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Entenda como

identificar e lidar
com o bullying
na escola
Introdução
A prática do bullying no contexto educacional causa inúmeras consequências
para todos, sejam os próprios alunos, os pais, a escola ou a comunidade.
Entretanto, apenas nos últimos anos o assunto tem ganhado mais espaço para
debates e destaque na mídia.
Mas como identificar os tipos bullying e quais medidas devem ser tomadas
para lidar com essa forma de violência no cotidiano escolar? Preparamos este
e-book para esclarecer essas e outras dúvidas sobre o assunto.
Boa leitura!
O que é o bullying?
O termo bullying tem origem no omissão por parte de educadores e
verbo inglês “to bully”, que significa demais profissionais pedagógicos.
intimidar ou ser agressivo com Existem diversas consequências
alguém. Com o tempo, a palavra foi dessa prática, entre elas a
incorporada ao nosso vocabulário e sensação de impotência frente
passou a designar o ato de agredir aos agressores — que podem
sistemática e intencionalmente, de abalar diferentes aspectos da
maneira verbal ou física, um indivíduo construção da personalidade
ou grupo vulnerável. e identidade de quem sofre
O bullying intensifica a evasão essa violência. Além disso, o
escolar, além de afetar as crianças estudante que sofre agressões
e os jovens da escola, que passam pode apresentar inúmeros
a utilizar inúmeros artifícios para impactos negativos tais como
evitar a condição a que são dificuldades de aprendizagem e
submetidos por seus colegas. O de concentração e insegurança.
quadro ainda piora quando há
Tipos de
bullying
Para identificar e combater de maneira eficaz essa prática na escola, é
importante entender quais são os diferentes tipos de bullying e de que forma
eles se manifestam.
1. Psicológico
O bullying psicológico diz respeito O bullying moral trata-se uma
a todas as formas de intimidação, subdivisão do psicológico que
humilhação, perseguição, rotulação, corresponde ao ato de caluniar ou
depreciação e chantagem de difamar alguém, frequentemente
um aluno por outro. Geralmente, associado a outras formas
tende a acontecer com alunos de violência. A integridade e
já naturalmente mais tímidos e a privacidade das vítimas é
introspectivos, que possuem muita desrespeitada, fazendo com
dificuldade em reagir à situação e que ela possa ter dificuldades
até em relatá-la a seus familiares. de encontrar aceitação da
Uma característica desse tipo de turma. Muitas vezes, ela não
agressão, diferentemente do físico, tem consciência dos boatos a
as marcas do bullying psicológico seu respeito e não tem como se
são imperceptíveis aos olhos, porém defender, sentindo apenas seus
podem ser até mais profundas. Isso efeitos danosos.
porque a vítima fica — dependendo
da gravidade da situação — presa
aos acontecimentos. COMO LIDAR
Esse tipo de bullying se manifesta
principalmente na forma de exclusão Para amenizar a ocorrência
de grupos de esportes, jogos e do bullying psicológico é
atividades sociais em geral. importante que a escola preste
atenção à dinâmica dos alunos,
tanto na sala de aula quanto
nos intervalos. Isso porque,
frequentemente, esse tipo
de prática está relacionada a
diferenças religiosas, políticas,
étnicas, culturais e até de gênero.
Um ato de conscientização e
combate a essa prática consiste
em dialogar com os estudantes e
expor que não são as diferenças
que geram o bullying, mas sim a
intolerância e a falta de empatia.
2. Físico COMO LIDAR

A ação da escola é decisiva para


O bullying físico talvez seja o mais coibir tais comportamentos.
fácil de se detectar no ambiente Os educadores devem ser
escolar, pois envolve agressões encorajados a intervir com
como socos, chutes e empurrões assertividade para resolver os
e costuma atrair um grande grupo conflitos e identificar seus atores.
de espectadores. Outro ponto importante é fazer
Muitas vezes, mesmo que as com que todos compreendam
vítimas desse tipo de violência se que perpetuar o bullying ou ser
sintam humilhadas demais para conivente com sua prática é
relatar seu sofrimento, as marcas crime passível de punição. Além
em suas roupas e hematomas em disso, é importante deixar claro
seu corpo demonstram a violência que até mesmo uma “brincadeira”
que sofreram. como, por exemplo, abaixar a
calça de outro aluno na frente
dos colegas, também é uma
forma de bullying.
3. Verbal COMO LIDAR

O bullying verbal pode acontecer, É importante que a escola


por exemplo, na forma de apelidos desenvolva um trabalho
que denigrem a imagem do aluno constante de conscientização
ou de piadas que divertem vários para desenraizar esse hábito,
colegas às custas de um, por especialmente entre os jovens.
exemplo. Ambos os casos pedem a Além disso, o corpo docente
ação imediata dos professores que precisa agir rapidamente antes
presenciam tal evento. que o problema se torne maior.
Algumas vezes, essas ofensas
É comum que a vítima dessas
são proferidas por um aluno,
práticas não consiga responder aos
mas reproduzidas por vários,
ataques, passando a internalizar as
que geralmente o fazem sem ter
ofensas e as calúnias, sentindo-se
noção das consequências que
envergonhadas por elas e criando
isso pode desencadear.
uma autoimagem distorcida.
COMO LIDAR
4. Sexual Esses tipos de ações são
O bullying sexual corresponde bastante graves e a escola
aos atos de abusar ou assediar precisa se posicionar o mais
alguém, chantagear com o objetivo rápido possível. É importante
de obter vantagens sexuais e chamar os envolvidos para uma
caluniar baseando-se em sua conversa com a direção e, até
orientação sexual ou gênero. Aqui mesmo, com um psicólogo. Além
entram designações difamatórias, disso, a escola deve informar a
relacionadas ao comportamento, família para que ela possa fazer
gostos e maneira de se vestir, por parte do processo e ajudar a
exemplo, tendo um apelo mais tomar medidas e precauções.
emocional.
5. Virtual
O bullying virtual ou cyberbullying se
configura como a violência veiculada
na web e está associado ao abuso COMO LIDAR
psicológico e moral de um estudante
por outros. Esse tipo de conduta Essas postagens, assim que
deixa evidências claras, como identificadas, devem ser
e-mails e mensagens hostis, e tem impressas e entregues às
um alcance muito maior do que as autoridades competentes, que
outras modalidades. têm os instrumentos próprios
Há também o compartilhamento — para identificar os responsáveis
via aplicativos como o WhatsApp e remediar suas ações. Aqui, é
ou redes sociais — de imagens e importantíssimo estabelecer
recados de cunho íntimo, com a uma rede de cooperação com as
intenção de envergonhar, intimar famílias dos alunos, pois assim
ou “se vingar” de alguém. Esses ambos podem unir forças e agir
tipos de mensagens e ameaças são de forma coerente para lidar com
disseminadas rapidamente e podem o problema.
ser veiculadas de forma anônima.
Por que o
cyberbullying
também é
assunto da
escola?
Muitos gestores escolares encaram
o bullying como um problema,
mas acabam não dando a mesma
importância para o cyberbullying.
Isso se deve ao fato de que esse tipo
de comportamento é perpetuado
além dos limites da instituição, ou
seja, fora de seus muros.
O cyberbullying afeta o
comportamento dos estudantes,
impedindo que a instituição cumpra
seu dever de educar e formar o
aluno. Uma escola responsável e
comprometida não pode se esquivar
de intervir nessas questões.
Nesse contexto, a instituição tem
o potencial de neutralizar esse tipo
de comportamento desrespeitoso
na internet falando abertamente
sobre ele e deixando claro que não
compactua com a prática. Por
meio de palestras e campanhas, é
possível conscientizar os estudantes
a respeito da seriedade das sequelas
de quem tem sua integridade
violada.
A dinâmica
entre a vítima
e o agressor Nesse caso, os agressores
Uma das razões para a costumam ser divididos em
manifestação do bullying é o fato dois grupos:
de certas crianças e jovens serem 1. os que sofrem abusos em
percebidos como “mais frágeis”. Os suas casas e reproduzem esse
agressores, por sua vez, na maioria comportamento, canalizando
das vezes possuem um sentimento sua raiva na escola;
de superioridade. Essa percepção
2. os que possuem distúrbios de
faz com que eles enxerguem uma
personalidade, pois se sentem
oportunidade para descontar suas
satisfeitos em maltratar suas
próprias angústias, inseguranças,
vítimas, alimentando-se de
raiva e revolta.
seu desespero e medo.
Em ambos os casos, é necessária O bullying na escola muitas vezes
a intervenção da escola, seja é o ponto de partida para o
na conscientização dos pais cyberbullying e resulta em exclusão
e elaboração de uma solução social. Por isso é tão complexo
conjunta, na proibição do ato e perceber e lidar com todos os
responsabilização dos envolvidos lados do problema, já que ele
ou no encaminhamento do caso raramente é pontual.
a psicólogos e pedagogos. É preciso pensar em estratégias
Dependendo da gravidade da para motivar essas pessoas a
situação, o Conselho Tutelar também denunciarem seus sofrimentos.
deve ser acionado. As vítimas precisam se sentir
A vítima, por sua vez, a cada ofensa confortáveis para expor suas
e a cada humilhação vai ficando aflições, pois a comunicação
mais isolada, mais machucada facilita a tomada de ação pelos
e encurralada, com uma enorme educadores e gestores.
dificuldade para expressar sua dor. A partir desse ponto, ambos —
Isso tudo é amplificado pelo fato de escola e família — devem assumir
que os casos de bullying costumam um posicionamento ativo para fazer
ter ramificações sociais e virtuais. frente a essas práticas e garantir
que os abusos cessem. Esses dois
atores são os grandes responsáveis
pela formação dos jovens e,
portanto, possuem a tarefa de
orientá-los e dar suporte.
Medidas para lidar com
o bullying na escola
As medidas que uma instituição alunos continuam sem saber de
de ensino pode tomar para lidar sua existência.
com esse fenômeno devem
Portanto, é importante que a
ocorrer em duas frentes:
escola previna a ocorrência
prevenção e intervenção.
dessas agressões, combatendo
Na prevenção, é muito importante a falta de informação sobre o
trabalhar a conscientização dos assunto. Nesse caso, uma atitude
alunos, chamando a atenção relevante para a prevenção do
para os traumas e perturbações bullying consiste na preocupação
que a prática causa, para da escola com o desenvolvimento
suas consequências e para a das competências
legislação que rege essa conduta. socioemocionais dos alunos. Isso
A Lei 13.185 de 2015 estabelece porque, quando há uma atenção
o Programa de Combate à que vai além do desenvolvimento
Intimidação Sistêmica, referindo- puramente cognitivo, os
se ao bullying em todo o país estudantes aprendem lições
e criminalizando sua prática. fundamentais para o seu sucesso,
Entretanto, muitos gestores, que envolvem a comunicação, o
educadores e até os próprios respeito ao outro e a empatia.
Em relação ao combate das práticas poder superar o sentimento de
já existentes, as instituições devem impotência frente aos abusos,
estar preparadas para oferecer denunciando-os.
cursos de capacitação às equipes Ambos, corpo estudantil e docente,
de profissionais pedagógicos para portanto, devem ser esclarecidos
que elas saibam como identificar o ao máximo em relação ao assunto.
conflito e agir para resolvê-lo. A consciência dos malefícios
Em qualquer uma das modalidades gerados pela prática gera empatia,
de bullying, é tarefa da escola que, por sua vez, gera tolerância,
encontrar maneiras de transformar o que transforma positivamente a
a percepção dos alunos em relação convivência social.
à prática. Os agressores precisam Confira a seguir algumas medidas e
ter a noção clara de que seus práticas que podem ser aplicadas na
atos estão errados e de que serão escola para lidar com tal impasse.
punidos, assim como as vítimas
precisam receber suporte para
1. Conscientização
Muitos professores e alunos não devem desempenhar um papel
sabem como definir o bullying, ativo em sua implementação e
como identificá-lo e nem como agir desenvolvimento.
ao testemunhar sua ocorrência. Para isso, esses eventos podem
Primeiro, é preciso romper essa ser preparados, por exemplo, com
barreira a respeito do tema e a ajuda e as ideias dos próprios
discuti-lo abertamente. estudantes. É importante que eles
Bullying deve deixar de ser tabu. se expressem sobre o assunto,
Nesse sentido, palestras e feiras que externem suas dúvidas e
podem ser realizadas para mostrar impressões e que se envolvam na
ao corpo estudantil e docente problematização da prática. Eles
como o ciclo de abuso acontece. devem expor o que entendem por
Entretanto, a fim de que a iniciativa bullying e como acreditam que ele
seja realmente eficaz, os alunos pode ser combatido.
2. Empatia e respeito
O que gera o bullying não é a entender que o desenvolvimento dos
percepção das diferenças, e sim alunos está atrelado à sua saúde
a incapacidade de lidar com elas, física e psicológica.
de respeitá-las. Nesse sentido, é Sendo assim, psicólogos e
necessário combater a falta de antropólogos podem ser chamados
empatia, que é a capacidade de se para falar sobre o tema e
colocar no lugar de outra pessoa. inclusive para criar programas
Os alunos, desde os mais novos, de conscientização. As crianças
precisam entender conceitos como serão estimuladas a abandonar
aceitação e respeito às diferenças. quaisquer práticas ofensivas quando
A escola precisa perceber que não é compreenderem o que é empatia e a
importante apenas passar adiante praticarem em seu dia a dia.
o conteúdo programático, mas
3. Instituir uma ouvidoria
É preciso que os estudantes tenham Além disso, essa prática mostra
um espaço seguro dentro da escola para as vítimas que é possível agir,
para conversar com orientadores, que a escola está oferecendo
expor suas dúvidas e relatar suporte e que a situação não
possíveis focos do problema. Uma precisa continuar. A impressão de
ouvidoria para casos de bullying impotência frente aos agressores
pode facilitar a identificação dos vai, aos poucos, deixando de existir.
incidentes e a compreensão de sua
gravidade.
4. Capacitar os colaboradores
É fundamental que todos os sem piorá-los. Os professores não
colaboradores de uma escola, ou costumam receber esse tipo de
seja, professores, coordenadores, treinamento em sua formação,
gestores e demais funcionários, por isso é tão importante que as
sejam devidamente capacitados próprias instituições se encarreguem
sobre como identificar a prática de capacitá-los.
do bullying.
Os professores — que são os que
geralmente testemunham casos de
bullying, por terem uma convivência
mais próxima com os alunos —
precisam sentir que têm suporte
da instituição para se posicionar
ativamente e atenuar o conflito.
Nesse caso, coachs e especialistas
podem ser consultados para debater
o assunto.
Entenda a importância
É preciso também pensar e definir da formação continuada
abordagens adequadas para e entenda como ela
neutralizar os focos de incidência, pode ser incorporada no
planejamento escolar.

ASSISTA AO BATE-PAPO
5. Estabelecer uma rede de
cooperação
Idealmente, uma rede de É uma boa ideia trazer depoimentos
cooperação deve ser estabelecida de adultos que foram vítimas da
com os pais, com os órgãos que prática e que, com ajuda profissional,
se dedicam a garantir os direitos conseguiram superar essa condição.
dos jovens e com os próprios O relato de pessoas que já viveram
estudantes. Feiras, palestras e o problema e que sobreviveram a ela
mesas de debates podem ser pode servir para inspirar os jovens que
promovidas, tanto internamente estão sofrendo em silêncio, dando
como de forma aberta a eles força para se manifestar e
à comunidade. esperança de resolução do problema.
Conclusão
Em linhas gerais, existem diversos Além disso, é importante trabalhar
tipos de bullying , mas todos ativamente para prevenir o
eles devem ser levados em problema - o que pode ser
consideração tanto pela escola feito, por exemplo, por meio do
quanto pelos alunos e pela desenvolvimento das competências
família. socioemocionais dos alunos. Dessa
Ações para neutralizar e diminuir forma, a escola demonstra uma
esse tipo de violência vão atenção por habilidades que o
além de identificar e punir os estudante deve desenvolver que
responsáveis. É preciso ter uma vão além da dimensão cognitiva e
ampla rede de suporte legal e que vão prepará-lo para lidar com
pedagógico para poder lidar com os desafios que enfrentarão ao
os casos de bullying . longo da vida.
Isso significa que prevenir e combater o bullying por meio do
desenvolvimento socioemocional devem ser preocupações constantes
de escolas comprometidas em formar seus alunos para o século XXI.
Conversamos sobre esse assunto com o professor Henrique Porto,
especialista em Fundamentos da Educação para o Pensar. Assista ao
vídeo para conferir o resultado dessa entrevista:

ASSISTA À
ENTREVISTA
A par é uma Plataforma Educacional parceira das escolas. Acreditamos
na rede, na força do vínculo e no seu poder transformador. Junto com
a gente, cada escola poderá individualizar sua proposta pedagógica
a partir do seu contexto e da sua história. A par é diferente porque
une conteúdo didático excepcional, suporte integral e tecnologia para
facilitar o processo e alcançar resultados.

Ser par é ser parte. É amparar. É compartilhar.

É saber que educar é nossa missão de todo dia. É nosso presente. E é


também o único jeito de mudar nosso futuro.

SAIBA MAIS SOBRE A PAR

www.somospar.com.br

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