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Agrade-se

Quando o assunto é agradar a nós mesmos, nossos sentimentos são a maior dádiva. Eles
nos dizem do que precisamos em cada momento, e como conseguir ou nos oferecer
isso. Sem acesso fácil a nossos sentimentos e sem a importantíssima permissão de agir
de acordo com os sentimentos, acabamos aprendendo a ser um agradador Clássico em
busca da impossibilidade da perfeição, ou um Sombra daqueles que consideramos
superiores, indo além de nossas possibilidades. Podemos ter encontrado uma forma de
não incomodar os outros, tornando-nos um Pacificador, que mantém a paz sem se
preocupar com a própria integridade.
Percebemos como nossos sentimentos e necessidades podem ser deixados de lado
quando buscamos agradar aos outros. Vimos o impacto prejudicial tanto nos
agradadores como nas pessoas a quem eles tentam agradar. Para agradar a si mesmo,
é preciso aprender a reconhecer seus sentimentos e entender o que eles sinalizam;
dessa forma você consegue dar os passos certos e se sentir satisfeito sem cair na
armadilha de agradar aos outros. Para se agradar, você deve se responsabilizar por seus
sentimentos. Isso significa que não pode escolher quais gostaria de sentir. Ou todos eles
estão ativados e você tem poder sobre todos eles, ou você desliga os sentimentos
dolorosos e a alegria e o sentido da vida vão junto com eles, deixando você com a opção
insatisfatória de agradar aos outros para ganhar uma versão daquilo de que precisa.
Ser responsável com seus sentimentos significa dar importância a eles. Significa escutá-
los com generosidade e compaixão e agir de acordo com eles para chegar a uma solução
que valide e represente o valor deles. Se tiver passado a vida agradando aos outros, essa
transformação não vai acontecer da noite para o dia. Vai demorar para que essa parte
de você que foi negligenciada venha à tona e confie que agora você vai amá-la e protegê-
la. Às vezes falo sobre um período de condicional com meus agradadores em
recuperação. Imagine que seus sentimentos são uma versão mais jovem de você, com
seis ou sete anos.
Se deseja que eles falem a verdade, eles precisam acreditar que você não vai criticá-los
ou censurá-los por isso. Além do mais, precisam acreditar que é importante falar deles
para você, que existe uma recompensa que justifique o risco que assumem ao se
pronunciar. Se eles falarem para você como se sentem e nada mudar, vão parar de
tentar. O bebê que para de chorar quando é deixado sozinho inúmeras vezes não
aprendeu a se regular, apenas aprendeu que não adianta chorar se ninguém vai
aparecer. Se você não for ao próprio auxílio, também vai parar de sentir. Ganhar a
confiança de seu eu sensível pode exigir um pouco de paciência e prática, e você pode
trazer esse processo à consciência “dando uma verificada” de tempos em tempos.
Pergunte-se: “Como está minha relação comigo mesmo agora? Como eu me sinto, do
que preciso e como posso conseguir isso ou dar isso para mim mesmo?”. Se perceber
que está recaindo em um discurso negativo de seu crítico interior, intervenha e defenda
seus sentimentos. Quando essa parte de você aprender que você está do lado dela, vai
ganhar confiança para se mostrar com mais frequência, confiando que você vai agir com
base nas informações oferecidas e trabalhar junto com ela, como uma equipe, para
agradar a si mesmo.
UM ALERTA DE SAÚDE
Atenção para os próprios sentimentos, vai inevitavelmente ter de abrir mão da
aceitação e da validação condicional que estava acostumado a receber das pessoas a
quem você agradou.
Nesse vazio, as coisas podem começar a piorar antes de melhorarem. Trate-se com
carinho e compaixão, e faça pequenas coisas positivas por você — não por
necessariamente desejar isso, nem por achar que merece, mas porque precisa dar o
pontapé inicial em seu próprio ciclo natural de se agradar. Ter uma lista de prazeres
simples pode ajudar você a se dar a atenção e a recompensa que antes recebia dos
outros em troca do serviço de agradá-los. Costuma ser mais fácil pensar em coisas felizes
quando se está em um bom momento, então comece mantendo uma página aberta em
algum lugar, em um notebook ou no celular. Se perceber que está gostando de um café
em um lugar em particular, anote. Se ama tomar um banho no meio da tarde, acrescente
à lista. Pode ser uma corrida que faz você se sentir livre, uma caneca em que gosta de
beber chá, uma música que o deixa animado ou um podcast que sempre o deixa de bom
humor. Tome nota. Você não precisa estar a fim de fazer essas coisas quando se sentir
para baixo, apenas escolha uma e tente experimentar. Na pior das hipóteses, não vai
fazer diferença. Na melhor, vai fazer você se sentir melhor, não apenas por ser
revigorante, mas porque você prestou atenção em seus sinais emocionais e demonstrou
a si mesmo que era importante o suficiente para validar seus sentimentos e ser digno
de sua ajuda. Não é apenas seu crítico interior que você vai enfrentar. Sem dúvida,
haverá uma reação das pessoas ao seu redor que estão acostumadas a ser objeto de seu
comportamento de agradador.
Quando temos relacionamentos simbióticos, nem todos vão receber a mudança. Se
começar tornando-se importante e merecedor da própria atenção, pode quebrar as
regras tácitas de seu
relacionamento com pessoas que esperam que você priorize as necessidades delas.
Nem todos vão aceitar sua oferta de autenticidade, mas aqueles que aceitarem valerão
a pena; e não dá para fazer uma omelete de intimidade sem quebrar alguns ovos
simbióticos. Respeite seus sentimentos e assuma a responsabilidade por suas próprias
necessidades, e você vai ver que consegue a reação que passou esse tempo todo
esperando dos outros: aceitação incondicional das pessoas que realmente importam e
permissão para se afastar daquelas que não importam.

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