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HISTÓRIA DA TEOLOGIA
AULA 5

 
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Prof. Roberto Luis Renner

CONVERSA INICIAL

Nesta aula, dialogaremos sobre aspectos importantes que


ocorreram entre os séculos XIV e XVI.

Primeiramente, abordaremos alguns dos


precursores da Reforma Protestante, como Guilherme de

Ockham, João Wycliffe e


Desidério Erasmo (Erasmo de Roterdã), personagens que tiveram uma
influência
relevante cada um em seu tempo. Foram pessoas que vieram antes de Martinho
Lutero e

tiveram um papel importante na história da Igreja. Muitas vezes, vemos


as ações somente daqueles

que estão em primeiro plano, mas existem pessoas que


não são tão vistas, mas são fundamentais.

Um personagem dos dias de Lutero foi Ulrico Zuínglio, que


nasceu em 1º de janeiro 1484 na

cidade de Glarus, na Suíça. Outro personagem


relevante nesse período foi João Calvino, que nasceu

no dia 10 de julho de
1509, na cidade de Noyon, no norte da França, vindo a falecer no dia 27 de

março de 1564 em Genebra, na Suíça.

Com respeito à Reforma Protestante, Martinho Lutero nasceu


na cidade de Eisleben, Alemanha,

em 10 de novembro de 1483, vindo a falecer em


18 de fevereiro de 1546. Esse personagem

questionou com suas 95 teses a Igreja


Católica Romana.

Finalizando esta aula, abordaremos a Reforma da Igreja Católica,


ou a Contrarreforma. A Igreja

Católica se defendeu dos ataques dos reformadores


e, ao mesmo tempo, se adequou a algumas de

suas práticas. Essa postura da Igreja


trouxe algumas contribuições positivas. Houve um olhar para

dentro da própria Igreja,


com o intuito de tentar resolver alguns problemas que estavam manchando

seu
nome e dar mais clareza àquilo no que pensavam estar correto, tomando assim uma
posição

diante de algumas temáticas.

TEMA 1 – PRECURSORES DA REFORMA

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O descontentamento com a Igreja Católica e a não


concordância com algumas atitudes tomadas

era algo que vinha ocorrendo de longa


data. Dessa maneira, sempre foram surgindo em diferentes

lugares na Europa
pessoas que queriam se separar da Igreja oficial.

Três teólogos destacam-se nesse período transicional de 200


anos entre a Alta Idade Média e a
Reforma. Dois deles na Inglaterra e um na
Holanda. Pessoas que de certa maneira contribuíram para

que mais tarde a Reforma


Protestante ocorresse.

1.1 GUILHERME DE OCKHAM

O primeiro personagem nasceu entre 1280 e 1290, na


Inglaterra, e faleceu em 1347, em
Munique, na Alemanha. Estudou na Universidade
de Oxford e entrou na ordem franciscana muito

jovem, sendo que ele foi educado


em Londres e, depois Oxford, onde se tornou frade franciscano e

ensinou
Filosofia e Teologia até 1324.

Foi teólogo e em suas obras trabalhou a ideia da separação entre


a razão e a fé, filosofia e a

teologia. A filosofia e a teologia de Ockham


enfatizavam a vontade divina acima da natureza e da

razão de Deus. Deus não


ordena as coisas porque são boas; elas são boas simplesmente por que

Deus as
ordenou (Olson, 2001, p. 363-364).

Ockham foi condenado como herege em 1326 e uma das razões


que levou à sua condenação foi

seu apoio ao grupo de franciscanos radicais.


Morreu em 1349 acometido pela peste, e nunca se

reconciliou com a Igreja.

1.2 JOÃO WYCLIFFE

O segundo personagem desse seleto grupo é João Wycliffe que


nasceu em 1330, na Inglaterra,

vindo a falecer em 1384, também na Inglaterra.


Ele estudou teologia e filosofia em Oxford e mais

tarde veio a se tornar mestre


da Universidade de Oxford. Em 1363, termina seus estudos e recebe o

título de
bacharel em Teologia. Alguns anos depois, em 1372, recebe o título de doutor em
teologia e

com isso acabou lecionando em Oxford.

João Wycliffe estava profundamente desiludido com o poder,


as riquezas, a corrupção e os

abusos de autoridade por parte dos líderes da Igreja


e voltou sua atenção para o povo de Deus como

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a voz da vontade de Deus no


governo eclesiástico (Olson, 2001, p. 368). Com tudo que vinha

observando, ele
se tornou um forte defensor da Reforma na Igreja.

O principal trabalho de Wycliffe na teologia foi sua defesa


da autoridade suprema das escrituras

para tudo que tem relação com a fé e a


vida. Essa maneira de enxergar estava em dissonância com a

Igreja Católica,
pois essa chegou a considerar que a tradição tinha a mesma autoridade das
escrituras.
(Olson, 2001, p. 368). Ele não concordava com isso.

Wycliffe antecipou os ataques de Lutero contra a corrupção


da Igreja de forma mais veemente

em sua crítica às indulgências. As indulgências


eram documentos de absolvição do castigo temporal

(com o purgatório) dos


pecados vendidos por agentes dos papas. Wycliffe condenou severamente

essa
prática, assim com o Lutero o fez em seus dias.

1.3 DESIDÉRIO ERASMO (ERASMO DE ROTERDÃ)

Dos três personagens que elencamos nesse grupo, Erasmo de


Roterdã é o único que não é

inglês e que em vida viu a Reforma ocorrer. Ele


nasceu na Holanda em 28 de outubro de 1466, vindo

a falecer na Suíça, em 12 de
julho de 1536, ou seja, quase 20 anos após a Reforma.

Ele estudou na Holanda, em Paris e depois, em 1498, foi


estudar grego na Universidade de

Oxford, onde teve uma sólida formação


acadêmica. Foi ordenado ao sacerdócio em 1492. Com sua

formação acadêmica e sua


grande capacidade intelectual, ele veio a escrever grande obras.

A primeira obra foi Enchiridion, ou Manual do


cristão militante, que escreveu em 1503. Nessa

obra, Erasmo recomenda duas


“armas na guerra espiritual” — a oração e o conhecimento —, e

conclama o
cristão a seguir Jesus Cristo em seu exemplo moral.

A segunda obra escrita por ele é Elogio da loucura,


que foi finalizada em 1509. Nessa obra, ele

critica todo o padrão católico


romano de espiritualidade exterior, as peregrinações, as relíquias, os

atos de
penitência e a estrutura hierárquica da Igreja. Essa ideia de espiritualidade
exterior

condenada por Erasmo há mais de 500 anos parece atualmente ser algo
que tem assolado a Igreja

contemporânea.

Quando Lutero iniciou a Reforma Protestante, que dividiu a Igreja


na Europa em 1517, Erasmo

era, sem dúvida, o estudioso mais influente no


continente. Era muito requisitado para aconselhar reis

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e o imperador. As
principais universidades sempre o queriam e os bispos e arcebispos tinham de

respeitá-lo (Olson, 2001, p. 373).

TEMA 2 – ULRICO ZUÍNGLIO

Ulrico Zuínglio nasceu em 1 de janeiro 1484 na cidade de


Glarus, na Suíça, vindo a falecer em 11

de outubro de 1531, aos 47 anos de


idade. Ele recebeu boa educação humanista, pois sua família era

de classe média
alta. Estudou na Universidade de Basileia (Suíça) e na Universidade de Viena e foi
o
principal líder da Reforma Protestante na Suíça. Segundo Olson (2001, p.
410), Zuínglio “recebeu o

mestrado de teologia na Basiléia em 1506 e quase


imediatamente comprou um pastorado em sua

cidade natal”.

Mesmo sendo um grande teólogo e pregador, Olson (2001, p. 409)


ainda cita que “o verdadeiro

pai da teologia protestante reformada é Ulrico Zuínglio.


Infelizmente, para ele, seu colega franco-

suíço mais jovem, João Calvino,


ofuscou seu brilho na história”.

Assim como Lutero, Zuínglio enfatizava fortemente o


princípio das escrituras, de que a Bíblia é a

autoridade final para a fé e a


prática cristãs e que se encontra em posição totalmente superior a

todas as
tradições humanas, que por ela devem ser julgadas. “Com Zuínglio e com a
teologia

reformada, a Bíblia assumiu condição privilegiada que Lutero não lhe


atribuía” (Olson, 2001, p. 411).

Com respeito ao entendimento de Deus e sua soberania,


Zuínglio e Lutero divergiam.

Enquanto Lutero acreditava e ensinava que Deus é a realidade


que a tudo determina, Zuínglio

colocava a soberania de Deus em posição especial


dentro da teologia cristã. Lutero tratava a

soberania de Deus com a parte do


evangelho da graça, embora também fosse influenciado pelo
nominalismo. Zuínglio
e, posteriormente, Calvino tratavam a soberania de Deus com o princípio

fundamental do pensamento cristão […]. Para Zuínglio, Calvino e seus colegas reformadores,
era a
doutrina da soberania e do poder de Deus que a tudo determinam. (Olson,
2001, p. 411)

Para Zuínglio, a soberania de Deus é princípio fundamental


do pensamento cristão, sendo que a

soberania e o poder divino que determinaria tudo.

A respeito da salvação do homem, “Zuínglio concordava total


e fervorosamente com Lutero no

tocante à salvação pela graça mediante a fé


somente”. O ser humano só poderia ser salvo pela graça

de Deus. “Além disso,


definia a fé de modo muito semelhante a Lutero e rejeitava qualquer ideia de

que a condição correta da pessoa com Deus (a justificação) pudesse ser merecida
por algum tipo de
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obra” (Olson, 2001, p. 414). Tanto Zuínglio como Lutero


tinham o entendimento que não são as obras

humanas que conduzem o ser humano à


salvação, mas sim Deus por meio de sua graça e

misericórdia. Ou seja, não são


as obras humanas que justificam a pessoa.

Zuínglio tinha a ideia de que a Igreja precisava ser reformada


por meio da pregação do

Evangelho puro de Cristo. Assim, ele passou a pregar a palavra


ao povo. “Ele estava não apenas

pregando a Bíblia, mas também permitindo que a


Bíblia falasse diretamente a ele e à sua

congregação” (George, 1994, p. 127).

A respeito da ceia do Senhor, Zuínglio e Lutero tinham


divergências.

Zuínglio, “[…], ensinava aos protestantes suíços que a ceia


do Senhor é simplesmente uma

comemoração da morte de Cristo e que nela não há


nenhum a “presença real” do corpo de Cristo”.
Entretanto o entendimento de
Lutero era, “que, embora fosse antibíblica a doutrina católica romana

da
transubstanciação, as palavras de Cristo ‘este é o meu corpo’ na última
refeição com os
discípulos comprova que existe uma ‘presença real’ do corpo de
Cristo nos elementos do pão e do

vinho”. (Olson 2001, p. 404-405)

Ele tinha por objetivo limpar a Igreja dos vestígios


católicos — aspectos como missa, penitência,

imagens, veneração de Maria,


oração pelos mortos, entre outros. Nesse ponto, foi muito mais longe
que Lutero
(Olson, 2001, p. 410). Além da ideia de reformar a Igreja, ele pretendia
promover a

reforma da sociedade toda. Sendo assim, não separou a Igreja do


Estado. Para ele “a lei do evangelho
é igualmente lei. Não apenas lei,
naturalmente, posto que também aceitou a doutrina luterana do

perdão dos
pecados, como todos os reformadores” (Tillich, 1999, p. 256).

Ele queria que houvesse um Estado reformado e que, para isso,


usaria armas para conseguir o
seu intento. No entendimento, a lei de Cristo é
lei para a política, para o Estado, ou seja, para a

sociedade toda e não


somente para os cristãos.

Zuínglio tinha uma posição firme em suas convicções e desse


modo não se limitava somente em

falar na Igreja.

Zuínglio foi escritor prolífico bem com o pregador e


conferencista objetivo. Participou de debates
públicos com seus oponentes
católicos em Zurique e engajou-se em guerras de panfletos contra

seus críticos
católicos, anabatistas e luteranos. Além disso, escreveu declarações da
doutrina
reformada para o rei da França e para o imperador Carlos V. (Olson, 2001,
p. 410)

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Fica evidente que sua preocupação também ultrapassava os


muros da Igreja e se estendia às
pessoas fora da Igreja e também aos líderes
políticos.

TEMA 3 – JOÃO CALVINO

João Calvino nasceu no dia 10 de julho de 1509, na cidade de


Noyon, no norte da França, e

morreu no dia 27 de março de 1564, em Genebra, na


Suíça. Sua mãe veio a falecer quando ele tinha
apena 6 anos de idade. Na
adolescência, foi enviado para a Universidade de Paris, onde estudou

teologia.
Ele foi muito influenciado por Lutero e Zuínglio, sendo considerado da segunda geração
de
reformadores. Calvino estudava aqueles que tinham ideias teológicas formadas
e solidificadas, mas
com o passar do tempo, ele desenvolveu grandes reflexões
que vieram a influenciar a Igreja.

As contribuições de Calvino para a teologia foram muito


relevantes, pois ele era “um
sistematizador como seus antecessores não o foram —
isso garantiu a sua fama, pois ele se baseou

muito em Lutero e Zuínglio (Olson,


1999, p. 399).

Uma postura firme por parte de Calvino foi que ele tirou
todas as imagens da Igreja, pois se
opunha muito fortemente contra a idolatria.
Ele tinha a compreensão “que a mente humana é

‘fabricadora de ídolos’. É uma


das mais profundas afirmações feitas sobre o nosso pensamento a
respeito de
Deus. Até mesmo a teologia mais ortodoxa não passa, muitas vezes, de mera
idolatria”

(Tillich, 1988, p. 240-41). Dessa forma, se as pessoas não tivessem


nada para olhar ou admirar, elas
levariam sua mente a Deus.

A grande reputação de Calvino se deve ao seu entusiasmo, à


sua liderança e à sua mente

sistemática brilhante, representada em sua


obra-prima A Instituição da Religião Cristã, publicada em
várias edições
no decurso de sua vida. Tornou-se o principal manual de referência para a
teologia

reformada e ainda hoje é publicado, analisado, interpretado e


debatido.

Calvino fundou sua academia no ano de 1559 com a preocupação


de capacitar pastores para

que estes se voltassem às necessidades da Igreja. O


objetivo aqui não era formar teólogos ou
estudiosos que ficam divagando sobre
os diferentes problemas teológicos, mas sim pastores, líderes

que se
preocupariam com as necessidades dos seus rebanhos.

Calvino aceitava a inspiração verbal das escrituras, pois


isso era um dos pontos enfatizados por
ele. A “lei cerimonial do Antigo
Testamento foi abolida em Jesus, mas os preceitos morais ainda

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continuam. Desse
modo, a Bíblia é a lei do cristão (Tillich, 1988, p. 250). Suas ideias
teológicas foram

desenvolvidas “dentro desses limites: a objetividade da


revelação de Deus nas Escrituras Sagradas e o
testemunho confirmador e
iluminador do Espírito Santo no cristão” (George, 1994, p. 197).

Com respeito à sua compreensão, ele afirmava que “a Igreja é


necessária para gerar e nutrir a fé

da pessoa. Para aqueles para quem Deus é pai,


a Igreja pode ser sua mãe” (Bromiley, 1978, p. 265).
Desse modo, é na Igreja
que o cristão deve encontrar a acolhida e a orientação para a sua nova

caminhada, mas também correção quando for necessário.

Na compreensão de Calvino, três eram os elementos centrais


da Igreja: doutrina, sacramentos e

disciplina (Tillich, 1988, p. 248). Desse


modo, é importante que a palavra seja pregada, os
sacramentos sejam
corretamente administrados e a disciplina deve ser observada no cotidiano da
Igreja.

Para Calvino, como para Lutero, as marcas mais certas (certeoribus)


permaneciam na palavra

puramente pregada e nos sacramentos corretamente


administrados. Entretanto, ele não depreciou,
por essa razão, a importância da
disciplina para o bem-estar da Igreja. Se a doutrina salvífica de

Cristo era a
alma da Igreja, então a disciplina servia de tendões (pro nervis), mediante os
quais os
membros do corpo eram mantidos juntos, cada um em seu lugar próprio. A
disciplina, então, dizia

respeito à constituição e à organização, se não à


definição da congregação verdadeira. Pertencia ao

âmbito da visibilidade, à
medida que isso também era um critério de teste, tanto individualmente,
no
autoexame, quanto comparativamente nos procedimentos públicos da admoestação,
censura e

excomunhão. (George, 1993, p. 234)

A observação dada aos três elementos naquele tempo é algo


que a Igreja atualmente precisa

considerar e observar.

Uns dos temas que Calvino debateu foi sobre a predestinação.


Para ele, os cristãos são
chamados para promover a glória de Deus sobre a terra
e se preocupar com o seu Reino. Tudo o que

acontece está debaixo da soberania


de Deus. O mal não acontece somente por permissão de Deus,
mas pela vontade
ativa de Deus que não conseguimos compreender. Desse modo, isso implica na

predestinação, ou seja, uns criados para a salvação eterna e outros para a


condenação eterna. Deus
não é a fonte do mal, mas o usa para alcançar os seus
objetivos. Até a condenação dos infiéis vai

resultar em glória a Deus. Aqueles


que se decidem por Cristo, mostram que foram escolhidos por
Deus, e os que
recusam não são escolhidos. Isso não faz de Deus alguém injusto, pois a sua
justiça é

muito superior à nossa (Hägglund, 1989, p. 224-225).

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Ele se fundamentava em Agostinho: “Deus realiza sua vontade


justa por meio da vontade má dos
homens maus”. Para Calvino, os homens “maus
seguem a vontade de Deus, embora não sigam os

seus mandamentos. Ao seguir a


vontade de Deus, os maus desafiam os mandamentos de Deus e,
assim, tornam-se
culpados (Tillich, 1988, p. 242- 243).

Para Calvino, havia uma diferença entre a vontade secreta e a


vontade revelada de Deus. A

vontade revelada de Deus oferece o perdão e a misericórdia


a todos que se arrependem e pedem
perdão. Entretanto, a vontade secreta predeterminou
algumas pessoas para a perdição, pois vão

pecar e nunca vão se arrepender (Olson,


2001, p. 411). Porém, quando questionado mais a fundo
sobre a questão, disse:
“embora o homem tenha sido criado pela providência eterna de Deus para

sofrer a
calamidade à qual está sujeito [a queda, o pecado, a morte]; ainda assim, a
causa provém do
próprio homem, e não de Deus, visto que a única razão de sua
ruína é que, da pura criação divina, ele

se degenerou para a perversidade


viciosa e impura” (Olson, 2001, p. 421, 422).

TEMA 4 – MARTINHO LUTERO

Martinho Lutero nasceu na cidade de Eisleben, Alemanha, em


10 de novembro de 1483, vindo a

falecer dia 18 de fevereiro de 1546. Seu pai


queria que ele se tornasse advogado, e Lutero resolveu
atender ao seu pedido
quando entrou na Universidade de Erfurt.

Segundo a autobiografia que escreveu já no fim da vida,


Lutero quase morreu atingido por um raio

certa tarde de verão enquanto andava


sozinho pela estrada. O raio derrubou-o no chão e, cheio de

medo, clamou à sua


padroeira: “Santa Ana, ajude-me em e tornarei monge!”. Pouco depois, o
jovem
estudante universitário vendeu todos os livros de Direito e bateu à porta do
mosteiro

agostiniano em Erfurt. Quando era noviço e depois, ao tornar-se monge,


Lutero experimentou
crises do que chamava Anfechtungen — ansiedade espiritual
aguda sobre o estado de sua alma.

(Olson, 2001, p. 385)

Esse foi o início de sua vida religiosa. Na universidade estudou


filosofia, teologia e Bíblia. “Lutero
obteve o doutorado em Teologia na
Universidade de Wittenberg em 1512 e, na mesma época,

começou a lecionar ali


matérias bíblicas” (Olson, 2001, p. 387).

Em 1511, foi a Roma a serviço da ordem agostiniana, o que


seria a viagem de sua vida, mas
somente encontrou corrupção, imoralidade e
apatia espiritual, o que o decepcionou profundamente.

Após essa viagem, voltou


à Alemanha “decepcionado e aflito e, provavelmente, com alguma
determinação
interior no sentido de encontrar uma solução para a letargia espiritual e
teológica que
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havia provocado essa condição abismal da cidade santa” (Olson, 2001,


p. 387). Decepção essa que

provavelmente outros padres e freis enfrentaram,


entretanto não tiveram a coragem e a
determinação de Lutero em se colocar
contra aquilo que vinha prejudicando a Igreja.

A decepção de Lutero diante daquilo que havia visto o


conduziu a se posicionar ao ponto de, em

31 de outubro de 1517, fixar na porta


da capela de Wittenberg 95 teses que gostaria de discutir com
os teólogos
católicos, as quais versavam principalmente sobre penitência, indulgências e a
salvação

pela fé. Durante alguns anos, debateu com os católicos, até ser
excomungado em 1520 depois que se
recusou a se retratar.

O que Lutero não compreendeu quando anunciou suas teses foi


que ele estava pisando em alguns

dedos poderosos, e que ele estava incitando


descontentamentos que estavam esperando por um
longo tempo para serem
expressos. Sem o seu conhecimento, as 95 teses, originalmente escritas

em Latim
como um documento acadêmico, foram traduzidas para o alemão, impressas e
amplamente distribuídas por todo o país. O papa Leão X, um dos homens mais
indignos a ocupar o

pontificado de Pedro em todos os tempos, não foi capaz de


entender as profundas questões

espirituais envolvidas na controvérsia, nem se


importou em entendê-las. Ele simplesmente viu o
monge alemão como um obstáculo
para os seus planos e comissionou o general dos agostinianos

para silenciá-lo.
(Gonzalez, 2014, p. 36-37)

Ele foi considerado fora da lei, mas protegido por


Frederico, o sábio da Saxônia (Alemanha). Ele
ficou escondido até 1521 até que
pudesse sair do seu esconderijo com segurança. Além da

excomunhão, ele veio a


sofrer perseguição, e estava correndo risco de vida, pois era considerado
uma
ameaça devido ao seu conhecimento e à sua influência.

Como Lutero definiu o significado das escrituras? A Bíblia é


o único fundamento da Igreja. A

tradição precisa ocupar segundo plano. Naquele


momento, as tradições estavam ocupando o
primeiro lugar, sendo que essas eram
determinantes na condução da Igreja. Igreja não pode ser o

árbitro sobre o
significado da escritura, pois a palavra de Deus é que julga a Igreja.

O conceito que Lutero adotava sobre Deus e a salvação foi


revolucionado por sua nova
interpretação da justiça de Deus e do evangelho da
justificação pela graça mediante a fé somente

(Olson, 2001, p. 387). O ser


humano é salvo pela fé em Jesus Cristo, e não pelas obras. Conforme
Efésios 2: 8-9,
“porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de
Deus.

Não vem de obras, para ninguém se glorie”.

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Como Lutero via a justificação? A contribuição mais


conhecida de Lutero à teologia é a doutrina

da justiça ou da “justificação pela


graça mediante a fé somente”. A justificação é o ato pelo qual Deus
declara que
uma pessoa está em um relacionamento certo com ele, ou seja, justo (Olson, 2001,
p.

387).

Conforme Romanos 3: 24-28,

24. Sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio


da redenção que há em Cristo Jesus.

25. Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante


a fé, pelo seu sangue,

demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia


deixado impunes os pecados anteriormente

cometidos;

26. mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser


justo e justificador daquele que tem fé

em Jesus.

27. Onde está, então, o motivo de vanglória? É excluído.


Baseado em que princípio? No da

obediência à Lei? Não, mas no princípio da fé.

28. Pois sustentamos que o homem é justificado pela fé,


independente da obediência à Lei.

Após a leitura e compreensão do texto de Efésios 2: 8-9 e de


Romanos 3:24-28, Lutero não tinha

mais dúvidas de que a salvação e a justificação


eram só através de Cristo Jesus. Para ele, “justificação
é, antes de tudo, o
decreto de absolvição que Deus pronuncia sobre nós, declarando-nos justificados

a despeito de nossa pecaminosidade” (Gonzalez, 2014, p. 57).

Como Lutero entendeu o arrependimento e o perdão dos


pecados? O arrependimento não é

uma ação penitencial temporária, mas uma


conversão para a vida inteira, em que morre o velho
homem e a nova vida vem
pela participação. Nessa nova vida, o que importava era o arrependimento

sincero. Esse arrependimento iria mostrar como andava o relacionamento com Deus,
e não

simplesmente o cumprimento de algumas ações para pagar pelo pecado. O


homem estava livre para

confessar o seu pecado a Deus e não precisava da


intermediação de um sacerdote (Tillich, 1988, p.
213-14).

TEMA 5 – A REFORMA DA IGREJA CATÓLICA OU


CONTRARREFORMA

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Havia muitas vozes pedindo pela Reforma da Igreja Católica,


mesmo independente da Reforma

Protestante. É difícil conseguirmos separar


claramente entre a defesa e o ataque. A Igreja Católica se

defendeu dos ataques


e ao mesmo tempo reafirmou, mudou ou tentou se adequar algumas de suas

práticas. Nesse período, foi realizado o Concílio de Trento (1545-1563).

A Reforma da Igreja Católica, ou Contrarreforma, é algo que


merece nossa atenção, pois, para
Gonzalez (2004, p. 199),

Durante o século 16 e começo do 17, um movimento poderoso por


uma reforma interna varreu a

Igreja Católica Romana. Como este movimento foi em


parte uma resposta à Reforma Protestante,
ele é geralmente chamado de Contrarreforma.
Há razão para esse nome, pois uma grande parte da

teologia do período foi


influenciada pelo movimento protestante, tentando refutá-lo ou assegurar
que as
acusações que os protestantes dirigiram contra a Igreja Católica seriam
doravante

injustificadas Mas, por outro lado, tentar descrever este vasto


movimento simplesmente em termos

de resposta à ameaça protestante é um erro de


perspectiva, introduzido por historiadores para
quem todo o mundo parece ter se
limitado aos eventos que aconteceram na Alemanha, Suíça e

Inglaterra.

Corroborando com Gonzalez (2004), Tillich (2000, p. 210)


afirma que a Contrarreforma não foi

apenas uma reação, mas a verdadeira Reforma.


A Igreja Romana, depois dela, já não era a mesma.

Estava determinada a se
afirmar contra o grande ataque da Reforma. Um dos resultados
característicos
desse fato foi o estreitamento da Igreja. A Igreja medieval estava aberta a
todas as

influências. Esse espírito desapareceu na Contrarreforma.

A Reforma Católica é a reflexão sobre si mesma, realizada


pela Igreja, tendo em vista o ideal de

vida católica que pode ser alcançado


através de uma renovação interna. Nesse sentido, a Reforma da

Igreja Católica
foi uma postura da Igreja em fazer algumas reflexões sobre como estava seu
andar,

mas também a “contrarreforma é a autoafirmação da Igreja na luta contra


o protestantismo” (Reale;
Antiseri, 1990, p. 121).

A Igreja Católica se defendeu dos ataques e ao mesmo tempo


reafirmou ou mudou (adequou)

algumas de suas práticas. Ela tentou reconquistar


o que tinha perdido. Houve a tentativa de consertar

os problemas internos da Igreja


que levaram à Reforma Protestante. Medidas foram tomadas para

acabar com a
corrupção interna e os abusos da Igreja (McGrath, 1998, p. 172-73).

Algumas contribuições foram positivas com respeito a esse


movimento. Houve um olhar para
dentro da própria Igreja, de tentar resolver os
podres, e em meio a controvérsias definir o que

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pensavam estar correto. Começou-se


a ter uma união maior e definição mais clara da sua doutrina.
Voltou-se a
praticar a disciplina na Igreja, dando indicações sobre a formação e o
comportamento do

clero (Reale; Antiseri, 1990, p. 121-122). Começou-se a formar


dentro da Igreja Católica um espírito

missionário. Inácio de Loyola cria em


1534 a Companhia de Jesus, tendo uma influência muito forte

no tempo dos
grandes descobrimentos. Os jesuítas estenderam o poder do papa até os confins
da
terra, levando o evangelho e as ideias católicas.

NA PRÁTICA

O que levou Martinho Lutero a tomar a decisão de ir contra


algumas questões da Igreja Católica,

que conduziu à Reforma?

Lutero teve que ter coragem e ousadia para tomar as decisões


que tomou. Como devemos agir

quando vemos que as coisas não estão no caminho


certo?

FINALIZANDO

Vimos nesta aula os precursores da Reforma. A filosofia e a


teologia de Guilherme de Ockham
enfatizavam a vontade divina acima da natureza
e da razão de Deus. João Wycliffe sua teologia foi

em defesa da autoridade
suprema das escrituras. Desidério Erasmo seu sonho era reformar a Igreja

Católica Romana sem destruí-la.

Um grande teólogo do século XVI, Ulrico Zuínglio, nasceu em


1º de janeiro 1484 na cidade de

Glarus na Suíça. Ele recebeu boa educação


humanista, pois sua família era de classe média alta.

Estudou na Universidade
de Basileia (Suíça) e na Universidade de Viena. Foi o principal líder da
Reforma Protestante na Suíça.

João Calvino nasceu no dia 10 de julho de 1509, na cidade de


Noyon, no norte da França, vindo

a falecer no dia 27 de março de 1564, em


Genebra, na Suíça. Ele foi muito influenciado por Lutero e

Zuínglio, sendo
considerado da segunda geração de reformadores. No entendimento de Calvino,

havia a vontade secreta e a vontade revelada de Deus. A vontade revelada de


Deus oferece o perdão
e a misericórdia a todos que se arrependem e pedem
perdão, mas a vontade secreta mostra que

algumas pessoas vão pecar e nunca irão


se arrepender.

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Martinho Lutero nasceu na cidade de Eisleben, Alemanha, em


10 de novembro de 1483, vindo a

falecer em 18 de fevereiro de 1546. Lutero


tinha o entendimento de que “justificação pela graça
mediante a fé somente”. Em
31 de outubro de 1517, ele fixou na porta da capela de Wittenberg 95

teses que
gostaria de discutir com os teólogos católicos aspectos relentes a respeito da
teologia. Para

Lutero, o arrependimento não é uma ação penitencial temporária,


mas uma conversão para a vida

inteira, momento em que morre o velho homem. O


arrependimento dessa pessoa mostraria como
andava o relacionamento dela com
Deus, e não simplesmente o cumprimento de algumas ações para

pagar pelo pecado.

  A Contrarreforma, ou a Reforma Católica, é a reflexão sobre


si mesma realizada pela Igreja,

tendo em vista o ideal de vida católica que


pode ser alcançado através de uma renovação interna. A

Igreja
Católica se defendeu dos ataques e ao mesmo tempo reafirmou algumas de suas
práticas. Ela
tentou reconquistar o que tinha perdido. Houve a tentativa de
consertar os problemas internos da

Igreja que levaram à Reforma Protestante.

REFERÊNCIAS

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Porto Alegre: Concórdia, 1989.

BROMILEY, G. W. Historical theology: an


introduction. Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1978.

GEORGE, T. Teologia dos Reformadores.


São Paulo: Vida Nova, 1994.

GONZÁLEZ, J. L. Uma história do pensamento


cristão. 1. v. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.

MCGRATH, A. E. Historical Theology: an


introduction to the history of christian thought. Malden,

Mass.: Blackwell,
1998.

OLSON, R. História da teologia cristã:


2.000 anos de tração e Reformas. Tradução de Gordon

Chown. 4. ed. São Paulo:


Vida, 2001.

REALE, G.; ANTISERI, D. História da


filosofia. São Paulo: Paulus, 1990.

RENNER, R. L. História da teologia.


Curitiba: InterSaberes, 2015.

SHELLEY, B. L. História do cristianismo:


ao alcance de todos. Tradução de Vivian Nunes do

Amaral. São Paulo: Shedd,


2004.

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TILLICH, P. História do pensamento cristão.


Tradução de Jaci Maraschin. São Paulo: Aste, 2000.

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