Spinuzzi, C. (2005) The Methodology of Participatory Design. Technical
Communication, 52, 163-174.
É difícil achar uma explicação metodológica para o design participativo,
tende-se a pensá-lo enquanto uma abordagem menos rigorosa e sistematizada.
Uma forma de entender o design pelo fazer, ou seja, enquanto os
caminhos utilizados pelas pessoas para realizar suas tarefas cotidianas e como estas tarefas podem ser moldadas para serem mais produtivas.
Spinuzzi descreve neste artigo o escopo do design participativo:
paradigma, metodologia, pesquisa em design e métodos, além de discutir algumas aplicações práticas.
Design participativo é pesquisa (p. 163).
Design participativo é baseado na abordagem da pesquisa ação
participativa, embora se valha de outros métodos para construir iterativamente os resultados pretendidos. A escolha por múltiplas abordagens assegura que o máximo de pontos de vista diversos seja incorporado no processo.
O design participativo começou na Escandinávia através da parceria
entre acadêmicos e sindicatos, interessados em estimular a democracia num ambiente de trabalho que começava a lidar com a incorporação da tecnologia e da automação nos processos produtivos. Tem evoluído à medida em que incorpora e reflete as mudanças sociopolíticas do contexto onde atua, mas, em suma, mantém sua intenção inicial de examinar de forma cooperativa os aspectos tácitos e às vezes invisíveis da atividade humana, de forma que contribuam para um entendimento mais amplo destas atividades.
Uma ponte entre os saberes tácitos e científicos.
O trabalho do design participativo não é feito "em nome" dos usuários, é
feito "com" os usuários.
O objeto de estudo do design participativo é o conhecimento tácito
desenvolvido e utilizado por aqueles que trabalham com tecnologias (p. 165)
Esta abordagem pragmática envolve tanto elicitar o conhecimento
tácito, quanto refletir criticamente sobre ele.
Designers que optam pelo design participativo costumam estar
orientados à "perspectiva da ferramenta", ou seja, em como materializar os resultados de sua intervenção em ações práticas de melhoria do trabalho realizado.
PARADIGMA: construtivista (conhecimento ocorre através da
interação de pessoas, práticas e artefatos)
METODOLOGIA: derivada da pesquisa ação participativa -
investigações intervencionistas e práticas, simultâneas a reflexões teóricas paralelas.
RESEARCH DESIGN: Primeiro estágio: exploração inicial do
trabalho. Segundo estágio: descobrir processos. Terceiro estágio: prototipagem. MÉTODOS: Primeiro estágio: métodos etnográficos (observações, entrevistas, visitas organizacionais e exame de artefatos), geralmente num dia comum de trabalho. Segundo estágio: jogos organizacionais, role-playing, storyboarging, workshops de futuro, modelos de fluxo de trabalho. Terceiro estágio: mockups, prototipagem cooperativa. Estágio final: compartilhamento dos resultados (e avaliação).
LIMITAÇÕES DA METODOLOGIA: não leva a mudanças radicais;
tende a focar no empoderamento funcional e não no democrático, especialmente quando atua no contexto de países em desenvolvimento.
LIMITAÇÕES DO MÉTODO: observações etnográficas realizadas
superficialmente;
LIMITAÇÕES PRÁTICAS: exige muito tempo, recursos e um
comprometimento institucional. Os trabalhadores detém grande parte do controle do processo visto que precisam estar continuamente participando criticamente dele;
tem uma orientação ético-política explícita: empoderar trabalhadores a
ter controle sobre o seu trabalho. [...] Sendo iterativo, permite que trabalhadores e pesquisadores examinem criticamente os impactos destes redesigns incrementais em progresso (p. 167).
the design artifact both encapsulates the
research results (as the material trace left by the design efforts) and elicits them (both during design sessions and afterwards, as it is introduced into the environment to be used as a stable work artifact) (p. 169)
O rigor, no design participativo, é visto como uma meta desejável, mas,
subordinada ao controle e às aspirações dos usuários.
Spunizzi afirma que o objeto de pesquisa em propostas de design
participativo tende a ser expresso em uma "declaração de propósito" ao invés de uma pergunta de pesquisa.
Avaliação do design participativo: Critério 01 - qualidade de vida
dos trabalhadores (trabalhadores refletem sobre suas próprias práticas, organização do trabalho e ferramentas); Critério 02 - desenvolvimento colaborativo (reforça a coleta e análise de dados sendo realizada em conjunto com os demais participantes);
Critério 03 - processo iterativo (requer uma série de
oportunidades de checagem contínua dos resultados com os participantes).
Blomberg, J., J. Giacomi, A. Mosher, and P. Swenton-Wall. 1993.
Ethnographic field methods and their relation to design. In Participatory design: Principles and practices, ed. D. Schuler and A. Namioka. Hillsdale, NJ: Lawrence Eribaum Associates, pp. 123- 156.