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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ(A) DE DIREITO DA

13ª UNIDADE DO JUIZADO ESPECIAL DE FORTALEZA/CE

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.

________, brasileiro, união estável, bancário, inscrito no CPF


nº______, RG ________ SSP CE, residente e domiciliado à Rua: ______, CEP: 60310-
770, Fortaleza/CE vêm, por meio de seu procurador, ZACHARIAS AUGUSTO DO
AMARAL VIEIRA, inscrito regularmente na OAB/CE sob o n.°40.855 e, CPF sob o
n.°052.204.533.27, com endereço para intimações na Rua Desembargador Lauro
Nogueira 1500, sala 712, Rio Mar Trade Center, Fortaleza-CE, Telefone:
(85)997166216. Endereço Eletrônico: advzacharias@gmail.com, à respeitável presença
de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 186 e 927 do Código Civil, ajuizar
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS em face da
MAXMILHAS- MM TURISMO & VIAGENS S.A, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ 16.988.607/0001-61, com sede na Rua Matias Cardoso, n
169, 11 andar, Bairro Santo Agostinho, CEP 30170-050, Belo Horizonte/MG e AZUL
COMPANHIA AÉREA, pessoa jurídica de direito privado, inscrito no CNPJ
09.296.295/0001, com sede na Av. Marcos P. De U. Rodrigues, n 939, Edifício C.
Branco Office Park, Torre Jatobá, 11 andar Alphaville Industrial, Barueri/SP, CEP
06460-040, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

I – DOS FATOS

O autor comprou duas passagens aéreas junto a empresa MaxMilhas,


que seria realizado pela Azul Companhia Aérea, também requerida na presente ação,
totalizando R$ 1.658,99 (Mil Seiscentos e cinquenta e oito e noventa e nove reais), com
o seguinte itinerário:

IDA – 10/04/2020 – 06:40h/07:55h - FORTALEZA – RECIFE


IDA – 10/04/2020 - 09:15h/12:15h – RECIFE – RIO DE JANEIRO

VOLTA – 19/04/2020 – 15:30h/16:40h – RIO DE JANEIRO– CAMPINAS


VOLTA – 19/04/2020 – 23:00h/02:30h - CAMPINAS – FORTALEZA
Todavia, em razão da pandemia causada pelo COVID-19, o autor
tentou contatar a empresa ré, MaxMilhas, para que esta analisasse, junto às demais
requeridas, as possibilidades para cancelamento das passagens e do reembolso integral
dos valores pagos, tentativas estas que se deram por diversos meios, tais como: ligações,
e-mails e reclamações no consumidor.gov, porém, ao fim, não obtiveram êxito.

Veja-se que nos trechos alhures a empresa reclamada aduziu que não
seria possível o reembolso dos valores em real, entretanto, conforme asseverado nas
trocas de mensagens abaixo destacadas, a compra das passagens foi cancelada e
reembolsada pela requerida, porém, o reembolso é em forma de crédito na MaxMilhas.
A propósito, o autor só recebeu o reembolso da volta tendo em vista
que, não foi efetuado o reembolso em crédito da ida. O requerente terá que remarcar,
todavia, como é para outro destino ele deverá pagar outras taxas.
Deste modo, o autor comprou as passagens com destino ao Rio de
Janeiro pela MaxMilhas e foi surpreendido pela informação de que seu voo havia sido
CANCELADO e talvez fosse possível remarcar para uma outra data. Ocorre, que não
era do interesse do autor esse novo voo, tendo em vista que pretendiam comemorar 5
anos de namoro, sendo uma oportunidade substancial, desse modo, aproveitaria para
reencontrar velhos amigos, ter um momento de lazer com sua amada, pois, pelo fato de
ser bancário sempre teve o tempo muito corrido, então, essa era uma viagem MUITO
IMPORTANTE.

Assim, flagrante a falha perpetrada com o que o autor não logrou o


cumprimento do contrato entabulado, tendo sua expectativa totalmente frustrada,
devendo as demandadas responder pelos danos causados.

Portanto, inegáveis os sentimentos de frustração e decepção sofridas


pelo autor, que por culpa das rés foram impedidos de comemorar seus 5 anos de
relacionamento.

II – DO DIREITO
II.1 – ATO JURÍDICO PERFEITO REALIZADO ANTES DA PROMULGAÇÃO
DA MP 925/2020 – PRECEDENTE DO STJ – RESP 1.498.484

Diante da insurgência da MP 925/2020, impõe-se indagar se esse


dispositivo se aplica aos contratos formalizados ANTES da medida. Nesse sentido,
asseverou o eminente doutrinar Flávio Tartuce que a referida MP não pode granjear os
contratos entabulados anteriormente a ela, mesmo que a desistência do consumidor
ocorra APÓS o diploma, por força da vedação à retroatividade de norma que não seja
constitucional originária.1

1
https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/823511400/a-medida-provisoria-925-2020-aplicabilidade-
apenas-para-contratos-anteriores-e-sua-possivel-inconstitucionalidade
Isso porque não se pode cogitar da aplicação simples e direta da nova
Lei para solução de casos anteriores ao advento do mencionado diploma legal. Continua
o supracitado civilista, aduzindo, portanto, que:

“para contratos anteriores à MP, a devolução do dinheiro antecipado pelo


consumidor tem de ser imediata, sob pena de a companhia se sujeitar aos
encargos moratórios. Na prática, como a taxa Selic está atualmente baixa e
é o índice legal de juros moratórios (art. 406 do CC) à luz da jurisprudência
do STJ, a companhia que retardar a devolução do dinheiro ao consumidor
terá de pagar esse “pequeno” encargo durante o seu período de atraso.

O único “jeitinho de driblar” isso seria valer-se da técnica da ponderação


de princípios constitucionais para fazer o princípio da segurança jurídica
ceder diante de outros princípios constitucionais (como o da razoabilidade),
caminho que nos soa censurável por criar uma brecha para burlar qualquer
regra jurídica e chancelar voluntarismos. Trata-se, pois, de caminho
juridicamente indevido e tendencioso.

Além do mais, a MP, apesar da sua elevada preocupação social por conta da
pandemia do coronavírus, titubeia diante do princípio constitucional da
isonomia e da razoabilidade. Basta uma pergunta retórica para identificar
essa possível inconstitucionalidade: por que a MP não previu esse
diferimento em 12 meses para outras várias dívidas existentes no Brasil,
inclusive para dívidas que consumidores têm perante instituições financeiras
ou até perante companhias aéreas? De fato, há consumidores que
parcelaram a compra da passagem aérea e que paradoxalmente terão de
continuar pagando as parcelas sem qualquer direito de prorrogar em 12
meses as parcelas. Ora, não só as companhias aéreas mas também inúmeros
consumidores estão sem recursos para honrar seus compromissos
financeiros em razão da brutal crise financeira causada pela pandemia. Por
que só as companhias aéreas terão o privilégio legal de diferir suas
obrigações em 12 meses?”2

Pelo exposto, resta indiscutível o direito do promovido em ver


ressarcido dos valores pagos, tendo em vista que não possuem mais interesse na viagem.

II.2 – RESOLUÇÃO 400/2016 ANAC

A Resolução nº 400/2016 da ANAC, que dispõe sobre as Condições


Gerais de Transporte Aéreo, prevê expressamente que a alteração no contrato de
transporte aéreo por parte do transportador lhe obriga a oferecer alternativas de

2
Ibidem.
reacomodação e opção de "reembolso integral", cuja escolha deve ser do passageiro,
independentemente das regras do serviço contratado.

Em síntese, o descumprimento contratual por parte da empresa aérea,


com a alteração do horário e itinerário originalmente contratados, confere ao
consumidor o direito de escolha entre a reacomodação em outro voo ou o reembolso
integral dos valores pagos, frisa-se: independentemente da modalidade de tarifa
contratada, sem quaisquer ônus ao consumidor. As aludidas regras da Anac refletem a
preocupação da agência reguladora em atender aos princípios orientadores do Código de
Defesa do Consumidor — Lei nº 8.078/90.

Com a edição da Medida Provisória nº 925/2020, a proteção aos


direitos do consumidor, parte vulnerável na relação contratual, passou a ser ignorada em
benefício exclusivo das empresas de aviação. Na verdade, inverteram-se os princípios
estabelecidos pelo Código de Defesa do Consumidor.

A medida estabelece, em síntese: I) o prazo para o reembolso do valor


relativo à compra de passagens aéreas será de 12 meses, observadas as regras do serviço
contratado e mantida a assistência material, nos termos da regulamentação vigente; II)
os consumidores ficarão isentos das penalidades contratuais, por meio da aceitação de
crédito para utilização no prazo de 12 meses, contado da data do voo contratado.

A medida provisória passa a falsa ideia de que há proteção ao


consumidor ao isentá-lo de penalidade contratuais. Todavia, o que não se explica é que
a empresa de transporte aéreo é a responsável pelo descumprimento contratual nos casos
de cancelamento de voos, circunstância esta que — por si só — isenta o consumidor de
quaisquer ônus contratual.

Conclui-se, portanto, que os ônus da inexecução dos contratos


celebrados com as empresas de aviação civil, em decorrência de cancelamentos dos
voos em razão da pandemia, foram transferidos integralmente ao consumidor pela
Medida Provisória 925/2020.

II.3 – DA RELAÇÃO DE CONSUMO – DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE


DEFESA DO CONSUMIDOR.

Como se pode notar, a atividade realizada pelas REQUERIDAS


caracteriza-se por uma prestação de serviço, estando prevista no Art. 3º do Código de
Defesa do Consumidor.
Já o PROMOVENTE, posicionam-se como consumidor, haja vista ser
destinatário final mediante remuneração, nos termos do Art. 2º do CDC. Em razão disto,
deve ser aplicado o benefício do Art. 6º, VIII do CDC, invertendo o ônus da prova,
tendo em vista as condições de hipossuficiência ou verossimilhança do cliente no
negócio entabulado.

Nesse sentido, o inciso I do artigo 6º do CDC prevê que é direito


básico do consumidor “a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos
provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados
perigosos ou nocivos”. No caso, o risco seria a contaminação e propagação de COVID-
19.

Vale ressaltar, Excelência, que já aportou ao Poder Judiciário, em


ação que tramita na Vara do Juizado Especial Cível do Foro de Jundiaí (SP), processo nº
1005403-78.2020.8.26.0309, em primeira instância julgou-se parcialmente procedentes
os pedidos constantes em ação condenatória movida pelos consumidores contra empresa
comercializadora de pacotes de viagem, por não terem interesse na remarcação da data
previamente contratada, tampouco no recebimento de crédito para utilização em 12
(doze) meses. Em sentença, o magistrado condenou a ré, alternativamente e à
escolha do consumidor, a reembolsar integralmente os valores dispendidos pelos
autores com o pacote objeto do feito no prazo de até 12 meses ou efetuar o
reagendamento da viagem, caso seja esta a escolha do consumidor.

Ademais, afirmou o julgador, "a impossibilidade de realização da


viagem pelo consumidor, na data escolhida, não poderia obrigá-lo a realizá-la em
data diversa, se esta não é a sua intenção, por circunstância a que não deu causa e
sob pena de sofrer prejuízos econômicos". O fundamento do julgado encontra amparo
nos artigos 5º e 170, V, da Constituição Federal e também no artigo 6º do Código de
Defesa do Consumidor, o qual prevê como direito básico do consumidor a efetiva
prevenção e reparação de danos patrimoniais.

II.4 – DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA.

Conforme exposto, fixada a relação consumerista entre as partes, faz-


se mister adentrar no tipo de responsabilidade existente em tal âmbito.

Nesse espeque, assevera o Código de Defesa do Consumidor, nos


moldes do seu artigo 14, que a responsabilidade do fornecedor de serviços é
OBJETIVA, ou seja, independe de existência de culpa, no que tange aos danos
causados pelos defeitos na prestação de serviço.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes
ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

No mesmo sentido, importante destacar que a presente demanda se


trata de ofensa à direitos básicos da relação de consumo, tais como: métodos comerciais
desleais, bem como, práticas abusivas pelas rés, conforme restou asseverado nas razões
acima delineadas.

Nesse tocante, faz-se mister destacar o tipo de responsabilidade


conjunta neste tipo de ocasião, nos termos do parágrafo único, art. 7, do CDC:

Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de


tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da
legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades
administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios
gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade.

Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão


solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de
consumo.

Dessa forma, vez que a ofensa foi causada pelas rés, requer que ambas
sejam condenadas aos pedidos que serão realizados de forma SOLIDÁRIA.

Coaduna a jurisprudência pátria:


JUIZADOS ESPECIAIS CIVEIS. CONSUMIDOR. PASSAGEM AEREA.
ALTERAÇÃO UNILATERAL DO TRAJETO. POSSIBILIDADE DE
CANCELAMENTO SEM ÔNUS. EXERCÍCIO DA OPÇÃO. AUSÊNCIA
DE REEMBOLSO. SOLIDARIEDADE DOS FORNECEDORES.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO. 1. Recurso próprio, regular e tempestivo. 2. Recurso inominado
interposto pela 3ª ré por meio do qual se insurge contra a sentença que julgou
parcialmente procedentes os pedidos e a condenou, solidariamente, ao
pagamento de indenização material referente ao ressarcimento do valor
despendido por uma passagem aérea, que foi cancelada em razão da alteração
do trajeto comunicada pela companhia ao comprador/passageiro. Aduz a
recorrente que não contribuiu para o fato narrado, e que contratualmente era a
ré VIAJANET quem deveria disponibilizar tanto às informações acerca de
eventuais alterações quanto ao reembolso das passagens canceladas. 3. A
controvérsia deve ser solucionada sob o prisma do sistema jurídico autônomo
instituído pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal nº 8.078, de 11
de setembro de 1990), que por sua vez regulamenta o direito fundamental de
proteção do consumidor (artigo 5º, inciso XXXII da Constituição Federal). 4.
A empresa de aviação que oferece e realiza a venda de passagens aéreas
pela internet, intermediada por agência de vendas, participa da cadeia
de fornecimento, razão pela qual é responsável solidária e, por
conseguinte, possui legitimidade para atuar no polo passivo da demanda,
em consonância com os arts. 7º, parágrafo único, e 25, § 1º, do Código de
Defesa do Consumidor. 5. A recorrida confirmou o recebimento da
notificação da alteração do horário de voo, bem como da informação a
respeito da possibilidade de cancelamento gratuito até 29/06/18 (cujo prazo
foi cumprido), no âmbito do documento de ID 6601858 (págs. 14 e 21).
Contudo, não foi demonstrado pelas rés a efetivação do reembolso devido. 6.
A responsabilização civil nas relações de consumo assenta-se na teoria da
qualidade do serviço ou do produto, notadamente em relação à segurança
legitimamente esperada (art. 14 do Código de Defesa do Consumidor). Nesse
sentido, por se tratar de responsabilidade civil objetiva é dispensável a análise
do elemento volitivo, notadamente a existência de culpa ou dolo no evento
danoso. 7. Portanto, o fornecedor responde objetivamente (e
solidariamente) pelos danos causados pela falha na prestação do serviço,
bastando ao consumidor comprovar o dano e o nexo causal, ressalvado o
direito de regresso àquele integrante da cadeia de fornecimento que tenha
dado razão ao evento danoso. Ademais, não restaram demonstradas as causas
excludentes de responsabilidade, restando o dever de indenizar o valor
despendido pelas passagens adquiridas e canceladas posteriormente em razão
da alteração unilateral das condições do trajeto. 8. Recurso CONHECIDO E
NÃO PROVIDO. 9. Condenada recorrente ao pagamento de custas e
honorários advocatícios que se fixa em 10% do valor da condenação, nos
termos do art. 55, Lei 9.099/95. 10. A súmula de julgamento servirá de
acórdão, conforme regra do art. 46 da Lei n. 9.099/95.

(TJ-DF 07044024520188070014 DF 0704402-45.2018.8.07.0014, Relator:


FABRÍCIO FONTOURA BEZERRA, Data de Julgamento: 15/02/2019, 1ª
Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, Data de
Publicação: Publicado no DJE : 14/03/2019 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Importante salientar que, em tal modalidade, é dispensável a


análise subjetiva de dolo ou culpa no que tange aos danos gerados, sejam estes da
seara material ou moral, de tal sorte que basta a existência de nexo causal, isto é, o
liame entre a conduta e o dano causado.

Dessa forma, roga-se que as requeridas, responsável pelos serviços de


viagem contratos pelos autores, respondam OBJETIVAMENTE e
SOLIDARIAMENTE aos danos causados.

II.5 – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


Imperioso ressaltar que o ordenamento jurídico pátrio adotou a
fixação estática do ônus da prova, isto é, na regra geral, o autor deve provar suas
alegações, os fatos constitutivos do seu direito, e o réu, os fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito do autor, conforme previsto nos artigos 373, I e
373, II, ambos do CPC.

Todavia, de forma excepcional, o magistrado poderá adotar a fixação


dinâmica do ônus probandi, atribuindo este de modo diverso, nos termos do § 1º do
artigo supracitado. Veja-se:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


(...)
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito do autor.
(...)
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o
encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do
fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde
que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

Nesse contexto, uma vez que a presente relação é consumerista é


aplicável o Código de Defesa do Consumidor, que, buscando a ampliação da proteção
jurídica da parte vulnerável e hipossuficiente, qual seja, o consumidor, prevê a
possibilidade de inversão do ônus da prova, nos moldes do seu artigo 6º, VIII.

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;

Desse modo, é sabido que as grandes empresas muitas vezes não


fornecem diversos documentos para os autores, além daqueles que apenas permanecem
em seus registros internos.

Assim, muito embora a presente ação esteja vastamente carreada dos


documentos necessários para propositura da presente ação, sendo, portanto notória a
verossimilhança das alegações feitas, em razão das provas anexas aos autos, na remota
hipótese de a Excelência entender pela necessidade de outras provas, é evidente que as
demandadas possuem maior facilidade em comprovar tais fatos, tendo em vista que,
além da verossimilhança das alegações, a hipossuficiência do autor, vez que a ré possui
documentação interna em seus registros capazes de comprovar a realidade dos fatos.

Nesses termos, uma vez que é cristalina a verossimilhança das


alegações realizadas pelo autor, bem como o desequilíbrio da presente relação, tendo em
vista a existência da relação consumerista, roga-se a Vossa Excelência a INVERSÃO
DO ÔNUS DA PROVA.

II.6 – DO DESCUMPRIMENTO DA OFERTA – DA FALHA NA PRESTAÇÃO


DO SERVIÇO.

Valioso trazer à tona a proteção que a própria Constituição Federal


prevê em face do Consumidor, concernente a responsabilidade Civil de serviços
públicos, in verbis:

Omissis.
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras
de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.

A par disso, indispensável trazer à baila o art. 22 do Código de Defesa


do Consumidor que estabelece requisitos que os prestadores de serviços públicos devam
respeitar, assim como, prevê a reparação de danos causados no caso de
descumprimento.

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,


permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são
obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos
essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das
obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a
cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.

Portanto, levando em consideração que as empresas de transportes


aéreos prestam serviços essencialmente públicos, essas estão inseridas na obrigação
aduzida pelo dispositivo mencionado, devendo, por conseguinte, prestar seus serviços
de maneira adequada, eficiente e seguro, o que não fora respeitado no caso em comento.
Ademais, o referido diploma legal ainda assegura a reparação dos
danos materiais e morais oriundos da má prestação ou ausência de serviço contratado,
conforme dicção do artigo 14:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência


de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes
ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Indubitável afirmar, portanto, que a prestação de atendimento ao


cliente oferecida pela empresa Ré no caso em comento, fora de péssima qualidade,
violando todos os dispositivos e princípios constitucionais e consumeristas, conforme
será exposto.

Nesse sentido, frisa-se que a legislação consumerista defende que os


produtos e serviços prestados devem atender a saúde, segurança e a vida do consumidor,
nos termos do artigo 6º, I, CDC.

No caso em tela, é notório que, caso os consumidores realizassem a


viagem, estariam colocando em risco seu bem jurídico mais precioso: a sua vida, tendo
em vista a pandemia gerada pelo surto do coronavírus.

Assim, o consumidor tentou cancelar por diversas vezes a sua


passagem. Todavia, a requerida os deixou a própria sorte e não concedeu nenhum
retorno acerca da dificuldade enfrentada pelo promovente, conforme pode ser
atestado pelas reclamações realizadas.

Sobre a temática, a teoria do desvio produtivo do consumidor é clara


ao evidenciar que o consumidor não pode ser posto em situações que tenha, que por
suas próprias forças, suprir falhas na prestação de serviço dos fornecedores –
ocasionando a perda de tempo dos consumidores –, o que evidencia a falha na prestação
de serviços.

No mesmo sentido, nota-se que a conduta da Ré foi de total descaso


com a situação amargurada pelo Autor, agindo com total negligencia e má-fé, tendo em
vista que ignorou completamente as diversas tentativas do autor de entrar em contato
para cancelar a empresa em razão da pandemia do COVID-19.

Ocorre que, mesmo sem conceder nenhum retorno aos consumidores,


as demandadas simplesmente enviaram e-mail informando que a restituição dos valores
pagos seria em créditos para serem utilizados em até 12 meses.
Ora, em momento algum os consumidores solicitaram a alteração, e
sim o cancelamento, motivo pelo qual, é notório que a alteração foi realizada de forma
unilateral pela empresa, sem qualquer anuência do consumidor, visto que estes não
tinham interesse na remarcação.

Corrobora ainda a jurisprudência pátria, que é considerada falha na


prestação de serviços a alteração da empresa de forma unilateral, sem comunicação
prévia do consumidor:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MATERIAIS E DANOS MORAIS. ALTERAÇÃO DE ITINERÁRIO DE
VOO PELA COMPANHIA AÉREA RÉ. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DE INFORMAÇÃO ANTECIPADA AOS
AUTORES. NECESSIDADE DE DIVERSAS DILIGÊNCIAS PARA
ADEQUAÇÃO ÀS NECESSIDADES DOS AUTORES TENDO EM
VISTA A AUTORA ESTAR GRÁVIDA AO TEMPO DA REALIZAÇÃO
DA VIAGEM. ACORDO RESULTANTE EM ALTERAÇÃO NO TEMPO
DE HOSPEDAGEM DOS AUTORES. ACORDO PARA PAGAMENTO
DE UMA DIÁRIA NÃO CUMPRIDO PELA EMPRESA RÉ. AUTORES
QUE COMPROVARAM O VALOR DA DIÁRIA DEVIDO BEM COMO
AS DIVERSAS DILIGÊNCIAS PARA TENTATIVA DE
RESSARCIMENTO DO VALOR. DANOS MATERIAIS E MORAIS
DEVIDOS. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. I – Relatório Dispensado – inteligência do art. 38 e 46, Lei
9.099/95, bem como do enunciado 92 do FONAJE. II – Voto Satisfeitos os
pressupostos processuais viabilizadores da admissibilidade deste recurso,
tanto os objetivos quanto os subjetivos, deve ser ele conhecido.

(TJPR - 2ª Turma Recursal - 0011297-70.2016.8.16.0018 - Maringá - Rel.:


Juiz Rafael Luis Brasileiro Kanayama - J. 14.03.2018)

Nesse contexto, restando evidente a falha na prestação de serviços, em


razão especial do descaso com o consumidor, passemos à análise dos danos suportados
pelo autor.

Conforme pode ser constatado, o promovido realizou a alteração da


restituição em créditos adquirido sem qualquer anuência previa dos consumidores, visto
que em nenhum momento a alteração foi solicitada.

Assim, não restam dúvidas que as prestadoras de serviços não


observaram a oferta veiculada, visto que a descumpriram, alterando o ressarcimento
sem aviso e anuência previa dos consumidores:
Sobre o tema, assevera o CDC:

Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veicular


por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e
serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular
ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à


oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e
à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta,
apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente
antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

Assim, tendo em vista que o serviço ofertado se encontra diverso do


que adquirido, fica evidente a possibilidade de o consumidor rescindir o contrato e
pleitear a devolução dos valores pagos antecipadamente, com fulcro no artigo 35, III,
CDC.

Dessa forma, requer a procedência do pedido para que as promovidas


reembolsem os autores no valor de R$ 1.658,99 (Mil Seiscentos e cinquenta e oito e
noventa e nove reais).

II.7 – DO DANO MORAL

Importa destacar ainda os danos morais sofridos pelo demandante.


Nesse sentido, dano moral consubstancia todo aquele caso no qual a vítima se vê
agredida no seu interior, na sua personalidade, ou em qualquer âmbito que não seja
patrimonial, isto é, que não tenha um valor pecuniário pré-fixado.

Segundo Yussef Said Cahali, dano moral é “tudo aquilo que molesta
gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes
à sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado” (“Dano
Moral”, 2ª ed., Revista dos Tribunais, 1998, p. 20).

Destarte, nota-se que a conduta das Rés fora de total descaso com a
situação amargurada pelos Autores, agindo com total negligência e má-fé, acarretando
danos de ordem psicológica a estes, que ficaram em completa incerteza sobre o
cancelamento do seu voo, visto que não conseguiam entrar em contato de forma
satisfatória com as requeridas.
Não sendo só, além de não dar o amparo devido, as requeridas
realizaram a alteração da restituição dos valores pagos, dos autores de forma unilateral,
sem qualquer comunicação prévia.

Inquestionável, que os fatos narrados não configuram mero


aborrecimento, mas sim, um grande transtorno vivenciado pelo Autor, que
ultrapassaram o que venham a serem fatos ordinários visto que não tiveram suas
demandas respondidas, além de terem seu voo cancelado e a sua restituição
transformada em créditos para serem utilizados em ate 12 meses.

Nessa entoada, os artigos 186 e 927 do Código Civil, que já foram


esposados anteriormente, preveem a possibilidade da indenização para reparar o dano
moral. Vejamos:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.

Corroborando o quanto exposto, a jurisprudência dos nossos tribunais


tem comungado do mesmo entendimento ora mencionado, é o que se
conclui das ementas abaixo:

E M E N T A: RECURSO INOMINADO. SAQUE NÃO EFETIVADO.


RECLAMAÇÃO ADMINISTRATIVA. AUSENCIA DE ESTORNO
MESMO COM AÇÃO JUDICIAL AJUIZADA. MOROSIDADE. TEORIA
DO DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR. DANOS MORAIS.
OCORRÊNCIA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. O artigo 14 do
Código de Defesa do Consumidor atribui ao fornecedor de serviços a
responsabilidade objetiva quanto aos danos causados ao consumidor,
fundada na teoria do risco da atividade. Se incontroverso nos autos a
ocorrência do saque e que o valor foi debitado no cartão pré-pago e não
disponibilizado ao Autor, sendo que após diversas reclamações
administrativas, o estorno não foi realizado, está devidamente
configurada a falha na prestação do serviço e o dever de indenizar pelo
dano moral.

(TJ-MT - RI: 10080626220198110002 MT, Relator: VALMIR ALAERCIO


DOS SANTOS, Data de Julgamento: 19/06/2020, Turma Recursal Única,
Data de Publicação: 23/06/2020)
E M E N T A – RECURSO DE APELAÇÃO – COMPENSAÇÃO POR
DANOS MORAIS – DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR –
QUANTUM FIXADO COM RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. Aplicação da tese do "desvio produtivo do
consumidor", segundo a qual a condenação deve considerar o desvio de
competência do indivíduo ao realizar tentativas de solução de um
problema causado pelo fornecedor de serviços, com reiteradas
frustrações, ante a ineficiência e descaso deste. Quantum fixado com
razoabilidade e proporcionalidade. Recurso conhecido e provido.

(TJ-MS - AC: 08308945420168120001 MS 0830894-54.2016.8.12.0001,


Relator: Des. Vilson Bertelli, Data de Julgamento: 23/10/2018, 2ª Câmara
Cível, Data de Publicação: 25/10/2018)

APELAÇÃO – SEGURO – TELEFONE MÓVEL -NEGATIVA DE


TRANSFERÊNCIA – DANO MORAL – DESVIO PRODUTIVO DO
CONSUMIDOR. 1 – Dano moral configurado – Valor da indenização
fixado em R$ 5.000,00, corrigidos do arbitramento pela Tabela do E.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, e acrescidos de juros de mora
de 1% ao mês a contar do evento citação. RECURSO PROVIDO.

(TJ-SP - AC: 10301138720188260001 SP 1030113-87.2018.8.26.0001,


Relator: Maria Lúcia Pizzotti, Data de Julgamento: 25/11/2016, 30ª Câmara
de Direito Privado, Data de Publicação: 05/05/2020)

Diante dessa realidade extenuante, não havendo mais paciência e nem


condições emocionais de persistir nesta luta, além de se mostrar infrutíferas as tentativas
de solucionar o problema na esfera administrativa, o demandante não visualizou outro
meio, senão, promovendo a presente ação para que seja solvido a querela, judicialmente.

Segundo Marcos Dessaune, autor da tese, “O desvio produtivo


caracteriza-se quando o consumidor, diante de uma situação de mau atendimento,
precisa desperdiçar o seu tempo e desviar as suas competências — de uma atividade
necessária ou por ele preferida — para tentar resolver um problema criado pelo
fornecedor, a um custo de oportunidade indesejado, de natureza irrecuperável”.

SÚMULA N.362. A correção monetária do valor da indenização do


dano moral incide desde a toda do arbitramento.

Assim, não restam dúvidas que a presente situação é um típico caso no


qual existe a necessidade da empresas rés ressarcirem os autores pelos danos morais
suportados e do desvio produtivo do consumidor, visto que estão previstos todos os
requisitos para a responsabilidade cível objetiva, isto é, o fato ilícito: o descaso com o
consumidor, além da restituição transformada em créditos de forma unilateral pela
requerida; o dano: grave estresse do autor, e o nexo causal.

Nesses termos, requer a PROCEDÊNCIA DO PEDIDO, para que as


empresa rés sejam condenadas ao pagamento de 10 (dez salários mínimos), totalizando
o valor de R$ 10.450,00 (dez mil, quatrocentos e cinquenta)

II.8 - DO RESSARCIMENTO DOS VALORES EM PECÚNIA

Importante destacar que o Autor demonstrou não ter mais o mínimo


interesse em parmanecer vinculado ao fornecedor, tendo em vista que já se aborreceu
uma vez, não querendo que situações como esta ocorram novamente, urgindo a quebra
de fidúcia em face da má prestação do serviço.

Posto isto, o Autor pede a restituição dos valores pagos em pecúnia,


tendo em vista que ao receber os valores em créditos para serem utilizados em ate 12
meses, este ficaria atrelado ao fornecer, sendo o evidente o seu desinteresse quanto a
essa situação.

Corroborando o quanto exposto, a jurisprudência dos nossos tribunais tem


comungado do mesmo entendimento ora mencionado, é o que se conclui das ementas abaixo:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. SENTENÇA REFORMADA. RESCIÇÃO


CONTRATUAL. RESTITUIÇÃO EM PECÚNIA DO VALOR DADO COMO
SINAL DO CONTRATO. DANO MORAL CONFIGURADO. A venda de veículo
automotor usado com pendência de financiamento anterior, sem que o adquirente
saiba da condição, viola a boa-fé objetiva e justifica a rescisão contratual. Diante do
lapso temporal, que leva a desvalorização do veículo dado como parte da quitação
do contrato, a restituição deve ser em pecúnia em respeito aos princípios da
proporcionalidade e razoabilidade. RECURSO PROVIDO.

(TJ-RJ - APL: 00022559820118190014 RIO DE JANEIRO CAMPOS DOS


GOYTACAZES 5 VARA CIVEL, Relator: ANDREA FORTUNA TEIXEIRA,
Data de Julgamento: 11/07/2018, VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data
de Publicação: 12/07/2018)

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. CONSUMIDOR. REMARCAÇÃO DE


PASSAGEM AÉREA. REEMBOLSO DEFERIDO PELA COMPANHIA.
ESTORNO NÃO REALIZADO. SUCESSIVAS TENTATIVAS DE RESOLUÇÃO
EXTRAJUDICIAL DA CELEUMA. ABALO EM MOMENTO DE SAÚDE
DELICADO DA TITULAR DO CARTÃO. DANO MORAL CONFIGURADO.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. I. Trata-se de recurso inominado
interposto pela parte autora face o capítulo da sentença que julgou improcedente o
pedido de compensação por dano moral, ao entendimento de que os fatos narrados
retratam simples cobrança indevida, sem o condão de aviltar atributos da
personalidade da parte recorrente. II. A controvérsia deve ser dirimida segundo os
preceitos do Código de Defesa do Consumidor, haja vista o enquadramento das
partes nos conceitos de consumidor e fornecedor de serviços estatuídos nos artigos
2.º e 3.º da Lei 8.078/90. III. Cuida-se, apenas, de averiguar se a retenção do
numerário configura fato apto a ocasionar dano moral. IV. O valor indevidamente
retido mostra-se suficiente para causar impacto no estado de ânimo de pessoa que se
encontrava comprovadamente enferma (ID 10349039), ferindo-lhe direitos de
personalidade em momento no qual precisava de serenidade e descanso. V.
Ademais, não obstante os sucessivos pedidos da parte recorrente, que perduraram
por cerca de oito meses de contatos com a recorrida, a controvérsia somente foi
dirimida judicialmente. Neste sentido, tem conquistado lugar na jurisprudência a
Teoria do Desvio Produtivo do Consumidor, já adotada pelo STJ e pelas Turmas
Recursais, que reconhecem que a perda de tempo imposta ao consumidor pelo
fornecedor, de modo abusivo, para o reconhecimento do seu direito enseja
indenização por danos morais. Precedentes: Acórdão n.1174393,
07136623120188070020, Relator: CARLOS ALBERTO MARTINS FILHO 3ª
Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de Julgamento:
29/05/2019, Publicado no DJE: 04/06/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada; Acórdão
n.1174964, 07516154120188070016, Relator: JOÃO LUÍS FISCHER DIAS 2ª
Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, Data de
Julgamento: 29/05/2019, Publicado no DJE: 06/06/2019. Pág.: Sem Página
Cadastrada; Acórdão n.1174887, 07038937420198070016, Relator: ARNALDO
CORRÊA SILVA 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do
DF, Data de Julgamento: 29/05/2019, Publicado no DJE: 04/06/2019. Pág.: Sem
Página Cadastrada. VI. Assim, a conduta omissiva da parte recorrida resultou em
dano moral à parte recorrente, o qual deve ser compensado por meio de prestação
pecuniária (CDC, art. 7.º). VII. O valor da reparação deve guardar correspondência
com o gravame sofrido, devendo o juiz pautar-se nos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, sopesando as circunstâncias do fato e as
condições pessoais e econômicas das partes envolvidas, assim como o grau da
ofensa moral e sua repercussão. VIII. Em atenção às diretrizes acima elencadas,
entende-se o montante de R$ 2.000,00 (dois mil reais), como suficiente para,
com razoabilidade e proporcionalidade, compensar os danos sofridos pela
parte recorrente, sem, contudo, implicar enriquecimento sem causa. IX.
Recurso conhecido e provido para reformar em parte a sentença e julgar procedente
o pedido de compensação por dano moral, condenando a parte recorrida ao
pagamento de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a ser corrigido monetariamente pelo
INPC a partir desta data e acrescido de juros moratórios de 1% a.m. desde a citação.
Sentença mantida em seus demais termos. Custas recolhidas. Sem condenação em
honorários advocatícios (art. 55 da Lei 9.099/95).

(TJ-DF 07188109820198070016 DF 0718810-98.2019.8.07.0016, Relator:


GABRIELA JARDON GUIMARAES DE FARIA, Data de Julgamento:
21/08/2019, Segunda Turma Recursal, Data de Publicação: Publicado no DJE :
29/08/2019 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E


MORAIS. MAGISTRADO QUE JULGA PROCEDENTES OS PEDIDOS
FORMULADOS NA INICIAL. INSURGÊNCIA DE AMBOS OS
CONTENDORES. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. COMPANHIA
AÉREA QUE CANCELOU O VOO EM DECORRÊNCIA DE NEVOEIROS.
ALEGADA EXCLUDENTE DE ILICITUDE POR FORÇA MAIOR. INVERSÃO
DO ÔNUS DA PROVA (ART. 6, VII, DO DIPLOMA CONSUMERISTA).
EMPRESA QUE NÃO LOGROU ÊXITO EM COMPROVAR A OCORRÊNCIA
DE INTEMPÉRIES METEOROLÓGICAS. EXCLUDENTE AFASTADA.
DANOS MATERIAIS. ATO ILÍCITO. EMPRESA DE AVIAÇÃO QUE
DEVERIA TER OFERECIDO ALTERNATIVAMENTE A DEVOLUÇÃO DOS
VALORES, A REACOMODAÇÃO OU A PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS POR
OUTRO MEIO DE TRANSPORTE, MAS DISPONIBILIZOU APENAS O
REARRANJO PARA O PRÓXIMO VOO. AUTOR QUE, DIANTE DE
COMPROMISSO INADIÁVEL, PROCEDEU AO TRANSPORTE TERRESTRE
POR SUA CONTA. GASTOS DECORRENTES DE ATO ILÍCITO DA
COMPANHIA AÉREA. DEVER DE INDENIZAR OS CUSTOS DESTE
TRANSPORTE CARACTERIZADO. IRRESIGNAÇÃO DO AUTOR
AFASTADA. CREDITAMENTO DE PONTOS. CONJUNTO PROBATÓRIO
APTO A INDICAR QUE A AQUISIÇÃO DA PASSAGEM AÉREA DEU-SE
EXCLUSIVAMENTE COM PAGAMENTO EM PECÚNIA, SEM DÉBITO DE
PONTOS. RESTITUIÇÃO AFASTADA. APELO DA RÉ PROVIDO NESTE
PONTO. DANOS MORAIS. SITUAÇÃO FÁTICA CAPAZ DE DEMONSTRAR
QUE O ABALO SOFRIDO PELO AUTOR ULTRAPASSOU A BARREIRA DO
MERO DISSABOR. DEVER DE INDENIZAR CARACTERIZADO, NOS
MOLDES DO ART. 927, DO CÓDIGO CIVIL. Em que pese o cancelamento de
voo, em razão de adversidades climáticas, não ensejar qualquer reparação, se o
consumidor, em momento posterior, em razão de práticas adotadas pela companhia
aérea, vivenciar situações desagradáveis que ultrapassam o mero dissabor, inclusive
com deslocamento terrestre para o destino, por longo trecho, em veículo pouco
confortável, deve ser compensado pelo abalo moral experimentado.

(TJ-SC - AC: 00441169620118240023 Capital 0044116-96.2011.8.24.0023,


Relator: Rosane Portella Wolff, Data de Julgamento: 19/04/2018, Quarta Câmara de
Direito Civil)

Inquestionável que os fatos narrados não configuram mero


aborrecimento, mas sim, um grande transtorno vivenciado pelo Autor, que ultrapassou o
que venha a ser fatos ordinários, visto que não tiveram suas demandas respondidas,
além de ter seu voo cancelado e a sua restituição transformada em créditos para serem
utilizados em ate 12 meses.

Dessa forma, requer a procedência do pedido para que as promovidas


reembolsem o Autor no valor de R$ 1.658,99 (Mil Seiscentos e cinquenta e oito e
noventa e nove reais) em dinheiro, valor esse que dever ser restituído em pecúnia, pois o
requerente não possui mais interesse em manter vinculado com a requerida.

III – DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer que Vossa Excelência se digne de:

a) Conceder os benefícios da justiça gratuita ao autor;


b) Realizar a citação da empresa ré, para o comparecimento em audiência de
conciliação e mediação, sob pena de REVELIA, nos termos do artigo 18 e
20 da Lei 9.099/99;

c) Reconhecer a relação de consumo, aplicando as normas do CDC, em especial


a inversão do ônus da prova e o reconhecimento da responsabilidade
objetiva;

d) No mérito, julgar a ação inteiramente PROCEDENTE, para condenar as rés


ao pagamento visando ressarcir os danos morais suportados pelos autores, no
importe de R$ 10.450,00 (dez mil, quatrocentos e cinquenta), além do
ressarcimento do valor pago pelo autor nas passagens aéreas, tendo como
total o valor de R$ 1.658,99 (Mil Seiscentos e cinquenta e oito e noventa e
nove reais),

Protesta-se por todos os meios de provas admitidos em direito no


presente rito dos Juizados Especiais.

Dá-se a causa o valor de R$ 12.109,00 (doze mil, cento e nove reais).


A presente ação desnecessita de custas, nos termos do artigo 54 da Lei 9099/99.

Nesses termos,

Pede Deferimento.

Fortaleza, 21 de julho de 2020

ZACHARIAS AUGUSTO DO AMARAL VIEIRA


OAB/CE 40.855

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