico
aeróbico ou resistido. Moriyama et al. (2019) avaliaram seis meses de treinamento
de resistência com um protocolo que consistia em duas séries de 10 repetições com
três tipos de treinamentos de resistência das extremidades inferiores: extensão de
joelho, abdução do quadril e flexão do quadril usando uma faixa elástica, com média
de 15 minutos por dia. Ao fim, em relação às medidas de resultado primário, tanto a
potência muscular da extensão do joelho e o desempenho físico mostraram um
aumento leve mas significativo de 42,3 ± 14,9% para 45,7 ± 14,9% e de 10,0 ± 2,6 a
10,4 ± 2,5, respectivamente; a variável de potência muscular da extensão de joelho
aumentou significativamente após 6 meses, em contraste, não houve mudança
estatística na distância de caminhada de 6 minutos.
Silva et al. (2019), dividiram os pacientes nos 2 grupos a seguir: grupo
controle (GC) seguido sem nenhuma intervenção por 4 meses e um grupo
intervenção (GI) submetido ao treinamento físico aeróbico intradialítico durante 4
meses, sendo esse programa realizado durante as primeiras 2 horas de HD, 3
vezes por semana, com cicloergômetro adaptado à cadeira de HD, com uma carga
imposta progressivamente de acordo com o desempenho de cada paciente. O
treinamento aeróbico durou 30 minutos ininterruptos, entre 65 e 75% da FCmáx,
controlado por um cardiofrequencímetro, com uma pontuação da escala de Borg
em torno de 13. Relataram que não houve diferença estatisticamente significativa
entre os grupos em relação às alterações do VO2máx, no tempo total de teste em
esteira, distância percorrida, ou equivalente metabólico da tarefa (MET). Em ambos
os grupos, notou-se aumento do potássio, redução da aldosterona no GI, proteína
reativa-C maior no GC do que no GI no momento pós treinamento, e o GI
apresentou uma estatística diferença em relação aos valores basais, com redução
do tamanho do septo interventricular e a parede posterior em diástole, redução no
índice de massa ventricular esquerda (IMVE) e um aumento na hiperemia reativa.
Cruz et al. (2018) selecionaram 30 pacientes, alocados aleatoriamente, para
obter seus dados demográficos, tempo de tratamento em HD e índice Kt / V. O
grupo de TAI (n=15) composto por pacientes do sexo masculino, participou de doze
semanas de treinamento aeróbico realizado com cicloergômetro nas primeiras duas
horas de HD com uma duração média de 36 minutos, três vezes por semana. O
Grupo controle (n=15) manteve suas rotinas diárias habituais, a maioria dos
participantes era do sexo feminino, e a intervenção consistia em três etapas:
aquecimento, condicionamento e resfriamento. A fase de aquecimento durou três
minutos e a intensidade do exercício era baixa (Borg = 2-3), o estágio de
condicionamento durou 30 minutos e a intensidade do exercício era grave (Borg = 6-
7), o estágio de resfriamento durou três minutos com a intensidade baixa (Borg = 2-
3). Realizaram o monitoramento da PA a cada 5 minutos em repouso e após o
resfriamento, juntamente com a saturação e batimentos cardíacos. O treinamento
era interrompido em casos de atividade física intensa, fadiga, dor no peito, tontura,
palidez, síncope, taquicardia, hipotensão e fadiga nas pernas. Após 12 semanas,
apenas o grupo de exercícios aeróbico apresentou redução significativa dos níveis
séricos de interleucina-1β, 6 e 8, necrose tumoral fator alfa e aumento dos níveis de
interleucina-10 e aumento da capacidade funcional, porém, não houve diferenças
significativas entre os grupos para idade, tempo de tratamento de HD e índice Kt /V
antes do início do estudo.
Guio et al. (2017) avaliaram 14 pacientes durante 3 fases em um total de 240
dias. Todos foram submetidos à ecocardiografia transtorácica, avaliação de
capacidade funcional pelo TC6M e questionário de qualidade de vida (SF-36). Os
pacientes foram submetidos ao uso do cicloergômetro para os membros inferiores
após os primeiros 60 minutos de HD, por 30 minutos. Para definir a dose de
exercício, aplicaram a fórmula de Karvonen para calcular a frequência cardíaca de
treinamento (FCT), através de uma frequência cardíaca máxima (FCM) e utilizando
50-80% da frequência cardíaca de reserva (FCR). Além disso, para garantir a
segurança do paciente durante os procedimentos, utilizaram a escala de Borg
modificada a cada 10 minutos para medir a percepção do esforço. Por fim, o estudo
não mostrou alterações significativas juntamente com os testes bioquímicos e no
KT/Vsp. Já no TC6M, os autores observaram que houve aumento progressivo da
distância percorrida dos pacientes analisados. A RCP intradialítica nesta população
mostrou-se segura e permitiu melhora objetiva da capacidade funcional e tolerância
ao exercício, melhora subjetiva na percepção do esforço, aumento significativo da
função cardíaca, bem como melhoria na qualidade de vida em diferentes domínios.
Thompson et al. (2016) instruíram todos os 26 participantes em diferentes
grupos (ciclismo, n = 7; treinamento de resistência, n = 6; combinado ciclismo e
treinamento de resistência, n = 7; alongamento n = 6). Os protocolos de exercícios
foram realizados três vezes por semana onde cada sessão incluiu 5 minutos de
aquecimento e relaxamento no cicloergômetro. Iniciaram o protocolo de ciclismo
com 15 minutos, o tempo aumentou 2,5min a cada semana e a resistência ajustada
para manter a classificação de esforço percebido (RPE) com alvo de 9-10. A
intervenção com pesos e faixa elástica no tornozelo foi realizada com flexão e
extensão de joelho e quadril. O peso ou a resistência foram aumentados quando o
RPE do paciente esteve menor que o alvo. Os participantes do grupo de
treinamento combinado realizaram o programa de exercícios de resistência
completo seguido pelo programa completo de ciclismo no cicloergômetro durante a
diálise. No geral, a equipe da unidade de diálise concordou que o programa de
exercício mostrou-se valioso para os pacientes, constataram melhorias subjetivas
dos pacientes, como “sentir-se mais saudável”, diminuição das cãibras, pernas
inquietas, melhorias nas funções diárias e melhora na participação do exercício
intradialítico como evidência válida como principais benefícios.
Marchesan et al. (2015) estudaram os 15 participantes, de ambos os sexos,
com idade superior a 60 anos. Realizaram treinamento aeróbico em bicicleta
ergométrica, seguido de exercícios de resistência para membros superiores e
inferiores, tórax, abdômen e região posterior do tronco, durante a sessão de HD,
três vezes por semana, durante quatro meses. Os pacientes foram instruídos a
permanecer sentados, com o braço da fístula o mais imóvel possível, então não
houve danos ao acesso arteriovenoso. Os pacientes foram distribuídos em grupos,
controle (GC) e experimental (GE). Avaliaram a capacidade funcional através do
teste de caminhada de seis minutos (TC6M), sentar para levantar (TSL) e da força
muscular respiratória. O resultado principal deste estudo evidenciou que o exercício
físico modifica positivamente a capacidade funcional dos pacientes idosos com
doença renal crônica em HD, aumentando a distância percorrida no teste
caminhada de 6 minutos, força muscular respiratória e o número de STS repetição
em pacientes em HD.
Bennett et al. (2015) dividiram sua população em Grupo 1 (G1), que recebeu
36 semanas de treinamento de exercícios, Grupo 2 (G2) recebeu 24 semanas de
exercícios e Grupo 3 (G3) recebendo 12 semanas de exercício, aplicando o
programa de resistência na primeira hora de HD, este consistia em abdução da
perna, flexão plantar, dorsiflexão, elevação da perna reta / joelho dobrado, extensão
do joelho e flexão do joelho, com uso de faixa elástica e aumento de resistência
progressivamente. Antes de iniciar o programa, observou durante 1, 2 e 3 semanas,
respectivamente, o declínio dos grupos sem nenhuma intervenção. Os resultados
das medidas observadas, mostraram uma diminuição no número do TSL de 30 s
antes da intervenção e, em seguida, um aumento após a intervenção; um aumento
no tempo para o TUG antes da intervenção e uma diminuição após o início da
intervenção.
Olvera-Soto et al. (2015) avaliaram o grupo intervenção com um programa de
resistência durante 24 sessões que foram distribuídas em 12 semanas, com
frequência de duas vezes por semana, com duração média de 50 minutos e eram
realizadas durante a segunda hora de hemodiálise, dividindo os exercícios em '' A '',
extensão de braço, '' B '', extensão da perna, '' C '', extensão de perna reta, e '' D ''
marchando sentado. Após análise, constataram que o grupo que recebeu a os
exercícios de resistência mostrou que a intervenção foi benéfica com mudanças
significativas nas seguintes variáveis: circunferência do músculo do braço aumentou
de 23,36 cm a 24,14 cm e área muscular do braço de 35,9 cm² a 36,6 cm². Quanto a
força de preensão manual, no grupo de exercícios foi de 19,6 kg a 21,2 kg,
enquanto isso, no grupo de controle, a força de preensão realmente diminuiu de
19,8 kg para 17,8 kg.
A inserção de pacientes com DRC em programas de exercícios é um
empreendimento desafiador em todos os estágios da DRC, desde a fase inicial até a
fase crônica, e o conhecimento sobre a atividade física e os resultados nesses
pacientes provém principalmente de estudos observacionais, dados de registro ou
ensaios clínicos de pequeno porte (MALLAMACI et al., 2016).
Desta forma, fica notável que o exercício intradialítico resulta em benefícios
para o paciente renal crônico, a exemplo do que Bennett et al., 2016 mostraram em
seu estudo, onde avaliaram a população por um período antes e após a
intervenção, chegando à conclusão de que o paciente sedentário não só permanece
sem evolução como também pode apresentar algumas perdas nutricionais ou
físicas.
CONCLUSÃO
Bastos, M.G. et al. Doença renal crônica: frequente e grave, mas também
prevenível e tratável. Rev Assoc Med Bras 2010; 56(2): 248-53
CURY, J.L.; Brunetto, A.F.; Aydos, R.D. Negative effects of chronic renal failure on
lung function and functional capacity. Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 2, p.
91-8, mar./abr. 2010
Lara, M.J.F. et al. Revisión: Beneficios del ejercicio físico en pacientes con
enfermedad renal crónica en hemodiálisis. Enferm Nefrol 2018: abril-junio; 21 (2):
167/181
Silva, V.R.O. et al. Aerobic Exercise Training and Nontraditional Cardiovascular Risk
Factors in Hemodialysis Patients: Results from a Prospective Randomized Trial.
Cardiorenal Med 2019; 9:391–399
Thomé, F.S. et al. Brazilian Chronic Dialysis Survey 2017. Braz. J. Nephrol. (J.
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