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APRESENTAÇÃO
Nesta aula você compreenderá a teologia reforma ou teologia protestante, que consiste nas
principais doutrinas dos reformadores, a partir de dois teólogos de destaque. Você também
conhecerá um grupo conhecido como Anabatistas, surgido no mesmo período da Reforma
Protestante, porém com uma agenda de reforma mais radical.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
• Compreender as principais doutrinas dos reformadores, classificados como magisteriais;
• Conhecer outra classe de reformadores, denominados radicais e considerados
protestantes do protestantismo.
META
Apresentar os a biografia e teologia de Ulrico Zwínglio e João Calvino e o movimento da reforma
anabatista.
1 A TEOLOGIA REFORMADA
HISTÓRIA DO CRISTIANISMO I 2
Uma diferença entre Lutero e Zwínglio dizia respeito à autoridade de todos os livros da
Bíblia. Como já estudamos, Lutero acreditava que livros como a Epístola de Tiago e Apocalipse
não eram livros apostólicos, assim era preciso reconhecer o “cânon dentro cânon”. Mas para
Zwínglio todos os livros da Bíblia são a Palavra de Deus, de modo que não existam partes da
Bíblia que sejam secundárias. Apesar disso, ambos os reformadores enfatizavam a
necessidade da iluminação do Espírito Santo na mente do leitor a fim de dar clareza a respeito
do texto lido.
Zwínglio também abordou assuntos como a providência e a predestinação, de modo que
Deus é soberano e tem o controle de todas as coisas. De acordo com Zwínglio todos os eventos
que ocorrem no mundo, desde os mais complexos até os mais simples são pré-ordenados por
Deus. Nós como criaturas, temos que aceitar até mesmo as contradições da vida e aceitá-las
como fazendo parte de um plano maior de Deus. A partir dessa concepção de que Deus é
soberano e controla toda a história humana que Zwínglio aborda o ensino a respeito da
predestinação.
De acordo com o reformador a predestinação o livre arbítrio estão relacionados com a
providência – a providência é a crença de que Deus controla e orienta todo o universo. Portanto,
Deus não apenas sabe todas as coisas, mas ele também faz todas as coisas. Os eventos não
são meros acasos, mas fazem parte do plano divino. Essa capacidade de saber e fazer tudo
são uma das características da natureza de Deus. Quando Deus criou a humanidade e os anjos
ele já sabia antecipadamente a respeito da queda deles. Quando Adão pecou e até mesmo
quando Satanás caiu, esses eventos não foram contra a vontade de Deus, pois faziam parte
dos projetos eternos dele.
Logo, se Deus sabe e faz todas as coisas, a salvação é o resultado da eleição divina e
não do esforço humano, de acordo com a concepção de Zwínglio. Assim como Deus
predestinou as pessoas para salvação, ele também teria predeterminado os condenados para
o inferno. Aquelas pessoas que reivindicam a eleição, mas em certo momento da vida
abandonam a fé cristã, esses nunca foram eleitos de fato. Aqueles que vivem no mal estão
rejeitados por Deus, mas pode ser que entre esses há pessoas que são predestinadas, ao
passo que a eleição pode se manifestar a qualquer momento. Portanto, não há como perder a
salvação, pois todos os eleitos já foram predestinados.
Quanto às pessoas que viveram na Antiguidade e também aqueles que nunca ouviram
falar do evangelho, Zwínglio acreditava que alguns deles podem estar entre os eleitos, tendo
em vista que Deus os julgará de maneira diferente. Portanto, o reformador foi um defensor da
doutrina da predestinação. Em alguns momentos Zwínglio quis destacar tanta soberania de
Deus que alguns o chamaram de herético. Como Deus pode ser responsável por todas as
coisas, inclusive as ruins? Zwínglio então disse que Deus não é o culpado ou responsável pelo
pecado, mas ele pode tirar algo de bom do mal, a fim de executar seus propósitos eternos.
Zwínglio e Lutero tiveram outra divergência, desta vez relacionada à eucaristia. Lutero
achava a doutrina católica da transubstanciação um absurdo teológico. Embora Lutero
discordasse da doutrina da transubstanciação, ele acreditava que Cristo está presente nos
elementos da ceia, ou seja, no pão e no vinho. Posteriormente, historiadores da igreja deram o
nome de consubstanciação à essa doutrina luterana. No entanto, para Zwínglio, a ceia é um
memorial que aponta para a morte de Cristo. A fim de resolver esse conflito teológico.
Entre os dois reformadores, o príncipe Filipe de Hesse, realizou um encontro entre eles,
na cidade alemã de Marburg em 1529. Esse encontro ficou conhecido como Colóquio de
Marburg. Na discussão foi citado as palavras de Jesus no momento da ceia com seus discípulos
conforme registrado em Mateus 26. 26: “Enquanto comiam, tomou Jesus um pão e,
abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo”.
Lutero interpretou a última parte desse versículo “isto é o meu” literalmente, logo Jesus
estaria presente nos elementos da ceia. Todavia, para Zwínglio “isto é meu corpo” é uma
metáfora que simboliza um evento passado, ou seja, a morte de Cristo. No final do debate
ambos negaram a doutrina da transubstanciação, mas não chegaram a um consenso a respeito
da presença de Cristo nos elementos da ceia.
Zwínglio também falou a respeito do batismo, que assim como a ceia, ele também era
símbolo da nova aliança. Assim como a circuncisão era uma forma de rito de iniciação do
israelita, o batismo também um ato simbólico de incorporação como um membro do corpo de
Cristo. Para o reformador o batismo não tem uma função regeneradora, de modo que o batismo
é um testemunho público de um indivíduo regenerado pelo Espírito Santo.
Em momento algum Zwínglio menospreza o batismo, mas apenas enfatiza que esse ato
é um símbolo de algo mais profundo que aconteceu na interioridade humana. Zwínglio procurou
explicar sua posição conforme suas palavras abaixo:
Portanto, Zwínglio rejeita a ideia de que o batismo purifica o pecado do indivíduo, por se
tratar apenas de um ato simbólico.
desse reformador é ser o mais bíblico possível e apresentar de maneira clara a teologia
evangélica.
Em 1536, Calvino estava decidiu viajar para a cidade de Estrasburgo, onde se dedicaria
a uma vida de estudos. Todavia, o caminho de sua cidade Noyon para Estrasburgo estava
interditado, ao passo que foi preciso mudar a rota e passar pela cidade de Genebra, na Suíça.
Quando os protestantes daquela cidade ficaram sabendo que Calvino estava na cidade,
rogaram-lhe que ficasse na cidade e os ajudassem na Reforma. Por um momento, Calvino
relutou, tendo em vista que seu projeto pessoal consistia em apenas estudar e escrever; ele
não queria se envolver com questões eclesiásticas da Reforma. Um dos líderes do movimento
da Reforma em Genebra chamado Guilherme Farel foi um dos responsáveis a fazer com que
Calvino mudasse de ideia. O próprio João Calvino relatou esse momento:
Se Calvino tinha a intenção de ter uma vida tranquila, apenas dedicada aos estudos,
depois daquele encontro com Farel sua vida tomou outra direção. Ele passou o resto de sua
vida em Genebra e se tornou um dos mais influentes reformadores do protestantismo. Ele
morreu em 1564.
Nas Institutas Calvino aponta dois tipos de conhecimento: o conhecimento de Deus e o
conhecimento de nós mesmos. O verdadeiro conhecimento de nós mesmos acontece quando
reconhecemos nossas misérias o que nos move a buscar o conhecimento de Deus que é nossa
única suficiência. O reformador diz que em todos os homens existe uma semente da religião
plantada no coração, que é a capacidade da humanidade pensar em Deus.
No entanto, não basta apenas saber que Deus existe, mas deve-se procurar conhecer
qual o papel que cada pessoa tem que ocupar no projeto global de Deus.
De acordo com Calvino a humanidade está escravizada pelo pecado, razão pela qual é
impossível conhecer a Deus apenas por métodos naturais e, além disso, há uma distância entre
a criatura e o Criador. Por isso, é preciso que conheçamos a Deus mediante a revelação,
principalmente por meio das Escrituras. Assim como os demais reformadores, Calvino destacou
a supremacia das Escrituras, as quais são a Palavra de Deus, na qual a autoridade da igreja
está fundamentada.
Assim como Zwínglio, Calvino também falou a respeito da soberania e providência divina.
Tudo o que acontece no universo está debaixo do governo de Deus. Todos os eventos, desde
os mais simples até os mais complexos acontecem de acordo com a vontade do Criador. Deus
usa até mesmo o mal cometido pelos homens para cumprir sua vontade. Até mesmo os homens
maus estão fazendo a vontade oculta de Deus. Apesar de Calvino ter falado a respeito da
predestinação, essa não é o centro de sua teologia. A doutrina da predestinação de Calvino
está relacionada com a justificação pela fé, nada muito diferente daquilo que foi ensinado pelos
demais reformadores.
No que se refere à doutrina a respeito da queda de Adão, Calvino ensina que a
humanidade se encontra em um estado de depravação, em decorrência do pecado. Sendo
assim, tanto a razão e vontade humana foram corrompidas pelo pecado, de modo que o homem
não possuiu condições, por si só, de buscar e conhecer a Deus.
Um dos principais assuntos abordados na teologia de Calvino diz respeito à igreja. Para
o reformador as marcas de uma igreja verdadeira é a pregação da Palavra de Deus. Além disso,
ele fez a distinção entre a igreja visível e a igreja invisível. A visível é a comunidade de cristãos,
enquanto a invisível é constituída dos eleitos, os quais são conhecidos apenas por Deus. Assim
como Agostinho, Calvino acreditava que a igreja visível é constituída dos eleitos e dos ímpios
e, apenas Deus no fim dos tempos vai fazer a separação entre o “trigo e o joio”. Quanto a igreja
Calvino disse que:
Onde quer que vejamos a Palavra de Deus sendo pregada puramente e ouvida
e os seus sacramentos sendo ministrados segundo a instituição de Cristo, não
se pode duvidar de maneira nenhuma que existe uma igreja de Deus[...]Se o
ministério tem a Palavra e a honra, se tem a ministração dos sacramentos,
merece, sem dúvida alguma, ser julgado e considerado igreja[...]Quando
dizemos que o ministério puro da Palavra e o modo puro de celebrar os
sacramentos são o penhor e a garantia suficientes pelos quais podemos
reconhecer uma igreja em qualquer sociedade, queremos dizer que no lugar em
que essas duas marcas existem, a igreja não deve ser rejeitada, ainda que essas
duas marcas existem, a igreja não deve ser rejeitada, ainda que repleta de falhas
em outros aspectos. Não estou sendo conivente com o erro, por mais
insignificante que seja, nem desejo incentivá-lo. No entanto, estou dizendo que
não devemos desertar uma igreja em função de um desacordo secundário caso
2 A REFORMA ANABATISTA
A igreja reformada em Genebra batizava crianças, o que foi rejeitado pelos anabatistas,
por acreditarem que uma criança não possui capacidade mental suficiente para decidir a
respeito de Cristo. Segundo eles, era necessário haver uma verdadeira regeneração produzida
pelo Espírito Santo. No início do movimento, eles se autodenominavam “irmãos” e, só
posteriormente foram chamados de anabatistas, de modo que se espalharam por toda a
Europa.
O dia 25 de janeiro de 1525 é considerado um dia marcante na história do movimento
anabatista. Jorge Blaurock, um exsacerdote católico e que havia se convertido ao
protestantismo, reuniu-se com seguidores radicais de Zwínglio. Eles discutiram, argumentando
que o Novo Testamento requeria dos cristãos muito mais daquilo que Zwínglio ensinava.
Era preciso restaurar o cristianismo primitivo. A igreja precisava viver de acordo com os
ensinos apostólicos. Fazia parte também desse grupo Félix Manz e Conrad Grebel, os quais
haviam sido discípulos de Zwínglio. Depois de um período de oração e estudos da Bíblia, esse
grupo decide realizar um batismo mútuo. No entanto, rebatizar as pessoas era considerado uma
heresia pela igreja protestante; mas os anabatistas acreditavam que o batismo devia ser
realizado apenas quando a pessoa tivesse convicção de que fora regenerada pelo Espírito
Santo. Por isso acreditavam que o batismo infantil não era válido, pois a criança não tem
ATIVIDADES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta aula você pôde conhecer as contribuições de Ulrico Zwínglio e João Calvino, dois
teólogos referenciais da teologia reformada, além de compreender as pautas do movimento
anabatista ou reforma radical, cujos precursores acreditavam faltar algo na Reforma Protestante
e eram considerados desordeiros e sem um direcionamento teológico para sintetizar seus
pensamentos doutrinários.
REFERÊNCIAS