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OBRAS LITERÁRIAS
Hamlet
William Shakespeare
Prof.ª Celina
Sumário
APRESENTAÇÃO 3
1- CONTEXTO HISTÓRICO 3
2- WILLIAM SHAKESPEARE 7
3 – RESUMO E ANÁLISE 9
4 – EXERCÍCIOS 33
4.1 – Lista de questões 33
4.2 – Gabarito 44
CONSIDERAÇÕES FINAIS 59
Apresentação
Olá!
Na aula de hoje, vamos nos debruçar sobre uma obra de um dos autores mais conhecidos da
literatura: Hamlet, de William Shakespeare. Não é uma obra simples, nem de ler e nem de entender. Por
isso, vamos trabalhar profundamente para conseguir abarcar o que é preciso.
Lembre-se que, para melhor aproveitamento dessa aula, o ideal é que você tenha lido o livro. Se
você ainda não tiver lido o livro, utilize esse material como guia para a leitura. Mas, atenção:
Vamos lá?
1- Contexto histórico
No século XI, a Grã-Bretanha foi ocupada por nobres da Normandia, dando início a uma dinastia
política conhecida como Plantagenetas. João Sem Terra, o terceiro rei plantageneta a ascender ao trono,
teve seu governo marcado por violentas reações da nobreza britânica diante de suas tentativas de tributá-
los. Em junho de 1215, o monarca foi forçado a assinar a Magna Carta, na qual seus poderes eram
limitados em favor do Parlamento, uma instituição composta pelos súditos
mais importantes do reino.
(Henrique VIII)
Na Inglaterra, a reforma religiosa ocorreu em condições distintas das observadas nos demais
países. Por não ter obtido herdeiros masculinos de sua esposa, o rei Henrique VIII apresentou ao papa
um pedido de anulação de seu casamento com Catarina de Aragão. Diante da negativa de Roma, ele
decidiu romper com a Igreja católica para se casar com sua amante, Ana Bolena.
Contudo, havia algo maior em jogo: ao confrontar o poder papal, o monarca se colocou como líder
da Igreja anglicana, em 1534, acumulando, portanto, as funções de chefe de Estado e da Igreja. Ademais,
isso também deu margem para que fossem confiscados bens e terras da instituição católica na Inglaterra.
O TEATRO ELISABETANO
O teatro elisabetano (1558 – 1625) foi um período de muita criação e mudanças no
fazer teatral. Também é chamado muitas vezes de Teatro Renascentista Inglês, pois se
estende até reinados posteriores. Ele não coincide necessariamente com o
Renascimento do restante da Europa e possui traços maneiristas e barrocos em
algumas produções. O autor mais conhecido do período até hoje é William
Shakespeare.
Uma das grandes inovações do teatro elisabetano foi a capacidade de construir
dramaturgias que bebiam das influências clássicas e italianas – principalmente no
campo da filosofia – adaptadas à realidade da Inglaterra, muitas vezes fazendo
referências a histórias de conhecimento popular, lendárias. Também eram comuns
referências a acontecimentos da época, como crimes e casórios.
Outra inovação fundamental foi a popularização do teatro. Até então, o teatro
apresentado dentro de edifícios – não as cenas performadas em feiras ou praças – era
primazia de uma elite econômica, que podia pagar por esses espetáculos. Os teatros
da Inglaterra possuíam uma divisão de público, com valores diferentes. A imagem
abaixo mostra o teatro The Globe hoje. O The Globe era o teatro em que William
Shakespeare apresentava suas criações. Ainda que não seja a construção original, ela
buscou se reproduzir a arquitetura da época.
Fonte: Pixabay
Em pé, em volta do palco, ficam as pessoas mais pobres, que pagaram mais barato
para ir ao teatro. Esse espaço era também aberto, não tinha teto. Lembre-se que ainda
não tínhamos energia elétrica nessa época e, portanto, a luz do sol era fundamental
para que se pudesse enxergar o espetáculo. As pessoas com mais posses, sentavam-se
nas cadeiras no alto. Ainda que a nobreza pouco frequentasse esses espaços – já que
também se apresentavam peças em castelos e residências de nobres – essa arquitetura
promoveu a fusão de diferentes classes no mesmo ambiente.
Essa fusão de públicos distintos impactou na própria dramaturgia: era preciso
escrever textos que fizessem sentido tanto para as classes mais baixas quanto para a
burguesia econômica. Uma das estratégias para isso era a mistura de gêneros dentro
de um espetáculo. Assim, era muito comum que tragédias, por exemplo, tivessem
momentos de alívio cômico ou personagens que faziam anedotas, piadas e número
semelhantes aos dos circos, por exemplo.
Outro dado que é preciso que se recorde é que as peças de Shakespeare eram escritas
em versos, não em prosa. Isso era uma prática do período.
DICA
O filme “Shakespeare Apaixonado” (1998) retrata o autor William Shakespeare
num momento em que precisa escrever uma peça de teatro, porém está em bloqueio
criativo. Ele conhece Lady Viola, uma nobre cujo sonho é atuar numa peça teatral.
Ainda que não seja um retrato fiel do que seria o teatro da época, o filme mostra os
bastidores de um espetáculo e como essas peças se davam na arquitetura típica da
época.
2- William Shakespeare
Ainda que não se possa ter completa certeza sobre a data
de seu nascimento, convencionou-se referir que Shakespeare teria
nascido em 1564, em Stratford-upon-Avon e morrido em 1616.
Frequentemente ele também é referido pelo apelido de “O Bardo”.
Quanto a sua vida pessoal, sabemos que ele era filho de uma
família com certas posses, o que permitiu que ele pudesse ter
acesso à educação formal por um tempo. Aos 18 anos, ele casou-se e teve três filhos. Após o nascimento
de seus filhos gêmeos, poucas informações são sabidas sobre ele. Em 1585, porém, sabemos que
Shakespeare muda-se para Londres, onde inicia uma promissora carreira como ator na companhia de
teatro “Lord Chamberlain’s Men”.
A maioria de suas obras foi escrita entre 1590 e 1613. Ele produziu diversas peças, além de
sonetos e alguns poemas narrativos. Muitas das peças, porém, enfrentam discussão quanto à autoria.
Não se sabe ao certo se houve erro na atribuição. É importante lembrar que nesse momento muitas das
histórias eram de conhecimento comum. Assim, é possível que houvesse mais de uma peça tratando de
temas semelhantes. Além disso, o próprio Hamlet possui diversas versões textuais. Isso pode ter ocorrido
por uma série de razões, dentre elas o texto ter sido escrito por alguém que atuara na peça e se lembrava
do texto.
Uma das características mais importantes da obra de Shakespeare – e que a torna tão lida até hoje
– é ser capaz de abordar temas essenciais aos humanos. Suas preocupações transcendem questões de
seu tempo e abarcam sentimentos, preocupações sociais, temas políticos e outros tópicos relacionados à
condição humana. Ítalo Calvino, em seu livro “Por que ler os clássicos” afirma que “É clássico aquilo que
tende a relegar as atualidades à posição de barulho de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir
desse barulho de fundo” e “É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a
atualidade mais incompatível”. E o que ele quer dizer com isso?
Quer dizer que um livro clássico permanece atual através dos tempos. Sempre que ele é lido, ele
ganha novos contornos, novas leituras e novas possibilidades de compreensão. Além disso,
independente do que estiver acontecendo em nossa realidade, sempre é possível lembrar de um livro
clássico ao olharmos para ela.
Por isso as obras de Shakespeare são consideradas clássicas. Por tratarem de sentimentos
essenciais ao ser humano – e, acreditem, o ser humano não mudou tanto assim nos últimos séculos – elas
sempre fazem sentido para nós. Quando for fazer sua leitura de Hamlet, não deixe de ter isso em mente.
Uma obra de Shakespeare nunca é apenas sobre seu próprio contexto histórico, mas sobre sentimentos
humanos.
Comédias
Sonhos de uma noite de verão (1590) – Numa noite de verão, quatro enamorados se
encontram e se desencontram em um bosque. A história é permeada por aparições
mágicas, com fadas e duendes.
A Megera Domada (1594) – Batista é um homem rico, pai de duas filhas solteiras. Ele
tem uma regra na casa, de que sua filha mais nova, Bianca, só pode casar após sua irmã
Catarina uma mulher de temperamento forte e língua afiada.
A tempestade (1611) – Última peça de Shakespeare. Próspero vive em uma ilha com sua
filha Miranda, exilado. Ele tem a seu serviço Calibã, um homem disforme e Ariel, um ser
mágico. Eles provocam um naufrágio que traz novas pessoas para a ilha.
Tragédias
Romeu e Julieta (1592) – Os filhos de duas famílias inimigas se conhecem em um baile
de máscaras e se apaixonam. Eles resolvem desobedecer às restrições políticas e
familiares. Uma obra sobre a impossibilidade do amor.
Rei Lear (1605) – O velho Rei Lear se vê obrigado a dividir seu reino, porém não teve
nenhum filho homem, apenas três filhas. É uma obra sobre a dificuldade de discernir as
atitudes e discursos das pessoas, lidando com noções de verdade e falsidade.
Macbeth (1606) – Macbeth é um general do exército escocês, muito leal ao rei Duncan.
Um dia ele é abordado por três bruxas que dizem que ele será rei. A partir daí, ele e sua
esposa não conseguem mais controlar sua ambição, principal tema da obra.
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Agora, vamos nos aprofundar na tragédia que é tema dessa aula: Hamlet.
3 – Resumo e análise
Personagens
Hamlet (príncipe)
É um homem que reflete muito antes de agir, o que lhe causa sofrimentos muitas vezes. Ele é
frequentemente atormentado por pensamentos suicidas. A morte é um questionamento presente em
suas falas. Ele é dono dos maiores solilóquios da peça, em que se questiona sobre o objetivo da vida e
qual o seu lugar no mundo e no tecido social.
Hamlet se assemelha a um herói trágico. Comete um erro que acaba causando todas as outras tragédias
da peça: ao não matar Cláudio no momento em que podia, ele acaba causando a morte de Polônio,
Ofélia, sua mãe e, eventualmente, a sua própria.
Hamlet (pai)
Além disso, ele representa um mundo que já não existe mais: é um rei medieval, que se porta e
apresenta como um cavaleiro, segundo as leis da heráldica. Seu filho Hamlet é o extremo oposto: um
homem de comportamento próximo ao comportamento renascentista: cheio de dúvidas, com
questionamentos acerca de sua subjetividade e fortemente ligado à racionalidade.
Cláudio
Tio Cláudio (ou Rei Cláudio) é o grande antagonista da peça. Foi o assassino do rei anterior, seu próprio
irmão, para alcançar poder. É um estrategista e age com frieza, de maneira calculista. Ele é
impulsionado pela luxúria e pela ambição. Não é possível afirmar se o que motiva o ato é estar
apaixonado pela esposa, mas sim a busca pela manutenção da coroa. Ele desconfia da loucura de
Hamlet e entende que ele pode ser uma ameaça a sua posição. Por isso, traça um plano para matar
Hamlet, primeiro o enviando para a Inglaterra e depois elaborando o falso duelo com Laertes, se
aproveitando da sede de vingança do jovem.
Gertrudes
Polônio
Polônio é o conselheiro do rei, um cortesão. Ele fala de maneira pomposa, empoada, frequentemente
falando muito mais do que o necessário para se fazer entendido. Cheio de frases feitas, representa o
fingimento e hipocrisia das altas classes para se encaixar na sociedade.
É o pai de Ofélia e Laerte, a quem trata com muito mais agressividade e ironia do que às demais pessoas.
Vive tentando adular a nobreza. É morto acidentalmente por Hamlet, que pensa estar matando seu tio,
quando escondido por trás de uma cortina.
Ofélia
Filha de polônio e apaixonada por Hamlet. É uma moça obediente, que mesmo
apaixonada, se afasta de Hamlet a pedido do seu pai, que tem medo de que ele
queira apenas se aproveitar dela. Ela também auxilia a espionagem do príncipe
quando lhe é solicitado.
Crê, sob influência do pai, que Hamlet pode ter enlouquecido por sua causa.
Hamlet a deixa confusa, pois se por um lado diz que deseja que ela se afaste,
por outro afirma sentir-se atraído por ela, entrando em um estado de grande
turbulência emocional.
Após o assassinato de seu pai, ela perde o pouco juízo que lhe restava e acaba morrendo afogada no
rio. A peça é ambígua quanto às condições dessa morte, se ela foi acidental ou suicídio. Ofélia
representa o feminino, que mesmo diante do desejo de questionamento acaba se subjugando aos
papeis sociais estabelecidos.
Laertes
Mais uma figura que se opõe ao comportamento de Hamlet. Laertes é filho de Polônio e irmão de
Ofélia. Diferente de Hamlet, Laertes é todo ação: ao saber da morte de seu pai e, em sequência, sofrer
o baque da morte de sua irmã, ele não hesita em expressar seu desejo de vingança e elaborar um plano
para matar o príncipe.
Ele não se questiona ou duvida do que seria a atitude certa a tomar. Seu desejo de vingança o cega de
tal modo que ele acaba abrindo mão de sua honra e aceitando participar de uma trama desonrosa para
matar Hamlet. No momento de sua morte, porém, se arrepende e acaba revelando todo o plano.
Horácio
Melhor amigo de Hamlet e alguém com quem ele se sente na liberdade de fazer confidências. É também
um homem acadêmico e estudado, conhecido pela sua sabedoria. É o primeiro a fazer contato com o
espírito do pai de Hamlet; é também o responsável por contar ao povo a história de Hamlet para que
ele não seja interpretado erroneamente. Ele é o porta-voz da passagem do trono para Fortimbrás.
Fortimbrás
Rosencrantz e Guilderstern
São dois conhecidos de Hamlet. A pedido do rei e da rainha, eles espionam Hamlet a fim de descobrir
o que causou o estado de loucura do príncipe. Não são inteligentes ou corajosos o suficiente para
enganar Hamlet, que sempre consegue perceber suas intenções. Acompanham Hamlet em seu exílio
para a Inglaterra, porém têm ordens para garantir que ele não sobreviva para ameaçar o trono de
Cláudio. Quando o navio é atacado por piratas, porém, eles é que acabam sendo mortos.
Osric
Cortesão responsável por ser o juiz do embate entre Laerte e Hamlet. Um cortesão é uma espécie de
assistente, que fica disponível para as demandas do rei e da rainha. Participa da trama de
convencimento de Hamlet de que ele deveria lutar com Laertes. Ele adula Laertes, dizendo o quão bom
cavaleiro ele é e depois afirma que o rei apostou em Hamlet – para tentar despistar o príncipe daquilo
que está sendo panejado.
Reinaldo
Servo de Polônio que é enviado a Paris junto com Laertes para checar seu comportamento.
Yoric
Não há muitas informações biográficas sobre ele. Sabemos apenas que é alguém
ligado à infância de Hamlet, possivelmente alguém com quem ele brincava. A
grande importância da cena está no contraste entre vida e morte: aquela pessoa que Hamlet lembrava,
cheia de vida e brincadeiras, não existe mais e se tornou apenas restos mortais. A morte parece algo
visto de maneira filosófica até que vê Yoric e seus afetos são colocados da discussão. É o responsável
pelas discussões acerca da transitoriedade da vida e da inevitabilidade da morte.
Atores
Trupe de quatro ou cinto atores que aparece no Castelo de Elsinore. Na verdade, eles já conhecem
Hamlet de outras apresentações, mas vieram para o castelo para oferecer seus serviços.
Ajudarão Hamlet sem saber apresentando uma peça que mostra uma simulação da trama de Cláudio
para matar o rei.
Outros personagens
Piratas – homens que abordam o navio que leva Hamlet até a Inglaterra.
Embaixadores ingleses – responsáveis por avisar que Hamlet não chegou à Inglaterra e que Rosencrantz
e Guildenstern estão mortos.
Bernardo, Francisco e Marcelo – soldados da guarda real e os primeiros a verem o espírito do pai de
Hamlet.
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Resumo
Ato I
Cena I
Bernardo, Francisco e Marcelo estão de guarda a noite no castelo. Eles conversam sobre
a aparição de um fantasma. Eles querem que Horácio converse com o espectro para
descobrir o que ele deseja. O espectro, porém, nada diz. Eles identificam que o espectro
se veste e possui a aparência do Rei Hamlet, morto há meses. Eles decidem falar com
Hamlet para contar sobre a aparição.
Atenção
- Eles não sabem o motivo pelo qual o fantasma voltou. Na fala de Horácio, vemos o que as pessoas da
época acreditavam ser um motivo para a aparição de um fantasma: trazer boas novas, revelar previsões
sobre o destino do país ou apontar um tesouro escondido.
- Uma guerra pode estar se aproximando devido à briga com o velho Fortimbrás, da Noruega. Neste
momento, porém, tudo ainda está em aberto.
Cena II
O Rei fala com a população. Ele relembra seu casamento e sua ascensão ao trono, antes
de explicar o real motivo de seu pronunciamento: ele irá enviar Cornélio e Voltemand
para a Noruega a fim de evitar um conflito com o país. Laerte expressa seu desejo de
voltar para a França.
Hamlet faz sua primeira fala, em que aponta sua preocupação com a situação do reino. Cláudio garante
que o trono será herdado por Hamlet quando ele morrer e pede ao príncipe que não retorne à
universidade. O príncipe também não consegue entender a postura da mãe diante de tudo e não
esconde sua revolta com o não cumprimento dos ritos funerários de seu pai.
Horácio e os soldados da guarda da Cena I contam sobre o espectro para Hamlet, que combina um
plano para confirmar se aquele é ou não o fantasma de seu pai.
Atenção
- O primeiro sinal visual de Hamlet que temos é que ele está vestido de preto. Isso indica tanto seu
respeito ao luto e memória de seu pai quanto seu estado de melancolia.
- Cláudio torna todo o reino copartícipe de seu golpe ao obriga-los a tirar o luto para comemorar o
casamento do rei e da rainha.
- Cláudio teme um período de instabilidade que poderia advir da morte de um rei. Por isso busca não
criar conflitos com outros países: os conflitos internos já poderiam ser muito penosos.
- A monarquia dinamarquesa era eletiva, ou seja, o rei não precisava passar a Hamlet a hereditariedade
necessariamente. Isso é uma tentativa de comprar a confiança de Hamlet.
- Na época, a religião católica tinha muitos ritos funerários, principalmente para um rei.
Cena III
Laertes está partindo para Paris. Ele se despede de Ofélia, lhe dando conselhos acerca
de sua aproximação com o príncipe Hamlet. Ele se preocupa por ver a inocência de
sua irmã.
Atenção
- Polônio ensina ao filho como se portar na corte. Ele ressalta a importância de ser capaz de dissimular
e portar-se de acordo com as expectativas dos outros. Essa cena inspira o conto de Machado de Assis
“Teoria do Medalhão”, presente no livro “Papeis avulsos”. Essa obra também é leitura obrigatória da
UFRGS (2021). Lembre-se que a prova da UFRGS tende a contar com questões cruzando informações
entre as obras. Vale a pena ficar de olho nessa relação possível!
Cena IV
Hamlet e Horácio, próximo à meia-noite, vão ao local em que o espectro fora visto
anteriormente. Eles finalmente veem o espectro, que chama Hamlet para conversar
distante dos outros. Horácio e os demais soldados não querem deixar Hamlet ir, pois
têm medo do que pode ocorrer com ele. Hamlet não ouve aos outros e vai atrás do
fantasma mesmo assim.
Atenção
- Hamlet levanta a possibilidade de que seu pai possa ter voltado por conta dos ritos funerários que não
foram cumpridos. Perceba quantas vezes essa questão do respeito aos ritos mortuários irá aparecer ao
longo da peça.
- Horácio já aventa aqui a possibilidade de que Hamlet possa estar louco (verso 87).
- “Há algo de podre no reino da Dinamarca” é uma frase fundamental para sintetizar todo o contexto
de Elsinore: após a trama que leva à morte do rei, todo o Estado está corrompido.
Cena V
Hamlet e o Espectro conversam. Ele afirma ser seu pai e, aos poucos, revela a
Hamlet toda a trama que levou a seu assassinato. Ele pede a Hamlet que vingue
sua morte, matando aquele que elaborou o golpe – mesmo duvidando da firmeza
de ação do filho, característica que será muito marcante ao longo de todo o
espetáculo. O fantasma, porém, reforça que a mãe de Hamlet não deve ser punida,
pois ela nada tem a ver com o ardil.
Horácio e Marcelo vão até o encontro de Hamlet, que começa já aqui a fingir uma perda de seu juízo.
Fala algumas expressões sem sentido misturadas com filosofias. Ele faz com que os dois jurem que não
contarão a ninguém sobre o que viram nessa noite.
Atenção
- O Espectro dá a entender que estava no purgatório. Esse conceito é familiar à religião católica, mas
não ao protestantismo. Lembre-se que nesse momento a Inglaterra já era anglicana.
- Havia uma crença popular na época de que uma morte não natural poderia provocar a vagância do
espírito. Isso seria, portanto, um indício de que a morte do Rei não foi natural.
- A vingança era algo malvisto pela sociedade na época. Há uma ideia de que quando se promove uma
vingança, se comete outro crime e se inicia um ciclo de crimes. Portanto, é natural que Hamlet ficasse
suspeitoso sobre aquilo que o fantasma pediu. Ele teme que pode ser um demônio em disfarce.
- O próprio Espectro vai apontar para o fato de que o mal não se apresenta com contornos claros. Nem
sempre é possível saber com clareza quem é bom e quem é mau. O mau é difuso, o que o torna mais
difícil de combater.
- “Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha tua vã filosofia” (v. 174 e 175) é o
momento em que Hamlet aceita o metafísico e toma como verdade o aparecimento do espírito de seu
pai.
Ato II
Cena I
Polônio conversa com seu servo Reinaldo. Ele orienta que Reinaldo siga Laertes em sua viagem a Paris
e elabora um estratagema: o servo deve encontrar conhecidos de Laertes e falar mal dele para esses
homens. Se os homens confirmarem as calúnias, Polônio saberá que o filho não se comporta bem; caso
contrário, se negarem tudo, Polônio saberá que seu filho se comporta de maneira honrada.
Depois, Ofélia e Polônio conversam sobre Hamlet. Ela relata que Hamlet entrou em
seus aposentos com o casaco desabotoado e o cabelo desalinhado, com um olhar
terrível e falando coisas sem sentido. Polônio chega à conclusão de que Hamlet este
num estado de “delírio amoroso”, ou seja, que ele perdeu seu juízo por ter sido
rejeitado por Ofélia – que obedecera ao pai e parara de aceitar a corte de Hamlet. Eles
decidem procurar o rei para relatar que descobriram a fonte da loucura do príncipe.
Atenção:
- O início dessa cena demonstra o perfil de Polônio: um homem cheio de ardis e estratagemas que se
finge de servil e adulador para ser bem-visto socialmente.
- Num mundo que se pauta pelas aparências, aparecer desalinhado em público era inaceitável.
- A melancolia é um tema importante para a peça e comum ao período elizabetano. Nessa cena ela é
tratada de modo levemente irônico, já que Polônio crê que Hamlet está sofrendo de um amor não
correspondido. A ideia é que uma melancolia do amor seria capaz de gerar uma grande dor no espírito.
- Sabemos que a loucura de Hamlet nada tem a ver com o afastamento de Ofélia, ainda que se possa
pensar que o peso do segredo acerca do pedido de vingança do pai lhe seja penoso, já que ele não pode
revelar a ela toda a trama. Ainda assim, essa é uma das cenas que nos faz questionar se Hamlet não
estaria de fato perdendo seu juízo, já que se apresentou para Ofélia desse modo.
Cena II
O Rei e a Rainha pedem a Rosencrantz e Guildenstern que eles espionem Hamlet para tentar entender
o que perturba tanto sua mente. Polônio então chega e avisa que já descobriu a causa da loucura de
Hamlet. Antes que ele conte, porém, entram os embaixadores enviados à Noruega, Voltemand e
Cornélio, que relatam que o príncipe Fortimbrás se comprometera a não atacar a Dinamarca. Além
disso, Fortimbrás faz um pedido: eu autorizem sua passagem segura pelo território da Dinamarca para
que ele chegue até a Polônia, local em que deseja reclamar um terreno para si e seu reino. O rei
autoriza.
Depois disso, Polônio finalmente revela a causa da loucura de Hamlet. Ele lê uma
carta enviada à Ofélia pelo príncipe, em que ele se declara a ela. Ele então conclui
que sua proibição ao relacionamento impulsionou essa loucura. Ele revela seu
plano para confirmar isso: promover um encontro com Ofélia e estudar como ele
se comporta nessa situação.
Hamlet entra lendo um livro. Ele e Polônio conversam e príncipe faz algumas
insinuações ofensivas ao cortesão. Fica a dúvida se ele já sabe ou não sobre o plano de ofertar Ofélia a
Hamlet.
Polônio sai e entram Rosencrantz e Guildenstern. Eles conversam com Hamlet, tentando extrair
informações sobre ele. Nessa conversa, já vemos uma teatralização do caráter de Hamlet: sua fala é
exacerbada, deixando no ar a suspeita sobre a perda real de sua sanidade. Ele afirma saber que os
amigos foram enviados para espioná-lo, o que eles não negam.
Hamlet então fica sabendo pelos amigos que uma trupe teatral está de passagem.
São atores que ele já vira performando anteriormente. A trupe vem ao castelo,
eles conversam e chegam a declamar partes de outros espetáculos. Polônio
retorna e Hamlet o orienta a hospedar os atores. Antes que eles saiam do
aposento, Hamlet pergunta se eles poderiam incluir um trecho escrito por ele
próprio na peça que iriam apresentar. Os atores concordam.
Por fim, Hamlet faz mais um solilóquio final, em que se questiona sobre sua capacidade de levar a sua
vingança adiante. Ele se acha um covarde por pensar demais antes de agir. Um de seus
questionamentos, por exemplo, é acerca da paixão dos atores em retratar uma história que não
viveram enquanto ele não consegue sentir o impulso necessário para agir sobre algo feito contra seu
próprio pai. Também é aqui que entendemos o plano de Hamlet: que seu tio acabe se entregando caso
demonstre incômodo com o assunto da peça.
Atenção
- Polônio é prolixo e empoado para falar. Isso é uma das suas principais características.
- Além disso, aqui há uma passagem importante em que vemos tanto a rejeição de Hamlet à sociedade
quanto sua constituição de homem renascentista, em contraposição aos valores medievais ainda
presentes em outros personagens:
“Que obra-prima é o homem! Como é nobre em sua razão! Que capacidade infinita! Como é preciso e
bem-feito em forma e movimento! Um anjo na ação! Um deus no entendimento, paradigma dos
animais, maravilha do mundo. Contudo, pra mim, é apenas a quintessência do pó. O homem não me
satisfaz; não, nem a mulher também, se sorri por causa disso.”
- Aqui está uma das falas mais conhecidas e simbólicas de Hamlet, “A Dinamarca é
uma prisão”. Essa fala resume a sensação de vigilância perene do reino de Elsinore.
Esse é um local em que as pessoas estão sempre vigiando umas às outras.
Ato III
Cena I
O rei e a rainha voltam a conversar com Rosencrantz e Guildenstern sobre Hamlet, mas eles não têm
nenhuma novidade sobre ele. Polônio comunica que Hamlet deseja que os monarcas compareçam à
peça naquela noite. Polônio deixa Ofélia sozinha no salão lendo um livro enquanto espera por Hamlet,
para que eles possam observar sua reação.
Ser ou não ser – eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz
ou pegar em armas contra o mar de angústias – e, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir; Só isso.
E com o sono – dizem – extinguir dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita; eis
uma consumação ardentemente desejável. Morrer – dormir – Dormir! Talvez sonhar. Aí está o
obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da morte quando tivermos escapado ao tumulto vital nos
obrigam a hesitar: e é essa reflexão que dá à desventura uma vida tão longa. Pois quem suportaria o
açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor
humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando, e o achincalhe que o mérito paciente recebe
dos inúteis, podendo, ele próprio, encontrar seu repouso com um simples punhal? Quem aguentaria
fardos, gemendo e suando numa vida servil, senão porque o terror de alguma coisa após a morte – o
país não descoberto, de cujos confins jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade, nos faz
preferir e suportar os males que já temos, a fugirmos pra outros que desconhecemos? E assim a reflexão
faz todos nós covardes. E assim o matiz natural da decisão se transforma no doentio pálido do
pensamento. E empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o
nome de ação.
O que Hamlet queria dizer com esse texto? Primeiro, é preciso que você se
lembre que essa peça foi escrita em inglês, ou seja, essa oração foi escrita “To
be or not to be – that is the question”. O verbo “to be” pode significar “ser” ou
“estar”. Hamlet se encontra, portanto, em um questionamento existencial e
ético: ele não sabe se deve continuar vivendo, existindo. Esse solilóquio é sobre
ser no mundo. Perceba que ele inicia sua fala se perguntando o que é mais
nobre, ou seja, mais digno: suportar as dores do mundo ou abrir mão de sua
existência, dando fim às dores e aflições com sua própria morte.
Parece haver, porém, uma relação entre a alma eterna e a vida no campo físico: assim como não existe
paz em vida, também não existe após a morte. Ele chega à conclusão de que o que desincentiva os
pensamentos suicidas é a incerteza do pós-morte, ou seja, não saber se o sofrimento de fato se esgota
com a morte.
Essa sequência se tornou famosa porque aqui fica clara uma das principais
características de Hamlet: a indecisão. Ele não é capaz de agir. Hamlet pensa
sobre as ações mais do que age. E é justamente por isso que não sabe se será
capaz de cumprir o pedido de seu pai: ele não consegue sequer decidir se isso
é a coisa certa a fazer.
Hamlet e Ofélia conversam. Ela lhe fala sobre as cartas que ele a enviou, mas ele diz que nunca mandou
nada a ela. Hamlet se comporta de modo estranho, falando frases contraditórias – como quando afirma
que amava Ofélia e depois afirma que não a amava. Ele ofende Ofélia de muitas maneiras, sugerindo
que ela não é uma mulher decente ou que ela seria capaz de mentir para conseguir o que deseja. O
ponto alto de sua ofensa a ela é quando sugere que ela vá para um convento
para que não acabe procriando, já que todos os homens são indignos. Ele
deixa Ofélia triste e perturbada após o encontro.
Polônio e o Rei que estavam ouvindo tudo, entram no final da cena. O Rei,
porém, não parece convencido que que Hamlet tenha enlouquecido de
amor. Na verdade, o rei não está convencido que Hamlet esteja louco afinal,
mas perturbado por algum assunto.
Atenção
- Na fala do verso 50 aparece pela primeira vez a indicação real de confissão de culpa por parte de
Cláudio.
- Apesar da imagem famosa da peça ser Hamlet segurando uma caveira, perceba que ele não faz seu
mais famoso solilóquio na cena dos coveiros, mas sim aqui.
- É curioso que Hamlet diga que ninguém volta da morte sendo que ele conversou com o fantasma de
seu pai. Isso levanta questionamentos sobre o aparecimento do espectro.
Cena II
Hamlet então pede a Horácio que ele preste atenção no seu tio. Ele quer que o
amigo se atente para a reação de seu tio quando a sequência planejada
aparecer. Se ele demonstrar traços de culpa, então o espírito estava certo; se
seu tio ficar impassível, então o espírito era um demônio que mentira.
Hamlet se senta ao lado de Ofélia para assistir à peça. Ao longo do espetáculo, ele faz várias insinuações
de cunho sexual a ela, deixando-a muito desconfortável.
A peça se inicia com uma pantomima, uma espécie de cena muda que serve de prólogo, resumindo o
enredo da peça que será apresentada. Na cena, vemos um rei e uma rainha abraçados. Ela deixa o rei
dormindo num campo e sai de cena. Entra outro homem. Ele tira a coroa do rei
dormindo, beija a coroa e derrama veneno no ouvido do rei dormindo. Veneno no
ouvido foi exatamente o modo como o pai de Hamlet descreveu que fora assassinado
pelo irmão. A rainha-atriz volta à cena e sofre ao ver o marido morto. O envenenador
parece tão sofrido quanto a rainha e os demais. Ele então corteja a rainha com
presentes até que, por fim, ela aceita casar-se com ele. Os atores saem de cena.
Conforme a peça se desenrola e a trama começa a ficar mais explícita, o rei começa a
ficar inquieto. No momento em que a personagem é envenenada, rei Cláudio se
levanta e sai do salão, atordoado. Ele parece estar se sentindo muito mal.
Horácio e Hamlet conversam. Hamlet chega à conclusão de que o espectro tinha razão. Chegam
Rosencrantz e Guildenstern dizendo que a rainha deseja falar com seu filho. Hamlet hesita em ir, pois
está muito nervoso e teme não ser capaz de dar uma resposta sensata para sua mãe. Hamlet, irritado
com a insistência dos amigos, reafirma que não será manipulado por ninguém. Entra Polônio,
reafirmando o pedido da rainha de que seu filho vá a seu encontro. Hamlet decide ir até os aposentos
de sua mãe para conversar com ela. ele se lembra, porém, da promessa ao espectro de não impingir
culpa à rainha.
Atenção
- Lembre-se que o teatro elisabetano não é semelhante ao nosso. Quando Hamlet pede que eles sejam
“naturais” ele está se referindo a atuarem de modo que o tio não desconfie que o texto escrito por ele
é uma armadilha, não que eles devem atuar de maneira naturalista.
- Hamlet vê Horácio como um homem centrado, estóico, que não se deixará levar por paixões. Assim,
se ele perceber traços de culpa em Cláudio, ele não se apressará em agir, atacando o rei em meio a
todos.
Cena III
O rei entra em cena junto com Rosencrantz e Guildenstern. O Rei está preocupado com as atitudes de
Hamlet. Ele decide então confiar aos amigos de Hamlet a missão de irem com ele para a Inglaterra. Ele
crê que deve afastar Hamlet do reino. Polônio avisa que Hamlet já está a caminho do quarto da mãe.
Acreditando estar sozinho, Cláudio começa um discurso misturado com uma espécie de oração. Ele
assume para si mesmo o crime de ter matado o irmão, mas pensa que seria demais matar ele próprio
também o príncipe. Ele teme que os castigos a ele possam ser divinos, ainda que não terrenos. Ele sabe,
porém, que a confissão dele de nada adianta se não houver arrependimento de verdade. Ele se ajoelha
para tentar rezar por sua alma e seus crimes.
Hamlet entra em cena e vê seu tio ajoelhado. Ele, então, entra em mais um
momento de dúvida: seria a oportunidade perfeita para matar seu tio, que está
distraído. Porém, se mata-lo no momento em que ele está rezando, ele pode
conseguir o perdão de seus pecados e acabar indo para o paraíso. Hamlet decide
esperar para matar um tio em um momento que ele esteja numa situação mais
desonrosa. Hamlet sai para encontrar sua mãe.
Atenção
- Lembre-se que há uma ideia de que a morte de um rei era a própria desorganização do mundo
cósmico, ou seja, nada está em compasso após a morte do rei Hamlet.
- Hamlet novamente hesita em agir, e pensa antes de colocar algum plano em prática.
Cena IV
Polônio está com a Rainha em seus aposentos. Ele se esconde atrás de uma tapeçaria para ouvir como
será a conversa entre Hamlet e sua mãe.
Hamlet e a mãe têm uma conversa acalorada. A rainha teme que Hamlet possa matá-
la. Diante da violência de Hamlet, Polônio acaba deixando escapar uma interjeição de
espanto. Ao ouvir esse som, Hamlet, crendo que é seu tio Cláudio quem está
escondido, finca seu florete na tapeçaria. Ele atinge Polônio que acaba morrendo.
Em meio ao choque da morte de Polônio, Hamlet acaba revelando toda a trama que
levou à morte de seu pai, colocando-a como copartícipe da trama por ter casado com seu tio. Ele não
consegue crer que ela ame tanto o tio a ponto de perder sua racionalidade. E se não há razão, então só
pode ser uma decisão motivada por lascívia, desejo sexual.
O espectro volta a aparecer, porém apenas para Hamlet. Ele diz que aparece ao filho apenas para não
deixa-lo esquecer de seu objetivo de vingança. A mãe fica ainda mais certa da loucura de Hamlet. O
príncipe sugere cautela à mãe, sem contar a ela quais serão seus próximos passos. A cena termina de
modo mórbido, com Hamlet arrastando o corpo de Polônio para fora do aposento.
Atenção
- Há uma crença na época de que o espírito poderia escolher para quem aparecer.
- Para Hamlet, parece ficar claro nesse momento que a mãe não participou do plano de assassinato.
Isso, porém, não a tornaria menos culpada, uma vez que se casou com o tio sem respeitar sequer o
tempo de luto de seu pai.
Ato IV
Cena I
O rei vai ao encontro da rainha. Ele pergunta a ela como foi a conversa com Hamlet,
mas ela ainda está muito abalada. Ela conta a Claudio que ele matou Polônio e
escondeu o corpo – o que é ainda mais terrível. Cláudio, então, pede que
Rosencrantz e Guildenstern encontrem Hamlet e descubram onde ele escondeu o
corpo de Polônio para que esse possa receber um funeral decente.
Cena II
Rosencrantz e Guildenstern e outros homens encontram Hamlet. Eles tentam conseguir com ele a
informação de onde está o corpo de Polônio, mas não conseguem sucesso. Hamlet pede para ser levado
à presença do rei.
Atenção
- Hamlet faz uma referência a “devolver Polônio ao pó”. Essa é uma expressão que deve ser entendida
com cuidado:
Essa frase significa literalmente: “tu és pó e ao pó retornarás”. Esta expressão aparece pela
primeira vez no livro de Gênesis e se repetirá algumas outras vezes em outras passagens. No Gênesis,
ela é dita por Deus a Adão no momento em que ele e Eva são expulsos do Paraíso.
Uma das versões sobre a criação de Adão, no Gênesis, afirma que “E formou o Senhor Deus o homem
do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”. Foi a
partir do pó que Deus criou o homem – em algumas traduções é possível ver a palavra “argila” no lugar
de “pó da terra”. Ao morrermos, nosso corpo material irá se decompor e nos tornaremos apenas pó.
A ideia de “do pó ao pó” está diretamente ligada a pecado. Morrer é a consequência o peado
original que nos expulsou do paraíso. O que nos diferencia de simples “pó da terra” é o “sopro de Deus”:
a vida nos é dada por Deus e, como Adão e Eva pecaram, ela será retirada de nós em algum momento.
Tudo o que podemos fazer sobre isso é escolher um melhor caminho a trilhar, mas nenhuma escolha
muda o fato de que voltaremos a ser apenas pó.
- Hamlet também tem uma fala nessa pequena cena muito significativa. Ele diz que “O corpo está com
o rei, mas o rei não está com o corpo”. Essa frase que poderia ser entendida simplesmente como uma
referência louca à localização do corpo de Polônio tinha muitos outros significados na época.
Há uma teoria na época conhecida como doutrina dos dois corpos do rei. Essa teoria afirma que o rei
tem dois corpos: o corpo físico e o corpo místico. O corpo físico é o natural, de homem mortal, sujeito
à imperfeições; o corpo místico é sua ligação com o divino, aquilo que faz dele o escolhido por Deus
para sua posição, um corpo político que encarna todo o reino. O que Hamlet aponta com sua afirmação
é que seu tio Cláudio pode ser rei fisicamente, mas não de maneia mística, pois o ardil que o leva ao
trono não o legitima como rei.
Isso é fundamental para entender a virada de pensamento de Hamlet. A partir do momento que ele
entende que seu tio é, como ele próprio aponta, “nada”, não se torna mais um ato regicida assassinar
ao tio. Sua pulsão de vingança ganha contornos mais sólidos.
Cena III
O rei conversa com alguns nobres. Ele está preocupado em como irá se livrar de
Hamlet, pois ele é adorado pela população. Rosencrantz e Guildenstern trazem
Hamlet até a presença do rei mas ele segue não querendo dizer onde está Polônio.
Fala de maneira irônica e sarcástica com seu tio. O rei então conta a Hamlet que
ele será enviado para a Inglaterra para sua própria segurança. Hamlet aceita e se
retira em direção ao navio.
À parte, Cláudio revela que seu plano: na Inglaterra, Hamlet deverá ser assassinado.
Atenção
- Ao se despedir do tio, Hamlet fala “Querida mãe, adeus”. Mais do que um sinal de sua pretensa
loucura, isso é uma forma de mostrar ao tio indiretamente que ele acredita que o tio e a mãe são uma
coisa só. Lembre-se que ele não consegue não culpar a mãe por tudo o que aconteceu, mesmo que ela
não tenha envolvimento na trama do assassinato.
Cena IV
Hamlet, após esse encontro, fica se questionando sobre sua própria postura diante do mundo: quanto
de sua hesitação é racionalidade e quanto é covardia? Ele diz:
O que é um homem cujo principal uso e melhor aproveitamento Do seu tempo é comer e dormir?
Apenas um animal. É evidente que esse que nos criou com tanto entendimento, capazes de olhar o
passado e conceber o futuro, não nos deu essa capacidade e essa razão divina para mofar em nós, sem
uso. Ora, a não ser por esquecimento animal, ou por indecisão pusilânime, nascida de pensar com
excessiva precisão nas consequências – uma meditação que, dividida em quatro, daria apenas uma
parte de sabedoria e três de covardia – eu não sei por que ainda repito: – “Isso deve ser feito”, se tenho
razão, e vontade, e força e meios pra fazê-lo.
Ou seja, o homem é dotado de razão e isso é o que o diferencia dos animais, mas de que serve essa
faculdade da razão se ela impede o impulso da ação?
Atenção
- Essa é a cena em que a oposição entre Hamlet e Fortimbrás fica mais clara. Enquanto Hamlet é o
pensamento, Fortimbrás é a ação. Fortimbrás age, mesmo que por u empreendimento pequeno, sem
grande importância; Hamlet hesita, mesmo diante de uma motivação digna e nobre.
- Hamlet fala sobre como a paz angustia o homem, que precisa sempre estar em busca de conflitos. Isso
se relaciona com a própria realidade de Elsinore: num momento em que não há guerras com outros
países, os conflitos internos se intensificam. A Inglaterra da época também se encontrava nessa
realidade. Sem grandes conflitos externos, as tramas internas, golpes em potencial e espionagens se
intensificavam.
Cena V
A rainha e Horácio estão juntos, quando um cavalheiro pede que a rainha receba
Ofélia, que deseja falar com ela. Ofélia é descrita como confusa, com falas
absurdas. Ofélia entra cantando. Ao longo dessa cena, ela cantará diversas vezes,
algumas canções remetendo a situações que ocorreram, outras à temática do
abandono e da perda da inocência. O rei chega e também fica assustado com o
comportamento de Ofélia. Ela sai de cena em meio a um delírio, como se uma
carruagem tivesse vindo busca-la.
Um mensageiro chega para avisar que Laertes voltou a Elsinore e está furioso. A população parece estar
ao lado de Laertes, chegando mesmo a soltar gritos como “Laertes será rei”. Se Laertes está colérico,
Cláudio permanece frio, calmo. Cláudio não revela a Laertes inicialmente que Hamlet é o responsável
pela morte de seu pai. Ao invés disso, inflama Laertes contra o assassino, reforçando o quanto sua
vingança seria legítima.
Ao ver o estado da irmã, Laertes fica ainda mais certo de que precisa buscar uma vingança.
Atenção
- Essa é a cena em que vemos Ofélia perdendo o juízo. Porém, é preciso perceber que nessa peça há
método na loucura. Perceba como mesmo enlouquecendo, Ofélia segue com alguma agência.
- As canções de Ofélia são em parte inventadas, em parte conhecidas pelo público da época.
- Por vezes, não somos capazes de discernir se ela está falando do pai ou de Hamlet. Polônio foi
enterrado sem os devidos ritos funerários, o que gera um vácuo no luto. Hamlet a abandonou depois
de uma relação confusa, misturando momentos de amor e momentos de violência.
- Mais uma vez, vemos a diferença entre Hamlet e outro personagem. Diante da morte do pai, Laertes
não duvida em nenhum momento: ele sabe que a coisa certa a fazer é vingar a morte do pai, matando
seu assassino.
- Laertes diz que abriria mão até mesmo de sua “graça” para vingar o pai. Isso se
relaciona com a filosofia de Santo Agostinho. O conceito de graça para ele se
relaciona com os mitos de criação cristãos. Após o Pecado Original – conceito
fortalecido por Santo Agostinho a partir do gênesis – a natureza humana foi
danificada. O único modo de restaurá-la é a partir da influência da graça divina.
Deus não cobra nada por essa salvação. Ela é dada “de graça” a você, sendo você
merecedor dela ou não. É uma iniciativa da bondade divina, pois o pecador não é
capaz sozinho de buscar sua salvação. Ou seja, Laertes está disposto a abrir mão da
salvação de sua alma para vingar o pai.
- A cena da distribuição de flores de Ofélia deve ser vista de acordo com a simbologia
da época. O período elisabetano é uma época em que a botânica era muito valorizada e vista de maneira
simbólica. Cada flor simbolizava um sentimento ou desejo. As violetas, por exemplo, que Ofélia afirma
estarem em falta, terem morrido, eram flores que simbolizavam a fidelidade. Ou seja, metaforicamente
ela alude à ausência desse comportamento em Elsinore. Para o público da época, portanto, essa era
uma cena que demonstrava de maneira contundente a visão de Ofélia sobre as tramas do reino.
Diferente do que se costuma pensar, que ela seria uma moça frágil e sem agência alguma, aqui vemos
Ofélia como alguém que tinha consciência do que acontecia a sua volta. Talvez por convenção social,
porém, ela ficasse em silêncio. Na loucura, essa necessidade de fingir socialmente se vai.
Cena VI
Um cortesão traz alguns marinheiros até Horácio. Eles trazem uma carta de Hamlet a
amigo. Nessa carta, ele revela que dias após sua partida um grupo de piratas atacou
seu navio. Eles o sequestraram e mantiveram prisioneiro em seu barco. Ele pede que
Horácio faça com que a mensagem chegue até o rei e que o amigo venha a seu
encontro para resgatá-lo. Ele também reforça que tem muito a contar para Horácio
e precisa encontra-lo urgentemente.
Cena VII
A cena começa com uma conversa entre Laertes e Cláudio. Aqui, Cláudio já contou para Laertes que
Hamlet foi o responsável pela morte se seu pai e, consequentemente, da loucura de sua irmã. Cláudio
alerta, porém, que Hamlet tem uma ligação muito forte com sua mãe e com o povo. Por isso, a vingança
precisa ser elaborada de tal modo que seja possível punir Hamlet sem trazer a ira popular contra eles.
Entra um mensageiro com as cartas e Hamlet. Em uma delas, ele avisa que está retornando a Elsinore,
dizendo que volta sozinho e que quando chegar irá explicar as condições de seu retorno.
Cláudio então explica seu plano para Laertes. Ele vai usar o ódio de Laertes para livrar-se de Hamlet,
que crê ameaçar seu poder. O rei incensa Laertes de elogios e adulações, dizendo que ele é um grande
guerreiro e cavaleiro, mas também levanta questionamentos sobre sua capacidade de vingança,
tentando manipulá-lo para seguir o que ele deseja. O plano é desonroso para qualquer guerreiro:
combinar um duelo entre os dois, em que Laertes usará uma espada envenenada. Assim, qualquer
ferimento a Hamlet o matará, mesmo que não seja um ferimento fatal em si. Isso não era só desonesto,
como ilegal pelas leis da cavalaria. Para garantir, porém que ele morrerá de qualquer maneira, Cláudio
também irá preparar uma taça de bebida envenenada, que oferecerá a Hamlet caso ele seja o vencedor.
De todo modo, o príncipe morrerá.
De repente, entra a rainha. Ela relata, muito nervosa, que Ofélia morreu. Segundo a rainha, ela estava
no tronco de um salgueiro, pendurando guirlandas de flores feitas por ela, quando de repente o tronco
se rompeu e ela caiu no rio. Os pesados trajes de Ofélia a puxaram para baixo e ela acabou se afogando.
Ao ouvir esse relato, Laertes fica ainda mais colérico e desejoso de vingança.
Atenção
- A rainha obviamente não assistiu à morte de Ofélia. Sua narrativa é feita com base na sua visão sobre
a moça, de pureza e inocência.
Uma leitura comum da peça aponta que o suicídio seria a única forma de agência possível para ela: sua
vida seria a única situação que ela própria poderia controlar – mas reforçamos que o suicídio não é uma
solução para nada, já que resolve de maneira permanente problemas temporários. Isso é discutível,
pois já vimos na cena das flores que Ofélia tinha outros posicionamentos políticos e sociais possíveis.
- Oposição Hamlet X Ofélia: enquanto Hamlet finge loucura e não é capaz de agir no mundo, Ofélia
enlouquece de verdade e age, mesmo que para tirar sua própria vida. Ela toma decisões.
Ato V
Cena I
Dois coveiros conversam enquanto realizam seu trabalho. Eles apontam as ambiguidades em torno da
morte de Ofélia. Afirmam que ela apenas receberá um funeral cristão por ser amiga de pessoas
influentes. Eles contam anedotas, riem e cantam enquanto realizam seu trabalho.
Hamlet chega com Horácio. Ele se pergunta se esses homem não têm respeito, já que realizam seu
ofício de maneira tão descontraída. Horácio aponta que conviver tanto com a morte faz com ela se
torne menos penosa.
O príncipe trata da morte de maneira bastante abstrata até que ele vê a caveira de Yorick. Yorick era
uma espécie de bobo da corte, que brincava com Hamlet quando ele era criança. Quando vê alguém
por quem tinha afeto reduzido a ossadas, a noção da transitoriedade e falta de sentido da vida humana
o atinge em cheio: a morte não é apenas filosofia sobre o vazio da existência ou noção distante da
realidade; a morte é perda emocional e afetiva.
É então que começa o enterro de Ofélia. Hamlet fica à parte da cena, observando à distância. O rito
funerário de Ofélia, assim como a da maioria das personagens da peça, é desonroso e incompleto: o
padre se recusa a entoar os cantos necessários, porque a morte foi suspeita, além de considerar errado
que ela seja enterrada de branco e com uma coroa de flores – traje das jovens virgens e puras. Ao ver
o sofrimento de Laertes à distância, Hamlet entende que quem está morta é Ofélia.
A cena que se segue é desconfortável: Laertes, em seu sofrimento, pula para dentro
da cova da irmã, enquanto a rainha joga flores. Hamlet sai de seu esconderijo e se
dirige a Laertes. Os dois acabam brigando sobre a cova de Ofélia, tornando todo o
rito funerário ainda mais desonroso. Em meio à briga, que todos os presentes tentam
separar, Hamlet declara seu amor por Ofélia. Tudo isso apenas fortalece a decisão
de Laertes de matar Hamlet.
Atenção
- Conhecida como a cena dos coveiros. Eles são “palhaços”, figuras cômicas tradicionais
do teatro elisabetano. Trazem alívio cômico e crítica social na maior parte das vezes.
Aqui, por exemplo, eles fazem um uso irônico do discurso jurídico.
- Aqui fica clara a sugestão do suicídio de Ofélia. Segundo a tradição católica, suicidas não poderiam ser
enterrados em solo santo, cemitérios. Aqui, os coveiros aludem a essa tradição para levantar
questionamentos sobre as condições da morte de Ofélia.
- Aqui se encontra o questionamento de Hamlet sobre a morte. Uma expressão latina comum e
importante sobre esse assunto é memento mori. Vamos ver um pouco mais sobre isso:
memento mori
A tradução para essa expressão seria algo como “lembre-se de que você é mortal”. Sua origem é
associada a eventos romanos, cujo objetivo era honrar generais vitoriosos em batalhas. A esses homens
eram sussurradas duas frases: memento mori (lembre-se de que você é mortal) e memento homo
(lembre-se que você é um homem). O objetivo disso era não deixar que as homenagens e a adoração
popular alimentassem sua vaidade a tal ponto, que eles se esquecessem de sua verdadeira condição:
homens, não deuses. O excesso de vaidade é, para cultura clássica, a causa de diversas tragédias e
males.
A morte é talvez uma das maiores preocupações dos seres humanos. Muito da filosofia se preocupa
com essa ideia e como os homens lidam com uma certeza: todos vamos morrer em algum momento.
Biologicamente falando, tudo aquilo que é vivo – vegetal ou animal – possui um sistema que o mantém
vivo. Ao longo do tempo, esse sistema vai parando de funcionar até que pare completamente. Isso pode
ocorrer a partir de uma interferência externa ou não: podemos morrer por uma doença ou
simplesmente pelo envelhecimento do nosso sistema.
O problema é que a morte não é apenas inevitável. Ela também é incerta. Nós não sabemos quando
vamos morrer. Mas como nos impactaria saber o momento de nossa morte? Será que gostaríamos de
saber isso? Que tipo de comportamento teríamos se soubéssemos exatamente quando e como
morreríamos?
Independente disso, há um grande temor à morte envolvido quando se pensa sobre esse assunto. Claro
que há uma resposta instintiva entre os animais que determina que vamos tentar sempre preservar
nossa vida. O instinto de autopreservação é muitas vezes ligado ao medo: é por sentirmos medo que
não passamos por situações potencialmente perigosas. Esse temor, por um lado, é o que garante a
manutenção de nossa existência. Por outro é, como aponta Hamlet, aquilo que paralisa nossas ações e
nos torna apáticos diante do mundo.
Há uma noção de que a oposição vida X morte se resume em vida é algo bom e morte é algo mau. Muito
dessa noção pode beber da ideia de finitude. Não somos capazes de dizer com precisão científica para
onde vamos após a morte – se é que vamos para algum lugar.
As religiões como um todo têm explicado essa passagem de diferentes maneiras, normalmente
envolvendo uma ideia de ligação entre nosso comportamento em vida e o lugar para onde vamos. O
Catolicismo prega que o ser humano é composto por uma parte física e uma parte espiritual. Quando
morremos, essas partes se separam: o corpo volta para a terra de onde veio, ou seja, decompõe-se; e
o espírito volta para perto de Deus, que é seu criador. Uma alma pode ir para o céu, inferno ou
purgatório. Lembre-se que o pai de Hamlet parece ter vindo do purgatório, onde está sem descanso
pois sua morte não foi resolvida.
Cena II
Entra Osric, um cortesão. Ele começa a elogiar Hamlet e comunica que Laertes deseja enfrenta-lo em
duelo, mas que o rei tinha apostado em Hamlet como vencedor – mesmo sabendo que Laertes era um
homem muito hábil com espadas. O papel de Osric é tentar manipular Hamlet para que ele aceite
participar da farsa. Depois de alguma hesitação, Hamlet finalmente tem a mudança de caráter que
faltava. Ele aceita o chamado à ação dizendo “É importante estar pronto”.
Chega o momento do duelo. Hamlet pede perdão a Laertes, mas parece uma
desculpa artificial. Atribui tudo a um delírio, depositando a culpa em sua loucura,
de maneira muito teatralizada, lógica. Laertes, ainda que aceite a fala de Hamlet,
reafirma que seu sangue exige reparação para a morte do pai e da irmã. O rei
reafirma sua confiança de que Hamlet ganhará, mas isso não engana a Hamlet, que
sabe ser a parte mais fraca do duelo.
Laertes finalmente fere Hamlet. Na hora do contato, porém, eles acabam caindo e derrubando suas
armas. Na rapidez da luta, os floretes são trocados e Hamlet acaba pegando a arma envenenada. O rei,
percebendo, tenta finalizar o duelo, mas Hamlet acaba ferindo Laertes também. Nesse momento, a
rainha cai no chão. O rei tenta dizer que foi a emoção de ver o sangue, mas a rainha já percebera o
golpe e afirma que a bebida da taça estava envenenada. Hamlet ordena que se fechem as portas e
ninguém saia.
É então que Laertes revela todo o golpe e afirma que ambos irão morrer também, já que a arma estava
envenenada. Hamlet pega o florete e fere Cláudio, que acaba morrendo. Laertes, à
beira da morte pede perdão a Hamlet e eles se entendem.
Hamlet pede a Horácio que ele conte história para os súditos e registre os
acontecimentos de modo a limpar sua honra. O desejo de Horácio era morrer com o
amigo, mas ele aceita seu pedido.
Eis que chega Fortimbrás e sua comitiva. Também chegam os embaixadores da Inglaterra afirmando
que Rosencrantz e Guildenstern estão mortos. Hamlet pede a Horácio que dê o direito de herança do
reino ao príncipe norueguês, que crê ser a pessoa próxima na sucessão com mais direitos e dignidade
para assumir esse lugar. Ele então morre dizendo “E o resto é só silêncio”.
Fortimbrás está chocado com tudo o que vê, mas aceita a fala de Horácio e sua promessa de explicar
tudo o que se passou. Sua primeira ação como agora rei é ordenar que Hamlet tenha um enterro digno,
com todas as honras que seu nome e posição merece.
FIM
Atenção
- Ao afirmar que é importante estar pronto, leia-se que Hamlet afirma que é importante estar pronto
para a morte. Hamlet aceita o chamado e a possibilidade de morte. Ele finalmente decide: deve matar
o tio, mesmo que isso cause sua própria morte.
- Não fica claro se Hamlet percebe que aquilo é uma potencial armadilha. Talvez ele já tenha percebido
e por isso se porta de maneira fria.
- Laertes não é um homem sem honra, mas imbuído da vingança. Não fica claro que ele acaba se
deixando atingir porque está hesitante em seguir com o plano. No verso 317, ele aponta como isso tudo
vai contra sua consciência.
- A vingança não era algo bem visto nesse tempo. Isso porque acreditava-se que ela criaria um ciclo
eterno de violências. Isso fica muito claro nessa cena: a vingança de Hamlet provocou a vingança de
Laertes e, por fim, todos estão mortos. Há uma crença e uma mensagem de que a vingança corrompe
aquele que achava que estava agindo corretamente.
- Parece haver algumas implicações teológica na fala de Hamlet, com a ideia de que a morte é o fim de
tudo ou que o silêncio será seu descanso.
- Fortimbrás afirma que Hamlet teria sido valoroso se preciso fosse. A palavra se define grande parte
dos problemas da peça. A indecisão de como agir diante do mundo.
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Não sabemos,
Violência como ciclo enquanto humanos, o
que estamos fazendo
Ophelia (2018)
O filme foca em contar a história a partir da perspectiva de Ofélia. A adaptação não é
fiel à obra original.
4 – Exercícios
2. (UFRGS - 2019)
No bloco superior abaixo, estão listados os nomes de algumas personagens da tragédia; no
inferior, sua função no drama.
Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.
1. Cláudio
2. Fortimbrás
3. Horácio
4. Polônio
5. Laertes
( ) Príncipe da Noruega
( ) Amigo de Hamlet
( ) Irmão de Ofélia
( ) Lorde camareiro
3. (UFRGS - 2019)
Leia as seguintes afirmações sobre William Shakespeare.
I. Shakespeare escreveu tragédias, comédias, romances e poemas.
II. Shakespeare foi o principal dramaturgo da Era Elisabetana, deixando um legado que
ultrapassa a cultura inglesa.
III. Shakespeare criou personagens que se tornaram exemplos da psiquê humana, como
Hamlet, Rei Lear e o casal Macbeth.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
( ) Assassino do rei
( ) Bobo da corte
( ) Rei assassinado
( ) Mãe de Hamlet
d) Rosencrantz e Guildenstern, amigos de Hamlet, são peças fundamentais, pois são eles
quem vêm pela primeira vez o espectro do rei morto.
e) O duelo entre Hamlet e Laertes sela o final da peça, colocando o príncipe da Dinamarca
de volta ao trono que lhe era de direito.
( ) Servo de Polônio
( ) Príncipe da Dinamarca
( ) Príncipe da Noruega
( ) Cortesão do rei
c) Laertes parte para Paris, porém preocupado com o future de sua irmã.
d) Fortimbrás chega à Dinamarca para reclamar seu direito de passar pelo território.
e) Gertrudes não acredita que Hamlet tenha visto o fantasma de seu pai.
c) Hamlet, ofendido com Laertes pela briga no enterro de Ofélia, aceita participar do duelo.
d) Hamlet acaba matando Laertes por feri-lo sem saber que a espada estava envenenada.
e) Gertrudes morrer por colocar-se em frente à espada envenenada durante o duelo.
( ) Amada de Hamlet
( ) Mãe de Hamlet
( ) Amigo de Hamlet
( ) Tio de Hamlet
Ser ou não ser – eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do
destino feroz ou pegar em armas contra o mar de angústias – e, combatendo-o, dar-lhe fim?
Morrer; dormir; Só isso. E com o sono – dizem – extinguir dores do coração e as mil mazelas
naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável. Morrer –
dormir – Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da
morte quando tivermos escapado ao tumulto vital nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
que dá à desventura uma vida tão longa. Pois quem suportaria o açoite e os insultos do
mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as
delongas da lei, a prepotência do mando, e o achincalhe que o mérito paciente recebe dos
inúteis, podendo, ele próprio, encontrar seu repouso com um simples punhal? Quem
aguentaria fardos, gemendo e suando numa vida servil, senão porque o terror de alguma
coisa após a morte – o país não descoberto, de cujos confins jamais voltou nenhum viajante
– nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos, a fugirmos pra
outros que desconhecemos? E assim a reflexão faz todos nós covardes. E assim o matiz
natural da decisão se transforma no doentio pálido do pensamento. E empreitadas de vigor
e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação.
(Hamlet, Ato III, Cena I)
III. Fica uma ambiguidade na fala de Hamlet, pois ao mesmo tempo em que aponta que
ninguém volta da morte, conversou com o fantasma de seu pai.
4.2 – Gabarito
1. B
2. C
3. D
4. A
5. D
6. A
7. E
8. B
9. A
10. B
11. C
12. A
13. E
14. C
15. D
16. B
17. E
18. A
19. D
20. A
2. (UFRGS - 2019)
No bloco superior abaixo, estão listados os nomes de algumas personagens da tragédia; no
inferior, sua função no drama.
Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.
1. Cláudio
2. Fortimbrás
3. Horácio
4. Polônio
5. Laertes
( ) Príncipe da Noruega
( ) Amigo de Hamlet
( ) Irmão de Ofélia
( ) Lorde camareiro
3. (UFRGS - 2019)
Leia as seguintes afirmações sobre William Shakespeare.
I. Shakespeare escreveu tragédias, comédias, romances e poemas.
II. Shakespeare foi o principal dramaturgo da Era Elisabetana, deixando um legado que
ultrapassa a cultura inglesa.
III. Shakespeare criou personagens que se tornaram exemplos da psiquê humana, como
Hamlet, Rei Lear e o casal Macbeth.
A afirmação III está correta, pois as personagens de Shakespeare tendem a ser muito arquetípicas,
representando comportamentos ou sentimentos. Além disso, são largamente analisadas a partir da
perspectiva da psicologia por conta de sua construção interna.
Gabarito: D
( ) Assassino do rei
( ) Bobo da corte
( ) Rei assassinado
( ) Mãe de Hamlet
c) F – F – V – V.
d) F – V – F – V.
e) V – F – F – V.
Comentários:
A primeira afirmação está correta, pois quase tudo se passa dentro do castelo do reino de Elsinore.
Algumas cenas são em outras localidades, como quando Hamlet encontra a armada de Fortimbrás em
sua viagem à Inglaterra.
A segunda afirmação está incorreta, a peça tem linguagem mais formal, entrando diversas vezes em
questionamentos filosóficos e fazendo referências diretas e indiretas a filósofos e outros pensadores.
A terceira afirmação está correta, pois Hamlet é um homem atormentado. Isso nos faz questionar em
algumas cenas se ele de fato não está perdendo sua razão, como na cena relatada por Ofélia, em que
não fica claro se era um fingimento ou não.
A quarta afirmação está incorreta, pois Gertrudes tem uma ligação muito forte com Hamlet. Em nenhum
momento ela tenta prejudica-lo.
Gabarito: A
A quarta afirmação está correta, pois Ofélia é a filha obediente que aceita as ordens do pai de parar de
ver Hamlet e depois a ordem de participar de uma armadilha contra ele. Suas vontades não são muitas
vezes consideradas na equação.
Gabarito: E
d) Rosencrantz e Guildenstern, amigos de Hamlet, são peças fundamentais, pois são eles
quem vêm pela primeira vez o espectro do rei morto.
e) O duelo entre Hamlet e Laertes sela o final da peça, colocando o príncipe da Dinamarca
de volta ao trono que lhe era de direito.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois Hamlet é um homem atormentado pela dúvida. Ele não sabe se deve
ou não acreditar no fantasma, como proceder com sua vingança, como lidar com a ideia de morte etc.
A alternativa B está incorreta, pois Polônio nunca esteve ao lado de Hamlet. Ele era aliado do rei
Cláudio.
A alternativa C está incorreta, pois quem enfrenta dificuldades para realizar seu plano de eliminar
Hamlet é Cláudio, que por perceber que Hamlet é muito amado pelo povo teme que mata-lo cause
revolta entre as pessoas.
A alternativa D está incorreta, pois eles são amigos sim de Hamlet, mas são os responsáveis por espiona-
lo, nunca viram o fantasma.
A alternativa E está incorreta, pois Hamlet, o príncipe da Dinamarca, morre no duelo, ou seja, não
assume o trono.
Gabarito: A
( ) Servo de Polônio
( ) Príncipe da Dinamarca
( ) Príncipe da Noruega
( ) Cortesão do rei
e) 3 – 1 – 4 – 2.
Comentários:
A correspondência entre as colunas é:
5. Reinaldo Servo de Polônio
2. Hamlet Príncipe da Dinamarca
4. Fortimbrás Príncipe da Noruega
3. Osric Cortesão do rei
A ordem correta, portanto, é 5 – 2 – 4 – 3.
Gabarito: B
Gabarito: C
Comentários:
A primeira afirmação está correta, pois o período em que Shakespeare escreve é durante o governo da
rainha Elisabeth I e um pouco depois. A Inglaterra já era protestante nessa época.
A segunda afirmação está correta, pois Hamlet de fato é um homem com muito apreço à razão e o
pensamento racional.
A terceira afirmação está incorreta, pois Cláudio representa as tramas e golpes envolvidos nas políticas
de Estado, não as dificuldades sucessórias.
A quarta afirmação está incorreta, pois Hamlet esconde o corpo como parte de seu disfarce à loucura.
Ele dá importância aos ritos funerários. Lembre-se que é justamente o desrespeito ao luto de seu pai
que provoca sua revolta no início da peça, antes mesmo de saber que havia um assassinato envolvido.
Gabarito: B
Comentários:
A afirmação I está correta, pois ele diz sobre como é raro que hoje se seja honesto, além de aludir à
contaminação de pessoas puras pela corrupção na metáfora do cachorro.
A afirmação II está correta, Hamlet já acredita que a morte de seu pai foi fruto de um golpe de seu tio.
Assim, ele começa a fingir loucura para que ninguém desconfie de suas intenções.
A afirmação III está correta, pois Polônio está investigando o que Hamlet pode estar querendo dizer com
suas metáforas e Hamlet está aludindo ao comportamento corrupto de Polônio.
Gabarito: E
( ) Amada de Hamlet
( ) Mãe de Hamlet
( ) Amigo de Hamlet
( ) Tio de Hamlet
c) 2 – 1 – 4 – 3.
d) 1 – 2 – 5 – 3.
e) 2 – 1 – 5 – 3.
Comentários:
A correspondência entre as colunas é:
1. Ofélia Amada de Hamlet
2. Gertrudes Mãe de Hamlet
4. Rosencrantz Amigo de Hamlet
3. Cláudio Tio de Hamlet
A ordem correta, portanto, é 1 – 2 – 4 – 3.
Gabarito: A
Ser ou não ser – eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do
destino feroz ou pegar em armas contra o mar de angústias – e, combatendo-o, dar-lhe fim?
Morrer; dormir; Só isso. E com o sono – dizem – extinguir dores do coração e as mil mazelas
naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável. Morrer –
dormir – Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da
morte quando tivermos escapado ao tumulto vital nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
que dá à desventura uma vida tão longa. Pois quem suportaria o açoite e os insultos do
mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as
delongas da lei, a prepotência do mando, e o achincalhe que o mérito paciente recebe dos
inúteis, podendo, ele próprio, encontrar seu repouso com um simples punhal? Quem
aguentaria fardos, gemendo e suando numa vida servil, senão porque o terror de alguma
coisa após a morte – o país não descoberto, de cujos confins jamais voltou nenhum viajante
– nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos, a fugirmos pra
outros que desconhecemos? E assim a reflexão faz todos nós covardes. E assim o matiz
natural da decisão se transforma no doentio pálido do pensamento. E empreitadas de vigor
e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação.
(Hamlet, Ato III, Cena I)
Considerações finais
Qualquer dúvida estou à disposição no fórum ou redes sociais!