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Aprendendo a escolher

um bom livro
Aprendendo a escolher
um bom livro

Segunda a pesquisa de 2009 do PISA (Programa Internacional de Avaliação dos


Estudantes), entre os estudantes de 15 anos: 39% têm menos de 10 livros em casa;
30% têm entre 10 e 25 livros em casa e apenas 1% tem mais de 500 livros em casa. E
mesmo que a pesquisa não tenha sido feita, não precisamos nos esforçar muito para
vermos como essa área é deficiente em nosso país, mesmo olhando para colegas
e pessoas ao nosso redor. Não são muitos os que realmente investem em leitura.
Muitos pais investem até em boas escolas ou materiais caros, mas poucos são os que
investem em livros.

Já sabemos sobre a importância da leitura em voz alta, que além de estreitar o vínculo
entre pais e filhos, servindo como importante reforço emocional para as crianças,
ela praticada diariamente enriquece a imaginação e o vocabulário dos pequenos e
contribui para aumentar sua capacidade de atenção, preparando-os para leituras
de maior fôlego e por conta própria no futuro. Também sabemos da importância do
contato das crianças com os livros, mas nem sempre sabemos de que forma podemos
escolher bons livros, dentre tantos que vemos nas livrarias e feiras do livro.

Gosto da comparação de escolher livros com a tarefa de escolher frutas. Num


hortifruti podemos ter, pelo menos, três tipo de compradores de frutas: o que pensa
que porque a fruta está ali exposta, então deve estar boa para consumo; o que sabe
que nem todas estão saborosas e maduras, mas não sabe quais critérios usar para
escolher as frutas e, por fim, aquele que sabe exatamente que fruta escolher para
se deliciar. Precisamos ser com os livros, assim como esse “perito” em frutas, é
necessário que saibamos encontrar o livro certo, para podermos nos deleitar nele,
nós e nossos filhos.

Na série de livros Educação no Lar, Charlotte Mason diz uma frase que é bastante
impactante nos dias atuais, ela diz o seguinte: “As crianças devem ter livros vivos,
os melhores não são bons demais para eles. Nada menos do que os melhores é
bom o suficiente.” Isso não poderia ir mais contrário ao que se vê hoje na escolha
e produção textual para as crianças. Muitos adultos pensam que quanto mais
simplificado for, melhor, e que qualquer livro está bom o suficiente para ser
oferecido às crianças.

É importante saber que o nível de compreensão auditiva de uma criança é maior do


que o seu nível de compreensão de leitura. Em outras palavras: um livro pode ser
demasiado complexo para que uma criança de sete anos o leia, mas, se o mesmo livro
for lido em voz alta por um adulto, a criança poderá compreendê-lo. O mesmo vale
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para bebês e crianças pequenas, ainda que um bebê não consiga falar, ele já é capaz
de compreender muito do que se fala e lê. Isso porque a leitura em voz alta recruta
uma série de elementos que facilitam a compreensão, como entonação, ritmo, ênfase
nas informações mais importantes etc.

A leitura em voz alta permite que a criança desfrute do conteúdo de maneira mais
fluida, sem os entraves que poderiam existir caso ela realizasse a leitura sozinha. Há
razões para crer que o nível de compreensão auditiva e o nível de compreensão de
leitura começam a convergir por volta dos 13 anos de idade. Até lá, portanto, os pais
têm um vasto campo para explorar com seus filhos, garantindo o acesso a conteúdos
que poderiam permanecer desconhecidos ou incompreendidos.

A primeira coisa que devemos fazer na hora de escolher um livro para os nossos
filhos é lermos. Ao lermos o livro, em voz alta ou voz baixa, saberemos se ele é
adequado ou não, se faz sentido ou se servirá para os nossos filhos

Ao fazer essa leitura, analise se o livro é agradável, se a história é de fato envolvente e


boa de ouvir. Fingir que gostamos de uma história poderá parecer muito forçado para
os nossos filhos e afastá-los desse momento de leitura. Enquanto que ver o nosso real
interesse por ele, poderá aproximá-las muito mais.

Ler antes o livro também permite ver se existe algum ponto do texto que deva ser
omitido ou que não mereça destaque. Muitas vezes, nós, pais, pegamos o primeiro
livro que temos à mão e fazemos a leitura. Surge então um trecho ou palavra que
você julga inadequado para a criança naquele momento e você acaba lendo sem
pensar. Ela então ouve o que você disse e começa a repetir. Por isso, você tem de
analisar: “Devo substituir isso ou aquilo?” ou “meu filho já tem idade e será capaz
de entender o significado dessa palavra em outros contextos?”. Enfim, você precisa
avaliar. Um determinado livro, apesar de ser muito bom, pode conter algum trecho
que você considere inadequado para o seu filho. Para fazer a omissão, você precisa
se preparar e dominar o texto.

Após isso, gostaria de destacar algumas características que o livro precisa ter para ser
considerado um bom livro:
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1 - Ser bem escrito

Não adianta o livro conter várias palavras simples e com pouco significado. O livro
deve ser bem escrito, ter boa qualidade na escolha do vocabulário e nas estruturas
sintáticas. Quanto mais rico for o texto, mais a criança poderá aprender. Variar o
gênero literário poderá servir ainda mais para oferecer boa escrita e não se tornar
monótono ou enfadonho. Variar entre poesia, prosa, livros em capítulos ou livros
com ilustrações para nomear e observar será muito importante para o aprendizado
da criança.

Porém, atualmente vemos o oposto: pais oferecendo o mais medíocre em literatura,


música e arte. Sempre com aquela ideia de que a criança não tem capacidade de
compreender ou de aprender alguma coisa que não esteja num nível “abobalhado” de
educação.

“Nós permanecemos “leitores pobres” durante toda a nossa vida. Proteja o berçário;
não permita ali qualquer coisa que não possua verdadeiro sabor literário; que as
crianças cresçam com alguns poucos livros lidos repetidamente, e que não tenham
nenhum cuja leitura não custe um esforço mental considerável. Isto não é um
sofrimento. Atividade e esforço, seja do corpo ou da mente, é uma alegria para a
criança” Charlotte Mason

Quando estamos diante de um livro bem escrito nosso imaginário está sendo bem
formado, enriquecido, precisamos buscar livros que vão estimular a imaginação a
partir do texto ao invés de tornar a criança uma receptora passiva e dependente de
imagens. Por isso livros descritivos também são bem-vindos, mesmo para crianças
pequenas.

2 - Expor grandes ideias e grandes homens

Os homens aprendem por meio de histórias e assim se preparam para o aprendizado


dos princípios. Uma grande vantagem das histórias é que o leitor pode obter o
conhecimento sem experimentar as dolorosas e destrutivas consequências que não
raro acompanham a experiência vivida.
Segundo as palavras de C. S. Lewis: “Aqueles dentre nós que crescemos lendo livros
raramente nos damos conta da enorme parte do nosso ser que devemos aos autores.
Torna-se mais fácil percebê-lo quando conversamos com um amigo que não tem
o hábito de ler. Ele pode ter um bom coração e muito bom senso, mas habita um
mundo estreito… Meus olhos não são o bastante para mim; preciso dos olhos de
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outrem…Na leitura de uma boa história, vejo como outros vêem, compreendo o que
não compreenderia por minha própria conta, e o faço ampliando – e não sufocando
– meu entendimento individual.”

Os livros servem ao nosso refinamento porque são veículos da arte literária — uma
arte que é, em seu sentido mais alto, uma expressão e interpretação da vida. Esta é
uma arte que lida com o Belo. Seu apelo dirige-se principalmente aos sentimentos.
Seu fundamento é a Verdade, seja ela uma verdade de fato ou uma verdade a que se
aspira.

As histórias obtêm esse efeito porque ensinam, não didaticamente, mas nem por
isso de maneira menos fiel, e por meio da história minha mente e minha vontade são
guiados em direção à verdade.

Por tudo isso, precisamos oferecer boas histórias, textos bem narrados, personagens
bem

3 - Fazer as ideias ganharem vida

“Um dos conceitos fundamentais de Charlotte Mason era que era de importância
primária que todas as crianças estivessem confortáveis em casa com livros e fossem
guarnecidas de livros interessantes, escritos de forma excelente, na mais ampla
quantidade de tópicos possíveis – livros que materializassem ideias e ideais em
harmonia com os valores tradicionais. Ela chamava tais livros de “livros vivos”, e sua
própria vasta experiência como educadora demonstrou conclusivamente que quando
uma criança tem uma contínua relação com tais livros, ela estará participando
entusiasticamente da mais efetiva forma de educação.” (Elizabeth Wilson)

Para transmitir boas ideias, bons exemplos, e enriquecer a mente dos nossos filhos,
precisaremos cativá-los. Livros chatos, mal escritos, sem ideias, sem sentido, não
farão com que eles se desenvolvam e expandam seu imaginário. Por isso, na hora de
escolher um livro é muito importante verificarmos a qualidade das ideias ali contidas:
o livro deve elevar as impressões da criança, tanto no que diz respeito às questões
estéticas (da beleza das imagens e do texto bem escrito), quanto no que diz respeito
às questões morais e emocionais. A história deve possuir ideias vivas, que inspirem
na criança o apreço pela nobreza de caráter, pelas relações de amor e serviço, de
autoridade e obediência, de bondade, pela virtude.
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4 - Ser bem ilustrado

“Para que serve um livro sem imagens nem diálogos?” – a pergunta de Alice, na
história de Lewis Carroll, é a pergunta das crianças em geral – especialmente
das mais novas. Quando nossos filhos se encantam pelas ilustrações de um livro,
provavelmente serão menos resistentes nas sessões de leitura em voz alta. Mais tarde,
ele pedirá para você repetir aquela história dezenas de vezes, isso acontece porque
crianças dessa idade ainda têm repertórios vocabular e sintático limitados e são
fortemente guiadas pela visão, de modo que as ilustrações são muletas muito bem-
vindas.

Aproveite essa fase para formá-los na apreciação da beleza e da arte, dando a eles
sensibilidade artística. Usando as imagens para instruir e desenvolver a acuidade
visual e a linguagem: apontar para as figuras e pedir à criança que as nomeie, que
descreva cenas, perguntar sobre as cores, as quantidades, os personagens – ou dar as
respostas no lugar delas, enquanto não têm linguagem para tal.

Contudo, como não queremos que nossos filhos usem muletas para sempre quando
têm plena capacidade de andar por conta própria, é preciso tirá-las aos poucos:
reduzindo o número e o tamanho das ilustrações, aumentando a quantidade de texto
nos livros. Até que não haja necessidade de imagem alguma – o que obviamente
não significa que adolescentes, jovens e adultos não devam ler livros ilustrados
e quadrinhos. Porém, alguns tipos de ilustração, apesar de acompanharem ou
mesmo “conversarem” com o texto, podem desagradar, confundir e perturbar as
crianças – principalmente as pequenas. São as ilustrações disformes, distorcidas,
desproporcionais; as representações de figuras humanas ou animais com economia
de traços e expressões; as ilustrações psicodélicas; as imagens que, para alguém que
mal chegou ao mundo, não parecem representá-lo.

“Se a imagem de um livro não é um espelho da Natureza, será uma corrupção da


Natureza. E essa corrupção da Natureza pode dar a entender que a Natureza não
segue leis. Mas, como sabemos, há leis naturais, e os que não seguem as leis naturais
correm muito perigo. Por isso, para entender a Natureza, as imagens de um livro
precisam ser um espelho da Natureza. Assim, a beleza da Natureza precisa ser vista
nos livros. Se a imagem de um livro não é minimamente um espelho da Natureza,
deixa de inculcar a beleza no aluno.” Nathan Freeman

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