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b De: Paco Underhill.

São Paulo: Elssevier/Campos, 2004.

Por: Marcos Kathalian,


graduado em Comunicação Social,
mestre em Multimeios e professor
da FAE Business School – Centro
Universitário.

e-mail: marcosk@swi.com.br

A MAGIA DOS SHOPPINGS


PACO UNDERHILL – RESENHA
SHOPPINGS DO MUNDO E O MUNDO PÓS-SHOPPING

Nos tempos atuais, de alto consumo e ideologia hedonista, moderno há mais de 20 anos com sua empresa “Envirosell”,
certamente os shopping centers ocupam lugar central numa Underhill tornou-se mundialmente conhecido, especialmente no
hierarquia de compras. Simbolizando, para muitos, um templo varejo, quando publicou em 1999 o livro “Why We Buy”, em que
moderno de conforto e lazer a preencher com compras e descrevia as principais conclusões de seus anos de estudo naquilo
entretenimento o vazio existencial de gerações de jovens, que passou a chamar uma “ciência do consumo”. A contribuição
para outros o shopping é visto como um local civilizatório, no inovadora de Paco Underhill foi radicalizar o conceito de
sentido de marcar um determinado tipo de acesso aos bens observação da situação de compra, utilizando métodos
materiais.

Inegável, contudo, é o poder de sedução exercido por um shopping


center e atire a primeira pedra aquele que secretamente nunca
sentiu um certo prazer em ir às compras. O livro tem a forma de uma
visita ao shopping, começando
A Magia dos Shoppings (São Paulo, Elsevier, 2004), do antropólogo
urbano norte-americano Paco Underhill, trata desses e de outros
pela entrada no estacionamento,
assuntos com propriedade. Lançado simultaneamente aqui e nos passando pelos tipos de lojas,
EUA (em inglês, Call off the Mall, Simon & Schuster), o livro possui pela praça de alimentação até a
um subtítulo bastante explicativo: Como os shoppings atraem e
seduzem. volta para casa, depois de assistir
a um cineminha
Paco Underhill sabe do que está falando. Antropólogo urbano
dedicado ao estudo do comportamento de compra do consumidor

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etnográficos. Em vez de imaginar o que o consumidor deseja, caixa disforme, colocada ao lado de uma rodovia. Até mesmo o
Underhill dedicou-se a observá-lo, anotando tudo o que via: quan- shopping, como um terror masculino, é abordado pelo autor, que
to tempo um consumidor demora-se em uma loja, em uma prate- se pergunta: “Algum dia, será que os homens vão gostar de
leira, o que olha, o que não olha, qual o seu percurso na loja, onde shopping?”. E propõe soluções para como tornar também a
pára etc. Enfim, a metodologia consiste em registrar continua- experiência de visita ao shopping mais interessante para o homem,
mente o ato de compras e, a partir daí, tecer hipóteses explicativas e, especialmente, para o marido, retratado como martirizado,
de um determinado comportamento, sugerindo, experimentalmen- procurando alguma coisa que o atraia na selva de consumo que
te, melhorias no processo de consumo. Famosas são suas mi- é o shopping, enquanto esposa e filhos não parecem nem um
lhares de horas de gravação em vídeo de lojas e consumidores pouco dispostos a deixar mais rápida aquela “visitinha” ao
em interação com ambientes varejistas e atendentes. O que se shopping.
aprende, muitas vezes, com uma imagem, vale, como diz o ditado,
por um tratado de marketing.

b SELVA DE CONSUMO
É leitura agradável –
No caso de A Magia dos Shoppings, Underhill, que visitou mais
de 300 centros de compras em todo o mundo, passa a e imprescindível –
descrever o resultado de suas observações. O livro tem a para os profissionais
forma de uma visita ao shopping começando pela entrada no
estacionamento, passando pelos tipos de lojas, pela praça de
do varejo brasileiro,
alimentação até a volta para casa, depois de assistir a um e diria também para
cineminha (e Paco quer o tempo inteiro assistir ao último filme todos os estudantes
do Jackie Chan). Há até um shopping brasileiro visitado, o
Iguatemi em São Paulo, onde, segundo o autor, existe a maior
e profissionais de
concentração de pessoas bonitas e elegantes por metro marketing e
quadrado que já presenciou, ou o que ele chama de “coeficiente
de moda de um shopping”.
administração

b CALOR HUMANO
Não se trata de um livro
de louvação do shopping. O interessante é que não se trata de um livro de louvação do
O autor afirma que o shopping, tanto que o autor, de forma surpreendente, afirma que
o shopping, tal como o conhecemos hoje, irá desaparecer, está
shopping, tal como o fadado ao fracasso e que mesmo a sua época áurea já passou. O
conhecemos hoje, irá que era diversão, segundo Paco, está virando (ou já virou)
monotonia. Ante a impessoalidade do shopping, Underhill sugere
desaparecer, está fadado a vida ativa dos pequenos centros comerciais de bairro,
ao fracasso e que mesmo geralmente, ao ar livre, como circulação heterogênea de pessoas,
a sua época áurea já flores, frutas, e um colorido local, um atendimento mais próximo,
um centro de convivência regional, de maior calor humano.
passou. O que era
diversão, segundo Paco, Essa situação desoladora de um shopping center pouco atraente
para o consumidor moderno ocorre porque, segundo o autor, grande
está virando parte dos shoppings nasce de uma mentalidade imobiliária, não de
(ou já virou) monotonia uma mentalidade varejista. Isto é, o empreendedor imobiliário
raciocina em termos de locação de espaço e maximização do
metro quadrado, quando o mais importante é, de fato, a contínua e
qualificada geração de tráfego de pessoas para o empreendimento.
Acredito que Paco está certo, pois eu mesmo em minha experiência
Embora, provavelmente, todas as conclusões do livro sejam bem profissional já fui contratado algumas vezes para solucionar
conhecidas e assimiladas pelos bons profissionais de varejo, há problemas de varejo em shoppings que nasciam, na verdade, de
no livro um sabor de autenticidade e numerosos exemplos que uma concepção imobiliária equivocada.
ratificam os erros e acertos da experiência de consumo em
shopping center. Desde o problema de como estacionar o carro É leitura portanto agradável – e imprescindível – para os
(e depois como achá-lo), até os problemas de localização, as profissionais do varejo brasileiro, e diria também para todos os
zonas de descompressão (isto é, as zonas de baixo impacto de estudantes e profissionais de marketing e administração. Após a
compras), o problema pouco observado e muito enfatizado pelo leitura de A Magia dos Shoppings, com certeza, a sua visita e
autor do excesso de bagagem e sacolas que impedem, visão sobre o que é um shopping não permanecerá a mesma.
fisicamente, que a compra continue, até o aspecto de bloco frio e Apesar de que, quase com certeza, você continuará não
desumano da maioria dos shoppings americanos, parecendo uma lembrando de onde estacionou seu carro. F

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