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DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

Plano de Trabalho

Barreira de proficiência para aprendizagem da

corrida com barreiras do atletismo

Plano de trabalho submetido para inscrição no processo


de seleção de bolsas de iniciação científica da Universidade
Federal de Rondônia – acompanha o projeto de pesquisa
“A Barreira de Proficiência no Desenvolvimento Motor”
Pesquisador/Orientador: Prof. Dr. Matheus Maia Pacheco

PORTO VELHO

2023
Barreira de proficiência para aprendizagem da corrida com barreiras do atletismo.

Resumo

Se pressupõe, dado teorias do desenvolvimento motor, que a iniciação esportiva deve ser

precedida por experiências motoras “fundamentais”. Estas experiências forneceriam base de

competência e percepção de competência para engajamento e aquisição de habilidades

esportivas. Esta necessidade foi traduzida em termos da hipótese da barreira de proficiência:

aqueles com menor habilidade em padrões de movimento considerados fundamentais

demonstrariam maior dificuldade na aquisição de padrões motores do esporte (entre outros). O

presente plano de trabalho irá investigar a Barreira de Proficiência na aprendizagem do driblar do

basquete em 100 crianças com idades entre 6 e 10 anos. Para isso, dois grupos de crianças serão

testadas em sua competência e percepção de competência no correr, saltar obstáculos, passagem

de barreiras e salto em altura antes e após uma intervenção. Os grupos terão suas intervenções

nas habilidades fundamental (saltar obstáculos) e específica (passagem de barreiras),

respectivamente. Testaremos se a barreira de proficiência é observada na relação entre as

habilidades, se a barreira prediz a aprendizagem da habilidade específica, e se esta tem relação

com a percepção de competência dos indivíduos.


Introdução

A relação entre o desenvolvimento motor e a iniciação esportiva, para grande parte dos

modelos teóricos (veja (1–3)), seria próximo de um “mutualismo”. Enquanto a área de iniciação

esportiva considera os passos iniciais do desenvolvimento motor como base para um início

promissor no esporte, a área de desenvolvimento motor vê o esporte como continuação inevitável

para especialização e aprimoramento das habilidades fundamentais de movimento (4). O quanto

esta relação tem suporte empírico, entretanto, é menos discutido (veja (5,6)).

A interface mais clara entre modelos teóricos do desenvolvimento motor e o início do

foco esportivo estaria na premissa de que somente indivíduos com bom desempenho nas

habilidades motoras fundamentais (e.g., correr, quicar, chutar) seriam capazes de combinar e

especializar estas habilidades para o contexto esportivo (e.g., driblar do basquete, chute de trivela

no futebol). Essa assunção ficou conhecida como a barreira de proficiência (7–9). Hoje, apesar

de estudos iniciais (10–13), poucos se sabe da robustez da hipótese e em que condições esta

hipótese se mantém.

Modelos recentes (5,14) que postulam relação entre desenvolvimento motor e

engajamento na atividade física caracterizam que um dos pilares desta interface entre início

esportivo e habilidades fundamentais se dá pela percepção de competência (veja (15)). Aqueles

que se percebem habilidosos estariam mais dispostos em praticar atividades mais desafiadoras.

Estes, então, demonstrariam ganhos nas habilidades motoras específicas do esporte.

Neste plano de trabalho, que acompanha o projeto “A Barreira de Proficiência no

Desenvolvimento Motor”, o aluno de iniciação científica irá extender os estudos de (10,11) em

termos motores (demonstrando a barreira de proficiência) incluindo a percepção de competência

como fator deste processo. Este estudo, portanto, irá verificar a existência da barreira de
proficiência na relação entre uma habilidade fundamental (saltar obstáculo) e a especialização

desta (passagem na barreira do atletismo), testar seu efeito na intervenção (i.e., testar a hipótese

da barreira de proficiência) e averiguar os efeitos da barreira na percepção de competência.

Justificativa

O estudo irá atacar uma lacuna de ambas as literaturas do desenvolvimento motor e

iniciação esportiva caracterizando um processo baseado em princípios teóricos amplamente

aceitos, mas raramente testados empiricamente.

Objetivo

O objetivo do presente estudo será testar a hipótese da barreira de proficiência na relação

entre uma habilidade fundamental (saltar obstáculo) e a especialização desta (passagem na

barreira do atletismo).

Métodos

Amostra

Recrutaremos 100 participantes entre 6 e 10 anos de idade. O recrutamento será

realizado, prioritariamente, dentro do público do projeto de extensão “Projeto Esporte de Base e

Saúde” gerenciado pelo Grupo de Estudos em Desenvolvimento Motor (GEDEM) do

Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia. Não há qualquer

requerimento de participação neste projeto de pesquisa para a participação no projeto de

extensão. Indivíduos externos ao projeto com interesse na participação serão permitidos.


Todos os procedimentos éticos serão respeitados. O projeto foi submetido ao Comitê de

Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Rondônia. Informaremos participantes e seus

respectivos responsáveis dos objetivos do estudo e esses assinarão, respectivamente, Termos de

Assentimento Livre e Esclarecido e Termos de Consentimento Livre e Esclarecido.

Procedimentos, Materiais e Tarefa

Os participantes irão realizar tarefas de correr, saltar obstáculos, fazer a passagem sobre a

barreira na corrida, e saltar sobre a barreira e serão avaliados sobre a percepção deles acerca de

suas próprias capacidades.

Os participantes serão aleatoriamente divididos em dois grupos: prática fundamental

(GPF) e prática específica (GPE). Todos os indivíduos realizarão pré-teste, intervenção e pós-

teste. Os grupos realizarão os mesmos pré- e pós-testes e serão diferenciados em sua intervenção.

Pré- e Pós-Testes. Os testes que comporão os pré- e pós-testes tem duas dimensões:

percepção de competência e motores. Os testes de percepção de competência serão questionários

avaliando como os indivíduos percebem suas competências na realização do correr, saltar

obstáculos, passagem sobre barreiras do atletismo, e salto em altura. Os questionários serão

adaptados de Bandura (16) (veja também (17,18)) e Lopes e colegas (19) para avaliar a

percepção do participante para realizar determinado padrão de movimento e para atingir

determinado desempenho. O questionário será aplicado pelo experimentador seguindo o

procedimento (em escada) utilizado em avaliações psicofísicas do mesmo gênero (20). Após o

questionário, os participantes realizarão os testes de correr, saltar obstáculos, passagem sobre

barreiras do atletismo, e salto em altura. Todos os indivíduos serão testados separadamente.


Intervenção. A intervenção será realizada em 14 sessões, 30 minutos, duas vezes por

semana. A quantidade de sessões aumenta, em pelo menos 1.5 vezes, a quantidade de prática de

outros estudos buscando garantir mudança no desempenho dos indivíduos.

O GPF irá realizar uma intervenção focada na aquisição/ aprimoramento das habilidades

básicas de quicar uma bola de basquete e correr, de forma separada. As habilidades serão

praticadas com variações no implemento (no caso do quicar; e.g., massa da bola, tamanho da

bola) e execução (para ambas as habilidades; e.g., frequência de quiques, velocidade da corrida).

Essas variações ocorrerão para manter motivação dos indivíduos e seguindo orientações acerca

de um aprendizado mais “robusto” destas habilidades (21,22).

O GPE realizará uma intervenção focada na aquisição/ aprimoramento da habilidade

específica do driblar em velocidade. Assim como no grupo GPF, a habilidade será realizada com

variações no implemento e na execução.

Materiais. Para a realização dos pré- e pós-testes motores, utilizaremos quatro câmeras

(celulares IPhone XR ®, Apple, Estados Unidos da América) em tripés posicionados em um

semicírculo de raio de 4 metros em ângulos de 30º, 60º, 120º e 150º relativos à posição onde o

indivíduo realizará os testes. Ainda, estes estarão sincronizados em um laptop a partir do

aplicativo OpenCap ® (23). Os testes serão realizados com uma bola de basquete oficial.

Análise dos Dados

Dados de Questionário. Os questionários de percepção de competência geram dados

ordinais classificando a percepção de execução de padrões motores do participante (“Muito

bom”, “bom”, “ruim”, “muito ruim”). Estes dados serão anotados e digitalizados para as análises.
Os questionários de percepção de desempenho (autoeficácia) geram escalas de 0 a 10

para a confiança na realização de determinada atividade com determinados parâmetros (e.g.,

correr uma distância de 100 metros em menos de 15 segundos). Estes dados serão transformados

em uma curva logística que permite identificar o ponto de transição entre “não acredita atingir”

até “acredita atingir” (veja (17,18)).

Dados dos testes motores. Os testes motores serão avaliados de três formas: medidas de

desempenho, checklist e cinemática. As medidas de desempenho serão relacionadas à quantidade

de realizações ou tempo para execução em uma dada tarefa. Os checklist avaliarão, de forma

qualitativa, se o padrão de movimento (em um dado teste) apresenta características de um padrão

de movimento considerado eficiente (veja (24,25)). A análise cinemática avaliará, de forma

detalhada, as mudanças na cinemática angular de cada padrão de movimento – sem juízo de

valor (normalmente atribuído nos checklists).

Análise Estatística. Para ambos os planos de trabalho, temos três aspectos centrais de

análise: 1) caracterização da barreira de proficiência, 2) mudança no desempenho da habilidade

específica dada a barreira de proficiência, e 3) relação entre desempenho nas habilidades e a

percepção de competência.

Caracterização da barreira de proficiência: Para caracterização da barreira de proficiência


(relação entre [HE] e as habilidades fundamentais [HMF]), ajustamos a seguinte curva logística:
HE=α + ( β−α ) / ( 1+ exp ( −δ∗( HMF−σ ) ) )
onde α representa a média de desempenho na HE para aqueles abaixo da barreira de proficiência,

β representa a média de desempenho na HE para aqueles acima da barreira de proficiência, δ

representa a inclinação da curva na relação entre as variáveis no nível da barreira de proficiência,

e σ representa o nível da barreira. A curva será ajustada com os dados do pré-teste.


O ajustamento da barreira será comparado a um ajustamento sem barreira (curva linear

simples). Isso será realizado a partir da comparação do BIC (26) assim como realizado em

(10,11).

Mudança no desempenho da habilidade específica dada a barreira de proficiência: A partir

da classificação dos participantes acima e abaixo do valor σ (encontrado no passo anterior),

iremos verificar se somente aqueles que estão acima da barreira irão conseguir melhorar seu

desempenho na intervenção. Isto é, testaremos diretamente a hipótese da barreira de proficiência.

Relação entre desempenho nas habilidades e a percepção de competência: Iremos

verificar se a mudança no desempenho entre pré- e pós-testes é preditor da mudança na

percepção de competência na realização dos testes praticados e não praticados.

Todos os dados serão processados e analisados em Matlab 2023a e JASP 0.17.1.

Referências

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FUTEBOL: PRINCÍPIOS E PRESSUPOSTOS PARA COMPOSIÇÃO DE UMA
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Habilidades Adquiridas

Com a participação no projeto “Projeto Esporte de Base e Saúde”, a aluna irá aprender

formas de avaliação de desenvolvimento motor e psicológico (aspectos motivacionais) e

desempenho esportivo. Ainda, ela estará envolvido no planejamento das aulas – habilidade

imprescindível para o desenvolvimento profissional do aluno.

O plano de trabalho prevê estudos na área de aprendizagem motora e compreensão do

método científico – desde a formulação do projeto, coleta até a divulgação de seus resultados. O

primeiro favorece o crescimento acadêmico/profissional do aluno, aumentando seu potencial na

aplicação de conhecimentos na prática. O segundo favorece conhecimento geral que permite

maior compreensão sobre argumentação lógica, desenvolvimento científico, e análise crítica de

fatos.
Cronograma

Atividades Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago
Revisão de literatura
Coleta de dados
Processamento dos dados
Análise dos dados
Escrita do artigo
Relatório Parcial
Relatório Final

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