Você está na página 1de 14

EFEITOS DO EXERCÍCIO INTRADIALÍTICO EM PACIENTES COM DOENÇA

RENAL CRÔNICA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA


Effects of intradialytic exercise in patients with chronic kidney disease: an integrative
review

Hugo José Alves¹; Joice Viviane de Sousa Rocha¹; Ana Luiza Exel²
1 Discente do Curso de Fisioterapia – Centro Universitário Tiradentes – UNIT. Maceió, AL - Brasil.
2 Docente do Curso de Fisioterapia – Centro Universitário Tiradentes – UNIT. Maceió, AL - Brasil.

Endereço para Correspondência:


Ana Luiza Exel - Curso de Fisioterapia
Av. Comendador Gustavo Paiva, 5017, Campus Amélia Maria Uchôa.
CEP: 57038-000 - Maceió – AL [Brasil]
ana_exel@al.unit.br

RESUMO

INTRODUÇÃO: A doença renal crônica (DRC) é causada por uma série de doenças que
compartilham uma diminuição progressiva na taxa glomerular de filtração, afetando diversos
sistemas e acarretando em uma baixa qualidade de vida. Uma maneira de manter uma
resposta satisfatória ao esforço e atividades diárias é inserir exercícios físicos na rotina dos
pacientes em hemodiálise (HD). OBJETIVO: Relacionar os benefícios do exercício aeróbico
e resistido intradialítico em pacientes com doença renal crônica. METODOLOGIA: A busca
sistemática deste estudo foi conduzida através das bases de dados: SciELO (Scientific
Electronic Library Online), PubMED (via National Library of Medicine) e LILACS (Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). RESULTADOS: A partir da
estratégia de busca foram encontrados 38 estudos potencialmente relevantes identificados
através de uma pesquisa nos bancos de dados (PubMED = 26; SciELO = 12; LILACS = 0).
Destes, apenas nove estudos foram considerados elegíveis para análise dos dados.
CONCLUSÃO: Os estudos afirmam de maneira similar que o exercício físico intradialítico,
seja ele aeróbico ou resistido em pacientes com DRC se mostra eficaz, apresentando
melhora da força muscular e capacidade funcional.

PALAVRAS CHAVES: “Hemodiálise” e “Exercício”

ABSTRACT

INTRODUCTION: The Chronic kidney disease (CKD) is caused by a number of diseases


who share a progressive decrease in the glomerular rate of filtration, various systems
resulting in a low quality of life. A way to maintain a satisfactory response to daily effort and
activities is to insert physical exercises in the routine of hemodialysis patients (HD).
OBJECTIVE: To relate the benefits of aerobic and intradialitic resistance exercise in patients
with Chronic Kidney Disease. METHODOLOGY: The systematic research for this study was
conducted through the following databases: SciELO (Scientific Electronic Library Online),
PubMED (via National Library of Medicine) and LILACS (Latin American and Caribbean
Literature in Health Sciences). RESULTS: Based on the research strategy applied, 38
studys that are potentially relevant were found, they were identified through database search
(PubMED = 26; SciELO = 12; LILACS = 0). Of these, only nine studies were considered
eligible for qualitative data analysis. CONCLUSION: Studies similarly state that intradialitic
physical exercise, whether aerobic or resisted in patients with Chronic Kidney Diease is
effective, exhibiting improvement in muscle strength and functional capacity.

KEYWORDS: “Hemodialysis” and “Exercise”


INTRODUÇÃO

A doença renal crônica (DRC) é um problema de saúde pública em todo o


mundo devido à sua crescente prevalência e incidência. É uma patologia irreversível
caracterizada pela perda de capacidade e conservação de funções básicas dos rins,
impedindo a filtração do sangue, eliminação das substâncias nocivas do organismo
e eletrólitos no corpo (CURY et al., 2010).
O número de pacientes portadores de DRC vem crescendo nos últimos anos.
Em 1º de julho de 2017, o número estimado de pacientes em diálise crônica no
Brasil foi de 126.583, indicando um aumento de 3.758 (3%) em um ano. O número
de centros de diálise ativos aumentou menos que o número de pacientes nos
últimos 15 anos. As taxas de mortalidade aumentaram ligeiramente, e o uso de
cateteres venosos em hemodiálise cresceu notavelmente (THOMÉ et al., 2019).
A DRC é causada por uma série de doenças que compartilham uma
diminuição progressiva na taxa de filtração glomerular. Independentemente da
causa inicial, a DRC progride com esclerose glomerular e fibrose intersticial
resultando em insuficiência renal 1 (CRUZ et al., 2018). O estágio terminal da DRC
requer um tratamento de substituição renal, como hemodiálise (HD), diálise
peritoneal e transplante renal, sendo que nesta fase há uma alta prevalência de
doenças cardiovasculares associadas ao exacerbamento por inatividade física,
sendo esta considerada como um importante fator de mortalidade (LARA et al.,
2018).
Geralmente, os pacientes diagnosticados com DRC apresentam conjunto de
sinais e sintomas como miopatia urêmica, que se manifesta pela atrofia, fraqueza
muscular, dificuldade na marcha e de subir degraus, fadiga muscular, mioclonias,
câimbras, redução da capacidade aeróbia e baixa tolerância ao exercício. Além
disso, sofrem mais perda de massa muscular que, juntamente com a anemia, são
fatores-chave na diminuição da capacidade funcional (LARA et al., 2018).
Destaca-se que as complicações musculares da DRC afetam de forma
significativa a musculatura respiratória, prejudicando a função pulmonar e a
capacidade funcional dos pacientes em HD. Estas alterações encontradas no
paciente com DRC em diálise também são observadas em pacientes
transplantados, mesmo depois de restabelecida a função renal, porém não se sabe
ao certo qual o fator que mais agride a capacidade funcional desses pacientes
(CURY et al., 2010).
A desnutrição e a inflamação crônica de pacientes com DRC em hemodiálise
estão intimamente relacionadas com a perda de massa muscular e com a
diminuição resultante na capacidade de realizar atividades rotineiras (GUIO et
al.,2017). Uma maneira de manter uma resposta satisfatória ao esforço e atividades
diárias é inserir exercícios físicos na rotina dos pacientes em HD. Estudos apontam
que um programa de exercícios pode manter e até aumentar as variáveis da
capacidade funcional em pacientes em diálise (GREENWOOD et al., 2012).
O exercício físico aeróbico é recomendado para pacientes em hemodiálise
por conta de seus efeitos benéficos crônicos, que incluem aumento da capacidade
aeróbica, força muscular, produção de antioxidantes, controle da pressão arterial e
diminuição da fadiga (BOHM et al., 2017). Pacientes renais crônicos tendem a aderir
melhor aos protocolos de menor duração de exercício aeróbico intradialítico. Uma
preocupação frequente com a realização de exercício durante as sessões de HD
refere-se às possíveis complicações, no entanto, foi observado que a prática de
exercício durante HD é segura e que as complicações mais comuns foram episódios
de cãibras em alguns pacientes, mesmo assim, são considerados muito baixos
(REBOREDO et al., 2011)
O exercício resistido intradialítico de intensidade leve a moderada ajuda na
eficiência do tratamento e contribui na recuperação da DRC, pois contribui para o
aumento da capacidade funcional, força, hipertrofia e potência muscular. É
conhecido que o mesmo melhora a saúde geral e a aptidão física, sendo indicado
para que todos os adultos realizassem pelo menos dois dias de exercício por
semana, visando proporcionar uma redução do risco para doenças degenerativas e
cardiovasculares (RIBEIRO et al.,2013).
Condições socioeconômicas, etnia, desigualdades sociais, HAS, DM, sexo,
histórico familiar, idade, hábitos de vida, são fatores fundamentais que acarretam o
avanço da doença, sendo esses fatores que demonstram um elevado número de
incidência e prevalência (BASTOS et al., 2010). Portanto, incentivar os pacientes
em HD a realizar exercícios físicos parece contribuir para sua reabilitação visto que,
além de aumentar a capacidade de exercício, melhora a percepção da qualidade de
vida.
Por fim, a busca literária teve como objetivo verificar os efeitos do exercício
físico intradialítico nos pacientes renais crônicos, partindo da hipótese de que, seja
ele aeróbico ou resistido, traga benefícios aos pacientes.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, com a seleção e análise de


pesquisas relevantes que são sintetizadas e após, realizada a interpretação dos
resultados a fim de gerar uma conclusão sobre o tema em estudo, contribuindo para
o aprofundamento do conhecimento e promovendo um suporte para melhora da
prática clínica (MENDES et al., 2008).
Foram utilizadas como estratégia de busca de dados eletrônicos: SciELO
(Scientific Electronic Library Online), PubMED (via National Library of Medicine) e
LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). E para
realizar a busca nas bases, foram definidos os seguintes descritores “hemodialysis”
e “exercise” para identificar os benefícios do exercício físico na doença renal
crônica. Portanto, a partir da definição dos termos de busca foram adotadas as
seguintes combinações dos termos selecionados (hemodialysis “AND” exercise)
para realizar a busca em todas as bases de dados.
Além das palavras-chave e termos descritos acima, a busca na literatura foi
limitada a fim de incluir apenas estudos realizados com seres humanos e publicados
em língua inglesa, portuguesa e espanhola. Adicionalmente, foram incluídos durante
a busca nas bases de dados limites referentes ao tipo de estudo, sendo inserido
apenas estudos pilotos, estudos clínicos, ensaios clínicos, ensaios clínicos
controlados e ensaios clínicos randomizados. A busca na literatura foi realizada em
06 de outubro de 2020 e foram incluídos os estudos desde o ano de 2015 até a data
da busca.
O processo de seleção dos estudos foi realizado a partir da análise de dois
revisores independentes seguindo os critérios de inclusão e exclusão dos estudos.
Para este processo, os estudos foram analisados inicialmente levando-se em conta
as informações contidas no título e no resumo. Após esta análise preliminar, os
estudos que apresentaram potencial para elegibilidade foram selecionados para
avaliação do texto na íntegra, e somente após essa última avaliação é que os
estudos foram incluídos para a síntese qualitativa. No entanto, caso houvesse
discordância entre esses revisores, um terceiro revisor independente seria
consultado.
Os critérios de elegibilidade para a seleção dos estudos foram: artigos que
abordassem sobre exercício intradialítico, seja ele aeróbico e/ou resistido
executados em humanos, artigos em idioma português, inglês e espanhol do ano de
2015 até a data da busca. Foram excluídos revisões sistemáticas, comunicações
curtas, cartas, guidelines, teses, dissertações, estudos qualitativos, resumos
publicados em conferências nacionais e internacionais, estudos de caso e estudos
com experimento animal.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da estratégia de busca foram encontrados 34 estudos potencialmente


relevantes identificados através de uma pesquisa nos bancos de dados (PubMED =
26; SciELO = 8). Destes, apenas oito estudos foram considerados elegíveis, uma
vez que preenchiam os critérios de inclusão desta revisão. A figura 1 apresenta o
fluxograma do processo de seleção, inclusão e exclusão dos estudos.

Artigos na íntegra Estudos incluídos


incluídos para para síntese
análise qualitativa

Artigos Pubmed = 186 26 5


identificados
nas bases de
dados
(Pubmed e
Scielo, n=224) Scielo = 38 8 3

Figura 1: Fluxograma da estratégia de busca e seleção de artigos


Fonte: Autores

Os oito estudos escolhidos foram publicados entre 2015 e 2019, sendo que o
tamanho das amostras variou de 14 a 306 participantes por estudo. O tamanho da
amostra agrupada foi de 653 participantes, com uma média de 81 participantes por
estudo.
Características dos participantes, grupos, intervenções e resultados

As características dos participantes e dos grupos, assim como os resultados, foram descritas na Tabela 1.
Tabela 1: Características dos participantes dos estudos incluídos

Primeiro Amostra / Idade Ferramentas de avaliações Resultados


Autor Sexo (f/m) (anos)

Moriyama G Intervenção= 306 70+/- Foi utilizado um dinamômetro para avaliar a força O programa de resistência foi associado a um
(2019) 47,7% (F) / 52,3% (M) 11 muscular de extensão de joelho. aumento da força muscular das extremidades
inferiores e aumento do desempenho físico.

Silva G Controle= 15 54 +/- A atividade física foi avaliada por meio da versão O treinamento aeróbico intradialítico resultou em
(2019) G Intervenção= 15 16,1 resumida do IPAQ; o VO2máx e a FCmáx e em uma redução estatisticamente significativa de
15 (F) / 15 (M) repouso foram avaliadas por um teste de exercício aldosterona no GI. Esse mesmo grupo apresentou
em esteira usando o protocolo de Bruce; para diferença em relação aos valores basais, com
realizar as medidas do coração, realizaram redução do tamanho do septo interventricular e a
Ecocardiografia transtorácica; por fim, analisaram parede posterior em diástole.
exames laboratoriais.

Cruz IAT = 15 Os participantes foram avaliados através da Doze semanas de treinamento aeróbio intradialítico
(2018) Controle = 15 18 +/- Antropometria, Indice de Kt/ V, amostra de sangue, foi eficaz no controle dos níveis de marcadores e
13 (F) / 17 (M) 65 marcadores inflamatórios, Teste de Desempenho na melhora da capacidade funcional através do
aumento da distancia percorrida no (TC6M) dos
Fisico: TC6M.
pacientes com doença renal crônica. Observamos
redução significativa do IMC.

Guio DRC=14 Todos foram submetidos a A RCP intradialítica nesta população foi segura e
(2017) 8 (F) / 6 (M) 50,2 ecocardiografia transtorácica, avaliação de capacida- permitiu melhora objetiva da capacidade funcional e
± 15,2 de funcional pelo TC6M e questionário de qualidade tolerância ao exercício, melhora subjetiva na
percepção do esforço, aumento significativo da
de vida (SF-36). Para definir a dose de exercício, a
função cardíaca, bem como melhoria na qualidade
fórmula de Karvonen foi aplicada para calcular a de vida em diferentes domínios.
frequência cardíaca de treinamento.
Thompson Ciclismo, n = 7; 57,6 Para avaliar força, resistência e equilíbrio o SPPB foi Vários pacientes atribuíram melhorias nas funções
(2016) Resistência, n = 6; (49,2– realizado. O TC6M para capacidade funcional em diárias e participação no exercício intradialítico,
Ciclismo e treinamento 75.1 seguida para testar a resistência muscular foi usado melhorias na diálise e sintomas relacionados
de resistência, n = 7;
sentar-para-ficar 30s. A força muscular foi medida também foram mencionados, principalmente
Alongamento n = 6
77% (F) / 23% (M) com uma repetição do teste máximo (1-RM) e a diminuição das cãibras e pernas inquietas.
qualidade de vida: SF-36.

Marchesan G Controle + G 54,3 A avaliação da capacidade funcional dos pacientes Os resultados deste estudo evidenciaram que o
(2016) experimental = 15 foi realizado antes e após o treinamento através do exercício modifica positivamente a capacidade
4 (F) / 11 (M) TC6M. A resistência dos músculos dos membros funcional, como aumentou a distância percorrida no
TC6M, força muscular respiratória e o número de
inferiores: avaliada pelo STS. O manômetro foi usado
STS repetição em pacientes em HD.
para medir a força muscular respiratória.

Bennett G1= 51 68,1 Função física: STS de 30 segundos, TUG e FSST; O treinamento de resistência intradialítico contribuiu
(2015) G2= 61 +/- Qualidade de vida: KDQOL; Envolvimento nas positivamente no resultado do teste de sentar e
G3= 59 12,6 atividades da comunidade foi medido usando o FAI; levantar e no TUG.
37,4% (F) / 62,6% (M) Escala de Eficácia de Quedas Modificada.

Olvera- G Controle= 31 29 (21 O estado nutricional foi determinado com a Avaliação A intervenção no grupo de exercícios de resistência
Soto G Exercício= 30 – 39,5) Subjetiva Global; Medidas da circunferência do braço promoveu aumento da circunferência e área
(2015) 28 (F) / 33 (M) foram tiradas com fita antropométrica; Dinamômetro muscular do braço e de força de preensão manual.
de punho para força de preensão manual.
F: Feminino; M: Masculino; G: Grupo; IPAQ: Questionário Internacional de Atividade Física; FCmáx: Frequências cardíaca máxima; GI: Grupo Intervenção;
IAT: Treinamento aeróbio intradialítico; TC6M: Teste de caminhada de 6 minutos; IMC: Índice de massa corporal; DRC: Doença Renal Crônica; SF-36:
Questionário de qualidade de vida; RCP: Reabilitação Cardiopulmonar; SPPB: Short Physical Performance Balance; STS: Teste sit-to-stand de 30
segundos; HD: Hemodiálise; KDQOL: Qualidade de vida em doenças renais; TUG: Timed up and GO; FSST: Teste de Quatro Quadrados; FAI: Índice de
Atividades Frenchay;
Fonte: Autores.
Todos os estudos desta presente revisão utilizaram a população de pacientes
com DRC que realiza HD e variaram a intervenção entre exercício intradialítico
aeróbico ou resistido. Moriyama et al. (2019) avaliaram seis meses de treinamento
de resistência com um protocolo que consistia em duas séries de 10 repetições com
três tipos de treinamentos de resistência das extremidades inferiores: extensão de
joelho, abdução do quadril e flexão do quadril usando uma faixa elástica, com média
de 15 minutos por dia. Ao fim, em relação às medidas de resultado primário, tanto a
potência muscular da extensão do joelho e o desempenho físico mostraram um
aumento leve mas significativo de 42,3 ± 14,9% para 45,7 ± 14,9% e de 10,0 ± 2,6 a
10,4 ± 2,5, respectivamente; a variável de potência muscular da extensão de joelho
aumentou significativamente após 6 meses, em contraste, não houve mudança
estatística na distância de caminhada de 6 minutos.
Silva et al. (2019), dividiram os pacientes nos 2 grupos a seguir: grupo
controle (GC) seguido sem nenhuma intervenção por 4 meses e um grupo
intervenção (GI) submetido ao treinamento físico aeróbico intradialítico durante 4
meses, sendo esse programa realizado durante as primeiras 2 horas de HD, 3
vezes por semana, com cicloergômetro adaptado à cadeira de HD, com uma carga
imposta progressivamente de acordo com o desempenho de cada paciente. O
treinamento aeróbico durou 30 minutos ininterruptos, entre 65 e 75% da FCmáx,
controlado por um cardiofrequencímetro, com uma pontuação da escala de Borg
em torno de 13. Relataram que não houve diferença estatisticamente significativa
entre os grupos em relação às alterações do VO2máx, no tempo total de teste em
esteira, distância percorrida, ou equivalente metabólico da tarefa (MET). Em ambos
os grupos, notou-se aumento do potássio, redução da aldosterona no GI, proteína
reativa-C maior no GC do que no GI no momento pós treinamento, e o GI
apresentou uma estatística diferença em relação aos valores basais, com redução
do tamanho do septo interventricular e a parede posterior em diástole, redução no
índice de massa ventricular esquerda (IMVE) e um aumento na hiperemia reativa.
Cruz et al. (2018) selecionaram 30 pacientes, alocados aleatoriamente, para
obter seus dados demográficos, tempo de tratamento em HD e índice Kt / V. O
grupo de TAI (n=15) composto por pacientes do sexo masculino, participou de doze
semanas de treinamento aeróbico realizado com cicloergômetro nas primeiras duas
horas de HD com uma duração média de 36 minutos, três vezes por semana. O
Grupo controle (n=15) manteve suas rotinas diárias habituais, a maioria dos
participantes era do sexo feminino, e a intervenção consistia em três etapas:
aquecimento, condicionamento e resfriamento. A fase de aquecimento durou três
minutos e a intensidade do exercício era baixa (Borg = 2-3), o estágio de
condicionamento durou 30 minutos e a intensidade do exercício era grave (Borg = 6-
7), o estágio de resfriamento durou três minutos com a intensidade baixa (Borg = 2-
3). Realizaram o monitoramento da PA a cada 5 minutos em repouso e após o
resfriamento, juntamente com a saturação e batimentos cardíacos. O treinamento
era interrompido em casos de atividade física intensa, fadiga, dor no peito, tontura,
palidez, síncope, taquicardia, hipotensão e fadiga nas pernas. Após 12 semanas,
apenas o grupo de exercícios aeróbico apresentou redução significativa dos níveis
séricos de interleucina-1β, 6 e 8, necrose tumoral fator alfa e aumento dos níveis de
interleucina-10 e aumento da capacidade funcional, porém, não houve diferenças
significativas entre os grupos para idade, tempo de tratamento de HD e índice Kt /V
antes do início do estudo.
Guio et al. (2017) avaliaram 14 pacientes durante 3 fases em um total de 240
dias. Todos foram submetidos à ecocardiografia transtorácica, avaliação de
capacidade funcional pelo TC6M e questionário de qualidade de vida (SF-36). Os
pacientes foram submetidos ao uso do cicloergômetro para os membros inferiores
após os primeiros 60 minutos de HD, por 30 minutos. Para definir a dose de
exercício, aplicaram a fórmula de Karvonen para calcular a frequência cardíaca de
treinamento (FCT), através de uma frequência cardíaca máxima (FCM) e utilizando
50-80% da frequência cardíaca de reserva (FCR). Além disso, para garantir a
segurança do paciente durante os procedimentos, utilizaram a escala de Borg
modificada a cada 10 minutos para medir a percepção do esforço. Por fim, o estudo
não mostrou alterações significativas juntamente com os testes bioquímicos e no
KT/Vsp. Já no TC6M, os autores observaram que houve aumento progressivo da
distância percorrida dos pacientes analisados. A RCP intradialítica nesta população
mostrou-se segura e permitiu melhora objetiva da capacidade funcional e tolerância
ao exercício, melhora subjetiva na percepção do esforço, aumento significativo da
função cardíaca, bem como melhoria na qualidade de vida em diferentes domínios.
Thompson et al. (2016) instruíram todos os 26 participantes em diferentes
grupos (ciclismo, n = 7; treinamento de resistência, n = 6; combinado ciclismo e
treinamento de resistência, n = 7; alongamento n = 6). Os protocolos de exercícios
foram realizados três vezes por semana onde cada sessão incluiu 5 minutos de
aquecimento e relaxamento no cicloergômetro. Iniciaram o protocolo de ciclismo
com 15 minutos, o tempo aumentou 2,5min a cada semana e a resistência ajustada
para manter a classificação de esforço percebido (RPE) com alvo de 9-10. A
intervenção com pesos e faixa elástica no tornozelo foi realizada com flexão e
extensão de joelho e quadril. O peso ou a resistência foram aumentados quando o
RPE do paciente esteve menor que o alvo. Os participantes do grupo de
treinamento combinado realizaram o programa de exercícios de resistência
completo seguido pelo programa completo de ciclismo no cicloergômetro durante a
diálise. No geral, a equipe da unidade de diálise concordou que o programa de
exercício mostrou-se valioso para os pacientes, constataram melhorias subjetivas
dos pacientes, como “sentir-se mais saudável”, diminuição das cãibras, pernas
inquietas, melhorias nas funções diárias e melhora na participação do exercício
intradialítico como evidência válida como principais benefícios.
Marchesan et al. (2015) estudaram os 15 participantes, de ambos os sexos,
com idade superior a 60 anos. Realizaram treinamento aeróbico em bicicleta
ergométrica, seguido de exercícios de resistência para membros superiores e
inferiores, tórax, abdômen e região posterior do tronco, durante a sessão de HD,
três vezes por semana, durante quatro meses. Os pacientes foram instruídos a
permanecer sentados, com o braço da fístula o mais imóvel possível, então não
houve danos ao acesso arteriovenoso. Os pacientes foram distribuídos em grupos,
controle (GC) e experimental (GE). Avaliaram a capacidade funcional através do
teste de caminhada de seis minutos (TC6M), sentar para levantar (TSL) e da força
muscular respiratória. O resultado principal deste estudo evidenciou que o exercício
físico modifica positivamente a capacidade funcional dos pacientes idosos com
doença renal crônica em HD, aumentando a distância percorrida no teste
caminhada de 6 minutos, força muscular respiratória e o número de STS repetição
em pacientes em HD.
Bennett et al. (2015) dividiram sua população em Grupo 1 (G1), que recebeu
36 semanas de treinamento de exercícios, Grupo 2 (G2) recebeu 24 semanas de
exercícios e Grupo 3 (G3) recebendo 12 semanas de exercício, aplicando o
programa de resistência na primeira hora de HD, este consistia em abdução da
perna, flexão plantar, dorsiflexão, elevação da perna reta / joelho dobrado, extensão
do joelho e flexão do joelho, com uso de faixa elástica e aumento de resistência
progressivamente. Antes de iniciar o programa, observou durante 1, 2 e 3 semanas,
respectivamente, o declínio dos grupos sem nenhuma intervenção. Os resultados
das medidas observadas, mostraram uma diminuição no número do TSL de 30 s
antes da intervenção e, em seguida, um aumento após a intervenção; um aumento
no tempo para o TUG antes da intervenção e uma diminuição após o início da
intervenção.
Olvera-Soto et al. (2015) avaliaram o grupo intervenção com um programa de
resistência durante 24 sessões que foram distribuídas em 12 semanas, com
frequência de duas vezes por semana, com duração média de 50 minutos e eram
realizadas durante a segunda hora de hemodiálise, dividindo os exercícios em '' A '',
extensão de braço, '' B '', extensão da perna, '' C '', extensão de perna reta, e '' D ''
marchando sentado. Após análise, constataram que o grupo que recebeu a os
exercícios de resistência mostrou que a intervenção foi benéfica com mudanças
significativas nas seguintes variáveis: circunferência do músculo do braço aumentou
de 23,36 cm a 24,14 cm e área muscular do braço de 35,9 cm² a 36,6 cm². Quanto a
força de preensão manual, no grupo de exercícios foi de 19,6 kg a 21,2 kg,
enquanto isso, no grupo de controle, a força de preensão realmente diminuiu de
19,8 kg para 17,8 kg.
A inserção de pacientes com DRC em programas de exercícios é um
empreendimento desafiador em todos os estágios da DRC, desde a fase inicial até a
fase crônica, e o conhecimento sobre a atividade física e os resultados nesses
pacientes provém principalmente de estudos observacionais, dados de registro ou
ensaios clínicos de pequeno porte (MALLAMACI et al., 2016).
Desta forma, fica notável que o exercício intradialítico resulta em benefícios
para o paciente renal crônico, a exemplo do que Bennett et al., 2016 mostraram em
seu estudo, onde avaliaram a população por um período antes e após a
intervenção, chegando à conclusão de que o paciente sedentário não só permanece
sem evolução como também pode apresentar algumas perdas nutricionais ou
físicas.

CONCLUSÃO

Independente da fase em que o paciente se encontra, o exercício físico é


favorável seja para manutenção física ou para a simples promoção de qualidade de
vida. Dentre os efeitos referidos no decorrer, a melhora da capacidade funcional
apresentada nos testes, principalmente no TC6M, e o aumento de força avaliada
pelo dinamômetro, se sobressaíram entre os demais.
Assim, conforme os estudos analisados, todos mostram que pacientes renais
crônicos apresentaram efeito positivo quando submetidos ao exercício intradialítico,
seja ele aeróbico ou resistido. Vale destacar que a literatura é escassa de estudos
que façam uma comparação entre eles para definir qual o mais efetivo, mas que o
exercício intradialítico de forma geral, surte efeitos positivos quando aplicado aos
pacientes.
REFERÊNCIAS

Bastos, M.G. et al. Doença renal crônica: frequente e grave, mas também
prevenível e tratável. Rev Assoc Med Bras 2010; 56(2): 248-53

Bennett, P.N. et al. Effects of an intradialytic resistance training programme on


physical function: a prospective stepped-wedge randomized controlled trial. Nephrol
Dial Transplant (2016) 31: 1302–1309

Bohm, J. et al. Efeitos agudos do exercício aeróbio intradialítico sobre a remoção


de solutos, gasometria e estresse oxidativo em pacientes com doença renal crônica.
J Bras Nefrol 2017;39(2):172-180

Cruz, L. G. et al. Intradialitic aerobic training improves inflammatory markers in


patients with chronic kidney disease: a randomized clinical trial. Motriz. The Journal
of Physical Education. UNESP, 2018. Rio Claro, SP, Brasil - eISSN: 1980-6574 -
sob uma licença Creative Commons - Versão 3.0

CURY, J.L.; Brunetto, A.F.; Aydos, R.D. Negative effects of chronic renal failure on
lung function and functional capacity. Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 14, n. 2, p.
91-8, mar./abr. 2010

Greenwood, S.A. et al. Evaluation of a pragmatic exercise rehabilitation program in


chronic kidney disease. Transplante de dial de nephrol. 2012; 27 (Supl3): 126-34

Guio B.M. et al. Efeitos benéficos da reabilitação cardiopulmonar intradialítica. J


Bras Nefrol 2017; 39 (3): 275-282

Lara, M.J.F. et al. Revisión: Beneficios del ejercicio físico en pacientes con
enfermedad renal crónica en hemodiálisis. Enferm Nefrol 2018: abril-junio; 21 (2):
167/181

Mallamaci, F.; Torino, C.; Tripepi, G. Physical exercise in haemodialysis patients:


time to start. Nephrol Dial Transplant (2016) 31: 1196–1198.

Marchesan M. et al. Physical exercise changes the functional capacity of elderly


patients undergoing hemodialysis. Fisioter Mov. Abril / junho de 2016; 29 (2): 351-
59

Mendes, K.D.S.; Silveira, R.C.C.P.; Galvão, C.M. Revisão integrativa: método de


pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto
Contexto Enferm, Florianópolis, 2008 Out-Dez; 17(4): 758-64.

Moriyama, Y. et al. The association between six month intradialytic resistance


training and muscle strength or physical performance in patients with maintenance
hemodialysis: a multicenter retrospective observational study. BMC Nephrology
(2019) 20:172
Olvera-Soto, G. et al. Effect of resistance exercises on the indicators of muscle
reserves and handgrip strength in adult patients on hemodialysis. Journal of Renal
Nutrition. Vol 16, Ed 1, 2016.

Painter, P.L. et al. Effects of exercise training during hemodialysis. Nephron


1986;43:87-92.

Reboredo, M.M. et al. Exercício aeróbico durante a hemodiálise: relato de cinco


anos de experiência. Fisioter Mov. 2011 abr/jun;24(2):239-46

Ribeiro, R. et al. Efeito do exercício resistido intradialítico em pacientes renais


crônicos em hemodiálise. J. Bras. Nefrol. vol.35 nº.1 São Paulo Jan./Mar. 2013

Silva, V.R.O. et al. Aerobic Exercise Training and Nontraditional Cardiovascular Risk
Factors in Hemodialysis Patients: Results from a Prospective Randomized Trial.
Cardiorenal Med 2019; 9:391–399

Thomé, F.S. et al. Brazilian Chronic Dialysis Survey 2017. Braz. J. Nephrol. (J.
Bras. Nefrol.) 2019;41(2):208-214

Thompson, S. et al. Randomised factorial mixed method pilot study of aerobic and
resistance exercise in haemodialysis patients: DIALY-SIZE. BMJ Open 2016.

Você também pode gostar