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Caderno de Direito Do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019 - 2 - COMPLETO
Caderno de Direito Do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019 - 2 - COMPLETO
Aula 01 - 06.08.2019 3
Contrato de trabalho 3
Elementos do contrato de trabalho 4
Teoria das nulidades 6
Aula 02 - 15.08.2019 7
Tipos de contrato de trabalho 9
Características dos contratos de tempo determinado e de tempo indeterminado 11
Aula 03 - 20.08.2019 13
Remuneração e salário 13
Conceito de salário - art. 457 16
Integração do salário 16
Aula 04 - 22.08.2019 19
Integração x Incorporação 19
Características do salário 23
Aula 05 - 27.08.2019 24
Fixação do salário 24
Pagamento de salário 25
Salário utilidade ou salário in natura 26
Aula 06 - 29.08.2019 30
Sistema de proteção do salário 30
Salário mínimo 31
Elementos do salário mínimo 32
Aula 07 - 10.09.2019 33
Fixação de pisos salariais 33
Proteção contra abusos do empregador 34
Aula 08 - 12.09.2019 40
Proteção contra discriminações 40
Questão de gênero 41
Questão do trabalho do menor 42
Indenização para discriminação 43
Equiparação salarial 43
Aula 09 - 17.09.2019 46
Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Jornada de trabalho 46
Fundamentos jurídicos 46
Contexto 46
Fundamentos teóricos 47
Aula 10 - 10.10.2019 50
Tempo a disposição 50
Tempo residual e tempo de tolerância 53
Tempo de recuperação especial 53
Tempo em itinere 54
Sobreaviso e prontidão 54
Sobreaviso 55
Prontidão 55
Exceções ao regime de duração da jornada 55
Aula 11 - 15.10.2019 57
Limites da duração da jornada 57
Limite máximo da duração da jornada 57
Compensação e redução 58
Limitação de intervalos 60
Prorrogação de jornada 60
Aula 12 - 17.10.2019 64
Turno de revezamento 64
Intervalo intrajornada 65
Intervalo interjornada 67
Repouso semanal remunerado ou descanso semanal remunerado 67
Aula 13 - 24.10.2019 69
Adicional noturno ou horário noturno 69
Férias anuais remuneradas 70
Aquisição (período aquisitivo) 71
Concessão (período concessivo) 72
Procedimentos concessivos 73
Parcelamento 74
Férias coletivas 74
Remuneração das férias 75
Férias e extinção do contrato 75
Aula 14 - 29.10.2019 77
Alteração do contrato de trabalho 77
Direito de mudar (ius variandi) 78
Espécies de alteração do contrato 79
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Aula 15 - 31.10.2019 84
Cessação do contrato de trabalho 84
Aula 01 - 06.08.2019
Contrato de trabalho
Até o capitalismo se afirmar como sistema social predominante, a produção das coisas que
existem para satisfazer necessidades se dava por relações de trabalho diferentes das que
existem no capitalismo (modo de produção escravista/modo de produção mercantil). Mas o
capitalismo, na sua fase madura, supõe uma outra maneira de trabalhar: o trabalho livre.
O trabalho livre é aquele no qual o trabalhador deixa de ser objeto de direito, uma coisa, e
passa a ser sujeito de direito. Não existe capitalismo sem direito do trabalho, sem forma
jurídica do contrato do trabalho, sem eu vestir essa relação social do trato mercantil com a
roupagem do contrato. Logo, o pressuposto da relação contratual trabalhista é a forma
jurídica contratual. A criação do sujeito de direito é imprescindível para isso. No caso do
contrato de trabalho é muito peculiar: o empregado é sujeito de direito livre e igual para
estabelecer uma relação contratual na qual ele não é mais igual, porque, afinal de contas, ele é
juridicamente subordinado ao poder de direção do empregador.
Para a visão liberal, essa relação contratual é dada a partir da vontade do indivíduo, que
deverá ser preservada ao máximo em seu conteúdo de liberdade/autonomia e o Estado deve
interferir o mínimo possível nessa relação, que é, em última análise, entre indivíduos.
Opõe-se ainda hoje e cada vez com menos força a esta ideia liberal clássica, de autonomia da
vontade individual, um conjunto de ideias corporativistas, que a gente, na falta de um
elemento comum a essas ideias, chama de corporativismos. O pensamento corporativista vai
considerar a existência de um interesse que não é do indivíduo, mas do grupo, ou, pelo
menos, interesses prevalecentes em determinada época, em determinado local. Os interesses
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
A legislação trabalhista faz uma síntese entre essas duas formas de ver o contrato, que é
a Teoria do Contrato Realidade. A vontade é imprescindível para que as partes
adentrem a relação contratual. Sem vontade, não tem contrato; contra a vontade, tem
vício de consentimento. A vontade é elemento iniciador da relação contratual; mas essa
vontade, que deve ser autônoma é limitada pelo interesse social/coletivo. E é este
interesse que marca o início efetivo do contrato. Então, é só com o fato do trabalho que
o contrato de trabalho começa.
O contrato de trabalho reflete a relação de emprego (art. 442, CLT): o contrato individual de
trabalho corresponde à relação de emprego. E o que é a relação de emprego? É um trabalho.
Que trabalho? Subordinado, habitual, oneroso e pessoal. Só tenho contrato de trabalho
quando eu tenho trabalho subordinado, habitual, oneroso e pessoal. O pré-contrato de
trabalho tem efeitos jurídicos civis, mas não trabalhistas. Os efeitos indenizatórios desse
pré-contrato terão como base o Direito Civil.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
social. Tem forma prevista em lei. No entanto, o art. 442 nos apresenta uma
relativização dessa forma como elemento essencial do negócio jurídico. Esse artigo
dirá que o contrato individual de trabalho é o ajuste que corresponde à relação de
emprego. Sendo formalizado pela assinatura da carteira de trabalho ou não, o
contrato existirá desde que correspondente à relação de emprego. Então, em
última análise, o que importa é que haja objetivamente SHOP. A reforma
trabalhista trouxe o art. 442-B: "a contratação do autônomo, cumpridas por este, todas
as formalidades legais, com ou sem exclusividade, de forma contínua ou não, afasta a
qualidade de empregado prevista no artigo 3º dessa consolidação". Ou seja, se você é
autônomo, você não é empregado, se você é empregado, você não é autônomo.
Óbvio: se ele trabalha com autonomia, ele não tem subordinação. Mas a lei
circunscreveu essa obviedade com uma maldadezinha: cumpridos os requisitos
formais. Contradição entre esse dispositivo e o princípio da primazia da realidade,
artigo 9º da CLT. Um dispositivo como esse do 442-B abre uma possibilidade
discursiva para fundamentar episódios de fraude. A lei está dizendo que autônomo
não é empregado, então eu vou dizer que meu empregado é autônomo, basta
formalizar: eu faço um contrato de prestação de serviço e pago só o valor da prestação
de serviço, não pago direitos trabalhistas nenhum. É a pejotização do trabalho, com
condições contratuais totalmente precarizadas.
Mas a reforma trouxe uma exceção a esta regra, em que eu não tenho mais esse limite
à autonomia de vontade. O §único do art. 444 evidencia a autonomia das partes, a
igualdade das partes, e, por isso, não tem mais a proteção do interesse social,
valendo aquilo que as partes convencionarem:
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Então se o cara recebe 12 mil reais como salário e tem diploma de nível superior, ele
tem autonomia plena de vontade e o que ele convencionar no contrato prevalecerá ao
que está estipulado em lei.
(i) Plano da existência: verifica se tem aqueles elementos gerais que configuram a
relação jurídica (SHOP). Então, se não tem SHOP, nem existe a relação jurídica de
emprego.
Os requisitos de validade do ato jurídico, na forma do artigo 104, CC/02, são: agente
capaz; objeto lícito, possível, determinado ou determinável; e forma prescrita ou não
defesa em lei. Sem eles, o ato jurídico/negócio jurídico é nulo.
O agente capaz é definido pelo art. 402 da CLT. A capacidade trabalhista é igual à
capacidade civil: de 16 à 18 anos, é relativamente incapaz; e de 18 anos em diante é
plenamente capaz. Menor de 16 anos não é possível trabalhar.
Exemplo: tem o SHOP, mas o garoto é menor de idade. Não tem relação de
emprego porque não tem relação jurídica; é nulo, porque o agente é incapaz.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Aula 02 - 15.08.2019
No direito civil, não existe contrato nulo que produz efeito jurídico. Quando um
ato jurídico é considerado nulo significa dizer que ele não produziu nenhum efeito no
mundo jurídico, logo eu vou declarar a nulidade na data da própria transação. E isso
recompõe a situação jurídica anterior à contratação nula.
Hipótese do agente incapaz: Severino tem 13 anos e tem que sustentar a casa, indo
trabalhar como cortador de cana. Um dia aparece um grupo móvel de fiscalização do
MPT e veem que ele é menor de idade, portanto não pode trabalhar (art 7o, inciso
XXXIII, CF/88). Cria-se um processo. Essa é uma relação com SHOP. O garoto é
subordinado, trabalha habitualmente, com pessoalidade e recebe uma remuneração, a
título oneroso. Esse contrato de trabalho é válido ou é nulo? É nulo, mas, mesmo se
reconhecendo que não há vínculo de emprego, que não há produção de efeito
contratual trabalhista, que o garoto jamais será tido como empregado, porque ele não
pode ser empregado conforme a CF, o direito trabalhista reconhecerá efeitos jurídicos
indenizatórios.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Súmula 363 TST - A contratação de servidor público, após a CF/88, sem prévia
aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º,
somente lhe conferindo direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação
ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário mínimo, e dos
valores referentes aos depósitos do FGTS.1
1
Lei 8.036, 1990 - Art. 19-A. É devido o depósito do FGTS na conta vinculada do trabalhador cujo contrato de
trabalho seja declarado nulo nas hipóteses previstas no art. 37, § 2o, da Constituição Federal, quando mantido o
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Exemplo: o cara trabalha num ponto de venda de drogas que é um bar. Ele
limpa o bar e vende bebida. Ele não vende drogas, então não tem atividade
ilícita.
direito ao salário. Parágrafo único. O saldo existente em conta vinculada, oriundo de contrato declarado nulo
até 28 de julho de 2001, nas condições do caput, que não tenha sido levantado até essa data, será liberado ao
trabalhador a partir do mês de agosto de 2002.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
principal não deve estabelecer o seu termo final. O contrato de trabalho é de trato
sucessivo, se renova automaticamente no tempo. Então, não prevendo um termo
final, nós temos ali atendido o princípio da continuidade da relação de emprego.
Efeito: Justamente porque gera expectativa de continuidade, não apresenta termo
final, quando esse contrato acaba, quando uma das partes toma a iniciativa de
romper o contrato, fica frustrada a expectativa de continuidade da outra parte. Daí a
exigência, na extinção de contrato por tempo indeterminado, do aviso prévio. O
aviso prévio deve ser dado justamente por aquele que quer romper para mitigar o
efeito da frustração da ruptura daquele que tinha expectativa de continuidade.
Possibilidades de alteração, interrupção e suspensão do contrato. Pelo curso do
tempo ser prolongado, esses contratos vão estar sujeitos a um maior número de
alterações contratuais, à possibilidade de interrupção, na qual o empregado não
trabalha (exemplo: o trabalhador doente, acidentado, mas continua recebendo). Caso
a doença se prolongue por muito tempo aí o empregado passa a receber um benefício
previdenciário, passa a ser uma suspensão do contrato. Nem o empregador paga e
nem o empregado trabalha, mas o contrato continua em vigor. A ruptura, de
acordo com a sua origem, pode ensejar o direito a indenização. Principalmente
na dispensa sem justa causa, imotivada, arbitrária. Leva à indenização por que aí
soma a frustração da expectativa com um exercício quase que abusivo do direito do
empregador de demitir, por que não apresenta nenhum tipo de motivo.
Art. 443.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
c) de contrato de experiência.
Art. 443.
Art. 445 - O contrato de trabalho por prazo determinado não poderá ser
estipulado por mais de 2 (dois) anos, observada a regra do art. 451.
O contrato de tempo determinado, qualquer que seja sua modalidade, tem que assumir a
forma escrita, tem que constar na carteira de trabalho que é um contrato de experiência.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Então se autoriza a prorrogação dos prazos dos contratos de tempo determinado, mas
determina que só pode haver uma única prorrogação e é preciso que ela ocorra dentro do
prazo máximo. Não se admite alcançar o prazo máximo e praticar esta única prorrogação.
Então se o prazo máximo é de 2 anos, eu posso fazer um contrato de 1 ano e prorrogar por
mais 1 ano, posso fazer um contrato de 6 meses e prorrogar por mais 1 ano e 6 meses. Em
qualquer hipótese, se violadas a possibilidade única de prorrogação ou o prazo máximo
do contrato, há o que se chama de conversão qualitativa: o contrato vai converter a sua
qualidade, que era de contrato por tempo determinado, automaticamente, para a
modalidade de tempo indeterminado desde o seu começo, com a admissão do
empregado.
Então, o cara fez o contrato de experiência, 90 dias, foi trabalhar no nonagésimo primeiro dia,
o empregador aceitou, ele trabalhou normalmente? Automaticamente esse contrato já não é
mais de experiência, mas um contrato de tempo indeterminado desde o seu começo, desde a
admissão.
A ideia aqui é evitar a sucessão de contratos. É muito comum que a empresa contrate o
empregado por tempo determinado e, com o término do prazo do contrato, acabou o prazo,
chame o mesmo empregado pra um novo empregado de tempo determinado. Essa sucessão
de contratos de tempo determinado vai ter uma limitação que tá lá no 452:
Art. 452 - Considera-se por prazo indeterminado todo contrato que suceder,
dentro de 6 (seis) meses, a outro contrato por prazo determinado (...)
Não pode ter um contato de tempo determinado sucedendo a outro contrato de tempo
determinado se esta contratação for feita antes do intervalo de 6 meses. Se contratar
antes de 6 meses, vai haver a unicidade dos contratos. Então, o cara trabalhou lá 1 ano,
acabou o contrato, e 3 meses depois do fim do 1° contrato, ele é contratado por outro de
tempo determinado e fica mais 1 ano. Então 1 ano, 3 meses, 1 ano. O que acontece aqui? A
lei considera que houve 1 contrato, de tempo indeterminado. Nesses 3 meses o contrato
estava em vigor, mas estava suspenso. O empregado não trabalhou, o patrão não pagou.
Mas o contrato é um só, para efeitos de previdência, fundo de garantia, todos os efeitos de
aposentadoria. E esses 3 meses contam também, como tempo de serviço.
Essa regra da unicidade é usada como parâmetro para qualquer 2 contratações, recontratação,
do mesmo empregado. Assim, ainda que fossem 2 contratos de tempo indeterminado, se
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Caderno elaborado por Amanda Nachard
recontratar antes dos 6 meses, também haverá unicidade, se considerado tudo como um
contrato só.
Art. 479 - Nos contratos que tenham termo estipulado, o empregador que,
sem justa causa, despedir o empregado será obrigado a pagar-lhe, a titulo de
indenização, e por metade, a remuneração a que teria direito até o termo do
contrato.
Então o empregado paga os prejuízos causados pela ruptura antecipada do contrato de tempo
determinado. A princípio, o empregador deveria comprovar que prejuízos são esses. Mas o
art. 480 também fala que o empregado pagará os prejuízos provados no limite do valor que o
empregador pagaria se fosse ele quem rompesse o contrato:
Então, há um teto que é a metade dos salários que o empregado receberia da data da saída até
a data prevista para a saída, o fim do contrato. Mas, se não provar o prejuízo, não há
indenização. De 50 mil empregados, saiu 1, não prejudicou em nada, não tem indenização.
Exceção aos arts. 479 e 480: quando se coloca uma cláusula assecuratória de rescisão
antecipada no contrato de tempo determinado. A doutrina coloca isso, mas essa cláusula não
está na lei.
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Caderno elaborado por Amanda Nachard
Aula 03 - 20.08.2019
Remuneração e salário
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Exemplo 1: o empregado lhes mostra os contracheques. No primeiro mês está lá: salário-base
R$ 500,00, prêmio R$ 500,00, total R$ 1.000,00. O salário dele é de 500, ele ganhou um
prêmio de 500, ele ganhou um total de 1.000 reais naquele mês. o prêmio, por definição, é
uma parcela que não deve ser paga de maneira cotidiana. O prêmio retribui, na verdade, uma
condição excepcional de desempenho do empregado., não tendo, por isso o requisito da
habitualidade. Só que você não conferiu os outros contracheques, e em todos eles acontece a
mesma coisa. Salário-base R$ 500,00, prêmio R$ 500,00. O único contracheque que está
diferente é o contracheque do 13º salário, em que veio o valor apenas de R$ 500,00, porque o
13º salário é pago com base no salário do empregado. Como o prêmio, a princípio, não é
salário, não compõe o cálculo do 13º salário. O cara receber prêmio todos os meses do ano,
tem alguma coisa errada ou não? Ele supera todas as metas, já não tem nem como fixar a
meta, porque o cara vai lá e supera ela. Então, tem uma fraude aí. O empregador chamou de
prêmio algo que foi pago com habitualidade, algo que foi pago diretamente para o empregado
e que foi pago pra prestacionar um serviço que, no final das contas, foi prestado como todo
dia. Então, se a parcela é paga habitualmente, diretamente pelo empregador e pra retribuir o
serviço tal qual ele é prestado cotidianamente, é salário. Não importa o nome que se dá à
parcela. Eu vou ter que provar a natureza jurídica de salário desse “prêmio” e vou pedir a
declaração constitutiva positiva de que esse prêmio é salário, para que ele seja computado
como base de cálculo do 13º.
Exemplo 2: Há uma parcela trabalhista chamada de adicional. Os adicionais são parcelas que
remuneram uma condição mais gravosa imposta ao empregado. Toda vez que eu submeto o
meu empregado a uma condição mais onerosa, mais gravosa do seu trabalho (e essas
condições são determinadas em lei), eu pago uma indenização chamada “adicional” para
compensar a submissão a essa condição. Portanto, o adicional, em tese, não tem natureza
salarial, mas indenizatória, porque ele é pago em uma circunstância específica: a submissão
do empregado a uma condição mais onerosa no seu trabalho. Por exemplo, adicional de
insalubridade, que é pago toda vez que há um ambiente com algum agente físico, químico ou
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Caderno elaborado por Amanda Nachard
biológico patogênicos ou patológicos, que causam doença. É uma condição de trabalho mais
gravosa que impõe o risco dele adquirir uma doença. A lei diz que toda vez que o empregado
for submetido a um ambiente insalubre, ele recebe adicional, que será proporcional a
exposição e ao tipo de agente patológico. Existem 3 níveis de adicional de insalubridade: o
mínimo, o médio e o máximo. Há técnicos de medicina do trabalho e de engenharia do
trabalho que vão determinar o grau de risco e vão definir o percentual do adicional de
insalubridade que o empregado recebe. A princípio, é uma condição excepcional, não se deve
submeter o empregado a essas circunstâncias de trabalho. A base de cálculo do adicional é
relativa ao salário do próprio empregado: 10, 20 ou 40% do salário do empregado. Mas 10%
do salário mínimo é 90 reais. Então, você submete o empregado ao risco de uma doença, e
paga 90 reais. Sai muito mais barato do que tratar do empregado, pagar perdas e danos, pagar
lucros cessantes, pagar algum tipo de comprometimento da capacidade de trabalho do
empregado. E no caso em que o empregado, desde a data da admissão até o último dia
trabalhado na empresa, sempre trabalhou num ambiente insalubre? A natureza indenizatória
do adicional se converte em natureza salarial, porque além de ter sido pago com
habitualidade e pelas mãos do empregador, aquelas condições de trabalho no ambiente
insalubre foi a condição normal, foi a condição cotidiana, foi a condição ordinária que ele
encontrou no seu contrato de trabalho. Então, o adicional retribuiu o serviço que ele prestava
todos os dias. Assim também para quem faz horas extras/horas noturnas com habitualidade: o
adicional de horas extras converte a sua natureza indenizatória em salarial. Então se for
constatado que o empregado trabalhou de forma reiterada, cotidiana, naquela circunstância
onerosa, ocorre a conversão da natureza jurídica desse adicional, mesmo que apenas num
determinado período.
Uma parcela terá natureza salarial quando preencher esses três requisitos: habitualidade,
pagamento direito pelo empregador e retribuição a serviço ordinariamente prestado.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Integração do salário
Integrar quer dizer considerar aquela parcela como um componente do complexo salarial. E
qual o efeito prático disso? Há uma série de direitos e encargos trabalhistas que são
calculados com base nesse quantum, nesse total do complexo salarial. Então, obviamente que
tirar desse complexo, vai diminuir o valor desses direitos e encargos.
O §1º vai trazer o salário como um complexo de parcelas, todas elas de natureza
salarial:
A importância fixa estipulada é o que a gente chama de salário básico ou base. Integram o
salário não só esse valor, mas também as gratificações legais e comissões, que servem de
exemplo de todas as outras parcelas que são dotadas de natureza salarial.
A Reforma alterou o parágrafo §1º do artigo 457, excluindo diversos exemplos. Antes se a
redação previa as “gratificações ajustadas”, que compreendiam as gratificações legais,
convencionais, aquelas que vêm na norma coletiva, e, eventualmente, as contratuais, que o
empregador coloca como uma política da empresa, no plano de cargos e salários da empresa.
Era um conceito mais amplo, agora foi reduzido apenas às gratificações legais. Isso dá
abertura para uma série de controvérsias. As gratificações que são estipuladas na norma
coletiva não integram mais o salário? Para superar esse obstáculo, tenho que fazer uma
interpretação sistemática e me socorrer do princípio da primazia da realidade, porque ele vai
me informar os critérios para classificar uma parcela com natureza salarial ou não.
O exemplo principal de gratificação legal é o 13° salário, que é também chamado pela lei de
gratificação natalina.
O §2º foi inserido com a Reforma e exclui diversas parcelas da integração do salário:
Antes da Reforma, estas parcelas eram parte da definição do que integra o salário. E agora a
lei está dizendo expressamente não integra o salário de maneira nenhuma. Obviamente que
nós poderíamos abrir mão de tudo isso se tivéssemos um salário base mais alto. Enfim, no
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Brasil o salário no Brasil que não tem grande valor relativo, e a Reforma ainda subtraiu deste
complexo as parcelas do §2º.
● Gratificação: obviamente que, na origem, não tinha natureza salarial, a questão é que
os empregadores vão travestindo parcelas salariais com nome daquilo que não é
salário. Então, a gratificação, que era uma mera liberalidade eventualmente paga pelo
empregador, passa a ser uma contraprestação habitual a título não-oneroso. Exemplo:
gratificação de confiança. O empregado que assume um cargo de confiança, ganha
uma gratificação. Em contrapartida, ele é excluído da duração da jornada. Uma
gratificação por tempo de serviço. Em geral, gratificações por tempo de serviço vêm
definidas ou em políticas de planos de salário da empresa ou em normas coletivas
fixadas pelo sindicato. Isso tudo, pela habitualidade, pelo pagamento direto do
empregador, e pela remuneração do que ordinariamente serviço prestado, tinha
natureza salarial.
● Diárias para viagem: tem natureza indenizatória. Então, o empregado trabalha para
determinado estabelecimento, vai cumprir uma tarefa tendo que viajar. Ele vai ter
gastos para cumprir as ordens atribuídas à ele. O custo com essas despesas deve ser
ressarcido. O empregado não pode assumir o risco da atividade econômica e tirar do
próprio salário valores para cumprir uma ordem contratual do seu empregador. Não é
salário, é para cobrir uma despesa que o empregado foi obrigado a ter. Novamente,
acontecia a fraude: o empregador colocava um valor considerável que não era
correspondente ao gasto com viagem. O cara viajou uma vez no mês e metade do
salário dele tá ali à título de diária para viagem. Tem mês que ele nem viaja e continua
ganhando diária para viagem. Então, o empregador está travestindo o salário de diária
para viagem, porque, a princípio, diária para viagem não tem natureza salarial. Antes
da Reforma, depois de uma série de decisões dos Tribunais, essa natureza
indenizatória passava a ter natureza salarial a partir do seguinte entendimento: se o
empregado recebe um valor considerável a título de diária para viagens, se, por
exemplo, esse valor ultrapassa 50% do valor do salário base do empregado, quer dizer
que ele viaja em uma frequência substancial e considerável. Ora, se ele viaja tanto
assim isso é um ônus, porque priva o empregado da casa dele, do espaço de
sociabilidade, da família. Dizia a lei, antes da reforma, que diária para viagem que
exceda em 50% do valor do salário, integra o salário; se não exceder em 50%, não
integra. Mas, é um critério que o legislador usou diante da reiteração de fraude. A
reforma agora exclui expressamente qualquer diária para viagem da natureza
salarial. Professor argumenta que deve-se aplicar o princípio da primazia da realidade
em vez de priorizar a interpretação literal desse dispositivo, segundo a qual a diária
para viagem jamais terá natureza salarial.
● Prêmio: se o prêmio é de fato prêmio, ele não incorpora, não integra, não tem
natureza salarial porque não é habitual. Na prática, os empregadores têm feito um
sistema remuneratório condicionado ao alcance de metas diferenciado, sendo o
alcance de qualquer meta é prêmio. Se eu definir formalmente a remuneração
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Aula 04 - 22.08.2019
O §1º define o salário como quantia fixa estipulada como contraprestação ao trabalho, ou
seja, o salário base. Mas o salário base pode ser pago sob também a forma variável ou de
forma mista.
Exemplo: eu te contrato para vender roupas e você vai ganhar 2% sobre a venda. Seu
salário dependerá da quantidade de vendas, ou seja, da realização dessa condição de
fato. Ainda, eu posso estipular que o seu salário é o de 5 mil reais (parte fixa) e mais
2% sobre as vendas (parte variável).
Mas se o salário é todo variável, isso não é uma transferência do risco da atividade
econômica (art. 2º, CLT) para o empregado? Sim, mas esse é um risco admitido porque
ele é parcial. Se você é vendedor de uma loja, em que num mês inteiro não vendeu nada,
você pode receber nada numa relação de emprego? Não. Vai receber pelo menos o salário
mínimo. Se na sua categoria de vendedores tiver um sindicato que firmar com os sindicatos
dos donos de loja uma convenção coletiva, estabelecendo o piso de 2 mil reais, o mínimo que
você tem que receber é o piso. Então não vai ser transferido todo o risco da atividade
econômica, apenas uma parte.
Salário condição: o exemplo típico do salário condição são os adicionais que o empregado
recebe quando é submetido a uma condição mais gravosa, mais onerosa de trabalho, que
possa inclusive representar algum tipo de dano a sua saúde. Trabalho noturno, trabalho
extraordinário, trabalho em ambiente insalubre, em ambiente perigoso. No entanto, se o
empregador retira aquela condição mais gravosa do contrato, ele não tem porque pagar
adicional mais. Daí porque se chama de salário condição: o empregado só recebe enquanto se
submeter àquela condição mais gravosa/onerosa. Se o empregador retirar do contrato aquela
condição, ele não recebe mais o adicional. O salário condição integra o salário pela
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
habitualidade, ele vai ter a sua natureza jurídica convertida de indenização para salário, mas
ele não incorpora.
Integração x Incorporação
Integrar não é a mesma coisa que incorporar: integrar é transitório, significa importar para a
base de cálculo referente àqueles meses onde há habitualidade, onde há natureza salarial. E
incorporar é para sempre, é direito adquirido.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Usando a regra do artigo 7º, inciso VI, da CF, que é a regra da irredutibilidade salarial.
Eu tenho que ver a título de que está sendo pago essa parcela.
Exemplo: o cara recebia uma parcela que o empregador chamava de prêmio. Todo mês o
empregador botava no contracheque do empregado que era salário base 500 e prêmio 500,
total 1000. O empregador o fazia porque, como o prêmio não é salário, não considerava esse
valor quando ele pagava 13º, quando pagava as férias, quando depositava o FGTS do
empregado. Ao invés de depositar ou pagar em cima de 1000, ele pagava em cima de 500
cada um desses direitos do empregado, havendo um desconto ilegal. O salário desse
empregado no caso de fato é 1000 reais. Em um momento o empregador para de pagar o
prêmio, e aí o salário que era mil volta a ser apenas 500. No caso, o valor só era chamado de
prêmio e na verdade não havia excepcionalidade, mas um serviço realizado normalmente,
cotidianamente. Se um dia o empregador diz que o salário do cara deixou de ser mil e passou
a ser 500, está havendo uma redução salarial. Então, se eu considero esse valor pago a título
de prêmio como salário base, além de integrar, este valor vai ser incorporado. Não só esse
empregado vai ter direito às diferenças de 13º, de férias ao longo do período todo, como
também depois daquela data que o empregador suprimiu esse prêmio, ele vai ter também
diferença de salário. Então, a princípio, parcelas salariais não condicionadas além de
integrarem o salário se incorporarão ao salário.
O sobressalário pode ser salário condição ou pode ser um outro salário que não é condição.
Por exemplo, a gratificação, que é um sobressalário mas não é um salário condição. Uma
gratificação por tempo de serviço vai incorporar. Então o quinquênio incorpora e o
empregador não pode depois de 10 anos suprimir o quinquênio. Ele não é salário base,
tampouco é salário condição. Ele está ali como salário sobressalário. A condição para iniciar
o pagamento é definitiva: 5 anos de trabalho. Depois que você completou os 5 anos, você vai
receber isso até o fim do contrato e o empregador não pode mais tirar. Então tem
gratificações que incorporam. Tem outras gratificações que não são incorporáveis, por
exemplo, a gratificação de confiança. Seu empregador reconheceu em você algumas
qualidades a partir das quais ele depositará a confiança dele em você, de modo que você vai
receber uma gratificação de confiança. Só que esse cargo depende de confiança, que é um
elemento subjetivo. Então se o empregador não confia mais, ele pode retirar o cargo de
confiança. O cargo de confiança é provisório e depende da confiança. Com a retirada do
cargo, o empregado deixa de receber a gratificação de confiança. Então, essa é uma
gratificação condicionada, é salário-condição.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
A jurisprudência, na súmula 372 do TST2, que dizia que o empregado de confiança que
permanecesse no cargo por 10 anos ou mais incorporaria a gratificação quando retirado do
cargo:
Mas quando eu vou saber se uma coisa incorpora ou não incorpora? Quanto à
integração, não restam dúvidas: se é salário, integra. Já quanto à incorporação, que é essa
definitividade, as parcelas vão ter a incorporação definidas em lei. A menos que se verifique
2
http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_351_400.html#SUM-372
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
na situação fática que o valor percebido é salário-base. No caso de salário-base, por efeito da
irredutibilidade salarial, acaba incorporando aquele valor.
Então a incorporação ou vai ser por lei, ou vai ser quando a gente olha para a realidade
e percebe que aquilo é salário-base independente do nome que está lá.
Características do salário
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
descontos são permitidos em lei: pensão alimentícia, faltas sem justificação, INSS,
contribuição previdenciária.
6) Caráter periódico. A obrigação do pagamento é de trato sucessivo. A frequência do
pagamento do salário obedece ao intervalo máximo de 1 mês (art. 459, CLT).
7) Caráter sinalagmático. O sinalagma é a reciprocidade obrigacional nos contratos.
Contrato sinalagmático é aquele no qual as obrigações das partes se pressupõem
reciprocamente. No contrato de trabalho, o empregador só paga se o empregado
trabalhar. Se o empregado não trabalhar, ou faltar, está ausente a contraprestatividade
e o empregador não tem que pagar. Também se o empregador não pagou o salário, o
empregado se exonera da obrigação de trabalhar. A obrigação salarial não sendo
cumprida faz surgir para o empregado a defesa, a exceção de inadimplemento.
8) Caráter “comutativo”. Comutatividade quer dizer equivalência de valores. Para
professor, esse é o elemento que fez surgir o argumento de que empregado e
empregador se posicionam em uma relação de troca como sujeitos livres e iguais,
porque cria a ideia de que o trabalho está sendo remunerado pelo o que ele vale. Então
o valor da prestação de serviços do empregado é igual ao valor do salário. E é isso que
impulsiona as pessoas acharem que estão fazendo um contrato. No entanto, professor
aceita que o empregador trocar aquele valor pela força de trabalho do empregado e
não pelo trabalho como um todo, que é tudo que o trabalho produz. Se o empresário
pagasse para o trabalhador tudo aquilo que ele produz, não ganharia nada. Ele tem que
pagar menos para ficar com alguma coisa. Então, na verdade, não há uma troca do
salário pelo trabalho como um todo, como tudo o que ele produz de valor. Há uma
troca do salário pela força de trabalho, e o resultado dela, o que ela produz de valor,
o empregador vai se apropriar. Logo, o salário não pode ser comutativo. Se fosse pago
o mesmo valor que foi gerado, não teria o empreendimento econômico.
Aula 05 - 27.08.2019
Fixação do salário
O salário fixo é quando há uma quantia estipulada, seja como salário-base, seja como
sobressalário.
O salário variável é aquele que vai depender de circunstâncias fáticas, que a cada mês vão
resultar num valor diferente. Então, tem mês que ele ganha mais, tem mês que ele ganha
menos. O salário variável geralmente é fixado não por unidade de tempo, mas por unidade de
obra, ele depende de uma condição de fato ou da implementação de algum requisito. Hoje,
essa é a principal forma de modulação da fixação do salário. É um mecanismo de
achatamento salarial. Eu reduzo o salário-base ao mínimo e acrescento valores a depender de
uma condição de fato, ao atingimento das metas, da produtividade do empregado. Esse
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Pagamento de salário
Periodicidade: o artigo 459 diz que a periodicidade máxima é mensal e não tem
periodicidade mínima, mas a gente costuma encontrar essa periodicidade mínima no salário
hora. Fora da relação de emprego, inclusive, em geral revela-se a melhor forma de ganhar
honorário.
Modo de pagamento: em moeda nacional, segundo a Lei 7.064 de 1982. Eu posso até
pactuar o trabalho em moeda estrangeira, mas na hora do pagamento tem que ser em moeda
nacional. A única exceção é quando o trabalho é efetuado no estrangeiro, aí o pagamento
pode ser realizado em moeda local. Além disso, o pagamento tem de ser a vista, para não
passar do prazo do vencimento. O empregado tem de ter condições, se receber por um
cheque, por exemplo, de transformar aquilo em dinheiro, em pecúnia, em moeda corrente no
dia do vencimento.
Salário complessivo é aquele que comprime que fixa determinada importância sem
especificar que parcelas se estão pagando. Ou seja, engloba em um único valor vários direitos
diferentes. Então eu tenho lá no contracheque um valor pago, mas eu não estou dizendo a
título de quê.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
complessivo é: não posso pagar sem dizer indistintamente o que é cada um dos valores e se
eu fizer isso, eu vou considerar tudo salário base.
CF, Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros
que visem à melhoria de sua condição social:
No entanto, na prática não houve a tipificação dessa conduta. E em virtude da reserva legal
estrita, que é típica das normas de direito penal, nós não podemos dizer que essa é uma norma
efetiva. Então, pouco ou nada se pode fazer com esse dispositivo constitucional.
O salário pode ser pago em pecúnia (depósito bancário, cheque, em espécie). Mas não precisa
o salário ser pago integralmente em dinheiro: uma parte poderá ser paga através de gêneros in
natura que atendam a alguma utilidade, por exemplo: o empregador fornece diretamente
alimentação ao trabalhador. Então o salário serve para atender a determinadas utilidades
e o empregador pode entregar o gênero in natura que atenda a essas finalidades para o
empregado.
O art. 458 fala que a prestação in natura que é paga em virtude do contrato ou do costume e
entregue habitualmente, será considerada salário.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Para que esse gênero in natura entregue pelo empregador seja considerado salário, ele tem
que obedecer os mesmos requisitos do salário em pecúnia: (i) pagamento direto pelo
empregador; (ii) habitualidade e (iii) retribuição de serviço tal como ele é prestado
ordinariamente.
Para saber se a prestação in natura tem esse caráter de retribuição pelo serviço, pode-se fazer
a seguinte pergunta: esta prestação in natura está sendo entregue como condição para
que o empregado possa trabalhar? é para o trabalho ou é pelo trabalho? É condição sine
qua non para o trabalho ou é uma retribuição pelo trabalho realizado? Se não for
condição e tiver habitualidade e for entregue diretamente pelo empregador por força do
contrato ou do costume, aquele gênero estará sendo entregue em retribuição pelo serviço
prestado. Se for condição para trabalhar, não tem natureza salarial, ali é um instrumento, é um
equipamento, é algo necessário para que eu possa trabalhar.
O empregador forneceu uma cesta básica, é para ou é pelo trabalho? Depende. Dá pro
empregador comer de qualquer forma que não seja pela comida fornecida pelo empregador?
Se dá, então não é condição sine qua non. Agora, se o cara está num lugar que não tem
condição de se alimentar a não ser pela alimentação servida pelo empregador, nesse caso é
instrumental.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
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mais o valor do imóvel. Quando ele depositar o fundo de garantia, ele não vai depositar com
base apenas nos 50 mil, é com 50 mil mais o valor de mercado do aluguel.
A outra maneira da empresa tirar essa natureza salarial sem aderir ao PAT é estabelecendo
uma cláusula contratual que preveja algum tipo de desconto. Então, é por isso que, muitas
vezes, você vai ter no contracheque um desconto pelo vale alimentação. Aqui, se entende que
a empresa está fazendo um contrato acessório de trabalho, em que a empresa está vendendo
comida. Para tirar a natureza salarial ela não dá o alimento, ela vende o alimento, mesmo que
por um valor módico.
3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6321.htm
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Caderno elaborado por Amanda Nachard
Caso o trabalhador não tenha necessidade de pegar transporte para ir ao trabalho, ele pode
deixar de ser descontado. Basta que ele declare que não há a necessidade de uso de transporte
para locomoção.
VI – previdência privada;
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7418compilado.htm
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Caderno elaborado por Amanda Nachard
VII – (VETADO)
Esse parágrafo foi alterado para que qualquer transporte fornecido pelo empregador, inclusive
a disponibilização do carro, não tenha natureza salarial.
Aula 06 - 29.08.2019
No caso da habitação. Assim como na alimentação, se você cobra, mesmo que uma quantia
módica, subtrai a natureza salarial daquela utilidade. E aqui não precisaria nem cobrar: o
mero contrato de comodato já retira natureza salarial da prestação de habitação. Se entende
que é um contrato acessório ao contrato de trabalho, seja o contrato de aluguel, seja o de
comodato. A lei do inquilinato, Lei 8245/91, menciona um prazo específico para
desocupação do imóvel em virtude do término da relação de emprego, deixando clara a
possibilidade desse contrato de aluguel estar sendo estabelecido em paralelo à relação de
emprego. Então é muito configurar condição para o exercício da atividade, só realmente no
caso daquelas empresas situadas em local de difícil acesso, as pessoas vão estar morando no
alojamento da empresa. No espaço urbano isso é mais difícil de acontecer. O exemplo
frequente é o zelador, que trabalha no condomínio e tem a necessidade de permanecer no
condomínio.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
conta de luz, incidirão imediatamente os juros de mora e uma multa de mora, e depois de um
certo tempo, de um mês se você não pagar, você vai ter o fornecimento de energia cortada, e
depois ainda pode ter seu nome inserido no cadastro de inadimplentes. Agora, a principal
obrigação do trabalhador, que é pagar salário, não vê na legislação trabalhista nenhum efeito
se não for cumprida. Não é qualquer obrigação acessória, um elemento acidental do contrato,
é a principal obrigação do empregador. Se o empregado deixa de trabalhar, tem consequência:
ele vai ser mandado embora por justa causa. Mas se o empregador deixa de pagar o salário,
não tem nem multa. Se o empregador não pagar o salário, ele continua devendo só o salário.
Se ele pagar um ano depois, paga só o salário devido. E se passarem cinco anos? Prescreve e
ele não tem que pagar mais nada. E sendo o salário parcela alimentar, isso tem um impacto
gigantesco na vida do empregado. Então, de fato, não tem proteção contra abuso do
empregador.
Quanto ao valor: a regra principal que orienta o pagamento dos salários é a irredutibilidade,
que está inserta no art. 7º, VI, CF/88.
Salário mínimo
O sistema normativo prevê também uma série de mecanismos para proteção de um patamar
mínimo de salário. É claro que isso favorece o trabalhador, estabelecer um parâmetro mínimo
para pagamento de salário freia a pressão que o mercado exerceria sobre o valor do salário,
considerando o exército de reserva. Também funciona com política anticíclica, que importa
na prevenção para não formação de grandes concentrações de capital. O estabelecimento
desse patamar mínimo é o resultado de políticas econômicas adotadas pelos países
capitalistas dentro da perspectiva de reforma do sistema, com intervenção do Estado na
concorrência, permitindo que as empresas distribuam os ganhos de produtividade sobre a
forma de salários. É o chamado estado de bem-estar social.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Aula 07 - 10.09.2019
De acordo com a Constituição Federal, piso salarial é um valor mínimo acima do salário
mínimo, estipulado para determinada categoria profissional que é identificada de
acordo com a complexidade ou a especificidade do trabalho:
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Exemplo: No caso do Rio de Janeiro, existe uma única lei que trata de várias
categorias profissionais, dentre elas o empregado doméstico. Então, empregado
doméstico tem piso salarial em lei estadual. Se é no estado do RJ, vigora este piso.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
O artigo 459, §1º, da CLT estabelece critério temporal para pagamento do salário: até o 5º dia
útil subsequente ao mês trabalhado:
Art. 459. § 1º Quando o pagamento houver sido estipulado por mês, deverá
ser efetuado, o mais tardar, até o quinto dia útil do mês subsequente ao
vencido.
Art. 465. O pagamento dos salários será efetuado em dia útil e no local do
trabalho, dentro do horário do serviço ou imediatamente após o encerramento
deste, salvo quando efetuado por depósito em conta bancária, observado o
disposto no artigo anterior.
O tempo, lugar e modo dão uma determinabilidade muito grande para a obrigação salarial. A
lei fixa todos os elementos necessários para o cumprimento da obrigação, que é de dar coisa
certa (dinheiro). No entanto, a lei não estabelece nenhum tipo de consequência contra o
inadimplemento. Muitos empregadores atrasam muitos meses de salário, porque não tem
consequência jurídica nenhuma prevista na lei e não terá, muito menos, consequência prevista
no contrato.
A questão indenizatória passa pela demonstração não só da culpa, como do próprio dano
moral, como se não fosse presumido que agride diretamente a dignidade do trabalhador ficar
sem salário, sendo o salário a sua fonte de subsistência. O advogado vai ter que construir
dizendo que esse inadimplemento consiste num ato ilícito ou equiparado, num exercício
abusivo do direito que causa dano. Mas isso vai levar a discussão da culpa e aí vai ter que
prova que foi uma prática deliberada, por exemplo, foi uma política de gestão da empresa, de
governança da empresa. Na uniformização de jurisprudência no RJ se definiu que essa é uma
presunção in re ipsa, ou seja, pelo próprio fato do inadimplemento decorre o dano moral,
sobretudo se esse inadimplemento é contumaz, vários meses sem receber. Essa prática
abusiva deveria ser duramente reprimida porquanto se trate da obrigação principal do
empregador, elemento estruturante da relação contratual: trabalhar de um lado e pagar salário
do outro. Então, o inadimplemento dessa obrigação afeta a estrutura da própria relação
jurídica. Seria o caso de romper a relação por conta de não se reunirem ali as condições
mínimas de fidúcia que são necessárias para uma relação contratual qualquer (rescisão
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
indireta, artigo 483-D). Mas isso não é o bastante e nem é a solução. O empregado pode se
ver desvinculado daquela relação jurídica, mas isso não resolve o problema dele: ele precisa
da reparação para suprir esse dano de caráter alimentar. O sistema todo vai ser silente e vai
ainda criar obstáculos, como querer que prove dano moral pela falta de salário contumaz.
Então, se não pagar salário depois do 5º dia útil subsequente ou não pagar 1 mês depois, não
acarreta nenhum tipo de consequência. O quantum debeatur é o mesmo valor do salário, não
tem mora, não tem multa. O valor devido é exatamente o mesmo do salário. E se passarem 5
anos, não deve mais nada, porque prescreve.
O pagamento dos salários até o 5º dia útil do mês subseqüente ao vencido não
está sujeito à correção monetária. Se essa data limite for ultrapassada, incidirá
o índice da correção monetária do mês subseqüente ao da prestação dos
serviços, a partir do dia 1º. (ex-OJ nº 124 da SBDI-1 - inserida em
20.04.1998)
Essa é uma imposição que obviamente só vai ter efeito prático para o empregado que
processar o patrão na justiça (dificilmente o cara que atrasa vai pagar o salário corrigido). E
aqui não se está falando aqui de consectário de mora, mas apenas de preservação de valor. Se
não houver correção monetária o empregador vai receber menos do que o salário. Isso não é
cláusula penal nem sanção, é preservação do poder aquisitivo daquele quantum salarial.
5
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0368.htm
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Esse decreto-lei é tido como revogado ou pelo menos caiu em desuso, mas estabelecia como
consequência um grupo de vedações/proibições e algumas penas a serem aplicadas para a
empresa.
Então ficam vedadas (i) quaisquer tipos de retribuição, retirada, de diretores, sócios, gerentes
ou titulares; (ii) quaisquer tipos de lucros ou dividendos, de sócios, acionistas ou dirigentes;
e (iii) quaisquer tipos de benefícios fiscal, tributário ou financeiro. Benefício fiscal e
tributário diz respeito à ordem pública, mas financeiro refere-se à crédito em banco privado
também.
Os dirigentes de empresa responsável por infração estavam sujeitos à pena de detenção mais
multa de 10 a 50% do débito salarial.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Professor não sabe se isso foi aplicado em algum momento, mas acredita ser o mecanismo
correto para pressionar o adimplemento de obrigações de natureza salarial. A legislação é
feita de tal forma que todas as outras obrigações têm instrumentos instrumento de pressão
para a satisfação/adimplemento das outras obrigações que são muito mais eficientes do que
os mecanismos para a obrigação trabalhista. Se existe um efeito sancionador maior em outras
obrigações do que nas trabalhistas, as obrigações trabalhistas vão ser colocadas em segundo
plano.
Esse enunciado estabeleceu o "dumping social". Aqui não se fala de motivo, de culpa. As
agressões aos direitos trabalhistas geram um dano à sociedade pois, com tal prática,
desconsidera-se, propositalmente, a estrutura do Estado social e do próprio modelo capitalista
com a obtenção de vantagens indevidas perante à concorrência. O empregador que viola desta
forma o direito do trabalho está concorrendo em condições desleais com os outros
empregadores que são adimplentes ao direito do trabalho.
Crítica do professor: o dumping social não tem nada a ver com o econômico, mas com a
dignidade do trabalhador. Quando eu violo o direito do trabalho, eu estou violando não só o
direito daquele trabalhador, mas do conjunto de trabalhadores, porque estes direitos são
direitos fundamentais gozados por toda a sociedade. Como isso não é expresso no enunciado,
é incorreto chamar de dumping social. Poderia chamar de dumping econômico mesmo.
Essa prática vai suscitar uma indenização que não vai para o titular do direito violado. Então
a empresa, além de pagar o que tinha que pagar para o trabalhador; deve pagar para a
sociedade. É o dano moral coletivo.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Quanto à intangibilidade:
A intangibilidade é a dimensão intocável do salário, visto que ele tem natureza alimentar.
Então as obrigações do empregador não poderão serem satisfeitas com o salário do
empregado. O empregador tampouco poderá retirar do salário do empregado qualquer valor,
a não ser nas hipóteses previstas em lei.
Os descontos salariais estão previstos apenas no artigo 462/CLT, que estabelece dois grupos
de possibilidade de descontos legalmente permitidos:
O primeiro grupo de descontos permitidos são as hipóteses em que a própria lei autoriza o
desconto do salário do empregado. Há uma série de leis nesse sentido:
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Aula 08 - 12.09.2019
Isonomia salarial: para todo trabalho igual, deve ser pago salário igual. Esse princípio está
nos documentos da OIT e no art. 7º, inciso XXX da CF:
A lei 9.029/956 é uma lei geral anti-discriminatória que vai tentar açambarcar várias desses
fatores que historicamente são desqualificados pela sociedade culminando em um tratamento
salarial ou trabalhista distinto.
6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9029.htm
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Questão de gênero
No caso do trabalho da mulher, uma série de leis vêm sendo editadas alterando dispositivos
da CLT, como, por exemplo, os artigos 373-A, 392-A, 374, 375, 378. O inciso XX do artigo
7º da CF também dispõe sobre:
O art. 373 traz algumas vedações, dentre elas a proibição de qualquer tipo de exame de
clínico que de alguma maneira defina a condição de gravidez.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Aplica-se também a casos de doença que não tenha nenhum tipo de relação com a execução
do contrato de trabalho. A pessoa pode ter a doença e executar o contrato de trabalho
normalmente.
Há uma divisão sexual do trabalho. O modo de produção dá o seu jeito de transformar tudo
para o seu próprio favor. Então a luta pelo acesso da mulher ao mercado de trabalho, por
exemplo, é muito frequentemente estimulada pelo sistema. A sociedade capitalista, ainda que
não precise da mão de obra, precisa de da oferta da mão de obra para abaixar o preço dessa
mão de obra. Quanto mais disponibilidade de mão de obra, mais baixo é o preço de quem está
trabalhando. A entrada da mulher no mercado de trabalho aumenta a oferta de mão de obra.
Então para o sistema interessa que a mulher se disponibilize como força de trabalho. E depois
também para consumir. Mas isso não gera uma ruptura cultural, então a mulher tem que
praticar a dupla jornada, pois não saiu do papel reservado pelo patriarcado para ela. Então ela
trabalha porque interessa ao mercado, ao capitalismo, mas ela continua tendo que cumprir as
funções domésticas.
A CLT traz algumas regras com relação ao trabalho do menor. A primeira delas é a vedação
do absolutamente incapaz (menor de 16 anos), que não pode trabalhar, salvo na condição de
aprendiz. Essa regra está no inciso XXXIII, artigo 7o. da Constituição:
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Se não tiver os requisitos elencados no art. 428, CLT, o contrato de aprendizagem é nulo.
Questão: essa multa engloba danos morais e materiais? Cada juiz interpreta de uma forma,
alguns vão achar que não, outros vão dizer que o critério legal deve ser seguido e que esse
valor engloba tudo.
Equiparação salarial
Art. 461. Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado
ao mesmo empregador, no mesmo estabelecimento empresarial,
corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou
idade.
Requisitos:
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Art. 461. § 1o Trabalho de igual valor, para os fins deste Capítulo, será o
que for feito com igual produtividade e com a mesma perfeição técnica,
entre pessoas cuja diferença de tempo de serviço para o mesmo empregador
não seja superior a quatro anos e a diferença de tempo na função não seja
superior a dois anos.
São empresas diferentes, pessoas jurídicas diferentes, mas que têm algum vínculo de
coordenação ou hierarquia com subordinação, têm algum tipo de envolvimento
econômico. Então trabalhadores de pessoas jurídicas diferentes podem ser
consideradas do mesmo empregador e podem ser equiparados em termos salariais.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
A Reforma flexibilizou isso: agora qualquer plano, mesmo sem estar registrado e
sem ter critérios de promoção de antiguidade e merecimento. Portanto, qualquer
critério interno é o suficiente para não ter equiparação salarial.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
8) Contemporaneidade:
Aula 09 - 17.09.2019
Jornada de trabalho
Fundamentos jurídicos
Contexto
No começo da Revolução Industrial, não era pouco comum jornadas de 17, 18 horas. Esse
processo de industrialização vai se generalizando na Europa Ocidental com esse patamar de
exploração do tempo da vida do trabalhador. Então, nessas condições de exploração a
vida do trabalhador era muito precária. No começo do século XIX a expectativa de vida num
país como a França era de 36 anos.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Essa lei não é uma lei generalizada pra todos os trabalhadores, mas apenas para um
determinado grupo. Assim, ao longo de todo o século XIX vão surgindo leis que vão atingir
grupos de trabalhadores diferentes. Os movimentos foram se articulando, no final do século
XIX, para uma jornada de 10 ou de 8h no dia.
Em 1914 ocorre a 1ª Guerra Mundial. O instrumento que põe fim a guerra, que é o Tratado de
Versalhes, conclui que a paz entre os países capitalistas estava indissociavelmente ligada a
uma proposta de regulamentação do próprio capitalismo. Então, o Tratado de Versalhes cria
uma organização própria para que se estabeleçam condições de trabalho minimamente
uniformes, que é a Organização Internacional do Trabalho. Mas esta primeira tentativa de
regulamentação não impede um movimento monopolista e acaba se desdobrando na 2ª
Guerra Mundial, com novas potências emergentes no capitalismo querendo se afirmar. No
fim da 2ª Guerra temos a criação da ONU, que absorve a OIT como um organismo coirmão
internacional. A OIT parte da premissa de que o trabalho não é uma mercadoria, ou seja, o
trabalhador não pode ser considerado uma mercadoria qualquer. Ainda que ele esteja inserido
nas sociedades capitalistas como sujeito de uma relação de troca mercantil, onde ele entrega
sua força de trabalho em troca de dinheiro, essa mercadoria não pode ser uma mercadoria
como outra qualquer, devendo ser revestida de algum nível de proteção que dignifique a
pessoa do trabalhador. Então, o Direito do Trabalho tem a finalidade de revestir essa relação
de troca mercantil como uma relação diferenciada, em que há o interesse público/coletivo.
Então, ao mesmo tempo em que movimento operário pressionou o Estado pra limitar a
duração, porque é interesse de classe, as classes do capital entenderam que a limitação
proposta era suficiente para o desenvolvimento do sistema produtivo.
Fundamentos teóricos
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
A tutela desse direito suporia um tratamento completamente diferenciado do que é dado pelos
tribunais e pela dogmática. Ora, se o cerne do objeto jurídico “limitação da duração do
trabalho” é a preservação da vida humana, quando este direito é violado, eu estou violando,
no primeiro momento, ao titular do direito, mas pela qualidade do direito, ao mesmo tempo,
há uma agressão a toda humanidade. É esse o sentido do direito fundamental: quando eu
violo o direito fundamental de uma pessoa, eu violo o direito da coletividade inteira ao
mesmo tempo, imediatamente. A contrario sensu, não se pode autorizar que numa sociedade
qualquer, um sujeito vulnere a vida de outro sujeito, porque isso é elementar para a própria
agregação social. Então, a tutela judicial de qualquer violação do direito fundamental enseja a
tutela coletiva, a defesa do interesse difuso da sociedade que é violado toda vez que um
direito fundamental é violado. Na prática não tem, o juiz acha que questão de violação de
jornada é uma questão individual.
Assim como não tem sanção para o inadimplemento do salário, não tem sanção do
inadimplemento das horas extras autorizadas. Então, não existe sanção para violação
dos dois pilares do contrato de trabalho.
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Caderno elaborado por Amanda Nachard
mesmo. Não precisa do supervisor apitando no meu ouvido, você mesmo faz esse
autocontrole. O sistema cria essa grade moral que reveste o sistema produtivo. A falta de
sociabilidade dentro ou fora do trabalho vai afetar o próprio aspecto biológico, com uma
proliferação no número de patologias psicológicas.
A produtividade é uma parábola que atinge o ápice e vai caindo um pouco. A tende a cair no
tempo: quando o trabalhador está cansado, já não produz com tanta concentração, eficiência,
rapidez. O objetivo do intervalo entre a jornada é que ele recupere a energia e a capacidade
dele. Então, necessariamente no fim da jornada você já tem uma queda de produtividade, e
isso já é um prejuízo.
Além desse prejuízo inerente à queda da produtividade, existem outros prejuízos causados
sobretudo pelos acidentes, danos, absenteísmo (afastamento do trabalhador, necessidade de
substituição, de treinamento de um novo trabalhador). Na lógica jurídica, o terceiro
fundamento para limitar a duração é prevenir prejuízos.
Exemplo: o cara produzia 10 peças no meio do dia, quando estava no pico, agora, na 9ª hora
de trabalho, já depois da jornada, ele só consegue produzir 5. Na 10ª hora o cara só consegue
produzir 2. Na 11ª hora ele consegue 0,5. Mas ele continua produzindo. Se eu limitasse a
duração até a 8ª hora não teria conseguido as 5 peças da 9ª hora, as 2 da 10ª hora e etc. Se o
empregador for pego, vai ter que pagar o adicional de hora extra. Então ele vai fazer o cálculo
de quanto vale o adicional de hora extra e quanto é o valor do que o trabalhador produz
depois do limite da duração, para ver o que é mais vantajoso. No limite, se a hora extra for
mais cara, o empregador vai calcular os custos de uma ação judicial. O risco trabalhista ele é
diluído, é protraído no tempo: nem todo mundo vai ajuizar a ação. Entrando com a ação não
vão receber na hora, só daqui a 5/10 anos. Vale a pena? Se eu provisionasse uma parte desse
capital só para demanda trabalhista, ainda assim eu lucraria? Sim. Fora prescrição, que traz a
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
segurança jurídica de que eu vou continuar desrespeitando o direito e nada vai acontecer
comigo.
Aula 10 - 10.10.2019
Jornada de trabalho
O direito do trabalho vai limitar a duração do trabalho: dentro de uma jornada, tem período
de descanso, os intervalos, que são uma forma de limitar a duração do trabalho; a duração
jornada é limitada no tempo, com a carga horária, não só no dia, mas nas semanas também;
vai ter o repouso semanal remunerado, que é impedimento ou obstáculo de trabalho em
determinados dias, para descansar; vai ter um período de afastamento do contrato para
recuperar as energias e a capacidade de trabalho, anualmente, que são as férias.
Tempo a disposição
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
como capital inicial numa atividade produtiva, comprando meios de produção e força de
trabalho, esses meios de produção e força de trabalho vão gerar mercadorias, essas
mercadorias vão ser vendidas e vão se transformar em dinheiro de novo. Toda vez que eu
acelero esse ciclo, eu acelero a produtividade e acelero os ganhos de produtividade, eu
consigo extrair mais valor. Toda vez que o capital se encontra numa crise estrutural, ele
vai procurar mecanismos pra acelerar o tempo de rotação do capital. Isso acontece
invariavelmente em todo processo de investimento tecnológico, nas várias fases de revolução
industrial. E acontece agora de novo com a indústria 4.0. Antes da indústria 4.0, a chamada
reestruturação produtiva, a terceirização, o emprego de instrumentos tecnológicos que vão
acelerar a produção, o emprego de técnicas de gestão que vão acelerar a rotatividade da
produção, que vão acelerar o consumo, por exemplo. Com a reforma, o artigo 4º da CLT
vai receber alguns incisos e parágrafos que vão cuidar de transformar o tempo à
disposição cada vez mais em tempo de trabalho efetivo, ou seja, tempo que pode ser
acelerado pra ganho de produtividade.
O §1º é uma regra que já existia: são duas hipóteses de afastamento que contam tempo de
serviço, é como se o empregado tivesse trabalhado no momento em que ele se afasta para
prestar o serviço militar obrigatório e por acidente de trabalho.
O que o §2º está dizendo? Que não se considera tempo à disposição as hipóteses em que o
empregado por escolha própria buscar na empresa abrigo para insegurança nas vias públicas e
más condições climáticas. Quando tem necessidade, não tem liberdade. Necessidade é uma
imposição, é uma determinação externa, então você não tem autonomia. É claro que você
pode dizer que há mais ou menos liberdade, mais ou menos necessidade... mas não há jamais
que se falar em liberdade plena quando há um mínimo de necessidade.
CLT. Art. 4º. §2º Por não se considerar tempo à disposição do empregador,
não será computado como período extraordinário o que exceder a jornada
normal, ainda que ultrapasse o limite de cinco minutos previsto no § 1o do
art. 58 desta Consolidação, quando o empregado, por escolha própria,
buscar proteção pessoal, em caso de insegurança nas vias públicas ou más
condições climáticas, bem como adentrar ou permanecer nas dependências da
empresa para exercer atividades particulares, entre outras:
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
tempo uma série de atividades que são cotidianas, comuns a todos os trabalhadores - essas
atividades estão nos incisos do artigo 4º:
I - práticas religiosas;
II - descanso;
III - lazer;
IV - estudo;
V - alimentação;
Inciso I: Práticas religiosas. Ou seja, quando você se vale do ambiente de trabalho para
desenvolver práticas religiosas. O que são práticas religiosas? Como é que o empregador vai
controlar isso?
Inciso III: Atividades de lazer não são computadas. (sem maiores comentários do professor)
Inciso IV: Estudo. Se está estudando, não está à disposição. (sem maiores comentários do
professor)
Inciso V: Alimentação. Não está se falando aqui do intervalo para alimentação e repouso, que
é dentro da jornada porque a lei obriga todos os contratos de trabalho a terem o intervalo
intrajornada. Nesse intervalo, naturalmente não se computa o tempo, é proibido por lei que o
empregado trabalhe e que o empregador dê trabalho ao empregado. Ele tem que se afastar do
trabalho no horário de intervalo intrajornada. Mas, aqui, não é o horário de intervalo
intrajornada. São os outros momentos nos quais o empregado se alimenta. Agora, que tipo de
alimentação é essa? Essa alimentação impede o trabalho? Ele não está trabalhando quando
ele está comendo um saco de amendoim ou barra de cereais/chocolate, por exemplo?
Inciso VI: Atividades de relacionamento social. Então, além de você ficar numa baia olhando
pro computador, você não pode falar com ninguém, porque seria atividade de relacionamento
social. Aliás, você não pode abrir o WhatsApp, porque é uma atividade de relacionamento
social. Agora, a atividade de trabalho supõe o relacionamento, né? Relacionamento social é
um conceito jurídico indeterminado, eu não sei o que o intérprete vai entender.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Inciso VII: higiene pessoal. Higiene pessoal também é bastante amplo. Acho que abrange no
conceito de higiene pessoal as necessidades fisiológicas de uma pessoa. Uma questão de
higiene que você as faça no banheiro, por exemplo. E aí eu terei que ter uma pessoa para
fiscalizar, com um cronômetro na mão.
Inciso VIII: Troca de roupa ou uniforme. Empresa que estabelece uniforme em geral tem
uma rouparia onde o empregado troca de roupa. O tempo que o empregado está trocando de
uniforme não vai mais ser considerado tempo de trabalho.
Não tem jurisprudência ainda, mas, na prática, esses incisos surgiram pro empregador poder
exigir horas extras. É muito fácil provar que o cara foi no banheiro, que o cara conversou
com outra pessoa. “toda quinta-feira, porque quarta tem jogo, ele ficava pelo menos uma hora
conversando sobre futebol”. Isso é atividade social, então quero compensar isso com hora
extra.
Essas sobras de tempo eram naturais do processo de trabalho, mas deixam de ser com essa
imposição de aceleração do tempo de trabalho como tempo efetivo. Hoje, as tecnologias de
informação e comunicação permitem o controle do resultado da produção muito melhor e de
forma menos custosa. E aí, se eu controlo o resultado do trabalho, pouco me importa a
pessoa.
OJ 338 - não se considera meio de prova válido aquele controle de frequência invariável. A
empresa apresenta no judiciário um controle ao longo dos 4 anos que o sujeito trabalhou lá, e
ele chegava às 08:00 e saía às 17:00 todos os dias, nunca variou. Agora, com a possibilidade
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
de ponto por exceção, essa OJ já fica comprometida, porque não vai mais haver necessidade
desse controle, só das horas extras.
Exemplos: mecanografia (art. 72), minas e subsolo (art. 298), câmaras frigoríficas
(art. 253), amamentação (art. 396), call center (portaria 3751/90).
Tempo em itinere
O que eram essas horas? O tempo de deslocamento do empregado que computava na jornada
como tempo de serviço na hipótese da empresa se situar em lugar de difícil acesso, não
servida de transporte público. Ou seja, o empregado só chegava na empresa no transporte
fornecido pelo empregador. O tempo que ele passava nesse transporte estava computando na
jornada, era hora in itinere. As horas in itinere acabaram, então agora não computa mais na
jornada esse tempo de deslocamento no transporte. Só vai computar quando o trabalhador
entrar na empresa e de fato começa a trabalhar. A regra mudou não só para o tempo de
deslocamento no transporte: às vezes a empresa é muito grande e o empregado chega no
portão mas só vai ocupar o posto de trabalho 15 min depois, 20min depois, porque passa por
um monte de procedimento, pega equipamento, etc.
Sobreaviso e prontidão
São dois direitos que estão no 244 da CLT, que trata do ferroviário, mas eles são estendidos
para os outros empregados por analogia.
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Caderno elaborado por Amanda Nachard
Sobreaviso
O sobreaviso não significa que o empregado pode ser chamado a qualquer momento sem ter
convencionado antes. O empregador geralmente bota vários empregados de sobreaviso e ele
vai avaliar, qual é o problema e qual é o melhor empregado pra vir, depende do tempo de
deslocamento também, onde mora, onde vai estar…
Por estar de sobreaviso naquelas horas, o empregado ganha um adicional de 1/3 do salário
hora dele independentemente de ser chamado. Por isso tem que pactuar, para saber sobre
quantas horas incidirão o adicional de sobreaviso.
A compensação pode ser dada em até uma semana, subtraindo da jornada normal as horas
que ele trabalhou no sobreaviso para não pagar hora extra.
Prontidão
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
O art. 62 exclui dos direitos previstos no capítulo sobre a duração da jornada de trabalho três
grupos de empregados diferentes. O sentido é de autorizar o trabalho para além dessa
limitação.
CLT. Art. 62 - Não são abrangidos pelo regime previsto neste capítulo:
2º grupo: os gerentes, assim considerados aqueles que exercem o poder de gestão. A lei fala
em cargo de gestão. Ou seja, aqueles que recebem, de fato, uma parcela do poder diretivo do
empregador. Pode ser para punir alguém, admitir, demitir, controlar, dar ordens, fiscalizar. E,
além disso, o gerente tem que ter sido promovido para função de confiança, tendo um
acréscimo salarial de pelo menos 40% do que ele ganhava antes. A lógica da exclusão do
gerente desse capítulo é que ele, exercendo o poder empregatício, representa o empregador.
Ele é o empregador ali naquele local ou naquela relação contratual. Se ele representa o
empregador, ele tem que trabalhar o tempo necessário para desenvolver o comando, o
controle, a condução dessas atividades como representante do empregador.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Não tem uma justificativa lógica para a exclusão do teletrabalhador do capítulo da duração.
Como tem possibilidade de controle, tem como saber exatamente quanto o sujeito trabalhou,
que horas ele começou e que horas ele parou de trabalhar, ainda que ele defina com uma
certa autonomia esse horário. O único fundamento é a criação de uma forma contratual mais
precarizada.
A Constituição Federal, no artigo 7º, XIII, não excepcionou nenhum grupo específico de
empregados do direito de duração do trabalho:
CF. Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros
que visem à melhoria de sua condição social:
(...)
Dessa forma, o artigo 62 seria incompatível com o art. 7º, XIII, da Constituição.
No plano dos princípios, é possível é possível fazer ponderação entre o direito à duração da
jornada e o princípio da livre iniciativa. Então, eu poderia dizer que a empresa vai falir se ela
não excluir esses empregados.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Aula 11 - 15.10.2019
A duração normal da jornada de trabalho tem limite máximo de 8 horas por dia e 44 horas
semanais, estabelecido na Constituição, no art. 7º, inciso XIII, mas também no artigo 58 da
CLT:
Mas este é o limite máximo da duração, podendo ser estipulado outro limite, desde que
inferior.
Assim, o empregador pode exigir dos seus empregados uma jornada menor do que a
estabelecida na Constituição.
Exemplo: num determinado caso a jornada não foi pactuada expressamente, mas o
empregador todo dia exigia do seu empregado 7 horas apenas. Essa situação perdurou por
muito tempo, mas o empregador, num dado momento, se deu conta de que a regulação fala
em 8 horas. No dia seguinte, decide aumentar 1 hora na jornada do empregado, sem aumentar
o valor pago em retribuição. Essa alteração contratual é legal? Não. Essa alteração é uma
alteração prejudicial pro empregado, porque ele não ganha mais um centavo e trabalha mais.
A resposta mais completa é dizer que as 7 horas acabaram que cristalizaram como cláusula
contratual, ainda que ela não tenha sido expressa, já que foi uma condição de fato, repetida.
Isso porque o contrato de trabalho segue o princípio da primazia da realidade, as cláusulas
desse contrato são informadas por aquilo que acontece na realidade fática. Tudo que acontece
no contrato de trabalho é determinação do empregador ou autorização, omissão. Se o
empregado fez e o empregador não falou nada, ele autorizou tacitamente. Além disso, o
limite de duração é o limite máximo, que não impede qualquer parte de pactuar menos. Mas
o empregador pode fazer isso? Sim, se esse aumento de jornada for uma hipótese de
compensação. Se não for hipótese de compensação, o empregador deverá pagar
adicional de horas extras, porque ele estará prorrogando a jornada normal do
empregado.
Compensação e redução
A Constituição traz a necessidade da negociação coletiva tanto para a redução quanto para a
compensação da jornada. Mas a Reforma amplia as possibilidades de compensação,
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
O art. 444, parágrafo único, da CLT vai dizer que o contrato prevalecerá sobre qualquer
dispositivo de lei:
CLT. Art. 444. Parágrafo único. A livre estipulação a que se refere o caput
deste artigo aplica-se às hipóteses previstas no art. 611-A desta Consolidação,
com a mesma eficácia legal e preponderância sobre os instrumentos
coletivos, no caso de empregado portador de diploma de nível superior e que
perceba salário mensal igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
VI - regulamento empresarial;
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Pode violar a lei, mas não pode violar a Constituição. Como a duração está prevista
constitucionalmente, de forma alguma, nem com aumento de salário, se pode pactuar jornada
superior às 8h. Por exemplo, poderia ter um acordo coletivo sobre o intervalo intrajornada,
que é regra do art. 71 da CLT, mas não está na Constituição. Então é possível a diminuição do
intervalo, ao invés 1h, 30min, etc.
Em síntese, o limite da duração normal é o limite máximo estabelecido (8h por dia ou 44
semanais), podendo ser inferior se estabelecido em lei específica da categoria, contrato
coletivo, negociação coletiva ou contrato individual. Por exemplo, as leis dos ascensoristas
e dos bancários prevêem jornada de 6h. A Lei 8.906/94, que é o Estatuto da Advocacia,
estabelece, no artigo 20, o limite de 4h para a jornada do advogado.
CLT. Art. 59. § 2º Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força
de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia
for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira
que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas
semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez
horas diárias.
Limitação de intervalos
Limitação diária: entre a duração de um dia e a duração de outro dia, tem o intervalo inter
ou entre jornadas. A lei estabelece esse tempo de separação entre uma jornada e outra, que
tem que ser respeitado (o empregado não pode trabalhar nesse tempo).
Limitação anual: é o descanso anual, que são as férias. As férias têm um capítulo próprio na
CLT, mas a lógica é idêntica à duração do trabalho. Como regra, são 30 dias ou número de
afastamento maior, porque o modo de referência – ano – é maior. Então, se o modo é semana,
1 dia, se o modo é ano, 30 dias, 1 mês.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Prorrogação de jornada
Compensação
A discussão sempre foi quando iria ocorrer a compensação. Antes da reforma, se compensava
na mesma semana para não ultrapassar as 44h.
Horas extraordinárias
Então, as horas extraordinárias devem ser remuneradas pelo menos 50% a mais ao que se
pagaria de uma hora de trabalho normal, dentro da jornada.
Horas extraordinárias são exceção, algo que não acontece ordinariamente, uma
condição excepcional.
1. O primeiro requisito era a forma escrita, sendo necessário que as horas extraordinárias
fossem pactuadas por escrito entre as partes.
CLT. Art. 59. A duração diária do trabalho poderá ser acrescida de horas
extras, em número não excedente de duas, por acordo individual, convenção
coletiva ou acordo coletivo de trabalho.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
CLT. Art. 59. § 1o A remuneração da hora extra será, pelo menos, 50%
(cinquenta por cento) superior à da hora normal.
O grande problema é que a lei atribui consequência para a hora extra legal (adicional de 50%)
mas não fala nada da ilegalidade, não apresenta consequência nenhuma. O efeito prático que
os tribunais impõem para a ilegalidade é o mesmo para a legalidade.
Outra hipótese de hora extra é a necessidade imperiosa, que está no artigo 61 da CLT:
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
ATENÇÃO: O §2º foi revogado pela Constituição. O adicional de hora extra é sempre
com a base mínima de 50%.
Banco de horas
O banco de horas é uma espécie de compensação. Ele pode agora ser pactuado
individualmente, entre o empregado e o empregador, tendo limite de compensação de 6
meses.
A Reforma, em 2017, deu fundamento para um §2º diferente, que fala do banco de horas:
CLT. Art. 59. § 2o Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por
força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um
dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira
que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas
semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez
horas diárias.
A jurisprudência editou a súmula 85/TST, que disse que o banco de horas é constitucional:
Súmula nº 85 do TST
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
O item V da Súmula prevê que o banco de horas só pode ser estabelecido por negociação
coletiva. Mas a Reforma alterou isso, criando um novo banco de horas individual, cujo
prazo de compensação é de 6 meses:
Então, com negociação coletiva: prazo de 1 ano. Com ajuste bilateral: prazo de 6 meses.
Aula 12 - 17.10.2019
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Turno de revezamento
A Reforma abriu uma brecha ainda maior: tornou-se possível que, por ajuste bilateral
(empregado x empregador), seja fixada a jornada de trabalho de 12 por 36, podendo ser
qualquer empresa, sem qualquer justificativa.
CF. Art. 7º. XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos
ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
Praticamente caíram em desuso, atualmente são poucas as empresas que usam essa jornada de
6 horas.
2. Turno fixo: a jornada é de 12 por 36 e o sujeito sempre entra no mesmo horário e sai
no mesmo horário, folgando alguns dias da semana. Professor considera possibilidade de
trabalhar 12 horas seguidas, além de contraproducente, uma precarização muito grande do
trabalho que, no limite, gera um aumento de gasto público (SUS) com o trabalhador doente e
socialização do risco da empresa, que extrai o máximo que pode do trabalhador e deixa o
custo para a sociedade pagar.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Intervalo intrajornada
O período intrajornada é aquele dentro da jornada. O 71 diz que toda jornada será
interrompida por 15 minutos se for de 4 a 6 horas de jornada:
Então, se a jornada for menor do que 4, não tem intervalo intrajornada; se for de 4 a 6 horas,
tem 15 minutos de intervalo; e se for maior do que 6 horas, a jornada terá no mínimo uma
hora de intervalo, e no máximo duas horas.
Então, após a Reforma, o empregador pagará como extra apenas o tempo que exigiu de
trabalho no intervalo do trabalhador, de forma proporcional.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Com isso, se equiparou às horas extras, porque, sendo proporcional ao trabalho efetivamente
realizado, que é extra já que fora da jornada, se o trabalhador não recebe integral, não se trata
de sanção, apenas do que seria realmente devido. Ou seja, não tem mais indenização pela não
concessão do intervalo.
Só que a natureza jurídica é diferente, de forma que os institutos têm que ser distinguidos.
Antes, se o cara trabalhou meia hora no intervalo mais as 8 horas diárias, além da indenização
(sanção), ele receberia 30 minutos como horas extras, por que ele trabalhou 8 horas e 30
minutos no total. Agora, se o empregador obrigou a fazer meia hora depois da jornada ou se
ele suprimiu meia hora do intervalo, não faz diferença. Ele vai pagar a hora extra normal,
proporcional.
ATENÇÃO: Como essa regra do art. 71 não está na Constituição. Então, nos contratos
do hipersuficientes e naqueles negociados pelos sindicatos (negociação coletiva), essa
regra não precisa ser cumprida. Nesses casos, o empregado pode não ter intervalo
nenhum.
Intervalo interjornada
Então a CLT estabelece que finda a jornada, até que comece o trabalho no dia seguinte, deve
haver um espaço de pelo menos 11 horas. Se o cara trabalhou até meia noite, ele teria que
voltar a trabalhar só às 11 da manhã do dia seguinte. Se ele está lá às 8h, ele teve 4h de
supressão de intervalo entre jornada, que deverão ser pagas com adicional de horas extras.
Aqui sempre houve essa proporcionalidade.
Também pode ser chamado de repouso hebdomadário, que quer dizer semanal.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
A lei 605/1949 estabelece o direito do repouso semanal remunerado e os detalhes para sua
aquisição e remuneração:
Quando se viola o primeiro direito, a interrupção, o empregador tem até uma semana para
compensar. Então se o cara trabalhou de segunda a domingo, no dia de repouso dele, 8h todo
dia, a lei autoriza que na semana seguinte ele tenha 2 dias de descanso: o da própria semana e
o que ele não tirou na semana anterior.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
1. Uma sanção específica pela não-concessão do repouso semanal, que é uma multa de
duas vezes o valor do repouso. Se o repouso é 1 dia de salário, a indenização é de 2
dias.
2. Além disso, se o cara trabalhou mais 8h no domingo, ele tem direito a hora extra,
porque ultrapassou as 44h semanais.
Aula 13 - 24.10.2019
Deve ser remunerado melhor o trabalho noturno do que o diurno, também por razões de
saúde. Para o organismo, o trabalho sob a luz artificial é muito mais em comparação com a
luz solar, de maneira que o trabalho noturno é considerado sempre um trabalho mais gravoso.
Por isso, ele não é proibido, mas vai ter algumas restrições legais.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
não trabalha exclusivamente à noite, mas trabalha uma parte fora desse intervalo e
uma parte dentro. Cria-se a hora noturna ficta, que terá 52 minutos e 30 segundos.
Então, quando o empregado adentra o período noturno (continua trabalhando após as
22h), a hora trabalhada passa a corresponder a 52 minutos e 30 segundos, diminuindo
a jornada.
O direito do trabalho considera, a rigor, uma alteração em prejuízo do empregado se ele era
contratado como empregado exclusivamente diurno e passa para um contrato noturno ou
exclusivamente noturno. Então, veda-se, a princípio, a transferência de quem é
exclusivamente diurno para se tornar exclusivamente noturno, ainda que ganhe mais. É uma
alteração que não é admitida, é nula. No entanto, admitem-se alterações na jornada que
eventualmente adentrem o período noturno, desde que com o pagamento do adicional.
O contrário se considera positivo. Noturno virar diurno é mais vantajoso pro empregado. Se o
empregado foi contratado pra trabalhar exclusivamente noturno, pode-se alterar o contrato
para trabalhar exclusivamente diurno, mas ele perde o adicional noturno (pois adicional só é
pago enquanto o empregado é submetido à condição mais onerosa). Mesmo com a perda
econômica, é uma alteração admitida, sendo válida.
Esse afastamento é proporcional ao ano, sendo o mais demorado: o empregado tem direito a
um mês de afastamento, como regra.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
A ideia é que esse espaço temporal de afastamento seja unitário, para que permita ao
empregado ficar afastado da empresa por um período maior de tempo. Logo,
fragmentar as férias é uma ideia contrária ao sentido que o instituto tem. Se eu começo a
fatiar as férias, o empregado não deixa a empresa por um período grande, não descansa o
suficiente, não renova suas energias de uma maneira adequada.
1. A interrupção em si, que é o direito principal, que realmente vai beneficiar a saúde
do trabalhador.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
O cálculo desse período aquisitivo é feito pela data de aniversário da admissão. A cada
ano de contrato, um novo direito de férias.
A lei vai trazer situações especiais de aquisição quando o empregado tem, por fato alheio a
sua vontade, que se afastar nesses 12 meses. Exemplo: teve um acidente de trabalho, ficou
doente.
O artigo 133 vai trazer fatores prejudiciais a aquisição das férias, ou seja, que impedem a
aquisição do direito:
CLT. Art. 133 - Não terá direito a férias o empregado que, no curso do
período aquisitivo:
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
ATENÇÃO: Além das hipóteses do artigo 133, o trabalhador perde o direito de férias se
faltar injustificadamente 33 dias ou mais no período aquisitivo (conforme artigo 130).
A concessão das férias atenderá aos interesses do empregador, ele analisará qual é o período
mais conveniente.
O empregado não pode abrir mão do direito de férias dele, porque é um direito de
ordem pública, que visa preservar sua saúde. Mas ele vender 1/3 dessas férias.
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Direito do Trabalho II - Prof. Ivan Garcia - 2019/2
Caderno elaborado por Amanda Nachard
Procedimentos concessivos
A lei impõe que as férias sejam pagas e comunicadas com antecedência. A comunicação é
com antecedência de 30 dias. Já a remuneração de férias (1 salário + 1/3 do salário) deve ser
paga até 2 dias antes do gozo das férias.
Exemplo: vamos dizer que o empregado tenha o início das férias no dia 1º de um mês,
então até o dia 29 do mês anterior ele vai receber a remuneração de férias e depois vai
receber o salário dele. Então ele recebe duas remunerações, o salário mensal e a
remuneração de férias. Vai ficar afastado o mês de férias e vai voltar a trabalhar o mês
todo. O empregado tem que administrar esses 2 salários e 1/3 que vai receber na
oportunidade do gozo das férias, porque quando voltar a trabalhar só vai receber no
final do mês trabalhado.
Parcelamento
Agora, com a Reforma, permite-se o parcelamento em 3 frações, sendo que uma delas
não pode ser inferior a 5 dias (corridos, não importa se é útil ou não):
Antes falava-se “somente em casos excepcionais” e agora se fala em “desde que haja a
concordância do empregado”. E essa concordância é, obviamente, retórica. É uma anuência
que é imposta. Isso contraria a lógica do instituto, que é de um afastamento unitário e
prolongado.
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Férias coletivas
Quando os empregados voltam das férias ocorre uma recontagem dos períodos aquisitivos:
todos são zerados e começam a contar de novo a partir da volta. Isso promove uma unificação
da contagem.
CF. Art. 7º. XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
terço a mais do que o salário normal;
CLT. Art. 143 § 1º - O abono de férias deverá ser requerido até 15 (quinze)
dias antes do término do período aquisitivo.
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O requisito que a Lei coloca é que o empregado comunique ao empregador da sua intenção
em até 15 dias antes do fim do período aquisitivo. Mas isso foge muito da realidade e, na
prática, quem determina quanto o empregado vai vender das férias dele é o empregador.
Toda extinção do contrato de trabalho (seja por pedido de demissão do empregado, seja
porque o empregado é dispensado), vai interromper um período que é ao mesmo tempo
aquisitivo e concessivo. Isso vai ser determinante para sabermos como vai ser paga a
remuneração de férias.
Exemplo: no dia 24/10/2019 o empregado foi mandado embora pelo empregador. Ele
completaria outro período aquisitivo em 01/01/2020. Como o contrato dele começou em
01/01/2016, o ano de 2019 significa um período aquisitivo (nº 4) e um período concessivo
relativo às férias do ano anterior (período concessivo nº 3). Vejamos:
Então, as férias que o empregado adquiriu em 2018 (no 3º período aquisitivo) teriam que ser
concedidas no ano de 2019 (3º período concessivo), o prazo para o empregador conceder as
férias seria até 01/01/2020. O empregado adquiriu o direito às férias nº 3 porque o
período aquisitivo se deu em 2018. Mas o empregador não concedeu essas férias e
demitiu o empregado antes do término do período concessivo correspondente (3º
período concessivo, no ano de 2019). Então o direito a essas férias já está no patrimônio
jurídico do empregado. O empregador não vai ser punido com o pagamento em dobro
dobra, porque não passou o prazo do período concessivo quando da demissão. Portanto, a
remuneração das férias 3 será feita de forma simples, ou seja, salário + 1/3.
Além das férias 3, o empregado tem a aquisição de um novo direito de férias porque ele
trabalhou de janeiro até 24/09/2019, quase um ano todo de trabalho. Quando o período
aquisitivo for incompleto (tirando a hipótese de dispensa por justa causa, que ocorre
quando o empregado comete uma falta grave), o empregado tem direito à férias
proporcionais.
CLT. Art. 146 - Na cessação do contrato de trabalho, qualquer que seja a sua
causa, será devida ao empregado a remuneração simples ou em dobro,
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Nesse exemplo, a quantas férias o trabalhador tem direito e de que forma elas são pagas,
considerando que ele jamais tirou férias, nem gozou, nem recebeu nada? Ele tem direito a 4
férias que vão ser pagas da seguinte forma: Férias 1 - em dobro; Férias 2 em dobro; Férias 3
de forma simples e Férias 4 de forma proporcional.
A remuneração em dobro pode ser parcial também. O empregador tinha até o final do ano,
31/12, para dar as férias. Ele começou a dar essas férias em 15/12. Então, ficaram 15 dias
dentro do período concessivo e 15 dias fora. Se as férias forem gozadas parcialmente fora do
período concessivo, o que passar do período concessivo dobra.
Aula 14 - 29.10.2019
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Mas esse princípio traz também o efeito contrário: toda vez que o empregador produzir
uma alteração prejudicial ao empregado, essa alteração tende a ser considerada nula.
Por que vai tender? porque podem ser circunstâncias que dependem de sua consolidação no
tempo pra verificar se realmente houve uma alteração do contrato, e não uma alteração
circunstancial.
A anuência é um requisito relativo, porque todo mundo sabe que o empregador tem
meios persuasivos para obter essa anuência das propostas de alteração. Mas, para
garantir uma objetividade nessa alteração, se estipula o segundo requisito, que é a
ausência de prejuízo direto ou indireto, sob pena de nulidade da alteração.
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Caderno elaborado por Amanda Nachard
A regra da inalterabilidade in pejus, que está no 468, tem um conjunto de exceções. Essas
exceções são chamadas de ius variandi, direito de mudar, que é titularizado pelo empregador.
O empregador encontrará na ordem jurídica algumas situações em que ele pode excetuar a
regra da inalterabilidade in pejus, ou seja, pode mudar algumas condições contratuais, sem a
anuência do empregado e, eventualmente, até causando algum prejuízo. Isso visa possibilitar
a dinamicidade que o empreendedor tem na gestão do negócio.
A doutrina diz que isso pode acontecer em aspectos acidentais, secundários do contrato.
Exemplos:
O §1º do 468 traz uma hipótese autorizada pela lei: da reversão do empregado de confiança
ao cargo efetivo.
Nesse caso, causa prejuízo ao empregado, porque ao gozar a função de confiança, ele ganhou
um acréscimo salarial, que ele perderá imediatamente após a reversão ao cargo efetivo. De
fato, na prática, o que acontece é um rebaixamento, mas não se chama assim porque essa
prática é autorizada pela lei, ao contrário do rebaixamento.
CLT. Art. 468. § 2o A alteração de que trata o § 1o deste artigo, com ou sem
justo motivo, não assegura ao empregado o direito à manutenção do
pagamento da gratificação correspondente, que não será incorporada,
independentemente do tempo de exercício da respectiva função.
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b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor
excessivo;
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O artigo 456 da CLT, no seu parágrafo único, que trata da prova do contrato,
tem uma presunção que praticamente vai esvaziar o conteúdo do 483 (que trata
da rescisão indireta):
No caso das funções, o empregado nunca tem prova porque isso não está
expresso por escrito. Pelo parágrafo único, na falta de prova se presume que o
empregado está obrigado a toda e qualquer função compatível com a sua
condição pessoal. O legislador usou um conceito jurídico indeterminado:
condição pessoal. A lei está falando dos trabalhadores que tenham cargos onde
a qualificação profissional é indefinida (auxiliar técnico, auxiliar geral, auxiliar
administrativo, auxiliar de serviços gerais). Se o empregador está entregando,
faz parte da condição pessoal dele. Ele nunca vai conseguir uma rescisão
indireta.
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A ajuda de custo não tem natureza salarial, é paga de uma única vez e vai
ressarcir o empregado dos gastos com a mudança.
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No direito do trabalho, tradicionalmente se utilizava esse instituto, até que ele se demonstrou,
em muitos casos, altamente injusto. Era o caso do empregado que não ia trabalhar porque
estava doente. O empregador podia romper o contrato e ainda pedir perdas e danos ou
simplesmente deixava de pagar o salário, uma vez que o empregado não trabalhou. Então, a
lei trabalhista passou a compreender que, sobretudo em situações por motivos alheios à
vontade do empregado, o empregado poderia justificar o descumprimento do contrato. A lei
passou a exonerar o empregado das suas obrigações contratuais em determinadas
circunstâncias, sem que com isso, se rompesse o contrato. Essas circunstâncias foram
agrupadas em dois tipos: suspensão ou interrupção.
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sua obrigação principal, mas empregador mantém todas as obrigações como se estivesse o
empregado trabalhando.
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Aula 15 - 31.10.2019
A teoria dos contratos do Direito Civil também é usada para o término de relação contratual.
Modalidades
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3. Rescisão: acontece apenas e tão somente quando ocorre a nulidade absoluta dos
contratos. A nulidade absoluta, por sua vez, só acontece quando ausente um dos
elementos essenciais do ato jurídico (capacidade da parte, objeto lícito, possível,
determinado ou determinável e forma). A teoria trabalhista das nulidades é diferente
da teoria geral das nulidades ou da teoria civilista das nulidades, porque admite-se, em
algumas hipóteses nulidade, o reconhecimento de efeitos jurídicos. No caso do agente
incapaz, efeitos de indenização não trabalhistas; no caso de forma prescrita ou não
defesa em lei, efeitos trabalhistas; apenas no objeto ilícito não terá efeitos, igual à
teoria civilista. As causas de anulabilidade não têm o condão de romper o contrato.
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6. Morte
Então, a extinção do contrato, aqui, ocorre quando o empregado (pessoa física) morre.
Não haverá como continuar o contrato, não tem como suceder, porque para o
empregado existe a pessoalidade. Nesse caso, se preveem alguns direitos, que não vão
ser pagos ao empregado e sim para os seus sucessores, se houver. O espólio do
empregado também terá direito à uma série de parcelas.
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