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http://www.efdeportes.com/efd122/habilidades-motoras-especificas-do-basquetebol.htm
Introdução
Uma das questões mais pertinentes no estudo dos Jogos Desportivos Colectivos (JDC) está relacionada com a
tentativa de explicar e até mesmo prever, a “rota” do sucesso.
Neste capítulo, vários autores, Brandão (1995), Cruz (1996), Neta (1999) e Oliveira (2000), baseados nos seus
estudos, concluíram que parte deste sucesso poderá ser explicado pela qualidade da prestação técnica dos atletas.
Para desenvolver esta temática é importante salientar que, ao iniciar o ensino de uma modalidade desportiva, todo
o treinador que lidera o treino com jovens atletas vê-se confrontado com um conjunto de questões às quais é
necessário dar resposta: o domínio dos fundamentos técnicos da modalidade e a metodologia de ensino. Estas
questões estão intimamente relacionadas com a formação específica do treinador. Será que a uma melhor formação
técnica do treinador corresponde uma melhor prestação dos atletas?
Por outro lado, e de acordo com vários estudos que incidiram no tempo de prática proporcionado aos
alunos/atletas, Januário e Graça (1997) apontam a correcta administração e gestão do tempo de prática, como pontos
fundamentais para aumentar as oportunidades de aprendizagem, nomeadamente ao nível do tempo útil da sessão, do
tempo disponível para a prática motora e o tempo potencial de aprendizagem. Também Costa (1991) aponta uma
melhor qualidade na instrução (centrada no essencial), feedback pedagógico focado nos aspectos críticos e melhor
explicitação dos erros cometidos, melhor organização e o melhor aproveitamento do tempo da sessão, gerindo a aula
de forma a permitir um maior tempo de exercitação, como factores que distinguem os profissionais mais eficazes.
Sabendo que o aparecimento de atletas de alto nível está condicionado pela formação ministrada nos escalões mais
jovens e que estes necessitam de um treino especializado, estarão os treinadores a desempenhar o seu papel com
eficácia? Será que os treinadores procuram desenvolver procedimentos de treino adequados, respeitando o plano de
carreira do atleta ou, apenas procuram a auto-promoção com os sucessos imediatos?
O presente estudo aborda esta temática e tem por objectivo relacionar a prestação técnica de jovens jogadores de
basquetebol com a formação técnica específica dos respectivos treinadores.
Material e métodos
Caracterização da amostra
O presente estudo foi realizado com uma amostra de 41 indivíduos do sexo masculino, com idades compreendidas
entre os 13 e os 14 anos e que integravam as equipas de iniciados que disputavam o Campeonato Distrital da
Associação de Basquetebol de Leiria, na época de 2001/2002.
A amostra foi dividida em 2 grupos segundo o grau de formação dos respectivos treinadores, sendo o Grupo 1 (Gr.
1) constituído por 20 indivíduos cujos treinadores (2) possuem o curso de Nível 1 da FPB/ENB e, o Grupo 2 (Gr. 2),
constituído por 21 indivíduos cujos treinadores (também 2) estão habilitados com curso de Nível 2 da FPB/ENB.
O tempo de prática dos dois grupos analisados era substancialmente diferente, apresentando o Gr. 1, um maior
tempo de prática da modalidade em questão. Esta diferença revela-se estatisticamente significativa, como se pode
verificar na figura 1.
Foram analisadas duas habilidades motoras ofensivas: i) o lançamento e ii) o drible; e uma defensiva: o
deslizamento defensivo.
Instrumentarium
O instrumentarium utilizado no presente estudo foi a bateria de testes AAPHERD, de Kirkendall et al. (1987),
relativamente às habilidades específicas de lançamento, drible e deslizamento defensivo no basquetebol. Foi ainda
utilizado um cronómetro marca Rucanor modelo 696/696M para registo dos tempos nos testes do drible e
deslizamento defensivo e na contagem decrescente no teste do lançamento.
Procedimentos estatísticos
Para realizar a análise estatística foi utilizada a estatística descritiva (média ± desvio padrão) e o teste não
paramétrico de Mann-Whitney, com o nível de significância mantido em 5%.
O tratamento dos dados foi realizado no programa SPSS For Windows Student Version Release 9.0.1.
Lançamento
Da análise da figura 2, podemos constatar que o Gr.2 apresenta uma maior eficácia no lançamento ao cesto, uma
vez que apresenta valores superiores aos do Gr.1. Esta diferença, no entanto, não é estatisticamente significativa.
Gr. 1 Gr. 2 p
0.388
32,6 ± 6,18 34,8 ± 8,74
(n.s.)
Figura 2. Pontos concretizados no teste de lançamento (valores expressos em média ± desvio-padrão)
Drible
Quanto ao teste do drible, o Gr.2 apresenta melhores resultados face ao Gr.1, necessitando de menos tempo para
a realização da prova (figura 3). Neste teste, os tempos mais baixos revelam uma maior eficácia no domínio da
habilidade técnica específica. Esta diferença não se revela, contudo, estatisticamente significativa.
Deslizamento defensivo
De acordo com o objectivo deste teste, os sujeitos devem realizar a prova no menor tempo possível. O Gr.1 revela
um melhor desempenho, conforme pode ser verificado na figura 4. Apenas neste teste este grupo consegue suplantar
o Gr.2, embora os resultados não apresentem diferenças estatisticamente significativas.
Gr. 1 Gr. 2 p
0.368
27,4 ± 3,56 27,8 ± 2,60
(n.s.)
Figura 4. Tempo, em segundos, no teste de deslizamento defensivo (valores expressos em média ± desvio-padrão).
Discussão dos resultados
De acordo com Brandão (1995), Pinto (1995), Cruz (1996), Neta (1999), e Oliveira (2000), os melhores jogadores
são aqueles que apresentam melhores resultados nos testes efectuados ao nível das três técnicas ofensivas básicas:
lançamento, drible e passe.
Dos resultados obtidos no presente estudo, e quanto às habilidades técnicas ofensivas, verificamos que o Gr.2
apresenta sempre as melhores prestações, apesar de as diferenças encontradas não serem estatisticamente
significativas.
Torna-se, pois, imprescindível a análise do tempo de prática dos dois grupos que, segundo Neta (1999) é factor
fundamental para um melhor domínio das técnicas específicas do Basquetebol. Assim, seriam de esperar melhores
resultados por parte do Gr.1, o que não se verificou. É ao nível desta variável (tempo de prática) que podemos
diferenciar os dois grupos: Gr. 1 com 2,9 ± 1,73 anos enquanto que no Gr. 2 esses valores são de 1,4 ± 1,50 anos,
diferenças estas estatisticamente significativas.
Tendo em conta que ao menor tempo de prática (Gr.2) corresponde uma maior eficácia ao nível destas habilidades
ofensivas, e atendendo ao facto de este grupo ser treinado por treinadores de nível mais elevado (II) do que os do
Gr.1, somos levados a crer que a formação dos treinadores é fundamental para o domínio destes gestos técnicos por
parte do jogador. Os treinadores de Nível II parecem estar mais conscientes da importância das diversas variáveis do
processo de ensino/aprendizagem para a eficácia do mesmo (Costa, 1991 e Januário e Graça, 1997).
Relativamente à técnica defensiva avaliada, verificamos que o Gr.1 apresenta melhor prestação face ao Gr.2. Estes
resultados podem derivar do facto de os indivíduos do Gr. 2 estarem numa fase mais inicial da prática da modalidade.
Se analisarmos as propostas de Barreto (1980), Beja (1980), Araújo (1992), Adelino (1994), Graça e Oliveira
(1994) e Oliveira (2001) para o ensino do jogo de basquetebol, verificamos que este deve privilegiar os aspectos
ofensivos numa fase inicial de aprendizagem e só mais tarde trabalhar então os aspectos ligados à defesa (como é em
geral aprovado como metodologicamente correcto nos diversos desportos colectivos de invasão).
A superior formação técnica dos treinadores dos indivíduos do Gr.2 parece indicar que estes efectivamente se
preocupam em seguir estas metodologias de aprendizagem pelo que os resultados do Gr. 2, ao nível do deslizamento
defensivo, são inferiores aos do Gr. 1, visto possuírem menos tempo de prática e por isso uma maior necessidade de
aprender as habilidades técnicas ofensivas do jogo de basquetebol.
Estes treinadores parecem encontrar-se mais despertos para a aprendizagem dos fundamentos ofensivos, em
detrimento das vitórias nos jogos disputados. Por outro lado, os treinadores de Nível I, provavelmente centrados na
vitória, acabam por dar mais ênfase aos aspectos defensivos que, não dependendo tanto da técnica e mais da
vontade, acabam por limitar a acção ofensiva dos adversários.
Sendo o factor tempo um aspecto importante na aprendizagem, deveríamos esperar que o Gr.1 apresentasse
sempre os melhores valores, quer no que respeita aos aspectos ofensivos, quer defensivos, o que não se verificou
neste estudo, levando-nos a crer que a lógica do ensino do jogo dos treinadores deste grupo está invertida, centrando-
se na vitória e não na aprendizagem por parte dos jogadores.
Conclusões
Uma formação técnica mais avançada tem consequências práticas vantajosas ao nível da aquisição dos
fundamentos ofensivos, aspectos essenciais na aprendizagem da modalidade;
Na nossa opinião, parece-nos de todo vantajoso apostar em treinadores com um nível de formação mais avançado
na liderança de processos de treino nos escalões de formação. Desta forma, poder-se-ia poupar tempo na aquisição e
domínio dos fundamentos técnicos do jogo, pois como verificamos neste estudo, em metade do tempo os jogadores
treinados por treinadores de Nível II atingiram e superaram os jogadores treinados por treinadores de Nível I.
A variável tempo assume uma importância capital no ensino e consolidação dos fundamentos do jogo. Porém, ao
maior tempo de prática do Gr.1 não corresponde um melhor domínio das habilidades testadas, o que nos leva para os
domínios metodológicos, didácticos e pedagógicos. Será que o tempo útil de treino do Gr.1 é maximizado? Será que o
planeamento e metodologia do treino estão correctamente estruturados? Pensamos que a uma formação mais
avançada do treinador corresponde um maior domínio destas questões do processo de ensino/aprendizagem.
Assim sendo, não seria de esperar estas diferenças nos resultados, uma vez que o que é avaliado é apenas a
vertente técnica.
Sendo o basquetebol um jogo eminentemente táctico (Araújo, 1992 e Oliveira, 2000) e da análise aos conteúdos
dos diferentes níveis de habilitação para o ensino do jogo de basquetebol, constatamos que a táctica apenas é
abordada no curso de formação de treinadores de Nível II.
Sendo este um estudo transversal e limitado à observação de habilidades específicas fora do contexto de jogo, esta
temática da formação dos treinadores e sua repercussão no desenvolvimento do praticante, deverá ser alvo de
estudos a realizar no futuro, englobando outras variáveis não contempladas neste estudo.
Bibliografia
ADELINO, Jorge; As coisas simples do basquetebol, Março 1994, Associação Nacional de Treinadores de
Basquetebol
ARAÚJO, J. (1992); Preparação Técnica e Táctica. Edição Federação Portuguesa de Basquetebol e Associações
Regionais de Basquetebol.
BARRETO, Hermínio (1980); Metodologia do treino. in Da actividade lúdica à formação desportiva. Ed. Hermínio
Barreto et al. ISEF, Lisboa
BEJA, E. (1980); Defesa Individual – Uma exigência do processo de aprendizagem. in Da actividade lúdica à
formação desportiva. Ed. Hermínio Barreto et al. ISEF, Lisboa
COSTA, C. (1991) Caracterização da intervenção pedagógica de dois grupos de professores com níveis de
sucesso distintos no ensino de uma técnica desportiva. in As ciências do desporto e a prática desportiva. Actas
do II Congresso de Ed. Física dos PALOP, FCDEF-UP
CRUZ, J. (1996) Somatótipo e Habilidades Motoras específicas de Basquetebol: a sua Influência nas opções do
Treinador - a Realidade duma Equipa de Cadetes Masculinos. Estudo realizado no âmbito do Mestrado em
Ciências do Desporto na área de especialização de crianças e jovens, FCDEF-UP
Federação Portuguesa de Basquetebol; (2001) Formação 2001, Gabinete Técnico, Escola Nacional do
Basquetebol
GRAÇA, A.; OLIVEIRA, J. (1994); O ensino dos jogos desportivos. Centro de Estudos dos jogos Desportivos –
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física – Universidade do Porto
JANUÁRIO, C.; GRAÇA, A. (1997); A variável tempo no ensino em Educação Física: uma análise da situação em
Portugal. in Educação Física: Contexto e Inovação – Actas do V congresso de Ed. Física e Ciências do Desporto
dos PALOP – Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física – Universidade do Porto
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 13, Nº 122, Julio de 2008.
http://www.efdeportes.com/efd122/habilidades-motoras-especificas-do-basquetebol.htm