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29/05/2023, 16:35 Qual é a sua perspectiva? - lou.frommary@gmail.

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Qual é a sua perspectiva?


De onde você está observando o mundo ao seu redor? Com qual régua você está
medindo as coisas que acontecem com você?
ALLAN DOS SANTOS
MAY 29

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Deixo abaixo as palavras do próprio filósofo para que não fique dúvida
alguma. O artigo fala por si e é um verdadeiro ensinamento de vida:

Formadores de opinião
Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 5 de agosto de 2009


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Nas próximas semanas, dedicarei uma série de artigos a analisar, com certa
minúcia, algumas idéias do colunista da Folha, Contardo Calligaris, ou aquilo
que ele imagina serem suas idéias, já que a mim me parecem mais reflexos
condicionados. Antes de fazê-lo, porém, desejo esclarecer algo quanto à
perspectiva desde a qual examino fenômenos como esse.

Um dos elementos básicos da educação é o aprendizado de


comportamentos verbais que nos identifiquem com os grupos sociais cuja
aprovação necessitamos. É todo um processo complexo e trabalhoso de
mimetização de sentimentos, hábitos, cacoetes, preconceitos e manias que
nos libertam do angustiante isolamento corporal a que nos condenou a
natureza das coisas e nos dão a impressão de que somos “alguém”, pelo
menos aos olhos dos outros, dos quais assim obtemos uma reconfortante
confirmação da nossa existência e até, nos casos mais felizes, da nossa
importância.

Completado esse treinamento, alguns indivíduos passam à etapa seguinte,


que é a aquisição da alta cultura. Aí já não se trata mais de obter a
aprovação dos nossos contemporâneos, mas de dialogar com os grandes
homens de outros tempos e lugares, que não nos julgam pela nossa
subserviência a um meio social determinado, e sim pela nossa fidelidade a
valores e critérios que não são de nenhuma época, constituindo antes a
condição da possibilidade de um salto entre as épocas. Esse aprendizado
vai, fatalmente, na direção oposta à do anterior. Quando você já não busca a
aprovação de qualquer meio social presente, mas de Aristóteles, de Dante,
de Sto. Tomás, de Shakespeare e de Leibniz, você sabe que dela não
resultará provavelmente nenhum benefício exterior, mas apenas a aquisição
daquela consistência íntima, daquela sinceridade profunda que lhe permitirá
ser de fato “alguém”, não aos olhos dos outros, mas da comunidade
supratemporal do conhecimento, ainda que ao preço de tornar-se
relativamente incompreensível aos contemporâneos. A partir desse momento
você está habilitado a dizer como Dom Quijote: “Yo sé quien soy” – e a
opinião dos circunstantes não pode afetar em nada aquilo que você
apreendeu mediante vivência espiritual direta, solitária, sem mais
testemunha ou interlocutor além da comunidade dos sábios mortos. Quando
Sto. Tomás de Aquino recomendava “Tem sempre diante de ti o olhar dos
mestres”, ele sabia o quanto a integração da alma no diálogo supratemporal
pode custar em solidão de espírito, mas também sabia que essa solidão é o
único terreno onde germina o desejo de conhecer a Deus (a não ser, é claro,
que o próprio Deus decida falar com você por outros meios).

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A sanidade de qualquer grupamento humano – um país, por exemplo –


depende de que nele exista um número suficiente de pessoas dedicadas a
este segundo aprendizado. É só por meio delas que a conversação
contemporânea adquire um lugar e um sentido no quadro do universalmente
humano, em vez de esfarelar-se numa infinidade de picuinhas que só
parecem importantes na razão inversa da escala de tempo histórico em que
são medidas.

Como a alta cultura desapareceu do Brasil, o uso da linguagem nos debates


públicos limita-se hoje aos fins do primeiro aprendizado: as pessoas não
falam ou escrevem para exprimir em palavras alguma experiência interior
autêntica, mas para sentir que acertaram no tom e no estilo da platéia cuja
aprovação anseiam para reforçar sua vacilante identidade pessoal com a
chancela de um grupo de referência. Daí a necessidade constante,
obsessiva, de ostentar bons sentimentos, entendidos como tais os
sentimentos aprovados pelo grupo (e que podem, decerto, parecer
desprezíveis ou abomináveis a outros grupos).

Como o grupo dominante na mídia e nas universidades, hoje em dia, é


esquerdista e politicamente correto, o chamado “debate nacional” é apenas
um torneio para decidir quem personifica melhor o amor sem fim às
“minorias” oficialmente aprovadas como tais e o total desprezo pelas demais
minorias, por exemplo os evangélicos ou os católicos tradicionalistas (os
judeus são um caso espinhosamente ambíguo, obrigando as inteligências
iluminadas aos contorcionismos verbais mais engenhosos para conciliar o
respeito sacrossanto aos judeus mortos com o ódio visceral aos judeus
vivos).

Quando, num desvario de independência pessoal, o sujeito se horroriza ante


algum excesso do politicamente correto e escreve duas ou três palavras para
criticá-lo, toma as mais extremas precauções para mostrar que só o faz no
puro interesse dos próprios grupos visados, reintegrando portanto
dialeticamente o momento de infidelidade aparente no fundo imutável da
fidelidade essencial. Essas demonstrações de “divergência”, as mais
extremas que o padrão nacional comporta hoje em dia, chegam até a ser
aplaudidas como provas de originalidade, excelência intelectual e coragem
quase suicida. O indivíduo capaz desses controladíssimos rompantes torna-
se, no padrão geral vigente, a personificação mais próxima do que seria, em
condições normais, o representante da alta cultura.

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É isso o que, no Brasil de hoje, se chama de “formador de opinião”: um


adolescente em busca de integração social, esforçando-se para imitar a
linguagem e os modos de um grupo de referência, no máximo fingindo às
vezes um pouco de discordância para poder ser aprovado, não como um
membro qualquer entre outros, mas como um “intelectual”, talvez até como
um “pensador”.

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