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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Educação e Humanidades

Faculdade de Formação de Professores

Departamento de Educação

A metodologia de ensino da escola de forró Pé Descalço - Um paralelo à didática


necessária para a realidade da educação básica escolar

Carla Ferreira Santos Dias

São Gonçalo
2023
Carla Ferreira Santos Dias

A metodologia de ensino da escola de forró Pé Descalço - Um paralelo à didática


necessária para a realidade da educação básica escolar

Ensaio apresentado como requisito obrigatório


para a conclusão da disciplina Filosofia da
Ciência.

Professora: Rita Leal

São Gonçalo

2023
Resumo

O presente trabalho tem o objetivo de realizar um paralelo entre a metodologia de


ensino utilizada na rede Pé Descalço (PD), que é uma escola internacional de forró,
a qual conquista, cativa e faz permanecer indivíduos de diversas faixas etárias e das
mais variadas classes sociais, tornando-se, desse modo, um espaço democrático de
aprendizado, assim como de interação social, com a realidade da educação básica
escolar, a qual necessita de uma sequência didática dos conteúdos abordados de
forma coerente e significativa. Além disso, busca-se entender de que modo a
filosofia da educação contribui com as ações pedagógicas a respeito das
metodologias didáticas.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 6

2. DESENVOLVIMENTO 7

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 11

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 12
5

1.
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INTRODUÇÃ O

A escola de forró Pé Descalço nasceu em 2003, a partir da iniciativa


voluntária de um jovem forrozeiro. Atualmente, a escola conta com 12 unidades
espalhadas pelo mundo, das quais duas estão localizadas no estado do Rio de
Janeiro. As aulas são divididas em níveis básicos, tais como: iniciante, intermediário
e avançado. Esses níveis se subdividem em "colares de graduação", sendo
transparente, branco, azul, azul avançado, preto, preto avançado e vermelho,
também conhecidos como as rodas de aula. O colar vermelho costuma ser um
objetivo daqueles que almejam se profissionalizar no mundo do forró, visto que é o
mais alto nível dentro do PD.

A dinâmica das aulas acontece a partir de uma metodologia bastante


didática, dividindo-se em algumas etapas básicas: alongamento, aquecimento "de
frente para o espelho", apresentação de novos alunos, conteúdo (passos e recursos
da dança), interação e treino, relaxamento e recados e, por fim, espaço livre. Todas
as unidades seguem a mesma estrutura sequencial para as suas aulas, adaptando
o tempo, quando necessário, para a sua realidade local. Assim, todas as etapas são
exploradas, apesar de algumas terem o tempo reduzido.

Com isso, observa-se o quanto o Pé Descalço preza pelo adequado


desenvolvimento dançante. A proposta da escola, por ser tão organizada, facilita
consideravelmente o aprendizado de todos os seus alunos. Dessa maneira, é
possível identificar um aspecto análogo à educação escolar básica, que necessita
de uma sequência didática planejada, contínua e viável, a qual possibilita uma
articulação entre os diversos momentos de aprendizagem existentes.
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2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Conhecendo o Pé Descalço

Em primeiro momento, as aulas do PD, que se iniciam pelo alongamento, já


abordam um tema extremamente relevante para qualquer espaço de ensino-
aprendizagem, a inclusão, sendo, pois, um espaço no qual os veteranos e aqueles
que estão conhecendo pela primeira vez a escola participam sem qualquer
distinção. Assim, faz com que o entrosamento social comece a ser trabalhado desde
o primeiro instante no PD. Além disso, por se tratar de uma atividade física, o
alongamento vai além de uma estratégia didática, promovendo os cuidados que
antecedem essas práticas.

Em seguida, o "de frente para o espelho", busca aquecer os corpos dos


alunos, de forma individual, a começar das músicas mais lentas, aumentando,
progressivamente, a velocidade delas. Após isso, formam-se duplas, para dar início
na dança a dois, respeitando, também, a evolução da rapidez das músicas,
desafiando todos a irem além da sua zona de conforto. Por se tratar de um
momento coletivo sem diferenciação de rodas, os níveis de dança dos alunos são
mesclados, o que Vygotsky, em seus estudos, conceituou de Zona de
Desenvolvimento Potencial, no qual um indivíduo pode aprender com a interferência
de outrem.

No momento seguinte, os alunos novos são apresentados de uma forma


bastante leve e descontraída, exercendo, mais uma vez, a inclusão daqueles que
estão chegando na escola pela primeira vez. Logo depois, acontece a divisão das
rodas, na qual são explorados os conteúdos programáticos que foram
cuidadosamente planejados e coordenados para que o novo movimento seja
devidamente assimilado por todos. Durante esse período, as dificuldades aparentes
são analisadas pelos professores, os quais buscam estratégias diversas para que o
aprendizado dos alunos aconteça de modo eficaz.

Ao término da instrução, pode-se praticar, durante algumas músicas, entre os


alunos da mesma roda, os movimentos que foram ensinados. Com isso, trabalha-se
o conteúdo dentro de um mesmo nível, auxiliando no avanço coletivo. E, ao final,
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todos os alunos, de todas as rodas, se juntam para o relaxamento, que se resume


em uma dinâmica grupal, e para ouvir os recados pertinentes. Concluindo a aula,
tem-se o espaço livre para praticar, onde alunos e professores compartilham danças
incríveis e onde os laços sociais podem se estreitar entre todos.

De tempos em tempos, acontecem exames de níveis, que são, na verdade,


um enorme evento festivo para todos os alunos da escola, convidados e pessoas
que querem apenas participar de um momento de confraternização. Durante esses
exames, os professores, propriamente qualificados, analisam o desenvolvimento
dos alunos para ajustá-los à roda ideal. O PD, como um todo, defende a ideia de
que esse processo não é uma prova, em sua natureza estritamente avaliativa e
classificatória, mas sim uma forma de adequar os aprendizes à roda que mais vai
contribuir para a sua evolução individual. Alguns vão aprender e desenvolver mais
em sua roda atual, sendo que outros precisam avançar para dar sequência ao
aprendizado construído até então.

2.2. Um paralelo entre o Pé Descalço e a Educação Escolar Básica

Contextualizando as aulas de forró do PD com as práticas escolares


necessárias para a educação básica brasileira, infere-se o quanto uma sequência
didática bem estruturada dos conteúdos pode contribuir para o sucesso do
aprendizado dos indivíduos, pois tanto educadores quanto educandos precisam de
uma orientação minimamente planejada. Logo, por se tratar de uma metodologia
basilar e, em sua natureza, facilmente compreensível, assegura a sua eficácia, se
for encarada com seriedade e responsabilidade. Desse modo, entender que os
conteúdos selecionados para a aula precisam, ao final dela, ensejar logicidade para
todos os envolvidos nesse processo de ensino e aprendizagem escolar, é o primeiro
passo para a construção do planejamento.

A respeito da seleção dos conteúdos, conforme Haydt (2011), eles devem


seguir cinco critérios básicos: validade, utilidade, significação, adequação ao nível
de desenvolvimento do aluno e a flexibilidade. Assim, entende-se como válidos
aqueles conteúdos que consideram os objetivos de aprendizagem, como também
são úteis aqueles que são possíveis de inserir em diversas situações. Há
significação quando se pode relacionar o novo aprendizado com os conhecimentos
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existentes dos alunos. Além disso, ocorre a adequação ao nível do desenvolvimento


do aluno no momento que a sua situação intelectual é considerada e a flexibilidade
no momento em que alterações são realizadas, a fim de atingir o pleno e satisfatório
aprendizado.

Observa-se, desse modo, a utilização da maioria desses pontos na dinâmica


de aula do PD, que busca adequar, da melhor forma possível, os conteúdos
programáticos às demandas dos alunos durante as aulas. Esse modo de direcionar
o aprendizado facilita o desenvolvimento do processo de ensinar, tornando-o mais
atrativo, significante e inspirador. Sendo assim, as aulas da educação básica
precisam proporcionar um espírito entusiasta, criativo, reflexivo e crítico nos seus
aprendizes, entretanto, isso só ocorrerá se os assuntos forem interessantes para
eles. A educação, que é essencial, deve fazer sentido para ser necessária ao
alunado. Com isso, uma didática fundamentada e coerente torna-se uma aliada e
um alicerce aos objetivos do ensino.

Segundo Vasconcellos (2011), aquele professor que sabe o que é relevante


para o aprendizado dos alunos, não se prende aos pormenores, ao contrário disso,
ele sabe driblar as adversidades e encontrar formas de concretizar o objetivo inicial
do plano de ensino. Assim, o que norteia a absoluta ação pedagógica é a
organização da sequência didática e a reflexão crítica do próprio educador sobre
ela, tornando o seu entendimento pleno de fundamento. Nesse sentido, a maior
questão que envolve todo esse processo não é o como fazer a sequência didática
dos conteúdos, mas sim o porquê fazê-la.

2.3. A filosofia da educação contribui com as metodologias didáticas?

Pensar a respeito do fazer pedagógico é um ato fundamentalmente


necessário a todos aqueles envolvidos na formação educacional de outros
indivíduos. Nesse sentido, a questão do pensamento não está relacionada apenas
ao planejamento escolar, mas também à análise do contexto atual, investigando se
aquele plano está considerando todos os sujeitos atuantes desse cenário, se está
de acordo com o tipo de sujeito que se pretende formar, se é financeira e
estruturalmente possível e se os recursos necessários estão disponíveis.
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A partir disso, não exclusivamente, as metodologias e os métodos didáticos


são objetos de questionamentos, e a educação se move de acordo com isso. Assim,
questionamentos e indagações impulsionam a busca de novas verdades e de
posicionamentos diferentes. O diferente, nesse caso, pode ser muito mais coerente
para um determinado contexto, do que aquilo que é de conhecimento coletivo. A
escola de forró Pé Descalço, certamente, no início da sua proposta, sofreu com
diversas críticas dos defensores do forró pé de serra tradicional, pois além da sua
metodologia inovadora, os movimentos de dança também contrariavam aqueles que
eram mais clássicos e habituais.

Desse modo, a educação escolar básica não só sofre com a resistência


daqueles que defendem metodologias arcaicas, como também recebe interferência
de uma sociedade com interesses extremamente capitalistas. Essa conjuntura
atribui à educação básica características mercadológicas, ou seja, a construção do
sujeito crítico, reflexivo e autônomo perde espaço para a construção do sujeito
idealizado para o mercado de trabalho. Talvez, aqui, refletir sobre os motivos de se
fazer educação sejam ainda mais urgentes, a fim de que o valor do ser humano não
seja reduzido ao materialismo. De acordo com Fonseca (2006), como os fins da
educação pressupõem um valor, a sociedade exige que a educação escolar seja o
principal veículo formador de indivíduos cujos valores sejam alicerçados na reflexão
crítica sobre o agir no mundo.

As metodologias didáticas adotadas pelas escolas brasileiras são um espelho


dos valores imprescindíveis ao ensino, pois elas demonstram, de forma prática, o
direcionamento da ação pedagógica. Com isso, a filosofia da educação não só
auxilia no ordenamento dessa ação, como também colabora com a construção dos
objetivos e dos fins educacionais, direcionando as práticas do presente e as do
futuro.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, nota-se que os conteúdos isolados não são suficientes à


concretude do processo de ensino-aprendizagem necessário para o
desenvolvimento integral do ser humano, pois os conteúdos por si só são vazios e
limitados em seus diversos sentidos. Além de ter relevância pessoal e social, eles
devem estar bem estruturados dentro de uma organização didática, simplificando o
seu modo de chegar até cada um. Essa lógica de ordenação é uma forma de
minimizar os contratempos que podem surgir, direcionar as abordagens do
professor e organizar o fazer pedagógico. Logo, a elaboração do significado do
aprendizado pelo aluno torna a aprendizagem possível.

Nesse viés, mais do que uma estratégia, a missão do PD é a de cativar as


pessoas e fazer com que elas se apaixonem por esse mundo que envolve o forró e,
especificamente, a escola Pé Descalço. A educação básica, se caminhasse por
esse mesmo ideal, seria formadora não só de cidadãos para o mundo do trabalho
ou para a vida em sociedade, mas também indivíduos defensores da educação e
que prezam pela qualidade máxima dela. Com isso, o PD é um exemplo de ensino,
de motivação, profissionalismo, metodologia e inovação para a educação escolar
básica brasileira.

Além disso, o princípio básico que norteia a educação é a possibilidade de


formar indivíduos que saibam conviver plenamente em sociedade e que saibam,
inclusive, intervir criticamente sobre ela, sendo assim, seres atuantes na sua
própria realidade e construtores dela. O ato de refletir incorpora a dimensão
fundamental na educação básica, que é pensar a respeito do porquê está seguindo
um caminho e não um outro.
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPOS, Magna. O Gênero Textual Ensaio Acadêmico - Suas especificidades e


regularidades. 2014

Fonseca, Maria de Jesus. Ciências da Educação e Filosofia da Educação. Revista


Pedagógica - UNOCHAPECÓ - Ano 8 - n° 17. - jul/dez. 2006.

Haydt, Regina Célia Cazaux. Curso de didática geral / Regina Célia Cazaux Haydt. -
1.ed. - São Paulo : Ática, 2011.

Manual do Aluno Pé Descalço. Grupo Particular do WhatsApp oficial da escola de


Niterói/Rio de Janeiro. Acesso em; 08, de julho, de 2023.

Pé Descalço. Pé Descalço – A Maior Escola de Forró no Mundo, 2023. Disponível


em: < https://pedescalco.com.br/ >. Acesso em: 08, de julho, de 2023.

VASCONCELLOS, C. S. Formação didática do educador contemporâneo: desafios


e perspectivas. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Prograd. Caderno de
Formação: formação de professores didática geral. São Paulo: Cultura Acadêmica,
2011, p. 33-58, v. 9.

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