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Brazilian Journal of Development 66094

ISSN: 2525-8761

A educação para o trânsito no Brasil

Traffic education in Brazil

DOI:10.34117/bjdv7n7-063

Recebimento dos originais: 05/06/2021


Aceitação para publicação: 05/07/2021

João Paulo Benevides de Melo


Mestre Em Ciências Da Educação pela Facultad Interamericana De Ciencias Sociales
E-mail: joao_paulo_20@hotmail.com

Pedro Ramon Pinheiro de Souza


Doutor Em Ciências Da Educação pela Facultad Interamericana De Ciencias Sociales
E-mail: hunter4you@gmail.com

RESUMO
O presente artigo é parte integrante da minha Dissertação de Mestrado. O objetivo deste
artigo é contextualizar a educação para o trânsito no Brasil. Trata-se de uma sintetização
de teórica acerca deste tema onde pretende-se chamar a atenção para o número de mortes
no trânsito. Os resultados apontam que é dever do Estado propor medidas preventivas que
ajudem a minimizar os índices de acidente de trânsito, utilizando os recursos necessários
para elaborar projetos e campanhas educativas em parcerias com órgãos e entidades da
federação de forma continuada.

Palavras-Chaves: Educação para o Trânsito, Educação no Trânsito, Temas Transversais,


Prática Pedagógica.

ABSTRACT
The present article is part of my Master's Dissertation. The objective of this article is to
contextualize traffic education in Brazil. It is a synthesis of the theory about this theme
where we intend to call attention to the number of traffic deaths. The results point out that
it is the State's duty to propose preventive measures that help to minimize the rates of
traffic accidents, using the necessary resources to develop projects and educational
campaigns in partnership with agencies and entities of the federation on a continuous
basis.

Keywords: Traffic Education, Traffic Education, Crosscutting Issues, Pedagogical


Practice.

1 INTRODUÇÃO
Em nove estados brasileiros, o número de mortes no trânsito no ano de 2018 foi
maior que os crimes de homicídios e latrocínio no mesmo período. Os dados foram
divulgados pela Seguradora líder, vinculada ao DPVAT. O estado de São Paulo está no
topo da estatística com 5.462 mortes violentas no trânsito, contra 3.464 óbitos definidos

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como crimes violentos. Em seguida estão: Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Mato
Grosso, Piauí, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Rondônia.
Parker et al. (1995, p. apud MARÍN-LEÓN e VIZZOTO, 2003) afirma “que a
tendência para acidentes pode ser prognosticada a partir das infrações referidas pelo
próprio motorista”. Essa cultura de desrespeito às leis de trânsito potencializa o risco de
se envolver num acidente em via pública. Mesmo as infrações de menor potencial
ofensivo, carregam em si, o combustível necessário para que tantas outras possam ser
cometidas, talvez, alimentadas pela impunidade, como também, por uma formação
educacional que não foi capaz de construir um comportamento seguro e cidadão no
trânsito.
Dados divulgados pelo Detran-RN informam que a infração mais frequente, sob
sua jurisdição, no ano de 2017, foi dirigir sem possuir CNH/PPD/ACC ou permissão para
dirigir, com 5.254 autuações. Isso demonstra existir um universo de condutores não-
habilitados, de posse de veículo automotor e em via pública, o que pode agravar as
estatísticas de acidentes de trânsito, uma vez que o condutor que não se submeteu ou não
foi aprovado no processo de aquisição da Carteira Nacional de Habilitação - CNH não
está apto para dirigir (PORTAL DO GOVERNO DO RN, 2019).
Em 2017, o Detran-RN realizou 49.369 exames teóricos para aquisição da CNH.
Foram registrados 21.706 inaptos, totalizando 44% do total. Esse número é 7,8% menor
que no ano de 2016, quando foram registrados 58,8% de reprovações no exame teórico.
Por mais que o número de inaptos tenha diminuído no ano de 2017, a quantidade de
inaptos chama atenção. Talvez esses jovens estejam realizando os exames sem o preparo
necessário para tal fim, o que recai a atenção para as autoescolas ou para metodologia
empregada pela examinadora. Por outro lado, pode-se inferir que muitos desses
candidatos dirigem veículos automotores mesmo sem a autorização estabelecida por lei.
Marciel (2008, p. 35) afirma que:

[...] o trânsito é um grande palco das relações sociais, que precisa,


urgentemente, de atitudes que visem uma melhor convivência do indivíduo em
sociedade. E a educação, nesse sentido, pode contribuir, possibilitando aos
educandos, conhecimentos capazes de desenvolver sua capacidade de
posicionar-se e intervir no meio social, de forma crítica e consciente,
ressaltando que uma das funções da educação é contribuir para o crescimento
social de uma nação.

A relação conflituosa dos usuários em via pública sugere que é necessário se fazer
uma análise profunda dos motivos que levam as pessoas a terem um comportamento que

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coloca o outro em risco. Não se trata apenas de um comportamento agressivo, como


também condutas erradas que aumentam as chances de ocasionarem acidentes, muitas
vezes fatais.

2 EDUCAÇÃO DO TRÂNSITO NO BRASIL


A capacidade de aprendizagem resultante da interação social está diretamente
relacionada ao contexto no qual o homem está inserido. A interação social estabelece um
conjunto de normas a serem seguidas; padrões de comportamento substanciado pelos
traços culturais de cada região.

[...] O homem apresenta grande parte do seu comportamento determinado pela


sua capacidade de aprendizagem, e através dela adquire uma série de
conhecimentos que não traz por sua hereditariedade. O exercício da capacidade
de aprender experiências, possibilitando-lhe agir segundo atitudes e
comportamentos adquiridos, deu origem ao processo chamado educação
(SOUZA, 2010 apud CAMPOS, 2012, p. 40.

No entanto, nem sempre, esses padrões adquiridos corroboram com o


desenvolvimento e vitalidade dessas relações. Nesse contexto, pode-se dizer que a cultura
de desrespeito às leis de trânsito é um processo resultante dessas interações sociais,
substanciadas pelas formações familiar e educacional, assim como pela posição social
que o indivíduo está inserido, tendo como premissa a influência que o grupo desenvolve
nas tomadas de decisões, culminando numa característica comportamental alheia ao
interesse coletivo.
As variáveis psicossociais constituem-se pelo sistema de personalidade e do
ambiente percebido, incluindo a percepção dos estilos, práticas educativas parentais e a
influência do grupo de iguais (PANICHI e WAGNER, 2006).
Marciel (2008, p. 80) afirma que:

[...] o trânsito é um grande palco das relações sociais, que precisa,


urgentemente, de atitudes que visem uma melhor convivência do indivíduo em
sociedade. E a educação, nesse sentido, pode contribuir, possibilitando aos
educandos, conhecimentos capazes de desenvolver sua capacidade de
posicionar-se e intervir no meio social, de forma crítica e consciente,
ressaltando que uma das funções da educação é contribuir para o crescimento
social de uma nação.

No contexto do processo de formação educacional de um indivíduo, a família tem


um papel decisivo, capaz de moldar comportamentos positivos ou negativos. Essas
práticas parentais podem facilmente ser observadas no trânsito, momento em que o filho

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observa e assimila o comportamento dos pais durante a interação deles no ambiente


urbano. Bianchi e Summala (in press apud PANICHI E WAGNER, 2006, p. 62) afirmam
que “demonstraram em um estudo intergeracional uma significativa correlação entre o
comportamento transgressivo dos pais no trânsito e o comportamento de violação das
regras na geração de filhos”. Isso não significa dizer que a educação familiar se propõe a
estimular um comportamento problemático nos filhos, e sim que a assimilação por parte
da criança é resultado de amplo processo de observação inerente a própria formação
comportamental, em outras palavras, ver e repetir a conduta observada.
As crianças aprendem o tempo todo com os pais. Da mesma forma se posiciona
Mondin (2008, p.22 ) “os pais são os maiores reforçadores, fontes de afeto e também
modelos de aprendizagem para as crianças”. Oliveira e Marinho-Araújo (2010) dizem
que “família é considerada a primeira agência educacional do ser humano e é responsável,
principalmente, pela forma com que o sujeito se relaciona com o mundo, a partir de sua
localização na estrutura social”. Desse modo, a criança observa e assimila quando os pais
avançam o sinal vermelho, percebem quando o pai atende uma ligação no momento que
está dirigindo ou quando saem conduzindo a motocicleta sem capacete.
No contexto escolar que se trabalha as noções iniciais sobre o comportamento
seguro no trânsito, observa-se, além da assimilação por parte da criança daquele
conhecimento trabalhado dentro de uma política pedagógica escolar, uma potencialidade
perceber e coibir dos pais comportamentos divergentes àqueles ensinados pela
comunidade escolar. Em muitos casos, ao perceberem essas condutas inadequadas, as
crianças questionam os pais e, por vezes, são capazes de influenciá-los a terem uma
postura correta. O ambiente escolar exerce um poder de orientação sobre os pais para que
possam educar melhor os filhos e estes, por sua vez, aprendem a educar na mesma
proporção os seus responsáveis (OLIVEIRA e MARINHO-ARAÚJO, 2010).
A escola deve assumir esse compromisso como ambiente de construção e
compartilhamento de conhecimento, promovendo debates sobre temas do cotidiano que
influenciam a vida das pessoas. “Cada vez mais a escola tem assumido um papel social
que busca formar cidadãos aptos a viver em comunidade” (FERREIRA, 2011, p. 35).
Nesse contexto, a temática Trânsito ganha destaque. Através dela cria-se a possibilidade
de formatar hábitos aceitáveis e cidadãos no trânsito. Não se aplica a este entendimento
somente o conhecimento sobre a legislação de trânsito, como também, uma formação que
possibilite uma reflexão sobre o comportamento seguro no meio urbano. Abre-se uma
discussão sobre a importância de inclusão desta temática ainda na formação básica de

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ensino, mesmo que seja de forma transversal. Segundo Hoffmann, Cruz e Alchier (2003),
“os estudos no campo da Educação para o Trânsito confirmam a necessidade de incluir
este tema dentro do currículo integral, envolvendo os conhecimentos da vida social por
parte do aluno, a criação e práticas e hábitos, atitudes e comportamentos coerentes”. Essa
iniciativa atinge diretamente um grupo de risco, as estatísticas de acidentes de trânsito
envolvendo crianças aumentam todo ano. Dados do Observatório Nacional de Segurança
Viária mostram que em 2016 foram 1.292 mortes de jovens entre 0 a 14 anos no trânsito.
O que significa dizer que, por dia, morrem 3,5 crianças no país. Um número alarmante
que exige o envolvimento de todos os setores da sociedade, trabalhando de forma
integrada e regular.
A Lei nº 9.503, de setembro de 1997, denominada de Código de Trânsito
Brasileiro traz um capítulo exclusivo, estabelecendo diretrizes relacionadas a políticas
educativas. O Art. 74 diz que a educação para o trânsito é direito de todos e constitui
dever prioritário para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito. Essa lei, além de
coibir condutas inadequadas dos condutores de veículo automotor, estabelece diretrizes
de como os estados e municípios em conjunto com órgãos e entidades do Sistema
Nacional de Trânsito devem planejar as ações de educação para o trânsito na pré-escola
e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus.

Art. 76: A educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas
de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os
órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de
atuação. Parágrafo único. Para a finalidade prevista neste artigo, o Ministério
da Educação e do Desporto, mediante proposta do CONTRAN e do Conselho
de Reitores das Universidades 5Brasileiras, diretamente ou mediante convênio,
promoverá: I - a adoção, em todos os níveis de ensino, de um currículo
interdisciplinar com conteúdo programático sobre segurança de trânsito. II - a
adoção de conteúdos relativos à educação para o trânsito nas escolas de
formação para o magistério e o treinamento de professores e
multiplicadores; III - a criação de corpos técnicos interprofissionais para
levantamento e análise de dados estatísticos relativos ao trânsito; IV - a
elaboração de planos de redução de acidentes de trânsito junto aos núcleos
interdisciplinares universitários de trânsito, com vistas à integração
universidades-sociedade na área de trânsito (Código de Trânsito Brasileiro –
CTB, 1997, p. )

O Art.75 trata dos temas e cronogramas das campanhas no âmbito nacional que
deverão ser promovidas por todos os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito.
A semana Nacional do Trânsito ocorre nos dias 18 a 25 de Setembro e é o momento em
que se intensifica os debates sobre essa temáticas nas escolas em parceria com órgãos de

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Trânsito de todas as esferas onde se busca promover discussões, palestras, dinâmicas,


simulações que possibilitam as noções básicas de um comportamento seguro no trânsito.
“A Educação para o trânsito inserir-se-á como conteúdo transversal e interdisciplinar aos
Componentes Curriculares de todos os anos da Educação Infantil e Ensino Fundamental
e suas modalidades” (Código de Trânsito Brasileiro – CTB, Art. 2, 1997, p. 15).
No entanto, a normatização estabelecida pelo CTB sobre a adoção de um currículo
interdisciplinar sobre segurança no trânsito não se efetivou em sua plenitude. Na prática,
as escolas intensificam a abordagem a este tema em sala de aula na Semana Nacional de
Trânsito, o que fragiliza a assimilação dos alunos sobre o tema proposto. A ausência de
uma política pedagógica efetiva nas instituições de ensino que contemplem um conteúdo
sobre segurança no trânsito vai de encontro, também, com a resolução da ONU, editada
em 2010, no qual definiu o período de 2011 a 2020 como a “Década de ações de segurança
no trânsito”. Que além de investimentos em educação para o trânsito, exige investimentos
em infraestrutura, segurança veicular e atendimento pré-hospitalar.
O grande desafio atual é estabelecer um currículo pedagógico de forma transversal
e interdisciplinar em todo território nacional que contemple as noções de trânsito, de
modo a dialogarem entre si e possibilitar ao aluno uma reflexão do tema trabalhado com
as disciplinas curriculares. Em síntese, a inserção da educação para o Trânsito nos
currículos escolares se problematiza ainda mais quando de avalia a sua periodicidade,
sobretudo intensificada em momentos específicos ao logo do ano letivo escolar. No
entanto, há diretrizes que dão suporte para o aprimoramento desses currículos
pedagógicos. Como exemplo: Os Temas transversais inseridos nos Parâmetros
Curriculares Nacionais que abordam situações do cotidiano social permeando toda prática
educativa na comunidade escolar.

A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática


educativa, uma relação entre aprender na realidade e da realidade de
conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as
questões da vida real (aprender na realidade e da realidade) (BRASIL, PCN,
1997, p. 31).

Os educadores e os alunos orientados pelos processos de vivências sociais da


comunidade que estão inseridos, dialogam entre si problematizando e buscando promover
alternativas válidas para a resolução dos conflitos oriundos das relações sociais. Além
disso, a compreensão sobre sua realidade contribui na formação integral do sujeito capaz

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de refletir sobre seus valores e aprimorar seu posicionamento crítico frente às situações
vivenciadas no meio social.
Quando se fala em educação para o trânsito, não se busca a criação de uma
disciplina específica que trabalhe essa temática, mas um modelo de currículo
interdisciplinar que proporcione uma reflexão das vivências do meio real com as diversas
disciplinas dentro da comunidade escolar.

É preciso, antes de tudo, focalizar a escola e o currículo dentro do conjunto das


relações sociais, desta maneira, será possível desenvolver uma educação para
o trânsito, conectada a interdisciplinaridade. Esta se impõe hoje como
alternativa para se ultrapassar fronteiras, dialogar com várias disciplinas e
construir um fazer pedagógico que modifique o real, assim como pela
necessidade de se empregar energias e recursos num projeto que provoquem
resultados visíveis, perceptíveis. (RODRIGUES, 2017, p. 6)

Esse modelo curricular poderá possibilitar ao estudante uma formação


educacional pautada pela valorização da vida, pelo respeito ao direito do outro, pela ética
no trânsito e um modelo de comportamento que atendam os anseios coletivos no meio
urbano. No entanto, é preciso criar um modelo curricular que acompanhe a evolução
educacional do aluno, sendo um modelo sistemático e evolutivo, ou seja, as discussões e
aprofundamentos das relações sociais no meio urbano sejam coerentes com o momento
educacional que o aluno está inserido. Quanto maior o nível educacional, maior será o
aprofundamento das discussões dessa temática.
Dessa forma, a educação para o trânsito estará inserida em todo o processo de
educação do aluno. “No decorrer da escolaridade, sem descontinuidade a segurança no
trânsito constitui um dos temas de educação para a cidadania que se integra no projeto da
escola ou do estabelecimento” (SIMIONI, 2017, p. 25)

2.1 INVESTIMENTOS EM EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO


Quando se avalia a legislação atual, percebe-se que o Código de Trânsito
Brasileiro é um dos mais modernos do mundo. Não se deteve somente a elaboração de
mecanismos punitivos que coibissem a postura inadequada dos condutores de veículos
automotores, mas também elaborou diretrizes que servissem de suporte para políticas
públicas em educação para o trânsito. Exigiu a adoção de um currículo interdisciplinar
com conteúdo programático sobre segurança de trânsito na pré-escola e nas escolas de 1º,
2º e 3º graus, com planejamento e ações integradas entre todas as entidades que compõe

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o Sistema Nacional de Trânsito. Além de normatizar os investimentos em educação para


o Trânsito que deverão ser feitos pelo Governo Federal.

Art. 78. Os Ministérios da Saúde, da Educação e do Desporto, do Trabalho,


dos Transportes e da Justiça, por intermédio do CONTRAN, desenvolverão e
implementarão programas destinados à prevenção de acidentes. Parágrafo
único. O percentual de dez por cento do total dos valores arrecadados
destinados à Previdência Social, do Prêmio do Seguro Obrigatório de Danos
Pessoais causados por Veículos Automotores de Via Terrestre - DPVAT, de
que trata a Lei nº 6.194, de 19 de dezembro de 1974, serão repassados
mensalmente ao Coordenador do Sistema Nacional de Trânsito para aplicação
exclusiva em programas de que trata este artigo. (CTB, 1997, p. 15 ).

O seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias


Terrestres (Dpvat) é um fundo de âmbito nacional destinado à segurança e educação de
trânsito, criado pela Lei 6.194/74. Por meio dele se garante a indenização à vítima de
acidente de trânsito em caso de morte ou invalidez permanente. Esse recurso é oriundo
da cobrança de uma taxa anual aos proprietários de veículos sujeito a registro e
licenciamento, que além de garantir a indenização a vítimas de acidentes de trânsito, prevê
repasses de 45% ao Fundo Nacional de Saúde (FNS) e ao sistema único de Saúde, no qual
irá custear o atendimento a vítimas de acidentes de trânsito. Outros 5% serão destinados
ao Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), no qual serão utilizados em
projetos e campanhas educativas em todo território nacional.
Martins (2009, p. 25) diz que:

O seguro Obrigatório de veículos automotores de vias terrestres – DPVAT,


diferentemente de outras espécies de seguro, é dotado de função social
altamente relevante, sobretudo quando se analisa com requintes de detalhes os
valores pertinentes a sua finalidade

O DPVAT tem uma função social importante, sua natureza assistencialista é vital
para quem necessita do benefício intrínseco a sua origem. O valor indenizatório tem a
finalidade de minimizar os danos resultantes de um acidente de trânsito, que variam
conforme a gravidade e o custo por ele gerado. Por outro lado, a previsão de destinação
de 5% para o DENATRAN sugere que esse modelo de seguro é também preventivo, uma
vez que parte desse recurso será utilizado para campanhas educativas. Todavia, ao logo
da sua vigência ocorreram inúmeros casos de fraudes e problemas gerenciais que
dificultaram a utilização desse recurso para sua finalidade inicial. Em 2016 foi criada uma
PCI para investigar fraudes na concessão do Seguro DPVAT. Na ocasião, parlamentares
questionaram por quê os recursos previstos em lei não eram direcionados ao

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DENATRAN, como também o motivo do contingenciamento desse recurso nos cofres do


governo.
Martins (2009, p. 18), afirma que o desconhecimento e os entraves que os
beneficiários têm ao acessarem os recursos do DPVAT contribuem para as ocorrências
de fraudes nesse sistema. Por esse motivo é necessário a vigilância e o empenho do
Governo em destinar os recursos previstos em lei aos seus devidos fins.
O código de Trânsito Brasileiro, em seu Art. 320, estabelece que 5% do valor das
multas de trânsito deve ser destinado ao fundo nacional de segurança e educação de
trânsito- FUNSET. Criado em de 21 de janeiro de 1998, através da Lei nº 9.602, o FUSET
tem a finalidade de

Art. 320. A receita arrecadada com a cobrança das multas de trânsito será
aplicada, exclusivamente, em sinalização, engenharia de tráfego, de campo,
policiamento, fiscalização e educação de trânsito.
§ 1º O percentual de cinco por cento do valor das multas de trânsito
arrecadadas será depositado, mensalmente, na conta de fundo de âmbito
nacional destinado à segurança e educação de trânsito.
§ 2º O órgão responsável deverá publicar, anualmente, na rede mundial de
computadores (internet), dados sobre a receita arrecadada com a cobrança de
multas de trânsito e sua destinação (CTB, 1997, p. )

Diferentemente do seguro DPVAT, o FUNSET tem uma característica preventiva,


investir em engenharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização e educação de
trânsito. São ações programadas que fazem parte do conjunto de atividades educativas do
DENATRAN. Que tem por objetivo reduzir o número de acidentes de trânsito em todo
território nacional.

Os investimentos por parte do estado são à base da matriz da redução do


número de acidentes, estes terão um efeito multiplicador de fundamental
importância no fluxo financeiro final desta matriz. Ou seja, cada unidade
monetária investida será transformada em menos unidades dependidas nas
consequências dos acidentes. (REVISTA DA FARN, 2003, p. 26)

É dever do Estado propor medidas preventivas que ajudem a minimizar os índices


de acidente de trânsito, utilizando os recursos necessários para elaborar projetos e
campanhas educativas em parcerias com órgãos e entidades da federação de forma
continuada. No entanto, o que é visto na prática são problemas gerenciais que afetam a
eficácia desses programas. Dados da Confederação Nacional de Transportes apontam que
nos últimos 5 anos, somente 17,78% dos valores do FUNSET foram utilizados em
projetos e campanhas educativas; dos R$ 5,42 bilhões autorizados, R$ 964,29 milhões

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foram gastos. Isso representa uma ruptura importante que afeta diretamente o
planejamento de um trânsito mais humano e cidadão.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo como premissa algumas inquietações que servirão de base para futuros
estudos, recomendamos uma análise aprofundada sobre a temática trânsito em toda
formação educacional do jovem, será que a criação de uma disciplina com essa temática
iria contribuir para a diminuição nos níveis de reprovação? Em outra perspectiva, até que
pondo esses exames teóricos do DETRAN colaboram para os altos índices de reprovação?
Se o fator psicológico é tão determinante porque não criar um grupo, com profissionais
qualificados que possam identificar e elaborar diretrizes objetivando diminuir o nível de
tensão sobre os candidatos?

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