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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – DCS

PRODUÇÃO EM AUDIOVISUAL, COM MARCOS VALENTE

RESUMO:
“O TEXTO NA TV” DE VERA PATERNOSTRO
(CAPÍTULOS 7, 8 E 9)

POR
KAIAN CASTRO NOGUEIRA

SÃO LUÍS – MA
2022
O TEXTO ESCRITO PARA SER FALADO

A autora inicia o capítulo destacando sabiamente que, no âmbito do jornalismo


televisivo, o texto é escrito para ser falado pelo locutor e ouvido pelo telespectador; ela
vai ainda mais além ao citar o jornalista americano Ted White, e coloca que escrever
para televisão é escrever para os ouvidos. Se competisse a mim diminuir a síntese de
todo o capítulo a um pequeno parágrafo, o resumiria nessas poucas palavras. Qualquer
pessoa que se disponha a olhar mais de perto para o jornalismo televisivo, logo nota que
a principal característica da televisão como veículo de comunicação é sua
instantaneidade. Como a autora bem coloca, com a citação, a informação deve ser
passada de modo que o receptor receba e compreenda toda a informação de maneira
completa e de uma só vez, sem necessidade de “rebobinar” o que foi dito – ninguém
assiste a um telejornal no intuito de rever aquela mesma edição mais tarde! O
telespectador quer a notícia quentinha, recém-saída do forno – e se notícia fria não
enche barriga, notícia crua causa indigestão.

Esse é o objetivo a ser cumprido por quem está escrevendo. Se a informação não é
transmitida, pode-se dizer que, em suma, o redator fracassou em sua missão. Partindo
daí, é possível entender a diferença entre o texto de um jornal impresso e o texto de um
telejornal. Apesar de o conteúdo da informação passada (o “quê”) muitas vezes ser o
mesmo para ambos, a forma de transmitir a informação (o “como”) não poderia ser mais
diferente. Maneiras distintas de produzir informação, mas com o mesmo objetivo.
Diferentes formatos, mesmo conteúdo. Ao escrever em uma lauda de telejornal deve-se
ter em mente que o texto será lido em voz alta e captado de uma só vez.

Tendo isto em mente, uma dica importante ao redator é que sempre faça a leitura
em voz alta do texto. É só assim que conseguirá descobrir problemas fonéticos que
outrora passariam despercebidos, por exemplo, em uma leitura mental; é desta maneira
que o redator irá perceber o que está faltando e o que pode ser mudado. Afinal, a
primeira pessoa a entender o texto redigido deve ser o próprio redator.

A sonoridade das palavras é de grande importância no texto televisivo e o redator


deve manter-se sempre alerta a isso. Aqui, a audição é de importância ímpar na
transmissão da mensagem. Um exemplo de problema fonético que pode ser citado é a
ocorrência de palavras em sequência com a mesma terminação, as palavras rimadas. Em
um texto impresso não chegam a ter o mesmo peso (podendo até vir a passar
despercebidas), mas soam mal em um texto falado e dificultam a leitura do locutor. Em
casos como este, o simples emprego de sinônimos adiciona maior harmonia à
sonoridade da frase sem trazer qualquer prejuízo à informação; ou até mesmo uma
mexida na ordem das palavras. Outro problema grave e digno de atenção é o caso dos
cacófatos, quando a união da sílaba final de uma palavra com a primeira sílaba da
palavra seguinte resulta em palavras “intrusas” e desagradáveis, que não são bem-vindas
(e tampouco têm algo a ver com o texto).

Esses detalhes só ficam evidentes com a leitura em voz alta do texto. Uma vez
desenvolvido o hábito, as ocorrências tornam-se cada vez mais fáceis de serem
localizadas e solucionadas. É essencial que o jornalista repasse o texto, se vestindo de
apresentador por um momento, para que perceba a força das palavras usadas. O texto
deve ser lido e relido em voz alta por diversas vezes antes de ser considerado pronto.
São nestes momentos que os erros grotescos, porém não raros, podem ser corrigidos –
frases sem sentido, informações incorretas, palavras mal colocadas, palavras que
quebram o ritmo. Ouvindo sua própria voz, o redator pode refletir sobre o texto que
acabou de escrever, percebendo o raciocínio e encadeamento e só assim terá uma noção
mais completa do conteúdo. Tudo pode ser melhorado.

É muito importante ressaltar que um bom ritmo é fundamental e imprescindível


no texto televisivo. O telespectador dança conforme o texto, é assim que irá captar a
mensagem e absorver a informação. Ao passo que se deve fugir de um ritmo agressivo,
um ritmo monótono também causa a ruína do texto. O ritmo deve ser equilibrado,
compassado; e frases mais curtas auxiliam na manutenção desse equilíbrio essencial à
compreensão do texto. Por mais longa que seja a notícia, o uso das frases curtas passa
uma sensação de informação direta, ativa e sem rodeios. Se uma frase se estende por
mais de seis linhas, já é considerada longa e não serve – dificulta a leitura do locutor e a
compreensão do telespectador. O redator deve usar palavras pequenas e simples, à
medida que não comprometam a informação. No entanto, se o excesso é um vilão,
também é preciso estar atento para também não pecar pela falta. Deve-se variar no
tamanho das frases, fugindo do efeito telegráfico. O repórter não está mandando um
telegrama ao telespectador! Pelo contrário, o objetivo é que ele acompanhe,
compreenda e retenha a informação de maneira completa.

A pontuação vem para dar maior embalo e fluidez às palavras do redator. Não
podem faltar vírgulas, dois pontos, reticências, pontos finais e parágrafos; estes sinais
devem sempre ser usados nas laudas do telejornalismo. Quando bem colocada, a
pontuação dá o tom do texto. Como qualquer bom remédio, se bem dosada garantirá a
saúde do texto. É ela que vai possibilitar os intervalos, as pausas e controlar a entonação
da voz; fatores estes que ajudarão na respiração do locutor e na compreensão do texto.
O locutor precisa respirar enquanto fala. Se o texto não for pontuado da maneira
correta, o apresentador ficará sem fôlego e pode acabar parando no meio de uma frase,
na pior das hipóteses alterando todo o sentido da informação.

Vale ressaltar que todos esses detalhes só poderão ser percebidos com o hábito da
leitura em voz alta. O redator deve ler, reler e ler novamente, quantas vezes forem
necessárias em busca do texto perfeito. Havendo a possibilidade, é bom inclusive que
uma segunda pessoa venha a ouvir o texto em voz alta, com atenção à naturalidade do
discurso, como a verdadeira e simples linguagem televisiva. É de grande ajuda consultar
uma segunda, terceira, quarta opinião (tudo isso, claro, em uma redação ideal onde não
há sobrecarga de trabalhos nem demandas urgentes e sobre-humanas). Por conta da
acumulação de funções, o redator deve ser seu maior crítico – afinal, muitas vezes
terceiros não terão o tempo de fazê-lo em seu lugar. A grande preocupação deve ser
com a compreensão do telespectador, sem risco de dúvidas. O autor reforça que um
jornalista só é completo quando escreve corretamente. Desse modo, o estudo das regras
gramaticais não deve ser menosprezado; pelo contrário, o jornalista deve sempre buscar
aprimorar seu conhecimento ao longo de sua carreira.

Escrever para televisão, então, é escrever para ser ouvido. Como já foi dito, o
texto de TV é, em suma, escrito para ser falado. A ideia principal para ter em mente é
que o principal objetivo do texto repousa em ser compreendido pelo telespectador. É
imprescindível que a informação seja de compreensão instantânea, levando em
consideração que o público não tem a possibilidade de “rebobinar” a informação
naquele momento. O redator não está escrevendo para um jornal impresso ou uma
revista, onde usam-se frases mais elaboradas e palavras mais rebuscadas. Ao redigir
para a TV, a regra é evitar frases mais longas e intercaladas; afinal, os parênteses são
vilões para a compreensão rápida. O redator deve buscar frases curtas e pausadas,
sempre lendo-as em voz alta quantas vezes for necessário para avaliar a sonoridade e o
ritmo de seu texto. Mesmo que considerado pronto, deve ser relido. Palavras com a
mesma terminação, por exemplo, devem ser evitadas por causa de seu efeito sonoro;
devendo-se optar por sinônimos, sempre com atenção aos cacófatos. O ritmo deve ser
priorizado, sempre com frases e palavras curtas e diretas, além da pontuação correta – as
regras gramaticais são as maiores amigas do jornalista.

O TEXTO E A IMAGEM

A autora inicia o capítulo colocando a imagem como a “arma” mais poderosa do


jornalista junto ao texto; de fato, quando bem alinhado com o que está sendo dito, o que
está sendo visto vem como o acompanhamento ideal que ajuda o telespectador a digerir
bem a notícia. Ninguém pode negar – eu mesmo não tentei e não pude – que se vê muito
mais que se ouve, principalmente quando se trata do gênero jornalístico. O telespectador
não liga a televisão para ouvir um telejornal muito mais do que o faz para vê-lo, assisti-
lo. É evidente que quer se informar pelas notícias, mas será bem mais por meio da
imagem que por meio do texto, todos nós sabemos muito bem disso. Tome um
acontecimento mais forte como um acidente, por exemplo. Uma imagem do acidente,
por mais que não seja do momento em que acontece, acaba tendo um valor muito maior
que a mera descrição do que houve; tal que apenas a imagem, sem texto algum, já tem
uma narrativa própria e pode transmitir além de grande parte da informação, uma
grande carga emotiva.

Ela ainda apresenta a imagem no contexto telejornalístico como uma linguagem


(quase) universal, que passa uma mensagem instantânea e traz a possibilidade de
inserção, por mais superficial que seja, em uma outra realidade. A palavra sempre vai
ter lugar garantido no jornalismo, mas o telejornalismo não existe sem a imagem. O
redator deve saber casar o que se vê com o que se ouve, de modo que as informações se
complementem em uma união harmoniosa onde não há superiores, e tampouco um
subsiste sem o outro – afinal, da mesma maneira que não há casamento de uma pessoa
só, não há audiovisual apenas de áudio ou apenas de imagem. Ambos devem caminhar
juntos, sem competirem entre si. Se o texto não se relaciona com a imagem, não há
lugar ali para ele e vice-versa. Se não soma, subtrai. Se não há diálogo entre o que se vê
e o que se ouve, não há relação entre os dois, dificultando compreensão do
telespectador. Deve ser uma união harmoniosa, onde um complementa o outro; e a
simplicidade dessa associação vem da sensibilidade do jornalista.

O redator não precisa se utilizar de artifícios mirabolantes e fazer malabarismos


com seu texto para que se entrelace com a imagem – neste caso, menos é mais; e tudo
isso só vai ser possível de se executar ao entender o real papel de imagem e texto em
relação um ao outro. É uma via de mão dupla: a palavra vem para dar suporte à imagem,
que por sua vez complementa o que está sendo dito, nunca uma compete com a outra;
uma imagem pode ser muito bem valorizada por recursos de texto, assim como o texto
jornalístico precisa de recursos visuais para ser bem compreendido. A palavra de ordem
aqui é complementar, não excluir – o texto precisa da imagem assim como a imagem
precisa do texto. Uma redação pode até conceber uma reportagem sem sonora, mas é
impossível fazer toda uma reportagem sem a presença de uma imagem sequer; e isso é
algo que se deve ter em mente da pauta à edição de uma matéria. Por isso é necessário
verificar as imagens disponíveis antes de escrever o texto, afinal, as imagens devem
corresponder às informações que serão passadas. Antes mesmo de começar a produzir, o
redator deve saber quais são as imagens disponíveis, de modo que estejam coordenadas
com as informações a serem passadas. O jornalista não deve escrever sem antes
conhecer suas imagens; pelo contrário, é importante ter em mente que o telejornal
trabalha primordialmente com a imagem.

No entanto, coordenar texto e imagem é um trabalho mais complexo do que


parece. Se observarmos de perto algumas reportagens, poderemos perceber em algumas
uma certa incompatibilidade entre texto e imagem. Há casos em que texto e imagem não
têm absolutamente nada a ver um com o outro, distantes, descompassados. Há outros
casos em que texto e imagem até caminham paralelos, mas de forma independente, não
se complementam – em um casamento mais frio. Há casos em que o texto é meramente
descritivo, sem adicionar nenhuma informação, redundante – no entanto, vale pontuar
que isso levanta uma problemática digna de atenção, no tocante à acessibilidade para as
pessoas que não enxergam, afinal em um modelo inteiramente voltado e idealizado para
os que não possuem limitações, a audiodescrição simplesmente não basta. O redator
deve fugir desses casos de redundância, paralelismo e distanciamento. Para que isso não
ocorra, é imprescindível que identifique em seu texto os elementos fundamentais da
notícia: “Quem?”, “Quê?”, “Quando?”, “Onde?”, “Como?” e “Por quê?” – o famoso
lead.

O TEXTO COLOQUIAL
Neste último tópico a autora ressalta que um texto coloquial é simples, natural e
espontâneo como uma conversa cotidiana entre duas pessoas. Ainda assim, as regras
gramaticais devem ser obedecidas. Gírias não cabem aqui, nem coloquialismos. As
frases devem manter sua ordem direta, ainda que simplificadas. O redator deve buscar
palavras adequadas ao que se quer dizer, sempre fugindo de casos que comprometam a
compreensão instantânea – como o uso de palavras em excesso. O texto deve ser preciso
e conciso, sem redundâncias com a imagem e em si próprio. Deve ser objetivo e
coerente, sem misturar ideias ou informações. Assim, o jornalista deve procurar uma
unidade de pensamento, mantendo sempre um raciocínio claro e coerente para contar
uma história com começo, meio e fim.

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