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As leis
do trabalho
Volume 1
ÍNDICE GERAL
A ÍNDICE REMISSIVO
Impressão: AGIR
Rua Particular, Edifício Agir
Quinta de Santa Rosa
2680-458 CAMARATE
deco.proteste.pt/guiaspraticos
As leis
do trabalho
Volume 1
Prefácio
Trabalhadores e entidades patronais têm direitos e obrigações. No entanto,
quando confrontados com problemas concretos, nem sempre sabem como
resolvê-los. O contrato define muitas das condições que regem a relação,
mas nem sempre existe um documento. Havendo, o que lá está escrito não
será válido se retirar ao trabalhador direitos atribuídos por lei. Certas nor-
mas legais têm um caráter tão técnico que, quem não tiver conhecimentos
específicos na área, poderá ter dificuldade em interpretá-las e até mesmo
em descobrir onde encontrá-las. Por outro lado, as leis não são imutáveis
e é preciso estar atento às mudanças. Com tudo isto, é fácil perceber que
encontrar resposta para as questões que se levantam é, habitualmente, uma
tarefa difícil.
Como é característico das nossas publicações, este livro foi escrito numa
linguagem rigorosa e acessível, para que o leitor compreenda o alcance das
leis e fique mais consciente dos direitos e deveres inerentes à sua situação
profissional. No final, indicamos-lhe a legislação aplicável a todas as matérias
tratadas.
A
Índice
CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 3
À procura de emprego Tipos de contrato
CAPÍTULO 7
Obrigações, sanções e meios Índice remissivo 195
de defesa
Capítulo 1
À procura
de emprego
A As leis do trabalho
10
A À procura de emprego
11
A As leis do trabalho
A CAMINHO DA FAMA?
Existem regras específicas para a participação dos menores em espetáculos e outras atividades
de natureza cultural, artística ou publicitária (trabalhos de ator, cantor, dançarino, figurante,
músico, modelo ou manequim). Estes trabalhos nunca podem envolver contacto com animais,
substâncias ou atividades perigosas que possam constituir risco para a segurança e saúde do
menor. Aliás, qualquer atividade com animais só é possível a partir dos 12 anos e, incluindo os
ensaios, tem de decorrer sob a vigilância de um dos pais, de um representante legal ou de um
irmão maior. Existem também normas estritas relativamente a outros aspetos.
sujeito a limites: se tiver entre 6 e 11 anos, 6 horas por dia e 12 por semana; entre 12 e
15 anos, 7 horas por dia e 16 por semana.
(2) Estes limites diários e semanais podem ser excedidos até ao máximo de 3 horas,
desde que o acréscimo ocorra em dias em que o menor não tem atividades escolares.
• A atividade diária deve ter intervalos de, pelo menos, meia hora, para evitar que o menor
trabalhe de forma consecutiva mais de metade da duração máxima permitida. Quanto ao
horário, terá de ocorrer entre as 8h00 e as 20h00. Porém, para participar em espetáculos de
natureza cultural ou artística – e apenas nestes casos –, os menores que tenham, no mínimo,
7 anos, podem participar em atividades que decorram até às 24h00.
• Durante o período de aulas de escolaridade obrigatória, a participação do menor nestas
atividades deve ser feita fora do horário escolar e nunca impossibilitar a presença nas aulas.
Também não é admissível, por exemplo, que a atividade aconteça depois destas, mas num
local de tal forma distante que o force a faltar. A lei estabelece, ainda, que entre as aulas e a
participação numa atividade artística deve haver um intervalo mínimo de 1 hora.
• A atividade tem de ser suspensa, pelo menos, 1 dia por semana, num dia de descanso de aulas.
Intervenção da CPCJ
• A participação nestas atividades está sujeita a autorização da Comissão de Proteção de
Crianças e Jovens (CPCJ) da área de residência do menor. A autorização é pedida pela enti-
dade promotora, indicando, entre outros elementos, o espetáculo ou atividade, bem como
o tipo e duração da participação do menor (por exemplo, horas de atividade em dia de
ensaio ou de espetáculo e número de horas por semana). Deve, ainda, ser acompanhada
12
A À procura de emprego
Contrato
Obtida a autorização, é celebrado um contrato com os representantes legais do menor, por
escrito e em 2 exemplares. O contrato deverá indicar o espetáculo ou atividade, a dura-
ção da participação, o número de horas diárias e semanais de trabalho, a retribuição e,
se necessário, a identificação de quem ficará encarregado da vigilância. Tem ainda de ser
apresentada, à ACT e ao estabelecimento de ensino frequentado pelo menor, uma cópia
do contrato, da decisão da Comissão e do certificado médico.
Revogação da autorização
• Se o menor apresentar diminuição do aproveitamento escolar ou alterações de comporta-
mento relevantes, a escola comunica-o à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, que
pede à entidade promotora para alterar as condições de participação e corrigir a situação.
Na ausência de melhorias, pode revogar a autorização, comunicando-o àquela, aos repre-
sentantes do menor, ao estabelecimento de ensino e à ACT.
• Caso a Comissão não autorize a participação do menor ou revogue a autorização já dada,
os pais que discordem podem requerer ao tribunal de família e menores que permita ao seu
filho participar nas atividades.
Dispensa de autorização
Em certos casos, não é necessária autorização da Comissão, bastando comunicar-lhe a atividade,
com a antecedência mínima de 5 dias e acompanhada dos documentos atrás referidos para o
pedido de autorização. Isso é possível para quem tenha, pelo menos, 13 anos, se a atividade não
durar mais do que 24 horas e não tiver participado noutra nos últimos 180 dias.
Pagamento de coimas
Se não respeitarem estas regras, os organizadores estão a cometer uma contraordenação
e ficam sujeitos ao pagamento de coimas. O valor depende da gravidade da infração e do
volume de negócios do prevaricador.
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A As leis do trabalho
Para garantir que todas estas regras são cumpridas, a entidade patronal
que contrate alguém com menos de 16 anos tem de comunicá-lo à Autori-
dade para as Condições do Trabalho (ACT), no prazo de 8 dias.
14
A À procura de emprego
Havendo discordância dos pais, o contrato não pode prevalecer. Esta opo-
sição pode ser manifestada em qualquer altura (obviamente, enquanto o
filho for menor) e tem efeitos decorridos 30 dias, a não ser que os pais
demonstrem que se trata de um prazo demasiado dilatado face à necessi-
dade de o menor frequentar um estabelecimento de ensino ou uma ação
de formação profissional. Nesse caso, o período pode ser reduzido até
metade (15 dias).
Formação profissional
A formação é importante ao longo de toda a vida profissional, mas
assume especial relevância para os jovens que abandonem a vida esco-
lar ou queiram iniciar o seu percurso no mundo do trabalho. Aliás, a lei
aponta como um dos objetivos da formação profissional “proporcionar
qualificação inicial a jovem que ingresse no mercado de trabalho sem essa
qualificação”.
15
A As leis do trabalho
Aprendizagem
É a formação profissional típica do início de carreira. Trata-se de cursos
coordenados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP),
que privilegiam a inserção dos jovens no mercado de trabalho, permitin-
do-lhes, simultaneamente, prosseguir os estudos. São dirigidos a meno-
res de 25 anos que tenham concluído o terceiro ciclo do ensino básico
(9.º ano), ou um nível equivalente, mas não tenham completado o ensino
secundário (12.º ano). Excecionalmente, pode admitir-se a frequência
de quem tenha mais de 25 anos. Os grupos são constituídos por 15 a 20
formandos.
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A À procura de emprego
Contrato de aprendizagem
É o contrato celebrado entre um formando ou, quando seja menor, o seu
representante legal e a entidade formadora, em que esta se obriga a minis-
trar-lhe formação e ele se obriga a frequentá-la, executando todas as ativida-
des que constam da estrutura curricular do curso.
Este contrato não cria uma relação de trabalho e caduca com a conclusão da
ação de formação. Está sujeito a forma escrita, de acordo com um modelo
disponibilizado pelo IEFP, ficando cada uma das partes com um exemplar.
Direitos do formando…
A assinatura do contrato confere ao formando uma série de direitos:
—— participar na formação, de acordo com as orientações metodológicas
aplicáveis;
—— receber informação e acompanhamento psicopedagógico no decurso da
ação de formação;
—— gozar anualmente o período de férias definido no contrato;
—— beneficiar dos apoios nele estabelecidos;
—— recusar a realização de atividades que estejam fora do objeto do curso;
—— beneficiar de um seguro de acidentes pessoais que cubra os factos ocorri-
dos durante e por causa da formação.
… e deveres
Quanto às suas obrigações, eis as mais importantes:
—— manter o empenho ao longo de todo o processo de aprendizagem;
—— frequentar com assiduidade e pontualidade a ação de formação;
—— tratar com correção todos os intervenientes no processo formativo;
17
A As leis do trabalho
Duração da formação
A duração total do curso varia entre 2800 e 3700 horas, podendo acres-
cer, excecionalmente, até 90 horas. A carga horária semanal deve ser fixada
entre 30 e 35 horas, não podendo ultrapassar, respetivamente, as 6 e as
7 horas diárias. O horário é fixado entre as 8h00 e as 20h00.
Cessação do contrato
O contrato de aprendizagem pode cessar por rescisão do formando ou da
entidade formadora, acordo das partes ou caducidade. Qualquer que seja
a causa, o formador tem de comunicar, por escrito, no prazo de 10 dias,
a cessação do contrato e o seu fundamento ao IEFP.
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A À procura de emprego
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A As leis do trabalho
Retribuição e proteção
São concedidos aos estagiários, mensalmente, os seguintes apoios:
—— bolsa de estágio, que varia, consoante as suas habilitações, entre 1,2 vezes
e 1,85 vezes o valor do indexante dos apoios sociais (IAS);
—— refeição ou subsídio de refeição, de valor correspondente ao da generali-
dade dos trabalhadores da entidade promotora ou, na sua falta, dos tra-
balhadores da Administração Pública;
—— transporte ou subsídio de transporte para quem sofra de incapacidade
ou deficiência;
—— seguro de acidentes de trabalho.
Suspensão e cessação
A entidade promotora pode suspender o estágio, depois de requerer auto-
rização ao Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), por um
período até:
—— 1 mês, quando o local onde o estágio se realiza encerre temporariamente;
—— 6 meses, quando o estagiário esteja doente ou goze licença de parentali-
dade.
20
A À procura de emprego
21
A As leis do trabalho
Agências de colocação
A procura de emprego pode ser feita através de empresas que servem de
intermediárias entre a oferta e a procura, promovendo a colocação dos
candidatos. São as agências privadas de colocação.
22
A À procura de emprego
Âmbito de ação
A atividade das agências está limitada à receção de ofertas de emprego,
inscrição e colocação dos candidatos. Podem ainda desenvolver ações de
seleção, orientação ou formação profissional, mas sempre tendo em vista a
sua colocação. Estes serviços têm de ser prestados diretamente pela agên-
cia, sem recurso à subcontratação de terceiros. Também lhes está expres-
samente proibida a atividade como empresas de trabalho temporário e
nenhum dos sócios membros dos corpos sociais ou responsáveis técnicos,
em regime de trabalho por conta de outrem ou a outro título, pode ter vín-
culo a empresas de trabalho temporário.
23
A As leis do trabalho
Colocação no estrangeiro
Ao colocar um candidato no estrangeiro, a agência deve certificar-se de que
ele terá acesso a cuidados médicos, nas mesmas condições que em Portu-
gal, e alojamento adequado. Até 6 meses após a colocação, terá de assegu-
rar o repatriamento do trabalhador, se houver incumprimento do contrato
sem ser por culpa deste. O incumprimento desta obrigação pode originar
responsabilidade penal, com eventual pena de prisão, ou civil, através
do pagamento de todas as despesas com a estada no país estrangeiro e o
repatriamento.
24
A
Capítulo 2
Relação contratual
A As leis do trabalho
Desde o início da relação, ou até mesmo antes, existem direitos que não
podem ser ignorados. É o caso dos direitos de personalidade ou do princípio
da igualdade no trabalho.
Regras da relação
Ainda que não seja celebrado por escrito, o contrato de trabalho tem um
conteúdo que, pelo menos, será conhecido através da prática quotidiana
das partes e das regras constantes da lei. Por exemplo, se nada ficar escrito
quanto à duração diária do trabalho, mas o trabalhador entrar às 9h00 e
sair às 18h00, com uma pausa para almoço de 1 hora, existe um horário
definido. Por outro lado, se a entidade patronal nada tiver dito, nem mesmo
oralmente, quanto ao pagamento do subsídio de transporte, mas todos os
meses lhe pagar o passe social, este constitui uma regalia do trabalhador.
26
A Relação contratual
Instrumentos de
Contrato de trabalho Lei regulamentação coletiva
de trabalho
RELAÇÃO CONTRATUAL
Regulamento interno
Prática efetiva
da empresa
Contrato e lei
Em Portugal, a relação contratual entre entidade patronal e trabalhador é
regulada, em primeiro lugar, pela lei. No entanto, também existem regras a
respeitar nos contratos individuais de trabalho, nos instrumentos de regula-
mentação coletiva e, ainda, no regulamento interno de cada empresa.
Legislação primeiro
Perante tantas fontes de regras, coloca-se a questão de saber qual seguir se
divergirem relativamente a alguns assuntos. Em princípio, prevalece o que
está disposto na lei. Só será o que consta do contrato se for mais favorável para
o trabalhador e a lei não o proibir. Por outro lado, quando esta não o impeça,
podem ser aplicadas regras de instrumentos de regulamentação coletiva de
trabalho, mas nalgumas matérias só se admitem as que sejam mais favorá-
veis ao trabalhador (veja o título Instrumentos de regulamentação coletiva de
trabalho, na página 29). Existem, portanto, normas legais que não podem
ser contrariadas pelo contrato ou por um instrumento coletivo e outras que
poderão sê-lo. O regulamento interno serve apenas para definir regras de
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A As leis do trabalho
Formalidades do contrato
Não sendo obrigatório na maioria dos casos, o contrato escrito tem muitas
vantagens. Algumas informações terão mesmo de ser prestadas por escrito.
Informações obrigatórias
Ainda que não exista qualquer forma especial para o contrato, há um dever
recíproco de informação. A lei determina que a entidade patronal entre-
gue ao trabalhador um documento (ou mais do que um) que contenha, pelo
menos, as seguintes informações:
—— identificação da empresa e local onde está sedeada;
—— local ou locais onde o trabalho será prestado;
—— categoria do trabalhador ou descrição das suas funções;
—— data de celebração do contrato e do seu início;
—— valor da remuneração e periodicidade do pagamento;
—— período normal de trabalho diário e semanal;
—— duração das férias ou critério para a sua determinação;
28
A Relação contratual
Portanto, mesmo que o contrato não seja feito por escrito, o dever de infor-
mação da entidade patronal obriga-a a entregar um documento escrito ao
trabalhador. Se isso não for feito, o empregador estará a incorrer na prática
de uma contraordenação grave (veja o título Contraordenações, a partir da
página 175).
Instrumentos de regulamentação
coletiva de trabalho
Como vimos, além da lei e do contrato, também estes instrumentos
estipulam as obrigações e os direitos dos trabalhadores e das entidades
29
A As leis do trabalho
Eis as matérias que podem ser alteradas por instrumentos coletivos de tra-
balho, mas apenas para beneficiar os trabalhadores:
—— direitos de personalidade, igualdade e não discriminação;
—— proteção na parentalidade;
—— trabalho de menores;
—— trabalhador com capacidade de trabalho reduzida, deficiência ou doença
crónica;
—— estatuto de trabalhador-estudante;
—— dever de informação do empregador;
—— limites à duração dos períodos normais de trabalho diário e semanal;
—— duração mínima dos períodos de repouso, incluindo as férias anuais;
—— duração máxima do trabalho noturno;
—— forma de pagamento e garantias da retribuição, bem como pagamento de
trabalho suplementar;
—— acidentes de trabalho e doenças profissionais;
—— transmissão da empresa ou de estabelecimento;
—— direitos dos representantes dos trabalhadores eleitos.
Instrumentos negociais
Existem três instrumentos de regulamentação coletiva negociais, havendo
normas que estipulam qual será válido em caso de sobreposição.
Convenção coletiva
Divide-se em vários tipos, consoante as entidades envolvidas na sua
elaboração:
—— acordo de empresa, se for assinada pelas associações sindicais e por uma
só entidade patronal, o que geralmente se justifica apenas para empresas
de grande dimensão;
—— acordo coletivo, se for assinada pelas associações sindicais com várias
empresas (por exemplo, do mesmo setor de atividade). É relativamente
rara no nosso país;
—— contrato coletivo, se for assinada entre associações sindicais e associações
patronais. Face ao elevado número de pequenas e médias empresas exis-
tentes em Portugal, este é o tipo de convenção mais frequente.
30
A Relação contratual
Acordo de adesão
Permite que as associações sindicais ou de empregadores e as empresas
adiram a convenções coletivas já existentes. Para tal, têm de chegar a
acordo com as entidades que se lhes contraporiam, caso tivessem partici-
pado na negociação. No fundo, trata-se de um processo em que intervêm
uma das partes que assinaram a convenção e uma entidade que por ela
queira ser abrangida. O conteúdo da convenção já existente não pode ser
alterado.
Sobreposição de instrumentos
Em primeiro lugar, um instrumento negocial de um setor de atividade preva-
lece sobre os que, dentro desse setor, respeitem apenas a uma ou a algumas
profissões.
Sempre que a alguns trabalhadores da mesma empresa seja aplicável mais
do que uma convenção, utiliza-se a seguinte hierarquia:
—— acordo de empresa;
—— acordo coletivo;
—— contrato coletivo.
31
A As leis do trabalho
Portaria de extensão
É da competência do ministro responsável pelas questões do trabalho, que
assim determina a aplicação, total ou parcial, de convenções coletivas ou
decisões arbitrais relativas a empresas e trabalhadores do setor de atividade
e profissional abrangido. Isto só é possível se não lhes for aplicável um ins-
trumento negocial e quando as circunstâncias sociais e económicas o justi-
fiquem. Os interessados podem opor-se, nos 15 dias seguintes à publicação
do projeto de portaria no Boletim do Trabalho e Emprego. Antes de entrar
em vigor, a portaria é publicada no Diário da República.
32
A Relação contratual
Aspetos comuns
Sejam ou não negociais, a generalidade dos instrumentos de regulamenta-
ção coletiva abrange o mesmo tipo de questões e está sujeita a idênticas
regras de vinculação.
Duração e renovação
A duração e a eventual renovação de um instrumento de regulamentação cole-
tiva dependem do que nele estiver previsto. Qualquer das partes pode denun-
ciá-lo, fazendo uma proposta negocial para a sua substituição. O instrumento
mantém-se em vigor enquanto decorrerem as negociações ou, no mínimo,
durante 1 ano após a data da denúncia. Havendo transmissão, total ou par-
cial, de uma empresa, o instrumento coletivo em vigor mantém-se até ao final
do prazo de vigência ou, no mínimo, durante 12 meses após a transmissão.
Só não será assim se passar a aplicar-se outro instrumento coletivo.
33
A As leis do trabalho
Início de atividade
A entidade patronal tem a obrigação de comunicar a admissão de trabalha-
dores, nas 24 horas anteriores ao início do contrato, pela internet, através
do serviço Segurança Social Direta. Tratando-se do primeiro emprego do tra-
balhador, tem ainda a responsabilidade de, em simultâneo, proceder à sua
inscrição na Segurança Social. Excecionalmente, para contratos de muito
curta duração ou relativos a trabalho por turnos em relação aos quais não
seja possível cumprir este prazo, tal poderá ser feito até 24 horas depois do
início do contrato. A comunicação deve referir se se trata de um contrato a
termo ou sem termo, bem como assinalar as situações de trabalho a tempo
parcial.
34
A Relação contratual
Pagamento de contribuições
Ao longo do contrato, a entidade patronal tem outro tipo de obrigações.
Nomeadamente, comunicar, através da Segurança Social Direta, a relação
dos trabalhadores que estão ao seu serviço, com as respetivas remunerações
no mês anterior e o tempo de trabalho correspondente. Isto é feito até ao
dia 10 de cada mês. Depois, entre os dias 10 e 20, efetua o pagamento das
contribuições mensais, tanto as que são suportadas por si como as que estão
a cargo do trabalhador. Se, entretanto, detetar algum erro, o empregador
pode corrigi-lo na declaração de remunerações do mês seguinte.
Quanto é?
O valor das contribuições é calculado pela aplicação da taxa social única à remu-
neração do trabalhador. Na maioria dos casos, a taxa é de 34,75%, a dividir pela
entidade patronal (23,75%) e pelo trabalhador (11%). Esta segunda parte é des-
contada no vencimento ilíquido. Por exemplo, quem tenha um salário bruto
de 1500 euros mensais recebe menos 165 euros, quantia que é entregue direta-
mente à Segurança Social pelo empregador. Nos contratos de muito curta dura-
ção, a taxa é de 26,1%, totalmente a cargo da entidade empregadora.
Isenções e reduções
A lei prevê isenções ou reduções temporárias de contribuições, que poderão
beneficiar a entidade patronal, o trabalhador ou ambos. É o caso das medi-
das que visam a criação de emprego, como a contratação de jovens à pro-
cura do primeiro emprego, desempregados de longa duração ou deficientes
e trabalhadores na pré-reforma. Esta última questão será tratada no segundo
volume do presente livro. Quanto aos outros casos, veja o capítulo 1.
Penalizar as irregularidades
Se o trabalhador vier a descobrir que, apesar de lhe ser feito mensalmente
o desconto, a quantia não é entregue à Segurança Social, deve expor a
35
A As leis do trabalho
36
A Relação contratual
Prestações sociais
A inscrição na Segurança Social e a contribuição mensal destinam-se a
assegurar ao trabalhador uma série de prestações sociais, que respeitam
às seguintes eventualidades:
—— doença, garantindo o pagamento de um subsídio caso adoeça e não
possa comparecer ao serviço (veja o título Atribuição do subsídio,
na página 134);
—— doença profissional, caso a atividade profissional seja prejudicial para
a sua saúde;
—— parentalidade, permitindo o pagamento de subsídios durante as licen-
ças parentais, assistência a filhos e outras previstas nesta proteção
(veja a página 141);
—— desemprego, através do pagamento de um subsídio se perder o
emprego;
—— invalidez, com o pagamento de uma pensão mensal se tiver de refor-
mar-se devido a problemas físicos ou mentais;
—— velhice, assegurando o pagamento de uma pensão quando deixar a
vida ativa;
—— morte, com o pagamento de pensões de sobrevivência e subsídios por
morte aos familiares próximos, no caso de falecer.
Parentalidade 0,76
Desemprego 5,14
Invalidez 4,29
Velhice 20,21
Morte 2,44
Total 34,75
37
A As leis do trabalho
Direitos de personalidade
Os direitos de personalidade refletem os princípios de respeito recíproco
que devem caracterizar as relações humanas. Com efeito, ainda que esteja
numa relação de subordinação com a entidade patronal, o trabalhador tem
o direito de formar e expressar opiniões próprias, bem como de guardar
para si os aspetos da vida privada que não interfiram no seu desempenho.
Por outro lado, não poderá ser alvo de tratamento diferenciado com base
em características e opções individuais que não afetem a sua capacidade de
trabalho.
Liberdade e privacidade
O Código do Trabalho legisla uma série de aspetos relacionados com o tra-
balhador, em particular a sua privacidade e os direitos de personalidade.
A entidade patronal deve guardar reserva quanto à esfera mais íntima do
trabalhador, sobretudo no que respeita à vida familiar, afetiva e sexual,
estado de saúde e convicções políticas e religiosas.
Liberdade de expressão
É reconhecida a liberdade de expressão na relação laboral, com respeito
dos direitos de personalidade do trabalhador e do empregador e do normal
funcionamento da empresa. A integridade física e moral de ambas as partes
não pode ser posta em causa e há que respeitar a intimidade da vida privada.
38
A Relação contratual
Exames médicos
A empresa não pode exigir exames médicos para comprovar as capacida-
des físicas e/ou psíquicas do trabalhador ou candidato a emprego. A lei só
o admite para proteger o próprio ou terceiros ou quando as exigências do
trabalho o justifiquem. Nestes casos, a empresa deve apresentar ao trabalha-
dor, por escrito, a justificação para a sua pretensão.
Dados biométricos
Antes de recolherem e tratarem os dados biométricos dos trabalhadores
(impressões digitais, por exemplo), as empresas têm de notificar a Comissão
Nacional de Proteção de Dados. A comunicação deverá ser acompanhada de
um parecer da comissão de trabalhadores, se existir. Caso esta não se pro-
nuncie até 10 dias depois de ter sido contactada para o efeito, será entregue
um comprovativo do pedido de parecer.
39
A As leis do trabalho
Mensagens pessoais
O trabalhador tem direito à confidencialidade de todas as mensagens de
natureza pessoal que receba, envie ou consulte, nomeadamente através de
correio eletrónico. Isso não invalida que a empresa estabeleça regras quanto
à utilização dos meios de comunicação no local de trabalho. Mas não pode
invadir a privacidade do trabalhador para averiguações. Pode verificar, por
exemplo, se o trabalhador está a utilizar indevidamente o endereço ele-
trónico profissional para trocar mensagens pessoais, mas não lhe é permi-
tido aceder ao conteúdo dessas mensagens.
Igualdade no trabalho
Todos os trabalhadores e candidatos a emprego devem receber tratamento
igual da parte do empregador. Não pode haver discriminação em função
da ascendência, idade, sexo, raça, etnia, religião, orientação sexual, estado
civil, situação familiar ou económica, instrução, origem ou condição social,
património genético, língua, nacionalidade, território de origem, convic-
ções políticas ou ideológicas, filiação sindical, deficiência, doença crónica
ou capacidade de trabalho reduzida.
40
A Relação contratual
41
A As leis do trabalho
Para saber exatamente em que consiste este princípio, há que definir o que
se entende por “trabalho igual”. A lei baseia a distinção em três critérios:
—— a quantidade tem em conta a duração e a intensidade do trabalho;
—— a natureza está relacionada com o grau de dificuldade, penosidade ou
perigosidade;
—— a qualidade implica as mesmas exigências em conhecimentos, mérito e
capacidade.
42
A Relação contratual
A lei não permite que fatores como o estado civil e a situação familiar preju-
diquem as mulheres, mas, por vezes, no processo de seleção, ao contrário
do que deveria suceder, as empresas pedem estas informações.
Combater a discriminação
A lei prevê uma série de medidas que inviabilizam as tentativas de discri-
minação e coloca meios ao dispor de quem se sinta atingido. As diferen-
ças injustificadas no tratamento podem originar, entre outras penalizações,
o pagamento de coimas e indemnizações.
43
A As leis do trabalho
E isto mesmo que, nessa ação, não sejam acompanhadas pelos trabalhado-
res. Mais uma vez, cabe à entidade patronal provar que não existiu prática
discriminatória.
Processos de seleção
A discriminação sexual nos processos de seleção para um emprego pode ser
fiscalizada. Para o efeito, as empresas devem manter, durante 5 anos, registo
do recrutamento efetuado, com separação por sexos e referência a vários
elementos, entre os quais:
—— convites para o preenchimento de lugares;
—— anúncios de oferta de emprego;
—— número de candidaturas apresentadas para apreciação curricular;
—— número de candidatos presentes nas entrevistas de pré-seleção;
—— resultados dos testes ou provas de admissão ou seleção.
Fiscalização
A Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (cite) tem como
missão assegurar que todas estas regras são cumpridas. Quem queira apre-
sentar queixa pode dirigir-se a este organismo, mas também à Autoridade
para as Condições do Trabalho (ACT). Para resolver um eventual conflito,
são caminhos possíveis a mediação laboral e, a fim de tentar obter uma
indemnização, os tribunais. Para mais pormenores sobre este tipo de proce-
dimentos, veja o título Meios de defesa do trabalhador, na página 177.
Consequências da infração
A discriminação constitui uma contraordenação grave e, quando compro-
vada, pode originar o pagamento de coimas elevadas e de uma indemniza-
ção ao trabalhador por danos patrimoniais e morais. No entanto, na prática,
apesar do elevado número de regras protetoras, que incluem a possibilidade
de os sindicatos avançarem para tribunal, são raras as ações judiciais ditadas
pela existência de discriminação, seja sexual ou de outro tipo.
44
A Relação contratual
Assim que ficarem concluídas estas diligências, a cite tem 60 dias para apre-
sentar uma proposta de parecer ao trabalhador (ou ao representante sindi-
cal) e ao empregador. Se a conclusão for que há indícios de discriminação,
a empresa terá nova oportunidade para explicar as diferenças detetadas ou,
em alternativa, apresentar medidas para, no prazo de 6 meses, corrigir a
situação.
Despedimento ilegal
Para evitar que os trabalhadores tenham receio de denunciar estas situa-
ções, presume-se abusivo o despedimento ou a aplicação de outra sanção
disciplinar a quem peça um parecer à cite. Essa presunção mantém-se até
passar 1 ano desde que o pedido foi efetuado. Isto não significa que o traba-
lhador não possa ser penalizado, mas o empregador terá de provar que isso
não aconteceu por causa da apresentação do pedido de parecer à cite. Já o
trabalhador, para contestar, só tem de demonstrar que efetuou o pedido e,
dentro daquele prazo, foi despedido ou penalizado. Parte-se do princípio de
que foi vítima de um despedimento sem justa causa ou sofreu uma sanção
apenas como retaliação por ter denunciado a situação discriminatória.
45
A
A
Capítulo 3
Tipos de contrato
A As leis do trabalho
48
A Tipos de contrato
Instrumentos de trabalho
Outro aspeto distintivo está relacionado com os meios ao dispor do trabalha-
dor. Em regra, os utilizados no contrato de trabalho são propriedade da enti-
dade patronal e a atividade é desenvolvida nas suas instalações, ao passo que
Trabalhador cumpre
horário definido por quem
contratou o serviço
Verificando-se algumas destas situações, parte-se do princípio de que existe um autêntico contrato de trabalho.
Caso queira defender o contrário, a entidade que recebe o serviço terá de provar a inexistência de vínculo laboral.
49
A As leis do trabalho
50
A Tipos de contrato
51
A As leis do trabalho
Acidentes de trabalho
Os profissionais independentes estão obrigados a contratar um seguro
de acidentes de trabalho. Quem não o fizer, além de correr o risco de ser
punido com uma coima de 50 a 500 euros, pode ficar numa situação par-
ticularmente grave se sofrer um acidente que implique despesas avultadas
ou o incapacite para o trabalho. Resultando do acidente a morte do traba-
lhador, será a família a ficar desprotegida. Portanto, tem de ser o próprio a
acautelar a situação, contratando o seguro por si mesmo.
Férias e subsídios
Os profissionais independentes não têm rendimentos durante as férias, não
recebem subsídio de férias e de Natal e não beneficiam das garantias que a
lei dá ao trabalhador (veja quais são no capítulo 5, a partir da página 101).
Ainda que se trate de uma colaboração prolongada, que dure há vários anos,
a entidade que recebe o serviço pode prescindir da outra parte a qualquer
momento, sem grandes obrigações.
52
A Tipos de contrato
53
A As leis do trabalho
Denunciar ilegalidades
Caso tome conhecimento de uma relação de trabalho disfarçada de pres-
tação de serviços, o que geralmente acontece na sequência de apresenta-
ção de queixa, a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) notifica o
O PERCURSO DA QUEIXA
SIM NÃO
54
A Tipos de contrato
Ficando provado que não existe qualquer ilegalidade ou que a situação foi
corrigida, o processo é arquivado. Se, pelo contrário, o prazo terminar sem
que tal fique demonstrado, o processo é remetido para o Ministério Público
(MP) nos 5 dias seguintes. Este tratará de dar entrada no tribunal, no prazo
de 20 dias, de uma ação de reconhecimento da existência de contrato de
trabalho.
Uma parte significativa das regras laborais continua a ter como referência a
ideia de estabilidade. Em nome do direito ao trabalho de que gozam todos os
cidadãos, procura-se evitar que o vínculo seja efémero. No entanto, não faria
sentido impedir que os contratos de trabalho terminem em certas circuns-
tâncias. Assim, apesar de terem como regra de base a duração indetermi-
nada, os contratos podem, entre outras situações, terminar por vontade do
trabalhador ou por uma das partes não cumprir as suas obrigações ou violar
os direitos, garantias e interesses da outra. No entanto, não existe limite para
a normal duração da relação de trabalho, sendo o contrato por tempo inde-
terminado, ou sem termo, aquele que mais protege o trabalhador.
55
A As leis do trabalho
Contratos a termo
A lei prevê vínculos com duração limitada, os chamados contratos a
termo, mais vulgarmente conhecidos como contratos a prazo. De facto,
não teria cabimento obrigar uma empresa a contratar por tempo indeter-
minado um trabalhador de que necessita apenas durante algum tempo,
para substituir alguém que está de baixa ou a gozar licença parental, por
exemplo.
Em que situações
A contratação a termo só pode ocorrer nos casos previstos na lei e a seguir
indicados. Outras situações estarão ao abrigo de um contrato sem termo,
mesmo que não fosse essa a vontade da entidade patronal. Indo a questão
a tribunal, é ao empregador que cabe provar que se justifica a contratação
a termo.
56
A Tipos de contrato
Regime especial
O Código do Trabalho prevê a existência de “casos especiais de contrato de
trabalho de muito curta duração”. Trata-se de contratos para fazer face a um
acréscimo excecional e substancial de trabalho, quando a empresa tenha um
ciclo anual irregular devido às características do mercado ou da sua ativi-
dade. Outros requisitos são a duração máxima de 35 dias e a impossibilidade
57
A As leis do trabalho
(IAS � 12) ÷ (52 � 40)
Por escrito
Com a exceção que acabamos de mencionar, relativa aos contratos de muito
curta duração, para que o contrato de trabalho a termo, certo ou incerto,
seja válido, terá de ser celebrado por escrito, assinado por ambas as partes
e conter as seguintes indicações:
—— identificação e morada das partes;
—— atividade a desempenhar pelo trabalhador e respetiva retribuição;
—— local, horário e período normal de trabalho;
—— data em que foi assinado e data de início do trabalho (se a segunda faltar,
considera-se que o contrato começa na primeira), bem como a data pre-
vista para terminar;
—— prazo estipulado, com indicação do motivo que justifica a contratação.
Nesta alínea têm de ser mencionados, em concreto, os factos e as cir-
cunstâncias que estão na origem da celebração do contrato a termo, bem
como a justificação para o prazo estabelecido.
Se o contrato não for celebrado por escrito, será considerado sem termo.
O mesmo acontece caso seja escrito, mas falte a identificação ou a assinatura
das partes, o prazo ou o motivo que levou à contratação (ou estas referências
sejam insuficientes) ou ainda, em simultâneo, a data de celebração e a data
de início do contrato.
58
A Tipos de contrato
Comunicações obrigatórias
A entidade patronal tem de comunicar a admissão de trabalhadores em
regime de contrato a termo, no prazo de 5 dias úteis, à comissão de trabalha-
dores, se esta existir, e, tratando-se de um trabalhador filiado numa associa-
ção sindical, à respetiva estrutura representativa, indicando o fundamento
legal para a celebração do contrato. Igual informação deve ser fornecida à
Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT). Quando o vínculo cessar,
terá de comunicá-lo àquelas entidades no mesmo prazo. Caso não seja reno-
vado o contrato de uma trabalhadora grávida ou que esteja a amamentar,
idêntica comunicação terá de ser feita à Comissão para a Igualdade no Tra-
balho e no Emprego, indicando o motivo.
Duração do contrato
Os contratos a termo incerto cessam quando terminar a tarefa que esteve na
sua origem ou o trabalhador substituído regressar. A duração máxima é de
4 anos.
59
A As leis do trabalho
Férias
Nos contratos a termo com duração inferior a 6 meses, o trabalhador tem
direito a gozar, imediatamente antes da cessação, 2 dias úteis de férias por
cada mês completo de trabalho. As partes podem, no entanto, chegar a
acordo para que as férias sejam gozadas noutra altura.
Nos anos posteriores, caso o contrato se mantenha, tem direito a férias nos
termos dos trabalhadores contratados sem termo: 22 dias úteis (veja o título
Quantos dias e quando?, na página 117).
Cessação do contrato
É possível pôr fim aos contratos a termo durante o período experimental,
nas condições referidas para o tempo indeterminado (veja o próximo capí-
tulo, a partir da página 80). Passado esse período inicial, que formas existem
de terminar a relação laboral? Se as partes não chegarem a um acordo, qual-
quer uma delas poderá tomar a iniciativa.
60
A Tipos de contrato
(1) Para
evitar a renovação do contrato, a antecedência é de 8 dias relativamente ao seu termo.
Já o empregador terá de opor-se à renovação até 15 dias antes ou, se o trabalhador já estiver reformado ou
tiver mais de 70 anos, 60 dias.
Aviso prévio
Pôr fim ao contrato através de aviso prévio é algo que tem de ser feito por
escrito, com a antecedência mínima de 30 dias, se o contrato tiver duração
prevista igual ou superior a 6 meses, ou de 15 dias, se for inferior. Nos con-
tratos a termo incerto, os prazos de aviso à entidade patronal são os mes-
mos, mas têm em conta o tempo que o contrato já durou até ao momento
em que o trabalhador pretende rescindi-lo. Se o trabalhador não cumprir
o prazo, pode ter de indemnizar a entidade patronal, pagando-lhe o valor
da remuneração-base e diuturnidades correspondentes ao período de aviso
em falta. Por exemplo, se o prazo do contrato era de 1 ano e anunciou a sua
saída com apenas 20 dias de antecedência, tem de indemnizar a entidade
patronal numa quantia correspondente a 10 dias de salário-base (e eventuais
diuturnidades).
61
A As leis do trabalho
Opor-se à renovação
Caso não esteja interessado na renovação, o trabalhador tem de avisar a
entidade patronal, por escrito, pelo menos 8 dias antes da data prevista para
o termo do contrato. Isto, obviamente, se a empresa não tiver feito o mesmo
com a antecedência de 15 dias a que está obrigada (veja o próximo título).
Aviso prévio
Nos contratos a termo incerto, o aviso prévio a respeitar pela empresa é
de 7, 30 ou 60 dias antes do termo previsto, conforme tenham durado até
6 meses, de 6 meses a 2 anos ou mais de 2 anos. A ausência desta comuni-
cação obriga-a a pagar ao trabalhador a retribuição correspondente ao perí-
odo de pré-aviso em falta. Se o trabalhador continuar ao serviço depois da
data comunicada pela entidade patronal ou, não havendo esta comunicação,
decorridos 15 dias sobre a conclusão da atividade, serviço ou obra para que
haja sido contratado ou o regresso do trabalhador substituído (ou a cessação
do contrato deste), o contrato converte-se em contrato sem termo.
Opor-se à renovação
Para evitar a renovação de um contrato a termo certo, a empresa terá de
comunicar ao trabalhador, por escrito e até 15 dias antes de expirar o prazo,
62
A Tipos de contrato
A termo certo
Quando o contrato termina porque a empresa, em devido tempo, comu-
nica a intenção de não o renovar, o trabalhador tem direito a receber uma
compensação correspondente a 18 dias de retribuição-base e diuturnidades
por cada ano completo de antiguidade. O valor diário resulta da divisão por
30 da retribuição-base mensal e diuturnidades. Havendo anos incompletos,
o montante da compensação é calculado proporcionalmente.
A termo incerto
Quando o empregador termina um contrato a termo incerto, o valor a rece-
ber pelo trabalhador é de:
—— 18 dias de retribuição-base e diuturnidades por cada ano completo de anti-
guidade, no que respeita aos três primeiros anos de duração do contrato;
—— 12 dias de retribuição-base e diuturnidades por cada ano completo de
antiguidade, nos anos seguintes.
Para anos incompletos, o cálculo é feito proporcionalmente.
63
A As leis do trabalho
Contratar de novo
Poderá a entidade patronal contratar, sucessivamente, trabalhadores a
termo para o mesmo posto de trabalho? Se o contrato não tiver terminado
por vontade do trabalhador, a lei impede que seja substituído por nova con-
tratação a termo, através de trabalho temporário ou de prestação de ser-
viços. Isto desde que ainda não tenha decorrido um período equivalente a
1/3 da duração do contrato, incluindo as renovações. Supondo que o trabalha-
dor esteve 3 anos com vínculo a prazo, terá de passar 1 ano até haver nova
contratação naquelas condições. A entidade patronal tem sempre de provar
tratar-se de um dos casos que admitem este tipo de contratação (veja quais
são no título Em que situações, na página 56).
64
A Tipos de contrato
Preferência na contratação
Caso a empresa pretenda contratar um trabalhador por tempo indetermi-
nado, para desempenhar funções idênticas às exercidas pelo trabalhador
a termo, este tem, em igualdade de condições, preferência na passagem ao
quadro permanente. Esta preferência mantém-se até 30 dias depois de o
contrato cessar.
65
A As leis do trabalho
Por escrito
A lei exige que o contrato a tempo parcial seja celebrado por escrito. Dele
deve constar, além da identificação, assinatura e morada das partes, o perí-
odo normal de trabalho diário e semanal, fazendo-se uma referência com-
parativa com o trabalho a tempo completo. Se não for celebrado por escrito
ou faltar a indicação do período normal de trabalho, parte-se do princípio
de que se trata de um contrato a tempo completo.
Horário
Os dias de trabalho e o horário devem ser fixados por acordo entre o tra-
balhador e a empresa, de forma a respeitar o descanso semanal. Assim,
o trabalhador tanto poderá trabalhar 5 meios dias por semana, por
exemplo, como 2 dias completos e um meio dia, dependendo do que for
acordado.
66
A Tipos de contrato
Trabalho suplementar
O limite de horas suplementares para os trabalhadores a tempo parcial é
de 80 por ano ou, se for superior, o correspondente à proporção entre o
período parcial de trabalho e o de um trabalhador a tempo completo. Por
exemplo, alguém que trabalhe 4 horas por dia, em vez das 8 dos colegas
a tempo inteiro (cujo limite seja, por exemplo, 175 horas por ano), pode
fazer até 87,5 horas extraordinárias, ou seja, metade do que é permitido aos
colegas.
Mudar de regime
O trabalhador pode estar a tempo parcial do início ao fim da relação con-
tratual, mas há a possibilidade de passar de tempo parcial a completo, ou o
inverso, a título definitivo ou provisório. Vejamos como as coisas se proces-
sam nestes casos.
67
A As leis do trabalho
Assinaturas
A passagem de tempo inteiro a parcial terá de ser alvo, na maioria dos casos,
de um acordo entre a empresa e o trabalhador.
68
A Tipos de contrato
Igualdade de tratamento
Os trabalhadores a tempo parcial não podem ter um tratamento menos
favorável do que os colegas a tempo inteiro, a menos que tal seja justifi-
cado pelo facto de trabalharem durante menos tempo. Será assim, por
exemplo, com a retribuição. O salário deve ser proporcional ao horário,
o mesmo se passando com quaisquer outras regalias. No entanto, existem
regras específicas para o subsídio de refeição: se o tempo de trabalho for
de, pelo menos, 5 horas diárias, é pago na íntegra; se for inferior, sê-lo-á
69
A As leis do trabalho
Exclusividade
Um aspeto que levanta dúvidas é a possibilidade de a entidade patronal exi-
gir exclusividade a um trabalhador a tempo parcial. A lei nada diz, mas trata-
-se de uma questão delicada, que impõe a conjugação do dever de lealdade
do trabalhador com o seu direito a preencher o resto do tempo com outra
atividade. Por um lado, não é aceitável que colabore de manhã com uma
determinada empresa e, à tarde, utilize informação aí obtida em benefício
de outra entidade. Estará a violar o tal dever de lealdade. No entanto, por
outro lado, não pode aceitar-se que uma empresa que só ocupa metade do
tempo de trabalho de um funcionário possa exigir-lhe exclusividade, impe-
dindo-o de preencher o tempo livre. Podemos, ainda, imaginar uma situa-
ção em que a entidade patronal pretende o trabalhador a tempo inteiro,
mas este só quer trabalhar a meio tempo. Não poderá a entidade patronal
exigir-lhe exclusividade? E se o trabalhador preferir o part-time porque lhe
permite efetuar outros trabalhos que dão mais dinheiro? Como se vê, o pro-
blema não é de fácil resolução, dependendo das características da situação
concreta, mas em princípio é de afastar a possibilidade de ser imposta exclu-
sividade ao trabalhador.
Trabalho intermitente
Nas empresas que exerçam atividade de forma descontínua ou com inten-
sidade variável, as partes podem chegar a acordo para que a prestação de
trabalho tenha intervalos de inatividade. No entanto, este tipo de contrato
não pode ser celebrado a termo ou no regime de trabalho temporário.
Por escrito
O contrato de trabalho intermitente tem de ser feito por escrito, com iden-
tificação, assinatura e morada das partes, bem como indicação do número
70
A Tipos de contrato
Retribuição e subsídios
Nos períodos de inatividade, o trabalhador tem direito a uma compensação
definida através de instrumento de regulamentação coletiva. Na falta deste,
recebe 20% da retribuição de base. Embora se mantenham os direitos, deve-
res e garantias das partes que não pressuponham a efetiva prestação de tra-
balho (dever de lealdade, de respeito por colegas, superiores hierárquicos
e empresa, bem como o direito a ser respeitado por esta), durante estes
períodos o trabalhador pode exercer outra atividade. Se o fizer, terá de avi-
sar o empregador com uma antecedência mínima de 30 dias e o montante
que receber nessa nova atividade será deduzido à compensação paga pelo
empregador.
Trabalho temporário
Esta forma de trabalho precário não se resume à relação normal entre enti-
dade patronal e trabalhador. Aqui intervêm três partes: há uma empresa que
contrata pessoas para as pôr a trabalhar para outros. Ou seja, o trabalhador
não está às ordens de quem o contrata e lhe paga, mas de outra empresa,
71
A As leis do trabalho
Trabalhador
lho
ba
Pr
es
tra
o
ad
ta
Dá
de
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se
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to
rvi
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ga
Co
Pa
Contrato de utilização
Empresa de trabalho
Empresa utilizadora
temporário
Paga o serviço
72
A Tipos de contrato
Requisitos
Só podem exercer atividade as empresas que obtiverem licença do ministro
responsável pelas relações laborais, sob proposta do Instituto do Emprego
e Formação Profissional (IEFP). Esta licença é requerida no centro de
emprego da área da sede da empresa ou através do endereço eletrónico
trabalho-temporário@iefp.pt.
73
A As leis do trabalho
2 meses de retribuição ou, caso durem menos de 2 meses, o valor das retri-
buições acrescido do custo das viagens de repatriamento. Esta caução só
não é obrigatória se, nos 36 meses anteriores, não tiver havido pagamentos
de créditos aos trabalhadores por conta da caução referida no título Requisi-
tos, na página anterior. Tendo a empresa iniciado funções há menos tempo,
ainda não pode ter sido acionada a caução e, portanto, não é necessário
constituir a caução específica.
74
A Tipos de contrato
Se o contrato não for feito por escrito ou não indicar o motivo justificativo,
o fizer de forma insuficiente ou apresentar justificação ilegal, considera-se
que há um contrato sem termo entre a empresa de trabalho temporário e o
trabalhador.
75
A As leis do trabalho
Duração limitada
Não é imposta uma duração mínima, ao contrário do que acontece com
os contratos a termo. Já quanto à duração máxima, não pode ultrapassar
a do contrato de utilização celebrado entre as duas empresas. Incluindo o
máximo de seis renovações (para as quais não são contabilizados os casos
de substituição por doença, acidente, licença parental, etc.), o contrato de
trabalho temporário não pode exceder 2 anos. A duração máxima só será
diferente quando se trate de ocupação de um posto vago, durante o pro-
cesso de recrutamento (máximo de 6 meses), ou por acréscimo excecional
de atividade da empresa (até 1 ano).
Para estes limites conta também a existência prévia de prestação de ser-
viços e de contrato a termo para o mesmo posto de trabalho ou com o
mesmo objeto, nas condições referidas para os contratos a termo (veja a
página 59).
Aspetos gerais
Independentemente do tipo de contrato que tenha sido celebrado, o traba-
lhador temporário pode ser cedido a mais do que uma empresa utilizadora.
Só não será assim se o seu contrato disser expressamente o contrário.
76
A Tipos de contrato
Contrato de utilização
Existe outro contrato, que não envolve o trabalhador, apenas a empresa de
trabalho temporário e a utilizadora. É um contrato de prestação de servi-
ços, designado por contrato de utilização de trabalho temporário, pelo qual
aquela se obriga, mediante retribuição, a ceder a esta um ou mais trabalha-
dores temporários.
77
A As leis do trabalho
Acidentes de trabalho
Na celebração do contrato, o utilizador deve exigir à empresa de trabalho
temporário uma cópia da apólice de seguro de acidentes de trabalho que
engloba o trabalhador. Se não o fizer, passa a ser também responsável pelos
danos e lesões resultantes de um acidente de trabalho.
Nova contratação
Quando tiver sido atingida a duração máxima, é proibida a contratação de
outro trabalhador temporário ou a termo, para o mesmo posto de traba-
lho, antes de decorrido 1/3 da duração total do contrato de utilização. Só
não será assim caso se verifique nova ausência do trabalhador substituído
ou acréscimo excecional de necessidade de mão-de-obra em atividade
sazonal.
78
A
Capítulo 4
Elementos
essenciais
do contrato
A A leis do trabalho
Qualquer que seja o tipo de contrato (com ou sem termo, a tempo parcial,
etc.), e independentemente de ser celebrado por escrito ou oralmente,
alguns aspetos terão de ficar definidos desde logo e ser aceites por ambas
as partes. É o caso da existência ou não de período experimental, e da sua
duração, do horário e local de trabalho e da retribuição do trabalhador
(desta trataremos detalhadamente no próximo capítulo).
Período experimental
Quando se inicia uma relação laboral, normalmente as partes não se conhe-
cem bem. A entidade patronal acha que aquela é a pessoa de que precisa,
por conhecer o trabalho que desenvolveu para outras entidades, ficar bem
impressionada com o seu currículo ou nos primeiros contactos pessoais ou
por qualquer outra razão. O trabalhador, por seu lado, depois de analisar a
proposta, resolve aceitá-la, por lhe agradarem o salário, as funções que vai
desempenhar, as perspetivas de progressão, a experiência que adquirirá,
a localização geográfica ou por outro motivo. De qualquer forma, ainda não
há um conhecimento mútuo aprofundado.
Neste contexto, pode acontecer que aquilo que se apresentava como pro-
missor venha a revelar-se um pesadelo: o trabalhador apercebe-se de que,
afinal, o ambiente de trabalho é péssimo, ou então é a entidade patronal
que verifica, ao fim de pouco tempo, que as capacidades da pessoa não cor-
respondem ao previsto e que não se adaptou às funções pretendidas. O que
fazer numa situação destas?
A lei define o período experimental como aquele em que “as partes apre-
ciam o interesse” na manutenção do contrato. Conta para a antiguidade do
trabalhador na empresa, mas, enquanto durar, as partes podem pôr-lhe fim,
sem terem de indicar qualquer motivo ou, geralmente, de respeitar um aviso
prévio ou indemnizar a outra parte. Este é, aliás, o único momento em que
a entidade patronal pode dispensar o trabalhador sem ser por justa causa,
despedimento coletivo, extinção de posto de trabalho ou despedimento por
inadaptação.
80
A Elementos essenciais do contrato
Duração
Esta fase inicial não pode alongar-se demasiado. E até se admite que as partes,
através de um acordo escrito, decidam que não haverá lugar a período experi-
mental ou que este terá uma duração inferior à estabelecida pela lei. Também
podem determinar, por escrito, um valor indemnizatório. A redução é ainda
possível se constar de um instrumento de regulamentação coletiva de trabalho.
81
A A leis do trabalho
Contratos a termo
A duração do período experimental nos contratos a termo é de 30 dias.
No entanto, será de apenas 15 dias se o contrato for celebrado por um prazo
inferior a 6 meses ou, tratando-se de um contrato a termo incerto, a duração
previsível não seja superior a 6 meses.
Contagem
O período experimental inicia-se quando o trabalhador começa a desem-
penhar a sua atividade. Inclui as ações de formação que frequente, sejam
dadas pela empresa ou por ela determinadas, mas desde que não excedam
metade do período experimental. Por outro lado, não são tidos em conta
os dias em que faltar, mesmo que de forma justificada, de licença ou de
dispensa. Só contam, portanto, os dias em que o trabalhador efetivamente
comparece.
Horário de trabalho
Na maioria dos casos, o trabalhador não se encontra ao serviço da entidade
patronal 24 horas por dia, mas apenas durante o período normal de trabalho,
o qual é medido em horas diárias e semanais. Pode estabelecer-se uma hora
de início e de termo, bem como a existência de intervalos, ou seja, determi-
na-se um horário, que poderá ser mais ou menos flexível. Todo o trabalho
prestado para além deste período é considerado suplementar e, para este,
a lei estabelece limites, além de fazer outras exigências (veja Trabalho suple-
mentar, na página 92). Exceção à regra: os contratos que prevejam isenção
de horário (veja a página 85).
82
A Elementos essenciais do contrato
Quem o determina
O horário de trabalho é definido pelo empregador, depois de consultar a
comissão de trabalhadores ou, se esta não existir, os representantes dos sin-
dicatos (comissão intersindical, comissão sindical ou delegados sindicais).
A definição do horário deve ter em consideração a segurança e a saúde do
trabalhador, bem como facilitar a formação escolar, técnica ou profissional
e a conciliação da atividade profissional com a vida familiar. Havendo traba-
lhadores do mesmo agregado familiar, esse facto deve ser tido em conta na
fixação do horário.
Alterações
Excecionalmente, o horário de trabalho pode ser acordado, de forma indi-
vidual, com o trabalhador. Nesse caso, não pode ser modificado pela enti-
dade empregadora. Outras alterações devem ser precedidas de consulta aos
trabalhadores afetados e à comissão de trabalhadores ou, não havendo, aos
representantes sindicais. Têm de ser afixadas na empresa com a antecedên-
cia de 7 dias ou, tratando-se de uma microempresa (menos de 10 trabalha-
dores), apenas 3 dias. Estas formalidades só são dispensadas nas alterações
temporárias que não durem mais de 1 semana. No entanto, têm de ser ouvi-
dos os representantes dos trabalhadores e a alteração fica obrigatoriamente
registada num livro próprio. Cada empresa só pode recorrer a este regime
três vezes por ano.
83
A A leis do trabalho
84
A Elementos essenciais do contrato
Isenção de horário
Embora a maioria dos trabalhadores tenha um horário de trabalho definido,
que poderá ser fixo ou flexível (entrada entre as 8h00 e as 10h00 e saída das
17h00 às 19h00, por exemplo), a lei prevê a isenção de horário. Neste caso,
o trabalhador está sempre disponível para a entidade patronal, o que lhe dá
direito a retribuição especial, definida no próprio contrato ou num instru-
mento de regulamentação coletiva de trabalho.
Com este regime, para o qual se exige o acordo escrito do trabalhador, mui-
tas vezes a intenção é dispor efetivamente dele a qualquer momento, mas
outras vezes pretende-se apenas aumentar a sua retribuição, sendo pouco
utilizada a sua disponibilidade para além de um horário delimitado. O traba-
lhador mantém o direito a gozar os dias de descanso e feriados, bem como
o descanso diário já referido (em regra, mínimo de 11 horas entre 2 dias de
trabalho).
Modalidades
De acordo com a lei, a isenção pode compreender as seguintes modalidades:
—— inexistência de limites máximos para os períodos de trabalho. Por exem-
plo, em caso de necessidade, em vez de trabalhar 8 horas, como os cole-
gas, está de serviço 9 ou 10 horas, sem que isso lhe seja pago como traba-
lho suplementar;
—— alargamento do período normal de trabalho diário ou semanal. Por exem-
plo, fica desde logo definido que, em vez de 40 horas, trabalha 45 horas
por semana;
85
A A leis do trabalho
Retribuição
O valor do acréscimo nunca poderá ser inferior à remuneração corres-
pondente a uma hora de trabalho suplementar por dia (veja o título Retri-
buição das horas-extra, na página 94). Quando o regime de isenção defina
um período normal de trabalho diferente do habitualmente praticado na
empresa, o acréscimo corresponderá, no mínimo, à retribuição de duas
horas de trabalho suplementar por semana.
Para quem
A isenção de horário só é uma possibilidade para os trabalhadores que:
—— ocupem cargos de administração, de direção, de confiança, de fiscaliza-
ção ou de apoio aos titulares desses cargos;
—— executem tarefas que, pela sua natureza, tenham frequentemente de ser
efetuadas fora do horário normal de trabalho. Por exemplo, alguém que
instala programas informáticos nos computadores dos colegas, aprovei-
tando a ausência destes;
—— exerçam atividade fora das instalações da empresa com uma certa regula-
ridade, sem controlo imediato da hierarquia (camionistas, por exemplo),
incluindo o teletrabalho.
86
A Elementos essenciais do contrato
Estes turnos não podem ter uma duração superior aos limites máximos dos
períodos normais de trabalho na empresa. A troca de turnos só pode acon-
tecer após o descanso semanal. Nos regimes de laboração contínua ou que
assegurem serviços que não possam ser interrompidos (vigilância e segu-
rança, por exemplo) cada trabalhador deve ter, pelo menos, 1 dia de des-
canso em cada 7 dias.
Descanso semanal
Normalmente, o descanso semanal dos trabalhadores é gozado em 2 dias
consecutivos: o dia de descanso obrigatório — em regra, o domingo — e o
complementar, que em princípio é o sábado. A lei estabelece ainda que,
sempre que possível, a entidade patronal deve proporcionar dias coinciden-
tes aos trabalhadores do mesmo agregado familiar.
87
A A leis do trabalho
Adaptabilidade
Em regra, não é possível trabalhar mais de 40 horas semanais e 8 horas
diárias. No entanto, para permitir que, de acordo com as oscilações de ati-
vidade, os trabalhadores prestem mais serviço numas alturas e menos nou-
tras, o período normal de trabalho pode ser definido em termos médios.
Trata-se do regime que a lei designa como adaptabilidade.
Acordo individual
A lei admite também a adaptabilidade individual: a empresa e o trabalhador
definem o período normal em termos médios. Este acordo pode prever um
aumento diário até 2 horas, com o limite semanal de 50 horas, sem contar
com o trabalho suplementar motivado por força maior.
Este acordo pode ser celebrado a partir de uma proposta por escrito da
empresa. Se, no prazo de 14 dias a partir do momento em que dela tem
conhecimento, o trabalhador nada disser, pressupõe-se que a aceita.
88
A Elementos essenciais do contrato
Regras comuns
Nestes regimes de adaptabilidade, o período tido em conta para apurar a
duração média do trabalho é, em princípio, o que constar do instrumento de
regulamentação coletiva aplicável. Porém, não pode ser superior a 12 meses.
Não havendo instrumento a defini-lo, serve de referência cada período de
4 meses, podendo passar a 6 meses em alguns casos, como, por exemplo:
—— trabalhador que seja familiar do empregador ou ocupe um cargo de admi-
nistração, direção ou tenha poder de decisão autónomo;
—— atividade que implique afastamento da residência do trabalhador ou
entre vários locais de trabalho;
—— atividade de segurança e vigilância permanente de pessoas ou bens, como
guarda, porteiro ou trabalhador de empresa especializada neste setor;
—— atividades que exijam continuidade do serviço, como as desenvolvidas em
hospitais e transportes de ambulância, prisões, instituições residenciais
onde se preste assistência e cuidados de saúde (a idosos ou jovens, por
exemplo), portos e aeroportos, imprensa, rádio e televisão, telecomuni-
cações, bombeiros e proteção civil, gás, água e eletricidade, recolha de
lixo, indústrias cujo processo de produção não possa ser interrompido,
agricultura, transportes urbanos;
—— acréscimo previsível de atividade, nomeadamente na agricultura, turismo
e serviços postais;
—— ter ocorrido um acidente ou haver risco de acontecer.
Banco de horas
Através do banco de horas, a carga horária do trabalhador varia em fun-
ção do volume de trabalho: mais tempo nos períodos atarefados e menos
noutros. A compensação também pode ser feita em dinheiro ou por alar-
gamento do período de férias (embora, neste caso, a lei não esclareça até
quantos dias por ano). Para que isto seja possível, é necessário um acordo
da empresa com a maioria dos trabalhadores.
89
A A leis do trabalho
Por referendo
Tudo começa pela apresentação, pelo empregador, de um projeto em que
indica a quem se aplica, durante quanto tempo (máximo de 4 anos) e a
forma de compensação do trabalho prestado em acréscimo: redução equi-
valente noutro momento, aumento do período de férias ou pagamento em
dinheiro. O projeto é publicitado, através da afixação no local de trabalho e
da comunicação aos representantes dos trabalhadores e à Autoridade para
as Condições do Trabalho (ACT), com uma antecedência mínima de 20 dias
em relação à data do referendo. Também é este o prazo para o empregador
efetuar a convocatória. Além da divulgação com a data, hora e local junto
dos trabalhadores e seus representantes (comissão de trabalhadores, sin-
dicatos), tem de ser enviada uma cópia da convocatória para a ACT. Não
havendo órgãos representativos dos trabalhadores envolvidos, estes podem
criar uma comissão para o efeito, com o máximo de 3 ou 5 membros, con-
soante estejam abrangidos até 5 ou mais trabalhadores.
90
A Elementos essenciais do contrato
Horário concentrado
Outra possibilidade é a concentração do trabalho em menos dias. Através
de acordo entre empresa e trabalhador ou de um instrumento de regula-
mentação coletiva, pode ser definido um aumento até 4 horas diárias, para
concentrar o trabalho semanal num máximo de 4 dias. O instrumento cole-
tivo pode prever, também, que o trabalho seja concentrado num máximo de
3 dias, seguidos de um mínimo de 2 dias de descanso. No entanto, a duração
do trabalho semanal deve ser respeitada, em média, num período de refe-
rência de 45 dias.
Feriados
Nos feriados nacionais, têm de encerrar ou suspender a laboração todas as
atividades que não sejam permitidas ao domingo. São de cumprimento obri-
gatório os seguintes:
—— 1 de janeiro;
—— Sexta-feira Santa (pode ser transferido para outro dia com significado
local no período da Páscoa);
—— Domingo de Páscoa;
—— 25 de abril;
—— 1 de maio;
—— 10 de junho;
—— Corpo de Deus (feriado móvel);
—— 15 de agosto;
—— 5 de outubro;
—— 1 de novembro;
—— 1, 8 e 25 de dezembro.
Existem, ainda, feriados facultativos, que podem ser concedidos ou não pelo
empregador. É o caso da terça-feira de Carnaval e do feriado municipal da
91
A A leis do trabalho
O trabalhador que cumpra o seu horário normal num feriado, por se tratar
de uma empresa que não está obrigada a encerrar, tem direito a um des-
canso compensatório correspondente a metade das horas trabalhadas ou a
acréscimo de 50% na retribuição, à escolha da empresa.
Trabalho suplementar
O trabalho suplementar é todo aquele que decorre fora do horário normal
ou, nos casos de isenção de horário, daquilo que tiver ficado definido no
acordo. A maioria dos trabalhadores tem de prestar trabalho suplemen-
tar quando a entidade patronal lho solicita. Só não será assim se expressa-
mente solicitar a dispensa, invocando motivos atendíveis, que poderão ser
92
A Elementos essenciais do contrato
Motivos e duração
O trabalho suplementar só é possível quando haja acréscimo provisório de
serviço que não justifique a admissão de um novo empregado, mesmo que
contratado a termo, havendo motivo de força maior ou quando se torne
indispensável para prevenir ou reparar prejuízos graves para a empresa.
93
A A leis do trabalho
No trabalho a tempo parcial, o limite é de 80 horas por ano ou, sendo supe-
rior, o correspondente à proporção entre o período normal de trabalho e o
de um trabalhador a tempo completo numa situação equiparável. Havendo
acordo escrito entre a empresa e o trabalhador, o limite máximo pode ir até
130 horas anuais. Através de um instrumento de regulamentação coletiva,
pode subir para 200 horas.
As exceções à regra
Os únicos casos que justificam o desrespeito por estes limites são os de força
maior e aqueles que sejam indispensáveis para prevenir ou reparar prejuízos
graves ou para assegurar a viabilidade da empresa. Apenas estão condiciona-
dos pelo limite semanal de 48 horas.
94
A Elementos essenciais do contrato
Registo em dia
Cabe à empresa manter um registo do trabalho suplementar, onde são ano-
tadas as horas de início e termo, assinado pelo trabalhador. Deste registo
deve constar a indicação expressa do fundamento da prestação de trabalho
suplementar, bem como o período de descanso compensatório gozado, se a
ele houver lugar. Caso isto não seja feito, o trabalhador fica com direito, por
cada dia em que tenha trabalhado fora do horário, à retribuição correspon-
dente ao valor de duas horas de trabalho suplementar.
Descanso compensatório
As horas suplementares que impeçam o descanso de 11 horas entre 2 dias
de trabalho conferem ao trabalhador o direito a uma pausa correspondente
ao período de descanso em falta, a gozar num dos 3 dias úteis seguintes.
Quando o trabalho suplementar seja realizado no dia de descanso obrigató-
rio, deve descansar num dos 3 dias úteis seguintes. Ou seja, se, por exem-
plo, trabalhar no domingo, descansa na segunda, terça ou quarta-feira.
O descanso compensatório é marcado por acordo entre o trabalhador e a
empresa ou, na falta de acordo, por esta.
Trabalho noturno
O trabalhador noturno é aquele que presta, pelo menos, uma média de
3 horas diárias no período da noite ao longo de 1 ano. O início e o termo
95
A A leis do trabalho
Restrições
Regra geral, a duração do trabalho diário varia entre as 7 e as 11 horas. Mas
o trabalhador noturno não deve trabalhar mais de 8 horas num período de
24 horas se estiver sujeito a riscos especiais ou a tensão física ou mental
significativa. É assim quando se dedica a atividades:
—— monótonas, repetitivas, cadenciadas ou isoladas;
—— em obra de construção, demolição, escavação, movimentação de terras
ou intervenção em túnel, ferrovia ou rodovia sem interrupção de tráfego,
ou com risco de queda de altura ou soterramento;
—— ligadas à indústria extrativa;
—— de fabrico, transporte ou utilização de explosivos ou pirotecnia;
—— que envolvam contacto com corrente elétrica de média ou alta tensão;
—— de produção ou transporte de gases comprimidos, liquefeitos ou dissolvi-
dos ou com utilização significativa dos mesmos;
—— particularmente penosas, perigosas, insalubres ou tóxicas.
Saúde e segurança
Antes de o colocar no horário noturno, a empresa deve assegurar que o tra-
balhador é submetido a um exame médico gratuito e sigiloso, que avalie o
seu estado de saúde. Tal exame deverá repetir-se, pelo menos, anualmente.
Cabe-lhe, também, avaliar os riscos inerentes à atividade e a sua compati-
bilidade com a condição física e psíquica do trabalhador, antes do início da
atividade e, depois, de 6 em 6 meses. Caso seja detetado algum problema
de saúde relacionado com o facto de o trabalho ser prestado à noite, deverá
transferi-lo para um horário diurno.
96
A Elementos essenciais do contrato
Retribuição
O trabalho noturno justifica um acréscimo de remuneração de 25% relati-
vamente ao equivalente diurno. Assim, se duas pessoas fizerem o mesmo
trabalho, na mesma empresa, mas uma o fizer de dia e a outra à noite, esta
receberá mais 25% do que a primeira. No entanto, a menos que se encontre
previsto num instrumento de regulamentação coletiva, o acréscimo não se
verifica em atividades que sejam exercidas predominante ou exclusivamente
no período noturno, como espetáculos e diversões públicas, ou aquelas
que, pela sua natureza, devam funcionar nesse período, nomeadamente em
empreendimentos turísticos, farmácias e estabelecimentos de restauração
e bebidas. Também não haverá compensação quando a retribuição tenha
sido determinada por acordo entre as partes, tendo em conta o facto de o
trabalho ser prestado em período noturno.
Local de trabalho
Uma pessoa pode aceitar determinada oferta de emprego porque fica perto
da sua residência e recusar outra, porventura mais aliciante quanto a outros
aspetos, para não ficar longe de casa. Em muitos casos, a situação geográfica
assume um papel importante na decisão de celebrar o contrato de trabalho.
Eventuais mudanças podem ocorrer por iniciativa de qualquer das partes,
mas estão sujeitas a algumas regras.
97
A A leis do trabalho
Transferência permanente
Por regra, o trabalhador só poderá ser transferido se estiver de acordo.
No entanto, existem exceções a este princípio:
—— quando o interesse da empresa o exija e tal não implicar prejuízo sério
para o trabalhador;
—— tratar-se de uma mudança, total ou parcial, do estabelecimento onde é
prestado o serviço.
Em que consiste o prejuízo sério referido na lei? Na prática, não pode abran-
ger todo e qualquer dano, mas somente aquele que obrigue o trabalhador a
98
A Elementos essenciais do contrato
Transferência temporária
Também esta possibilidade exige a inexistência de prejuízo sério para o tra-
balhador. A mudança deve ser justificada e a sua duração claramente indi-
cada. A regra é que não seja superior a 6 meses, a menos que exigências
imperiosas do funcionamento da empresa determinem uma duração superior.
Aviso e despesas
Concretizando-se a transferência, que, salvo motivo imprevisível, tem de ser
comunicada por escrito ao trabalhador com 30 dias de antecedência (8 dias,
tratando-se de transferência temporária), as despesas que acarretar para o
trabalhador (acréscimo com transportes ou alojamento, por exemplo) são
suportadas pela entidade patronal. Se não houver transferência dos serviços
e, portanto, se mantiver a possibilidade de prestar trabalho no local original,
o trabalhador, desde que prove a existência do tal prejuízo sério, pode recu-
sar a mudança, sem que isso seja motivo para punição disciplinar.
99
A A leis do trabalho
100
A
Capítulo 5
Garantias
do trabalhador
A As leis do trabalho
Questões salariais
Uma das principais obrigações da entidade patronal é o pagamento de retri-
buição como contrapartida pelo trabalho. Aqui se inclui a retribuição-base
e todas as prestações regulares feitas, direta ou indiretamente, em dinheiro
ou em espécie.
O que é a retribuição?
A lei considera retribuição “a prestação a que, nos termos do contrato, das
normas que o regem ou dos usos, o trabalhador tem direito em contrapartida
do seu trabalho”.
Até prova em contrário, presume-se que é retribuição toda e qualquer pres-
tação regular. Na determinação do seu valor, a empresa deve ter em conta
a quantidade, natureza e qualidade do trabalho, observando o princípio de
que, para trabalho igual, salário igual (veja o título da página 41).
Retribuição-base e diuturnidades
Do que é pago ao trabalhador, merecem especial atenção a retribuição-base
e as diuturnidades tidas em conta no cálculo de indemnizações (por exem-
plo, devido a despedimento ilícito):
—— a retribuição-base é definida pela lei como “a prestação correspondente à
atividade do trabalhador no período normal de trabalho”;
102
A Garantias do trabalhador
Rendimentos excluídos
Não são considerados retribuição os montantes recebidos devido a deslo-
cações, mudança para novas instalações ou despesas feitas ao serviço da
empresa — ajudas de custo, abonos de viagem, despesas de transporte,
abonos de instalação e outras equivalentes. No entanto, se as deslocações
ou despesas forem frequentes, pode ser considerada como tal a parte que
exceda os montantes habituais e esteja prevista no contrato ou seja usual
integrar a retribuição do trabalhador. O mesmo se aplica ao abono para
falhas e ao subsídio de refeição: só conta como retribuição a parte que exce-
der as despesas normais de alimentação ou o necessário para fazer face a
eventuais discrepâncias nas contas, por exemplo. Em caso de conflito, terão
de ser os tribunais ou, eventualmente, a mediação laboral a decidir se deter-
minado montante recebido pelo trabalhador faz parte da sua retribuição.
103
A As leis do trabalho
Pagamento
A retribuição pode ser fixa, variável ou mista (uma parte variável e outra
fixa) e é paga em dinheiro, à semana, quinzena ou mês. Porém, é possível
que uma parte do salário, que não pode exceder a que é paga em dinheiro,
o seja em prestações de outra natureza (alimentação, transportes, habita-
ção, vestuário, educação dos filhos, etc.). O pagamento em dinheiro é feito,
habitualmente, através de transferência para a conta bancária do trabalha-
dor e, mesmo que o seja de outra forma, deve estar à sua disposição na data
do vencimento, ou seja, na que ficou definida (por acordo ou decisão da
entidade patronal) ou no dia útil anterior.
Caso o salário seja pago presencialmente, isso deve acontecer no local onde
é prestado o serviço. Se for combinado outro, o tempo que o trabalhador
levar a deslocar-se conta como tempo de trabalho. O pagamento deve ser
efetuado num dia útil, durante o período normal de trabalho ou imediata-
mente a seguir.
Redução do salário
Por princípio, a entidade patronal não pode reduzir a retribuição do traba-
lhador. Cortes no salário-base só em situações excecionais que a obriguem a
suspender ou reduzir a atividade. Mas o que acontece se, numa situação que
não seja de crise, cortar noutro tipo de ganhos? Será que pode retirar-lhe
104
A Garantias do trabalhador
Cumprir o acordo
As respostas a estas perguntas têm de ser dadas pelos tribunais ou pela
mediação laboral, mas nenhuma quantia referida no contrato de trabalho
pode sofrer redução. O mesmo se aplica às que estiveram na base da acei-
tação do trabalhador. Se este assinou o contrato porque lhe foi prometida a
utilização de uma viatura e o pagamento da gasolina enquanto estivesse ao
serviço da empresa, não pode a entidade patronal retirar-lhe estas regalias,
argumentando que não se tratava de verdadeira retribuição. Por outro lado,
em princípio, a entidade patronal pode deixar de pagar as quantias referen-
tes a isenção de horário, se a isenção deixar de existir, por já não se justi-
ficar aquele pagamento adicional. Mas mesmo aqui pode haver exceções,
dependendo do que esteja estipulado no contrato ou tenha sido combinado
entre as partes. Outra possibilidade são as alterações relativas a suplementos
específicos da atividade, como o subsídio de risco ou de turno. Mudando a
atividade, estes suplementos podem deixar de ser pagos.
Substituição e exceções
Em geral, embora entendam que as entidades patronais não estão obrigadas
a suportar indefinidamente alguns tipos de retribuição, como a utilização
de automóvel, o pagamento de gasolina e o uso de telemóveis ou de car-
tão de crédito, os tribunais sublinham que não pode haver uma quebra no
montante global da retribuição. Isto deverá significar que, quando muito,
é admissível a substituição de um tipo de remuneração por outro.
105
A As leis do trabalho
Limites às deduções
As deduções estão sujeitas a limites. Excetuando o primeiro exemplo apon-
tado no título anterior, e que analisamos com maior detalhe no próximo
parágrafo, os descontos não podem, no total, exceder 1/6 da retribuição.
Os preços de refeições ou de abastecimentos no âmbito de cooperativas de
consumo podem, mediante acordo entre estas e os trabalhadores, ser des-
contados numa proporção superior.
106
A Garantias do trabalhador
Quem trabalhe a tempo completo e receba uma quantia inferior deverá apre-
sentar a situação à Autoridade para as Condições do Trabalho ou, em último
caso, aos tribunais.
Pagamento em espécie
Parte do salário mínimo pode ser paga em espécie, nomeadamente atra-
vés de alimentação e alojamento. Mas o trabalhador tem direito a receber,
pelo menos, metade da retribuição em dinheiro. Vejamos qual a proporção
máxima que pode ser preenchida pelo pagamento em espécie, consoante
aquilo que é oferecido:
—— 35%, sendo fornecida alimentação completa;
—— 15%, se for fornecida apenas uma refeição (almoço ou jantar);
—— 12%, para o alojamento;
—— 50%, para o total das prestações em espécie.
107
A As leis do trabalho
Reduções possíveis
O salário mínimo nacional apenas pode ser reduzido quando remunere
trabalhadores em início de carreira ou que tenham capacidades reduzidas.
108
A Garantias do trabalhador
Alteração da categoria
profissional ou de funções
A entidade patronal pode reorganizar os serviços da forma que entender,
mas não lhe é permitido, por sua iniciativa, baixar a retribuição ou a cate-
goria profissional dos seus trabalhadores. Estes só podem ser colocados
numa categoria inferior por necessidade premente própria ou da empresa,
desde que seja por eles aceite como tal. Se isso implicar diminuição da
retribuição, terá de haver autorização da Autoridade para as Condições do
Trabalho.
109
A As leis do trabalho
Direito a indemnização
O desrespeito por estas regras pode ter consequências para o emprega-
dor. Por exemplo, numa decisão de março de 2018, o Supremo Tribunal de
110
A Garantias do trabalhador
111
A As leis do trabalho
ocupação efetiva a (ilegítima) solução para o seu problema. Nada lhe dando
para fazer, ignorando-o, procura desgastá-lo ao ponto de ser ele próprio a
tomar a decisão, libertando-a do pagamento de uma indemnização. Porém,
nesses casos o trabalhador tem mesmo razões para pedir a rescisão com
justa causa e ser indemnizado.
Transmissão da empresa
ou estabelecimento
O contrato de trabalho pode sofrer alterações quando a entidade patronal
muda de mãos. Se essa hipótese sempre existiu, as possibilidades de ocorrer
acentuam-se com as fusões de grupos empresariais, a aquisição de umas
empresas por outras, o fortalecimento das potências financeiras, enfim, com
a globalização, que tem provocado um decréscimo do número de empresas
em certos ramos de atividade. No meio das mudanças estão os trabalhado-
res, cuja posição se encontra protegida pela lei.
112
A Garantias do trabalhador
Assegurar a representação
Se não houver organismos representantes dos trabalhadores abrangidos
pela transmissão, estes podem constituir uma comissão própria para o
efeito, com o máximo de 3 ou 5 membros, consoante estejam abrangidos
até 5 ou mais trabalhadores. Se a empresa ou o estabelecimento mantive-
rem a autonomia após a transmissão, os representantes dos trabalhadores
afetados mantêm-se em funções. Caso sejam incorporados na empresa de
quem adquire e nesta não houver qualquer estrutura de representação dos
113
A As leis do trabalho
Oposição à transmissão
Os trabalhadores, individualmente ou através dos seus órgãos representati-
vos, podem opor-se à transmissão da posição do empregador no contrato de
trabalho quando isso acarrete o risco de causar-lhes prejuízo sério, nomea-
damente por manifesta falta de solvabilidade ou dificuldades financeiras de
quem adquire a empresa ou por não confiarem na política de organização
do trabalho do novo proprietário. Têm 5 dias úteis, a contar do prazo para a
designação da comissão representativa (veja também o título Comissão de tra-
balhadores, na página 177), se esta não tiver sido constituída, ou após o acordo
ou o termo da consulta acima referido, para o fazer, por escrito, justificando
a sua oposição. Esta impede a transmissão da posição do empregador no seu
contrato de trabalho, mantendo-se o vínculo a quem transmitiu a empresa.
Possibilidades de rescisão
Apesar da segurança legal, que impede o despedimento dos trabalhadores
ligados ao estabelecimento, se os novos patrões quiserem dispensá-los irão
procurar outra saída, como rescisão por mútuo acordo, pré-reforma, reforma
antecipada ou trabalho a tempo parcial, por exemplo. Os trabalhadores não
estão obrigados a aceitar essas propostas, mas, se entenderem que alguma lhes
é benéfica, são livres de fazê-lo. Além disso, o próprio trabalhador pode estar
interessado em rescindir o contrato. Neste caso, as alternativas são rescindir
com aviso prévio ou negociar com a entidade patronal o pagamento de uma
indemnização, se esta também não estiver empenhada na sua permanência.
Cedência ocasional
A lei admite que, provisoriamente, uma entidade ceda trabalhadores a outra.
Quem os recebe passa a deter o poder de direção, mas o vínculo contratual
114
A Garantias do trabalhador
Requisitos
Para que a cedência seja possível, é necessário que se verifiquem todas as
condições seguintes:
—— o trabalhador cedido estar vinculado à entidade que o cede através de um
contrato sem termo;
—— a cedência ocorrer no quadro de uma colaboração entre sociedades coli-
gadas, de uma relação societária de participações recíprocas, de domínio
ou de grupo, ou entre empregadores que tenham estruturas organizativas
comuns;
—— o trabalhador concordar com a cedência;
—— a duração não exceder 1 ano, podendo ser renovada por períodos iguais
até ao limite máximo de 5 anos.
Formalidades
A cedência é formalizada num documento assinado pelos representantes
das duas entidades envolvidas (a que cede o trabalhador e a que o recebe),
do qual deve constar a identificação do trabalhador, a atividade que irá exe-
cutar, a data de início da cedência e a sua duração. Por último, o documento
tem de conter uma declaração de concordância do trabalhador, pelo que é
conveniente que este receba uma cópia e tenha conhecimento integral dos
moldes em que a cedência irá decorrer.
Ligação contratual
Já foi dito que, apesar de manter o vínculo contratual com a empresa que o
cede, o trabalhador deve obediência a quem o recebe. E como é com as res-
tantes condições de trabalho? A lei esclarece: quanto à forma de trabalhar,
115
A As leis do trabalho
Férias
O trabalho provoca desgaste físico e mental, que se agrava com o decorrer
do tempo. Para retemperar forças, o trabalhador precisa de descansar. Por
isso, tem direito a 1 ou 2 dias de repouso semanal. Mesmo assim, é inevi-
tável que, ao fim de alguns meses, seja necessário um período mais longo.
Daí que o direito a férias remuneradas se encontre previsto na Constitui-
ção da República Portuguesa. Para lhe “proporcionar a recuperação física
e psíquica, condições de disponibilidade pessoal, integração na vida familiar
e participação social e cultural”, o trabalhador tem direito a um período
de férias remuneradas que respeita ao trabalho prestado no ano anterior
e não depende da assiduidade. Significa isto que tem direito a gozar férias
em 2020 pelo trabalho realizado em 2019, mesmo que neste ano tenha
faltado com frequência. O direito às férias é, em regra, ganho no dia 1 de
janeiro.
116
A Garantias do trabalhador
Direito irrenunciável
O direito a férias é irrenunciável, pois só excecionalmente pode ser substi-
tuído por uma compensação de ordem financeira. A entidade patronal não
pode pedir ao trabalhador para não gozar férias, dando-lhe em troca uma
avultada soma de dinheiro, ainda que este esteja de acordo. Nem sequer
pode reduzir-lhe os dias de férias devido à quebra de assiduidade, mesmo
que tenham sido dadas muitas faltas injustificadas. Nesta situação, a entidade
patronal tem outros meios para punir o trabalhador: desconto no salário e
aplicação de uma sanção disciplinar, que, no extremo, será o despedimento.
Proibido trabalhar
As férias visam proporcionar descanso ao trabalhador. Este está proibido
de, enquanto durarem, exercer outra atividade remunerada, a menos que
já a exercesse em acumulação ou a entidade patronal esteja de acordo.
Se não cumprir estes requisitos, a empresa poderá instaurar-lhe um proce-
dimento disciplinar e, além disso, reaver a retribuição correspondente às
férias e o respetivo subsídio (metade dessa quantia reverte para o Instituto
de Gestão Financeira da Segurança Social). Mas não poderá descontar-lhe
mais do que 1/6 do salário, durante o tempo necessário para perfazer o
total.
117
A As leis do trabalho
No ano de contratação
Independentemente do tipo de contrato, os trabalhadores têm direito a
2 dias úteis de férias por cada mês de trabalho completo. No entanto, exis-
tem variantes quanto ao momento em que podem gozá-las.
No ano da cessação
Quando o contrato termina, o trabalhador recebe a retribuição e o sub-
sídio correspondentes às férias vencidas e não gozadas, ou seja, aquelas
a que ganhou direito no dia 1 de janeiro, pelo trabalho efetuado no ano
anterior, e, ainda, às proporcionais ao tempo de serviço no ano em curso.
Por exemplo, se o contrato terminar no final de junho, tem direito, por
esses 6 meses de trabalho, a metade da retribuição correspondente ao
mês de férias e a metade do subsídio de férias. Caso ainda não tenha
gozado férias nesse ano, recebe ainda um mês de férias e um mês de
subsídio de férias, independentemente da razão que levou à cessação do
contrato. Este período é considerado para efeitos de antiguidade.
118
A Garantias do trabalhador
Marcar as datas
A marcação das férias deve ser feita por acordo entre a empresa e o traba-
lhador. O mapa de férias, com os períodos de ausência de cada trabalha-
dor, tem de ser elaborado até 15 de abril e afixado nos locais de trabalho
entre esta data e 31 de outubro.
119
A As leis do trabalho
entre 1 de maio e 31 de outubro. Outras datas terão de ser aceites pelos repre-
sentantes dos trabalhadores ou estar previstas em algum instrumento cole-
tivo de trabalho.
Definir prioridades
Se houver um elevado número de trabalhadores a querer gozar férias no
mesmo período, deve procurar repartir-se por todos. Por exemplo, que-
rendo dois trabalhadores ausentar-se durante o mês de agosto, propor-se
que cada um goze 15 dias. Há que ter em conta, também, o momento em que
gozaram férias nos 2 anos anteriores e, eventualmente, alternar.
A menos que cause grave prejuízo à entidade patronal, devem gozar as férias
simultaneamente os cônjuges que trabalhem na mesma empresa, tal como
as pessoas que vivam em união de facto ou economia comum há mais de
2 anos.
120
A Garantias do trabalhador
Pela empresa
Depois de marcadas, as férias podem ser alteradas ou interrompidas pela
entidade patronal, mas apenas devido a “exigências imperiosas do funciona-
mento da empresa”. Nesse caso, o trabalhador tem direito a ser indemni-
zado dos prejuízos que sofra por não gozar integralmente as férias nas datas
determinadas. Sendo necessário, terá de comprovar os danos.
Esta possibilidade não pode retirar ao trabalhador, parcial ou totalmente,
o direito de gozar férias. Se a entidade patronal obstar a esse gozo (veja na
caixa abaixo em que consiste), o trabalhador receberá, como indemnização,
o triplo da retribuição correspondente ao período em falta. Deve, ainda,
gozar os dias que faltam até 30 de abril do ano seguinte.
121
A As leis do trabalho
122
A
Capítulo 6
Assiduidade: faltas,
parentalidade e greve
A As leis do trabalho
Faltas injustificadas
Por princípio, a ausência do trabalhador durante o período normal de
trabalho a que está obrigado constitui uma falta injustificada. Aí se incluem
as ausências que não estão previstas na lei como justificadas, mas também
aquelas que, apesar de originadas por um destes motivos, não tenham sido
alvo de justificação e comunicação pelo trabalhador com a antecedência
exigida por lei ou a entidade patronal não tenha, com razão, aceitado o meio
de prova.
Ausência previsível
Tratando-se de faltas previsíveis, a lei exige que o trabalhador avise a
entidade patronal, pelo menos, 5 dias antes de se ausentar. No entanto,
algumas situações justificam que este vá além do que a lei obriga, comu-
nicando-as com maior antecedência. Por exemplo, se marcou o casa-
mento meses antes da data da cerimónia, pode e deve avisá-la mais
cedo.
124
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
Ausência imprevisível
O aviso prévio é impossível tratando-se de faltas imprevistas, como as pro-
vocadas por acidente ou doença. Não podendo ser exigida a comunicação
antecipada, a lei obriga o trabalhador a fazê-lo “logo que possível”. O conceito
apresenta-se um pouco vago e tem gerado discussão, dependendo a sua ava-
liação das características próprias de cada caso concreto.
Atraso na comunicação
Havendo atraso considerável na comunicação das faltas previsíveis e/ou na
sua justificação (devidamente documentada, se necessário), os tribunais não
chegam sempre à mesma conclusão. Já têm entendido que se está perante
uma infração grave, capaz de motivar o despedimento, mas alguns, embora
admitindo a instauração de um processo disciplinar, consideraram exces-
siva a aplicação desta pena, a mais severa prevista na lei. Defenderam que
só deverá ser aplicada quando nenhuma das outras sanções seja suficiente.
Consequências da ausência
Vejamos quais as consequências das faltas injustificadas na situação profis-
sional do trabalhador.
Perda de salário
Em primeiro lugar, verifica-se perda do salário correspondente aos dias de
ausência, os quais também não contam para efeitos de antiguidade. Se as
faltas injustificadas ocorrerem imediatamente antes ou depois de feriados
ou dias de descanso, considera-se que o trabalhador praticou uma infra-
ção grave (veja o título Sanções disciplinares, na página 168). Neste caso,
o período de ausência a considerar para efeitos de perda de retribuição
abrange os dias de descanso ou feriados imediatamente anteriores ou pos-
teriores aos dias de falta.
125
A As leis do trabalho
Procedimento disciplinar
Quanto a consequências mais graves, dependerão de vários fatores. As faltas
injustificadas podem constituir infrações disciplinares e, como tal, originar
a instauração de um procedimento disciplinar, mas nem sempre poderão
estar na base de um despedimento (veja, abaixo, a caixa Justa causa de
despedimento?). Não pode, pois, uma situação de menor gravidade funda-
mentar um despedimento com justa causa.
Atrasos
Caso o trabalhador chegue mais de 60 minutos atrasado, sem justificação,
a empresa pode recusar o trabalho durante todo o dia, mandando-o para
casa. Se o atraso for superior a 30 minutos, pode fazê-lo relativamente a
meio dia.
126
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
Faltas justificadas
São as ausências consideradas aceitáveis, em que o trabalhador não incorre
em infração disciplinar. Os motivos que justificam uma falta estão previs-
tos na lei. Em princípio, nenhum outro pode ser alegado pelo trabalhador.
No entanto, a lei ressalva que, desde que a entidade patronal a autorize ou
venha posteriormente a aceitá-la, a falta é considerada justificada, qualquer
que seja o motivo.
127
A As leis do trabalho
Casamento
Quem casa tem direito a uma lua-de-mel de 15 dias seguidos, sem perda de
regalias. A entidade patronal paga o salário referente a esses dias, os quais
contam como dias de trabalho, para todos os efeitos (antiguidade, Segurança
Social).
A lei exige que o trabalhador avise a entidade patronal com uma antecedên-
cia mínima de 5 dias. Como se trata, na maioria dos casos, de faltas previstas
muito tempo antes, deve haver uma antecipação no aviso, para não pôr em
causa o regular funcionamento da empresa. Além disso, em nada sairá pre-
judicado se disser aos seus superiores, com 1 ou 2 meses de avanço, que vai
faltar num determinado período devido ao casamento.
128
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
SIM NÃO
129
A As leis do trabalho
Morte de um familiar
O falecimento de um familiar chegado é um dos motivos que justificam as
faltas ao trabalho. O período de ausência varia com o grau de parentesco
entre o falecido e o trabalhador ou o seu cônjuge (ou quem com ele viva em
união de facto). A ideia terá sido a de ter em conta, no primeiro caso, o sofri-
mento do trabalhador e, no segundo, sobretudo o apoio de que necessita
o cônjuge ou companheiro pela perda de alguém que lhe era próximo. Tal
como acontece com os cônjuges, a morte de alguém que vivesse em união
de facto com o trabalhador dá-lhe o direito a faltar 5 dias consecutivos. E o
mesmo se aplica às pessoas com quem vive em economia comum. As faltas
dadas por este motivo não podem originar redução salarial.
130
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
DECLARAÇÃO
O Profe
ssor
131
A As leis do trabalho
Doença e acidente
Quando adoece ou sofre um acidente, o trabalhador fica indisponível para
desempenhar as suas funções, mas as faltas são justificadas se avisar o
empregador logo que possível. Estas faltas podem implicar perda da retribu-
ição, desde que o trabalhador tenha direito a receber subsídio da Segurança
Social. Além da doença ou acidente, a lei prevê a possibilidade de a traba-
lhadora faltar, nos mesmos termos, quando recorre a técnicas de procriação
médica assistida.
Prazos e comunicações
No prazo de 48 horas a contar da receção do requerimento, a Segurança
Social:
—— convoca o trabalhador para se apresentar à comissão, num dos 3 dias
úteis seguintes, indicando-lhe dia, hora e local;
—— comunica à entidade patronal que o trabalhador foi convocado.
132
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
Impossibilidade de deslocação
Caso não consiga apresentar-se por não poder sair de casa, o trabalhador
deve informar a Segurança Social até à data do exame ou, se não for pos-
sível, nas 24 horas seguintes. Não comparecendo, é marcado novo exame,
preferencialmente para as 48 horas seguintes e, se necessário, em sua casa.
O empregador será avisado do facto ou da circunstância de não ser possível
realizar a avaliação do estado do doente. Nas 24 horas após a avaliação da
CVIT, a Segurança Social comunica ao trabalhador e à empresa se aquele se
encontra apto para o trabalho.
133
A As leis do trabalho
sido visto por um profissional de saúde, tudo seja feito oralmente, desde que
a empresa aceite a justificação. Se esta não a aceitar, as faltas serão conside-
radas injustificadas.
Atribuição do subsídio
Não tem direito ao subsídio de doença quem esteja numa situação de pré-re-
forma, receba subsídio de desemprego ou pensão de velhice ou invalidez,
ainda que se encontre a trabalhar. Vejamos, então, quais os requisitos e as
condições da atribuição.
Período de descontos
É necessário que o trabalhador tenha descontado para a Segurança Social
durante, pelo menos, 6 meses, seguidos ou não, incluindo aquele em que se
inicia a incapacidade (se nele tiver havido lugar a descontos). São também
considerados, desde que não sejam simultâneos, os descontos efetuados
noutro regime obrigatório, como a função pública.
Índice de profissionalidade
Só recebe subsídio quem tenha trabalhado, pelo menos, 12 dias durante os
4 meses imediatamente anteriores ao que antecede o da data do início da
incapacidade. Significa isto que quem adoeça no mês de dezembro tem de
ter trabalhado um mínimo de 12 dias entre o início de julho e o fim de outu-
bro. No entanto, contam para este efeito os períodos de licença relacionados
com a maternidade.
134
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
135
A As leis do trabalho
Montante e limites
O montante diário do subsídio não pode ser inferior a 30% do valor diário
do indexante dos apoios sociais (IAS) ou, caso seja mais baixo, ao da remu-
neração de referência (veja a caixa da página anterior).
Permanência em casa
Enquanto durar a baixa, o trabalhador só pode sair de casa para tratamentos
ou, devidamente autorizado pelo médico, entre as 11h00 e as 15h00 e entre
as 18h00 e as 21h00. Esta autorização consta do certificado de incapacidade
temporária que o trabalhador obtém junto dos serviços de saúde.
Se, durante a baixa, sair de casa sem autorização e a infração for detetada
pela Segurança Social, o subsídio é suspenso. A partir do momento em que
receba a comunicação da suspensão, dispõe de um prazo de 5 dias úteis para
136
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
A autorização para
sair de casa durante a
baixa, quando existe,
consta do certificado de
incapacidade temporária
passado pelo médico.
137
A As leis do trabalho
é necessário que estes não tenham sido pagos pela entidade patronal, em vir-
tude de alguma disposição legal ou de um instrumento coletivo de trabalho.
Comprovar a doença
A prova da doença pode ser feita através de uma declaração do estabele-
cimento hospitalar onde tenha estado internado ou recebido tratamento,
do centro de saúde ou por atestado médico. A entidade patronal poderá
requerer à Segurança Social a designação de um médico que confirme a
doença, nos termos já adiantados (veja a página 132).
Idas ao médico
A lei indica as razões que justificam uma falta e não menciona as idas ao
médico, apenas doença ou acidente. Os tribunais já decidiram que também
138
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
Por resolver ficam as faltas dadas para uma consulta de rotina sem auto-
rização da entidade patronal. Em primeiro lugar, sempre que possível,
o trabalhador deve marcar essas consultas para períodos fora do horário
de trabalho. Não sendo possível, as faltas devem, em princípio, ser consi-
deradas justificadas, uma vez que a ida ao médico está sempre, direta ou
indiretamente, relacionada com a possibilidade de aparecimento de uma
doença, quanto mais não seja com um intuito preventivo. No entanto,
não pode admitir-se que o trabalhador se ausente por um período supe-
rior ao necessário. Convém, ainda, avisar que vai faltar, no mínimo,
5 dias antes.
Esta questão tem sido muito discutida nos tribunais portugueses, não
havendo unanimidade quanto ao que se considera justificado. Por exem-
plo, contrariando a decisão da primeira instância, o Tribunal da Relação de
Lisboa, numa decisão de setembro de 2018, entendeu que estavam justifi-
cadas as faltas de um trabalhador que não compareceu ao trabalho durante
perto de 8 meses porque, no decorrer de um processo-crime, foi proibido
pelo tribunal de desempenhar as suas funções enquanto durasse a investiga-
ção. Tendo em conta que o trabalhador não podia desobedecer, considerou
que era ilícito o despedimento de que foi alvo devido a essas faltas.
139
A As leis do trabalho
Casos especiais
Existem ainda outros fundamentos para alguns trabalhadores faltarem:
—— o exercício de funções em associações sindicais e na qualidade de dele-
gado sindical ou de membro da comissão de trabalhadores (veja o título
Direitos e deveres dos membros, na página 183);
—— os bombeiros voluntários podem faltar até 3 dias por mês para exercerem
essa atividade, sem perderem direito ao salário. Caso sejam requisitados
pelo Serviço Nacional de Bombeiros, as faltas também são justificadas,
mas esta entidade compensa-os pela eventual perda de retribuição e
demais regalias;
—— os dadores de sangue podem ausentar-se para esse fim, a menos que
motivos urgentes e inadiáveis impeçam o seu afastamento do local de
trabalho;
—— os candidatos a cargos públicos podem faltar enquanto durar a campa-
nha eleitoral, mas receberão, no máximo, a retribuição correspondente a
140
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
Proteção na parentalidade
Os trabalhadores com filhos podem gozar uma licença quando do seu
nascimento e têm outras regalias, sobretudo durante os primeiros anos de
vida das crianças. Trata-se, pois, de uma matéria que permite um elevado
número de faltas justificadas. Para receber os subsídios da Segurança Social,
é necessário apresentar um mínimo de 6 meses de descontos. Mas há exce-
ções: para a atribuição dos subsídios referentes à licença obrigatoriamente
gozada pela mãe nas primeiras 6 semanas depois do parto e à licença obri-
gatória de 20 dias do pai quando o filho nasce, basta apresentar 1 mês de
descontos nos últimos 6 meses. Na contagem destes períodos, são tidas em
conta, se necessário, as contribuições para outros regimes, como o da fun-
ção pública ou algum regime estrangeiro, desde que nele exista este tipo de
proteção.
141
A As leis do trabalho
Assistência médica
A grávida tem direito a ser dispensada para se deslocar a consultas pré-
-natais, aqui se incluindo a preparação para o parto, as vezes que preci-
sar e durante o tempo necessário. Se for possível, deve ter as consultas
fora do horário de trabalho. A entidade patronal pode exigir um com-
provativo das consultas e da inevitabilidade de decorrerem em horário
laboral. O pai tem direito a faltar três vezes para acompanhar a mãe nas
consultas pré-natais. Nenhuma destas faltas da mãe ou do pai implica
desconto na retribuição.
Licenças especiais
Em caso de risco clínico, para si ou para o bebé, que a impeça de exercer
as suas funções, se o empregador não a ocupar de outra forma, a traba-
lhadora pode gozar uma licença especial enquanto o médico considerar
necessário. Esta possibilidade é independente da licença parental ini-
cial, que veremos de seguida, e não influencia a sua duração. A trabalha-
dora deve avisar a empresa com um mínimo de 10 dias de antecedência,
142
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
a menos que não seja possível, face à urgência da situação. Nesse caso,
avisá-la-á logo que puder. Deve apresentar atestado médico que certifi-
que a necessidade de dispensa e indique a duração previsível da licença.
Enquanto esta durar, tem direito a um subsídio de 100% da remuneração
de referência.
143
A As leis do trabalho
Duração acrescida
Em determinadas circunstâncias, a licença parental prolonga-se sem que
isso afete o valor do subsídio a receber:
—— se nascerem gémeos, a licença dura mais 30 dias por cada bebé além do
primeiro;
—— se, independentemente da causa, a criança continuar internada depois
de decorrido o período normal no pós-parto, a licença pode prolongar-se
até ao máximo de 30 dias (válido com a entrada em vigor do Orçamento
de Estado de 2020);
—— ocorrendo o parto antes das 34 semanas de gestação, o acréscimo da
licença contempla todo o período de internamento do bebé, mais 30 dias
após a alta hospitalar (válido com a entrada em vigor do Orçamento de
Estado de 2020).
Obrigação de informação
Quando a licença for partilhada, a mãe e o pai têm de informar as res-
petivas entidades patronais até 7 dias depois do parto ou de terminar
o internamento do bebé. Tratando-se de um parto prematuro (antes
das 34 semanas de gestação), mas em que não seja necessário prolon-
gar o internamento do bebé, a comunicação terá de ocorrer até 7 dias
depois de terminado o acréscimo de 30 dias à licença. É feita através
de uma declaração conjunta, em que indicam as datas de início e termo
das respetivas licenças. Havendo internamento ou nascimento precoce,
144
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
Caso a licença seja gozada apenas pela mãe, ela informa a empresa,
no mesmo prazo, quanto à duração e ao seu início. Deverá juntar, se for
caso disso, uma declaração do pai, da qual conste que exerce atividade
profissional, mas não vai gozar licença parental inicial.
A mãe pode aproveitar até 30 dias da licença ainda antes do parto. Terá
de informar a entidade patronal desse facto e apresentar-lhe um atestado
médico que indique a data provável para o mesmo, com uma antecedência
mínima de 10 dias ou, em caso de urgência comprovada pelo médico, assim
que possível.
Morte ou incapacidade
Se o progenitor que estava a gozar a licença morrer ou ficar incapacitado
física ou psiquicamente, o outro pode aproveitá-la durante o tempo que
ainda falta. Gozará um mínimo de 30 dias, declarando o facto, logo que pos-
sível, à entidade patronal e, consoante a situação, entregando um atestado
médico comprovativo da incapacidade ou a certidão de óbito. Deve indicar
o período de licença já gozado.
145
A As leis do trabalho
Este direito verifica-se mesmo tratando-se da mãe que não trabalha. Caso
fique incapacitada ou morra nos 120 dias a seguir ao parto, o pai pode gozar
a licença nos termos referidos no parágrafo anterior.
Subsídio
O montante do subsídio varia consoante a opção feita pelo casal:
—— se a licença durar 120 dias, enquanto dela usufruírem, a mãe ou o pai
recebem 100% da sua remuneração de referência;
—— se a licença durar 150 dias e for a mãe a gozá-los na totalidade, receberá
80% da sua remuneração de referência. No entanto, se o pai usar, pelo
menos, 30 dias consecutivos ou dois períodos de 15 dias, já será de 100%
para ambos;
146
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
—— finalmente, se o casal optar por 180 dias, o que significa que o pai gozará,
pelo menos, 30 dias consecutivos ou dois períodos de 15 dias, ambos
receberão 83% da sua remuneração de referência durante os períodos de
licença respetivos.
Interrupção da gravidez
A trabalhadora pode faltar 14 a 30 dias, de acordo com a recomendação do
médico. Tem de informar a empresa e, logo que possível, apresentar um
atestado médico, no qual esteja indicada a duração da licença. O subsídio a
que tem direito é de 100% da remuneração de referência.
Direitos do pai
Além da licença parental inicial (veja a página 143 e seguintes), o pai passa
a ter, obrigatoriamente, uma licença de 20 dias úteis, seguidos ou não, nas
primeiras 6 semanas de vida do filho. Cinco desses dias têm de ser conse-
cutivos e logo a seguir ao parto. Quanto aos restantes, o trabalhador fará
como entender. Existe, também, uma licença opcional: o pai pode usufruir
de mais 5 dias úteis, a gozar em simultâneo com a licença parental da mãe.
Tratando-se do nascimento de gémeos, a cada uma destas licenças acrescen-
tam-se 2 dias por cada filho adicional.
A entidade patronal tem de ser avisada logo que possível, mas, tratando-se
da licença facultativa, é exigida ao trabalhador uma antecedência mínima de
5 dias. Estas faltas dão direito a um subsídio diário no montante de 100% da
remuneração de referência.
Como já foi referido, enquanto durar a gravidez, o pai tem direito a faltar
três vezes para acompanhar a mãe a consultas pré-natais, podendo também
substituí-la na totalidade da licença se ela morrer ou ficar incapacitada. Está,
igualmente, dispensado para a acompanhar a outra ilha se residirem numa
que não disponha de unidade hospitalar (veja também o título Nas ilhas dos
Açores ou da Madeira, na página 145).
147
A As leis do trabalho
Adoção
Quem adote uma criança ou jovem com menos de 15 anos tem direito,
no trabalho, a uma licença semelhante à parental inicial. Isto é, com uma
duração entre 120 e 180 dias, consoante seja adoção individual ou do casal
e dependendo da opção (licença partilhada ou não). Sendo adotada mais
de uma criança em simultâneo, a licença é aumentada em 30 dias por cada
criança além da primeira. Não haverá direito a licença na adoção do filho do
cônjuge ou da pessoa com quem o trabalhador viva em união de facto.
Morte ou incapacidade
Se, durante a licença, o adotante falecer ou ficar incapacitado, o seu cônjuge
ou companheiro poderá gozar o tempo restante ou um mínimo de 14 dias,
ainda que não tenha feito parte do processo, desde que viva com o adotado.
Internamento hospitalar
Havendo internamento hospitalar de quem adota ou é adotado, a licença
pode ser suspensa nos termos referidos para a licença parental (veja a
página 144). O adotante deve comunicar o facto à entidade patronal e apre-
sentar uma declaração do hospital que comprove o internamento.
Subsídio
O montante do subsídio na licença por adoção segue as mesmas regras da
licença parental inicial (veja a página 146).
148
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
149
A As leis do trabalho
Comunicação e inatividade
A licença parental complementar não exige o consentimento da entidade
patronal, mas tem de ser-lhe comunicada por escrito, com uma antecedên-
cia de 30 dias, indicando a modalidade pretendida, o seu início e termo.
Subsídio
Desde que gozada logo a seguir à licença parental inicial, a alargada permite
que o trabalhador receba subsídio durante o máximo de 3 meses. O seu
valor é de 25% da remuneração de referência. Também há lugar ao paga-
mento do subsídio quando a licença complementar suceda à gozada pelo
outro progenitor. Nos restantes casos, não há direito a subsídio.
Licença especial
Depois da licença parental complementar, o trabalhador tem ainda direito
a uma licença especial para assistência a filho, adotado ou enteado, até
ao limite de 2 anos, gozados de seguida ou não. A partir do terceiro filho,
o limite é de 3 anos. O direito a esta licença existe se o outro progenitor tra-
balhar ou estiver impedido de exercer as responsabilidades parentais.
Tendo ambos os pais direito a esta licença, ela pode ser gozada por um ou
pelos dois. Também neste caso a entidade patronal tem de ser avisada com
30 dias de antecedência, com indicação do período em que o trabalhador
pretende gozar a licença. Se nada for dito quanto à duração, considera-se
que será de 6 meses. A licença pode ser prorrogada, desde que a entidade
patronal seja avisada com aquela antecedência, até ser atingido o respetivo
limite. Esta licença não dá direito a receber subsídio da Segurança Social.
150
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
Comprovativos exigíveis
A empresa pode exigir que o trabalhador prove o caráter inadiável e
imprescindível da assistência e, também, que apresente uma declaração
da entidade patronal do outro progenitor, a demonstrar que este tem ati-
vidade profissional e não faltou pelo mesmo motivo ou está impossibili-
tado de prestar assistência. Em caso de hospitalização, pode solicitar uma
declaração de internamento passada pelo estabelecimento hospitalar. Se a
assistência for prestada por um avô que esteja no ativo e tenha de faltar
para o efeito (veja o título Assistência a netos, na página 154), um dos pro-
genitores deverá informar a entidade patronal de que um terceiro prestará
assistência. Isto porque os dias tirados pelo avô são reduzidos no direito do
pai ou da mãe, consoante a opção feita pelo casal. Se, por exemplo, o pai
ainda tiver direito a 12 dias para assistência ao filho e informar a empresa
onde trabalha de que o avô irá prestá-la durante 2 dias, fica apenas com
10 dias.
151
A As leis do trabalho
Esta licença pode ser gozada apenas por um dos progenitores ou por ambos
em períodos sucessivos. A entidade patronal tem de ser avisada com a ante-
cedência de 30 dias, devendo o trabalhador indicar o momento em que pre-
tende iniciar e terminar a licença. Se nada disser, a licença terá a duração
de 6 meses. Caso queira regressar ao trabalho ou prolongar a licença (e o
limite máximo não tiver sido atingido), o trabalhador tem de avisar a enti-
dade patronal 30 dias antes da data em que esta terminaria.
Até o filho completar 1 ano de idade, a mãe e o pai têm direito a uma redu-
ção no horário de 5 horas semanais, desde que ambos trabalhem. Tal
direito pode ser aproveitado por um ou por ambos, mas nunca em simul-
tâneo. No entanto, essas horas são convertidas em dias de férias perdidos.
Se, em resultado desse acerto, o trabalhador deixar de poder gozar o mínimo
de 20 dias úteis a que tem direito, não há desconto no salário.
152
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
Metade do tempo
A menos que seja acordado algo diferente, o trabalho a tempo parcial corres-
ponde a metade do tempo completo, sendo prestado diariamente, de manhã
ou de tarde, ou em 3 dias por semana, consoante o pedido do trabalha-
dor. Este regime pode prolongar-se por 2 anos ou, a partir do terceiro filho,
3 anos. Se o filho tiver deficiência ou doença crónica, o limite é de 4 anos.
Esta opção implica que, em princípio, a retribuição também seja reduzida
a metade.
Flexibilidade
O regime de trabalho com flexibilidade de horário, elaborado pela entidade
patronal, permite ao trabalhador escolher, dentro de certos limites, a hora
de início e termo do dia normal de trabalho. Pode efetuar até 6 horas conse-
cutivas de trabalho e 10 por dia, devendo, em cada 4 semanas, ter cumprido
o período normal de trabalho semanal. Ou seja, se a duração semanal for de
40 horas, em cada 4 semanas terá de cumprir 160 horas de trabalho, ainda
que a carga horária não tenha sido igual em todas.
Comunicação
Para ficar abrangido por um destes regimes, o trabalhador deve solicitá-lo ao
empregador, por escrito, com a antecedência mínima de 30 dias, apresen-
tando os seguintes elementos:
—— prazo previsto, até ao máximo permitido (2, 3 ou 4 anos, consoante o
caso);
—— declaração de que o menor faz parte do seu agregado familiar. Para o tra-
balho a tempo parcial, terá de indicar que o período máximo de duração
deste regime não está esgotado. Neste caso, há ainda a acrescentar que o
outro progenitor tem atividade profissional e não se encontra, no mesmo
período, a trabalhar em tempo parcial;
153
A As leis do trabalho
Assistência a netos
Quando lhes nasce um neto, os trabalhadores podem faltar até 30 dias con-
secutivos desde que sejam satisfeitas três condições:
—— o recém-nascido ser filho de adolescente com idade inferior a 16 anos;
—— o neto viver com o trabalhador;
—— o cônjuge do trabalhador também exercer uma atividade profissional
(podendo cada um gozar parte da licença, se assim o entenderem), estar
física ou psiquicamente impossibilitado de tomar conta do recém-nascido
ou não viver com o neto.
154
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
Direito à greve
Ao longo da vida profissional, os trabalhadores podem sentir necessidade de
manifestar a sua insatisfação, relativamente à conduta da entidade patronal
ou a quaisquer outros factos. A forma de o fazerem pode ser um simples
protesto verbal aos superiores hierárquicos, a apresentação de reclamações
junto de entidades oficiais ou a greve, que é uma das formas de pressão
utilizadas por grupos de trabalhadores para obterem algo que é do interesse
de todos.
Utilizando as palavras do Supremo Tribunal de Justiça, “o direito à greve é
um direito de todos os trabalhadores e o seu exercício não constitui violação do
contrato de trabalho”. Os trabalhadores podem, pois, permitir-se não prestar
trabalho, sem com isso estarem a violar o dever de assiduidade, ainda que
percam a retribuição referente ao período de greve. Não há, todavia, preju-
ízo para a antiguidade.
Formalidades a respeitar
Para que seja convocada uma greve, a lei exige algumas formalidades.
Em primeiro lugar, a iniciativa não pode partir de um trabalhador ou de um
grupo de trabalhadores. Em princípio, a competência para decidir avançar
com a greve é das associações sindicais. Contudo, a lei também admite que
parta de uma assembleia de trabalhadores, através de voto secreto, desde
que na empresa a maioria dos trabalhadores não se encontre filiada em
qualquer associação sindical e a assembleia seja expressamente convocada
para o efeito por 20% ou 200 trabalhadores. A declaração de greve só terá
validade se, na assembleia, participarem mais de 50% dos trabalhadores da
empresa e for aprovada pela maioria dos votantes.
155
A As leis do trabalho
Outra exigência da lei respeita ao aviso prévio: para ser válida, a greve tem
de ser convocada por meio de um aviso, divulgado por escrito ou através dos
meios de comunicação social, com a antecedência mínima de 5 dias úteis ou,
nas empresas que satisfaçam necessidades sociais de grande importância
(veja quais são no título Assegurar os serviços mínimos, na página 158), 10 dias
úteis.
Se faltar algum destes requisitos, a greve é ilegal e as faltas dadas pelos gre-
vistas são injustificadas. No entanto, os tribunais têm considerado que, caso
os trabalhadores desconheçam a ilegalidade da greve, as faltas não devem
ser classificadas como tal.
156
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
157
A As leis do trabalho
Que atividades?
As greves convocadas em empresas que desenvolvam tais atividades estão,
pois, sujeitas a essa limitação. São as seguintes:
—— serviços médicos, hospitalares e medicamentosos;
—— abastecimento de água;
—— correios e telecomunicações;
—— serviços de energia e minas, incluindo o abastecimento de combustíveis;
—— bombeiros;
—— salubridade pública, incluindo a realização de funerais;
—— serviços de atendimento ao público que assegurem a satisfação de neces-
sidades essenciais cuja prestação incumba ao Estado;
—— transportes, incluindo portos, aeroportos, estações de caminho de ferro
e de camionagem, relativos a passageiros, animais e géneros alimentares
deterioráveis e a bens essenciais à economia nacional, abrangendo as res-
petivas cargas e descargas;
—— transporte e segurança de valores monetários.
Ao longo dos anos, tem sido muito discutida nos tribunais a forma de asse-
gurar os serviços mínimos. Estes deverão sempre respeitar os princípios da
necessidade, adequação e proporcionalidade. O Código do Trabalho deter-
mina que devem ser definidos por instrumento de regulamentação coletiva
ou acordo com os representantes dos trabalhadores. Não havendo, num ins-
trumento coletivo, qualquer disposição nesse sentido, e na falta de acordo
anterior ao aviso prévio, o ministério convoca os representantes dos tra-
balhadores e das entidades patronais, procurando um acordo quanto aos
serviços mínimos e aos meios necessários para os assegurar. Se este acordo
falhar até ao final do terceiro dia posterior ao aviso prévio, a definição dos
serviços mínimos é estabelecida por despacho conjunto, devidamente fun-
damentado, do ministro da área do trabalho e do ministro responsável pelo
setor da atividade em causa. O despacho deve ser afixado nas instalações da
empresa, nos locais destinados à informação aos trabalhadores.
158
A Assiduidade: faltas, parentalidade e greve
Para assegurar os serviços mínimos de atividades afetadas por greves, o governo pode
excecionalmente ordenar a requisição civil.
159
A As leis do trabalho
Que trabalhadores?
Os representantes dos trabalhadores devem designar aqueles que prestarão
os serviços mínimos e informar a empresa, até 24 horas antes do início da
greve. Se não o fizerem, essa designação caberá à entidade patronal.
Requisição civil
Se os trabalhadores não cumprirem os serviços mínimos, o Governo pode
determinar a requisição civil, através da qual são aplicadas medidas que
assegurem o regular funcionamento de serviços essenciais de interesse
público ou de setores vitais da economia nacional, em circunstâncias parti-
cularmente graves. Tem caráter excecional e depende de decisão do Conse-
lho de Ministros. Poderá ver, na página anterior, o extrato de uma requisição
civil ordenada pelo governo e publicada no Diário da República em 2019.
160
A
Capítulo 7
Obrigações,
sanções e meios
de defesa
A As leis do trabalho
Obrigações do empregador
Vejamos quais os principais deveres do empregador constantes da lei que
respeitam diretamente aos trabalhadores:
—— pagar-lhes pontualmente uma retribuição justa e adequada ao seu
trabalho;
—— tratá-los com o devido respeito, abstendo-se de atos que possam afetar a
dignidade do trabalhador ou sejam discriminatórios, hostis ou humilhan-
tes, traduzindo a prática de assédio;
—— proporcionar-lhes boas condições de trabalho, tanto do ponto de vista
físico como moral;
—— contribuir para que o seu nível de produtividade seja elevado, nomeada-
mente proporcionando-lhes formação profissional;
—— permitir o exercício de cargos em organizações representativas dos
trabalhadores;
—— respeitar a autonomia técnica daqueles que exerçam atividades cuja regu-
lamentação profissional a exija;
—— prevenir riscos e doenças profissionais, tendo em conta a proteção da
segurança e saúde dos trabalhadores, bem como fornecer-lhes a informa-
ção e a formação adequadas à prevenção;
162
A Obrigações, sanções e meios de defesa
Pagamento do salário
O pagamento da retribuição é um dos elementos fundamentais do contrato.
De tal forma que o seu incumprimento pode determinar a rescisão pelo tra-
balhador. A lei vai ainda mais longe e obriga a entidade patronal a pagar
ao trabalhador uma retribuição justa e adequada. Como avaliar se esta exi-
gência é satisfeita? Por um lado, existe a regra “para trabalho igual, salário
igual” (veja a página 41), que impede a entidade patronal de discriminar
injustificadamente algum dos seus trabalhadores; por outro, os valores de
mercado poderão servir de referência. No entanto, as mais diversas ativida-
des merecem diferentes tratamentos das entidades patronais neste aspeto,
sem que possa falar-se em incumprimento da obrigação prevista na lei. Tudo
depende do desempenho do trabalhador, do número de horas de trabalho e
de diversos fatores que impossibilitam a existência de regras fixas na deter-
minação do montante salarial.
163
A As leis do trabalho
Órgãos representativos
A entidade patronal não pode colocar obstáculos à participação dos traba-
lhadores nas organizações que os representam, seja a comissão de trabalha-
dores ou uma associação sindical. Desempenhando o trabalhador alguma
função num destes órgãos, não pode discriminá-lo, nem sequer fazer-lhe
sentir que esse facto o prejudica.
Autonomia técnica
Certas profissões exigem habilitações e conhecimentos técnicos que esca-
pam à maioria das pessoas, ainda que sejam superiores hierárquicos. Não é
aceitável, por exemplo, que o administrador de uma clínica ou de um hos-
pital procure interferir na autonomia própria de um médico quando exerce
as suas funções.
Acidentes e doenças
Os trabalhadores beneficiam de proteção no que respeita aos acidentes de
trabalho e às doenças profissionais. Trata-se de uma obrigação que, por
regra, se encontra transferida. Nos acidentes de trabalho, a responsabilidade
passa para as seguradoras, por força do seguro que é obrigatoriamente con-
tratado para todos os trabalhadores. Se contrair uma doença profissional,
o trabalhador será compensado através da Segurança Social.
164
A Obrigações, sanções e meios de defesa
Dados atualizados
Por último, a entidade patronal está obrigada a dispor de dados relativos aos
seus trabalhadores, permanentemente atualizados, para que as entidades
fiscalizadoras possam verificar se tudo está de acordo com a lei. Esses dados
são os nomes, datas de nascimento e de admissão, modalidades dos contra-
tos, categorias, promoções, retribuições, datas de início e termo das férias,
faltas que impliquem perda da retribuição ou diminuição de dias de férias.
Obrigações do trabalhador
Em relação ao trabalhador, há dois deveres que assumem especial importân-
cia: assiduidade e lealdade. No entanto, não se esgotam aí as suas obrigações.
Dever de assiduidade
Um dos deveres mais importantes é o de assiduidade, ou seja, a obrigação de
comparecer no local de trabalho, no horário acordado com o empregador.
Se não o fizer, poderá estar a violar uma das suas obrigações fundamen-
tais. Só não será assim em circunstâncias excecionais, como o teletrabalho,
em que nem sequer se verifica uma presença permanente do trabalhador
nas instalações da empresa, podendo haver meras visitas esporádicas ou
até ausência total. Em todos os outros casos, ao faltar, o trabalhador só não
estará em incumprimento se as faltas forem justificadas.
165
A As leis do trabalho
para efeitos de antiguidade na empresa. Nos casos mais graves, pode mesmo
ser despedido. Para todos os pormenores relacionados com a assiduidade,
consulte o capítulo anterior.
Dever de lealdade
Numa relação em que o grau de confiança assume particular significado,
uma vez que as partes estarão em contacto quotidiano durante um período
que pode prolongar-se, o dever de lealdade não podia deixar de merecer
a atenção da lei. Esta estabelece como obrigação do trabalhador “guardar
lealdade ao empregador, nomeadamente não negociando por conta própria ou
alheia em concorrência com ele, nem divulgando informações referentes à sua
organização, métodos de produção ou negócios”.
Concorrência desleal
O trabalhador não pode violar o dever de lealdade, seja em benefício de
outras entidades ou em proveito próprio. São várias as decisões judiciais
a considerar que há violação do dever de lealdade e, consequentemente,
motivo para despedimento, quando o trabalhador constitui uma sociedade
no mesmo ramo de atividade da entidade patronal. Os tribunais consideram
que está a fazer-lhe concorrência direta, independentemente de o sócio ser
ele ou algum membro do agregado familiar, como a mulher ou os filhos.
Exclusividade
Relacionada com a lealdade encontra-se a exclusividade. Estará um traba-
lhador impedido de colaborar com outras entidades, para não correr o risco
de ser acusado de violação do dever de lealdade? Por princípio, não, desde
que isso não represente concorrência com a entidade patronal. No entanto,
o contrato pode estabelecer um regime de exclusividade, por a empresa não
querer que o trabalhador esteja preocupado com outros afazeres, mas total-
mente empenhado nas tarefas que lhe atribuiu. Nesse caso, o trabalhador
166
A Obrigações, sanções e meios de defesa
Obrigatoriedade de permanência
Outra disposição contratual permitida pela lei é a obrigatoriedade de o tra-
balhador permanecer na empresa, num prazo não superior a 3 anos, como
compensação de despesas extraordinárias feitas com a sua formação profis-
sional. O trabalhador poderá libertar-se do acordo se compensar a empresa
destas despesas. Também não estará impedido de sair se tiver justa causa
para rescindir.
Outros deveres
As obrigações dos trabalhadores não se esgotam na assiduidade e na leal-
dade. Outros deveres têm de ser cumpridos, para que possam exigir o res-
peito integral dos seus direitos.
167
A As leis do trabalho
Sanções disciplinares
O trabalhador tem de respeitar as ordens e a autoridade da entidade patro-
nal. Esta detém também o poder disciplinar, ou seja, a possibilidade de punir
o empregado, através da aplicação de sanções, no caso de ele não cumprir
as obrigações contratuais ou, mais exatamente, cometer alguma infração
disciplinar. Este poder é exercido através de um procedimento disciplinar,
no qual são investigados os factos que constituem a acusação, apurado o
grau de culpa do trabalhador e definida a aplicação (ou não) da punição
considerada adequada (veja o esquema da página seguinte).
168
A Obrigações, sanções e meios de defesa
Repreensão registada
Sanção pecuniária
INFRAÇÃO Procedimento
disciplinar Perda de dias de férias
DISCIPLINAR
Suspensão com perda de salário
Despedimento, sem
indemnização ou compensação
Participação
às autoridades, caso Outra sanção prevista num
se trate de um crime instrumento coletivo de trabalho
Procedimento disciplinar
Está sujeito a diversas formalidades e etapas e apenas se aplica quando o
contrato de trabalho ainda não tenha cessado. A entidade patronal pode
suspender o trabalhador a partir do momento em que o processo é iniciado,
se a sua presença se mostrar inconveniente, mas, enquanto não for con-
cluído e aplicada uma sanção disciplinar nesse sentido, tem de continuar a
pagar-lhe a retribuição.
169
A As leis do trabalho
Prazos
A entidade patronal dispõe de 60 dias para iniciar o procedimento disci-
plinar, a partir do momento em que tenha conhecimento da infração. Mas
é necessário que esta tenha ocorrido há menos de 1 ano. O prazo só será
superior caso constitua crime, aplicando-se o respetivo prazo de prescrição.
Queixa-crime
Além de instaurar um procedimento disciplinar ao trabalhador, com vista
à aplicação de uma sanção, a entidade patronal pode apresentar queixa-
-crime na polícia ou diretamente junto dos serviços do ministério público.
Por outro lado, se o trabalhador causou prejuízos, nada a impede de lhe
exigir o pagamento de uma indemnização.
Limites legais
Algumas sanções são limitadas por lei:
—— as sanções pecuniárias aplicadas a um trabalhador por infrações pratica-
das no mesmo dia não podem exceder 1/3 da retribuição diária e, em cada
ano civil, a retribuição correspondente a 30 dias;
170
A Obrigações, sanções e meios de defesa
Nos dois primeiros casos, os limites podem ser elevados para o dobro atra-
vés de um instrumento de regulamentação coletiva, sempre que o justifi-
quem as especiais condições de trabalho.
Sanções abusivas
O trabalhador não poderá ser sancionado por ter reclamado legitimamente
contra as condições de trabalho, por se recusar a cumprir ordens a que não
devesse obediência, por alegar ter sido vítima de assédio ou ser testemunha
num processo de assédio, por exercer ou candidatar-se a funções em orga-
nismos de representação dos trabalhadores ou, em geral, por exercer ou
invocar os seus direitos e garantias.
Prazos de segurança
Presume-se abusiva, tendo de ser a entidade patronal a provar que assim
não foi, qualquer sanção aplicada:
—— até 6 meses depois de ter reclamado contra as condições de trabalho,
recusado cumprir ordens a que não devesse obediência ou exercido os
seus direitos;
—— até 1 ano depois de ter reclamado quanto a direitos relativos a igualdade e
não discriminação, incluindo pedidos de parecer à comissão para a Igual-
dade no Trabalho e no Emprego.
Direito a indemnização
Sendo aplicada uma sanção num dos casos acabados de referir, o traba-
lhador, além das possibilidades já mencionadas, tem justa causa para res-
cindir o contrato, sendo a entidade patronal forçada a indemnizá-lo pelos
171
A As leis do trabalho
172
A Obrigações, sanções e meios de defesa
Menores
O Código do Trabalho considera que é crime recorrer ao trabalho de meno-
res fora dos casos admitidos pela lei (veja a página 10 e seguintes), nomea-
damente quando sejam prejudiciais ao seu desenvolvimento físico, psíquico
e moral ou o menor não tenha as capacidades físicas e psíquicas adequadas
ao posto de trabalho.
A pena prevista para estes casos é prisão até 2 anos ou multa até 240 dias
(cada dia de multa varia entre 5 e 500 euros), subindo para o dobro quando
o menor ainda não tenha 16 anos de idade ou não tenha concluído a
173
A As leis do trabalho
Organizações de trabalhadores
Outros crimes respeitam à liberdade e independência das organizações de
trabalhadores. Se alguma entidade patronal intervier na organização e dire-
ção das estruturas representativas dos trabalhadores (comissão de trabalha-
dores, associação sindical) ou, por qualquer meio, impedir ou dificultar o
exercício dos seus direitos, será punida com multa até 120 dias. Os adminis-
tradores, diretores ou gerentes e quem ocupe lugares de chefia que respon-
dam por estes atos são punidos com pena de prisão até 1 ano.
Documentos e registos
Comete o crime de desobediência qualificada, punido com pena de prisão
até 2 anos ou multa até 240 dias, o empregador que não apresente à Autori-
dade para as Condições do Trabalho documento ou outro registo solicitado
por esta entidade. A pena idêntica está sujeito quem o destrua, oculte ou
danifique.
Encerramento da empresa
O empregador que encerre as portas, temporária ou definitivamente, sem
acautelar os interesses dos trabalhadores, reduzindo o período normal de
trabalho ou iniciando um procedimento com vista ao despedimento coletivo
ou por extinção de postos de trabalho, fica sujeito a uma pena de prisão até
2 anos ou multa até 240 dias.
174
A Obrigações, sanções e meios de defesa
Greves
Quem substitua grevistas por pessoas que, no momento do aviso prévio,
não trabalhavam no estabelecimento ou serviço em causa ou contrate uma
empresa para esse fim é punido com pena de multa até 120 dias. O mesmo
acontece com quem exerça coação, prejudique ou discrimine um trabalha-
dor por ter aderido ou não a uma greve.
Lock-out
Quem pratique o chamado lock-out fica sujeito a uma pena de prisão até
2 anos ou multa até 240 dias. O lock-out, proibido por lei, consiste na para-
lisação total ou parcial da empresa ou na interdição do acesso a locais de
trabalho a alguns ou à totalidade dos trabalhadores, por decisão da empresa.
Também entra no âmbito deste conceito a recusa em fornecer trabalho, con-
dições e instrumentos de trabalho de forma a provocar essa paralisação.
Quotas sindicais
O empregador que retenha as quantias referentes às quotas sindicais dos
seus trabalhadores, em vez de as entregar às associações sindicais, é punido
com a pena prevista para o crime de abuso de confiança: prisão até 3 anos,
agravada para 5 ou 8 anos se se tratar, respetivamente, de quantia de valor
elevado ou consideravelmente elevado.
Contraordenações
A maioria das violações da lei, do contrato ou de um instrumento de regu-
lamentação coletiva traduz a prática de contraordenações, punidas com
coimas. O valor destas depende da gravidade da violação e do volume de
negócios da empresa.
175
A As leis do trabalho
previsto na lei, caso haja omissão de um dever, a entidade patronal não fica
dispensada de cumpri-lo, se ainda for possível.
Como se processa?
A competência para aplicação de coimas é da Autoridade para as Condições
do Trabalho (ACT) ou, tratando-se de uma questão do seu foro, do Instituto
da Segurança Social. Sempre que a contraordenação consista numa irre-
gularidade sanável de que não tenha ainda resultado prejuízo grave para
os trabalhadores, para a administração do trabalho ou para a Segurança
Social, pode ser levantado um auto de advertência. Este indicará a infração,
as medidas recomendadas ao infrator e o prazo para o seu cumprimento.
O desrespeito das medidas recomendadas determina a instauração de pro-
cesso por contraordenação e influencia a medida da coima.
176
A Obrigações, sanções e meios de defesa
Comissão de trabalhadores
De forma a evitar que as reivindicações e reclamações sejam apresentadas
individualmente, o que provoca sempre algum receio de retaliação por parte
da entidade patronal, os trabalhadores podem criar, no interior da própria
empresa, um organismo que os represente nesses contactos e negociações.
É a comissão de trabalhadores. Podem também existir subcomissões e
comissões coordenadoras.
177
A As leis do trabalho
Objetivos e competências
Qual é a utilidade de uma comissão de trabalhadores? De que forma pode
assegurar a defesa dos trabalhadores da empresa? No contacto com os
órgãos de gestão, compete-lhe assegurar que os direitos daqueles que repre-
senta não são ignorados. Para isso, tem o direito de reunir com os represen-
tantes da empresa, pelo menos, uma vez por mês.
Controlo de gestão
Para fazer ouvir a sua voz na gestão da empresa, a comissão de trabalhado-
res pode:
—— analisar o orçamento da empresa e emitir um parecer sobre o mesmo e
respetivas alterações;
—— aconselhar a utilização adequada dos recursos técnicos, humanos e financeiros;
—— aconselhar medidas que contribuam para melhorar a atividade da empresa,
nomeadamente quanto a equipamentos e simplificação administrativa;
178
A Obrigações, sanções e meios de defesa
Parecer obrigatório
Em certas matérias, antes de tomar uma decisão, a empresa tem de solicitar
um parecer escrito da comissão de trabalhadores, o qual deve ser fornecido
num prazo máximo de 10 dias, a não ser que seja combinado outro mais
dilatado. Eis essas matérias:
—— mudança de local da atividade da empresa ou do estabelecimento;
—— dissolução da empresa ou pedido de declaração de insolvência;
—— qualquer medida de que resulte ou possa resultar diminuição considerá-
vel do número de trabalhadores, agravamento das condições de trabalho
ou mudanças na organização do trabalho;
—— modificação dos critérios de promoção e de classificação profissional.
Informação
Por outro lado, certas informações têm de ser obrigatoriamente fornecidas
pela entidade patronal. Por exemplo, as referentes a:
—— orçamentos e planos gerais de atividade;
—— organização da produção e suas implicações no grau de utilização dos
trabalhadores e do equipamento;
—— encargos fiscais;
—— previsão, volume e administração de vendas;
—— gestão de pessoal, montante da massa salarial e sua distribuição pelos
diferentes escalões profissionais, regalias sociais, produtividade e
absentismo;
—— situação contabilística da empresa;
—— modalidades de financiamento da empresa;
—— projetos de alteração do objeto, do capital social ou de reconversão da
atividade da empresa.
Reestruturação da empresa
A comissão tem direito a ser informada e consultada sobre planos e proje-
tos de reestruturação da empresa, devendo pronunciar-se antes de serem
aprovados, através de sugestões, reclamações ou críticas apresentadas aos
órgãos competentes da empresa.
179
A As leis do trabalho
Estatutos
A comissão tem estatutos próprios, os quais devem ser votados sob proposta
de, pelo menos, 100 ou 20% dos trabalhadores e publicitados com a ante-
cedência mínima de 10 dias. A votação segue, em traços gerais, as regras da
constituição da comissão (veja o próximo título, sobre a eleição).
Eleição
A comissão é eleita pelos trabalhadores, através de voto direto e secreto
e segundo o princípio da representação proporcional. Só podem concor-
rer listas subscritas por, pelo menos, 20% dos trabalhadores permanentes
ou por 100. Tratando-se de eleições para a subcomissão de trabalhadores,
o mínimo são 10% dos trabalhadores do estabelecimento.
180
A Obrigações, sanções e meios de defesa
A abertura das urnas para contagem dos votos deve ser simultânea, ainda
que a votação tenha decorrido em horários diferentes. A comissão eleitoral
deve, no prazo de 15 dias a contar da data do apuramento dos resultados
eleitorais, comunicá-los aos órgãos representativos da empresa e afixá-los
nos locais onde a votação teve lugar.
Registos e publicações
Cabe à comissão eleita requerer ao ministério responsável pelas questões
laborais o registo da constituição da comissão de trabalhadores e da aprova-
ção dos estatutos ou das suas alterações, juntando os estatutos aprovados ou
alterados, bem como da eleição dos membros da comissão e subcomissão.
Quando haja eleição de comissão ou subcomissão de trabalhadores, solicita
o registo dessa eleição no prazo de 10 dias.
181
A As leis do trabalho
Composição e mandato
O desempenho das comissões, cujo mandato não pode ter duração superior
a 4 anos (com possibilidade de reeleição), obedece aos estatutos aprova-
dos pelos trabalhadores da empresa. Quanto ao número de membros da
comissão, varia com a quantidade de trabalhadores (veja o quadro da página
anterior).
Subcomissões
Cada empresa só pode ter uma comissão de trabalhadores, mas, no caso de
ter instalações em mais do que um local, é possível a existência de subco-
missões. A sua composição não pode exceder um determinado número de
elementos:
—— 1 membro, nos estabelecimentos com menos de 50 trabalhadores;
—— 3 membros, nos que tenham entre 50 e 200 trabalhadores;
—— 5 membros, quando os trabalhadores são mais de 200.
Comissões coordenadoras
Também podem existir comissões com a missão de coordenar as atividades
de comissões de trabalhadores constituídas em empresas que fazem parte
do mesmo grupo económico ou estão em dependência. Os seus estatutos
e composição são aprovados pelas comissões de trabalhadores, por voto
secreto de cada um dos membros.
O número de membros não pode ser superior à soma dos que integram as
comissões de trabalhadores, no máximo de 11. São os trabalhadores que
decidem se a sua comissão participa na constituição da comissão coorde-
nadora, se a ela adere ou deixa de a integrar. Qualquer destas decisões é
tomada por voto secreto.
182
A Obrigações, sanções e meios de defesa
183
A As leis do trabalho
Associações sindicais
A lei garante aos trabalhadores o direito de se associarem para defesa e promo-
ção dos seus interesses socioprofissionais. Tendo em conta a sua atividade ou
categoria, o trabalhador pode procurar ajuda, filiando-se numa instituição que
o representará sempre, independentemente da entidade para que trabalhe. É a
associação sindical, mais conhecida como sindicato. Os tribunais têm conside-
rado que só mesmo os trabalhadores podem inscrever-se nos sindicatos, não
estando essa possibilidade ao alcance dos candidatos ao primeiro emprego.
Cada trabalhador é livre de escolher o sindicato que quiser, mas não pode
ser representado, na mesma profissão ou atividade, por mais do que um.
Pode deixar o sindicato em que esteja filiado quando pretender, comuni-
cando-o por escrito com a antecedência mínima de 30 dias.
Para quê?
As associações sindicais têm como função defender os direitos e interes-
ses dos trabalhadores que representam. Dentro desse tão amplo objetivo,
184
A Obrigações, sanções e meios de defesa
Nas empresas
A atividade sindical é levada a cabo pelos delegados ou por comissões sindi-
cais, caso o número de delegados o justifique ou a empresa labore em vários
locais, e intersindicais, quando existam delegados de mais de um sindicato.
Estes delegados representam o sindicato no interior da empresa e são elei-
tos pelos trabalhadores sindicalizados. As suas funções dividem-se entre a
vertente informativa (dos trabalhadores para o sindicato e vice-versa) e a
fiscalização do cumprimento das regras laborais, com particular incidência
nas que integram os acordos coletivos. Não têm, no entanto, competência
para negociar acordos de empresa.
185
A As leis do trabalho
Os delegados sindicais podem afixar, num local reservado para o efeito pela
entidade patronal, convocatórias, comunicações, informações ou textos
relativos à vida sindical e aos interesses dos trabalhadores. Podem ainda
proceder à distribuição de documentação, desde que isso não prejudique o
normal funcionamento da empresa.
Delegados sindicais
No exercício da sua atividade, os delegados sindicais têm direito a ser infor-
mados sobre matérias respeitantes às suas atribuições, nomeadamente:
—— evolução da atividade da empresa e situação económica;
—— número de trabalhadores e provável evolução, bem como medidas
previstas para a sua redução;
—— decisões suscetíveis de desencadear mudanças substanciais na organiza-
ção do trabalho ou nos contratos.
6 + n-500
200
186
A Obrigações, sanções e meios de defesa
Mediação laboral
A mediação permite resolver, através de acordo, os conflitos de âmbito labo-
ral, com exceção dos relacionados com acidentes de trabalho. Apenas se
exige que o trabalhador tenha, pelo menos, 16 anos. Quanto aos mediado-
res, escolhidos pelos serviços do Ministério da Justiça, são licenciados que
frequentaram um curso de mediação laboral.
Para que o Sistema de Mediação Laboral seja chamado a intervir, basta que
uma das partes a ele recorra. Isso pode ser feito por telefone, através de
uma linha criada para o efeito, mas também por fax, correio ou correio ele-
trónico. De seguida, é contactada a outra parte, que diz se aceita ou não
a mediação. Se a resposta for positiva, é nomeado um mediador e as par-
tes são convidadas a participar numa sessão de informação, onde ficam a
conhecer o funcionamento do sistema, bem como os seus direitos e deveres
durante o processo. Pode realizar-se mais do que uma sessão, procurando
que as partes cheguem a acordo. O mediador não sugere nem impõe uma
solução, mas auxilia-as a atingirem um entendimento justo e que possa satis-
fazer ambas.
Organismos oficiais
Além da mediação, antes de avançar para os tribunais, o trabalhador pode
recorrer a vários organismos oficiais, cuja função passa também pela fisca-
lização do relacionamento das empresas com os trabalhadores. De entre as
diversas entidades, há três que justificam uma referência especial.
187
A As leis do trabalho
188
A Obrigações, sanções e meios de defesa
189
A As leis do trabalho
Ministério Público
Alguns conflitos laborais terão mesmo de ser resolvidos em tribunal.
De forma a evitar que os trabalhadores desistam devido a problemas de
ordem financeira ou ao desconhecimento quanto a quem possa representá-
-los e defendê-los, está previsto o recurso ao Ministério Público, através do
patrocínio oficioso. E esta possibilidade é válida quer se trate de uma ação
proposta pela entidade patronal, quer seja o trabalhador a avançar para os
tribunais.
Portanto, caso pretenda processar a entidade patronal, por entender que foi
despedido sem justa causa (ou outro motivo), o trabalhador pode dirigir-se
ao tribunal da sua área de residência e dar conta dos factos ao magistrado
do Ministério Público.
190
A
Legislação
em vigor
A As leis do trabalho
Aprendizagem
—— Portaria n.º 1497/2008, de 19 de dezembro, alterada pela Portaria
n.º 289/2009, de 20 de março.
Dadores de sangue
—— Lei n.º 37/2012, de 27 de agosto.
192
A Legislação em vigor
Escolaridade obrigatória
—— Lei n.º 85/2009, de 27 de agosto.
Incentivos ao emprego
—— Decreto-Lei n.º 72/2017, de 21 de junho;
—— Portaria n.º 34/2017, de 18 de janeiro, alterada pela Portaria n.º 95/2019,
de 29 de março.
Mediação laboral
—— Portaria n.º 282/2010, de 25 de maio, alterada pela Portaria n.º 283/2018,
de 19 de outubro.
Proteção na parentalidade
—— Decreto-Lei n.º 91/2009, de 9 de abril, alterado pelo Decreto-Lei
n.º 70/2010, de 16 de junho, pelo Decreto-Lei n.º 133/2012, de 27 de junho,
pela Lei n.º 120/2015, de 1 de setembro, pelo Decreto-Lei n.º 53/2018,
de 2 de julho, e pela Lei n.º 90/2019, de 4 de setembro.
Requisição civil
—— Decreto-Lei n.º 637/74, de 20 de novembro, alterado pelo Decreto-Lei
n.º 23-A/79, de 14 de fevereiro;
—— Decreto-Lei n.º 123/80, de 17 de maio.
Segurança Social
—— Decreto Regulamentar n.º 1-A/2011, de 3 de janeiro, alterado pela Lei
n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro, pelo Decreto Regulamentar n.º 50/2012,
de 25 de setembro, pelo Decreto Regulamentar n.º 6/2013, de 15 de outubro,
pelo Decreto Regulamentar n.º 2/2017, de 22 de março, pelo Decreto-Lei n.º
93/2017, de 1 de agosto, pelo Decreto-Lei n.º 33/2018, de 15 de maio, pelo
193
A As leis do trabalho
Subsídio de doença
—— Decreto-Lei n.º 28/2004, de 4 de fevereiro, alterado pelo Decreto-Lei
n.º 146/2005, de 26 de agosto, pelo Decreto-Lei n.º 302/2009, de 22 de outu-
bro, pela Lei n.º 28/2011, de 16 de junho, e pelo Decreto-Lei n.º 133/2012, de
27 de junho;
—— Portaria n.º 91/2007, de 22 de janeiro.
Trabalho temporário
—— Decreto-Lei n.º 260/2009, de 25 de setembro, alterado pela lei n.º 5/2014,
de 12 de fevereiro, pela Lei n.º 146/2015, de 9 de setembro, e pela Lei
n.º 28/2016, de 23 de agosto.
194
A
Índice remissivo
As leis do trabalho
196
Índice remissivo
197
As leis do trabalho
Lock-out�������������������������������������������������������175 Privacidade�����������������������������������������������38-40
Lua-de-mel�������������������������������������������������� 128 Procedimento disciplinar ���������� 126, 168-172
Procriação médica assistida ���������������������� 132
M Programa
Marcação de férias ���������������������������� 119-122 de estágios profissionais������������ 19-21, 193
Maternidade ��������������������(veja Parentalidade) Proteção
Mediação laboral�������������������������� 44, 187, 193 de dados pessoais������������������������������������ 38
Menores de idade�������������� 10-15, 30, 68, 173 na parentalidade ����������������30, 37, 141-155,
Mensagens pessoais ������������������������������������ 40 188, 193
Ministério Público �������������������������������������� 190
Morte de familiar���������������������������������������� 130 Q
Queixa-crime���������������������������������������������� 170
N Quotas sindicais������������������������������������������ 175
Netos (assistência a)�������������������� 146, 151, 154
R
O Recibos verdes�����������������������������������������51-55
Óbito ������������������������������������������������������������ 37 Redução da taxa contributiva �������������������� 35
Obediência������������������������������������������ 168, 171 Reestruturação da empresa���������������������� 179
Obrigações do Regulamento interno da empresa�������������� 26
empregador������������������������������������ 162-165 Remuneração de referência���������������135, 141
trabalhador�������������������������������������165-168 Repatriamento���������������������������������������� 24, 74
Ocupação efetiva �������������������������������������� 111 Representantes
dos trabalhadores���������������������������� 30, 178
P Requisição civil����������������������������159, 160, 193
Parentalidade����30, 37, 67, 141-155, 188, 193 Retribuição ��������������������������������� (veja Salário)
Part-time �������(veja Trabalho a tempo parcial)
Participação nos lucros da empresa������36, 104 S
Paternidade ����������������������(veja Parentalidade) Salário������������������������������������30, 41, 69, 94, 97,
Pausas���������������������������������������������� 84, 95, 163 102-109, 163, 173
Período experimental���������������������� 28, 80-82 Salário mínimo nacional �������������������� 106, 107
Poder disciplinar ���������������������������������������� 168 Sanções disciplinares�������������������� 36, 168-172
Polivalência�������������������������������������������������� 110 Segurança social��� 33-37, 51, 52, 58, 132-138,
Portaria de 141-155, 192, 193
condições de trabalho ���������������������������� 32 Serviços mínimos ������������������������������ 158-160
extensão���������������������������������������������������� 32 Sindicatos ������������ (veja Associações sindicais)
Prémios�������������������������������������������������� 36, 103 Subsídios
Prestação de serviços�����������������������������48-55 de alimentação���������������������������� 36, 69, 103
198
Índice remissivo
T V
Taxa social única ������������������������������������������ 35 Velhice ���������������������������������������������������������� 37
Trabalhador-estudante ������������������������ 14, 131 Viagens�������������������������������������������������� 36, 103
Trabalhadores estrangeiros ������������������������ 28 Vigilância à distância ������������������������������������ 39
Trabalho a tempo parcial���������� 28, 66-70, 94, Violência doméstica ������������������������������������ 99
199
Também nesta coleção:
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