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O ACESSO À JUSTIÇA E À JURISDIÇÃO ATRAVÉS DA ARBITRAGEM

Helena Schwantes1
Victor Teixeira da Silveira2

É de conhecimento geral, a crise que o Poder Judiciário enfrenta devido


ao excessivo número de demandas que são postas a ele. Desta forma, faz-se
necessário o surgimento de métodos alternativos à jurisdição estatal, como
forma eficaz de resolução de conflitos.
Sendo assim, pretende-se analisar a arbitragem e responder a seguinte
pergunta: o instituto é uma possibilidade de acesso à justiça, bem como, em
contrapartida, representa uma impossibilidade de acesso à jurisdição? Com o
intuito de desenvolver o proposto, o presente trabalho conta com o tipo de
pesquisa bibliográfica, tendo como base principal livros e artigos dentro do
tema proposto e como método, utilizar-se-á o dedutivo.
A arbitragem ao lado da jurisdição estatal representa uma forma
heterocompositiva, no entanto, estes institutos de solução de conflitos possuem
diferenças. A jurisdição estatal é oferecida pelo Estado, estando disponível a
qualquer interessado, porém, quando provocada exige daquele em face de
quem é apresentada a sua submissão. Já na arbitragem, as partes de comum
acordo à escolhem, por meio de uma cláusula contratual ou diante de um
litígio, um terceiro - o árbitro, ou um colegiado arbitral, a quem atribuem

1
Estudante de Direito na Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, RS, Brasil. Atualmente
no décimo semestre. Integrante do Grupo de Pesquisa: “Políticas Públicas no Tratamento de
Conflitos”, vinculado ao CNPq, coordenado pela Professora Pós-Doutora Fabiana Marion
Spengler e vice liderado pelo Professor Mestre Theobaldo Spengler Neto. Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/6995919810735716. Endereço eletrônico: helenaschwantes@hotmail.com.
2
Estudante de Direito na Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, RS, Brasil. Atualmente
no nono semestre. Integrante do Grupo de Pesquisa: “Políticas Públicas no Tratamento de
Conflitos”, vinculado ao CNPq, coordenado pela Professora Pós-Doutora Fabiana Marion
Spengler e vice liderado pelo Professor Mestre Theobaldo Spengler Neto. Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2009167539765260. Endereço eletrônico: victorteixeirats@hotmail.com.
autoridade para solucionar o conflito, sendo que a decisão arbitral possui a
mesma efetividade que a sentença judicial (CAHALI, 2018).
Deste modo, não existe a pretensão de substituir a via judiciária, mas
sim, busca-se disponibilizar outros mecanismos e permitir a adoção de vias
mais adequadas, céleres e efetivas no tratamento dos litígios (TARTUCE,
2008).
Contudo, afigura-se necessário verificar a constitucionalidade da lei da
arbitragem e o princípio da inafastabilidade da jurisdição, a fim de verificar se
viabiliza as garantias essenciais ao devido processo legal, a segurança jurídica
bem como se possibilita o acesso à justiça e à jurisdição.
A arbitragem enquanto meio alternativo de resolução de conflitos, não
constitui nenhuma ofensa ao princípio constitucional da “inafastabilidade da
jurisdição”, isso porque não se nega o acesso do cidadão ao Judiciário.
Ademais, a Lei 9.307/1996 não impõe à utilização compulsória da arbitragem,
mantendo livre o acesso à jurisdição estatal para os interessados, inclusive
quando houver violação a direito durante o procedimento arbitral (CAHALI,
2018).
Dessa forma, a arbitragem regulada pela Lei 9.307/1996 promove a
liberdade dos litigantes em buscar a tutela para suas demandas fora da
jurisdição estatal, retirando do Estado a exclusividade na resolução de
controvérsias ao admitir “jurisdição privada” como forma independente e eficaz
(CAHALI, 2018).
De acordo com Cahali (2018), diante da dinâmica da sociedade
contemporânea é salutar a discussão acerca do dogma da exclusividade do
Estado no exercício da função jurisdicional e da indelegabilidade da jurisdição,
uma vez que o Estado, muitas vezes, não é o meio mais adequado para dirimir
as lides de particulares, sendo que a via extrajudicial pode proporcionar
resultados mais satisfatórios. Nesse sentido, acrescenta Neves (2018, p.77-
78), “a arbitragem não afronta o princípio da inafastabilidade da jurisdição,
previsto no art. 5º, XXXV, da CF. O Supremo Tribunal Federal corretamente
entendeu que a escolha entre a arbitragem e jurisdição é absolutamente
constitucional”.
Em 2001, o Supremo Tribunal Federal discutiu a constitucionalidade da
Lei da Arbitragem nº 9.307/96, com análise a partir do artigo 5º, XXXV, da
Constituição Federal, que prevê o princípio da “inafastabilidade da
jurisdição”. Segundo a corte, a arbitragem não afasta a jurisdição, uma vez
nem todos os conflitos, necessariamente, dependem da intervenção estatal
para sua resolução. Além disso, os meios alternativos de resolução de conflitos
são métodos não obrigatórios, ou seja, as partes têm a faculdade de,
consensualmente, optarem ao não pela utilização de mecanismos
extrajudiciais.
Desta maneira, no tocante ao problema da presente pesquisa, conclui-se
que, a arbitragem é um meio extrajudicial efetivo e seguro, constituído a partir
da autonomia da vontade das partes e exercido como forma de jurisdição
privada. Assim, permite o exame do conflito por terceiro imparcial especializado
no objeto da controvérsia, ao passo que promove a ampliação do acesso à
justiça e a efetivação dos direitos e garantias fundamentais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. SE 5.206-Agr, Rel. Min. Sepúlveda


Pertence, julgamento em 12/12/2001, Plenário, DJ de 30/04/2004. Disponível
em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=
345889>. Acesso em: 12 set. 2019.

CAHALI, Francisco José. Curso de arbitragem [recurso eletrônico]. São Paulo:


Editora Revista dos Tribunais, 2018. Disponível em: <https://proview.thomson
reuters.com/title.html?redirect=true&titleKey=rt%2Fmonografias%2F77225019
%2Fv7.4&titleStage=F&titleAcct=ia744d779000001593d53a067c09b01c5#sl=0
&eid=6dcadab71d0d1075ccf754782de44b49&eat=%5Bbid%3D%221%22%5D
&pg=&psl=e&nvgS=false>. Acesso em: 12 set. 2019.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Processo Civil. 10. ed.


Salvador: Editora JusPodivm, 2018.

TARTUCE, Fernanda. Mediação nos conflitos civis. São Paulo: Método, 2008.

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