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Você fala sobre a leitura como um processo empoderador e libertador. Não é apenas sobre
acessar currículos, acessar a sociedade para a alfabetização. Onde você acha que o ensino
da leitura é certo ou errado nas escolas?
E onde você tenta levá-los a leitura?
A leitura é uma mistura de uma batalha de sobrevivência. O seu maior inimigo é provavelmente o
celular. Toda vez que um aluno senta para ler um livro, tem um aparelho brilhante com sinos e
assobios que busca distraí-lo constantemente e que pode canalizar qualquer informação.
Uma das maneiras que nos colocamos para perder essa batalha é que deixamos a leitura se
tornar um exercício solipsista. Os professores não leem mais em voz alta para os alunos nem
com os alunos.
E eu acho que uma das formas de construir uma cultura de amor à leitura é com professores que
leem em voz alta, trazendo vida para o texto, dando vida a história e deixando os alunos
participarem disso; sentindo alegria ao ler um texto com expressividade e com significado; rindo
juntos nas partes engraçadas e vendo os outros alunos fazendo isso também.
Você deve ler seu próprio texto. Você escolhe o seu livro e escreve o que quiser sobre o livro. Um
problema real é que começamos a acreditar que a leitura é um conjunto de habilidades, e que ler
é sobre perguntar e responder perguntas sobre o texto, e pode ser qualquer texto.
Acredito que o texto importa profundamente. Eu quero comparar as estruturas narrativas do livro
que estou lendo com outro livro que todo mundo leu. Nos Estados Unidos, quase não existe um
livro que eu possa presumir que todo mundo na classe tenha lido. Assim, eu não posso falar
sobre as similaridades e diferenças dos textos.
A escolha do que lemos é vastamente subestimada por escolas e professores. Muitas escolas e
professores enxergam a leitura como um conjunto de habilidades, que é preciso praticar para
fazer inferências sobre o texto. Mas os alunos não podem fazer inferências porque eles não
entendem que uma inferência é fazer uma conexão entre o que está escrito no texto e o
conhecimento que eu tenho.
Na maioria dos casos onde os alunos não fazem uma inferência não é porque eles não sabem o
que é uma inferência – da mesma forma que quando os alunos não conseguem extrair a ideia
principal do texto, não é porque eles não sabem o que é extrair a ideia principal. É porque eles
não conhecem o contexto, não conhecem o vocabulário usado, não experimentaram textos
complexos o suficiente em voz alta, para serem capazes de processar com suficiente memória
ativa para pensar sobre o texto.
Nós, muitas vezes, pensamos que os problemas de leitura são problemas de habilidade, quando,
na verdade, são problemas de conhecimento. Um exemplo: eu estava com a minha filha mais
nova, lendo um dos livros de Little House On The Prairie [Os Pioneiros], uma série literária sobre
o oeste americano no fim dos anos 1800.
A mãe da personagem principal diz para ela: “É noite de quarta-feira. Nós vamos para a cidade
para tomar banho”. E isso é para ser um sinal de que algo muito importante vai acontecer. Então,
perguntei para a minha filha como ela sabia que um evento especial iria acontecer. Ela adivinhou
todo o tipo de coisa, mas não sabia. Ela é uma ótima leitora.
A razão para ela não entender é porque ela não sabia o fato de que, no século 19, no oeste
americano, você tomava banho apenas aos sábados para ficar pronto para a igreja, que era aos
domingos. Isso porque a água era cara e você precisava buscá-la do poço. As pessoas tomavam
banho uma vez por semana na época.
Assim, tomar banho numa noite de quarta-feira era algo muito incomum. A minha filha poderia ter
praticado fazer inferências milhares de vezes, com milhares de livros diferentes e, mesmo assim,
ela não conseguiria fazer aquela inferência específica. Essa inferência é sobre conhecimento.
Geralmente, nós subestimamos sistematicamente a importância do conhecimento na educação.
Passamos a acreditar no argumento falso de que na era do Google, quando você pode pesquisar
qualquer coisa, o conhecimento não importa mais.
Isso porque eles conseguiriam construir seu conhecimento com o tempo, tornando-se melhores
leitores. Eu acho que essa é uma das principais razões pelas quais lutamos para progredir com
os alunos, pois ainda vemos a leitura como um conjunto de habilidades formalistas. Eu acho que
a pesquisa é bem clara que esse não é o caso.