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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS/Departamento de Economia


Disciplina: Contabilidade Social Código:1201109
Profª.: Ana Claudia de Queiroz Lira

TEXTO RESUMO: Introdução ao estudo da contabilidade social/agregados macroeconômicos


e identidade contábil1

1 CONTABILIDADE SOCIAL: ASPECTOS CONCEITUIAIS E AS ÓTICAS DO PRODUTO

A) ASPECTOS CONCEITUAIS

A contabilidade social é o conjunto de estatísticas de ordem econômica, preparadas e


sistematizadas com o objetivo de possibilitar uma visão quantitativa, mais precisa possível, da
economia de uma região, país. Nesse sentido, a contabilidade social se transforma em uma
síntese contábil dos fatos que caracterizam a atividade econômica de uma região, com objetivo
de trazer informações acerca das transações monetárias decorrentes do processo de produção,
as quais possibilitam verificar o desempenho de uma economia ao longo do tempo (HEINECK,
2010).

Dessa forma, é possível caracterizar a contabilidade social como um sistema de estatísticas


econômicas, porém deve ser entendida como um sistema contábil que permite a avaliação da
atividade econômica em um determinado período.

Nessa linha, o objeto da contabilidade social, por meio do sistema de contas nacional, é medir
as transações monetárias decorrentes do processo de produção, geração de renda e
estruturação da despesa, os quais possibilitam verificar o desempenho de uma economia ao
longo tempo.

Trata-se de uma metodologia de registro dos fatos econômicos que permite mensurar as
atividades de um sistema econômico por meio da organização desses registros, em grupos
chamados de agregados econômicos.

Dessa forma, a contabilidade social se apresenta como uma ferramenta de controle e gestão
desses agregados por meio de indicadores, que representam a atividade econômica como o
fenômeno da geração da riqueza econômica. Quando sintetizados, esses indicadores atuam
como um termômetro das condições gerais dos elementos mais sensíveis às flutuações cíclicas
do lado real da economia.

B) OBJETIVOS

▪ mensurar a atividade econômica, valendo-se de indicadores como produção, consumo,


investimento, rendimento etc.);
▪ hierarquizar fatos econômicos, classificar transações relevantes e agrupá-las para
serem quantificadas e acompanhadas de forma sistemática e coerente;
▪ comparar, ao longo do tempo e do espaço, o desempenho da economia entre países;

1 Material complementar (resumo) para acompanhamento e discussão em sala de aula.


Retirado de FEIJÓ, Carmem Aparecida et al. Contabilidade social: referência atualizada das contas nacionais do Brasil. 5ª ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2017. Capítulos 1 e 2 do livro.
Recomendação de leitura: Ver indicação da bibliografia básica no plano de curso da disciplina.
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C) TEORIA (MODELO) DE ORIGEM DA CONTABILIDADE SOCIAL

A contabilidade nacional desenvolveu-se inspirada na obra do economista inglês John Maynard


Keynes, que, na década de 1930, lançou os fundamentos da moderna macroeconomia.

A abordagem de Keynes traz a capacidade de verificar o comportamento a evolução da


economia de um país de forma sistêmica, ou seja, medindo não só a produção, renda e consumo,
mas fazendo isso de modo a perceber exatamente a relação entre esses agregados e a lógica do
sistema econômico como um todo.

Com Keynes, o foco dos estudos em economia deslocou-se da esfera microeconômica para a
macroeconômica, ou seja, para a explicação do que determina o nível agregado de produto e de
renda no curto prazo, uma vez que Keynes mostrou a possibilidade do comportamento do todo,
ou seja, do agregado, ser diferente do que foi planejado pelos agentes econômicos a nível
microeconômico

No sistema contábil de inspiração keynesiana, a produção visa ao lucro monetário e é entendida


como um processo que se desdobra no tempo, conduzido por empresas.

Dessa forma, a mensuração do produto agregado considera que a produção de bens e serviços
está relacionada com a geração de renda que ocorre durante o processo de produção, tornando
os fluxos de produção e renda, medidos num mesmo período, iguais.

A produção gerada tem como destino o mercado, em que os bens e serviços são demandados
para consumo final ou para investimento:

No Sistema de Contas Nacionais – SCN, toda oferta (produção mais importação) tem um
destino: ou é consumida ou é investida, ampliando a capacidade produtiva.

Assim, os fluxos de produção, renda e despesa são passíveis de serem acompanhados a partir
de um sistema de contabilidade que identifique e relacione transações econômicas relevantes
de serem medidas ao longo do tempo.
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A partir da origem da contabilidade social, desenvolve-se uma forma de controle e análise das
variações dos principais agregados econômicos ao longo do tempo. Essas variações ocorrem em
função do relacionamento entre os agentes de um determinado sistema econômico, ou seja, as
movimentações dos agentes fornecedores e consumidores, em um determinado cenário
(países, estados e municípios), interferem nos meios de produção (as funções de produção),
gerando uma série de oscilações nesse mercado.
Por sua vez, essas oscilações geram dados, que produzem estatísticas, sintetizadas nos principais
agregados econômicos. A partir desse ponto, a contabilidade social surge, registrando, medindo
e analisando o comportamento desses agregados em períodos de tempo.

As contas nacionais são a principal fonte de estatísticas econômicas para economistas e


pesquisadores comprometidos com análises sobre o funcionamento da economia.

D) Relação Macro e CN
Nesse contexto, a macroeconomia e a contabilidade nacional emergem como campos
importantes de estudos:

a) a macroeconomia, para explicar os acontecimentos, ou seja, o comportamento agregado


da economia e seus desdobramentos;
b) a contabilidade nacional, para fornecer as principais medidas que viabilizem os estudos
macroeconômicos.

E) A medida do Produto da economia:


O crescimento econômico é feito por estimativas dos agregados macroeconômicos derivados
do sistema de contas nacionais, produzidos e divulgados pelos órgãos oficiais dos países.

As transações econômicas fundamentais em economia podem ser sintetizadas num diagrama


conhecido como fluxo circular da renda, que representa o circuito econômico dos fluxos (reais
e monetários) na economia:

▪ Quanto e produziu?
▪ Quanto se consumiu?
▪ Quanto se investiu?
▪ Quanto se vendeu para o exterior?
▪ Quanto se comprou do exterior? Etc.

Assim, o resultado da atividade econômica pode ser medido de 3 formas:

▪ LADO DA PRODUÇÃO: ÓTICA DO PRODUTO


▪ LADO DA VENDA DE BENS E SERVIÇOS: ÓTICA DA DESPESA
▪ LADO DA RENDA: ÓTICA DA RENDA (REMUNERAÇÃO DOS FATORES PRODUTIVOS)
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2) ÓTICA DO PRUDUTO: PIB

A) A medida do PIB de um país ou região


▪ O PIB é um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia, e tem o objetivo
principal de mensurar a atividade econômica de uma região.

▪ representa a produção de todas as unidades produtoras da economia (empresas


públicas e privadas produtoras de bens e prestadoras de serviços, trabalhadores
autônomos, governo etc.) num dado período (ano ou trimestre, em geral)

▪ representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais


produzidos numa determinada região, durante um determinado período.

PIB = Ʃ P x q (Produção de bens) + Ʃ P x q (Produção de serviços) + Ʃ P x q (Produção


da agropecuária)

▪ Valor agregado (adicionado) de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do


território econômico do país, independentemente da nacionalidade dos
proprietários das unidades desses bens e serviços.

▪ É uma medida do valor dos bens e serviços que o país produz num período, na
agropecuária, indústria e serviços.

▪ Entra no cálculo apenas o produto final vendido, por exemplo, um carro e não o aço
e ferro da produção. Evita-se, assim, a contagem dupla de certas produções.

B) Produção do ponto de vista das contas nacionais

▪ a produção de bens e serviços voltada para o mercado;


▪ a produção de bens e serviços pelo governo e instituições sem fins lucrativos,
vendida ou não;
▪ a produção de bens para autoconsumo das famílias;
▪ a produção de bens de capital pelas firmas para consumo próprio;
▪ a produção de serviços pessoais e domésticos quando remunerados;
▪ os serviços de habitação pelos proprietários ocupantes (imputação de um valor
de aluguel às residências ocupadas pelos proprietários).

C) PIB: metodologia de cálculo

Na contagem do PIB, considera-se apenas bens e serviços finais, excluindo da conta todos
os bens de consumo intermediários. Então para encontrar o valor do produto da economia
ou produto agregado:

a) considerar apenas o valor dos bens e serviços finais


b) deduzir o consumo intermediário
c) no PIB será contabilizado apenas o que a fábrica adicionou: (horas trabalhadas,
energia, água, tecnologia etc.)
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PIB PELA ÓTICA DO PRODUTO


a) PIB = Ʃ P x q Ʃ P x q (Produção de bens) + Ʃ P x q (Produção de serviços)
+ Ʃ P x q (Produção da agropecuária)

b) PIB = valor da Valor bruto da produção: é o valor dos bens produzidos no


produção – consumo período independentemente de terem sido vendidos ou
intermediário estocados.

Consumo intermediário: equivale ao valor da produção dos


bens e serviços finais adquiridos de outras unidades para
serem nela utilizados como insumos a serem inteiramente
transformados no processo de produção.

c) PIB = Ʃ VA Valor adicionado ou valor agregado: a soma do que cada


firma agrega de valor no seu processo de produção. No PIB
será contabilizado apenas o que a fábrica adicionou: (horas
trabalhadas, energia, água, tecnologia etc.).

O valor adicionado, em certo estágio da produção de um


bem, é definido como o valor da produção menos o valor dos
insumos intermediários (com exceção da mão-de-obra)
utilizados no processo de produção.

d) PIB =VA = VP – CI Valor adicionado ou valor agregado em uma unidade de


produção obtém-se ao descontar, do seu valor da produção,
a parte correspondente ao consumo intermediário.

Exclui do cálculo do PIB:

a) Atividades econômicas não declaradas, com o objetivo de sonegar impostos ou por


serem ilegais;
b) Produção de bens e serviços sem valor de mercado, como por exemplo, serviços
domésticos não-remunerados;
c) Transações de compra e venda envolvendo transferência de bens produzidos em
períodos anteriores;
d) Exaustão de recursos naturais não-renováveis: combustíveis fósseis - petróleo, o
gás natural e o carvão.
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Exemplo 1:

Situação hipotética para o cálculo do PIB pela ótica da produção: produção de tecido de algodão.
Pontos a serem discutidos: valor adicionado para o conjunto das atividades; PIB setorial; consumo
intermediário etc.

Produção de tecido de algodão


Estágios de produção Venda Materiais Valor
(empresas) comprados adicionado
Fazenda 20
Fiação 50
Tecelagem 80
Atacadista 100
Varejista 140
Total

Comentários:
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D) Valoração do PIB

Três níveis de valoração: a preços básicos, a preços de produtor e preço de consumidor


(ou de mercado).
a) A mensuração de agregados valorados a preço básico equivale a considerar os
preços na porta da fábrica

b) Adicionando a esse nível de valoração os impostos líquidos de subsídios sobre


produtos, teremos a valoração a preços de produtor,

c) acrescentando as margens de comércio e transporte e os impostos sobre o valor


adicionado, chega-se ao preço de consumidor.

Margem Margem Imposto Total de impostos


Outros impostos
de de de IPI ICMS líquidos de
menos subsídios
comércio transporte importação subsídios

Total de impostos Impostos, taxas e contribuições que incidem sobre os bens e serviços quando são produzidos ou importados,
líquidos de subsídios distribuídos, vendidos, transferidos ou de outra forma disponibilizados pelos seus proprietários, descontando
os subsídios.
a) Margem de é um dos elementos somados ao preço básico para chegar ao preço de mercado de um bem. Valor das vendas
comércio menos o valor dos bens adquiridos para revenda mais a variação real do estoque de bens para revenda.
b) Margem de é um dos elementos somados ao preço básico para chegar ao preço de mercado de um bem. Ela representa o
transporte custo de transporte pago pelo comprador – embutido no preço do bem transportado.
c) Imposto é um tributo federal que incide sobre a entrada de mercadoria estrangeira em território nacional.
de importação
d) Impostos sobre a produção (produto + produção)
▪ Impostos Os impostos sobre produtos abrangem os impostos a pagar quando os bens e serviços são produzidos,
sobre distribuídos, vendidos, transferidos ou de outra forma disponibilizados pelos seus proprietários. Incluem os
produtos impostos e direitos sobre a importação cujo pagamento é devido quando os bens entram no território
econômico ou quando os serviços são prestados.
Exemplo:
Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS,
impostos únicos sobre combustíveis e lubrificantes e respectivas alíneas, sobre energia elétrica e minerais...
▪ Outros Os outros impostos sobre a produção compreendem os impostos sobre a mão-de-obra empregada ou
Impostos remunerações pagas e taxas incidentes sobre o exercício de determinadas atividades econômicas.
sobre a Os impostos sobre a produção e a importação são devidos independentemente dos resultados contábeis das
produção unidades de produção, isto é, da realização e montante de lucro operacional. Constituem recursos das
administrações públicas, sendo registrados no momento em que são efetivamente pagos. Seu valor corresponde
à arrecadação líquida, ou seja, deduzidas as devoluções e restituições.
– Impostos sobre operações financeiras (IOF), Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)
Tarifas de comunicação; adicional de frete da marinha mercante, cotas de previdência e
impostos sobre produtos específicos...
Subsídios Subsídios são transferências correntes das administrações públicas para as unidades de produção mercantis,
efetuadas dentro do contexto da política socioeconômica, com o objetivo de reduzir o preço de mercado dos
produtos e/ ou permitir uma rentabilidade suficiente à atividade.
Concessão de dinheiro feita pelo governo a determinadas atividades (indústria, agricultura etc.) com a finalidade
de manter acessíveis os preços de seus produtos ou gêneros ou para estimular as exportações do país.
Exemplo:
Subsídio agrícola é uma ajuda monetária que os produtores agrícolas recebem do Estado com o objetivo de
reduzir o preço final dos produtos, permitindo maior competitividade no mercado internacional.
O subsídio destinado à agricultura geralmente estão acompanhados de vantagens, como juros mais baixos do
que o do mercado, barreiras fiscais e sanitárias para os produtos similares importados, redução de impostos,
financiamentos para compra de adubos, de defensivos agrícolas, maquinários etc.
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Exemplo 2:

Valores Correntes/Conta Econômica Trimestral/IBGE


Pontos a serem discutidos: valor adicionado para o conjunto das atividades, PIB setorial,
valoração do PIB etc.

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais (out.-dez. 2021).

Comentários:
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E) Dados que compõem o PIB:

Origem e base de dados que compõem o PIB?

As fontes de dados para o IBGE calcular o PIB:


a) pesquisas do próprio IBGE e de outros órgãos do governo, assim como estimativas e dados de setores
produtivos e; informações confidenciais repassadas por empresas. Especificamente, tem-se:
b) consumo do governo: Tesouro Nacional, Ministério da Fazenda, Balanço Geral da União, Sistema
Integrado de Administração Financeira (Siafi);
c) renda: Receita Federal, como a Declaração de Imposto de Renda Pessoa Jurídica e Pessoa Física;
d) seguros: Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc)
e) educação e saúde: Ministérios
f) consumo das famílias: Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad), que foi ampliada e ganhou
o sobrenome de Contínua, Pesquisa de Orçamento familiar (POF) e Ministério do Trabalho

Quem calcula?

▪ No Brasil, o cálculo do PIB é feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), instituição
federal subordinada ao Ministério da Economia.
▪ Desde 1990, o IBGE calcula o PIB a cada três meses. Uma equipe de cerca de 30 pessoas trabalha no
cálculo do PIB, indicador publicado nas Contas Nacionais Trimestrais.

F) Classificação de atividades econômicas – CNAE

▪ Para chegar aos dados da oferta, ou seja, do que foi produzido, o IBGE coleta informações sobre
os setores de atividade econômica, enquadrados, de forma geral em: agricultura, indústria e
serviços.
▪ Atualmente, a classificação de atividades adotada pelo IBGE, chamada de Classificação Nacional
de Atividades Econômicas-CNAE, é a classificação padrão para as estatísticas brasileiras.
▪ A CNAE foi estruturada tendo como referência a International Standard Industrial Classification
of All Economic Activities - ISIC das Nações Unidas;
▪ A gestão e manutenção da CNAE é de responsabilidade do IBGE, a partir das deliberações
da Comissão Nacional de Classificação - Concla.
▪ A Concla, que foi criada em 1994 para o monitoramento, definição das normas de utilização e
padronização das classificações estatísticas nacionais.
▪ Hierarquia: Ministério da Fazenda(Economia)/CONCLA/IBGE/CNAE
▪ A Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE é a classificação oficialmente adotada
pelo Sistema Estatístico Nacional e pelos órgãos federais gestores de registros administrativos.
▪ A CNAE é o instrumento de padronização nacional dos códigos de atividade econômica e dos
critérios de enquadramento utilizados pelos diversos órgãos da Administração Tributária do país.
▪ Esta padronização é aplicada a todos os agentes econômicos que estão engajados na produção
de bens e serviços, podendo compreender estabelecimentos de empresas privadas ou
públicas, estabelecimentos agrícolas, organismos públicos e privados, instituições sem fins
lucrativos e agentes autônomos (pessoa física) .
▪ Junto com o desenvolvimento da classificação de atividades, o IBGE apresenta uma classificação
geral de produtos e serviços:
PRODLIST Indústria PRODLIST Construção
PRODLIST Agro/Pesca PRODLIST Serviços
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G) Detalhamento: CONCLA/CNAE/IBGE e as classificações das atividades econômicas

▪ As classificações servem como sistema de linguagem na produção de informações


estatísticas. A uniformização dessa linguagem é condição imprescindível para a consistência
das séries temporais e das comparações regionais e internacionais, na medida em que
buscam promover a articulação entre sistemas de informações ou fontes distintas,
pressupostos básicos da qualidade do sistema estatístico. No caso das classificações de
atividades econômicas, estas precisam ser periodicamente atualizadas e revisadas em
função de mudanças na organização produtiva e na demanda por novas abordagens
analíticas.
▪ No Brasil, a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE é oficialmente adotada
pelo Sistema Estatístico Nacional na produção de estatísticas por tipo de atividade
econômica, e pela Administração Pública, na identificação da atividade econômica em
cadastros e registros de pessoa jurídica.
▪ Ao prover uma base padronizada para a coleta, análise e disseminação das estatísticas
relativas à atividade econômica, a CNAE permite ampliar a comparabilidade entre as
estatísticas econômicas provenientes de distintas fontes nacionais, e das estatísticas do País
no plano internacional. Estão envolvidos neste processo os seguintes organismos:

*Obs.: As classificações organizadas pela CONCLA são:


▪ Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE
▪ Classificação Nacional de Atividades Econômicas - Fiscal - CNAE-Fiscal
▪ Classificação Nacional de Atividades Econômicas – Domiciliar - CNAE-Domiciliar
▪ Classificação Brasileira de Ocupações - CBO
▪ Classificação de Posição na Ocupação
▪ Classificação de Educação
▪ Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde - CID-10
▪ Classificações de Meio Ambiente
▪ Classificações de Despesas de Consumo de Acordo com a função
▪ Códigos de área
▪ Lista de produtos e serviços Industriais - PRODLIST-Indústria
▪ Lista de produtos e serviços da Construção - PRODLIST-Construção
▪ Lista de produtos e serviços da Agropecuária e Pesca - PRODLIST-Agro/Pesca
▪ Lista de produtos dos serviços - PRODLIST-Serviços
▪ Tabela de natureza jurídica
▪ Uso do tempo
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H) Estrutura e sistema de códigos da CNAE

A CNAE 2.0 é uma classificação estruturada e hierarquizada das atividades econômicas em cinco
níveis, com 21 seções, 87 divisões, 285 grupos, 673 classes e 1301 subclasses.

No nível mais alto de agregação, também chamado nível de tabulação, a CNAE 2.0 está
organizada em vinte e uma categorias, a seguir discriminadas:

Seção Divisões Descrição CNAE


A 01 .. 03 AGRICULTURA, PECUÁRIA, PRODUÇÃO FLORESTAL, PESCA E AQÜICULTURA
B 05 .. 09 INDÚSTRIAS EXTRATIVAS
C 10 .. 33 INDÚSTRIAS DE TRANSFORMAÇÃO
D 35 .. 35 ELETRICIDADE E GÁS
E 36 .. 39 ÁGUA, ESGOTO, ATIVIDADES DE GESTÃO DE RESÍDUOS E DESCONTAMINAÇÃO
F 41 .. 43 CONSTRUÇÃO
G 45 .. 47 COMÉRCIO; REPARAÇÃO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES E MOTOCICLETAS
H 49 .. 53 TRANSPORTE, ARMAZENAGEM E CORREIO
I 55 .. 56 ALOJAMENTO E ALIMENTAÇÃO
J 58 .. 63 INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
K 64 .. 66 ATIVIDADES FINANCEIRAS, DE SEGUROS E SERVIÇOS RELACIONADOS
L 68 .. 68 ATIVIDADES IMOBILIÁRIAS
M 69 .. 75 ATIVIDADES PROFISSIONAIS, CIENTÍFICAS E TÉCNICAS
N 77 .. 82 ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS E SERVIÇOS COMPLEMENTARES
O 84 .. 84 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, DEFESA E SEGURIDADE SOCIAL
P 85 .. 85 EDUCAÇÃO
Q 86 .. 88 SAÚDE HUMANA E SERVIÇOS SOCIAIS
R 90 .. 93 ARTES, CULTURA, ESPORTE E RECREAÇÃO
S 94 .. 96 OUTRAS ATIVIDADES DE SERVIÇOS
T 97 .. 97 SERVIÇOS DOMÉSTICOS
U 99 .. 99 ORGANISMOS INTERNACIONAIS E OUTRAS INSTITUIÇÕES EXTRATERRITORIAIS

Fonte: https://cnae.ibge.gov.br/
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2.1 PRODUTO NOMINAL X PRODUTO REAL

A) CONCEITO

É importante considerar, no estudo da contabilidade nacional, a forma como se avalia a


evolução de uma variável entre dois períodos de tempo.
Quando se pretende acompanhar a evolução dos agregados ao longo do tempo, é necessário
isolar o crescimento de um agregado que se deu por força de variação de preço e também o
crescimento que se deveu à variação de quantidade:
i. qual a parcela se deve ao aumento dos preços?
ii. qual a parcela se deve ao aumento das quantidades físicas? (+ importante, porque
indica aumento da base produtiva).

Os agregados das contas nacionais podem ser expressos em valor nominal (corrente) ou em
valor real (constante).

i. Valor nominal (a preços correntes): é o valor das transações econômicas calculado com
a quantidade transacionada e seu preço no mesmo período – ou seja, qt × pt;
Produto em valores correntes, ou valores medidos aos preços do ano corrente ou
nominais:
PIB nominal a preços correntes = quantidades correntes x preços correntes:
Assim, se consideramos os anos de 2018, 2019 e 2020, por exemplo, os valores
correntes podem ser representados como as quantidades transacionadas em cada ano
valoradas aos preços médios do mesmo ano (corrente).
Então, PIB nominal a preços correntes = quantidades correntes x preços correntes:
PIB2018 =  p2018 . q2018
PIB2019 =  p2019 . q2019
PIB2020 =  p2020 . q2020

ii. Valor real (a preços constantes): é o valor das transações econômicas calculado com as
quantidades transacionadas no período. Contudo, os preços adotados no cálculo do
valor são fixados em um outro período chamado ano-base (um ano cujos preços de
mercado são estabelecidos como padrão para mensuração).
Ou seja, faz-se a seguinte pergunta: qual seria o PIB no período analisado se os preços
do ano-base tivessem se mantido, segundo as quantidades atuais?

O cálculo do PIB real não faz nada mais que multiplicar as quantidades comercializadas
de todos os bens no ano corrente (isto é, no ano em análise) pelos preços dos mesmos
bens no ano-base.
As últimas recomendações internacionais sugerem que se adote sempre como ano de
referência o ano imediatamente anterior. Então:
PIB real a preços do ano-base = quantidades correntes x preços do ano-base.

Tomando-se como ano-base 2018, estamos zerando a partir desse momento o efeito
da inflação:
PIB REAL 2018 =  p2018 . q2018
PIB REAL 2019 =  p2018 . q2019
PIB REAL 2020 =  p2018 . q2020
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Conclusão: PIB real com o ano-base em 2018 somente as quantidades variam e os


preços são fixados em 2018. Neste caso, o PIB real mostrará o crescimento
real da produção física.

B) TRANSFOMANDO UM VALOR NOMINAL EM VALOR REAL

O processo pelo qual os valores nominais são transformados em reais é chamado


deflacionamento. Consiste em “limpar” a influência da inflação sobre o valor total de uma
variável.

A inflação é o aumento persistente e generalizado no valor dos preços. Quando a inflação chega
a zero dizemos que houve uma estabilidade nos preços.

Após retirada do efeito da inflação, o que sobre significa crescimento real ou aumento das
quantidades (se a taxa for positiva), ou uma queda real ou redução das quantidades (se o
resultado for negativo).

O deflacionamento pode ser feito para qualquer variável, como: PIB, salários, impostos, custo
de produção, faturamento da empresa etc.

Na prática, fica muito complicado trabalhar com os preços dos vários produtos de forma
individualizada. Por isso, para transformar uma série de valores nominais em valores reais
utiliza-se um índice de preços que expresse a evolução da inflação no período de comparação
entre as variáveis.

Os índices de preços correspondem as médias ponderadas das mudanças de preços dos diversos
produtos. A partir do índice de preço calcula-se um “fator” que converte os valores nominais em
valores reais. O cálculo desse fator dependerá do ano escolhido para servir de base.

Portanto, para transformar uma série nominal em uma série real é preciso deflacionar a série
nominal. Para isso, é necessário encontrar um índice de preços (deflator) que represente o
crescimento da inflação no período.
Então, independente do deflator (índice) escolhido, o procedimento é:

𝑽𝑨𝑳𝑶𝑹 𝑵𝑶𝑴𝑰𝑵𝑨𝑳
Valor real = 𝑿 𝟏𝟎𝟎
Ï𝑵𝑫𝑰𝑪𝑬 𝑫𝑬 𝑷𝑹𝑬Ç𝑶𝑺

C) ÍNDICES DE PREÇOS

Existem diversos indicadores de inflação em uso no Brasil. Alguns são mais populares e
costumam ser mais usados. Os principais índices de inflação são desenvolvidos por essas
entidades:

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE


▪ Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA,
▪ Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 - IPCA -15
▪ Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial - IPCA-E.
Os dados para esses índices são coletados em estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços,
concessionárias de serviços públicos e domicílios (para aluguel e condomínios). Tem por objetivo medir
a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo
pessoal das famílias. Abrange as famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos.
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Fundação Getúlio Vargas - FGV


Índice Geral de Preços – IGP, média entre:
▪ Índice de Preços ao Atacado - IPA
▪ Índice de Preços ao Consumidor - IPC,
▪ Índice Nacional de Construção Civil - INCC.
O IGP é divulgado mensalmente em três versões, e todas adotam a mesma metodologia de cálculo,
porém com períodos de coleta diferentes.
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas - FIPE
Índice de preços ao consumidor – IPC – Fipe, abrange a cidade de São Paulo para as famílias com
chefes assalariados e renda mensal entre 1 e 20 salários-mínimos.

EXEMPLO 3: Transformando valor nominal em valor real

Com base na tabela abaixo, observe a descrição e explicação de cada coluna e dos valores
subsequentes:

A B C D E

Valor da Valor da Taxa de


produção a IPCA produção a crescimento
ANO preços (a = 2003) preços real anual (%)
correntes constantes de
(R$ milhões) 2003
(R$ milhões)
2003 202,6 100,0 202,6 -
2004 143,6 67,93 211,4 4,34 %
2005 190,0 94,56 200,9 - 4,97 %
2006 318,7 150,16 212,2 5,62 %
2007 265,0 128,34 206,5 -2,69 %

Coluna A - indica o período da série 2003-2007;

Coluna B - indica valores da produção a preços correntes (valores nominais), onde:


202,6, significa valor da produção a preços correntes (valor nominal): P(2003) x Q(2003)
143,6, significa valor da produção a preços correntes (valor nominal): P(2004) x Q(2004)
190,0, significa valor da produção a preços correntes (valor nominal): P(2005) x Q(2005)
318,7, significa valor da produção a preços correntes (valor nominal): P(2006) x Q(2006)
265,0, significa valor da produção a preços correntes (valor nominal): P(2007) x Q(2007)

Coluna C – indica, como referência para deflacionar a série, o IPCA (a = 2003), tendo
como base o ano de 2003.

IPCA: índice oficial de inflação, Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, medido
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre os dias 1º e 30 de cada
mês.
Os preços obtidos são os efetivamente cobrados ao consumidor, para pagamento à
vista, colhidos em estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços, domicílios
(para verificar valores de aluguel) e concessionárias de serviços públicos.
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O IPCA reflete o custo de vida de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos,
residentes nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém, além do Distrito Federal e do
município de Goiânia.

Na série, tem-se os seguintes números-índice:

100: corresponde ao índice de preços do ano-base, 2003;


67,93: corresponde a variação de preços em 2004 (tendo como base os preços de 2003);
94,56: corresponde a variação de preços em 2005 (tendo como base os preços de 2003);
150,16: corresponde a variação de preços em 2006 (tendo como base os preços de 2003);
128,34: corresponde a variação de preços em 2007 (tendo como base os preços de 2003);

Coluna D – série deflacionada, transformação da série nominal (Coluna B) em série de


valores reais da produção (Coluna D):

𝑉𝐴𝐿𝑂𝑅 𝑁𝑂𝑀𝐼𝑁𝐴𝐿
Valor real = 𝑋 100
Ï𝑁𝐷𝐼𝐶𝐸 𝐷𝐸 𝑃𝑅𝐸Ç𝑂𝑆

𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 (𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒)


Valor real = 𝑋 100 =
𝐼𝑃𝐶𝐴 (𝑎=2003)

202,6
Valor real2003 = 𝑋 100 = 202,60 (valor real da produção em 2003, tendo como base o ano de 2003)
100

143,6
Valor real2004 = 𝑋 100 = 211,39 (valor real da produção em 2004, tendo como base o ano de 2003)
67,93

190
Valor real2005 = 𝑋 100 = 200,93 (valor real da produção em 2005, tendo como base o ano de 2003)
94,56

318,7
Valor real2006 = 𝑋 100 = 212,24 (valor real da produção em 2006, tendo como base o ano de 2003)
150,16

265
Valor real2007 = 𝑋 100 = 206,48 (valor real da produção em 2007, tendo como base o ano de 2003)
128,34

Coluna E - taxa de crescimento real de um ano em relação ao ano anterior:


𝑭
Taxa de variação real = ( 𝒊 - 1) x 100, onde:
F: é o período final
i : é o período inicial

Na passagem do ano 2003 para 2004, houve um aumento real da produção de 4,34%
211,4
Taxa de variação real = (202,6 - 1) x 100 = 4,34 %

Na passagem do ano 2004 para 2005, houve uma redução real da produção de (- 4,97%)
200,9
Taxa de variação real = (211,4 - 1) x 100 = - 4,97%

Na passagem do ano 2005 para 2006, houve um aumento real da produção de 5,62%
212,2
Taxa de variação real = (200,9 - 1) x 100 = 5,62%

Na passagem do ano 2006 para 2007, houve uma redução real da produção de (– 2,69%)
206,5
Taxa de variação real = (212,2 - 1) x 100 = - 2,69%
16

EXEMPLO 4: Mudando a base...

Com base na tabela anterior, exemplo 1, observe a descrição e explicação de cada coluna e dos
valores subsequentes:
Deflacionando a série, tendo como base o ano de 2006:

Para deflacionar a série tendo como base o ano de 2006, ou seja, transformar os valores
nominais em valores reais tomando como base o ano de 2006, é preciso dividir todos os índices
pelo índice do ano base. Assim, todos os índices de preços são divididos pelo índice de 2006 –
todos os valores da Coluna C divididos pelo IPCA de 2006:

Fonte: Feijó et al (2017); Paulani e Braga (2012).


17

Exemplo 5 para discussão em sala...


Com base nos dados da Tabela 1:
a) deflacione a série tendo como o ano base 2007
b) calcule a taxa real anual de crescimento

Tabela 1 - Consumo das famílias a preços constantes, Brasil, 2006-2010

Consumo das famílias IPCA Consumo das famílias a Taxa de crescimento


ANO a preços correntes (a = 2007) preços constantes de 2007 real anual (%)
(R$ milhões) (R$ milhões)
2006 606.701 93,42
2007 670.702 100,00
2008 727.095 106,91
2009 781.174 115,94
2010 862.447 132,92
18

Exemplo 6:

Com base nos dados da tabela anterior:


a) converta o índice de preço tendo como ano base 2010
b) deflacione a série tendo como o ano base 2010
c) calcule a taxa real anual de crescimento (5a coluna da tabela).

Tabela 2 - Consumo das famílias a preços constantes, Brasil, 2006-2010

Consumo das famílias a Consumo das famílias a Taxa de


preços correntes IPCA preços constantes de crescimento real
ANO (R$ milhões) (a = 20 10) 2010 anual (%)
(R$ milhões)
2006 606.701
2007 670.702
2008 727.095
2009 781.174
2010 862.447
19

3. ÓTICA DO PRUDUTO: DESPESA

O produto da economia pode, também, ser mensurado pela ótica da despesa (ou gasto, ou
categorias de demanda agregada).

Pelo fluxo circular da renda, toda produção de bens e serviços ou é destinada para gasto
corrente (consumo) ou gasto em formação de capital (investimento).

Numa economia aberta e com governo construímos agregados que representam os destinos do
produto para consumo final, investimento (formação bruta de capital fixo) e variação dos
estoques mais o saldo das exportações sobre as importações de bens e serviços.

O consumo final representa o valor dos bens e serviços utilizados para satisfação direta das
necessidades humanas, individuais e coletivas.

A medida do PIB pode ser obtida, então, pela soma do total dos gastos dos agentes econômicos
com o consumo de bens e serviços além do investimento para a ampliação de capacidade
produtiva ou manutenção do equipamento (como no fluxo de renda ampliado).

a) Ótica da despesa = soma dos gastos finais em bens e serviços: despesas de consumo e
com formação de capital.;

b) Ótica da despesa = valor total dos bens e serviços destinados para consumo final
(coluna total da demanda final).
c) A demanda agregada é composta de quatro elementos, sendo:

• Os bens de investimento adquiridos pelas organizações para expandirem sua


capacidade de produção.
• O consumo de bens finais por parte das pessoas.
• As exportações que também podem ser consideradas bens de investimento ou
consumo.
• E as compras do governo tanto de consumo como de investimento.

d) DA= C + G + I + (X-M)

e) PIB = C + I + G + (X – M), onde:


C = Consumo das Famílias (consumo privado)
I = Investimento (soma da Formação Bruta de Capital Fixo mais a Variação de Estoques)
G = Consumo do Governo (consumo público)
X = Bens exportados
M = Bens Importados.
20

DA= C + G + I + (X-M)
1. Despesas de consumo final
a) Despesas de Despesas com bens e serviços realizadas pelas famílias.
consumo final das por convenção, as famílias consomem imediatamente todos os bens
famílias comprados, produzidos para consumo próprio ou fornecidos gratuitamente,
inclusive os bens duráveis (automóveis, eletrodomésticos, móveis etc.), com
exceção de imóveis e melhorias.
b) Despesas de Serviços individuais e coletivos prestados gratuitamente, total ou
consumo final das parcialmente, pelas três esferas de governo (federal, estadual e municipal),
administrações deduzindo-se os pagamentos parciais (entradas de museus, matrículas etc.)
públicas efetuados pelas famílias. São valorados ao custo de sua produção.
2. Formação bruta de A FBCF é justamente a conta de investimentos do PIB. A FBCF mede o quanto
capital fixo as empresas aumentaram os bens de capital - aqueles que que servem para
produzir outros bens, como máquinas, equipamentos e construção civil.
Acréscimos ao estoque de bens duráveis destinados ao uso das unidades
produtivas, realizados em cada ano, visando ao aumento da capacidade
produtiva do País.
A formação bruta de capital fixo representa o valor dos bens duráveis
adquiridos no mercado ou produzidos por conta própria e destinados ao uso,
em unidades de produção, por período superior a um ano. Tem por
finalidade aumentar a capacidade produtiva do País.
3. Variação de Diferença entre os valores dos estoques de mercadorias finais, de produtos
estoques semimanufaturados, bens em processo de fabricação e matérias-primas dos
setores produtivos no início e no fim do ano, avaliados aos preços médios
correntes do período.
4. Exportação de bens Bens e serviços exportados avaliados a preços FOB, ou seja, incluindo
e serviços somente o custo de comercialização interna até o porto de saída das
mercadorias.
5. Importação de Bens e serviços adquiridos pelo Brasil do resto do mundo, valorados a preços
bens e serviços CIF, ou seja, incluindo no preço das mercadorias os custos com seguro e
frete.
21

Exemplo 7:
22

4. ÓTICA DO PRUDUTO: RENDA

Além das óticas produção e despesa, o PIB pode ser medido somando a remuneração de todos
os fatores de produção de todas as unidades produtivas da economia – ÓTICA DA RENDA. Assim,
outra forma de se calcular o valor adicionado é somar os pagamentos aos fatores de produção
empregados no processo produtivo – de forma simplificada, o capital e o trabalho.

RENDA NACIONAL BRUTA - RNB

A Renda Nacional Bruta é o agregado que considera o valor adicionado gerado por fatores de
produção de propriedade de residentes.

Por unidade residente o IBGE entende “Unidade que mantém o centro de interesse econômico
no território econômico, realizando, sem caráter temporário, atividades econômicas nesse
território”.

O conceito de RNB engloba as rendas dos setores público (administrações públicas) e privado da
economia (empresas, famílias e instituições sem fins lucrativos), além das transferências de
recursos entre o país e o resto do mundo.

Numa economia aberta, há fatores de produção estrangeira (capital e trabalho) produzindo no


país e fatores de produção de propriedade de residentes no país produzindo fora do país.

Assim, em contas nacionais, trabalha-se com dois agregados referentes à abrangência


geográfica da atividade produtiva: produto interno e a renda nacional.

Por exemplo, a produção de estrangeiros no Brasil conta no conceito de interno, mas não no
conceito de nacional. A produção de brasileiros no exterior, conta, por exemplo, como PIB do
país estrangeiro e como renda nacional do Brasil.

Genericamente, podemos definir um valor que exprime o saldo (recebimento menos


pagamento) das remunerações a fatores de produção (dividendos, juros, lucros, royalties,
aluguéis e salários) envolvendo as transações internacionais de um país do seguinte modo:

A) RNB = Soma das remunerações dos fatores de produção pagas a residentes.


Remunerações a fatores de produção (salários, aluguéis, juros, lucros, dividendos royalties,)

Salários Remuneração do fator trabalho.


Aluguéis Remuneração pela propriedade de bens de produção.
Juros Remuneração do capital de empréstimo. São formas de remuneração de determinados
ativos financeiros - depósitos; títulos, exceto ações; empréstimos e outros créditos.
Lucros Remuneração do fator capital -
Dividendos Remuneração do fator capital – parte do lucro líquido distribuída aos acionistas.
Royalties Remuneração paga ao proprietário de um bem pelo direito de utilização, exploração ou
comercialização. Royalties é o que se paga pelo uso de algo que tem dono, como uma marca
registrada, um desenho industrial registrado ou uma tecnologia protegida por patente.
▪ royalties pagos ao governo - são aqueles que decorrem da exploração de recursos
e reservas naturais: petróleo, do carvão, do gás mineral, de minérios de ferro e
outros metais.
▪ sistema de franquias – paga-se ao franqueador uma taxa de forma regular pelo
uso da marca, da tecnologia e/ou modelo de negócios.
▪ royalties relacionados aos direitos autorais e bens artísticos, como letras
fotografias peças teatrais e outras imagens e criações da imaginação humana.
Na área da tecnologia - os royalties são pagamentos pela permissão do uso de tecnologias
protegidas por patente.
23

B) RNB = remuneração dos empregados, mais o total dos impostos, líquidos de subsídios, sobre a
produção e a importação, mais o rendimento misto bruto, mais o excedente operacional bruto.

Remuneração dos empregados: despesas efetuadas pelos empregadores (salários mais contribuições
sociais) com seus empregados em contrapartida do trabalho realizado.

Excedente Operacional Bruto (EOB): saldo resultante do valor adicionado bruto deduzido das
remunerações pagas aos empregados, do rendimento misto e dos impostos líquidos de subsídios
incidentes sobre a produção.

Rendimento misto bruto: remuneração recebida pelos proprietários de empresas não constituídas em
sociedade, sejam eles trabalhadores por conta-própria (autônomos) ou empregadores informais.

A denominação “misto” diz respeito à natureza do ganho do trabalhador que não pode ser especificada
como rendimento do trabalho ou do capital.

Exemplo: para um motorista de táxi que exerça a profissão em seu próprio veículo, não será possível
atribuir quanto de seu ganho é devido somente ao seu capital (o automóvel), ou quanto é originário
apenas de seu trabalho (o transporte de passageiros).
Assim, devido a essa impossibilidade de separação, esses ganhos são alocados sob a rubrica
“rendimento misto”. No SCN do Brasil, o rendimento misto é obtido por meio das entrevistas
domiciliares à população.

O EOB para empresas é geralmente relacionado na literatura econômica como uma proxy
(aproximação) do lucro bruto. Empiricamente, equivale à parcela da renda gerada pelas empresas que
deve incluir, por exemplo:
▪ Lucro líquido do exercício, antes da provisão do imposto de renda;
▪ Saldo das despesas e receitas não operacionais e financeiras;
▪ Distribuições no exercício, tais como participações nos lucros, retiradas e gratificações
▪ dos administradores;
▪ Impostos (exclusive imposto de renda), taxas, multas e demais contribuições
▪ parafiscais;
▪ Doações, contribuições;
▪ Despesas com prêmios de seguros;
▪ Resultado em participações societárias;
▪ Depreciação;
▪ Despesas com royalties.

C) RNB = Soma das remunerações dos fatores de produção (salários + EOB) pagas a
residentes + saldo (recebimento menos pagamento) envolvendo as transações
internacionais de um país, ou seja, considerar:
▪ Renda recebida por unidades residentes pelo pagamento de fatores de produção
(salários + EOB), ou seja, Renda líquida recebida do exterior;
▪ Renda de fatores gerada no país, mas transferida para unidades residentes no
exterior (salários + EOB), ou seja, Renda líquida enviada ao exterior.
▪ Saldo: Renda recebida por unidades residentes pelo pagamento de fatores de
produção menos Renda de fatores gerada no país, mas transferida para unidades
residentes no exterior.

D) RNB = Produto interno bruto mais os rendimentos líquidos dos fatores de produção recebidos do
resto do mundo (remunerações + rendas de propriedade) menos os rendimentos líquidos enviados
ao exterior (remunerações + rendas de propriedade líquidas)
24

Sobre Remunerações – ordenados e salários:

Remunerações = ordenados e salários


Ordenados Por ordenado entendemos a remuneração da classe burocrática ou tecnoburocrática. Utiliza-se o termo
salários gerenciais para significar a remuneração dos gerentes, executivos e burocratas que, juntos,
compõem a classe dirigente não-proprietária.
Os ordenados não dependem do custo de reprodução da burocracia. Sua determinação varia de acordo
com a posição hierárquica que burocratas e técnicos ocupam na escala social, própria da divisão
funcional do trabalho, em determinada organização.
Salários Rendimento que os trabalhadores recebem em troca do trabalho que despendem no processo
produtivo. Em outras palavras, o salário é o valor pago aos trabalhadores em troca de determinada
quantidade de trabalho.

Sobre rendas de propriedade:

Rendas de propriedade

▪ Renda de propriedade: renda recebida pelo proprietário e paga pelo utilizador de um ativo financeiro ou de um
ativo não produzido, como terrenos.
▪ Rendas de propriedades enviadas e recebidas: remuneração líquida (recursos menos usos) dos fatores de
propriedade, constituída por: a) rendas de capitais – juros, lucros e dividendos – e b) outros serviços de fatores
constituídos por royalties e direitos autorais (conta de alocação da renda).

Juros São formas de remuneração de determinados ativos financeiros – depósitos; títulos,


exceto ações; empréstimos e outros créditos - através de pagamento estabelecido por
cláusula contratual ou de uma percentagem do capital em dívida.
Os juros devem ser registrados pelo montante contratualmente previsto no momento
em que se tornam uma obrigação para o devedor, isto é, no momento devido e
registrados na base de direitos constatados (regime de competência).
Devem, ainda, ser registrados pelo valor nominal. Porém, em economias com inflação
elevada, o registro dos juros nominais provoca uma série de distorções, tornando
indispensável a adoção de tratamentos específicos, expressos no SNA 1993.
Nas contas nacionais brasileiras os juros pagos e recebidos foram ajustados, no período
1995-1997, tornando seus resultados mais coerentes e permitindo que os saldos das
diversas contas expressem mais adequadamente a realidade dos setores e do País.
Dividendos e Representam todas as rendas que as empresas, em vista dos resultados de sua atividade,
retiradas decidem distribuir, sob a forma de dividendos e outros rendimentos, aos detentores do
seu capital (os acionistas). Os dividendos devem ser registrados no momento em que são
efetivamente pagos.
Lucros reinvestidos Os lucros não distribuídos de uma empresa de investimento direto estrangeiro devem
de investimento ser tratados como se tivessem sido distribuídos e transferidos para os investidores
direto estrangeiro diretos estrangeiros e posteriormente reinvestidos por eles. Esse montante é registrado
tanto no sistema de contas nacionais como no balanço de pagamentos.
Rendimento de São os rendimentos primários provenientes da aplicação das provisões técnicas. As
propriedade provisões técnicas constituídas pelas empresas de seguros, apesar de serem detidas e
atribuído a geridas pelas seguradoras, são consideradas ativos dos detentores das apólices de seguro
detentores de ou beneficiários, no caso de provisões para sinistro. Essas provisões são investidas pelas
apólices de seguros seguradoras sob a forma de ativos financeiros, terrenos ou edifícios e seus rendimentos
são distribuídos pelos segurados proporcionalmente aos prêmios pagos.
Rendas da terra e São as rendas recebidas pelos proprietários de terra e de ativos do subsolo como
direitos do subsolo contrapartida à cessão do direito de seu uso. No SCN, em função da disponibilidade de
informações, só foram considerados o aluguel de terras agrícolas e os royalties pagos
pelas empresas públicas às administrações públicas pela exploração de recursos hídricos,
minerais e pela extração de petróleo e gás natural. Estas rendas remuneram um direito
de uso e não uma transferência de propriedade. O produto desta última não é uma
operação de renda e sim de capital.
25

E) RNB = ∑ pagamento de fatores de produção (salários + EOB ) + (RLRE - RLEE)


RLRE = Remunerações (salários) + Rendas de propriedade (aluguéis, juros, lucros, dividendos royalties...)
RLEE = Remunerações (salários) + Rendas de propriedade (aluguéis, juros, lucros, dividendos royalties...)

F) RNB = PIB + (RLR - RLEE)


As diferenças entre o PIB e o RNB podem ser muito grandes em países com um elevado grau de
endividamento externo, devido ao pagamento de juros a estrangeiros, e em países com grande
presença de empresas multinacionais, que remetem lucros e royalties para seus países de
origem.

RENDA NACIONAL DISPONÍVEL BRUTA (RDB) E RENDA PRIVADA DISPONÍVEL (RPD):

A partir do cálculo da RNB, podemos derivar outro agregado de interesse que é a Renda Nacional
Disponível (RDB).
O conceito de RDB difere do conceito de renda nacional por considerar o saldo das
transferências correntes recebidas e enviadas ao exterior:

Transferências correntes (TUR) toda movimentação de recursos entre agentes econômicos e países, sem
contrapartida com o processo de produção (por exemplo, remessa e recebimento de recursos entre governos e
residentes, remessa de imigrantes para suas famílias no país, doações, heranças, bolsa de estudo, pagamento de
prêmio de seguro e indenizações - incêndio, inundação, acidente, roubo e outros riscos, incluindo ainda o seguro
de reembolso de despesas de assistência médico-hospitalar etc.).
TUR = transferências líquidas correntes, ou seja, transferências de recursos sem contrapartida no processo
produtivo, como o pagamento e recebimento de imposto sobre a renda e o patrimônio, de operações de seguro,
de contribuições e benefícios previdenciários e transferências entre governos e entre residentes.
Transferência corrente é uma transação na qual uma unidade institucional provê um bem, um serviço ou um
ativo a outra unidade, sem receber em troca qualquer bem, serviço ou ativo.

Os três principais tipos de transferência corrente distinguidos na distribuição secundária da renda são:
i) Impostos correntes sobre a renda e a propriedade (IReP): o saldo dos impostos são transferidos de
todas as unidades institucionais para a administração pública. Portanto, são um recurso para a
administração pública e um uso para os demais setores institucionais.
ii) Contribuições sociais (CS) e benefícios sociais (BS):
▪ As contribuições sociais (por exemplo, as contribuições à previdência pública e privada)
registradas nessa conta referem-se às contribuições das famílias para a administração
pública e para as empresas financeiras, como pagamentos a esquemas de seguro social
com objetivo de fazer provisão para benefícios sociais a serem pagos no futuro. Não
incluem as contribuições sociais feitas pelos empregadores para seus empregados,
registradas na conta de distribuição primária da renda na rubrica de remunerações dos
empregados.
▪ Os benefícios sociais são transferências pagas às famílias com o objetivo de prover
necessidades que surgem por determinados acontecimentos, tais como aposentadoria,
desemprego, doença etc.

iii) Outras transferências correntes (TUR): transferências entre unidades institucionais residentes ou
entre unidades residentes e não residentes. Incluem, principalmente, transferências:
▪ entre diferentes níveis de governo;
▪ referentes à cooperação internacional, em moeda ou em espécie, entre governos
▪ de diferentes países ou entre governos e organizações internacionais;
▪ a instituições sem fins lucrativos, na forma de doações;
▪ entre famílias residentes morando em locais diferentes, e entre residentes e
não residentes, como remessa de imigrantes para seus familiares;
▪ como o pagamento de prêmio líquido de seguro e indenizações.

.
26

A RDB - Renda Nacional Disponível corresponde aos recursos que os agentes econômicos têm
para gastar em consumo ou para poupar.

Assim, a Renda disponível bruta é o saldo resultante da renda nacional bruta deduzidas as
transferências correntes enviadas e recebidas do resto do mundo:

A) RDB= RNB + TUR


B) RDB= RLG + RPD

Podemos subdividir a RDB em renda do governo, das empresas (financeiras e não financeiras) e
das famílias (consumidoras ou produtoras).

Em que:
o RLG = Renda Líquida do Governo - composta pela soma dos impostos diretos e indiretos
arrecadados pelo governo e outras receitas correntes Menos Transferências e subsídios
pagos pelo governo.

o RPD = Renda Privada Disponível - A RPD (empresas e famílias) é composta pela soma de:
▪ salários;
▪ juros, lucros e aluguéis pagos a indivíduos;
▪ transferências pagas a indivíduos, menos impostos sobre renda e patrimônio; e
▪ lucros retidos nas empresas e reserva para depreciação.

Em resumo, o conceito de renda nacional considera as rendas auferidas pelos fatores de


produção em contrapartida a serviços prestados ao processo de produção. Como transferências
são pagamentos sem contrapartida com o processo de produção, o seu saldo deve ser
considerado para se chegar à estimativa da renda disponível, a qual equivale ao montante que
os agentes econômicos têm para gastar:

Renda pessoal e Renda nacional


Embora a maior parte da renda nacional seja recebida na forma de renda pessoal, essas duas medidas de
renda não são exatamente as mesmas, pois nem toda a renda nacional flui das empresas para as famílias.

1ª Razão:
a) Parte do lucro é levado pelo governo na forma de impostos sobre a renda das empresas;
b) Parte do lucro é retido para financiar expansões das empresas;
c) Finalmente são pagos impostos para a previdência social, e estes também não vão para a renda
pessoal.

2ª Razão:
a) Transferências – são fonte de renda para as famílias mas elas não são derivadas da utilização
de fatores de produção no ano, não estando, portanto, incluídas na renda nacional.
Assim, para chegar da renda nacional à renda pessoal subtraímos os impostos sobre a renda
das empresas, os lucros retidos e os recolhimentos para a previdência social, mas somamos as
transferências.
27

Exemplo 8:

Produto Interno Bruto/RENDA


Remuneração dos empregados (inclui salários e benefícios) + Excedente operacional bruto - EOB* 1.639.311
Remuneração dos Empregados não Residentes Enviada e Recebida do Resto do Mundo 154
Rendas de Propriedade** Enviadas e Recebidas do Resto do Mundo -23.431
28

Exemplo 9:

1 000 000 R$
Produto Interno Bruto/RENDA
Remuneração dos empregados (inclui salários e benefícios) + Excedente operacional bruto - EOB 2.215.185
Rendas de Propriedade Recebidas do Resto do Mundo 38.413
Remuneração dos Empregados não Residentes Enviada e Recebida do Resto do Mundo 185
Transferências Correntes Recebidas do Resto do Mundo 7.474
Rendas de Propriedade Enviadas ao Resto do Mundo 100.580
Transferências Correntes Enviadas ao Resto do Mundo 4.058
Fonte: IBGE, Diretoria de pesquisa, Coordenação de Contas Nacionais.

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