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formacao-de-leitores

Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Dezembro | 2005

Ações Governamentais

Política de formação de
leitores
Programas federais se articulam para distribuir livros e
favorecer a criação de bibliotecas, salas e cantinhos de
leitura nas escolas. A formação de professores faz parte
das metas: é preciso saber ensinar o prazer da leitura
Roberta Bencini

Qual o professor que não sonha com um amplo acervo de livros em sua
escola para dinamizar as aulas e incentivar a leitura dos alunos? Mas como
aproveitar ao máximo a biblioteca e fazer dela um lugar de interesse contínuo
para a garotada? Na biblioteca da Escola Municipal Manuel Fiel Filho, em
Diadema (SP), que atende crianças até 6 anos, há livros, jornais, gibis, revistas
e filmes em vídeo e DVD. Além disso, o espaço dispõe de computadores com
acesso à internet, um tablado para representar os personagens das histórias
lidas, uma arena para discussões e bate-papos, mesas e cadeiras para
atividades de pintura, desenho e escultura.

De nada adiantaria tudo isso, no entanto, se não existisse um professor


capacitado para manter o espaço vivo e fazer a ponte entre o projeto
pedagógico da escola e a biblioteca. Esse novo profissional no mercado é o
infoeducador ou o professor de biblioteca. "Meu papel é multiplicar os
conhecimentos e ajudar os alunos e os professores na exploração adequada
do ambiente. O estímulo à leitura deve começar bem cedo, articulado com
um sólido projeto pedagógico", explica Mara Silva Ramos. Para Edmir Perrotti,
professor de biblioteconomia da Universidade de São Paulo (USP) e consultor
do Ministério da Educação (MEC), os alunos que têm acesso a várias
informações e linguagens oral, audiovisual, escrita e digital desenvolvem com
maior facilidade a leitura e a escrita. "Informação, cultura e conhecimento
precisam estar presentes na escola. A idéia é que as bibliotecas sirvam como
porta de entrada desse importante circuito para alunos, pais, professores e
comunidade", explica o consultor.
O projeto das estações de conhecimento, como Perrotti denomina essas
superbibliotecas, está sendo implantado em 140 escolas municipais de São
Bernardo do Campo, 71 de Diadema e 12 de Jaguariúna, todas em São Paulo.
A prefeitura da capital paulista está estudando implantar o modelo em 1503
escolas e 313 creches. Em 2006, o MEC pretende espalhar a experiência para
outros estados do Brasil e estabelecer uma rede de leitura.

ALFABETIZAÇÃO COM HISTÓRIAS INFANTIS

Vários programas de incentivo à leitura estão sendo estudados e implantados


pelo MEC desde o início de 2005. As ações foram definidas depois de uma
série de encontros regionais, que promoveram, por exemplo, a avaliação do
Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). A partir deste ano, as escolas
passaram a escolher o acervo de livros de literatura enviado pelo MEC. O
projeto inovou ao selecionar obras literárias disponíveis no mercado e
destiná-las para uso coletivo nas escolas. Os acervos apresentam vários
gêneros de texto, como poesia, parlenda, cantiga, conto, teatro, crônica e
romance. Até o início do ano que vem, todas as escolas terão recebido as
obras, que foram escolhidas em setembro.

Maria Gonçalves de Oliveira, da Escola Municipal Professora Júlia Kubitschek


de Oliveira, em Contagem (MG), é uma das 900 professoras capacitadas pela
Rede Nacional de Formação Continuada de Professores de Educação Básica
programa voltado para melhorar a qualidade do ensino e aprendizagem dos
alunos, em parceria com prefeituras e universidades. Ela aprendeu no
programa oferecido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a
alfabetizar com livros de literatura. "Faz 30 anos que dou aulas para turmas
de 1ª a 4ª série e nunca tive um resultado tão bom como agora. Os livros de
histórias infantis são os melhores materiais de que dispomos para ensinar a
ler e escrever com prazer", conta a professora.

Nas aulas de Maria, os livros consagrados têm o mesmo peso que os


produzidos pelas crianças. Elas aprendem a escrever o próprio nome ao
mesmo tempo em que escrevem uma pequena obra. "Uma das principais
dificuldades dos professores é estabelecer uma rotina de leitura. Aprender a
ler com a entonação certa e o uso de gestos e expressões faciais ajuda a criar
o clima e envolver as crianças na história e merece destaque na formação. O
professor também precisa desenvolver a sua oralidade e expressão", explica
Antônio Augusto Gomes Batista, coordenador do módulo alfabetização e
linguagem do curso oferecido na UFMG.

Há mais ações do MEC. O critério de seleção e distribuição de dicionários


para as escolas públicas foi modificado. Em 2006, os alunos de 1ª a 4ª série
vão ter acesso a dicionários adequados à sua faixa etária e à série em que
estão matriculados, e os professores receberão orientações de como utilizar
o material. "Uma criança que está aprendendo a ler e escrever não pode
recorrer ao mesmo dicionário que um aluno que está terminando a 8ª série",
afirma Jeanete Beauchamp, diretora de políticas de Educação Infantil e Ensino
Fudamental da Secretaria de Educação Básica do MEC.

O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o Programa Nacional do


Livro do Ensino Médio (PNLEM) fazem parte desse pacote. O primeiro é o
maior programa de distribuição gratuita de livros do mundo. O segundo está
beneficiando, pela primeira vez, 1,3 milhão de alunos com livros didáticos de
Língua Portuguesa e Matemática.

PROFESSOR-LEITOR, ALUNOS-LEITORES

Projetos de leitura são prioridade em Pernambuco. Na capital, já foram


capacitados 130 professores para o cargo de professor de biblioteca.
"Queremos criar essa categoria, que se diferencia do bibliotecário. O
professor tem um olhar pedagógico dos ambientes de leitura da escola,
enquanto o outro profissional tem uma visão técnica. O objetivo é que os dois
trabalhem juntos para otimizar o espaço", explica Carmen Bezerra Bandeira,
gerente de bibliotecas e formação de leitores da prefeitura.

A formação de professores da rede municipal de educação de Olinda


acontece na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e em oficinas de
centros populares. "O professor que gosta de ler cria estratégias eficientes de
estímulo à leitura", explica Ester Calland de Sousa Rosa, professora do Centro
de Educação da UFPE. A especialista adverte: a leitura é ao mesmo tempo um
meio de buscar informações e de prazer. Mais do que instrumento para
ensinar os conteúdos das disciplinas curriculares, ela é competência
fundamental para inserir pais, professores e alunos na cultura letrada.

A professora Carla Barroca não tinha se dado conta disso até participar de
um curso oferecido pela secretaria municipal de Educação de Olinda no
Centro de Cultura Luiz Freire. O novo conhecimento mudou tanto o olhar e a
prática da professora em sala de aula que hoje ela é uma das formadoras do
centro onde estudou. "Eu me descobri leitora depois de participar de cursos
de formação. Hoje multiplico a paixão pelos livros com os colegas."

O primeiro passo na capacitação é derrubar o mito de que os professores


não lêem. "Eles lêem, sim, mas não uma literatura considerada ideal, como os
clássicos. Descobri que muitos professores participaram de rodas de leitura
de cordel no interior do estado, mas tinham preconceito com o gênero e não
valorizavam essa leitura", conta Ester, da UFPE. Por isso, os cursos priorizam a
sensibilização e a história individual de cada participante. Porteiros,
merendeiras e faxineiras não ficam de fora do programa. A leitura
compartilhada é outra estratégia utilizada na formação. Os professores
escolhem uma obra para ler em voz alta e discutir. Essa roda, como acontece
com os alunos, é um momento de desenvolvimento da oralidade e da
expressão. O debate de idéias pela literatura permite abordar outras
temáticas importantes da educação, como a questão racial e as diferenças
entre os gêneros na escola.

Faz parte do curso aprender a ler imagens e reconhecer a qualidade de uma


obra infanto-juvenil. Ao representar e caracterizar os principais personagens
das histórias lidas em grupo, os professores descobrem a riqueza dos
enredos, cenários e contextos das obras. "É um momento de aprender a olhar
o outro e reconhecer os traços psicológicos de personagens, assim como de
colegas e alunos. Trata-se de um importante exercício de leitura do mundo",
explica Carla.

Para descobrir os programas de incentivo à leitura à disposição de escolas e


comunidades, é só entrar em contato com a prefeitura de sua cidade. A
escola é o lugar ideal para iniciar rodas de leitura e discussões de literatura.
Uma boa idéia é dar o pontapé inicial de programas municipais em sua
comunidade escolar!

"O estímulo à leitura deve começar bem cedo, articulado com um sólido
projeto pedagógico"
Mara Silva Ramos, infoeducadora da Escola Municipal Manuel Fiel Filho, em
Diadema (SP)

"Os livros de histórias infantis são os melhores materiais de que


dispomos para ensinar a ler e escrever com prazer"
Maria Gonçalves de Oliveira, professora de Literatura da Escola Municipal
Professora Júlia Kubitschek de Oliveira, em Contagem (MG)

"Eu me descobri leitora depois de participar de cursos de formação. Hoje


multiplico a paixão pelos livros com os colegas"
Carla Barroca, formadora das oficinas de leitura do Centro de Cultura Luiz
Freire (CCLF). em Olinda (PE)

COMO MONTAR UM CANTINHO DE LEITURA

? Combine com os alunos e os pais o melhor lugar e os materiais necessários


para formar o cantinho.

? Para o espaço ficar atraente, pinte com as crianças uma pequena estante ou
caixotes de madeira para acomodar os livros. Peça às mães para fazer um
tapete e almofadas.
? A pequena biblioteca deve ter vários tipos de leitura: revistas, gibis, livros de
literatura e de informação.

? Deixe os alunos à vontade para escolher os livros e levá-los para casa aos
finais de semana. É uma maneira de socializar a leitura com os pais.

? Ensine a garotada a preservar o acervo, mas lembre-se de que o livro é para


pegar, brincar e partilhar, por isso deve estar à mão. Lugar de livro não é na
secretaria da escola!

? Para os bebês, selecione livros de materiais resistentes, como plástico e


tecido, e que tenham capa dura.

Quer saber mais?

CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE (CCFL), R. 27 de Janeiro, 181, 53020-020, Olinda, PE, tel. (81) 3301-5242

ESCOLA MUNICIPAL MANUEL FIEL FILHO, R. Índia, 15, 09940-060, Diadema, SP, tel. (11) 4071-4897

ESCOLA MUNICIPAL PROFESSORA JÚLIA KUBITSCHEK DE OLIVEIRA, R. Nascimento Teixeira, 62, 32235-300,
Contagem, MG, tel. (31) 3364-2697

Internet
No site www.mec.gov.br você encontra informações sobre os programas citados na reportagem.

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