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Relações sociais e tecnológicas: a Literatura em evolução

Estimulando a leitura na era digital

Em uma época em que as crianças já nascem inseridos no contexto digital, e tão distante dos livros físicos, qual o
papel da escola na formação de leitores?

Estimular a leitura desde a infância desenvolve habilidades linguísticas, amplia o vocabulário, estimula a imaginação
e criatividade, além de promover o aprendizado e o desenvolvimento cognitivo. Mas, numa era em que as crianças
já nascem inseridos no contexto digital, e tão distante dos livros físicos, qual o papel da escola na formação de
leitores? Como estimular a leitura desde a alfabetização? Esse estímulo precisa começar por quem? Essas e outras
perguntas serão respondidas ao longo dessa matéria por especialistas convidados pela Revista Appai Educar.
Confira!

Sabemos que a leitura contribui para a formação de valores, desperta o interesse por diferentes culturas e
possibilita a construção de um repertório cultural sólido. Além disso, a leitura frequente desde cedo cria o hábito de
ler, o que traz benefícios ao longo da vida, tanto no âmbito acadêmico como no pessoal. Portanto, incentivar a
leitura na infância é fundamental para o desenvolvimento integral das crianças.

A especialista em Educação Infantil, Judith de Lima Cortez, explica que o prazer pela leitura pode e deve ser
estimulado ainda antes da alfabetização e já com os bebês. “Na minha experiência de leitura na Educação Infantil,
com crianças a partir de 1 ano de idade é possível perceber o seu envolvimento quando o educador apresenta a
história, seja ela contada, lida ou cantada. Neste sentido ler cotidianamente para as crianças, é o caminho! Ao fazê-
lo, o adulto se torna uma importante referência de leitor e possibilita que a criança, embora ainda não domine os
códigos da escrita, leia através dele”, pontua.

A coordenadora da Educação Infantil na SME de Duque de Caxias ressalta que a escolha da literatura infantil deve
considerar a faixa etária das crianças, mas principalmente a qualidade do texto escrito, na contramão de uma ideia
equivocada de que livros infantis precisam ter frases curtas e de fácil entendimento para os pequenos. “Permitir
que as crianças tenham contato com o portador do texto escrito é também fundamental no estímulo à leitura. Elas
precisam tocar o livro, percorrer suas páginas, apreciar as suas ilustrações, balbuciar, contar e recontar suas
histórias”, explica Judith. Segundo a especialista, o fator imprescindível para estimular a formação de um bom leitor
é a oferta da leitura por prazer. “É importante que o adulto compreenda o tempo e espaço da leitura não como um
pretexto para ensinar algo para as crianças, mas como um momento em que podem ser provocadas em seu
imaginário, fazendo suas interpretações e relações com suas experiências, através do texto lido”, exemplifica.

Escola ou família: esse estímulo começa por quem?

A escola teve e tem papel primordial na formação de bons leitores. Embora vivamos uma era digital e tecnológica, a
literatura ocupa um importante papel no desenvolvimento humano, pois tem o poder de encantar e por meio dela
permitir que o leitor seja transportado e vivencie diferentes experiências a partir dos textos escritos e contados.
Para a especialista, o estímulo à leitura é bem-vindo de todas as partes. Família e escola cumprem importante papel
no contato da criança com o mundo letrado e principalmente com a leitura literária. “Porém, à escola cabe sem
sombra de dúvidas um grande peso neste trabalho, principalmente com as crianças das classes populares, cujas
famílias têm menor acesso à cultura em suas diversas expressões. A leitura literária deve ser parte viva do currículo
da escola desde a Educação Infantil”, destaca Judith.

Incentivando a leitura
A educadora conta que nos diversos papeis que desempenha na rede de ensino em que atua, a literatura infantil
está sempre presente. Desde apresentar às crianças histórias escritas por diversos autores ou na utilização destes
textos em momentos de formação com profissionais que atuam nas creches e escolas, com o objetivo de
fomentar o prazer pela leitura no cotidiano das crianças.
Ela acentua que a rede de ensino que atua tem como uma premissa a formação de leitores e que a experiência
mais rica que viveu neste contexto foi o trabalho que desenvolveu em uma das creches do município, como
dinamizadora de leitura em turmas de um a cinco anos. “Na sala de leitura, no espaço da quadra, no refeitório, à
sombra de uma árvore, vivenciei com as crianças experiências maravilhosas com a literatura infantil. Bruxas,
fadas, castelos, crianças, bichos, medos, risos, monstros e outras personagens estiveram presentes nas histórias
de Ruth Rocha, Eva Furnari, Cecília Meireles, Ana Maria Machado, Ricardo Azevedo, Pedro Bandeira,
Roseana Murray e tantos outros autores que com sua arte mexem com nossas emoções e nossa imaginação”,
conta Judith.

A leitura na formação dos adolescentes: um desafio coletivo

A formação e proficiência de leitores no Brasil, há muito é um caminho de muitas letras. Sobretudo numa era
em que as crianças já nascem inseridas no contexto digital, distante dos livros físicos, mas paradoxalmente
tendo que fazer uso, em sua maioria, dos clássicos e cânones ofertados pelas bibliotecas escolares. Por si, só
essa questão já seria uma grande equação a ser resolvida pelas políticas públicas e comunidade escolar.
Entretanto, esse não parece ser o maior dos entraves para alguns docentes. A professora Márcia Regina
Quintiliano, que leciona para turmas do fundamental II ano, alerta sobre o papel decisivo da escola no incentivo
a prática leitora. “Compete à escola oferecer subsídios de incentivo à leitura, apresentação de resenhas digitais,
vídeos com entrevistas com novos autores, Tablet, notebooks com internet”, a fim, de que, segundo ela, não
aumente o empobrecimento de vocabulário, a falta de expressão verbal e a produção da escrita.
No Brasil, mesmo em meio a um cenário de proficiência leitora bastante longe do esperado pela sociedade, os
professores parecem não ter dúvida quanto ao papel da escola na formação desses leitores. “Cabe à escola o
papel de fomentar o gosto pela leitura, por meio da apresentação de livros de variados gêneros que abordem
temas importantes, tais como, o preconceito, a educação antirracista, o bullying. Na escola, o alunado deve
aprender que a leitura é um momento de reflexão, de observação, de prazer, de liberdade, de criatividade.
Assim, o gosto pelo livro será exitoso, e a sociedade terá um maior número de leitores”, afirma a professora
Fernanda Lessa, Redatora do Ensino Fundamental – Anos Finais (Linguagens) da Matriz Curricular da
Prefeitura Municipal de Duque de Caxias/SME.

A tecnologia e os novos caminhos da leitura


Mas reconhecemos que dentro desse mosaico de prós e contras, não existe apenas problemas. O advento da
tecnologia trouxe com ele novas vias para se percorrer e chegar à compreensão desses textos de forma mais
prazerosa para seus leitores. É o caso da Municipal Ministro Orosimbo Nonato, uma das escolas da 3ª CRE,
localizada no bairro de Higienópolis, zona norte carioca.
Na escola Municipal Orosimbo, a professora Fernanda Lessa leciona para turmas de 9º ano e para uma turma do
Projeto Carioca – que atende alunos que cursam concomitantemente o 8º e 9° anos. E ao falar sobre os
caminhos e desafios da leitura no Brasil, Lessa revela que no dia a dia escolar seus alunos estão sempre lendo,
seja levando seus próprios livros físicos, fazendo empréstimo na escola ou usando o celular para lerem um
gênero literário de que gostem.

Eu fui surpreendida ao conversar com uma de minhas alunas de 14 anos, ao saber que o livro que ela está lendo
atualmente, foi um dos filmes mais visto da minha geração. E mesmo sem nunca ter visto o filme, que já tem
mais de 45 anos de lançamento, a aluna está adorando o livro “Carrie, a estranha. E isso nos faz repensar até que
ponto não temos um pré-conceito com os adolescentes e suas leituras”, pontuou a docente.

Uma escola leitora


Bem diferente do que ouvimos falar acerca do gosto pela leitura, sobretudo do público adolescente, os alunos da
Orosimbo têm feito a diferença quando o assunto é ler. É o que afirma os educandos da turma da 1901, que ao
comentarem sobre seus gostos literários, citaram de mangá, passando por histórias em quadrinhos, casos
criminais, ao livro mais lido do mundo, a Bíblia.
Uma outra turma também do 9º ano disse que entre as leituras que mais curtem está a descrição de jogos da
FIFA no videogame. “Quando lemos esse tipo de conteúdo, aprendemos também a conhecer as bandeiras de
países, palavras em inglês, a localização do mapa-múndi e até a história da Segunda Guerra Mundial”, ensinam
os jovens leitores da Orosimbo.

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