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JEWEL E.

ANN
Disponibilização: Eva
Tradução e Revisão inicial: Miss Marple e Irina
Revisão Final e Formatação: Eva

Setembro/2019

JEWEL E. ANN
Depois de um incidente horrível, Swayze se encontra presa entre duas vidas.
Recordações desencontradas e medo por sua própria segurança acabaram
empurrando a garota em uma viagem angustiante na busca da verdade.

Será que ela deixará seus sonhos escaparem para buscar vingança e encontrar
as peças que faltam de um quebra-cabeça que aconteceu uma vida inteira
atrás?

“Eu não vou ficar assistindo você se autodestruir. Eu não vou assistir você se
apaixonar por outro homem.”

Ou ela descobrirá a única verdade que importa?

Epoch força as fronteiras do que acreditamos e do que sabemos.


Redefine o destino e prova que a única coisa que separa o coração e a
alma é uma linha do tempo infinita.

THE
TRANSCEND
DUET

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 1

Não é legal falar de alguém pelas costas. É o que eles estão


fazendo. Griffin, minha mãe, seus pais... estão no outro quarto,
fazendo anotações sobre minhas medidas para uma camisa de
força entre palavras sussurradas.

Swayze teve um colapso.


Swayze acha que Doug Mann matou Erica.

Swayze acha que Doug Mann matou uma garota chamada


Morgan Daisy Gallagher.

Shh… não fale alto demais. Nós não queremos acordá-la.


A polícia não acreditou em mim. Eu sei que acabei soando
como uma louca, mas não sou. Não me lembro de todos os
detalhes, ou mesmo da maioria deles, mas ele matou Daisy. E
matou Erica. Nem todas as verdades podem ser explicadas.
A porta se abre.
“Você está acordada.” Mamãe sorri o tipo de sorriso que se dá
a uma pessoa instável. É um sorriso do tipo ‘não vamos quebrar
nossa melhor porcelana’.

Sento-me encostada na cabeceira da cama. Algo entre um


choque total e uma dormência completa se instala ao longo do
meu corpo. “Estou acordada.” Olhando para a mesa de cabeceira,
franzo a testa para o frasco de comprimidos. “Eu não acho que Dr.
B aprovaria que você compartilhasse comigo suas pílulas para
dormir. É um medicamento com prescrição.”

“Griffin não queria ter que ligar para o seu psiquiatra ainda,
então nós apenas lhe demos um para ajudá-la a se acalmar. Você
não estava sendo você mesma. As coisas que disse não faziam
sentido. Eu acho que a notícia sobre Erica e ver seu corpo

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desencadeou alguma coisa. Como se sente agora?” Ela senta na
beira da cama, segurando minha mão. Seus dedos traçam o
diamante do meu anel de noivado.

Mãe, estou noiva.


Oh, Swayze! Estou tão feliz por você.

Não podemos ter essa conversa agora. A dor queima em meus


olhos enquanto a visão do corpo de Erica continua a marcar um
lugar permanente em minha memória. Não consigo apagar a
imagem do rosto ensanguentado de Doug ou da queda de Daisy.
Eu nem sei em que universo estou. Sinto que sei mais do que
deveria e, no entanto, sei absolutamente nada. É tão confuso.
Estou tão confusa.
Apaixonada.

Noiva.
Brava.

Confusa.

Apavorada.
“Que horas são?”

“Oito e meia?”
“Está tarde. Você deveria ir para casa. Estou bem.”
“Oito e meia da manhã, Swayze.”

Minha atenção muda para as janelas. A luz entra pelos


buracos nas persianas. Luz da manhã brilhante. Não o obscuro
pôr do sol da tarde.

“Estou atrasada.” Jogo as cobertas de lado. “Onde está meu


telefone? Preciso ligar para o Nate.”

“Swayze...”

“Meu telefone...” Abrindo a porta, meus pés batem no chão


do corredor de madeira. “Onde está minha bolsa?”

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“Swayz, o que há de errado?” Griffin salta do sofá.
Vejo minha bolsa sobre a mesa e recupero meu telefone. Há
três chamadas perdidas de Nate e duas mensagens de texto.
Professor: Você está atrasada. Isso não é normal. Estou
preocupado.

Professor: Levando Morgan para trabalhar comigo. Por favor,


me ligue assim que receber esta msg. Estou preocupado.

“Swayz...”

Puxo meu braço para longe enquanto a mão de Griffin


descansa no meu ombro.

“Estou atrasada. Como você pôde me deixar dormir demais?”


Eu ligo para Nate, dando longos passos para me distanciar de
Griffin, seus pais e minha mãe, sem nem olhar para eles antes de
me trancar no banheiro.
“Jesus, Swayze! Você está bem?” Nate atende.

“Eu sinto muito. Estarei lá em trinta minutos. Algo aconteceu


ontem e eu… eu… sinto muito. Estou a caminho.” Empoleirada
no assento do vaso sanitário frio, eu corro meus dedos pelo cabelo
e fecho os olhos. Nem mesmo a escuridão pode erradicar as
imagens assombrosas.
“Eu tenho que voltar para minha aula. Morgan está no meu
escritório. Meus colegas estão se revezando para ficar de olho nela.
Você está bem? Você não parece bem.”
A maçaneta da porta do banheiro balança. “Swayz, abra a
porta.”
“Estou a caminho.” Eu termino a ligação e abro a porta. “Você
não pode simplesmente me drogar. Eu tenho um emprego.
Responsabilidades.” Passando por cima de Griffin, abro todas as
gavetas da cômoda, procurando minhas roupas. Eu ainda não
estou acostumada com o lugar onde minhas coisas ficam em sua
casa – nossa casa.

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“Você não vai trabalhar hoje. Você se esqueceu de ontem?”
Eu enfio meus pés no jeans. “Apesar de seus esforços para
me drogar, não, eu não me esqueci de ontem.”
“Foi uma pílula. Achei que era uma alternativa melhor do que
deixar você se autodestruir na frente de todos. Eu não enfiei na
sua garganta. Entreguei a você com um copo de água. Você
aceitou de bom grado.”
Eu engancho meu sutiã e puxo a camiseta. “Você me disse o
que era?”

“Sim.”
Paro meus movimentos frenéticos tempo suficiente para
estudá-lo. Ele não está mentindo. Posso dizer. Isso me irrita: eu
não consigo me lembrar dele me entregando um remédio para
dormir. Irrita-me não conseguir lembrar o que eu fiz para justificar
a necessidade dele me sedar como um animal fora de controle.

Com as palmas das minhas mãos, esfrego os olhos,


balançando a cabeça. “Eu sinto muito... tenho que ir.”

Griffin se inclina para frente, colocando-se ao nível dos meus


olhos enquanto compartilha sua respiração mentolada comigo.
“Eu tirei o dia de folga para estar aqui com você. Como posso fazer
isso se você não estiver aqui?”

“Eu tenho que ir.”

“Então eu vou com você.”


Sorrio. “Você vai cuidar da Morgan comigo hoje?”

Ele concorda. “Você não vai dirigir. E se o professor Hunt


soubesse o que aconteceu com você ontem, ele não iria querer que
você tomasse conta da filha dele hoje.”

“Eu nunca sacrificaria a segurança de Morgan.” Balanço


minhas mãos em defesa.
“Somos eu e você hoje, Swayz. Lide com isso.”

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Com um suspiro, pego minhas meias e sapatos.
“Aonde você vai?” Mamãe pergunta quando seguimos para a
sala de estar.
“Trabalhar.”
Sherri e Scott lançam um olhar para Griffin.

“Eu vou com ela.”

Eles dão a Griffin acenos de cabeça deliberados,


redirecionando seus olhares preocupados para mim.

“Estou bem. Mesmo. Mas obrigada pela preocupação.”

“Ligue para mim quando chegar em casa mais tarde.” Mamãe


me abraça. “Temos muito a discutir.”
Quem sabe o que Griffin disse a eles? Vou lidar com isso mais
tarde.

“Erica tem família por aqui?” Griffin pergunta em nosso


caminho para o escritório de Nate.

Eu olho pela janela, vendo tudo e nada em particular ao


mesmo tempo. “Sim.”
“Vou procurar saber sobre seu velório e funeral.”

Eu concordo. “Obrigada.”
Ele não diz mais nada e eu não estimulo a conversa. Em
algum momento vamos discutir sobre Daisy. Como não? Mas não
agora. Eu preciso deixar as imagens falarem comigo antes que eu
possa tentar fazer qualquer outra pessoa entender.

Mostro todo o caminho para o escritório de Nate, esquivando


dos estudantes que circulam pelos corredores. Estava tranquilo
no prédio da última vez que estive aqui.

“Você está recebendo muita atenção”, eu digo quando nós


tomamos as escadas para o segundo andar. “Essas garotas estão

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se perguntando qual é sua graduação, para que possam mudar e
ter as mesmas classes.”

Griffin balança a cabeça, mas não consegue esconder seu


sorriso. Uma pontada de ciúme penetra na minha consciência. Ele
gosta das garotas olhando para ele? Ou estou procurando
qualquer coisa para distrair minha mente de Erica, mesmo que
seja evocando motivos ridículos para culpar Griffin por ser Griffin.
“Por aqui, estrela do rock.” Aceno com a cabeça em direção à
porta do escritório de Nate.

“Eu só quero ser sua estrela do rock.” Ele desliza dois dedos
no meu bolso de trás, dando-me um puxão brincalhão quando
abro a porta.
“Eu não quero uma estrela do rock. Gosto do meu cara da
mercearia.” E Erica viva novamente. Se estou fazendo uma lista
das coisas que quero, ela ficaria no topo.
“Oi”, Donna, a senhora da explosão, nos cumprimenta. “Ela
está exausta.”

Olho para uma Morgan adormecida em sua cadeirinha de


carro. “Obrigada por ajudar o Nate – er… Professor Hunt. Eu me
sinto muito mal por me atrasar hoje.”
Ela se levanta da cadeira da escrivaninha, fechando o laptop
e abraçando-o contra o peito. “Sem problemas. Aqui estão as
chaves do carro de Nathaniel. Ele disse que vocês trocariam de
carros para que tivesse uma base para a cadeirinha da Morgan.
Ele está estacionado no lado leste. Quadra C. Primeira fila à
direita.” Seu olhar desce por cima do meu ombro.
“Oh… Donna, este é Griffin. Griffin, Donna.”

“Prazer em conhecê-la.”

“O prazer é meu.”
“Chaves?” Eu digo para Griffin.

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Ele tira do bolso as chaves do meu carro. Eu as coloco na
mesa e pego as chaves de Nate.

“Bem...”, dou de ombros “... vou levá-la daqui.”


Donna sai do seu estado sonhador. É o mesmo jeito como ela
olha para Nate. “Bom. Ok. Prazer em ver você e uh…”, ela dá a
Griffin um sorriso sedutor “…conhecer você.”
Depois que a porta se fecha, eu me viro para Griffin. “Um bom
dia para seu ego. Agora você sabe aonde vir se precisar de
motivação.”

Ele sorri. “Faculdade. Trabalho. Academia. Bomboniere. Isso


realmente não importa.”
Eu sorrio. É difícil. A cada passo, a realidade do que vi ontem
fica um pouco mais clara, manchando permanentemente minhas
lembranças e minha consciência. A adrenalina que me estimulou
a me vestir e a correr aqui começa a se esgotar.

Doug Mann é um assassino.

Minha amiga foi assassinada.


Daisy foi assassinada.
Nate não me contou isso. Ele nunca me contou como ela
morreu.
“Onde você foi, Swayz?” Griffin me puxa para seus braços.

“Erica está morta”, murmuro.

Ele beija minha testa. “Eu sei. Sinto muito.”

“Ele a matou.”

“Se ele fez isso, tenho certeza que a polícia vai descobrir. Você
definitivamente colocou o cara no radar deles ontem.”

“Talvez. Vamos lá.” Eu me afasto. “Antes que Morgan acorde.”

Griffin levanta a cadeirinha infantil. Meu olhar se fixa no dele.

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“Se você não confia em mim para levá-la, então temos sérios
problemas a discutir.”

“Eu confio minha vida a você.” Eu sorrio, parando de dizer a


ele que significa que confio nele carregando Morgan, porque, seja
certo ou não, ela faz parte da minha vida.

Jogando a bolsa de fraldas por cima do meu ombro, abro a


porta para a tagarelice monótona de estudantes e professores
fluindo em ambas as direções. Griffin com o bebê a tiracolo,
acumula tantos olhos femininos famintos – se não mais – do que
Griffin sem Morgan.

“Swayze?”

Eu viro. Nate nos alcança antes de chegarmos às escadas.


Ele dá um sorriso tenso para Griffin. Tenho certeza de que é a
reação normal ao ver um estranho indo embora com seu bebê.
“Ei, sinto muito por esta manhã.”

Ele sacode a cabeça como se quisesse apagar meu pedido de


desculpas; seu olhar se desloca para Griffin a cada poucos
segundos.
“Nate, er Nathaniel... quero dizer Professor Hunt...” Nada de
estranho aí. Estou começando a suar. “Esse é Griffin. Griff, esse
é…” Não estrague tudo. “Professor Nathaniel Hunt.”

Muito tarde. Eu estraguei tudo e a expressão no rosto dos


dois confirma isso.

“Nathaniel.” Nate estende a mão.

Griffin a sacode. “Prazer em conhecê-lo.”


“Então está tudo bem?” Nate pergunta, olhando apenas para
mim.

“Sim.”

“Não. Ontem a vizinha de Swayze, sua amiga, foi encontrada


morta no apartamento que fica logo acima do dela.”

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Eu olho para Griffin com uma ligeira carranca.
“Jesus… eu sinto muito. Swayze, por que você não me
contou? Você não deveria ter que cuidar de Morgan hoje.”
Griffin tem uma expressão ‘eu te disse’ colada no rosto.
“Estou bem.” Estou tão longe de estar bem quanto poderia
estar. “Griffin tirou o dia de folga para me ajudar, mesmo que ele
não precisasse tirar o dia de folga.”

A expressão de Griffin não muda. Ele acha que sabe o que é


melhor para mim. E se eu não fosse tão teimosa, admitiria que é
verdade.
“Então...” Dou de ombros. “Estamos bem. Morgan terá o
dobro de atenção. O dobro de cuidado.”

“A menos que vocês distraiam um ao outro.”


Eu tento não interpretar de forma errada o comentário de
Nate, mas há um tom subjacente que derrama sua desconfiança.
Ele não confia em mim por causa do que aconteceu com Erica? É
Griffin? Ele realmente acha que eu deixaria alguma coisa
acontecer com Morgan?
“Estamos bem, professor. Mas obrigada pelo seu voto de
confiança.”
Nate me inspeciona por mais alguns segundos antes de dar
a Griffin um último olhar. “Eu tenho que ir para a aula. Obrigado
por ter vindo buscá-la.”
“Tudo bem.” Balanço minha cabeça como se não fosse grande
coisa. “Até logo.”
*

“Então esta é a casa que minha mãe ficou babando”, diz


Griffin, carregando o assento de Morgan para a casa de Nate.

“É apenas uma casa.” Eu lavo minhas mãos na pia da


cozinha.

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“Você não tem vontade de viver em algo assim?” Ele deposita
a cadeirinha no chão e inspeciona a grande sala.

Não. E nem o Nate tem, eu me lembro.


“Eu quero morar com você.” Tiro Morgan da cadeirinha.

Ela esfrega a mãozinha em seus olhos e boca, arqueando as


costas enquanto a trago para o meu ombro. É estranho ver Griffin
na casa de Nate, um choque dos meus mundos.

“Tendo apenas o necessário?” Ele olha pela janela para o


quintal indiscutivelmente impressionante, verde e
meticulosamente bem cuidado. “Porque viver comigo é isso: ter
apenas o necessário.”
Soltando-me na poltrona, eu sorrio. “Sim.”

“Dois quartinhos e uma cozinha pequenininha?” Griffin se


move para inspecionar a lareira. Meu tatuado homem malvado
vestindo o jeans mais desbotado e uma camiseta preta que parece
um tamanho pequena demais para seu peito musculoso e os
braços grossos.

“Sim.” Sorrio, encontrando um vislumbre de insegurança


adorável nele.
“Carros usados? Garagem individual? Um estilo de vida do
tipo ‘faça você mesmo’?”
“Eu realmente tenho que responder isso?”

Ele olha por cima do ombro, as mãos enfiadas nos bolsos.


“Não.” E me dá um sorriso antes de se virar. “O que há com a
câmera no canto?”
“Câmera babá ou de segurança... eu ainda não descobri.”

“Ele está nos observando?”

“Potencialmente.”
“Áudio também?”

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Sorrio, olhando diretamente para a câmera. “Sim. O professor
pode ser um pouco assustador.” Enfiando meu nariz no pescoço
de Morgan, faço minha voz de bebê. “Seu pai não é um pouco
assustador? Sim... eu acho que ele é.”

Ela ri.

Griffin se vira com um sorriso no rosto. “Ela é bonita.”


“Sim... é adorável.”

Ele deposita o corpo no sofá, com os dedos entrelaçados entre


as pernas largas. “Você está pronta para me dizer quem é Morgan
Daisy Gallagher ou quem foi?”
Eu lanço um olhar nervoso para a câmera. Nate deveria estar
na aula, mas... “É complicado.”

“Bem, que bom que temos o dia todo.”


Eu odeio essas câmeras estúpidas.
“Swayz, coloque pra fora. Você perdeu sua cabeça
completamente ontem com aquele cara sobre a garota naquela
foto que você nos mostrou. Tenho certeza de que a polícia vai
revisitar você enquanto investigam esse cara. Eu preciso saber o
que está acontecendo.”

Ele já falou demais.


“Conversamos depois.” Eu aceno para a câmera, dando-lhe
um sorriso tenso. “Ok?”
A impaciência aperta sua boca, mas ele deixa passar. Eu não
gosto de como os pensamentos na minha cabeça se dividem entre
nós. Isso me assusta. O Anjo da Morte disfarçado de pequenas
lembranças, curvando o dedo para mim, me chamando para me
render. E se chegar o dia em que eu não poderei mais separar
quem eu sei que sou da voz do impostor na minha cabeça?

Após o almoço, Griffin balança Morgan enquanto eu ligo para


minha mãe. Ela me mandou mensagens várias vezes, só para ver
se eu estava bem e saber se marquei uma consulta com o Dr.

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Greyson. Eu concordo em agendar um horário. É a única maneira
de acalmar seus nervos.

Desejo que alguém pudesse me acalmar. É impossível pensar


em Doug Mann e respirar ao mesmo tempo.
“Aww ...” Eu sorrio para o meu homem quando vejo que ele a
ninou para dormir.
Griffin com um bebê dormindo em seu peito... isso me faz
querer um meu. Mas isso não diminui meu desejo de estar com
Morgan.

Bem aqui. Agora mesmo. Isso me atinge.


Nate deu a sua filha o nome da sua melhor amiga. Ele acha
que lhe deu o meu nome.

Como vou explicar tudo isso para Griffin?


Nós damos atenção para Morgan pelo resto do dia, mas eu
não deixo de notar os sorrisos contidos de Griffin, como se
preocupação estivesse estrangulando sua felicidade.

Quem sou eu?


O que está acontecendo na minha vida?

Estou vivendo em um universo paralelo?

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CAPÍTULO 2

Damos nosso último adeus à Erica.


O choro de uma mãe quebra o silêncio enquanto a terra
abraça o caixão sendo abaixado.

No entanto... Doug Mann mora em seu apartamento. Um


homem livre. Um assassino

A polícia me interrogou novamente ontem porque eles não


podem vinculá-lo à morte de Erica – uma morte que estão certos
que foi um acidente. Um afogamento acidental. Você está
brincando? Uma cardiologista acidentalmente se afogando em
uma banheira? Eu não pude lhes dar nada mais do que memórias
vagas que remontam há um tempo antes de eu estar viva. E eles
não podem prendê-lo com base apenas no meu íntimo, que jura
com toda fibra do meu ser, que ele a matou.
Griffin entra em um estacionamento vazio enquanto eu olho
para a bainha do meu vestido preto descansando logo acima dos
meus joelhos. Eu deveria ter colocado botas de cano alto em vez
de meias e saltos. Meus joelhos ficaram tremendo ao longo do
enterro enquanto arrepios de frio tomavam conta da minha pele.
Não está tão frio assim. São as memórias – elas são assustadoras.

“Olhe para mim.”

Eu levanto minha cabeça, mas não olho para ele. Atrás de


óculos escuros, meus olhos se concentram no nada ao nosso
redor.
“Eu não serei mais ignorado. A polícia já te interrogou. O
funeral acabou. É hora de falarmos sobre isso. Eu fui paciente,
mas é hora de você falar comigo, Swayz.”

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Eu fecho meus olhos. Abro meus olhos. Não importa. A visão
continua fixa em minha mente. Não precisa de luz para ser vista
e não para de ser repetida. O mundo real se desvanece como um
eco, deixando este profundo silêncio sufocante.

Seu rosto ensanguentado.

Uma gota.
Duas gotas.

Lágrimas enchem seus olhos castanhos, refletindo a imagem


de seu assassino. Com um piscar de olhos, a vida se esvai de seu
rosto, dissolvendo o medo, dando um último suspiro.
Estática. Whoosh.

Completo silêncio.
A escuridão mais escura.

Calor.
Serenidade.

“A amiga de infância de Nate era Morgan Daisy Gallagher. Eu


a vejo. Eu o vejo, Doug Mann. O corte em seu rosto – fresco e
escorrendo sangue. São apenas flashes, mas são reais.” Eu relaxo
minha cabeça para o lado, encontrando o olhar de Griffin, minhas
sobrancelhas juntas. “Nate acha que eu sou ela.”
“Ela?”

Eu concordo. “Daisy. Morgan Daisy Gallagher. A melhor


amiga dele. Sua filha leva seu nome. E...” Balanço minha cabeça,
talvez porque não posso acreditar – aceitar – ou talvez porque eu
não quero. “Ele acha que eu sei coisas sobre o passado dele porque
eu sou ela. Ela é eu.” Continuando a sacudir a cabeça, suspiro.
“Eu não entendo, mas supostamente sei coisas sobre ele que só
ela sabia. Posso dar relatos de coisas que aconteceram com ele
apenas na presença dela. Eu sei coisas sobre ele que ele contou a
ela. Apenas para ela.”

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Os lábios de Griffin se torcem, aprofundando as linhas ao
longo de sua testa. “Você não pode estar falando de reencarnação.”

“Nate acha que sim.”


“E você?” Ele pergunta com um toque de sarcasmo.
“Não.” Respirando fundo, afasto meu olhar. “Eu… Eu não sei.
A questão é… Eu não me lembrava dela até ver o corpo de Erica
na banheira. E mesmo assim, foram apenas flashes do rosto de
Doug, o rosto dela… Ela estava morrendo. Eu me lembro de Nate.
Não Daisy. Se a reencarnação é real, como pode uma alma reter
memórias de outras pessoas, mas não da pessoa que era antes
dessa nova vida? Não faz sentido.” Dou uma risada. “Isto é
ridículo. Estou tentando criar regras a um fenômeno que pode
nem existir. E ao fazê-lo, sinto que estou reconhecendo que o
renascimento de uma alma é uma possibilidade concreta.”
Fechando meus olhos, pressiono meus lábios. O que espero de
Griffin? Parece loucura, até para mim, e estou vivendo isso. “Eu
só não sei se estou pronta para...”

“Aceitar que você é ela?”


Meus olhos se abrem para um Griffin sério. O que ele quer
dizer? “Você acha que sou ela?”
Sua cabeça balança de um lado para o outro meia dúzia de
vezes. “Porra, Swayz. Não. Por que acharia? Mas o inferno se eu
sei o que fazer com isso. É um livro intrigante. É um filme de roer
as unhas. Mas reconhecer tal coisa como a vida real – sua vida...
eu só... não sei se posso fazer isso. Eu estaria mentindo se
dissesse que não me preocupa.”

“Você se preocupa como?”

Ele deita a cabeça contra o encosto do banco, o olhar


apontado para cima. “Hipoteticamente, você é ela. Ela é você. E
isso é uma grande hipótese. O que significa tudo isso para você?
Para nós? Para todos? Quero dizer… Essa Morgan Daisy Gallagher
tem família? Se Doug Mann realmente a assassinou, eles não

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deveriam ser informados? Mas por quem? Sua filha reencarnada
que casualmente é a babá da...”

Sua cabeça sacode de novo, a testa enrugada. “Nate e ela


eram amigos? Ou eles eram mais que amigos? Quem ele realmente
vê quando olha para você?”

A garota que ele amava tanto quanto a mulher que morreu


dando à luz à sua filha.
“Um fantasma.”

E eles eram mais que amigos. Nate me deixou na mão sobre


a história deles. Eu não sei o que aconteceu depois que
terminaram. Ela morreu? É assim que as coisas terminaram entre
eles? Um confronto ridículo de egos? Um moderno dia Orgulho e
Preconceito?

“Quantos anos ela tinha quando morreu?” Ele pergunta.


Quando Doug Mann a matou.

“Quinze.”

“Ele também tinha quinze anos?”


Eu concordo. Por que as palavras estão presas dentro de
mim? Griffin é o homem que eu amo. Meu amigo. Meu amante.
Meu futuro marido. No entanto, não consigo encontrar o caminho
para lhe explicar a conexão emocional que tenho com Nate e
Morgan.
Explicar um passado que não consigo me lembrar
completamente.

Explicar um presente que tem suas garras enroladas em meu


coração.

Um futuro mais aterrorizante que meus piores pesadelos.

Um desconhecido que poderia arruinar minha existência


como eu a conheço.
“Ele estava apaixonado por ela?”

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“Isso importa?”
Griffin descansa o cotovelo na janela e massageia as
têmporas. “Sim, importa. Quero saber se ele está olhando para
você como um amigo ou como se você fosse a garota com quem ele
perdeu a virgindade.”

“Eles não fizeram sexo.”


Ele resmunga sarcasmo. “Mas que porra, adoro saber que
você sabe disso agora. Ele a contratou para cuidar de sua filha,
não discutir sua vida sexual. O que mais vocês dois discutem?”

“Griffin...”
Esfregando a mão sobre a boca, ele balança a cabeça, mas
não olha para mim.

“Você não é esse cara. Você não fica com ciúmes. Eu não fiz
nada de errado. Não é minha culpa... essas memórias e imagens
estão na minha cabeça. Meu relacionamento com Nate é
complicado, mas não é íntimo.”

“Para você ou para ele?”


“Eu acabei de dizer...”
Griffin empurra a porta e sai do veículo como se estivesse
sufocando. Pulo para fora e corro atrás dele enquanto ele anda no
estacionamento vazio, de cabeça baixa, com as mãos entrelaçadas
atrás do pescoço.

“Eu vou casar com você. Você. Você. Você.” Assim que chego
à frente dele, ele gira e segue para o outro lado.

“Bem, com quem diabos eu estou me casando?” Ele gira


rapidamente, inclinando-se em frente da minha cara. “Swayze?
Morgan Daisy Gallagher?”

“Comigo.” Minha voz se quebra enquanto pisco as lágrimas.

“E quem é você?”
“Swayze.”

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A tensão em seu rosto diminui um pouco. “Você tem certeza?”
Eu empurro toda a ansiedade, todo o medo e toda a confusão
para baixo em um buraco escuro que acho que é a minha alma. E
busco tanta coragem quanto posso reunir, inclinando meu queixo
para cima. “Sim.”

Ele agarra meu rosto e descansa sua testa contra a minha.


Mesmo sem confissão, sinto sua culpa. Sem uma única palavra,
sinto seu amor. Que este seja mais um dia onde eu recebo o
milagre de não perder Griffin.

“Você está quieta.”


Faço cócegas nos pés de Morgan enquanto ela chuta e
balança no chão da sala enquanto Nate prepara seu almoço. Eu
tirei um dia de folga para o funeral. Talvez devesse ter pedido dois.
“Só esperando você sair, professor. É quando Morgan e eu
começaremos a festa – brinquedão inflável, pôneis, palhaços, DJ,
algodão doce.”

Ele olha para cima com um sorriso no rosto. Estou aquém de


devolvê-lo.
“Você quer falar sobre isso?”
Isso? Esta é a primeira vez que ele tenta conversar, sem ser
sobre Morgan, desde que Erica morreu – não que tivéssemos
muitas oportunidades.
“Você terá que ser mais específico.”

“A morte da sua amiga. Por que Griffin te perguntou sobre


Daisy? Ou esse anel de diamantes na sua mão esquerda.”

O anel. Eu olho para ele. “Erica está morta. O cara que a


matou ainda vive no apartamento em frente ao dela. Eles estão
chamando o que aconteceu de acidente. Ela escorregou, bateu a
cabeça e se afogou. Eu não acredito nisso. Sério, quantas pessoas
escorregam na banheira, são nocauteadas e se afogam?”

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Franzo a testa, olhando para meu anel. “E Griffin me pediu
em casamento. Eu aceitei.”

Nate retorna um aceno cauteloso. “Se o que você acredita


sobre este homem é verdade... eu não acho que você deveria
continuar morando naquele prédio.”

“Eu não estou. Fui morar com Griffin.”


Ele acena novamente. “Devo lhe dar os parabéns?”

Sorrio. “Só se você quiser.”

Há uma pausa.

“Estou surpreso que você não queira falar sobre Daisy. Você
sempre quer falar sobre ela.”

Eu acho que ele não vai me parabenizar.


“Eu quero falar sobre ela.” Ele não tem ideia do quanto eu
quero falar sobre Daisy e sua morte. “Mas você tem cinco minutos
antes de precisar sair pela porta. Cinco minutos não serão
suficientes.”
“Você pode ficar quando eu chegar em casa? Vou trazer
jantar.”

“Eu não acho que Griffin gostaria que eu jantasse com você.”
“Ele não confia em você?”
“Tente novamente.”

Nate sorri. “Em mim? Eu fiz alguma coisa para perder sua
confiança?”
“Sim. Você sugeriu que eu sou Daisy.”

“Ah, então agora ele acha que eu estou louco?”

“Também não é bem isso.”


“Então o que?”

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“Vá trabalhar, professor. Eu não quero falar com você sobre
Griffin.”

Ele se move em minha direção. Odeio como ele se move em


direção a mim, ou talvez seja o jeito que olha para mim quando
está fazendo isso. É familiar – familiar demais. E confortável. E…
Enervante. Completamente enervante.

Ele abaixa e fica em suas mãos e joelhos. “Tenha um bom


dia”, diz ele, beijando Morgan na bochecha. Ela chuta e
recompensa o pai com um sorriso. Quando ele levanta a cabeça,
para a poucos centímetros do meu rosto.

Muito. Perto.

“Parabéns”, ele murmura. “Estou feliz que você tenha


encontrado um namorado de verdade.”

Meus pulmões entram em colapso.


Daisy...

“Bem. Eu serei sua namorada, mas só até encontrar um


namorado de verdade.”
“Um namorado de verdade?”
“Sim. Um namorado de verdade. Um que me traga flores e
chocolate e abra as portas para mim, como meu pai abre as portas
para minha mãe. E que me beije bem aqui. Ela aponta para um
ponto em seu pescoço logo abaixo da orelha. “Meu pai beija minha
mãe aqui, e isso sempre a faz rir.”
O olhar de Nate se desloca para o meu pescoço, logo abaixo
da minha orelha. Juro por Deus que vou me despedaçar se ele me
beijar ali. Mas não só porque isso seria errado. Eu vou quebrar
porque sei que não vou pará-lo. Não se trata de querer ou amar
Nate. Griffin é o amor da minha vida. Há apenas essa necessidade
indescritível. Eu tenho que saber como seria ter os lábios de Nate
no meu pescoço.

JEWEL E. ANN
Será tão familiar quanto as outras vezes em que nos
tocamos?

Traria à tona mais memórias?


Será que vou sentir o que Daisy sentiu quando ele a beijou
na orelha dela?

Irei me odiar por deixá-lo fazer isso? Por precisar saber? Por
arriscar tudo?

“Respire, Swayze.”

Tento abafar o meu suspiro – minha reação à proximidade


dele. Nate sorri como o garoto que eu conheci enquanto se coloca
de pé.

Como o garoto que eu conheci...


“Sejam boazinhas, meninas.” Ele pisca e vai embora antes de
se certificar que ainda tenho pulsação. Não muito responsável da
parte dele.

*
Morgan e eu passamos o dia no quarto de Nate, tomando total
liberdade de sua oferta de me deixar bisbilhotar. Tenho certeza
que ultrapassei a bisbilhotice horas atrás, mais ou menos na
mesma hora em que desliguei todos os pensamentos sobre a
câmera me observando. Flashes de Erica e Daisy me assombram.
Eu não posso deixar isso passar.

Algo toma conta dentro de mim, e eu reviro seu quarto e


armário, procurando qualquer coisa para preencher as lacunas.
Quando cada gaveta da cômoda foi puxada e jogada no chão, sem
revelar novas pistas, vou para o escritório dele. Não tenho certeza
de quem é essa mulher dentro de mim, esse demônio possuído
vasculhando tudo, deixando uma bagunça em seu rastro.
Nada.

JEWEL E. ANN
Quando a paciência de Morgan acaba, pego uma mamadeira
e coloco minha bunda no mar de fotos espalhadas na cama de
Nate. Eu preciso de respostas, mas elas não estão aqui.

“Ei.”
Eu levanto minha cabeça quando Morgan adormece com um
pouco de leite ainda em sua mamadeira.
Nate examina o quarto revirado. Espere até ele ver seu
escritório. “Encontrou o que você estava procurando?” Ele diz
devagar como se abaixasse a arma.

Balanço minha cabeça, me sentindo derrotada. Entorpecida.


“Por que eu não a coloco para dormir? Então talvez possa te
ajudar.”

Eu aceno, deixando a mamadeira cair de minhas mãos


quando ele tira Morgan de mim. Poucos minutos depois, retorna,
fazendo outra inspeção do desastre.

“Eu preciso saber como Daisy morreu”, digo em um sussurro


agonizante.
Nate reúne o máximo de fotos que consegue da cama ao
mesmo tempo, coloca-as na mesa de cabeceira e se acomoda na
cama, apoiando a cabeça no travesseiro. Ele olha para o teto.
“A mãe de Daisy ligou para minha casa, perguntando se ela
estava comigo. Eu não a via há mais de uma semana.”

“Desculpe, Sra. Gallagher, ela não está aqui. Eu não sei se ela
te contou, mas… Nós meio que terminamos. É minha culpa. Eu
preciso me desculpar.”
“Querido, eu sei. Ela estava muito sensível com isso.”

Eu morri por dentro. Machuquei Daisy por causa do meu


orgulho estúpido.

“Mas agora só precisamos encontrá-la”, disse sua mãe.

JEWEL E. ANN
Olhei para o relógio do micro-ondas. Eram quase nove horas
da noite. Listei cada amigo que ela tinha, mas eles já tinham
tentado todos.

“Estamos muito preocupados. Você tem alguma ideia de onde


ela poderia estar? Um esconderijo secreto? Um restaurante
favorito? Um... novo namorado?”
Eu vacilei. Um namorado de verdade.

De jeito nenhum. Não em uma semana. Nós só tínhamos


quinze anos, mas ela me amava.

“Há um lugar que costumávamos ir, mas eu a fiz prometer não


voltar lá.”
“Onde, Nate? Eu estou perdendo a cabeça. Minha próxima
ligação será para a polícia.”
“Venha me pegar e vou te mostrar como chegar lá.”
O Sr. e a Sra. Gallagher me levaram até a propriedade
abandonada, que não era realmente abandonada. Eu não
mencionei isso no começo.
“Quem vive aqui?” Seu pai perguntou quando paramos na
entrada da garagem.

“Ninguém. Ou então era o que a gente pensava, até...”


“Até?” Sua mãe se virou em seu assento, dando-me um olhar
firme.
“Na semana passada, Morgan me contou que conheceu o filho
dos proprietários. Seus parentes estão mortos, então ele voltou para
cuidar de algumas coisas. Eu a fiz prometer que nunca mais
voltaria aqui... especialmente sozinha.”

Seu pai voou para fora do carro sem sequer desligar a ignição.
Ele bateu na porta e tocou a campainha, mas ninguém respondeu.
Ele acendeu uma lanterna, apontando o feixe para a floresta atrás
da casa.

JEWEL E. ANN
“O que há lá atrás?”
“Uma casa na árvore e um lago.”

Nós verificamos a casa de árvore e a área do lago ao redor da


doca, mas naquela hora já estava muito escuro para se ver muito.
Se eu não fosse tão idiota, não teríamos terminado e Daisy
estaria comigo naquela noite. Os Gallaghers me levaram para casa.
Eu não queria que me deixassem. Eu queria ficar com eles e ajudar
a procurar Daisy, mas insistiram que não havia mais nada que eu
pudesse fazer.

Eu não dormi até as primeiras horas da manhã. A preocupação


com Daisy sufocou minha consciência e meu coração. Mas
eventualmente, eu me entreguei aos meus olhos cansados.
“Nate?”

Eu pulei acordado, surpreso com a voz do meu pai e sua mão


na minha cabeça.

“Daisy... os Gallaghers ligaram?” Eu me endireitei, esfregando


os olhos com as palmas das minhas mãos.
Meu pai franziu a testa, a mesma carranca que ele me deu
quando me disse que minha mãe nos deixou pela primeira vez. Na
verdade, essa carranca era pior. Muito pior.
“Sr. Gallagher acabou de telefonar.” Ele descansou a mão no
meu ombro e apertou. “Eles a encontraram.”

“Onde?” Eu saí da cama, enfiando minhas pernas no jeans e


puxando uma camisa suja. “Eu preciso ver Daisy. Eu fui tão idiota,
pai. Eu estraguei tudo. Tenho que me desculpar. Sua mãe disse que
ela estava muito sensível depois que terminamos.” Meus pés
lutaram com os sapatos enquanto eu tentava calçar sem desatá-
los. “Aposto que a fiz chorar. Eu sou tão idiota.”
Meu pai agarrou meu braço, apertando-o com mais força do
que no meu ombro. Eu olhei para sua mão com confusão antes de
olhar em seus olhos. Não me lembro do que ele disse. Eu só lembro

JEWEL E. ANN
como foi ter meu mundo acabado - meu coração arrancado do meu
peito. Minha alma despedaçada.

Nada machucaria tanto assim... nada.


O corpo de Daisy.
Morta.

Afogada no lago.

Um acidente.

Antiga propriedade abandonada.


Emaranhada na corda embaixo da doca.

A expressão do meu pai ficou mais dolorosamente simpática


enquanto eu balançava a cabeça em negação. Meninas de quinze
anos não morrem assim. Daisy nunca iria para o lago sozinha. Era
um erro. Não o corpo dela. Não… não… NÃO!

As palavras de Nate são arrancadas de seu peito – sufocadas


e cruas.

Eu afasto as lágrimas dos meus olhos enquanto seu olhar


permanece fixo no teto – no passado.
“Ela foi assassinada”, eu sussurro.

Sua cabeça rola de um lado para o outro no travesseiro. “Não.


Ela se afogou. Foi um acidente. Eles disseram que ela deve ter
caído da canoa enquanto tentava amarrá-la no cais. Ela bateu a
cabeça no poste e se emaranhou na corda. Eu não sei porque ela
estava lá. Ela tinha mais juízo.”

“Nate...” Eu não posso parar as lágrimas.

Ele olha para mim e joga seu corpo para se sentar, agarrando
minha cabeça com urgência, olhos arregalados e selvagens. “Você
se lembra...” Ele sussurra, enxugando minhas lágrimas com os
polegares.

JEWEL E. ANN
Esfregando meus lábios trêmulos juntos, eu balanço minha
cabeça. “Ela foi assassinada.”

Suas sobrancelhas se juntam. “Não. Por que você está


dizendo isso?”
“Doug Mann...”

Ele continua a sacudir a cabeça, apertando a minha com


mais firmeza. “Como você conhece esse nome?”

Eu engulo apesar do inchaço na minha garganta. “Ele era o


filho. Não era?”

O olhar de Nate passa pelo meu rosto por alguns segundos.


“Sim. Jesus… Diga-me o que está acontecendo. Onde você ouviu
o nome dele? O que você lembra? De onde está vindo isso?”

Eu não sou ela. Eu não sou ela. Eu não sou ela. Deus... de
quem são essas memórias, se não são de Nate?
Eu pisco mais lágrimas. “Estou com medo.” Todos esses
anos, minha necessidade de me sentir segura... o porto seguro que
eu encontrei em Griffin ... É isso. Esse é o medo que me perseguia
mesmo quando não podia ver – mas sempre senti isso.
Um soluço quebra meu peito.

Nate me puxa para seus braços. “Não tenha medo. Não vou
deixar nada acontecer com você, nunca mais.”

Eu não sou ela. Nate... Não...


Ele não pode me proteger. Eu não sou sua para que ele possa
me proteger, mas meu corpo não sabe disso enquanto me agarro
à familiaridade de seu abraço. Estive aqui muitas vezes antes.

Oh meu Deus…
Eu já estive nesse abraço muitas vezes antes. Não este
corpo… Mas em algum lugar na minha mente, a memória
transcende o tempo, criando nova vida toda vez que Nate me toca.
O que quer que isso seja... está entremeado em uma parte de mim

JEWEL E. ANN
que não posso explicar – uma parte de mim que não posso mais
negar.

Quem sou eu?


Um fantasma?
Uma vida inacabada?

Uma alma fraturada?

Tudo machuca. Eu passei minha vida tentando me


encontrar. Desesperada por um senso de normalidade. Que
encontrei com Griffin. Eu encontrei tudo com ele.

Até agora…

Eu agarro a camisa de Nate, desesperada para me sentir


segura.
“Shh...” Ele me puxa para mais perto, até que meus braços
estão envolvidos em seu corpo, o rosto enterrado no seu pescoço.
Eu não posso soltar – não posso me afastar. Sou um quebra-
cabeça desajustado, e algumas das minhas peças combinam com
Nate. Só ele pode preencher as lacunas e fazer essas partes de
mim se sentirem completas.

Inteira. Posso ser inteira quando não sei quem sou?


Este não é o toque de Griffin. Este não é o toque do meu pai.
Mas… É tão familiar. Faz com que eu me sinta segura e amada.
Posso ter isso e deixar simplesmente ser Nate?

“Você se lembra?” Ele sussurra, descansando sua bochecha


no topo da minha cabeça.

“Não... sim... apenas...”


Apenas o homem que a matou. Eu... ele me matou?

Nate começa a se afastar, mas meus dedos se enroscam em


sua camisa e meus braços se apertam em torno de seu corpo.

JEWEL E. ANN
Lábios quentes pressionam o topo da minha cabeça. Mãos
fortes me abraçam, me trazendo mais perto até que eu estou no
colo dele – montada nele, abraçando-o e me agarrando a um
passado que ainda não entendo.

Ele quer respostas que não posso dar. Ele precisa de


reconhecimento, mas está perdido nas profundezas da minha
mente e pode nunca ver a luz nessa vida.
“Eu vejo Daisy, mas você não estava lá. Eu nunca a vi na
minha cabeça antes. Ela não era eu... ela era apenas... ela.
Assustada.”

Assustada. Assustado como eu. Desesperada para se sentir


segura e protegida.
“Por que ela estava com medo?”

Porque ela sabia que ia morrer.


Eu pisco e mais lágrimas se soltam. Isso não é um ponto final
para Nate, isso é tortura. Ela bateu a cabeça, desmaiou e se
afogou. Talvez nunca tenha acordado – nunca tenha sofrido. Ele
deve dizer isso a si mesmo todos os dias, para deixar que cada
respiração sem ela seja mais leve, tolerável.
Ele se culpa pela morte dela. O que está na minha cabeça vai
destruí-lo. Eu não vou quebrá-lo novamente. Morgan precisa de
seu pai, e Nate merece uma vida cheia de felicidade. Não de
arrependimento.
Eu me afasto, descansando minhas mãos no peito dele. Ele
pega minhas lágrimas com os polegares.

Isso não está certo. Eu não posso contar a ele, então dou um
jeito de sair.

“Ela parecia assustada.” Sacudo minha cabeça. “Acho que


devo ter pensado que ela estava com medo de alguém, mas poderia
ser a escuridão, estar sozinha, saber que ela não deveria estar lá
sozinha.”

JEWEL E. ANN
Confusão toma conta do seu rosto. “Como você sabe o nome
de Doug Mann?”

“Eu...” balanço minha cabeça. “Eu… Investiguei. Quem


hum... era o dono da casa.” Escorrego de seu colo e fico em pé,
enxugando os olhos e passando as mãos pelo meu cabelo. “Eu
tenho que ir. Estou chateada com a bagunça. Vou limpar tudo
logo de manhã.”
“Swayze...”

Eu corro pelo corredor, pego minha bolsa e corro para a


porta.

“Swayze?”
“Boa noite.” Fecho a porta atrás de mim e corro para o meu
carro, girando a chave para dar partida.

Da porta da frente, Nate me estuda, arrastando uma mão


frustrada pelo cabelo ondulado.

“Sinto muito”, eu sussurro, colocando meu carro em marcha


ré.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 3

Eu não consigo parar de tremer. Esse pesadelo não vai


acabar, mesmo com os olhos bem abertos. Eu preciso ser Swayze.
Preciso esquecer as imagens em minha mente. Eu preciso do meu
cara da mercearia.

“Ei, Swayz. Como foi o seu dia?” Griffin levanta os olhos da


moto. Acho que pertence ao nosso novo vizinho, mas não tenho
certeza, e não me importo.
Minhas mãos se fecham em punhos para parar o tremor, mas
isso não ajuda. Parece que minha existência inteira quer ser
desvendada. A cada respiração, meus pulmões lutam contra as
batidas do meu coração.
“Swayz?” O olhar de Griffin me acompanha enquanto passo
voando por ele.
Aperto o botão que fecha a porta da garagem.

Griffin enxuga as mãos em uma toalha manchada de graxa


quando fica de pé. “Baby, o que está acontecendo?”

Respire. Respire. Respire


Esqueça. Deixe para lá. Seja Swayze.

Essa vida. Essa é minha vida. Isso tem que ser minha vida.
Eu não posso viver sem essa vida.
Apago as luzes, deixando apenas um resplendor sombrio de
iluminação da rua, que entra pela janela alta à minha direita.

“Swayz... o que está acontecendo?”

Eu me jogo em cima dele, beijando-o como se precisasse de


sua respiração para completar meus pulmões. Minhas mãos
apertam sua camiseta.

JEWEL E. ANN
Ele tenta se afastar. “O que está acontecendo?”
Eu me levanto na ponta dos pés para beijá-lo novamente.

Ele agarra meus ombros para me impedir. “Swayze, o que há


de errado?”
Dou uma respiração instável, mas isso não para as lágrimas.
“Eu preciso de você... se você me ama... vai me dar o que eu
preciso, sem questionar.”

Sua testa se franze com força. “Estou uma bagunça.” Ele


está. Coberto de suor e graxa.

Minhas palavras lutam além da dor, saindo como um


sussurro entrecortado. “Eu também estou...”

“Swayz...” Ele balança a cabeça lentamente.


Mesmo que não possa entender, ele pode sentir. E agora eu
sei que ele sente minha dor.
Minha mão desliza ao longo de sua mandíbula coberta de
barba e sobre uma mancha negra, até meus dedos enrolarem em
sua bandana, puxando-a para revelar sua cabeça recém-raspada.
“Faça-me esquecer que qualquer coisa existe além dessas quatro
paredes.”

Eu deixo seu olhar percorrer meu corpo, como um salvador


me batizando, limpando meus pecados e restaurando minha fé.
Seu amor é minha religião.

Griffin solta meus ombros e agarra a bainha da minha blusa,


puxando-a sobre a minha cabeça. Eu faço o mesmo com ele. E
retiro meu sutiã, e ele espalma minha cabeça, tomando minha
boca com fome. Este homem me beija como o oceano reivindica a
costa, me derrubando até eu me render, me puxando para as
profundezas ofuscantes, me engolindo inteira. E assim... o mundo
desaparece.
Quatro paredes.
Dois corpos.

JEWEL E. ANN
Um amor.
Colocamos de lado tudo o que não importa – nossas roupas,
as memórias de ontem, os planos de amanhã. Em um pano sujo,
sobre um chão frio, cercados de suor almiscarado e graxa... Nos
abraçamos e aproveitamos esses minutos roubados. Como duas
últimas pessoas na Terra.

Seus lábios se movem pelo meu corpo enquanto arqueio


minhas costas, fechando os olhos.

Nossos dedos se juntam, apertando, reclamando, agarrando-


se a este momento.

Ele se senta, me puxando para baixo, nariz a nariz enquanto


sussurra: “Eu nunca vou deixar você.”
Quatro paredes e esse homem – nada mais importa.

Meus quadris balançam contra os dele, sentindo-o


profundamente dentro de mim. “Eu te amo agora…” Eu fecho
meus olhos e me movimento com o corpo dele. Beijando uma trilha
até seu pescoço, paro em seu ouvido: “Eu vou te amar sempre.”
Meus olhos se fecham, forçando algumas lágrimas residuais. “Por
favor, não esqueça disso.”
Agarramos um ao outro. Talvez, se formos fortes o suficiente,
possamos atravessar a tempestade sem sermos apanhados,
completamente isolados.
Deus… espero que seja forte o suficiente.

“Bom Dia.” Griffin me entrega uma xícara de café enquanto


deixo minha bunda cansada cair na cadeira da cozinha.
Eu sorrio – um sorriso tímido de quem tem medo de enfrentar
o que aconteceu nas últimas dez horas. A última noite rivaliza com
o sexo de reconciliação que tivemos depois do aniversário de
Griffin. Ele não queria falar então. Ele queria tomar. Olhando para
trás, acho que queria provar que nada além de nós importava.

JEWEL E. ANN
Ontem à noite implorei pelo silêncio e pela segurança física
de que ainda sou aquela mulher por quem ele se apaixonou. Ainda
sou aquela mulher extasiada em todas as coisas de Griffin
Calloway. Ontem à noite eu precisava me perder em nós,
sobrecarregada pela necessidade de bloquear tudo além das
nossas quatro paredes.

Hoje vou voltar para a casa de Nate com suas memórias


assombradas de eu me agarrando a ele, a familiaridade de seu
abraço e a parte mais assombrosa de todas... acho que Nate pode
estar certo.
Eu sou Daisy.

Griffin me inspeciona em silêncio enquanto bebe sua bebida


de proteína verde.
Meus pulmões conseguem um pouco de coragem. Eu lhe devo
uma explicação. Ele me deu tudo na noite passada, sem
questionar. “Se me afastar desse trabalho...” Eu lentamente
contorno a ponta do meu dedo sobre a borda da caneca de café
“... isso não vai mudar as memórias que tenho do passado.”
Sua expressão endurece um pouco. Silenciosa e estoica.

“Eu não quero que você fique com raiva de mim. Mas também
não quero mentir para você. Esta coisa de pisar em ovos não vai
funcionar para sempre. Você me pergunta sobre o meu dia e...”
balanço minha cabeça, sacudindo para longe a dor que está me
sufocando. “... Sei que não é conversa fiada. Você realmente quer
saber sobre o meu dia – sobre mim.”

Eu estendo a mão através da mesa, descansando-a na dele.


Ele olha para as nossas mãos com um olhar vazio.

“E eu te amo muito por isso. Mas essa outra pessoa na minha


cabeça continua roubando minutos do meu dia, tornando-os o dia
dela. Então, quando você me faz essa pergunta, sinto que a
verdade vai acabar nos separando, mas a mentira também vai.
Assim...” Dou de ombros. “Dói...” Lágrimas ardem em meus olhos,

JEWEL E. ANN
mas não lhes dou vida. “O pensamento de te perder é
insuportável.”

Seu olhar rasteja ao longo da mesa entre nós, percorrendo


um caminho para encontrar o meu. Eu vejo todo o meu mundo
em seus olhos, mas quando fecho os meus, vejo muitos mundos.
Imagens imutáveis. E sinto profundo amor e perda. E ouço vozes
que não serão silenciadas.
“Agora mesmo... quem é você?” Ele pergunta.

Eu saio da cadeira e deslizo a perna sobre seu colo,


colocando-nos cara a cara. “Eu sou Swayze.”

E eu sou. Agora mesmo. Com ele. Eu sou Swayze Samuels.


Filha de Krista. Noiva de Griffin. Babá de Morgan. E empregada
do professor Nathaniel Hunt.

A linha está lá. Eu posso vê-la. Mas temo que o tempo possa
embaçá-la.

“Eu te amo.” Ele roça os lábios nos meus.

Swayze. Ele ama a garota que salvou na mercearia. É com


quem ele quer se casar. Eu quero ser ela. Ela tem o homem
perfeito. Um futuro preenchido com promessa. Uma família
amorosa. Saúde. Juventude. Infinitas possibilidades.
“Ela também ama você.” Beijo suavemente seu lábio superior
e depois o inferior.

Griffin balança a cabeça, os dedos se curvando em meus


quadris. “Não diga isso. Não fale na porra de uma terceira pessoa
como alguém esquizofrênico.”

Eu coloco minhas mão em seu rosto para parar sua cabeça


que treme. “Eu amo você. Eu vou casar com você.” Essas palavras
são para ele, mas também são para mim.
Se perdesse um braço, ainda seria eu. Se raspasse minha
cabeça, ainda seria eu. Se perdesse todas as minhas lembranças,

JEWEL E. ANN
seria eu ainda assim. Eu preciso carregar esta verdade absoluta
comigo em todos os momentos.

“Tenho que começar a trabalhar. Vamos sair para jantar hoje


à noite e planejar um casamento.”
Depois de algumas piscadas, Griffin se entrega a algo
parecido com um sorriso. “Boa ideia. Eu não quero um noivado
muito longo.” Ele toca seu rosto no meu pescoço.
E o abraço. Este é o único abraço que quero que me conforte
para o resto da minha vida.

*
Estaciono na entrada da casa de Nate alguns minutos mais
cedo e ligo para o detetive que está trabalhando no caso de Erica.
Ele me diz que há muita evidência incontestável para interrogar
Doug Mann ainda mais. Não havia qualquer sinal de armação na
cena. Foi um acidente. Caso encerrado.

Ela escorregou e bateu a cabeça enquanto entrava na


banheira e se afogou.

Daisy se afogou. A morte de Daisy foi um acidente.


Exceto... que minhas memórias contam uma história
diferente.
Eu respiro fundo para acalmar minha raiva antes de abrir a
porta da casa de Nate. “Bom Dia.”

“Shh... no meu escritório.”

Eu espio pela canto. “Ela ainda está dormindo?”

Nate olha para cima enquanto coloca o laptop em sua bolsa


de mensageiro. “Sim. Ela estava acordada mais cedo. Por algum
motivo, queria dar gargalhadas às 4:00 da manhã.” Ele coloca a
mão sobre a boca para esconder seu bocejo. “Eu vou sentir isso
hoje mais tarde.”

JEWEL E. ANN
Eu lhe ofereço uma sugestão de sorriso, tentando deixar para
trás a noite passada e tudo o que o detetive acabou de me contar.

“Você dormiu bem?” Nate caminha em minha direção.


Eu me viro e sigo na frente para a cozinha. “Bem o bastante.”
Não tão bem assim. Sexo. Eu tive intermináveis rodadas de sexo
com Griffin, até que minha mente deixou de lado o que aconteceu
aqui, com você, Nate.

“Café?” Ele oferece o jarro, antes de encher sua xícara.


“Acabei de tomar, mas obrigada.”

Ele se serve e leva a xícara à boca, me olhando com uma


expressão ilegível. “Você parece distraída.”

Um eufemismo.
“Posso te perguntar uma coisa?”

Nate toma um gole e esfrega os lábios juntos. “Você pode me


perguntar qualquer coisa.”

“Se eu admitir que sou Daisy, podemos esquecer isso tudo?”

Suas sobrancelhas arqueiam em sua testa, roçando seus


cachos rebeldes. “Você acredita nisso?”
Eu dou de ombros. “Por falta de qualquer outra explicação
plausível... sim.”
Seu queixo mergulha em um aceno contundente. “Você não
acabou de acordar esta manhã com o conhecimento da vida dela?”

“Não.”
Ele falha em mascarar sua decepção.

“Eu sinto que você quer que eu admita que sou ela. Os livros
na sua mesa de cabeceira confirmam isso.”

Não há um pingo de choque no rosto dele. Ele sabe que tenho


bisbilhotado.

JEWEL E. ANN
“Eu acho que há uma chance de você estar certa. E não tenho
certeza de qual é o protocolo para isso, mas não importa quais
memórias eu tenha de outra vida, isso não muda o fato de que sou
Swayze Samuels nesta vida.”

“Então você quer esquecer tudo?”

Eu resmungo uma risada dolorosa. “Não acho que tenho a


opção de esquecer qualquer coisa. A menos que inventem um
interruptor para cérebro. Eu só não quero mais falar sobre isso.
Vou tentar guardar para mim todos os meus comentários
relevantes sobre as coisas que eu saberia sobre você nesta vida, e
você vai parar de olhar para mim como...”

“Como?” Ele coloca uma barra de maçã e proteína no bolso


de trás da bolsa.
“Como… eu não sei. Como qualquer coisa que não seja a babá
de vinte e um anos que sou.”
“Você quer que a gente finja.”

“Não… sim. Quando você fala assim, parece ridículo. Você


sabe o que eu quero dizer.”
Seus dentes varrem o lábio inferior várias vezes enquanto ele
me olha. “Isso está causando problemas para você e Griffin?”
Meu olhar recai em meus pés. “Às vezes. Eu não quero perdê-
lo. Não é justo pedir que ele me compartilhe com outra vida. É
insano pedir que entenda. E estou cansada de me sentir rasgada
no meio.”

“Ok.”

Minha cabeça se levanta. “Ok?”


Nate assente. “Não vamos falar disso de novo. Sua felicidade
vem em primeiro.”

“Não diga isso. Um empregador não diria isso.”

JEWEL E. ANN
Ele ri. “Discordo. Um bom empregador quer um funcionário
feliz.”

“Feliz? Sim. Ou seja, talvez deixe um pouco mais de comida


na casa. Ou confie em mim o suficiente para não precisar de
vigilância constante. Isso me faria feliz. Felicidade implica mais.
Implica que você tem interesse pelo meu futuro além deste
trabalho. Eu não quero que você esteja investido na minha
felicidade.”

Nate se encolhe. De leve, mas não deixo de perceber. Ele


desliza a alça de sua bolsa por cima do ombro e pega o café. “Vou
parar na mercearia a caminho de casa. Me envie sua lista de
comida.” Seu tom é um pouco mordaz. “Se você fosse minha amiga
Daisy, eu desligaria as câmeras. Conheço Daisy. Confio nela
cegamente. Swayze é uma babá de vinte e um anos que eu não
conheço há tempo suficiente para justificar essa confiança
implícita. As câmeras continuam ligadas. Tenha um bom dia,
Swayze.”
Auch.

Mordo minha língua. Ele está respeitando meu desejo. Eu


tenho que deixar passar. Simplesmente não imaginei que me
sentiria assim.
“Tenha um bom dia, professor Hunt.”

Minhas palavras o fazem parar na porta dos fundos. Eu


espero que ele se volte para mim. Espero para ver a dor em seu
rosto. Ele não se vira. E não me mostra sua reação. E é melhor
assim.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 4

Passam-se semanas sem menção a Daisy. Certa noite, deixo


a casa do professor Hunt com um adeus morno e corro para casa,
para o meu noivo. Mergulhamos no planejamento do casamento e
jantares com sua família e minha mãe. Eu encontro um ritmo para
a minha vida novamente.
Gostaria de poder dizer que não penso em Daisy, ou Erica,
ou no homem livre que as assassinou. Eu gostaria de poder dizer
que não sinto falta da amizade que tinha com Nate. Gostaria de
poder dizer que tudo na vida é mente sobre a matéria.
Eu gostaria…

“Quais são seus planos para o Dia de Ação de Graças?”


Pergunto a Nate quando ele passa pela manhã na cozinha
enquanto Morgan rola no chão, subindo até ficar de quatro e voltar
para a barriga dela e começar a rolar de novo.

“A gula habitual”, ele responde sem dar a menor olhada em


minha direção.

“Griffin e seu pai vão preparar um peru. Eu estou


encarregada do purê de batatas.”
Ele acena com a cabeça uma vez, mantendo o olhar em suas
mãos ocupadas. Sinto falta dele. Embora o veja em cinco dos sete
dias da semana, ainda sinto sua falta. E a pior parte do caralho…
eu ainda carrego a foto do meu bolso. É o meu segredinho
obsceno.
É loucura porque não consigo explicar minha necessidade de
tê-lo perto de mim ou minha necessidade de olhar para ele por
longos minutos quando estou sozinha ou fora do alcance das
câmeras.

JEWEL E. ANN
“Seus pais estão vindo para sua casa ou você vai para a casa
deles?”

“Não tenho certeza.” Ele passa por mim sem nenhum


reconhecimento visual enquanto se abaixa no chão e dá um beijo
de adeus em Morgan. “Amo você, baby doll. Tenha um bom dia.”

Eu o observo, implorando silenciosamente para que olhe para


mim, mas ele não olha. Isso não deveria doer, mas dói.
“Hey...” pulo e corro atrás dele.

Ele para na porta. “Sim?”

Isso é tudo que eu queria, só que ele olhasse para mim.

“Ei o que?”

Eu balanço minha cabeça, me sentindo estúpida pelo meu


desespero. “Hum…” Eu queria que ele olhasse para mim e agora
não consigo manter meu olhar fixo no dele. É muito objetivo.
Neutro. Impessoal.

É exatamente o que pensei que queria.


“Eu estava pensando em organizar roupas de Morgan. Ela já
perdeu muitas delas. Você quer que eu as coloque em sacolas para
vender ou doar ou...” Mordo meus lábios por alguns segundos.
“Você quer guardar, caso você tenha...”
Engulo em seco. Engasgada. Estou morrendo. Tudo que eu
queria era que ele olhasse para mim e acabei transformando isso
em um desastre.

“Mais filhos?”

Dou de ombros.

“Eu te pago para cuidar de Morgan. Vou lidar com as roupas


dela e seu destino.”

Eu concordo.
“Algo mais?”

JEWEL E. ANN
“Não”, eu murmuro.
“OK.” Ele abre a porta.

Aperto o braço dele. Eu não tenho ideia do porquê. Meu


cérebro tem um delay de dois segundos.
Nate olha para o meu aperto nele alguns segundos antes de
olhar para mim. Com um por que diabos você está me tocando
estampado em seus olhos. Rastejei em seu colo e chorei até me
acabar. Ele prometeu nunca deixar nada de ruim acontecer
comigo. E agora estamos aqui nesta convivência fria.

Puxe seu braço da minha mão, Nate. Repreenda-me por


cruzar uma linha. Diga que você está apenas obedecendo meus
desejos. Faça qualquer coisa. Diga qualquer coisa. Mas não
apenas olhe para mim, congelado no lugar, submetendo-se ao
meu toque.
Eu inspiro uma vez após outra, cada vez esperando que as
palavras certas saiam da minha boca, mas cada inalação morre
em uma expiração desperdiçada de nada. Agora meus
sentimentos não têm palavras, então eu o solto.

Depois de mais alguns segundos de silêncio, viro-me e volto


para Morgan. A batida da porta soa atrás de mim.
*

Nos próximos dias, passo todo o tempo do cochilo de Morgan


olhando para a foto de Nate. Às vezes eu a guardo no meu livro em
vez de no bolso. Se ele está monitorando o vídeo, tudo o que vê é
o livro, não a foto que continuo mudando de página para página
como um marcador.

Esse comportamento ferrado me estimula a marcar uma


consulta com o Dr. Greyson.

*
“Já faz algum tempo”, afirmo o óbvio antes que o Dr. Greyson
tenha a chance.

JEWEL E. ANN
“Estou aqui quando você precisar de mim.” Ele se inclina
para trás, as mãos cruzadas no colo.

“Obrigada. Posso simplesmente colocar tudo para fora e


deixar você descobrir como resolver?”
Um pequeno sorriso enfeita seu rosto. “Eu não posso
prometer nada, mas estou aqui para ouvir e ajudar de qualquer
maneira que puder.”
Eu suspiro, me preparando para a grande revelação. “Estou
noiva de Griffin.” Levanto a minha mão para que ele possa ver o
anel.

“Parabéns.”
“Obrigada. Eu amo Griffin. Estou feliz com ele. Ele é meu
sonho se tornando realidade. Amo sua família. Adoro que sua
família me ame e até gostem da minha mãe. Nossas mães
almoçam juntas. São amigas de verdade. Estamos planejando um
casamento na primavera. E quero ter cem bebês com Griffin.”

O Dr. Greyson arqueia uma sobrancelha.

“Ok, talvez melhor uns quatro… mas você entende o que


quero dizer. Meu relacionamento com minha mãe melhorou
muito. Ela está vivendo de novo, não apenas lamentando a morte
do meu pai. E até começou a tirar fotos novamente.”

Eu paro para recuperar o fôlego.

“Parece que as coisas estão indo bem para você.”


“Eu sei, não é? É a vida perfeita. O que mais eu poderia
querer ou precisar?”
Ele concorda. “Eu sinto que há um mas. Talvez o verdadeiro
motivo da sua visita?”

“É Nathaniel Hunt. Eu sei que isso é um conflito de


interesses. Eu não tenho certeza se ele ainda vem aqui para vê-lo.
Nunca perguntei. Mas aqui está a questão: ele acha que eu sou a
reencarnação de sua amiga de infância. As coisas que eu te disse

JEWEL E. ANN
que sei sobre ele? Ele acha que é porque sou sua amiga Daisy.
Não acreditei nisso durante muito tempo porque não me lembrava
dela, apenas dele. Como eu poderia ser ela e não me lembrar dela?
Isso não faz sentido.”

O Dr. Grayson se inclina para frente e junta os dedos. As


coisas são sérias, uma vez que já estamos com os dedos em forma
de pirâmide.
“O problema é que... tive essas memórias ou flashbacks dela.
E eu digo dela, porque ainda não sou capaz de conectá-la a mim
mesma. Mas a única explicação lógica para essas memórias e as
coisas que eu sei de um tempo de antes de eu – Swayze – nascer
é que sou ela. Então...” Suspiro. “Eu sinceramente acredito que
sou ela.”
Ele estreita os olhos um pouco, fazendo uma ligeira curvatura
com sua cabeça para o lado.

“Agora, antes que você se sinta obrigado a resolver o mistério


da reencarnação, tenho que lhe dizer que não é exatamente por
isso que estou aqui. Eu decidi aceitar que sou ela. Mas não quero
ser ela porque gosto da minha vida como Swayze. Então consegui
que Nate concordasse que não falaríamos dela novamente. E não
falo mais dela com meu noivo também. Mas...” Eu levanto os
braços e esfrego meu pescoço com as duas mãos.
“Você não pode controlar seus pensamentos e eles continuam
voltando para ela e as memórias que você tem.”

“Sim.” Eu me encolho. “Mas não é só isso. Posso ignorar


memórias, empurrá-las de lado. São os sentimentos. Nate e eu nos
aproximamos por causa disso. Acho que de alguma forma nós
éramos Nate e Daisy outra vez. Não de uma forma romântica.”

Eu sinto que isso não é inteiramente verdade. Mas também


não é totalmente falso. É complicado.

“Amizade”, eu digo. “Amigos muito próximos. Mas isso


complicou minha vida com Griffin, então pedi a Nate que

JEWEL E. ANN
esquecesse o passado. Daisy. Minhas memórias. Pedi-lhe que me
tratasse como uma empregada. Ponto.”

“E como ele está fazendo isso?”


“Ótimo. Esse é o problema. Ele está me dando exatamente o
que eu pedi, e foi bom por um tempo, mas agora não parece tão
bom. A coisa é… Sinto falta dele. As coisas são frias e muito
mecânicas entre nós.”
“Do que você sente falta?”

“Do sorriso dele. Quando eu o conheci ele era um homem


destroçado que perdeu a esposa. Mas com o tempo, ele sorria e
brincava. Foi legal. Agora seus sorrisos parecem forçados, e ele
mal olha para mim. É só bom dia e boa noite.”
“Você está preocupada que ele não esteja feliz agora?”

“Ele está?” Sei que ele não pode responder isso, mas eu
adoraria saber.

Dr. Greyson recupera sua famosa lata de balas. “Swayze


sente falta dele ou a parte de você que se sente como amiga de
infância dele é que sente essa falta?”
“Eu não sei. Tenho dificuldade em separar as duas quando
estou perto dele.”
Ele abre sua gaveta lateral. “Eu vou lhe dar o nome de uma
colega minha. Gostaria que você fizesse uma visita a ela. Vou
avisá-la para esperar sua ligação. Ela é bem treinada e bastante
versada sobre teorias de vidas passadas.”

Eu pego o cartão de visitas que me oferece.


Professora Hazel Albright

Eu olho para o cartão por alguns segundos, procurando a


conexão. Eu já ouvi o nome dela antes.

“Ela escreveu livros sobre esse assunto.”

JEWEL E. ANN
Meu olhar dispara para o dele. É onde eu vi o nome dela. Nate
tem seu livro na mesa de cabeceira.

“Ela fica na universidade?”


“Sim. É professora lá, mas aceita alguns casos
particularmente interessantes.”

“E por particularmente interessantes, você quer dizer


reencarnação.”

“Por particularmente interessantes quero dizer casos raros


enviados a ela por colegas de confiança.”

Eu aceno, olhando para o cartão de visitas. Eu me pergunto


se Nate a conhece? De pé, coloco o cartão na minha bolsa. “Você
acredita em reencarnação?”

“Minhas crenças não importam. Eles são apenas isso...


crenças.”
Meus lábios se retorcem. “Eu não acredito nisso. Ainda não
sou capaz de compreender tudo isso, mas se optar por não aceitar
essa hipótese como a resposta, então sou apenas uma pessoa
louca. E não quero ser uma pessoa maluca.”
Dr. Greyson fica de pé, me acompanhando até a porta.
“Swayze, você não é louca.”
Sorrio. “Você pode escrever isso no meu prontuário, assim
ficará registrado permanentemente em meus registros médicos?”

Ele sorri porque não sabe sobre Erica e Doug Mann e a


conexão com Daisy. Isso pode fazer com que ele duvide da minha
sanidade.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 5

Todas as noites eu me dou um discurso encorajador antes de


entrar em casa. Tenho uma babá. O nome dela é Swayze Samuels.
Ela é apenas a babá. Morgan está apegada a ela, então, mesmo
que eu devesse procurar por uma nova babá, sinto que Swayze é
melhor para minha filha – não para mim.
“Correndo pela neve...”
Minha cabeça gira rapidamente quando abro a porta e sou
saudado com a música natalina. Faltam duas semanas até o Dia
de Ação de Graças. Por que há música de Natal tocando?
O som da porta faz Swayze pular como de costume. Ela se
vira, abraçando Morgan contra si. Eu odeio que o sorriso dela
desapareça quando me vê. Odeio não ter a audácia de
compartilhar o meu próprio sorriso com ela.

“Um pouco cedo para música natalina.” Coloco minha bolsa


na cadeira, mantendo os olhos em Morgan enquanto lavo minhas
mãos.

“É cedo demais para a música de Natal?”

“Sim.” Roubo Morgan dela. “Ei, baby doll. Eu senti sua falta
hoje.”
Swayze fica parada ao meu lado. Geralmente ela já estaria a
meio caminho da porta.

“Obrigado, Swayze. Dirija com segurança”, digo como se


estivesse falando com Morgan, porque não gosto de olhar para

JEWEL E. ANN
Swayze. Ou talvez eu não goste do jeito que ela olha para mim,
como se eu tivesse feito algo errado.

“Uh...” Suas palavras não têm qualquer tipo de confiança.


“Você teve um bom dia?”
Olho para ela e sento no sofá, deixando as pernas fortes de
Morgan empurrarem as minhas em seu desejo constante de
saltar. “Foi tudo bem. Obrigado. Você teve um bom dia?”
“Nós tivemos.” Ela se abraça, esfregando os lábios e mudando
o peso de uma perna para a outra.

“Ok. Bem... feliz por ouvir isso.”


“Vão fazer algo emocionante neste fim de semana?”

“Apenas o habitual.” Por que ela está enrolando? “E você?”


“Meu aniversário é domingo, então vamos fazer um jantar em
família na casa dos pais de Griffin.”
“Eu não sabia. Feliz aniversário adiantado. Vinte e dois.”
Sacudo minha cabeça. “Aproveite sua juventude.”
Ela balança a cabeça, mordendo seus lábios. Sua mente deve
estar acelerada. Posso ver isso em sua sobrancelha franzida. Eu
posso prever para onde isso está indo, mas ela está em conflito
sobre quebrar suas próprias regras. Não vou ajudá-la, e talvez isso
faça de mim um idiota, mas estou tão perdido agora que me recuso
a fazer suposições com ela.

“Você não é tão velho. Eu acho que muitas pessoas diriam


que alguém na casa dos trinta ainda guarda muita juventude.”

Eu sorrio para a bebê sorrindo. “Hmm... talvez.”

“Então...” Ela balança para frente e para trás em seus


calcanhares. “Tenha um bom dia.”

“Você também.”
A meio caminho da porta ela para e vira. “Jesus, você
morreria se compartilhasse um pouco? Eu sei o que disse sobre

JEWEL E. ANN
manter as coisas profissionais, mas como pode? Quando eu
mencionei que meu aniversário é domingo você não teve qualquer
instinto natural de me dizer: ‘Ah, é mesmo? Meu aniversário é
amanhã’.”

As mãos gordinhas de Morgan alcançam meu rosto. Eu beijo


seus dedos. “Não sabia que seu aniversário é domingo até que você
o mencionou, mas assumi que você poderia saber que meu
aniversário é amanhã. Desculpa. Eu fico um pouco confuso
quanto à quando estamos sendo honestos e quando devemos
fingir. Fui para a suposição honesta, mas claramente você queria
que eu fingisse. Então, uau! Meu aniversário é amanhã. Que louco
isso! Nossos aniversários têm apenas um dia de intervalo?”

Suas mãos pousam nos quadris. “Agora você está zombando


de mim?”
Descendo Morgan para que sente no meu colo, eu balanço
meu joelho um pouco. “Eu nunca faria isso. Obrigado por cuidar
de Morgan. Dirija com segurança. Tenha um ótimo final de
semana e um feliz aniversário.” Depois de alguns segundos sem
se mover, olho em sua direção. A expressão de dor dela me mata.
Não é minha intenção machucá-la, exatamente o contrário. Minha
tentativa de respeitar seus desejos dando-lhe tudo o que acha que
precisa ou quer, é para evitar que se machuque.

Mas agora tenho a sensação de que ela não sabe o que quer
ou precisa. Eu coloco Morgan em seu novo tapete de brincadeiras,
que tem os lados acolchoados que a mantêm no lugar, e ando até
a garota perdida, ali parada como se estivesse congelada no
tempo.

Swayze olha para o meu peito, sem piscar. Eu quero colocá-


la em meus braços e fazer promessas que não cabem a mim.

“Qual é o seu bolo favorito?” Eu murmuro, esperando que


minha reverência transmita minha sinceridade.

“Chocolate.” Ela mantém o olhar fixo no meu peito.

JEWEL E. ANN
“Qual é o melhor presente de aniversário que alguém já te
deu?”

Ela encolhe os ombros. “Nada em especial.”


“Bem, isso é triste.”
Sua cabeça sobe até que eu tenha toda a sua atenção. “Eu
sinto sua falta.”

Recuo com a dor em sua voz porque não sei como fazer isso
ir embora.

“Eu amo Griffin. Vou me casar com ele. Eu amo a família dele.
E eles me amam. Mas…” Sua mandíbula se movimenta de lado a
lado algumas vezes. “Eu sinto sua falta. E não sei porquê.”

Meus dedos se fecham em punhos, lutando contra o desejo


de tocá-la. Ela não é minha para ser tocada.
“Estou aqui.” Eu procuro por um sorriso que seja
reconfortante, provavelmente estou a quilômetros de distância de
atingir a marca porque sinto falta dela também. “Como seu
empregador. Como seu amigo. Como quem você precisa que eu
seja.”
Ela balança a cabeça lentamente, a confusão ainda
estampada em sua testa. “Eu preciso que você seja...” Olhos
fechados, ela balança a cabeça “... uma resposta.”
Não toque nela! Não. Nada. De. Tocar. Nela. Porra!

“Qual é a pergunta?”

Piscando algumas vezes, seus ombros se levantam em um


encolher de ombros sutil. “Eu ainda não tenho certeza. Mas talvez
saiba em breve.”

Eu não posso decifrar essa declaração enigmática, então me


forço a confiar que tudo vai dar certo no seu tempo. Se houver
alguma razão divina ou cósmica para tudo isso, será revelado.
Nada se apressa.

JEWEL E. ANN
Precisamos ter paciência.
Ignorar o tempo.

Viver para o desconhecido.

Abraçar o inesperado.

“Sinto muito”, ela sussurra, deixando seu olhar voltar para o


chão.

“Pelo quê?”

“Acordar os mortos.”
Morgan se agita. Eu olho de volta para ela, esfregando a parte
de trás do meu pescoço. “Você não acordou os mortos. Você
consolou os vivos.”
Mordendo os lábios, ela concorda. É mais um aceno de
reconhecimento em vez de um que diz que ela entende. Nós
superamos a lógica e qualquer tipo de compreensão verdadeira no
dia em que ela me confrontou na sala de espera do consultório do
Dr. Greyson. Minha melhor amiga é uma mulher de vinte e um
anos. Não há lógica nisso.
“Tenha um bom aniversário. Faça um grande desejo. Apague
todas as suas velas. Você merece…” Meus pensamentos derivam
para o passado. “Você merece uma vida longa e maravilhosa.”
“Longa”, ela ecoa.

“Maravilhosa.” Eu sorrio.

“Boa noite...” Sua boca se abre para dizer mais, testa


franzida.

Boa noite, professor? Boa noite, Nate? Quem sou eu para ela?
Depois de um pequeno suspiro, ela solta um sorriso triste.
“Boa noite. Parabéns para você também.”

JEWEL E. ANN
Eu aceno, observando-a caminhar até a porta. Ela não olha
para trás. Por mais que me doa, talvez ela não deva mesmo olhar
para trás.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 6

Eu desejo que a polícia encontre a evidência certa para jogar


o assassino Doug Mann na prisão pelo resto de sua vida. Então
apago todas as minhas velas de uma só vez.

Desejo concedido. Certo?

“Feliz Aniversário.” Griffin beija meu pescoço e sussurra em


meu ouvido: “Você desejou que seu cara da mercearia deixe você
soprar a vela dele mais tarde?” Ele morde meu lóbulo da orelha
enquanto sua família olha com adoração.
Eu dou risada, acertando-o nas costelas.
“Sussurrando palavras doces para minha filha?” Minha mãe
sorri como se realmente acreditasse nisso.

“Absolutamente, Krista.” Griffin pisca.

“Está de pé nossa saída para comprar roupas na terça-feira?


As lojas estão abertas até as nove. Então, se seu chefe não se
atrasar, teremos bastante tempo para experimentar.”
Eu volto um sorriso sem graça para minha mãe. “Na verdade,
tenho um compromisso na terça à noite.”

“Um compromisso à noite?” Ela me olha com desconfiança.

O olhar de Griffin me perfura do outro lado da cozinha, onde


está ocupado ajudando Sherri a servir o bolo e o sorvete. “Que
compromisso, Swayz?”
“Terapeuta.”

“Você disse que o Dr. Greyson achava que não precisava te


ver mais”, diz Griffin.

JEWEL E. ANN
Eu disse. “Sim, não mencionei que ele também recomendou
que eu visse essa psiquiatra que trabalha na universidade? Ele
acha que ela poderia se conectar melhor comigo porque...”
Murmuro as palavras finais, esperando que a corrida para
conseguir um bolo possa distrair todo mundo da minha história
que não precisa ser contada.

“Porque ela é uma mulher?” Mamãe pergunta.


Porque eu reencarnei e ela escreveu livros sobre isso. “Eu
acho que ela experimentou coisas semelhantes às que eu
experimentei.”

“Ela também perdeu uma amiga repentinamente?” Sherri me


dá um sorriso triste.
Griffin, no entanto, se recusa a parar de me encarar com
clara desconfiança. Ele sabe que minha terapia é sobre Daisy. Não
sobre meu pai. Não sobre como lidar com a morte de Erica. Então
evito contato visual com ele.

“Não tenho certeza absoluta. Dr. Greyson não entrou em


muitos detalhes. Ele só achou que nós nos adaptaríamos melhor
por qualquer motivo. Confio nele, então não fiz muitas perguntas.
Acho que vou descobrir mais quando for vê-la na terça-feira.”
“Quer que eu vá com você?” Griffin pergunta, me forçando a
olhar para ele. “Eu não gosto da ideia de você andar por aquele
campus sozinha à noite.”
Ele tem um ponto válido e não posso discutir na frente da
nossa família. “Tenho uma lata de spray de pimenta.”

“Swayze, eu prefiro que Griffin vá com você.” Minha mãe me


lança o costumeiro olhar maternal, não seja estúpida.

“Você vai ficar entediado.”

Griffin, com seu olhar estreito e lábios torcidos, arranca


minhas mentiras e talvez até minhas roupas. Eu me contorço um
pouco.

JEWEL E. ANN
“Eu vou querer apenas uma bola de sorvete.” Tento recorrer
à distração.

“Uma bola, hein?” Ele deixa cair a colher de sorvete.


Por que fez isso?
“Griff!” Eu grito quando ele me pega em vez do sorvete, me
jogando por cima do ombro.

“Um...” Ele bate na minha bunda. “Dois…” Outra palmada.

Nossa família olha com diversão da sala de estar enquanto


Griffin me carrega pelas escadas.

“Nada inapropriado. Crianças na casa”, grita Sherri.

“Griffin! Coloque-me no chão.”


Smack Smack Smack

Está começando a arder. Um cara com sua força e mãos


grandes não pode bater em uma bunda delicada como a minha,
vinte e duas vezes, sem prejudicar minha capacidade de sentar
por vários dias.

“Vinte e dois.” Ele me joga na cama do seu antigo quarto.


Eu esfrego meu traseiro. “O que deu em você?” Meu sorriso
desaparece quando ele fecha a porta e se inclina contra ela, a
mandíbula cerrada, braços cruzados sobre o peito como se tivesse
deixado seu senso de humor no corredor.

“Uma nova psiquiatra? Que porra é essa, Swayze? Eu pensei


que você estivesse bem. Você tem me assegurado que está bem
por um bom tempo. O que fez você ir ver o Dr. Greyson de novo, e
o que diabos está acontecendo que ele sentiu a necessidade de
encaminhá-la para outra pessoa?”
Minha cabeça bate de volta na cama. “Desculpa. Peguei você
desprevenido? Assim como você, me arrastando aqui em cima
para me dar um sermão no dia do meu aniversário?”

JEWEL E. ANN
Ele solta uma respiração rápida pelo nariz. “Sério? Você quer
falar de aniversários comigo?”

“Golpe baixo.”
“Não. Golpe baixo é mentir para mim.”
Eu agarro o cobertor de sua cama. “Eu não estou mentindo
para você.”

“Omitir parte da verdade é mentir. Você me levou a acreditar


que havia terminado sua terapia.”

“Ter terminado minha terapia é uma condição para o nosso


relacionamento? Nosso noivado?”

Ele responde com um olhar que causa uma pequena


rachadura no meu coração. Eu gosto do olhar você é o meu mundo
inteiro. Isso tem uma estranha semelhança com o olhar você
esqueceu do meu aniversário. Não é o meu olhar favorito.

“Sobre o que você vai falar com essa nova terapeuta?”

Sobre como estou prestes a perder tudo o que importa, e não


consigo impedir a autodestruição.
“Quão abusivo é meu namorado comigo.” O remorso me dá
um tapa tão rápido que parece que acabei de bater de frente com
o carro. E o silêncio ensurdecedor que cai entre nós confirma as
fatalidades.

Eu não posso olhar para ele outro segundo. A dor em seus


olhos torna impossível respirar. Griffin nunca me machucaria.
Jamais. Foi uma piada mal entregue com mais vingança do que
sarcasmo.
Essa coisa tóxica chamada medo continua a criar uma
barreira entre nós. Eu continuo colocando um punhal entre nós.
Quanto mais eu tento me segurar nele, mais longe ele escorrega.

Daisy não é um presente. Ela é uma maldição.


Griffin se vira e abre a porta.

JEWEL E. ANN
“Não!” Eu corro atrás dele, empurrando a porta novamente,
pegando sua camisa e puxando até que ele olhe para mim. “Foi
uma piada. Uma piada terrível, mórbida e inoportuna. Eu sinto
muito. Eu estou assustada. Estou desesperada. Eu...”

Meu coração não consegue acompanhar minhas emoções. É


uma sirene pulsante no meu peito, me avisando para calar a boca.
E dói muito mais do que a ardência da mão dele na minha bunda.
Ele é um muro de concreto, não importa o quanto tente
sacudi-lo.

“Ela está dentro de mim.”

Agora ele me dá toda a sua atenção.


“Ou...” Balanço minha cabeça, fechando meus olhos. “...eu
sou ela. Mas não acho isso, totalmente. Eu não consigo descobrir.
E não posso deixar de lado porque essas memórias permanecem
comigo, não importa aonde eu vá. Estão na minha cabeça, e com
o passar do tempo, só ficam mais fortes e vívidas. Não é só Nate.
Ele pode ter sido um gatilho de tudo isso, mas ela está lá, Griff.
Ela não foi embora.”
Ele pisca.
Eu espero.
Outro piscar de olhos.
Estou morrendo aqui.

É como uma criança dizendo a seus pais que há um


alienígena no armário e que só ela pode ver. Mas que não é louca.
Está realmente lá, mesmo que não haja provas de alienígenas.
“Você precisa de um emprego diferente”, diz ele. É simples e
direto.

Eu não quero que ele fique com raiva de mim, mas me sentiria
melhor se suas palavras fossem infundidas com algum tipo de
emoção.

JEWEL E. ANN
“Eu não posso sair do meu emprego.”
“Você pode.” Ele morde os lábios, os olhos arregalados e a
cabeça inclinada para o lado, como se estivesse me desafiando a
discutir.
“Vamos lá. Eu sou o convidado de honra, não que eu mereça
ter um aniversário especial. Nós dois sabemos que sou o pior
humano que já viveu. Na verdade, podemos nos despedir e ir para
casa. Você pode me deixar no meio-fio quando sair da garagem.
Tanto faz.” Eu pego a maçaneta, mas Griffin não sai da porta.

Seu olhar perfura um buraco na minha cabeça, mas me


recuso a olhar para ele.

“Hitler era pior”, diz ele.


É engraçado. Mas não é.

É de partir o coração. Mas não deveria ser.


“Não seja insegura. Essa não é a mulher que conheci na
mercearia.”

Eu aceno lentamente, não concordando realmente com nada


além do universo sussurrando: “Você está ferrada.”

Insegura. Ha! Não tenho certeza se é justo esperar que eu seja


qualquer coisa além de insegura. Há todo um outro mundo – um
outro tempo inteiro – na minha cabeça. É como levar alguém do
outro lado do mundo e jogá-lo em um deserto sem comida ou água
e se despedir com um “Tchau. Não tenha medo.”
Nada faz uma pessoa se sentir mais insegura do que o
desconhecido. Isso não é a mente sobre a matéria. Eu não posso
correr com meus dedos nos meus ouvidos, gritando “La la la… Não
estou ouvindo você, Daisy.” Mas vou guardar esse argumento para
outro dia.
“Eu farei o meu melhor para ser quem você quer que eu seja.”

“Você está fazendo com que eu me sinta um idiota.” Ele franze


a testa.

JEWEL E. ANN
Eu dou de ombros, dando-lhe um sorriso de boca fechada.
“Bem, você é grande, às vezes arrogante e completamente
inflexível quando se excita. Eu acho que é uma definição do
dicionário para um idiota. Agora… Você acabou com o meu
aniversário? Estamos quites já que estou a um passo de Hitler e
não sou mais a mulher da mercearia? O que é engraçado porque
não sei como eu te levei a acreditar que eu era qualquer coisa
menos que um desastre naquele dia.”
Griffin raspa os dentes sobre o canto do lábio inferior,
inspecionando-me através dos olhos apertados. “Você quer casar
comigo?”

É difícil recuperar o fôlego com o peso de suas palavras. Um


calafrio desliza para o meu núcleo enquanto olho para ele sem
piscar. “Como você pode me perguntar isso?”
Ele levanta as mãos e as deixa cair de lado, soltando um
suspiro pesado.
Por que ele não me responde? O nó na garganta dele é tão
grosso quanto o que incha na minha? Ou ele não tem nada a
dizer?

“Mova-se.” Meu pulso gagueja como a minha voz, engasgando


com mágoa e raiva.
Sua cabeça se afasta de mim com uma expressão frouxa e
olhos vazios. Depois de alguns longos segundos, ele se afasta.
Minha mão trêmula se atrapalha com a maçaneta da porta antes
de abri-la. Corro até a metade da escada e paro. Mordendo meus
lábios trêmulos, me inclino para recuperar o fôlego e engulo o
soluço que quer escapar.

Respire. Respire. Respire.


“Recomponha-se”, eu sussurro para mim mesma. Respirando
fundo, pisco algumas vezes para reunir alguma compostura.

“Seu sorvete derreteu.” Sophie me entrega minha tigela de


bolo e sorvete derretido.

JEWEL E. ANN
“Eu não me importo.” Forço um sorriso. É uma sensação
verossímil, mas os lábios e as sobrancelhas franzidas da minha
mãe me dizem que não estou convencendo ninguém.

“Onde está Griffin?” Sherri pergunta enquanto dou


colheradas no bolo encharcado – qualquer coisa para evitar que
meu queixo trema e distraia o resto do meu corpo de fazer o que
quer fazer – enrolar-se em uma bola e chorar.
“Bem aqui”, ele diz atrás de mim.

Eu pego outro pedaço de bolo, evitando o olhar examinador


da minha mãe. Griffin passa por mim com sua tigela de bolo e
sorvete. Uma indulgência rara para ele. Ele se joga no sofá, dando
a Hayley uma cutucada brincalhona. Ela sorri, cutucando-o de
volta.
Pelo canto do olho, eu vejo o olhar da minha mãe saltar entre
Griffin no sofá – me ignorando – e eu encostada na parede porque
não quero sentar perto de ninguém e nem quero ter que formar
palavras reais.
“Swayze, você recebeu uma mensagem.” Sophie segura meu
telefone que está na mesa de centro. “Aw... é Morgan.” Ela sorri
para a tela.
“Deixe-me ver.” Hayley pega o telefone dela. “É uma
mensagem de feliz aniversário. Ela é tão fofa.” Ela inclina a tela
em direção a Griffin.
Seus lábios se repuxam em um sorriso tenso.

Depois que o telefone é passado pela sala, Sherri o entrega


para mim. É uma foto de uma sorridente Morgan com um bilhete
em sua barriga que diz “Feliz aniversário, Swayze”. Eu olho por
muito tempo, e não reajo a isso porque sei que os olhos de Griffin
estão em mim. Em vez disso, coloco o celular no bolso e termino
as últimas colheradas de sopa de chocolate e bolo de baunilha.

“Nós deveríamos tê-los convidado para sua festa.” Sherri diz


como quem se dá um tapa.

JEWEL E. ANN
Sim, isso teria sido uma ótima ideia. Apenas eu, meu noivo,
meu namorado de outra vida e sua filha batizada com meu nome
daquela outra vida.

“Eu acho que ele tinha planos neste fim de semana. Seu
aniversário foi ontem.”

“Espero que ele tenha planos, de outro modo poderíamos ter


comemorado ambos os aniversários. Estamos querendo conhecer
o professor sexy.” Sherri dispara um sorriso sugestivo para minha
mãe, mas Griffin parece pronto para rasgar suas roupas como o
Hulk.

Ela não faz ideia que seu filho não é um fã do Professor Hunt,
e ele não tem ideia de que ela está fazendo o comentário sexy para
o benefício da minha mãe, não meu.
“Professor sexy?” Scott belisca a perna de Sherri.
Ela o espanta. “Para Krista. Sou felizmente casada.”

Ele acaricia seu pescoço. “Melhor mesmo.”

Eu amo o lado alfa dos homens Calloway, exceto quando o


meu faz com que eu me sinta indesejada no meu aniversário.
“Sente-se, Swayze.” Hayley fica de pé. “Estou saindo mais
cedo para ir ao cinema com Maycee.” Ela pega minha tigela vazia
e me abraça. “Feliz aniversário, mana.”
Mana… não chore.

“Sente-se.” Ela sacode a cabeça em direção ao lugar vazio no


sofá ao lado do Hulk.

Sherri e Scott conversam com minha mãe sobre o cruzeiro no


Alasca que planejaram para o aniversário deles no próximo verão.
Sophie e Chloe percorrem os canais da TV. Eu faço a viagem
desconfortável para o sofá e relaxo, inclinando-me em direção ao
braço para que meu corpo não toque no de Griffin.

Ele bate a colher contra a tigela vazia, liberando o que eu sei


que é nervosismo ou raiva por causa de nossa discussão e,

JEWEL E. ANN
provavelmente, do texto de aniversário também. Sherri franze a
testa, inclinando-se para frente e tirando a tigela dele, colocando-
a ao lado da dela na mesinha enquanto revira os olhos.

“Chega pra lá.” Sophie chuta seus pés em Griffin enquanto


tenta se esparramar do outro lado dele.

Ele corre em minha direção, forçando nossos corpos a se


tocarem. Eu enrijeço, abraçando a mim mesma. A testa de minha
mãe enruga-se enquanto nos observa, provavelmente não
prestando atenção à verborragia de Sherri e Scott.

Eu tenho que me render e dar a ela um olhar que diga sim


nós brigamos e mais tarde eu te conto ou preciso fazer um
movimento que lhe diga que estamos bem. Mas não posso lidar
com outro segundo de seu escrutínio. Assim que decido dar a ela
o olhar, Sherri me encara como se percebesse que minha mãe está
distraída com alguma coisa.

Eu não estou preparada para dar aquele olhar a Sherri,


mesmo achando que ela entenderia, então engulo cada pedaço do
meu estúpido orgulho e relaxo minha cabeça contra o ombro de
Griffin. Se parecer apenas metade tão estranho quanto eu me
sinto, estou ferrada.
Ele fica tenso. Acho que não está com vontade de jogar junto.
Mamãe recua, vendo a óbvia rejeição que ele está me dando, mas
o gesto parece ser o suficiente para Sherri me oferecer um sorriso
caloroso antes de voltar sua atenção para Scott. As mãos de Griffin
permanecem dobradas em seu colo. Eu me sinto como uma mosca
na parte traseira de um cavalo. A qualquer momento ele pode
chicotear seu rabo e me espantar.

Minha mãe lança um olhar simpático que não preciso e volta


sua atenção para Sherri para me dar uma folga. Eu levanto a
cabeça de seu ombro, soltando uma expiração lenta enquanto
mexo no meu anel de noivado, girando-o no dedo. Talvez devesse
me esquecer disso, devolve-lo a ele e ir embora.
E se ele me perguntou se eu ainda queria casar com ele,
porque no fundo está se perguntando se ainda quer se casar

JEWEL E. ANN
comigo? E se ele quiser que eu dê o primeiro passo, deixando-lhe
uma saída fácil?

“Vocês já fizeram planos para a lua de mel?” Sherri pergunta.


Eu engulo uma grande poça de saliva.
Griffin bate a mão na boca, tossindo enquanto balança a
cabeça várias vezes. Boa resposta.

Não.

Não há planos de lua de mel.

Tem que haver um casamento primeiro.

“Bem, não esperem muito tempo. Quanto mais cedo reservar,


melhor será o negócio. Como seu pai e eu fizemos em nossa viagem
ao Alasca.”
Griffin acena com a cabeça. Não tenho certeza se está
sorrindo. Eu me recuso a virar minha cabeça tão longe para ver
seu rosto inteiro.

Sherri nos dá um sorriso torto. “Vocês dois estão entediados.


Vão. Tenho certeza de que têm outras coisas que prefeririam estar
fazendo.” Ela nos dá uma piscadela sugestiva.

Olho para aquela desculpa patética de um sorriso


novamente.
“Obrigado pelo jantar, mãe.” Griffin se levanta, deixando-me
afundar no canto do velho sofá. “Boa noite, Krista.”

Bravo. Ele está fazendo seu papel. Mas devo ir com ele? Estou
de pé. Todas as minhas coisas estão na casa dele. Não tenho mais
para onde ir, mas tenho certeza de que minha mãe me aceitaria.

“Sim, obrigada pelo jantar. Foi muito bom.” Eu abraço Sherri


e Scott.

Minha mãe está de pé, esperando por seu abraço. “Me liga.
Estou sempre do seu lado, querida”, ela sussurra no meu ouvido
quando nos abraçamos.

JEWEL E. ANN
Eu aceno, já que as palavras estão presas atrás da bola de
emoção alojada na minha garganta. Todos me desejam um último
feliz aniversário enquanto visto meu casaco e sigo Griffin pela
porta da frente.

Sim. Feliz aniversário para mim.

“Eu quero casar com você, seu estúpido cara de mercearia.”


Estou a poucos metros da frente de sua caminhonete.
Ele para em sua porta de costas para mim.

“Mas eu não preciso. Isso não vai mudar meu amor por você.
Então talvez você encontre uma garota que não seja tão fodida da
cabeça. E ainda vou te amar. Talvez você se case com ela e tenha
três filhos maravilhosos. Eu ainda vou te amar. Se você não quer
mais se casar comigo... Ainda vou amar você. Ainda amarei sua
família. Ainda amarei as lembranças de quem éramos e o sonho
do que poderia ter sido. E vou te desejar nada mais que felicidade
absoluta e a mais bela alegria porquê...”

Porque você merece algo melhor do que quem eu sou neste


momento da minha vida – uma alma perdida compartilhando
espaço com memórias de outro tempo.

“Entre”, diz ele, abrindo a porta.


Em um suspiro derrotado, meus ombros caem quando entro
em sua caminhonete.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 7

O escritório da Dra. Albright está tomado por três paredes


cheias de livros e uma parede com uma pequena janela. É um
escritório igual ao de Nate, mas parece que tem metade do
tamanho porque ela é claramente uma acumuladora. Tantos
livros.
“Por favor, sente-se, Swayze.” Ela sorri.

Meu olhar flutua do chão até o teto e pousa em seu rosto


pálido que ostenta um sorriso agradável e reconfortante. Eu relaxo
na cadeira.
“Chá?” Ela derrama água em uma xícara de chá.
“Não, obrigada.” Devolvo um sorriso tão doce quanto os dois
pacotes de açúcar que ela acrescenta ao chá. “Meu chefe trabalha
aqui na universidade.” Quero saber se ela conhece Nate ou se o
livro dela na mesinha de cabeceira dele é apenas uma
coincidência.
“É mesmo?” Ela mantém o olhar na colher e na xícara de chá.

“Nathaniel Hunt”.
Dra. Albright acena com a cabeça. “Ele foi meu aluno.”

Eu espero que ela fale mais. Ela não faz.

“Dr. Greyson me enviou seus arquivos. Li suas anotações,


mas são lixo. Eu quero que você me fale sobre... você.” Ela olha
para cima, sorrindo enquanto leva a xícara aos lábios.

“Eu não vou tentar pegar leve ao explicar isso porque não
acho que preciso fazer tal coisa com você.”

Ela coloca a xícara de chá para baixo, dando-me toda a sua


atenção.

JEWEL E. ANN
“Tenho certeza de que sou a reencarnação da amiga de
infância de Nathaniel Hunt e que ela foi assassinada.”

As sobrancelhas da Dra. Albright sobem em sua testa.


“Assassinada?”
Eu concordo. “Ele não sabe disso. Ninguém sabe além do meu
namorado – noivo.” É triste não saber o que Griffin é no momento.
Falamos apenas um punhado de palavras desde a volta para casa
no dia do meu aniversário. Um oceano poderia caber entre nós na
cama, mas no meio da noite seus braços se movem ao meu redor.
No momento em que acordo, seus braços se foram e ele também.

Ela acena com a cabeça. “Continue.”

Eu conto tudo a ela, começando com o dia em que vi Nate no


consultório do Dr. Greyson. Conto a ela sobre o livro dela que
encontrei na mesa de cabeceira de Nate. Conto sobre Doug Mann
e Erica. Eu lhe falo sobre a primeira vez, quando as visões em
minha cabeça eram do ponto de vista de Daisy sem Nate – as
memórias de sua morte. Minha morte?

Ela ouve sem interromper ou mostrar qualquer emoção além


de alguns acenos de cabeça. Sem sorrisos. Sem vacilar. Nenhuma
carranca.
Minha mão esfrega no bolso da frente algumas vezes. Eu
quero a ajuda dela, e estou disposta a dar qualquer coisa, então
tiro a foto de Nate do meu bolso. Está torta de tanto ficar moldada
ao meu corpo.
“Eu peguei isso do Nate.” Eu a deslizo em sua mesa.

Seus lábios repuxam em um sorriso suave. “Esse é o aluno


de quem me lembro. Ele sempre foi incrivelmente bonito. O
cabelo...” Ela levanta os olhos.

Eu concordo. O cabelo. Nate tem o cabelo mais lindo. Aqueles


cachos imploram pelos dedos de uma mulher...

“Você está corando.”

JEWEL E. ANN
Minha cabeça se levanta da foto sobre a mesa para encontrar
seus olhos brilhantes.

“O que você estava pensando enquanto olhava para ele?”


“Eu...”, limpo minha garganta.
“É só entre nós. De mulher para mulher... o que você estava
pensando?”

Meu lábio inferior se franze enquanto mordo a sua pele seca,


os olhos se enchendo de emoção – vergonha. “Eu estava pensando
que o cabelo dele implora que dedos de uma mulher o penteiem,
puxem, agarrem.”
Estou corando. Meu pescoço e bochechas queimam.

“Mas estou comprometida com um homem que amo mais que


tudo. Não deveria ter esses pensamentos. Eu não deveria ter esta
foto comigo.” Meu dedo toca o canto do meu olho para secar a
lágrima que tenta escapar.

“Não é só isso. Eu originalmente peguei porque esse é um


Nate que nunca consegui ver. E sua expressão nesta foto me
assombra. Eu não sei porque não consigo parar de olhar. É como
se eu estivesse esperando que ele me contasse a história de sua
vida.” Sorrio. “É tão confuso.”
“Dê-me sua lista de desejos.” Ela toma outro gole de chá. É a
terceira xícara dela.

“Minha Lista de Desejos?”


“Sim. Se eu lhe desse uma folha de papel e dissesse para você
escrever cinco coisas que deseja, quais seriam elas?”
“Tipo... um carro novo?”

Ela encolhe os ombros. “Qualquer desejo para o futuro. Não


podemos mudar o passado.”

“Eu gostaria que Griffin entendesse o que estou passando.


Gostaria que a polícia prendesse Doug Mann. Eu queria poder

JEWEL E. ANN
parar de olhar para essa foto idiota. Eu gostaria de encontrar um
emprego diferente e não sentir saudades de Nate e Morgan. Eu...”

Engolindo em seco, balanço minha cabeça.


“Termine.”
“Eu queria que Daisy nunca tivesse morrido.”

“Não podemos mudar o passado. Tente novamente.”

Minha mandíbula se aperta quando esfrego minhas mãos


sobre o jeans de novo e de novo.

“Eu gostaria de saber tudo ou nada, em vez destas memórias


fragmentadas que estão me deixando louca.”

Dra. Albright rabisca em um pedaço de papel. Eu me inclino


para frente. É a lista dos meus desejos.
“Dr. Greyson raramente indica alguém para mim. Geralmente
é o contrário. A principal razão é porque sou professora em tempo
integral. Ele mandou você para mim porque sou um pouco
estranha em nossa profissão. Eu tenho lembranças de vidas
passadas. Acredito em reencarnação. Minhas teorias são
amplamente contestadas e imensamente impopulares na
comunidade psiquiátrica.”

“Suas memórias são fragmentadas como as minhas?”


“Algumas são. Outras são bem detalhadas. Eu não acho que
duas almas sejam iguais. Eu não acho que você é a Daisy que
Nathaniel se lembra. Acho que as almas são tecidas de muitas
vidas. Pense nisso como ancestralidade. Eu não sou toda alemã,
mas sou alemã. Memórias são a parte difícil de entender. Gosto
de pensar nelas como genes dominantes e recessivos. A maioria
das almas vive em harmonia quando seguem em frente. Eu chamo
essas pequenas fibras de almas entrelaçadas de almas recessivas.
Elas não são expressas. Mas às vezes nos deparamos com linhas
dominantes que são expressas através da memória.”

JEWEL E. ANN
Ela ri. “Algumas pessoas acreditam que essas são as almas
teimosas que querem concluir suas histórias. Isso é um pouco
simplista demais e bastante ficcional para mim.”

“Por que você diz isso?”


“Sou maravilhada com a vida – tanto física quanto espiritual.
Tenho certeza de que li mais livros do que qualquer um que tenha
percorrido as dependências do campus desde que este se originou.
No entanto, estou bem certa de que mal arranhei a superfície do
quadro maior. A pergunta que ninguém pode realmente
responder...”

Eu aceno devagar. “Porque estamos aqui?”

“Precisamente.” Ela pisca, recostando-se na cadeira,


balançando suavemente. “Porque estamos aqui? Qual o
significado da vida? Qual é o meu propósito? Os humanos devem
se acasalar por toda a vida? Existe um Deus?”
É oficial. Estou impressionada. Eu me sinto muito pequena
no momento.

“Eu fiz vinte e dois anos no domingo. E odeio quando as


pessoas me tratam como se eu fosse jovem e estúpida. Mas se for
sincera… me sinto muito jovem e estúpida. Eu não fico sentada
contemplando o significado da vida. Eu gosto de bons filmes,
vinho e chocolate. Gosto de passar tempo com meu noivo, de
mistério e romances. Uma praia? Estou lá. Uma venda de leggings
fofas? Vou comprar dez pares. Ajustar-se à idade adulta e ter um
diploma é bem legal. Mas vidas passadas? Almas? Expressões
dominantes e recessivas de… tanto faz? Não.”

Balanço minha cabeça meia dúzia de vezes. “Não é isso que


eu quero pensar neste momento da minha vida. Mas também não
quero lidar com a culpa que vem de saber quem matou minha
amiga e não poder fazer nada sobre isso.”

“Compreendo. Eu realmente te entendo. Vamos conversar


novamente na próxima semana. Enquanto isso, quero que você
pense em algumas coisas. Podemos tentar a hipnose para reprimir

JEWEL E. ANN
lembranças desfavoráveis ou trazer as partes que faltam. Não é
uma garantia e não vem sem riscos. Além disso, quero que você
considere contar a Nathaniel sobre suas lembranças da morte de
Daisy. Eu sei que você acha que isso poderia machucá-lo e
aumentar a culpa que ele já sente, mas também poderia levar à
abertura de novas evidências que poderiam colocar Doug Mann
atrás das grades. Nathaniel iria querer isso, não importa o custo
emocional que teria para ele. Tenho certeza disso.”

Eu escorrego no meu casaco. “E o que eu faço com meu


noivo? Estou com tanto medo de perdê-lo por causa disso tudo.”
“Seja honesta com ele. Você quer se casar com um homem
que ama e aceita você. Daisy é parte de você. Ela não vai a lugar
algum.”
Não era a resposta que queria ouvir. Eu sorrio de qualquer
maneira. “Obrigada.”

JEWEL E. ANN
CAPITULO 8

“Bom dia”, digo para Nate, não me sentindo muito bem


naquela manhã ou nos últimos três dias.
“Ei. Ela já foi trocada e alimentada. O café está quente. Há
sobras de comida tailandesa na geladeira. Fique à vontade.”

Morgan arrulha quando a pego de Nate. Beijo sua bochecha


rosada. Ela ri. Eu amo essa garota.

“Eu não estou acostumado a ser o mais tagarela. Tudo certo?”


Abraço Morgan contra mim e me inclino contra a ilha. “Griffin
não está falando comigo. Ou está me evitando. Parece o mesmo de
qualquer maneira. Dr. Greyson me passou para outra pessoa. E
eu tenho algo para te contar, mas não há tempo agora, então terá
que esperar até mais tarde. Ou outro dia. Outra semana... tanto
faz.”

“Sinto muito que você esteja tendo problemas com Griffin. Dr.
Greyson não passaria você para outra pessoa a menos que ele
achasse que isso te faria bem. E apenas me diga o que você precisa
me dizer.” Ele coloca a alça de sua bolsa no ombro enquanto toma
seu café.
“Oh...” procuro no meu bolso e jogo sua foto no balcão. “E eu
roubei esta foto porque gosto de olhar para ela. Por quê? Eu não
sei. É errado. E confuso de um jeito indescritível. Você deveria me
demitir e pedir uma ordem de restrição.”

Eu desmorono por dentro como um edifício implodindo.

Nate coloca sua xícara no balcão e pega a foto, trazendo-a


para perto de seu rosto, os olhos se estreitando uma fração.
“Minha primeira viagem à costa oeste. Eu fui com um amigo. Ele

JEWEL E. ANN
fez a foto.” Ele coloca a imagem de volta no balcão. “Pode ficar com
ela.”

Minha cabeça se projeta para trás. “O que? Não. Por que eu


ficaria com essa foto?”
“Pela mesma razão que você a levou em primeiro lugar.” Ele
encolhe os ombros.
“De jeito nenhum. É tão errado.”

“Por quê? Você está fantasiando com esse cara?” Ele ri como
se fosse loucura.

Esse cara?

“Sim. NÃO! Eu quero dizer, não. Deus, não!” Balanço minha


cabeça e abraço Morgan mais forte, tirando minha atenção da foto
e voltando para ela.
Nate coloca a mão no seu bolso e tira sua carteira, tentando
pegar algo com suas grandes mão. “Eu carrego isso há mais de
vinte anos. Isso faz você se sentir melhor?” Ele segura uma foto
em preto e branco de Daisy. “A amiga dela fez o cabelo dela,
maquiagem… até mesmo unhas postiças. Emily gostava de
fotografia e disse que Daisy deveria ser modelo. Ela tirou um
monte de fotos. Eu não sabia nada sobre isso até depois que Daisy
morreu. Emily me deu essa logo depois do funeral. Eu costumava
olhar para ela todos os dias. Mas agora...”
Meu olhar se eleva para o dele.

Ele encolhe os ombros, me dando aquele olhar. Que olhar?


Não tenho certeza. Mas quanto mais ele o mantém grudado na
cara, mais certeza eu tenho que seu olhar quer dizer eu não olho
mais a foto porque agora você está aqui.

Eu não gosto desse olhar nem um pouquinho.


Quando interrompo o olhar, ele coloca a foto de volta na
carteira. “Eu tenho que ir. Mas lembre-se... Daisy e eu éramos,
sobretudo, amigos.”

JEWEL E. ANN
“Então você acha que devemos ser amigos?”
Agarrando a xícara, ele ultrapassa a porta dos fundos. “Por
que não?”
“Por que não?” Eu digo para Morgan depois que a porta se
fecha atrás de Nate. “Porque eu não posso ser amiga de homens
com quem fiz sexo nos meus sonhos.”
Então, como estou decidida a arruinar a minha vida antes de
chegar aos vinte e cinco anos, pego a foto do balcão e a coloco de
volta no bolso.

*
Griffin fez um trabalho estupendo de trabalhar até tarde
todas as noites desde meu aniversário e entrar escondido depois
que estou dormindo, só para sair pela porta antes que eu acorde.

Nenhuma ligação.
Sem mensagens de texto.

Não há bilhetes de amor na mesinha de cabeceira.


Hoje à noite eu como o jantar sozinha, deixando para ele um
pouco de taco na geladeira, no caso de ele querer quando entrar
mais tarde. Mas sinto falta dele. Eu acho que ele está esperando
que eu preencha essa lacuna entre nós com um pedido de
desculpas por ser eu. Dra. Albright está certa. Daisy é uma parte
de mim que não pode ser removida. Não posso deixá-la ir embora,
do mesmo jeito que não posso largar meu pé em casa durante o
dia.

Talvez eu possa negociar uma trégua por enquanto. Pego meu


moletom e vou para a garagem. A porta está fechada, já que está
mais frio lá fora, então passo pela porta de acesso na parte de trás.
Uma mulher com longos cabelos negros, calças de couro e a
camiseta mais apertada que eu já vi, olha para mim, sentada no
meu balde, ao lado de Griffin.
Ela sorri.

JEWEL E. ANN
Griffin senta em seus calcanhares e olha por cima do ombro,
me encarando por alguns segundos sem sorrir. “Precisa de algo?”

Meu balde. Eu preciso do meu balde. Por que essa mulher


está sentada no meu balde!
“Eu fiz salada e taco.” E esse é o meu balde.

“Coloque na geladeira.” Ele se volta para a motocicleta.

Nenhum obrigado. Nenhuma apresentação.

“Eu sou Apple.”

Eu pisco. “Desculpe?”

A ladra de baldes corre os dedos (que têm anéis em cada um)


através de seu cabelo infinitamente longo. “Meu nome é Apple.
Obrigada por me emprestar seu cara esta noite. Tem algo que está
batendo na minha garota e vou para Cali amanhã.”

Bolinho de chuva. Torta. Crisp. Bolinho de massa.


Rotatividade. Geleia. Quem dá o nome de Apple a seu filho!

Eu suspiro com um sorriso suave. Conheço essa resposta – a


mesma geração de hippies chapados que deram o nome de Swayze
a sua filha. Eu digo oi ou minhas condolências?

Nem um nem outro.


Eu digo Vadia, saia do meu balde e não empresto meu cara
para ninguém. Ok, não digo isso também.

“Eu sou Swayze. E você pode entrar e esperar lá dentro se


não quiser se sentar aqui nesse balde desconfortável enquanto ele
trabalha na sua moto.”

“Você está de brincadeira?” Ela olha Griff, empurrando a


ponta da bota contra a perna dele. E ele lhe dá um sorriso. Um
maldito sorriso! Como se estivessem compartilhando alguma
mensagem secreta. “Eu costumava ficar aqui vendo Griff o tempo
todo. É hipnotizante. Eu poderia vigiá-lo o dia todo.”
Eu gosto de azul, mas tudo que posso ver agora é vermelho.

JEWEL E. ANN
Ela tira um chiclete do bolso e rasga metade com os dentes e
segura a outra metade na boca de Griffin.

VERMELHO incandescente!
Estou pronta para bater nela, até virar um purê de maçã e
arrastá-lo por suas bolas para dentro da casa. A única coisa que
me impede (além do fato de que ela parece alguém que poderia
chutar minha bunda) é a negativa de Griffin com a cabeça
enquanto ela o tenta com seu chiclete.

“Você quem perde. É de hortelã, seu favorito.” Ela sorri para


ele, empurrando a outra metade em sua boca antes de olhar de
volta para mim como se tivesse se esquecido que estou aqui.
“Cara, eu nunca imaginei Griff se acomodando com uma garota
doce como você. Bom para você, querido.” Ela cutuca a perna dele
novamente.
Querido... QUERIDO!?!
Meu olho direito se contorce enquanto tento ouvir além da
pulsação nos meus ouvidos. Ele não dá bola para seu flerte, mas
não diz a ela para parar também. E ele não está dizendo a ela para
sair do meu balde. Mas, pior ainda… Eu posso dizer que aquela é
uma mulher que fez sexo com meu homem e, portanto, eu a odeio.
E eu o odeio agora também.
Achei que aos vinte e dois anos eu já tivesse atingido a
maturidade. Falha épica. Talvez vinte e três seja meu ano.
Eu limpo minha garganta. Griff olha por cima do ombro
novamente.

Cruzando meus braços sobre o peito, mordo meus lábios por


alguns segundos para desacelerar minha respiração. “Quanto
tempo você vai ficar aqui ainda?”

Ele encolhe os ombros. “Eu não sei. Você precisa de algo?”


Apple puxa o chiclete para fora em uma longa corda, depois
torce em volta da língua. Meu olhar ziguezagueia entre os dois.
Suponho que ela se parece mais com o tipo de mulher que estaria

JEWEL E. ANN
com um cara como Griffin. Ela é sexy e sedutora. Claramente
confiante. E tem tatuagens e anda de moto.

Parece dois contra um, então balanço minha cabeça. “Não”,


murmuro, viro e volto para dentro da casa.
“Controle-se.” Eu me dou outro sermão mental enquanto me
jogo no sofá, dando uma respiração instável. Eu quero chorar e
matar alguma coisa ao mesmo tempo. Mente desgovernada idiota.
Eu odeio que meu cérebro permita que Nate entre nele de uma
forma tão íntima, mas não o quero em minha cama, não importa
as coisas malucas que brotem na minha cabeça.

Griffin pode dizer o mesmo de Apple? Ele olha para ela e


pensa em mim como um grande erro? Eu odeio que minha lista
de exigências de querer estar com ele vá até o infinito, mas não
consigo imaginar que a lista dele exija mais do que uma página de
índice. Onde eu perdi minha autoestima? Eu realmente já tive
alguma?
Mulheres confiantes são atraentes. Griffin é confiante e eu o
acho incrivelmente sexy. O que ele deve pensar dessa pessoa que
eu me tornei… Atrapalhada com meu senso de identidade
verdadeira? Não consigo encontrar meu pé nesta vida.

Toc. Toc.
Antes que eu possa chegar à porta dos fundos, Apple abre,
espiando a cabeça para dentro.
“Hey, Griff disse que tem cerveja na geladeira. Ele só tem
água lá na garagem.”

“Oh...” Eu lhe dou um sorriso tenso quando abro a porta da


geladeira e pego uma garrafa do pacote que guardamos para seus
pais quando passam aqui. “Pegue.” Eu entrego a garrafa para ela.

Ela me dá uma espécie de sorriso. “Uma para Griff também.”


“Ele geralmente não bebe.”

JEWEL E. ANN
Ela encolhe os ombros, mordendo o lábio inferior
rechonchudo. “Eu perguntei se ele queria uma também, e ele disse
‘claro’.”

Engulo minha raiva e abro a porta da geladeira novamente,


mas a raiva não diminui. Está na minha garganta, me sufocando.
“Você sabe o que…” fecho a porta com força. “Diga ao Griff que se
ele quer uma cerveja, ele pode entrar e pegar sozinho.”
As sobrancelhas finas de Apple chegam ao topo. “OK.” Ela
recua, fechando a porta.

Ele não vai entrar. Eles provavelmente vão compartilhar a


garrafa que dei à Apple. Eu nunca mais vou beijá-lo. Não vou tocar
a boca dele depois que ele enrolar seus lábios em volta da garrafa
que ela tocou.
Esfrego minhas têmporas por alguns segundos antes de abrir
uma garrafa de vinho tinto e me servir um copo generoso.
“Para a Apple.” Eu levanto meu copo em direção à porta. “A
mulher que eu nunca serei.” Movendo meu copo para a garrafa de
vinho, eu tilinto. “E para você, meu amargo Merlot, a primeira
garrafa de vinho que vou beber inteirinha por puro ciúme.”

Engulo metade do copo, acelerando o álcool para a corrente


sanguínea, desesperada para retardar o circo no meu cérebro e
anestesiar a dor no meu coração.

Uma hora ou duas – quem sabe – mais tarde, não vejo mais
nada vermelho, exceto as últimas gotas de vinho no meu copo. Eu
não bebi a garrafa toda, mas sinto… Bem, eu não sinto nada.
Talvez um pouco triste que meu noivo provavelmente esteja
dividindo uma cerveja na garagem com sua ex-amante chamada
Apple. A menos que a cerveja tenha acabado e eles estejam
compartilhando outras coisas.
“Bem, só há uma maneira de descobrir”, murmuro, enquanto
a sala gira algumas vezes. Saio para a garagem, abrindo a porta o
suficiente para vê-los antes que me notem. Ele está guardando
suas ferramentas enquanto ela se inclina contra sua bancada a

JEWEL E. ANN
poucos centímetros dele, descansando as mãos sobre ela para que
seu peito fique projetado para frente.

Grandes peitos estúpidos.


“Você deveria ir para a Califórnia comigo algum dia. Creed e
Kessler adorariam ver você. Um último suspiro antes de se
envolver com a polícia da cerveja. O que você me diz?”
Ele fecha a gaveta de cima no seu baú de ferramentas. “Não
a chame assim.”

A Apple sorri. “Você sabe que estou brincando. Ela


simplesmente não é nada do que eu imaginei que faria você se
acomodar.”
“Quem disse que eu estou acomodado?” Ele pega uma toalha
e limpa a graxa de suas mãos.

Eu prendo minha respiração.


“Ela está grávida?”

“Foda-se.” Ele balança a cabeça, os olhos ainda focados nas


mãos.
“Novamente... brincadeira. Você costumava gostar do meu
humor... e outras coisas.”

Eu poderia descascar essa porra de Apple. Eu não sei o que


quero dizer com isso, mas droga… Acabou de aparecer na minha
cabeça. Culpo o Merlot.
“Pense em fazer a viagem em algum momento. OK?”

Ele não diz nada, mas sua cabeça balança em um leve aceno.

Sim? Ele vai pensar sobre isso?


Eu engulo de volta a bílis que sobe pela minha garganta.

Apple pressiona dois dedos nos lábios e, em seguida,


pressiona os dedos na bochecha de Griffin. “Obrigada por
consertar minha garota.”

JEWEL E. ANN
“Tenha cuidado em sua viagem.” Ele olha para cima.
Ela sorri.

Um leve sorriso repuxa seus lábios.

Meu coração se parte.

O nó no meu estômago aperta, intensificando minha náusea.

Antes que eu possa fechar a porta, ele se vira. Eu a deixo


clicar e fecho a casa. Ele me viu. Sei que viu. Espionando,
insegura, maluca Swayze.

Eu não paro até chegar ao banheiro, curvando-me sobre o


vaso sanitário. Nada vem. Droga! Eu não posso nem ter sucesso
em um bom vômito hoje à noite. Depois de alguns segundos, lavo
o rosto com água fria e escovo os dentes rapidamente. Disparando
pelo corredor, tiro minhas roupas e visto uma camisola antes de
apertar o interruptor de luz e pular na cama.
Puxando as cobertas para esconder meu rosto, fecho meus
olhos e deixo minha embriaguez tomar conta do resto. Mas não
consigo parar de pensar no que ouvi e vi. Eu não posso parar de
repetir a imagem dela tocando seus dedos beijados em sua
bochecha e ele concordando com seu convite.
Nós éramos perfeitos. Nós éramos nós. O que aconteceu?
Quando o ciúme e o ressentimento construíram esse muro entre
nós? E por que eu sinto que continua ficando maior em vez de
menor?

A porta dos fundos se fecha. Eu congelo e prendo a


respiração. Seus passos se aproximam e a porta do banheiro se
fecha. Alguns segundos depois o chuveiro pode ser ouvido. Eu
solto o ar, me concentrando em controlar minha respiração,
acalmando antes de expirar.

Permaneço realmente imóvel novamente quando o chuveiro


desliga. Um ou dois minutos depois, a porta se abre. Seus pés
descalços caminham pelo chão de madeira até o outro lado da
cama. Que afunda quando ele se senta na beira. Há o toque dele

JEWEL E. ANN
colocando seu telefone na mesa de cabeceira, seguido por mais
barulho da cama e farfalhar das cobertas.

Eu não vou chorar. Quanto mais perto ele está de mim, mais
isso dói.
Eu não pisco.

Eu não engulo.

Eu não respiro.

Meu corpo enrijece quando seu braço prende minha cintura,


me puxando para o outro lado da cama e em seu abraço.

Eu pisco. Foda-se as lágrimas estúpidas. Lá vêm elas.

Você é uma droga, Swayze.


Eu engulo e engasgo com um soluço.

Mas ainda não consigo respirar porque me sinto uma tola


apaixonada por esse cara, que é totalmente diferente de mim de
muitas maneiras. Esta noite tem sido outro lembrete de como eu
não me encaixo no mundo dele. Às vezes parece mais do que isso...
é essa sensação terrível que tive por toda a minha vida. A de que
eu não me encaixo em nenhum lugar.

Sou diferente. Não é um diferente bom. Não necessariamente


ruim. Apenas... diferente. A peça 1001 do quebra-cabeça em um
conjunto de apenas 1000 peças.

“Conte-me sobre o seu dia, Swayz”, ele sussurra no meu


ouvido.

Sorrio depois do soluço que quer escapar. Se eu quisesse um


cara que se ajoelhasse – com as mãos cruzadas no peito – para se
desculpar, não ficaria noiva de Griffin Calloway. Este é o seu
pedido de desculpas. É lento e fácil, mas não tenho dúvidas de
que ele será o dono de cada pedaço de mim novamente no
momento em que terminar.

JEWEL E. ANN
“Merda. Esse cara que eu amo... ele está me ignorando. E
esta noite ele meio que partiu meu coração. Ele deixou outra
mulher sentar no meu balde. E ele a deixou tocá-lo.”

Seu abraço em mim aperta quando ele beija a parte de trás


da minha cabeça. Lá vai ele, juntando meus pedaços e colocando-
os ao lado de seu coração. Eu deixo porque é onde eles pertencem.

“Eu deveria levá-lo lá para fora e deveria dar uma surra nesse
cara por ter machucado você.”

“Não. Eu o amo demais. Mesmo que esteja deixando de me


amar.” As últimas palavras se quebram quando caem dos meus
lábios.

“Swayz...” Ele me vira em seus braços.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 9

Eu não estava procurando por alguém que compartilhasse


meu amor por motocicletas, NASCAR, tatuagens ou malhação.
Honestamente, eu não estava procurando por ninguém. Minha
vida era boa.
Bom trabalho.

Boa família.
Bons amigos.

Trabalhei duro e comprei uma casa logo após o meu vigésimo


terceiro aniversário. Não é muito grande, mas não preciso de
muita coisa.
Então um dia, fiquei atrás de uma loira na fila da mercearia.
Seu cabelo estava emaranhado em um coque no alto de sua
cabeça, caindo de sua faixa de cabelo em todas as direções. Ela
vasculhava sua bolsa do tamanho de uma de praia em uma busca
frenética por sua carteira enquanto a senhora da registradora
franzia a testa em aborrecimento.

Ela era uma bagunça caótica para a minha organização


diligente. Eu sei que ela luta com sua mediocridade, mas eu penso
nela como algo que não é demais em nada; Swayze é o ponto certo.
Meu próprio conto da Cachinhos Dourados.
Eu não a encontrei. Ela não me achou. Nós nos encontramos.
Foi sem esforço. Foi perfeito.
Ainda é.

JEWEL E. ANN
O bem. O mal. O oceano de feiura no meio – desde que seja
nós, sempre será perfeito.

“Sinto muito por te machucar hoje.” Eu a abraço para mim


enquanto soluços silenciosos invadem seu corpo, as mãos
cobrindo seu rosto. Eu abraço sua vulnerabilidade porque ela não
a mostra para todos. Ela confia em mim para protegê-la, mas a
decepcionei. Esta noite eu deveria ter cuidado do seu coração.
Seu balde. Eu deixei alguém sentar no seu balde e isso é
importante para ela. Eu odeio que eu a tenha ferido, mas sinto um
orgulho estranho ao saber que algo tão simplista como um balde
virado na minha garagem significa tanto para ela.

Afasto as mãos de seu rosto, expondo suas bochechas


manchadas de lágrimas e o queixo trêmulo. “Você é tudo para
mim. Você sabe disso? Não há mais ninguém. Pedi uma garota em
casamento e nunca pedirei a outra. Eu quero casar com você. Eu
quero te abraçar. Eu quero ter uma família com você. Quero que
suas mãos acariciem minhas velhas bolas grisalhas.”

Ela solta uma gargalhada.


Seguro seu rosto entre minhas mãos, esperando até que o
perfeito tom de azul olhe para mim. E quando aqueles olhos
encontram os meus, eu sorrio. “Quero todo sorriso. Toda
risadinha. Todas as lágrimas. Eu quero brigar com você só para
fazer as pazes com você.”

Sua boca abre um sorriso. Eu aceito porque quero cada um.


“Você lavou sua bochecha esquerda direito?”

Sorrio. “Sim. Tenho certeza de que tirei pelo menos três


camadas de pele.”

“Você não está indo com Apple ou qualquer outra garota de


nome frutado para a Califórnia, enquanto eu ainda estiver viva.”
Eu luto com meu sorriso iminente e concordo acenando.
“E se você deixar outra mulher sentar no meu balde...”

JEWEL E. ANN
Eu a beijo até que seu corpo relaxa, se rendendo a mim. “Sim,
sim...” murmuro sobre seus lábios “... uma garota tão durona.
Tenho certeza de que não terminamos de discutir. Você vai me
irritar e eu vou te irritar.” Eu pego a bainha de sua camisola e
puxo para cima, tirando-a por sobre sua cabeça.

E por alguns segundos eu a deixo tirar meu fôlego. Todos os


dias penso que este pode ser o dia em que Swayze não me deixará
sem palavras, mas todos os dias ela deixa. Eu nem sei como faz
isso. Ela apenas… faz.

“Mas no final dos bons e dos maus dias, prometemos nos


encontrar aqui, debaixo das cobertas, no escuro, para lamber as
feridas de batalha um do outro. Combinado?”
Seus lábios pressionam meu peito. “Pode ser tão simples?
Podemos voltar ao nosso casulo – dentro dessas quatro paredes –
e afastar a dor? A raiva? Novos psiquiatras? Baldes roubados?
Aniversários esquecidos?”
Eu quero que a resposta seja sim. A realidade é um
desmancha-prazeres.
“Nós podemos tentar.” Eu deslizo minha perna entre as dela.

Ela roça os dedos ao longo da minha bunda e nas minhas


costas. Parece que hoje não é o dia em que o toque dela vai deixar
de me enlouquecer de desejo. Talvez amanhã. Mas duvido disso.

“Por que continuamos nos machucando?” Ela sussurra.


“Porque estamos com medo de perder o que temos.” Eu
deslizo minha mão pelas costas, até sua calcinha.

Quando seus lábios encontram os meus, aperto sua bunda


sexy um pouco mais forte até que ela geme em minha boca.

Ela morde meu lábio inferior enquanto se esfrega contra a


minha perna enfiada entre as dela. “Eu queria matá-la.” Suas
mordicadas se transformam em mordidas como de um cachorro
que não está mais brincando.

JEWEL E. ANN
Minha cabeça sacode antes que ela tire sangue, estreitando
meus olhos.

“Obrigado por me emprestar seu cara.” Seu tom zombeteiro


soa com todo sarcasmo.
Ela está com ciúmes.

E puta.

Eu posso ter subestimado a situação.

“E aquela troca de chiclete, chutinhos com os dedos dos pés,


batedeira de cílios do caralho me fez querer arrancar aquele cabelo
preto perfeito da cabeça dela e arrancar suas bolas por deixá-la
sentar no meu balde!”

Eu cem por cento subestimei a situação.


“Seu balde...” digo com tranquilidade, querendo afastá-la dos
extremos.
“Meu balde.” Ela empurra meu peito.

Rolo de costas, deixando-a tomar o controle, apesar dos meus


testículos questionarem o que poderia acontecer a seguir.

Swayze me cobre como uma rainha empoleirada em seu


trono. “Meu cara.” Seu cabelo roça meu rosto enquanto ela se
inclina para frente, a mandíbula flexionada, as mãos pressionadas
contra o travesseiro em ambos os lados da minha cabeça. Quem
é esta mulher? E onde diabos ela esteve?
“Seu.” Eu sorrio.

“Meu.”

Sorrio. “Então o que você vai fazer comigo?”


Seus lábios se abrem e algo obscuro toma conta do seu rosto,
como uma nuvem se formando sobre o sol. E em um piscar de
olhos, toda a raiva e fraqueza desaparecem, deixando para trás o
rosto inexpressivo de um fantasma.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 10

“Então, o que você vai fazer comigo?” A voz de Nate. O sorriso


de menino de Nate.

Longos cabelos loiros vindos do alto estão fazendo cócegas no


rosto dele enquanto a excitação brilha em seus olhos azuis.
“Swayz?”

“Então o que você vai fazer comigo?” Aquele sorriso... Como se


ele estivesse sempre à beira de rir sobre algo ou como se o que quer
que estivesse olhando, o deixasse mais feliz do que qualquer outra
coisa no mundo.
“Swayz, você está bem?”
Eu pisco.

Não é Nate. Não é o rosto dele. Não é a voz dele.


Os olhos são cor de uísque e os lábios foram reduzidos a uma
carranca.
Griffin se senta, me levando com ele. Ele agarra minha cabeça
e franze a testa. “Onde você estava?”

Eu pisco de novo. “Não...” balanço minha cabeça “... nenhum


lugar.”
A preocupação em seu rosto endurece em algo não tão suave,
nem tão bom. “Estamos em nossa casa, nossa cama,
compartilhando algo muito íntimo e você está a um milhão de
milhas de distância. Ouso dizer uma vida inteira?”

JEWEL E. ANN
O tecido fino da minha calcinha é a única coisa entre seu
corpo nu e o meu. Ele tem razão. Eu deveria estar aqui e só aqui.
E se ele não parecesse tão bravo agora, acho que me sentiria mais
envergonhada.

“Você fodeu a Apple?” Lutar ou fugir. Eu não consegui


segurar essas palavras.

Sua mandíbula vai de um lado para o outro várias vezes, os


olhos negros como a noite neste quarto escuro. “Você não estava
pensando em mim fodendo ninguém. Você não estava pensando
em mim.”

“Você não respondeu minha pergunta.”

“Assim como você, Swayz.” Ele me levanta do colo e sai da


cama, puxando uma calça de agasalho e uma camiseta.

Eu fico de joelhos, puxando minha camisola de volta sobre a


cabeça enquanto a raiva atinge meu peito, enviando fogo pelo meu
pescoço até que minhas orelhas queimem. “Eu não me importo se
ela fosse alguma… amiga de foda sua. Eu me chateio porque ela
te convidou para ir a Califórnia com ela em algum momento e você
não disse não. Eu me importo com o fato de você estar me dando
um gelo há dias por causa de algo que não posso controlar.”
Ele pega o travesseiro e sai do quarto sem uma palavra. Eu o
persigo até a sala de estar.

“Controlar? Mesmo? Você quer usar essa desculpa? Tente


isso...” Ele coloca o travesseiro no sofá e descansa as mãos nos
quadris. “Saia do seu maldito emprego. Planeje um casamento.
Saia e faça novos amigos. Limpe sua mente. Faça uma aula de
culinária. Envie seu currículo para todas as escolas da região.
Assuma mais clientes de design. Inferno…” Seus ombros se
elevam em um encolher de ombros exagerado. “Passe mais tempo
se preocupando com quem está sentada no seu balde. Faça
qualquer coisa para manter sua mente longe dessa obsessão
autodestrutiva.”

JEWEL E. ANN
Eu dou um passo desconfortável. A verdade dói mais que mil
mentiras. Mentiras podem ser perdoadas, mas a verdade não tem
dívidas.

Minha verdade – estou perdendo Griffin para um passado que


não posso mudar e um futuro que não posso controlar.

Ele esfrega a mão sobre o rosto em um suspiro pesado. “Eu


sinto muito. Eu...”
“Se eu pedir demissão...” Começo a dizer com nada além de
derrota na minha voz e uma dor surda no peito.

Ele encontra o meu olhar com arrependimento estampado em


seu rosto, rapidamente tomando conta de seus olhos.
“Se eu sair do meu emprego, se encontrar uma vaga de
professora, se fizer amigos em uma aula de culinária, se assumir
tantos trabalhos de design extra quanto puder encaixar no meu
dia… se eu fizer tudo isso e ainda tiver essas memórias…” engulo
a dor na garganta e respiro fundo para afastar a dor nos meus
olhos. “...haverá um casamento?”

“Swayz...”
“Apenas me responda.”
“Eu te pedi em casamento. Não estou voltando atrás. Defina
uma data. Eu estarei no altar. Swayze vai estar lá?”
“Swayze é apenas um nome.” Eu seguro meus braços para o
lado. “Isso é apenas um corpo. Eu estarei no altar.”
“E quem é você?”

Depois de alguns longos segundos de silêncio, olho para os


meus pés e dou de ombros antes de voltar para o quarto. “Eu
pensei que fosse a mulher que você ama”, murmuro, recuando
com a minha bandeira branca esfarrapada arrastando atrás de
mim.

JEWEL E. ANN
A cama range quando rastejo no meu lugar, assim como o
chão no final da cama. Griffin retira suas roupas, desliza sob as
cobertas e as puxa sobre nossas cabeças.

Sem palavras.
Sem sorrisos.

Apenas duas almas torturadas com medo de perder tudo.

“Mas no final dos bons e dos maus dias, prometemos nos


encontrar aqui, debaixo das cobertas, no escuro, para lamber as
feridas de batalha um do outro. Combinado?”

Ele desliza minha calcinha enquanto tiro minha camisola.


Sua boca cobre a minha, lenta, mas exigente – os olhos bem
abertos, como se um piscar de olhos pudesse estourar essa bolha
temporária.

Ele me beija até meus pulmões queimarem por uma


respiração.

Meu pescoço.

Meus seios.
A curva de um quadril e depois o outro.

Minhas mãos guiam sua cabeça entre minhas pernas, mas


não fecho meus olhos. Nem por um segundo. Eu o amo. Eu não
quero compartilhar esse momento com mais ninguém. Mesmo que
não possa ver seus olhos, no momento em que sua língua desliza
dentro de mim, eu sei que o olhar com alma está olhando para
mim com luxúria e adoração.

Eu sei, enquanto ele desliza dois dedos em mim e solto um


gemido, que esses mesmos olhos começam a ficar cheios de
prazer. A cama desloca-se levemente da pélvis para o colchão
enquanto ele deixa todas essas emoções desaparecerem.

Nós paramos a vida.


Nós silenciamos as vozes.

JEWEL E. ANN
Nós afogamos a dor.
Eu arqueio minhas costas e me retorço quando meu orgasmo
bate forte. Griffin rasteja pelo meu corpo e afunda em mim antes
que eu possa ver direito. Com uma mão na cama ao lado da minha
cabeça e sua outra mão segurando a cabeceira da cama, ele entra
em mim como se quisesse exorcizar os demônios da minha mente.

Mas ele não pode. E depois que encontra sua própria


libertação, ele desmorona na cama ao meu lado. E espero que ele
fale.

Ele não fala.

Eu espero por seus braços me puxando contra seu corpo.


Isso não acontece.

Quando a respiração dele se estabiliza, saio da cama para


usar o banheiro.
“O que está acontecendo?” Eu sussurro para mim mesma no
espelho antes de voltar para a nossa cama e para um Griffin
dormindo.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 11

Avelã.
Eu sorrio.

Ele está aqui. Griffin não toma café, então esse aroma me
atraindo para a cozinha é todinho para mim.

“Você está aqui.”


Griffin olha para cima de seu telefone, tomando um gole de
sua bebida verde. “Sim.” Ele parece tão triste. Onde está meu
sorriso matinal? Onde está seu dedo me chamando para montar
seu colo para que ele possa me beijar e desejar um bom dia?
“Obrigada por fazer café.” Sirvo-me uma caneca e me sento
ao lado dele na mesa. Isso não deveria doer. Isso não deveria
parecer estranho.

Mas parece.
Ele me dá um sorriso educado. “De nada.”

Eu não quero educação. Eu quero as mãos no meu cabelo,


lábios na minha boca e o tipo de sorriso que derrete minha
calcinha.
“Eu vou dar uma passada pelo mercado a caminho de casa
hoje à noite. Me escreva se você precisar de alguma coisa.”

Mantendo o olhar na tela do celular, ele balança a cabeça.


Deus! Dê-me algo mais que um aceno de cabeça.

Eu suspiro antes de tomar um gole do meu café. Quando os


acontecimentos da noite passada se repetem em minha mente, a
culpa e o embaraço dão à minha consciência uma cotovelada forte.
Perdi minha cabeça por causa de um balde, meio pedaço de

JEWEL E. ANN
chiclete recusado e um dos nomes femininos mais ridículos de
todos os tempos.

Certo... não me arrependo dos meus sentimentos sobre o


nome Apple, mas o resto parece desconfortável à luz do dia e do
silêncio de dois amantes desprezados. Estamos apenas poucos
centímetros afastados, mas parece que nem estamos na mesma
casa.
“Você já malhou esta manhã?”

Eu sei a resposta. Apenas estou muito desesperada para


voltar a ser o que éramos. Se ele não me responder logo, serei
obrigada a mencionar o clima frio que tivemos ultimamente.

O clima.
Se isso não é um sinal de um relacionamento condenado,
então não sei o que é. Meus pais eram casados há vinte e três
anos, e não me lembro deles discutindo o clima durante o café.
Tenho certeza de que uma tempestade ocasional surgiu, mas não
por desespero.

Que eu saiba não há tempestades previstas para Madison tão


cedo, então mordo minha língua sobre o clima frio de quase quatro
graus.
“Eu tenho que ir.” Griffin recua na cadeira e se levanta,
levando o copo para a pia.
“Você deveria ir de caminhonete. Está frio lá fora.”

O clima estúpido. Eu me dou um rolar de olhos mental.

Ele desliza sua jaqueta e se abaixa, segurando a parte de trás


da minha cabeça e roçando os lábios ao lado da minha orelha.
“Tenha um bom dia.”

Eu agarro sua jaqueta enquanto ele fica de pé. Seu olhar


varre minha face enquanto luto para traduzir em palavras o que
está em meu coração e corroendo a boca do meu estômago.

JEWEL E. ANN
Minhas sobrancelhas se juntam. Griffin retorna um sorriso triste,
franzindo os dedos sobre minha bochecha.

“Eu também te amo”, ele sussurra.


Sim isso.
Aceno em vez de dizer as palavras reais.

“Ollllaaa?” Eu tiro meus sapatos e casaco.

Se eu não soubesse, diria que ninguém está em casa. As luzes


estão apagadas na cozinha. Não há aroma de café.

“Olá?” Eu repito com uma voz mais suave enquanto espio


pelo corredor.
“Quarto”, diz Nate em um tom grogue quase abafado.

“Você está decente?”


Sua porta está parcialmente fechada.

“Longe disso, mas venha de qualquer maneira.”


Eu enfio minha cabeça pela fresta da porta. “Uau! Você ainda
está na cama?” Morgan rola no chão cercada de brinquedos
suficientes para impedir que ela escape para o corredor ou para o
banheiro.

“Doente.” Ele está de bruços, como se tivesse desmaiado. Um


braço pendurado na lateral da cama, segurando um brinquedo.

“Lamento ouvir isso.”

“Uh huh”, ele murmura em seu travesseiro.


“Acho que você ainda precisa de mim? Ou terei o dia de
folga?”
Um grunhido é sua única resposta.

“Parece um sim. Vamos, senhorita Morgan.” Eu a pego.


“Vamos te afastar do seu pai doente.”

JEWEL E. ANN
Outro grunhido enquanto deixa o brinquedo cair de sua mão,
mas ele não move o braço para cima da cama. Ele não é nada mais
que um cadáver.

“Posso pegar alguma coisa para você?”


“Não.”

“Está bem então. Diga ‘Melhore logo, papai’.”

Nós brincamos, comemos, trocamos fraldas. Repetimos tudo


algumas vezes antes que Morgan sossegue para tirar uma soneca.
Eu a coloco em seu berço, não confiante de que vai ficar dormindo,
já que geralmente a seguro no colo durante as sonecas, mas ela
está bem por enquanto. Pego um copo de água e enfio a cabeça no
quarto de Nate.
“Continua vivo?”

“Infelizmente.” Ele rola rigidamente de seu lado para as


costas, espremendo os olhos.

“Eu trouxe um pouco de água.”

Ele tenta se sentar. Eu lhe dou um sorriso tenso, mantendo


meus olhos arregalados e sem piscar, focado apenas em seus
olhos, em vez da flexão de seu abdômen e naquela marca de
nascença em forma de coração.
“Obrigado.” Ele pega o copo e bebe a coisa toda.

“Dor no corpo? Calafrios? Febre?”


“Cefaleia e dor de garganta.”

“Que saco. Desculpa.”

“Ela está dormindo?”


Enfiando minhas mãos nos bolsos traseiros do meu jeans, eu
aceno.

“Você me deve algum tempo de história.” Ele inspira com


dificuldade, fechando os olhos.

JEWEL E. ANN
“O que?”
“Eu falo sobre Daisy. Me conte algo. Qualquer coisa. De que
cor serão os vestidos das damas de honra?”
Sorrio. “Você não se importa com a cor dos vestidos das
minhas madrinhas.”

“Verdade. Eu só quero uma distração da dor. Sente-se.” Ele


inclina a cabeça para o outro lado da cama.

Depois de alguns segundos sem eu responder, ele abre um


olho. “Eu não vou espirrar em você.”

Levanto dois travesseiros e me reclino para o outro lado da


cama, recostando-me na cabeceira. “Griffin acha que eu deveria
arranjar um emprego diferente.”

Nate resmunga. “Eu não gosto dessa história. Escolha uma


diferente.”
Eu olho para ele, mas seus olhos ainda estão fechados. “Você
estava falando sério sobre nós sermos amigos? Quero dizer… Você
pode ser meu amigo? Aquele com quem não faço sexo, mas que
me dá conselhos sobre caras que só um homem poderia dar?”
Nate ri, mas isso se transforma em um gemido quando ele
volta para debaixo das cobertas e esfrega a testa. “Sim para a parte
de amigos. E eu acho que não é visto com bons olhos fazer sexo
com a babá. Quanto ao conselho, eu posso dar, mas ele virá com
um aviso. Não quero ser responsável por você tomar alguma
decisão que mude sua vida se der errado.”

“Griffin trabalhou em uma moto ontem à noite para uma


mulher que eu tenho certeza que é alguém com quem ele fez sexo
antes de ficarmos juntos. É estranho que ele concorde em fazer
isso para ela?”

“Ela pagou a ele?”


“Eu não sei. Não perguntei.”
“Então eu não posso dizer. Próximo tópico?”

JEWEL E. ANN
“Não terminei de falar sobre Apple ainda.”
“Maçã?”

“Esse é o nome dela. Você acredita? É pior que Swayze.”

“Quem disse que Swayze é um nome ruim?”

“Qualquer um que não seja mentiroso, hippie ou fã de Dirty


Dancing.”
“Swayze é um nome fofo.”

Eu reviro meus olhos. “E maçãs são doces.”

“Estou supondo que Griffin dormiu na casa de cachorro.” Ele


para de esfregar a cabeça e deixa o braço cair sobre o rosto.
Colocando meus joelhos no peito, abraço as pernas. “Não.
Nós estamos apenas meio...”

O que nós estamos? Eu não sei.


“Meio?”

Eu suspiro. “É que estamos passando por um período difícil


graças à sua amiga de infância.”
“Ela está lhe dando problemas?”

Sorrio. “Isso é um eufemismo.”


“Ele não acredita?” Nate suspira. “Não posso culpá-lo. Se eu
estivesse no lugar dele, também não acreditaria.”

“Acho difícil de acreditar nisso dito por um aluno da


professora Albright.”
Nate abre os olhos, inclinando a cabeça para o lado, o
desconforto estampado na testa. “Como você sabe disso?”

Esfregando meus lábios, levanto meus ombros. “Você tem seu


livro sobre reencarnação na sua gaveta do criado mudo. E você
me disse que eu poderia bisbilhotar, então...”
“Esse livro não diz que eu fui aluno dela.”

JEWEL E. ANN
“Verdade. Ela me disse.”
Os lábios de Nate se separam. “Como você conheceu Hazel?”

“Dr. Greyson me encaminhou para ela.”

“Por quê?”

Eu dou a ele um olhar sério.

Ele balança a cabeça lentamente, os olhos fixos em mim, mas


fora de foco, como se seus pensamentos o levassem para algum
lugar longe dessa cama. “É disso que você precisava falar comigo?”

Eu sacudo minha cabeça. “Não exatamente. Mas isso pode


esperar até você se sentir melhor.”

“Apenas diga.” Ele recua, tentando se sentar.


“Apenas descanse.”

“Minha cabeça dói demais para descansar. Distraia-me.”


Daisy foi assassinada não é a distração certa. “Venha aqui.”
Eu endireito minhas pernas e coloco um dos travesseiros sobre
elas.

O olhar de Nate se desloca entre o meu e o travesseiro.


“Cabeça no travesseiro, professor.” Eu sorrio.

Ele coloca a cabeça no travesseiro.


“Preto.” Eu corro meus dedos pelo seu lindo cabelo, sorrindo
quando ele enrola em volta dos meus dedos. Esta é apenas uma
das muitas coisas que eu queria sentir com Nate. E assim como
imaginei, é tão familiar.

“Preto?” Ele fecha os olhos e solta um suspiro suave enquanto


acaricio seus cabelos.

“Quero vestidos de damas de honra pretos. E quero que tudo


seja simples e elegante. Vestidos pretos e todas as flores brancas,
com exceção do meu buquê, que será todo vermelho. Casamento
ao pôr do sol. Luz de velas. Nada muito grande, apenas íntimo e…

JEWEL E. ANN
Perfeito.” Fecho meus olhos por um minuto, vendo cada detalhe
com total clareza.

Eu não sei como posso amar o conforto e a familiaridade do


cabelo de Nate emaranhado em volta dos meus dedos, mas ver
Griffin em pé no altar com o maior sorriso em seu rosto como se
mal pudesse esperar para passar o resto de sua vida perguntando
sobre os meus dias.
“Hmm...” Ele cantarola com o seu rosto e relaxa com a careta
dolorosa que exibia apenas alguns minutos atrás. “O que mais?”

Minhas unhas provocam seu couro cabeludo antes de


gentilmente trabalhar através dos cachos emaranhados. “Eu não
sei. O que mais te distrairá da dor?”
“Diga-me qual é a sensação.”

Sorrio. “Da sua dor?”


“Ser Swayze, mas ter essas memórias de uma vida antes de
você nascer.”

Deixo meus dedos deslizarem de sua franja para as


sobrancelhas, passando as pontas dos dedos sobre a linha
ligeiramente curva, admirando seus longos cílios descansando em
suas bochechas.
É íntimo, mas não sexual.
É familiar, mas novidade.

É comida para minha alma – sua alma.

“É confuso e doloroso. Na maioria dos dias, parece uma


maldição porque não consigo entender totalmente. Eu não sei
como isso se encaixa na minha vida.” Coloco uma onda rebelde
atrás de sua orelha. “Mas outras vezes parece algo muito maior do
que posso imaginar. Como se eu tivesse sido presenteada com
essa memória e precisasse usá-la de alguma forma.”

Eu sorrio para mim mesma. Ele está tão relaxado que não
tenho certeza se ainda está acordado.

JEWEL E. ANN
“É muito além de qualquer tipo de probabilidade. Que eu me
candidatasse para o trabalho como babá para sua filha, a quem
você deu o...” Eu paro, perdendo a coragem para dizer as palavras.

Nate abre os olhos. “Termine”, ele sussurra.


“Meu nome... daquela vida.” Eu roço minha mão sobre sua
mandíbula coberta de barba por fazer.
Ele cobre minha mão com a dele, fechando os olhos
novamente. “Obrigado.”

“Pelo quê?”

Ele se inclina na minha mão. “Por me encontrar.”

JEWEL E. ANN
CAPITULO 12

Eu paro na minha mercearia favorita a caminho de casa. Isso


sempre me faz sorrir. Quais as chances de encontrar meu marido
na caixa registradora? Provavelmente apenas um pouco maior do
que lembrar de outra vida.

“As cebolas amarelas são trinta centavos mais baratas.”


Meu estômago aperta, enviando uma onda de pânico frio para
o meu cérebro.
Não desmaie. Não desmaie. Não desmaie.

Olho por cima do ombro, seguindo o olhar do caixa.


“Swayze, certo?” Doug Mann sorri como se algo fosse
engraçado.

Minha mão se fecha em punhos. Eu quero machucá-lo


fisicamente – tirar aqueles seus dentes falsos, chutá-lo nas
costelas até que elas se quebrem, e então enfiar uma faca em seu
coração, tão lentamente que ele uivaria de dor até engasgar com
seu próprio sangue.

“Trinta e quatro e noventa e oito”, o caixa murmura.

Empurro meu cartão de crédito na maquininha, errando nas


três primeiras vezes por causa das mãos trêmulas.

“Débito ou crédito?”
“D-débito.” Eu engulo em seco e aperto a mão para afugentar
o nervosismo que dificulta a digitação da minha senha.

O caixa me entrega o recibo e pego minhas sacolas.

“Até mais, Swayze.”

JEWEL E. ANN
Swayze. Ele disse meu nome, mas minha mente ouviu Daisy.
Eu corro para o carro. Quando troco as sacolas de mão para
colocá-las todas em uma só e com a outra abrir a porta, uma delas
arrebenta, enviando cebolas e quatro laranjas rolando em todas
as direções.

“Porcaria!” Eu me atrapalho com o resto das compras


enquanto tento recolher as mercadorias fugitivas.
“Eu sempre peço a eles para colocarem duas sacolas nas
minhas coisas.” Doug se abaixa para pegar uma laranja.

Que se fodam as laranjas. Eu alcanço minhas chaves...


minhas chaves... Onde estão minhas chaves?

“Procurando por isso? Você sempre consegue largar suas


chaves quando está perto de mim. Por que será?” Ele as pendura
na minha frente como fez fora do meu apartamento.
Eu tento puxar as chaves, e ele as puxa no último segundo.
Meus joelhos tremem enquanto engulo cada respiração.

“Estou apenas brincando com você.” Um sorriso psicótico


atravessa seu rosto cheio de cicatrizes, e ele estende minhas
chaves novamente. “Nós deveríamos sair algum dia. Tomar uma
bebida e brindar à nossa amiga, Erica, que se foi.”
Que você matou, grita minha cabeça, mas estou tão
paralisada de medo que não tenho certeza se eu poderia encontrar
voz suficiente para gritar se ele tentasse fazer alguma coisa
comigo. Antes que ele possa me insultar mais, pego as chaves e
entro no meu carro, trancando as portas enquanto ele fica ao lado
da minha janela como um palhaço em um filme de terror.
Dê partida no carro.

Engate a marcha ré.

Pise no acelerador.
Crash!

JEWEL E. ANN
Meu coração acelerado explode e quase molho minhas calças.
Eu bati em um carro. Oh meu Deus! Faço uma careta, olhando no
espelho retrovisor. Quando meu olhar se volta para Doug, ele
acena e anda na direção oposta.

Uma hora depois, chego em casa com a traseira amassada,


bochechas manchadas de lágrimas e uma cópia do boletim de
ocorrência. Eu disse ao outro motorista que um homem me
ameaçou, e que estava apenas tentando fugir. Quando disse ao
oficial a mesma coisa, ele me perguntou o que o homem fez para
me ameaçar.

Eu não consegui explicar.


Eu não tinha nada a não ser divagações de uma mulher
louca, ou pelo menos foi como me senti quando o policial me deu
um olhar menos que simpático. Eu não estava tentando deixar de
pagar pelos danos, só queria que eles entendessem.

Esse tem sido o tema recorrente da minha vida –


incompreensão.

“Oi, onde você esteve? Eu precisava da cebola uma hora


atrás. Corri até a minha mãe para pegar uma emprestada”, Griffin
diz de costas para mim enquanto desliga o fogão e tira uma panela
do fogo.

“Desculpa.” Largo minha bolsa e a outra sacola de compras


no chão.

O baque recebe toda a sua atenção. Ele aperta os olhos para


a sacola no chão antes de olhar para mim. Não sei em que situação
estamos depois da noite passada. Eu tenho o direito de cair em
seus braços? Será que ele vai me ajudar ou será que a mera
menção do nome de Doug o fará pensar em minhas lembranças
confusas?

“O que há de errado?” Ele se move em minha direção.

JEWEL E. ANN
Eu preciso tanto de seus braços agora, mas não posso nem
me mexer. Cada centímetro de mim, incluindo minhas emoções,
parece esgotado e entorpecido.

Grif pega a sacola de compras, inspecionando seu conteúdo


antes de me olhar de novo. “Você esqueceu a cebola de qualquer
maneira” Ele para, mais confusão distorce seu rosto. “Você esteve
chorando?”
“A sacola rasgou”, eu digo em uma voz monótona, sem piscar.
“E vi o Doug Mann. Então dei ré e acertei o carro de uma senhora.”

“Jesus...” Ele coloca a sacola na mesa e me puxa para o lugar


que preciso estar mais do que em qualquer outro lugar do mundo.
“Você está bem? Você se machucou? Ele fez alguma coisa para
você?”
Estou segura. Nos braços desse homem, estou sempre
segura. Ele é meu amante, meu protetor, meu lugar neste mundo
onde posso me perder e me encontrar.

“Swayz?” Ele me afasta um pouquinho. “Você. Está. Bem?”

Pisco várias vezes, balançando a cabeça, mas não querendo


dizer sim. Eu não estou bem. Não acho que vou ficar bem
enquanto Doug Mann estiver livre.
“E se eu me aproximar dele? E se o pegarmos antes que ele
mate de novo?”
Griffin balança a cabeça. “Do que você está falando?
Aproximar-se dele? Você está brincando comigo?”

“Não posso viver assim.” Dou um passo para trás,


balançando a cabeça. “Eu sei que você não pode entender
completamente, então estou pedindo para você confiar em mim.
Ele é um assassino, Griff. Ele fará de novo. E ele está com os olhos
em mim porque sabe que eu sei. Viver minha vida olhando por
cima do meu ombro não é maneira de viver.”

Griffin solta um suspiro pesado enquanto coça a nuca.


“Vamos nos mudar.”

JEWEL E. ANN
“O que? Não. Você está louco?”
“Eu posso procurar uma vaga em outra oficina. Podemos ir a
algum lugar onde haja mais vagas de emprego para você. Somos
jovens, Swayz. Podemos ir a qualquer lugar e fazer o que
quisermos.”

“Eu não vou fugir.” Minha voz fica mais alta. “Ele poderia nos
seguir. Ele é um assassino. Um homem perigoso. Nós não
podemos simplesmente ir embora. E se ele acabar com outra vida?
Eu não posso ficar com isso na minha consciência. Nós
precisamos...”

“Swayze!” Ele coloca as mãos na cabeça enquanto olha para


o teto, entortando seu pescoço malhado. “Eu posso ir direto para
o apartamento dele e acabar com sua com sua vida, mas não vou
deixar você se colocar no caminho do perigo. Apenas…” Ele
balança a cabeça com outro suspiro frustrado. “O que ele disse
para você?”
“Ele disse que devíamos nos reunir para uma bebida e
brindar a Erica. Quem diz isso? Ela não era sua amiga. Ele não
era nada além de um vizinho assustador. E ele sabia meu nome.
Eu nunca disse a ele meu nome!”
“Ele provavelmente me ouviu dizer isso no dia em que Erica
morreu e você o acusou de ser o assassino.”

Eu cavo meus dentes no lábio inferior. “Não. E se eu tivesse


ouvido mal? E se ele tiver dito Daisy e não Swayze?”
“Foda-se... não isso.”

“Sim. ISSO! Isso. Isso. Isso! Você tem que aceitar isso, Griffin.
Goste ou não, a única explicação para o que eu sei e para as
lembranças que tenho é que sou ela. Ela sou eu. A ideia de
reencarnação pode não fazer sentido para você ou para um monte
de outras pessoas, mas é, na verdade, a única explicação. É um
pressentimento profundo que tenho sobre Doug Mann. Eu vejo
coisas na minha mente. Ouço a voz dele. Eu ouço a voz dela. As

JEWEL E. ANN
memórias do passado de Nate. As imagens que eu tenho de
pessoas que aparentemente são estranhos completos... Gah!”

Jogo meus braços no ar. “Meu passado inteiro! Esta é a razão


pela qual eu sabia mais do que deveria saber de coisas muito
específicas. Eu sabia o que ela sabia. Todos aqueles testes
estúpidos. Todos aqueles anos perdidos. Ninguém pensou em
considerar que eu estava reproduzindo partes de outra vida. É
como jovens prodígios, só que não sou prodígio. Eu sou apenas
uma garota que foi assassinada por algum doente. Minha alma
não teve um ponto final.”
Sua mandíbula relaxa enquanto seu olhar se torna nublado.

Eu espero. É muito para processar. Talvez se continuar


alimentando isso com doses administráveis, ele aceitará e aceitará
quem eu sou e quem eu era.
“Salmão, feijão verde e batata doce.”
OK. Talvez eu tenha lhe causado uma overdose hoje à noite.

Ele pisca, focando em mim por uma fração de segundo antes


de voltar para a preparação do jantar.
Nós comemos em silêncio.
Preparamo-nos para dormir.
Encontramos o conforto dos braços um do outro.

Fazemos tudo sem compartilhar outra palavra.


Eu acho que às vezes a vida tem que se resolver sozinha.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 13

“Eu vi você entrando. Bela caminhonete.” Nate sorri.


Tirando minha jaqueta, dou um beijo em Morgan que está
rolando em um cobertor com uma dúzia de brinquedos. “Parece
que você está se sentindo melhor.”

Ele prepara um pedaço de torrada. “Melhor? Sim.


Espetacular? Não. Mas não gosto de perder aula.”

Eu solto uma risada. “Eu acho que esperar um dia


espetacular é simplesmente ganancioso. Ontem foi um dia terrível.
Não preciso de espetacular. Já fico satisfeita com não terrível.
Você deveria ficar também.”
Morgan sorri quando fico de quatro e acaricio meu nariz em
seu pescoço.
“Se bem me lembro, fui o único que chafurdou na miséria
ontem. Como é que seu dia foi para o ralo entre sair daqui de casa
e ir para a cama ontem à noite?”
De volta aos meus calcanhares, respiro fundo. “No caminho
de casa, parei na mercearia. O cara que matou minha amiga,
Erica, estava na fila atrás de mim. Eu corri para o meu carro e
uma das minhas sacolas arrebentou. Então larguei minhas
chaves. Ele as pegou e me provocou. Então, completamente
confusa, dei ré e bati em outro carro. Quando cheguei em casa,
tentei explicar para Griffin porque preciso atrair Doug para pegá-
lo, para que ele não faça com outra garota o que fez com Erica e
Daisy.”
Nate congela no meio do caminho de dar outra mordida na
torrada. Olhos sem piscar.

JEWEL E. ANN
Escapou. Daisy acabou de sair da minha boca em uma onda
de frustração e emoções cruas.

“O que você acabou de dizer?”


Meu olhar se desloca para Morgan. Faço cócegas na planta
dos pés dela. “O homem que matou Erica é o mesmo homem que
matou Daisy.”
“Você não sabe do que está falando”, diz ele com uma pontada
de irritação em sua voz.
Sorrio. Não é engraçado. No entanto, é incrivelmente irônico.
“Você não precisa acreditar em mim. É provavelmente do seu
interesse se você não o fizer. Mas disse isso e é tudo que importa.
A Dra. Albright disse que eu deveria lhe contar.” Eu dou de
ombros, mantendo meu foco em Morgan. “Pronto. Agora eu te
disse. Talvez ela fique orgulhosa de mim por fazer meu dever de
casa.”
“Nunca mais diga isso. Entendido?”

Eu olho para cima, encontrando sua expressão endurecida.


“Você está brincando comigo?” Meus olhos se arregalam. “Eu sei
que você se sente responsável por não estar com Daisy. Entendo.
De certa forma, você se sente responsável por sua morte – o que
você não é. Mas não se atreva a me repreender por dizer o que está
na minha cabeça. Você pode apenas tentar começar a
compreender o que isso significa para mim? Quando minha mente
vira o carretel de replay e vejo Doug e seu rosto ensanguentado, e
ouço suas palavras, não é um livro ou filme. Essa é a minha vida.
Estou me lembrando do fim da minha vida como Dais y Gallagher.
Estou a ponto de lembrar da minha morte!”

“E me desculpe... eu não queria compartilhar esse fardo com


você, mesmo quando a Dra. Albright disse que eu deveria. Acabou
escapando. Agora você tem que decidir… O que vai ser, Nate?
Somos amigos? Se eu te perdoar por romper comigo por causa do
seu orgulho teimoso, você vai me dar ouvidos? Eu preciso de
alguém para me ouvir. Alguém que acredite em mim. Alguém que

JEWEL E. ANN
me ajude a impedir que esse bastardo doente mate outra pessoa
inocente.”

Este novo, intimidador, realmente irritado Nate se aproxima.


“Você está mentindo para mim. Então pode cancelar qualquer
maldito plano que você possa ter esta noite porque assim que eu
chegar em casa, você vai me contar tudo antes que eu deixe você
dar um passo para fora desta casa.”
“Não diga palavrões na frente de sua filha”, solto através de
um sorriso tenso. Isso não é culpa minha. Eu não sou uma
mentirosa. Ele não vai fazer eu me sentir como se tivesse feito algo
errado.

Os músculos de sua mandíbula se contraem algumas vezes.


Por que tenho deixado os homens em minha vida tão irritados
ultimamente?
Não é minha culpa!
Eu pego Morgan e movo o braço dela como uma marionete.
“Tchau, papai. Você vai se atrasar se não parar de fazer careta
para minha babá favorita.”
“Swayze...” Ele diz meu nome como se estivesse me alertando
para manter minha boca fechada.
“Professor...”

Ele sai.

Eu mantenho toda emoção dentro de mim. Se deixar Nate me


quebrar no processo de tentar se proteger, todos nós sofreremos e
Doug continuará sendo um homem livre. Eu preciso da ajuda de
Nate, então vou tomar alguns socos verbais e receber carrancas
de desconfiança para acabar com esse pesadelo.

*
Griffin está trabalhando até tarde. Eu digo a ele que vou a
uma aula de ginástica; ele não questiona, já que eu sempre fui
esporádica em minhas visitas à academia. E não é mentira. Eu

JEWEL E. ANN
tenho minhas roupas de treino na caminhonete, então talvez eu
só chegue lá um pouco mais tarde. Ou talvez nem vá.

Professor: Eu estou saindo agora. Meu pai vai chegar aí em


breve para pegar Morgan. Prepare sua bolsa de fraldas e
mamadeira. E NÃO VÁ EMBORA.

Eu: Li isso três vezes e não encontrei um ‘por favor’.


Certamente estou com problemas de visão????

Ele não responde.

Dentro de dez minutos seu pai chega.


“Olá?” Ele chama da porta da frente.

Eu prendo Morgan em sua cadeirinha. “Chegando.”


Arremessando a bolsa de fraldas por cima do ombro, entrego
Morgan ao avô.
“Oi, você deve ser Swayze.”
Eu aceno para o rosto familiar. “Eu diria que você deve ser o
Sr. Hunt, não tem como não ver a semelhança.”
“O cabelo me entregou?”

Eu entrego-lhe a bolsa de fraldas e sorrio. “Os olhos.”


“Certo.” Ele me dá um sorriso brincalhão.

“Acabei de alimentá-la e troquei a fralda, mas tem tudo na


bolsa, inclusive roupas extras.”

Ele leva Morgan. “Bem, espero que você consiga seu contrato
renegociado. Nathaniel fala muito de você. Eu odiaria que ele
perdesse uma babá tão boa.”

“Meu contrato...” Eu aceno lentamente. “Sim.”

Ele aponta por cima do meu ombro. “Eu vou levar o outro
carro por causa da base da cadeirinha no banco de trás.”

“Claro.” Eu me afasto e sigo para a porta traseira da garagem.

JEWEL E. ANN
“Foi bom conhecer você, Swayze.”
“Você também, Sr. Hunt.”

“Pode me chamar de David.”

“Ok, David. Você precisa de ajuda para colocar a cadeirinha


na base?”

“Não. Nathaniel me mostrou isso há um tempo, quando saiu


com alguns amigos.”

O professor tem amigos. Claro que tem. Todo mundo tem


amigos. Mas como ele não os mencionou para mim, é como se não
existissem.

Quando ele sai, dou-lhe um último aceno e aperto o botão na


porta da garagem. Ela para no meio do caminho e volta a subir.
A SUV do professor estaciona em seu lugar. Ele parece tão
intimidador quanto quando saiu hoje de manhã. O tempo não
suavizou sua raiva.

Pobre de mim.
“Onde está o jantar?”

Ele fecha a porta e me lança um olhar que faz meus joelhos


tremerem. “Entre. Sem jantar.”
Eu fico onde estou. Ele para a dois passos de mim, colocando-
se ao nível dos meus olhos.

“Você precisa dizer a palavra ‘por favor’. Eu não sou sua


empregada no momento.”

“Vamos. Para. Dentro.”

“Por que você está tão bravo?”

Ele passa por mim. Eu arrasto meus pés atrás dele até a
cozinha.

Jogando sua bolsa no sofá, ele se vira. “Quem é você?”

JEWEL E. ANN
Eu olho “O que você quer dizer?”
“Você não é ela. Daisy nunca faria isso. Eu não aprecio o jogo
doente e distorcido que você está jogando. Você não pode
simplesmente jogar essa porra de acusação de assassinato. Que
diabos está errado com você?”

Meu queixo cai aberto e eu tento fechá-lo, mas ele continua


abrindo, esperando que as palavras saiam. Mas isso não acontece.
Até meus pensamentos estão paralisados.

Eu não tenho absolutamente nada.

“Você disse que pesquisou o dono da casa e foi assim que


conheceu o nome de Doug Mann.” Nate balança a cabeça. “E agora
você está dizendo que sua amiga foi assassinada por ele. Nada que
você diz faz sentido, o que significa que você está mentindo. Por
que você está mentindo sobre isso?”
“Eu...” engulo em seco. “Eu morava no mesmo prédio. Doug
Mann mora em um apartamento um andar acima do meu. Do
outro lado do corredor, em frente ao apartamento de Erica.”

“Então por que você disse que pesquisou por ele na internet?”
Eu pulo quando meu estômago ronca do soco forte de sua
raiva. “Porque eu não queria te machucar com a verdade.”
“A verdade? O que você está chamando a verdade?”
Quem é essa pessoa com raiva? Eu não o conheço. Ou talvez
parte de mim conheça. Nate tinha um gênio ruim, já vi isso com
outras pessoas, mas raramente comigo – ou com ela. Inferno... eu
não sei mais.
“Nate… eu sei o que está na minha cabeça. E não é mentira.”
“Você não sabe nada!” Ele cerra os punhos enquanto calor
toma conta do seu pescoço. Ele caminha em minha direção. O que
está acontecendo?

“Você não pode dizer esse tipo de merda para mim.” Ele dá
outro passo.

JEWEL E. ANN
Eu recuo alguns passos.
“Eu vivi com essa porra de culpa por mais de vinte e dois
anos. Um acidente que eu não estava lá para impedir e que foi me
comendo por inteiro.” Sua voz treme. Seu corpo inteiro treme.
Eu não acho que ele vai realmente me machucar, mas
também não reconheço essa pessoa.
Nem Morgan.

Nem David.

Nenhuma distração.

Ninguém para me salvar.

“E agora você quer desenterrar o passado – meu passado – e


fazer acusações que não pode provar. Você quer abrir o meu
maldito coração dizendo que alguém a assassinou?”

Ele balança a cabeça, vindo em minha direção como se


estivesse pronto para arrancar o meu coração do meu peito. “Não.
Você pode dar o fora daqui. Não quero mais te ver.”
Eu recuo enquanto lágrimas ardem nos meus olhos e raiva
jorra pelas minhas veias. Minha mão voa pelo ar, acertando o
rosto dele. “Foda-se por não entender!”
Raiva pura queima em seus olhos enquanto suas narinas se
inflam.

Eu luto contra o desejo de fugir. Luto contra as emoções que


batem no meu peito enquanto sufoco o grito cru que queima na
minha garganta. Uma leve brisa poderia me destruir de dentro
para fora. Estou enjoada e cada músculo do meu corpo está fraco
e instável.

Humilhação. Dor. Ressentimento. Raiva.

Muita raiva.
Ele agarra meu braço. Eu o puxo tão rápido que meus pés
tropeçam para trás até a parede me pegar.

JEWEL E. ANN
“Não me toque.” Abraço meus braços no meu peito.
Ele respira fundo e solta lentamente. Eu vislumbro algo além
da raiva.
Dor. Ele está com muita dor.
“Então me faça entender.”

Ele não pode dizer isso. Agora não. Não depois de me chamar
de mentirosa. Não depois de me dizer para dar o fora de sua casa.
Eu apenas… ataco.

“Entender? ENTENDER?” Eu o empurro.

Ele agarra meus pulsos com um aperto frouxo e os segura ao


lado de seu peito. Eu tento me soltar. Suas mãos apertam meus
pulsos.
“Solte-me! Não entendo porra nenhuma eu mesma. Mas não
vou mais te proteger.”
Seus olhos estreitam, a mandíbula se fecha.

Minha pele queima em minha cabeça, saindo do controle. “Se


ela estivesse aqui, perguntaria por que você não a salvou. Por que
você deixou seu ego estúpido afastá-la. Porque ela não se afogou
por acidente.” Eu puxo minhas mãos e solto meus punhos contra
seu peito. “Eu fui assassinada!”
Pow! Pow! Pow!

Ele não me impede. Enquanto surto, ele está aqui como um


saco de pancadas, aceitando tudo que lhe dou.

Eu fui assassinada.

Não ela. EU.


Esta não é uma experiência humana normal. As pessoas não
se lembram de vidas passadas por um motivo. A morte deveria ser
um ponto final. As memórias deveriam morrer. Que tipo de Deus
permitiria que alguém revivesse sua morte, porque é o que estou

JEWEL E. ANN
fazendo. Estou à beira de reviver minha morte com um terrível
flashback de cada vez.

Minha luta perde força. Cada golpe no peito dele amolece


mais do que o anterior.
Ainda assim, ele não se move.

Olho para minhas mãos, agora ociosas em seu peito – minha


respiração rápida é o único som entre nós. Algo pinga na manga
da minha camisa e eu pisco, olhando para a mancha molhada por
vários segundos antes de levantar meu olhar para o corpo dele.

Os olhos vagos e avermelhados de Nate olham para uma


distância desconhecida atrás de mim enquanto novas lágrimas lhe
escapam a cada piscada.
Ele não me quebrou. Fui eu quem o quebrou.

“Nate”, eu sussurro, pegando seu rosto.


Ele pega minha mão e a segura em sua bochecha enquanto
seu rosto fica distorcido em um pesar tortuoso, e seu corpo treme
sob minhas mãos.
Suas pernas cedem.
Seus ombros caem.

Seu corpo cai de joelhos.


Eu tento segura-lo, mas não posso, então envolvo meus
braços em seu tronco e caio com ele. Nate me abraça em seu corpo
com mais força do que qualquer um já me abraçou.

“Eu estou tão... desculpe”, sua voz falha.

Meu coração se abre, deixando entrar toda a sua dor. Ele


cobre a parte de trás da minha cabeça e beija o topo dela mais e
mais entre os soluços. Minhas lágrimas vêm mais devagar. Uma
por vez. Um círculo de dor nos envolve.
Eu tenho lembranças da vida de Daisy, mas não tenho
sentimentos disso. Minhas emoções são as de um estranho

JEWEL E. ANN
assistindo a um filme ou lendo uma história. É empatia. Empatia
desoladora.

O silêncio se estabelece em torno de nós novamente, e seu


corpo continua com a bochecha descansando na minha cabeça.
“Sinto muito”, diz ele em um tom derrotado.

Eu me solto do seu abraço, sentando em meus calcanhares


enquanto limpo as bochechas. “Essas foram minhas palavras, não
de Daisy. É como se eu estivesse vendo o que ela viu, e quando
nos tocamos...” Eu pego uma das mãos dele e coloco entre as
minhas “... acho que estou fisicamente sentindo o que ela sentiu.
Mas não sinto as emoções dela. Não é sua culpa que ela morreu.
E não queria dizer nada sobre isso porque não tem como mudar o
passado, mas sei que esses flashes espalhados em minha mente
são dos momentos que antecederam a morte dela. Eu vejo Doug.
E aquele longo corte no seu rosto. Eu vejo assassinato em seus
olhos. Ele matou Daisy e matou minha amiga Erica. E ele vai
matar de novo se eu não pará-lo.”
Nate balança a cabeça. “Não. Foi descartado que aquilo
tivesse sido encenado.”
“Eles estavam errados. Assim como estão errados sobre
Erica. Ele sabe o que está fazendo. Ele sabe como matar pessoas
e fazer com que pareça um acidente. Não sabemos quantas
pessoas já matou.”
Ele tira sua mão da minha e passa os dedos pelos cabelos,
balançando a cabeça. “Eu não sei.” O olhar de Nate percorre meu
corpo antes de se fixar no meu rosto – minhas bochechas, minha
boca, meus olhos. “Daisy...”

“Eu posso ser seu altar. Você pode confessar. Você pode pedir
perdão. Compartilhar seus segredos mais profundos e obscuros,
mas não posso devolver nada tangível, nem mesmo um sussurro
de esperança, porque ela é apenas parte da minha memória. Eu
não posso dar vida a ela de uma maneira real.”

JEWEL E. ANN
Mais lágrimas enchem seus olhos quando sua mandíbula se
aperta. “Porra… O que ele fez? Ele te machucou? Ele...” Nate faz
uma careta.

Ele está pensando o pior. Eu estou pensando o pior.


“Eu não sei”, sussurro.

É assim que ele ficou no dia em que seu pai lhe disse que
Daisy morreu? Foi assim que ele olhou quando o médico lhe disse
que Jenna não sobreviveu? Tem que ser o mesmo olhar, porque a
única vez que vi esse tipo de angústia no rosto de outro humano
foi quando minha mãe descobriu que meu pai morreu.

Ele engole em seco. “Se você sabe, tem que me dizer. Você
tem que me dizer.”

“Não tenho certeza. É muito fragmentado.”


“Mas você sente a dor dela?” Sua voz aumenta e ele
imediatamente estremece de arrependimento.

“Não. Eu não a sinto de jeito nenhum.”

Ele muda de posição, um olhar vago em seus olhos


avermelhados. “Vá para casa.”

A derrota em sua voz estrangula meu coração.


“Nate...” Eu me levanto, pegando sua mão.

Ele a puxa para fora do meu alcance. “Apenas... por favor, vá


para casa.”

Eu concordo.

Nate se vira, desaparecendo em seu escritório, fechando a


porta.
Eu coloco meus sapatos e casaco, parando por alguns
segundos quando abro a porta da frente. Como posso quebrá-lo
assim e simplesmente sair?

JEWEL E. ANN
Depois de fechar a porta, deslizo para fora do meu casaco.
Quando o penduro no gancho, o rugido mais gutural troveja de
seu escritório, seguido por um tornado de clanks, thunks e coisas
se quebrando.

Eu congelo com meu coração alojado na garganta. Depois de


alguns segundos de silêncio, rastejo em direção ao seu escritório,
pisando cautelosamente com medo do que está do outro lado da
porta.

Abrindo a porta, eu encontro Nate no chão, seu corpo


curvado, as mãos cobrindo o rosto enquanto ele silenciosamente
soluça entre os restos de tudo que estava em sua mesa.

Eu me debruço atrás dele e abraço suas costas. Ele salta a


princípio, e então mais emoções rasgam seu peito.
“É minha culpa…”
“Não.”

“E se ele...” Suas palavras ficam presas enquanto seu corpo


treme mais.

“Não faça isso.”


“E se ele tiver feito coisas? Im… coisas impensáveis.”

Deixando-me cair de joelhos, rastejo na frente dele,


agarrando seu rosto e forçando-o a olhar para mim. Eu realmente
não sei o que dizer. Ele não está pensando em nada que eu não
tenha pensado. Para assassinato, eles tiveram que fazer uma
autópsia. Então, nada deve ter aparecido. Nenhum sinal de
estupro ou coisa parecida. Mas… a mente ainda vai para um
milhão de coisas que ele poderia ter feito a ela que não seriam
detectáveis com uma autópsia.

Eu não posso ir lá e nem ele deveria.


“Pensar nessas coisas não vai mudar o que aconteceu.” É isso
aí. É tudo que tenho.

JEWEL E. ANN
Eu não tenho que sentir o que ela sentiu. Eu sinto agora, e é
o tipo de dor que nunca desaparecerá completamente. A dor no
meu peito vai durar para sempre.

Nate coloca um braço em volta da minha cintura e me puxa


para o seu colo, da mesma maneira que me segurou na cama na
primeira vez que tentei contar a ele sobre Doug.

Abraçamo-nos como se estivéssemos apenas tentando


segurar a vida, como se estivéssemos nos segurando juntos.

Depois de longos minutos, ele me solta. Sento-me até nossos


rostos estarem a poucos centímetros de distância. Suas mãos
cobrem meu rosto como se eu fosse alguém muito precioso para
ele. Eu prendo minha respiração. Ele não vai me beijar. Tenho
certeza disso. E gostaria de poder definir o que é isso entre nós,
mas eu não sei. Nem posso resistir ao seu toque. É como se meu
corpo ansiasse pela familiaridade. É apenas curiosidade mórbida
e obsessão pela história de Daisy e Nate?
Épico.
Trágico.
Desgastante.
“Obrigado por me encontrar”, ele sussurra.
Por que ele continua dizendo isso?
Minhas mãos se movem para os ombros dele. Eu só preciso
me estabilizar. Preciso me sentir no controle. “Você realmente
acredita nisso? Que te encontrei?”

Seus polegares acariciam minhas bochechas e ele sorri. É


triste. É lindo. Mas principalmente, é familiar. “Sim.”
Como pode o toque de dois homens diferentes alcançar
minha alma? Estou noiva de Griffin. Eu o amo inequivocamente.
Mas quando as mãos de Nate encontram minha pele, não parece
errado, e talvez devesse. Parece que ele está recuperando algo que
lhe pertence. É como se ele estivesse sussurrando um assustador

JEWEL E. ANN
“obrigado por cuidar bem dela, mas vou tomar conta daqui para
frente.”

E agora eu quero me derreter nele.


Fechando meus olhos, me inclino em seu abraço, passando
meus dedos ao longo de seus braços. “Por que você disse que
amava Daisy tanto quanto sua esposa? Você casou com Jenna.
Você teve uma criança com ela.” Eu abro meus olhos.
A boca de Nate se encaixa em um sorriso agradável, como se
estivesse olhando para sua filha, não para sua babá.

“Não faz sentido, Nate. Você deveria ter amado Jenna mais –
muito mais.”
“Acho que amamos muitas pessoas por vários motivos
diferentes. Eu também acho que as pessoas entram e saem de
nossas vidas para nos dar uma experiência. Você era...”
“Não” Eu puxo minha cabeça para trás, tropeçando em
algumas coisas enquanto me levanto. “Não diga você. Diga ela.”

Suas sobrancelhas se unem quando ele se levanta para ficar


em pé. “Eu não me importo que seus olhos tenham uma cor
diferente. Eu não me importo que você seja quinze anos mais nova
que eu. Você é minha amiga.” Sua voz fica rouca com a última
palavra. “Algumas coisas duram para sempre. E se a nossa
amizade durar para sempre? E se a conexão que temos transcende
o tempo?”
Tenho certeza que os ses nunca foram mais bonitos, exceto...
e se ele estiver certo?

“Você me ensinou como ser um amigo. Você me ensinou a


amar. Foi meu primeiro beijo e meu primeiro desgosto. Você
alimentou minha fome. Você me confortou quando minha família
desmoronou. Você me convenceu a sonhar grande. Você foi meu
absoluto tudo.” Ele franze a testa. “Você não me deu um filho, mas
com certeza me deu a vida.”

JEWEL E. ANN
Eu afasto as lágrimas antes que elas escapem. “Eu tive esse
flashback. Estava em cima de você… Meu cabelo fazendo cócegas
no seu rosto. Você exibia o maior sorriso e disse: “Então, o que
você...”

“Então, o que você vai fazer comigo”, diz Nate com um sorriso
quase tão grande quanto a memória na minha cabeça. E eu sei
agora... Ele vai ficar bem.
“Você costumava lutar comigo. Eu deixava você me prender
no chão, ou na minha cama, ou em um pedaço de grama e ervas
daninhas na antiga propriedade abandonada. Você dizia “ha” tão
triunfantemente. E eu sorria porque não havia nada que amasse
mais do que seu cabelo roçando meu rosto. Eu sempre dizia a
mesma coisa... ‘Então, o que você vai fazer comigo?’”
Eu sorrio. “E o que ela dizia?”
“Você me lambia. Era estranho. Mas com as piores más
intenções brilhando em seus olhos, você lambia uma trilha do
meu pomo de Adão até a ponta do meu queixo.” Ele encolhe os
ombros, torcendo os lábios para esconder o sorriso. “O que posso
dizer? Você era uma garota estranha.”

Empurro seu peito. “Pare de dizer isso. Não é quem eu sou.


Ela está sequestrando meu cérebro, mas eu não era a garota
estranha que te lambeu.”

Isso.
Nós podemos fazer isso. Nós podemos descobrir o passado
juntos. E quando um de nós se quebrar, o outro saberá como colar
todas as peças de volta no lugar.

JEWEL E. ANN
CAPITULO 14

Ela está aqui.

Mas eu não posso realmente tocá-la.


Ela está aqui.
Mas não posso realmente vê-la.

Ela está aqui.

Mas não é mais minha.

“Prometa que você ficará longe de Doug Mann. Prometa que


você não vai a lugar nenhum sozinha até resolvermos isso. Sempre
tranque a porta quando estiver aqui. Lembre-se de que há um
botão de pânico no teclado do sistema de segurança.”

Sua expressão jovial desaparece. “Não vá a lugar nenhum


sozinha?” Ela tosse uma risada. “Isso é um pouco difícil de fazer.
Eu não tenho guarda-costas.”

“Você tem família e amigos. Encontre alguém para ir com


você. Encontre alguém para ficar em casa com você. E se não
puder, prometa que vai me ligar.”

Eu odeio assustá-la, mas essa revelação me destruiu. Daisy


foi assassinada. Quando ela me contou, parecia que meu pai me
contava tudo de novo.

O corpo de Daisy.
Afogado.

JEWEL E. ANN
Morto.
Eu não a salvei naquela época, mas tenho certeza que não
vou deixar a história se repetir.
Pisando sobre os destroços, eu a trago para o meu corpo e
abraço. Swayze Samuels é um choque de todos os meus mundos.
É difícil entender os sentimentos que tenho por ela.
O chefe em mim acha que ela é a pessoa perfeita para cuidar
de Morgan.

O garoto em mim se sente feliz por ter sua amiga de volta.

O pai em mim quer protegê-la como minha própria filha.

Mas o homem em mim quer coisas que eu não deveria querer


– não de uma mulher de vinte e dois anos comprometida com
outro homem.
Então beijo sua cabeça como uma amiga ou um pai, mesmo
que quisesse saber como é a pele logo abaixo de sua orelha contra
meus lábios ou qual seria o sabor de sua língua deslizando contra
a minha.
Eu a solto, dando um passo cauteloso para trás antes que
meu pau fique mais duro. Eu me reprendo por deixar esses
pensamentos tomarem forma na minha cabeça. Mesmo que o Dr.
Greyson os rejeite como inofensivos, eles não parecerão
inofensivos quando eu não puder controlar uma ereção.

“Terminamos de renegociar meu contrato?” Ela inclina a


cabeça para o lado.

“Você conversou com meu pai?”


“Brevemente.”

“Ele gostava de você.”

Ela franze a testa. “Daisy.”


Eu enfio as mãos nos bolsos. “Ele achava que você era boa
para mim.”

JEWEL E. ANN
Com um leve aceno de cabeça, ela revira os olhos. “Ele achava
que Daisy era boa para você e isso é porque ela alimentava você
quando o dinheiro estava apertado.”

Eu aceno com a cabeça, pensando em cada saco de comida


que ela trouxe para a minha casa, os dois sanduíches que ela
embalava em seus lanches escolares, o dinheiro que enfiava na
minha carteira quando eu não estava olhando. “Eu não te
mereço.”

Ela vai falar, mas aperta a mandíbula fechada como se


estivesse desistindo de me corrigir. Daisy não é uma pessoa
separada, ela está apenas em um corpo diferente com um nome
diferente, mas parte dela está bem na minha frente. Eu tomarei
qualquer parte que possa conseguir porque amava tudo nela. Eu
ainda amo.
“Vou levá-la ao seu carro.”

Swayze acena com a cabeça.

Há muito mais que eu quero saber. A Dra. Albright


mencionou hipnose? Eu daria qualquer coisa para ela se lembrar
de nós como eu me lembro de nós.

“Obrigada, meu grande guarda-costas.”


Seguro a porta da caminhonete preta. “De nada.”

Ela esfrega os lábios, abraçando-se como se estivesse se


aquecendo e como se estivesse esperando por algo mais. Eu não
vou beijá-la, mesmo que seja tudo o que quero fazer no momento.
De jeito nenhum vou ser esse homem. Mas também não sou um
santo.

“Você tem a minha foto no bolso hoje?”

“Pfft...” Seu nariz se contrai. “Você está cheio de si mesmo,


professor Hunt.”
Eu levanto uma sobrancelha. “É mesmo?”
“Sim, é.” Ela se vira para subir no veículo.

JEWEL E. ANN
Deslizo minha mão esquerda em torno de sua cintura,
pressionando-a até o estômago para prendê-la de volta ao meu
peito. E foda-se se ela não ofega de uma forma que imagino que
faria se meu pau estivesse deslizando dentro dela pela primeira
vez.

Basta dessa merda! Minha mente guerreia consigo mesma e


com meu corpo.
Os dedos da minha mão direita mergulham no bolso da frente
dela. Eu tiro uma foto – a minha foto. Ela não luta comigo.
Nenhuma palavra. Não tenho certeza se está respirando.

“Eu ainda estou cheio de mim mesmo?” Eu seguro a foto no


rosto dela. Adoraria ver sua expressão. “Sem comentários? OK.”
Deslizo a foto de volta para seu lugar. “Eu gosto de andar no seu
bolso da frente.”
Ela respira rapidamente e se vira, os olhos estreitados. “Sim,
bem... Aposto que você ainda tem aquela foto minha na sua
carteira.” Seu queixo se inclina para cima, ombros para trás.

Felicidade rouba meu sorriso. Ela me traz uma alegria


insondável. É a razão pela qual dei seu nome para minha filha. E
eu amo quando ela diz me e eu, em vez de Daisy ou ela.
“Sempre”, digo com total sinceridade.

Swayze relaxa um pouco quando me rendo a total


honestidade. “A foto na sua carteira faz sentido.” Ela olha para a
fração de espaço entre nós. “A foto no meu bolso não tem o mesmo
sentido.”

“Então por que o fascínio com ela?”

Ela encolhe os ombros. “Eu amo a expressão em seu rosto.


Seu cabelo. Seus lábios. O Y nas sobrancelhas. A barba ao longo
da sua mandíbula. Mas principalmente…” Seu olhar encontra o
meu novamente. “Parece uma ponte para a lacuna entre o passado
e o presente. Parece uma grande peça para o quebra-cabeça que
está na minha cabeça.”

JEWEL E. ANN
E como não posso me parar, eu deslizo minhas mãos em seus
cabelos e beijo o topo de sua cabeça mais uma vez, porque amo
essa sensação. Ela descansa as palmas das mãos suavemente no
meu peito, e também adoro essa sensação. Basicamente, amo
todas as sensações – certas ou erradas – que recebo dela.

Se eu fosse Griffin, acabaria com minha raça por tocar em


algo que não é meu. Mas o problema é… quando eu a toco, minha
cabeça fica vazia, ouvindo apenas o meu coração sussurrando
“minha”.

“Dirija com segurança.”

“Boa noite.” Ela sobe e me dá um último sorriso.

“Ei, que surpresa inesperada.” Minha mãe me abraça quando


passo pela porta da frente.
“Griffin está trabalhando até tarde e eu queria falar com
você.”
“Você já comeu?”

Eu a sigo para a cozinha. “Ainda não.”

Ela gesticula para mim sentar à mesa. “Vou fazer um


sanduíche enquanto você fala.”

Eu não estou com tanta fome, mas pode ser mais fácil contar
tudo a ela quando não está olhando para mim o tempo todo como
uma terapeuta. “Isso seria bom. Obrigada.”

“Então, como vai? E as coisas do casamento?” Ela pega as


coisas da geladeira.

“Descobri porque eu sabia mais do que outras crianças da


minha idade.”

JEWEL E. ANN
Mamãe ri. “Uau. Você fez com que seu pai e eu
prometêssemos nunca mais discutir esse assunto. Eu não
menciono isso em anos. Agora vamos conversar sobre isso?” Ela
me lança um olhar incrédulo.

Batendo meus dedos na mesa, eu aceno. “É uma história e


tanto.”
De costas para mim, ela abre frascos e começa a montar o
que parece ser um sanduíche de peru. “Eu gosto de histórias.
Vamos ouvir isso. Era uma vez...”

“Era uma vez, mais de vinte e dois anos atrás, quando eu era
a melhor amiga de Nathaniel Hunt, Morgan Daisy Gallagher.”

Ela se cala.
Eu espero.

É uma bela frase de abertura para uma história.


Sempre bem devagar, ela olha por cima do ombro, lábios
entreabertos.

Eu sorrio. “Eu sei coisas que ela sabia. Pessoas que ela
conhecia, especialmente Nate. Eu vejo estranhos que reconheço,
mas eu me lembro deles há muitos anos… Como antes de eu
nascer. Eu só sabia de muitas coisas aleatórias, mas agora não
parece tão aleatório.”
A faca de manteiga bate contra o prato, e ela se vira
completamente para mim. “Swayze...”
Eu levanto minhas mãos, palmas para fora. “Eu sei. Acredite
em mim. Eu sei. É louco. Não é possível. Pede uma explicação mais
lógica. Demorei meses apenas para considerar que isso poderia
ser uma possibilidade real. Mas não há outra explicação. Esta é a
razão pela qual o Dr. Greyson me encaminhou para uma nova
psiquiatra. Dra. Albright é uma espécie de especialista no
assunto.”

JEWEL E. ANN
“Swayze...” Ela se move em minha direção como se eu
pudesse atacá-la.

“Mãe, eu preciso que você acredite em mim para que possa


lhe dizer o que isso fez comigo.”
Com pernas instáveis, ela se joga na cadeira ao meu lado.
“Você está me pedindo para acreditar em reencarnação.”
“Estou pedindo para você acreditar em mim. As pessoas
enchem santuários todos os domingos para adorar a Deus. Eles
não podem provar que Ele existe. Eu tenho mais de uma prova de
que eu era Morgan Daisy Gallagher em outra vida, mais do que
qualquer um de que Deus realmente existe. Muitas religiões
acreditam na reencarnação. E algumas figuras históricas muito
brilhantes também acreditaram nela.”
Ela morde o interior da bochecha, a testa enrugada. “Comece
desde o começo.”
E assim eu faço. Começo com o dia em que vi Nate na sala de
espera do consultório do Dr. Greyson. Nada fica de fora, nem
mesmo a foto no meu bolso. Depois de uma hora tentando explicar
cada detalhe, incluindo Doug Mann e por que fiquei tão
enlouquecida com a morte de Erica, minha mãe parece uma
estátua ou talvez um fantasma, pálida e sem expressão.
“E quanto a Griffin?” Ela fala suas primeiras palavras.

“Eu não sei. Às vezes eu acho que ele acredita em mim, mas
se acredita ou não, não importa. De qualquer maneira, ele odeia
que eu tenha essa conexão com Nate. E não o culpo, mas também
não sei o que fazer sobre isso. Ele quer que eu saia do meu
emprego para que possamos fazer as malas e nos afastar de tudo
isso, mas não posso deixar para trás o que está na minha cabeça.”
“Ele está com ciúmes?”

“Acho que sim. É difícil saber com ele. Ele é um pilar de


confiança e é bom em esconder suas emoções.”
“Ele deveria estar com ciúmes?”

JEWEL E. ANN
“Não.”
Ela segura a foto de Nate que ainda está na mesa. “Você tem
certeza?”
Espalhando meus dedos sobre o meu lábio inferior, eu olho
para a imagem. Depois de alguns segundos de silêncio
contemplativo, lágrimas brotam em meus olhos. “Eu sinto que
estou me remontando. E não sei se Griffin ainda vai me amar da
mesma maneira quando conhecer o todo.”

Mamãe coloca a foto de volta na mesa. “Conte-me sobre essas


peças.”

Um pequeno sorriso luta em meus lábios. Ela já fez tanta


terapia que soa como uma terapeuta.
“São emocionantes e absolutamente aterrorizantes. Quando
estou com o Nate e estamos falando do passado, não é estranho.
Parece natural. Ele é tão familiar. É o epítome de se sentir como
se conhecesse alguém toda sua vida. E eu adoro a Morgan. Acho
que não importa o que aconteça, mas quando estou lá, não
consigo parar de pensar que ele deu o meu nome à sua filha. É algo
que marca a vida.”

Minha mãe dá um lento aceno, tentando processar tudo o


que estou jogando em cima dela. “Além da lisonja dele nomear sua
filha em homenagem a essa pessoa que você acredita ser você, e
da familiaridade, como você se sente em relação a ele? Qual é o
seu relacionamento com ele? Swayze…” Um pouco de
arrependimento penetra em seus olhos. “... você tem sentimentos
por ele que vão além da simples amizade?”

“Não. Eu não tenho...” Solto um suspiro. “É complicado. É


confuso. Quando estou com Griffin, tenho uma necessidade que
ele me aceite não só como Swayze, mas também as partes de mim
que são Daisy. Mas quando estou com o Nate, gosto da
separação.”

“Porque se você é Daisy com ele, então Swayze não está


traindo seu noivo.”

JEWEL E. ANN
“Mãe...” Eu franzo a testa. “Não é isso que está acontecendo.
Eu não estou traindo Griffin.”

“Você cruzou a linha com Nate?”


Não tenho certeza se deveria estar ofendida por ela não
confiar em mim ou exaltada por estar protegendo Griffin.
Empurrando minha cadeira, eu termino de fazer o sanduíche que
ela começou. “Você terá que explicar esta linha.”

“Você o beijou?”
“Não.”

Ele me beijou na cabeça, mas isso não conta. Conta?

“Você quer beijá-lo?”

Eu termino de cortar o sanduíche ao meio e coloco a faca para


o lado, parando um momento para conter minha reação instintiva.
Esta é minha mãe, a pessoa que me ama incondicionalmente. Ela
me amará se eu encontrar Griffin no altar. Ela me amará se ele
me deixar amanhã. Eu não tenho que me esconder dela.

“Eu amo Griffin. Não houve um dia desde que nos


conhecemos que questionei querer estar com ele – não desde que
conheci Nate, não desde que eu reconheci meu papel, não quando
brigamos, não ontem, não hoje, e eu não vou questionar isso
amanhã.”
“Mas?”

Meu olhar se desloca da faca para minha mãe. “Mas Nate se


tornou minha obsessão.”

Nós duas movemos nossa atenção para a foto.

“Eu não posso desligar meu cérebro, mas a única coisa que
me assusta mais do que o dilúvio de memórias é essa curiosidade
insaciável.”

“Sobre?” Ela me lança um olhar de soslaio.

JEWEL E. ANN
Mordendo meus lábios, eu procuro uma maneira de explicar
isso sem parecer que eu quero que aconteça. “Eu me pergunto
qual seria a sensação dos seus lábios se estivessem pressionados
no meu pescoço, onde ele costumava beijá-la... ou a mim. Eu me
pergunto se isso traria mais lembranças.”

“Ou se começaria um incêndio que queimaria todo o seu


mundo?” Suas sobrancelhas levantam, me dando aquele olhar de
advertência maternal.

“Sim... ou isso.”

“Eu preciso lhe dar o sermão da curiosidade que matou o


gato?”

Sacudo minha cabeça.


“Você acha que Griffin pode estar certo? Talvez você devesse
encontrar outro emprego. Eu sei que isso não mudará as
memórias que você tem, mas eliminaria a tentação.”

Eu pego metade do meu sanduíche e dou uma mordida. “Você


faz parecer que vou pular na cama com ele”, murmuro.

“Podemos conversar de mulher para mulher?”


Eu dou de ombros.

“Você está carregando uma foto dele sem camisa no seu


bolso. Apenas me preocupo que se ele colocar esses lábios em seu
pescoço, você não passaria a se perguntar sobre qual seria a
sensação de tê-los em outros lugares. Onde isso pararia, se não
em uma cama?”

“Não está indo nessa direção.” Não quero soar tão espinhosa.
“Somos amigos, mas mais do que isso, Morgan está ligada a mim
e eu também estou ligada a ela. O fato é que ele me chamou para
cuidar dela, e preciso de um emprego. Eu gosto do meu trabalho.
E de um jeito que não significa eu pular na cama com ele, Nate e
Morgan parecem como uma extensão de família.”

JEWEL E. ANN
“Eu sou sua família. Griffin, seus pais e suas irmãs são sua
família. Nós te amamos. Isso pode não acabar bem, e você sabe
disso. E se o que você disse sobre Doug Mann estiver correto, não
é seguro você estar em qualquer lugar onde possa encontrá-lo
facilmente. Amanhã você precisa voltar para a polícia e defender
seu caso, fazê-los entender. Querida, Griffin não está tentando
afastar você de Nate e Morgan, ele está tentando te proteger.”

“A polícia não vai acreditar na minha história de


reencarnação, por mais que eu tente. E eu não vou passar o resto
da minha vida fugindo. Quero fazer alguma coisa para não ter que
sair da minha casa.”

“Sua casa ou de Nate?”


Eu mordo minha língua porque ela está coberta de palavras
defensivas que não justificam nada.
“Eu preciso ir para casa.”
Com um sorriso triste e derrotado, mamãe me puxa para um
abraço. “Estou do seu lado, não importa o quê. Tudo que eu quero
é que você seja feliz.”

“Obrigada.”

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 15

“É bom ver você de novo, Swayze. Por favor, sente-se.”


“Obrigada.” Eu tomo meu lugar em frente a Dra. Albright.
Gosto dela. Ela é calorosa e acessível.

“Chá?”

“Estou bem, mas obrigada.”


“Como estão as coisas desde a última vez que conversamos?”

“Interessantes, suponho, seja a melhor palavra. Eu disse a


Nate que acho que Daisy foi assassinada. Ele não foi realmente
receptivo no início, na verdade, ele ficou muito bravo, mas acho
que estamos bem agora. Ele está preocupado com Doug. E acho
que está frustrado porque a única prova que temos é a de uma
garota de vinte e dois anos que afirma ser a alma reencarnada de
sua amiga morta. A polícia não é receptiva a isso.”
Ela acena com a cabeça uma vez antes de tomar seu chá.
“Eu contei tudo para minha mãe também. Acho que a parte
mais difícil para mim são todas as lacunas que ainda não consegui
preencher.”

“Nós poderíamos tentar preencher algumas delas com


hipnose, mas você precisa ter certeza de que é o que você
realmente quer. Existem prós e contras. Você precisaria decidir se
os benefícios superam os riscos.”
Eu torço minhas mãos no colo. “Quais são os prós?”

“Possível aumento da memória de certos eventos.


Compreensão mais profunda. Validação. Talvez até o que seria
necessário para colocar um assassino atrás das grades.”

JEWEL E. ANN
“A hipnose é reconhecida como algo confiável e válido em um
tribunal de justiça?”

“Estou pensando mais na hipótese de você lembrar algo que


possa ajudar a esclarecer o caso. Algo que autoridades deixaram
de ver na primeira vez.”

Concordo. “E os contras?”
“Bem, o mais óbvio é que pode não funcionar em você. Além
disso… há a possibilidade de que a informação que poderia colocar
Doug Mann atrás das grades também possa lhe dar imagens ou
memórias que você não consiga esquecer. O tipo que te trará
pesadelos. O tipo que leva ao Transtorno de Estresse Pós-
Traumático. É uma troca arriscada, e não quero menosprezar isso
tudo.”
“Agora não me lembro dos detalhes exatos da morte de Daisy.
Minha morte.” Eu me encolho. Ainda é incrivelmente estranho.
“Mas você está dizendo que isso poderia acontecer. E quem quer
reviver sua morte, especialmente se foi trágica e traumatizante?”
“Precisamente. Mas as chances são realmente pequenas. A
mente inconsciente está lá para protegê-la. Na maioria das vezes,
não podemos recuperar memórias que nossa mente consciente
não consiga lidar.”
“Mas se Doug atacar outra mulher inocente, e eu sentir que
poderia ter evitado...”
“Seria difícil aguentar.”

Eu concordo. “Mas se eu passar o resto da minha vida


revivendo minha morte...”

Dra. Albright solta um suspiro suave. “Eu tive experiência


pessoal com isso. Foram capazes de usar a hipnose para suprimir
a memória que eu tinha de uma morte trágica. Mas não há
garantia de que funcionaria. É uma decisão muito difícil, de
qualquer ângulo que se olhe. É por isso que quero que você pense
muito antes de prosseguir. Quero que você discuta isso com sua
família porque também poderia afetá-los.”

JEWEL E. ANN
“O trauma?”
Sua unha bem-feita traça a borda da xícara de chá enquanto
seus olhos honestos me encaram. “Sim, mas a maneira como você
se vê pode mudar também. Se você se conectar em um nível mais
profundo com sua vida como Daisy, isso pode mudar quem você é
como pessoa agora.”

“Porque eu vou me sentir mais como Daisy?”

“É possível.”
“Eu poderia me sentir mais perto de Nate?”

“Possivelmente.”

Eu quero me sentir mais perto de Nate?

*
“Você está atrasada.” Griffin veste sua jaqueta antes de eu
fechar a porta.
“Atrasada para o quê?” Eu deposito minha bolsa na cadeira
da cozinha.

“Boliche.”
“Boliche?”

Seus olhos se arregalam, a descrença tomando conta de cada


centímetro de seu corpo, que parece bem sexy essa noite. Griffin
grita sexo obsceno quando ele usa aquele jeans desgastado e
desbotado e aquela camiseta vintage dos Doobie Brothers.

Eu pressiono a mão na minha testa. “Boliche. Está certo. É


hoje à noite. Boliche com seus colegas de trabalho.”

“O olhar em seu rosto diz que vou sozinho.”

“Não. Você não vai sozinho.” Passo por ele indo em direção ao
quarto. “Acabei me distraindo no consultório da Dra. Albright.
Deixa só eu colocar algo menos caseiro do que calças de yoga e
um moletom com capuz.”

JEWEL E. ANN
“Eu já estou atrasado. Não se preocupe com isso. Onde estão
as chaves da minha caminhonete?”

“Minha bolsa. E estou indo. Apenas espere!” Eu pulo de um


pé para o outro, puxando meu jeans. “Onde está minha camiseta
vermelha com decote em V?” Procurando através das camisas no
armário, não consigo encontrá-la.

“Estarei em casa antes da meia-noite. Não espere por mim.”


“Filho da puta”, murmuro, agarrando a primeira camiseta
que posso arrancar do cabide e puxá-la enquanto corro atrás dele.
“Apenas espere!”

Meu pedido não é ouvido. Ele está fora da porta. Eu pego


minha bolsa, pego meus sapatos e corro atrás dele. O
aborrecimento em seu rosto quando pulo na caminhonete não é
páreo para a minha carranca – graças aos meus pés descalços que
sofreram por causa de sua impaciência.
“Olá? Que diabos? Eu disse que estava vindo.”

Olhando pelo retrovisor, ele sai da garagem. “Sim, bem, você


diz um monte de coisas.”
Eu engulo de volta o comentário sobre o que se arrastou em
sua bunda porque eu não gosto da ideia de ficar trancada fora de
casa mais tarde. Mas, falando sério, é uma questão apropriada
para as circunstâncias.
“Isso é por eu estar um pouco atrasada? Ou por estar um
pouco atrasada porque estava com a Dra. Albright?” Enfio meus
pés em minhas botas de cano baixo.

Seu aperto no volante imita exatamente a sua mandíbula que


está segurando uma resposta.

“Tanto faz.” Eu olho pela minha janela para as luzes da rua


piscando como uma despedida para a última lasca de sol. Pena
que não sou boa em jogar o jogo de ignorar um ao outro. “Você
não vai me perguntar sobre meu dia? Não? Bem, eu vou te dizer
de qualquer maneira. Morgan disse ‘vez’, mas acho que ela quis

JEWEL E. ANN
dizer Z porque eu tenho tentado ensinar a ela meu nome. Então
pedi um sanduiche para o almoço e esqueceram os picles, e Nate
não tem picles em sua casa. Como… quem não tem picles? É um
item de primeira necessidade, não é diferente de ketchup e
mostarda.”

Griffin responde ligando o rádio, um belo tapa na cara.

Eu continuo, apenas mais alto, para que ele me ouça sobre a


música. “Dra. Albright discutiu hipnose comigo. Não tenho certeza
se posso ser hipnotizada, mas estou considerando.”

Clique.

O rádio é desligado.
“O que você acabou de dizer?” Griffin me dá um olhar de
soslaio, muito mais longo do que deveria, já que ele está dirigindo.

“Picles. Eles esqueceram os picles.”


“Foda-se os picles.” Sua atenção retorna para a estrada.

“Bem...” murmuro, “é uma opção, mas não é realmente a


minha coisa.”
Minha tentativa de piada não agrada minha plateia.

“Por quê?”
Eu deslizo minhas mãos sob as pernas para domar o
nervosismo. “Porque Doug Mann precisa ir para a prisão. Porque
eu não me sentirei segura até que ele seja preso. Porque essas
lembranças fragmentadas me fazem sentir como se estivesse
ancorada no passado e perdendo de vista meu futuro.”

“Isso já foi longe demais. Reencarnação? Hipnose? Mistério


de assassinato? Você ouve o que está dizendo?”
“Você não acredita em mim.”

“Eu não sei no que acreditar!” Seus dedos ficam brancos no


volante.

JEWEL E. ANN
“Então acredite em mim. Confie em mim. Ajude-me.”
Uma risada cínica corta o ar. “Ajudar você? Como eu deveria
te ajudar?”
“Não ficando tão irritado por eu estar atrasada para um jogo
de boliche porque estava trabalhando e depois fui à uma consulta
de terapia. Não surtando toda vez que eu menciono o passado ou
Daisy ou Nate.”

Ele estaciona a caminhonete e pula para fora. Eu acho que


esse tópico está em espera até terminarmos de jogar algumas
rodadas. Isso vai ser muito divertido.

Para minha surpresa, ele vem e abre a minha porta. Eu solto


meu cinto de segurança e balanço as pernas, mas antes que eu
possa pular fora, ele se enfia entre as minhas pernas. Os braços
que eu amo envolvem meu corpo enquanto ele descansa a testa
no meu peito.
“Você me deixa maluco.”

Eu aceno com a cabeça várias vezes, embora ele não possa


me ver.
“Se eu acreditar em você, então com certeza não quero que
seja hipnotizada para lembrar-se de mais nada. Se eu não
acreditar em você, então vai me irritar ver você perder tempo e
dinheiro em algo tão insano.”
Eu beijo sua cabeça, sentindo cócegas com a superfície
áspera que está começando a crescer cabelos. Pensamentos
descontrolados de Nate surgem em minha mente. Um beijo na
cabeça não é necessariamente inocente, pode ser íntimo como
quando meus lábios pressionam a cabeça de Griffin. O que Nate
sente quando beija minha cabeça?

“Eu preciso me sentir segura. Você não quer isso para mim?”
Sua cabeça levanta, sinceridade resoluta está em sua
expressão. “Eu nunca deixaria nada acontecer com você.”

JEWEL E. ANN
“Eu sei, mas você não está comigo o tempo todo. Ele estava a
centímetros de mim em um estacionamento e você não estava lá.
Eu não quero essa vida, Griff.”

Meus olhos fecham em um piscar pesado quando as mãos


dele pressionam minhas bochechas.

“Você não terá esta vida. Eu prometo.”


Eu o amo por fazer essa promessa, mesmo que seja uma que
ele não consiga manter. Há uma razão pela qual sempre me senti
segura com Griffin. Eu só espero que quando eu precisar da
segurança dele... Ele esteja perto o suficiente para ouvir meu
pedido de ajuda.

“Vamos lá.” Ele pega minha mão e me ajuda antes de me


enfiar debaixo do braço – meu herói.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 16

Swayze é uma péssima jogadora de boliche. Ela também é um


pássaro arisco sempre que um dos caras do meu trabalho lhe dá
uma bronca por qualquer coisa. Na superfície, ela não se encaixa
no meu mundo. Mas do mesmo jeito que os pulmões precisam de
oxigênio e um coração precisa de sangue, ela é vital para minha
vida.
Não sei ao certo se Doug Mann matou Erica, nem sei se ele
matou Morgan Daisy Gallagher. O que eu sei é que ele chegou
muito perto do oxigênio em meus pulmões e do sangue em meu
coração.
“Posso dizer que sua noivinha é sexy pra caralho sem você
cortar minha garganta?”
Eu tomo um gole da minha água engarrafada, me inclino para
trás na cadeira e olho a bunda perfeita de Swayze enquanto ela
joga outra bola na sarjeta. “Se você não fosse meu chefe, eu diria
que não. Mas vou deixar passar porque você está certo, e quero
manter meu emprego. Mas se disser uma palavra para ela, olhar
para ela por mais de cinco segundos de cada vez, ou deixar sua
mão passar pela mão dela... foda-se o trabalho. Vou acabar com
você.”
Ele ri, tomando um gole lento de sua cerveja. “Justo.”

“Griff, eu sou péssima nisso.” Ela me olha fazendo biquinho,


o lábio inferior saliente enquanto espera que a bola retorne.

JEWEL E. ANN
“Talvez seja todo o vinho barato. Eu deveria cortar seu
vinho?”

Sua cabeça se sacode, o rosto irritado. “Não. Eu não bebi


tanto assim... uh...” Rugas aparecem ao longo de sua testa.
“Vinho, Swayz. Estamos falando de vinho. E o fato de você
não conseguir se lembrar disso por tempo suficiente para terminar
uma frase. Já chega para você.”

Alguns dos meus amigos e seus acompanhantes riem.


Ela pega a bola e balança de volta. Nós todos recuamos
porque seria a terceira vez que ela soltaria na direção errada.
Felizmente, ela segura a bola. “Então já chega para você também.”
Eu sorrio. “De água?”

Ela acena com a mão. Dois segundos depois, a bola bate na


sarjeta. Olhando por cima do ombro, ela faz uma careta para mim
como se fosse minha culpa ela estar indo tão mal hoje à noite.
“Sexo, amigo. Sem vinho para mim, depois sem sexo para você.”

Os risinhos voltam à vida para uma segunda rodada do


Griffin e Swayze Show, mas desta vez estão abafados por trás de
mãos em punhos porque sabem que não devem tirar sarro de
mim. Vingança é meu jogo favorito.
Eu inclino meu dedo para ela enquanto Breanna, a namorada
de Derek para a noite, se levanta para sua vez de jogar.

Mantendo seu olhar embriagado preso ao meu, Swayze


cambaleia até mim. “Sim, Sr. Policial do Álcool?”

Segurando minha mão, com a palma para cima, espero que


ela pegue. Depois de alguns segundos olhando para ela com
apreensão, Swayze a aceita. Dou-lhe um puxão firme, e ela tropeça
para frente no meu colo. Arrasto seus joelhos até que ela esteja
montada em minhas pernas.

JEWEL E. ANN
Jett limpa a garganta. “Há jovens a dez metros de distância.
Pelo menos a leve ao banheiro. Não que eu pessoalmente tenha
problemas em assistir.”

Eu o ignoro. Swayze? Não muito. Ela fica corada até as pontas


das orelhas.

“Eu não vou fazer sexo no banheiro”, ela tenta sussurrar, mas
perde o alvo por alguns decibéis.
“Não?” Eu sorrio, levantando uma única sobrancelha
enquanto deslizo minha mão ao redor de sua nuca.

Sua cabeça treme meia dúzia de vezes, os olhos arregalados


como se a ideia a tivesse abalado uns bons cinquenta por cento.
Aqueles olhos arregalados se lançam para o lado várias vezes
antes de encontrar meu olhar novamente. “Uh uh”

Estou brincando, mesmo que meu pau no momento pareça


bastante entusiasmado com a ideia. Inclinando-me mais perto,
sussurro no ouvido dela: “Eu te amo. Você é muito ruim no
boliche, mas eu te amo pra caralho.”

“Vou te dar cem dólares se você me disser o que ele disse.”


Jett pisca para Swayze.
“Cem dólares?” Suas costas se esticam em linha reta. “Ele
disse: ‘Eu te amo. Você é muito ruim no boliche, mas eu te amo
pra caralho’.”

Jett levanta a mão fechada para a boca e tosse. “Besteira.”


Eu sorrio em Swayze e dou de ombros. Ela franze a testa.

“Eu quero meus cem dólares. Diga a ele, Griff.”

Tudo o que posso fazer é rir.


Jett se aproxima para fazer sua jogada. “Eu vou demitir essa
sua bunda amorosa, se é isso que você disse a ela.”
“Isso é mentira!”

JEWEL E. ANN
Ok, ela não está assim tão sóbria afinal de contas.
“Eu quero meus cem dólares. Acabei de compartilhar…” Ela
aponta um dedo para ele enquanto seguro sua cintura antes que
ataque meu chefe, que está sorrindo como um idiota. “Droga”, ela
murmura antes de afundar os dentes em seu lábio inferior. “O que
eu estava dizendo?”

Isso arranca mais risos do resto dos bêbados. Eu sou o único


completamente sóbrio no grupo.

“Sim!” Seu mesmo dedo acusador dispara no ar. “Eu acabei


de compartilhar algo pessoal com você só porque você me ofereceu
cem dólares.”

Jett faz um strike e se vira, acariciando seu cavanhaque.


“Swayze, querida… Griff dizendo que você é ruim no boliche é bem
público. Todos nós já vimos você.”
Eeeee é hora de ir. Swayze cava as unhas em meus braços,
tentando arrancar meu aperto de sua cintura.

“Nós estamos partindo. Swayze ainda não jantou.”

Breanna sacode a cabeça para o lado. “Tem comida ali. Pizza,


cachorros-quentes, nachos...”
“Nachos? Eu amo nachos! Griff, nachos!”
Eu a levanto do meu colo agora que a comida a distrai de
atacar Jett. “Vou te levar a um restaurante mexicano. Você não
quer batatas fritas e queijo falso.” Depois de trocar meus sapatos,
ajudando-a com os dela e me despedir, pego a mão de Swayze e a
puxo para a saída.

“Eu acho que quero batatas fritas e queijo falso”, ela


murmura enquanto saímos. “Estou com tanta fome que eu
poderia comer qualquer coisa.”
Sorrio, balançando a cabeça. “Eu posso te oferecer uma dose
de porra no caminho, se você precisar de algo para te ajudar.”
“Uma dose de – espere, isso é um código para boquete?”

JEWEL E. ANN
Todas as outras pessoas no estacionamento se arrepiam com
o persistente eco do boquete. Muito bem, Swayze.

Eu abro a porta dela. “É um código para colocar sua bunda


aí dentro.”
Ela levanta a perna, mas erra o passo.

“Você está uma bagunça da porra.”

Ela ri quando agarro sua cintura e a levanto. “Mas você me


ama.”

Eu a ajudo a apertar o cinto. “Eu amo.”

“Mas você estava muito bravo sobre eu estar atrasada para o


boliche.”

Fecho a porta, entro de lado e dou partida na caminhonete.


Quando saímos do estacionamento, ela tira as botas e se agita
para colocar os pés debaixo dela, meio de lado.
“Por que todo mundo olha para você como se você fosse carne
e eles estivessem morrendo de fome?” Ela se enrola com algumas
de suas palavras, seja por causa do álcool ou da velha exaustão.
“Eu não sei do que você está falando.”

“Vamos lá… as mulheres. Elas não são tão óbvias, nem


notó... não, isso não está certo. Notáv... foda-se!
Mordendo meus lábios, eu viro rapidamente para ela.
“Notórias?”

“É isso aí! Você é tão inteligente, fofinho.”

Fofinho é novo.

“Todas aquelas mulheres imundas querem você. Elas não


têm vergonha.”

“O álcool deixa você paranoica, Swayz. O que você quer


comer? Mexicano?”

JEWEL E. ANN
Ela se inclina no console entre os assentos e bate seus dedos
juntos. É um pouco estranho. “Estou pensando em um cachorro-
quente Griffin.”

Risca isso. É muito estranho.


“Nunca ouvi falar dessa marca. Então, sim para mexicano?”

Sua mão segura minha virilha. “Eu acho que estou pronta
para aquela dose de porra.”

“Acho que você está bêbada demais, estou sóbrio demais e o


limite de velocidade é muito alto.”

Com um clique, ela solta o cinto de segurança e se posiciona


de joelhos em frente a mim.

“Swayz, volte sua bunda para o banco.”


“Diga que não me quer chupando você.” Ela abre meu jeans.

Chupando você e fofinho na mesma noite. A Swayze bêbada


tem um filtro diferente da Swayze sóbria.

Aperto o volante enquanto deveria estar apertando suas mãos


para impedi-la de fazer isso. Mas quando ela desliza a mão ao
longo do meu comprimento, paro de dar a mínima sobre
segurança e todas as coisas que exigem o poder do cérebro.
“Swayz...” faço uma tentativa fraca de pará-la.

Muito tarde. Uma descarga de adrenalina dispara através de


mim, restringindo o ar em meus pulmões um pouco quando sua
boca quente e molhada faz contato com meu corpo pela primeira
vez. Em segundos, vou de duro para duro pra caralho, enquanto
ela mostra muito mais avidez do que Swayze sóbria.

Concentre-se na estrada. Concentre-se na estrada.


“Você tem um sabor tão bom.”

E mais outra frase que é nova esta noite. Não me importa


quão rico, educado ou sofisticado seja um homem, nenhum cara
desiste disso. Exceto… O cara que ama uma mulher como eu amo

JEWEL E. ANN
Swayze. Eu não posso ter minha futura esposa – mãe dos meus
filhos – morta em um acidente de carro antes que tenhamos a
chance de dizer “eu aceito”.

Mas é bom pra caralho.


Entro em um estacionamento vazio de um prédio de
escritórios e puxo o freio de mão da caminhonete. Recolhendo seu
cabelo em minhas mãos, eu o seguro longe de sua cabeça para
que possa observá-la com a pouca luz que entra pelos postes da
rua. É uma visão linda.

Ela cantarola.

Eu mordo meu lábio inferior, deixando minha cabeça cair


para trás. Meu plano para quando chegássemos em casa era falar
sobre essa terapia dela e a ideia maluca de hipnose. Mas quando
suas unhas entram em minhas coxas e ela me leva mais fundo,
decido que pode esperar um dia ou dois – a quantidade
aproximada de tempo que preciso para superar um bom boquete,
e Swayze está me dando um maldito bom boquete.

“Devagar, querida...” Eu puxo seu cabelo um pouco enquanto


ela engasga.

Luto contra o impulso de empurrar sua boca mais quando


me aproximo do orgasmo. Tão perto.

“Poooorra!” Todos meus músculos ficam tensos quando chego


ao limite e gozo.
Futura esposa. Mãe dos meus filhos. Guardiã do meu pau...
engasga. Não é apenas um reflexo de ânsia de vômito. É uma bela
vomitada de dois segundos.

Um segundo.

Dois segundos.
Blá!

Duas tosses e mais uma ânsia.

JEWEL E. ANN
“Oh meu Deus...” Ela sussurra, usando as costas da mão
para limpar o rosto coberto de suor, saliva e humilhação.

Uma permanente carranca se fixa ao meu rosto quando eu


sinto o calor e a umidade do vinho, ácido estomacal e gozo
recobrindo meu pau e sendo absorvido pela minha calça jeans,
diretamente para minha bunda enquanto escorre entre as minhas
pernas ao longo do meu assento de couro.
Outra primeira vez. Uma que eu poderia ter ficado sem esta
noite.

“Você está bem?” Pressiono minha mão na bochecha dela


enquanto ela puxa sua respiração.

“Eu sinto muito. Eu sinto muito. Eu sinto muito.”


Minha atenção retorna à confusão entre minhas pernas. Eu
aceno devagar. “Está tudo bem, Swayz.”
“Não está bem.” Ela desliza metade do corpo entre os
assentos. “Aqui.”

Eu olho para o tubo de plástico com a flanela enrolada que


uso para lavar o carro.
Swayze encolhe os ombros. “É muito absorvente.” Ela puxa
para fora do tubo e desenrola. “Você quer fazer isso ou devo fazer?”
Eu arranco o pano da mão dela e estrago um pano de limpeza
relativamente novo. Depois consigo deixar tudo limpo o suficiente
para enfiar de volta meu jeans, eu jogo o pano para fora da minha
porta e dou partida na caminhonete novamente.

“Isso é jogar lixo no lugar errado.” Swayze franze o nariz.


Eu dou a ela uma olhada.

Ela fecha os lábios e aperta o cinto de segurança. “Eu... tenho


um frasco de desinfetante para mãos na minha bolsa.”

JEWEL E. ANN
Empurrando a caminhonete para a estrada, eu a ignoro. Vai
ser necessário mais do que um pote de desinfetante para as mãos
para consertar essa bagunça.

“Não se preocupe com o jantar também. Vou pegar alguma


coisa em casa.”

Eu olho para ela com um olhar incrédulo.


Ela bufa uma risada. “Eu sinto muito.” Ela ri mais um pouco.
“Foi o Zinfandel com o estômago vazio. Você quer o anel de volta?”

Não há nenhuma maneira de que eu lhe dê qualquer atenção


até que minhas bolas não estejam mais pegajosas com vômito.
*

O chuveiro desliga. Eu procuro por uma expressão


indiferente, sentada na beira da cama esperando Griffin sair do
banheiro. Preciso de um banho também, mas achei que talvez ele
merecesse tomar um primeiro. Eu sou legal assim.
“Sua vez.” Ele me olha com uma expressão difícil de
interpretar quando deixa cair sua toalha e pega uma cueca
vermelha da cômoda.

Nunca envelhece. Quando tivermos oitenta anos, eu ainda


vou perder toda a habilidade de falar quando ele soltar sua toalha
ou seu corpo ficará muito flácido? Nada além de pele solta. Será
que o dragão ao longo de seu traseiro também vai parecer ter
oitenta anos?
“Você comeu?”

Meu olhar se encaixa nos olhos dele. “Duas torradas.”

“Tome um banho. Podemos assistir um filme se você quiser.”


“Você está bravo?”

JEWEL E. ANN
Griffin puxa uma calça de moletom. “Não.”
“Mesmo?”

Ele pega a toalha do chão e joga por cima do ombro. “Foi o


melhor boquete que você já me deu... até você vomitar. Tem
potencial. Podemos trabalhar com isso.”

Meus olhos se estreitam para ele. “Foi o vinho.”

“Eu sei. Se pudermos descobrir uma maneira de fazer você


ficar tão entusiasmada em chupar meu pau sem ficar enjoada,
então eu acho que estaremos em algo realmente especial.”

Eu dou risada. “Uau. Isso quase soou como um discurso


sobre curar o câncer ou alimentar o mundo, exceto a parte de
chupar meu pau. Você deveria entrar na política, Griff.”

Ele responde com um sorriso travesso.


Depois de tomar banho e escovar os dentes, pego um cobertor
e me aconchego no sofá ao lado dele.

“ESPN não é filme.”


“Eu estava apenas esperando por você.” Ele clica e desliga a
TV.

“Nenhum filme?”
Griffin gira seu corpo para mim. “Eu não quero que você seja
hipnotizada. Se você precisa falar de tudo isso com um terapeuta,
tudo bem. Mas não quero que você seja hipnotizada.”

“Griff, nem sabemos se vai funcionar. Se você pudesse ouvir


a Dra. Albright, acho que...”

“Está bem.” Ele rola os lábios entre os dentes, os olhos


arregalados. “Deixe-me ouvir isso da Dra. Albright. Deixe-me ir
com você à sua próxima consulta.”

“Mesmo? Você faria isso?”


“Certo. Por que não?”

JEWEL E. ANN
Eu pulo em seu colo, jogando meus braços em volta do seu
pescoço. Isso é exatamente o que eu preciso. Se Griffin vir a Dra.
Albright comigo, ele saberá que não sou louca. Ele verá por que é
tão importante fazer o que for preciso para colocar Doug Mann
atrás das grades.

Eu não vou perdê-lo afinal de contas. Ele vai aceitar a parte


de mim que é Daisy, e nós ficaremos bem.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 17

“Bom dia, família Hunt.” Chego na grande sala com uma


caixa da padaria e um porta-copos com duas bebidas de café com
excesso de calorias e açúcar.

“Alguém está de bom humor.” Nate sorri.

“Sim, senhor. Tenho certeza que estou.” Eu pego o café puro


da mão dele e o substituo com o meu doce. “Cafeína extra, açúcar
extra. Seus alunos vão achar você muito mais divertido hoje.”
Ele arqueia uma sobrancelha. “E por diversão você quer dizer
que vou desmaiar no meio da tarde quando acabar o efeito do meu
açúcar e cafeína?”
“Exatamente.” Eu sorrio enquanto abro a caixa de donuts.

“Donut de baunilha, com cobertura de chocolate e granulado,


como você sabia?” Ele pega o donut.
Ele sabe muito bem como eu sabia.
“Griffin concordou em ir comigo ver a Dra. Albright.” Eu pego
um donut glaçado e me sento ao lado de Morgan no chão. Ela está
trabalhando no rastejar como uma campeã. “E se tudo correr bem,
acho que vou tentar hipnose com ela. Talvez possamos descobrir
algo da minha memória que ajude a provar que Doug Mann é um
assassino.”

Nate coloca seu café e rosquinha no balcão e pressiona as


mãos na borda. “Ela explicou os riscos para você?”

“Sim. Eu sei que isso pode revelar memórias que não quero
na minha cabeça, como o jeito como morri como Daisy. Mas eu
prefiro ter essas lembranças para lidar a ter outro assassinato em
minha consciência, se ele matar outra vez. E...” Eu torço meus

JEWEL E. ANN
lábios para o lado e provoco Morgan com um brinquedo de
dentição.

“E você tem medo de ser sua próxima vítima.” A preocupação


atinge a testa de Nate.
Eu concordo.

“Eu tenho alguém olhando o caso novamente.”

“Isso é bom.”

“Você está em segurança? Não vai a lugar nenhum sozinha?”

Sorrio. “Sim, pai.”

“Não.” Ele balança a cabeça várias vezes. “Não me chame


assim. É muito estranho.”
“Tudo sobre nós é muito estranho. Eu tenho lido o livro da
Dra. Albright, o mesmo que você tem na sua mesa de cabeceira.
Há muita coisa que ninguém sabe sobre reencarnação e tantas
opiniões diferentes. O tipo de teoria falha é interessante. Como
nossas almas são discos rígidos que devem ser limpos antes da
próxima vida, mas às vezes nem tudo é apagado, e há essa
informação aleatória que trazemos sem nada para conectá-la.”
Nate encolhe os ombros. “Talvez não seja tão sem sentido. E
se todos nós levarmos algo para a próxima vida? É possível que
simplesmente não reconheçamos isso. Não seria esse o propósito
da alma? Conhecimento aleatório. Déjà vu de momentos. Talentos
escondidos. Rostos estranhamente familiares. Pense nisso, se
você não me conhecesse, você acha que essas memórias seriam
algo mais do que o estranho sentimento ocasional de
familiaridade?”
Um sorriso aparece no meu rosto. “Você acredita no destino.”

Nate toma seu café e encolhe os ombros. “Por que não? Eu


não acho que tudo é destino. Não quero acreditar que você morrer
foi o destino. Não quero acreditar que Jenna morrer foi o destino.”
“Se não o destino, então o que?”

JEWEL E. ANN
“Vida. Circunstâncias. Nós navegamos a terra pelo livre
arbítrio. Todos os dias temos a oportunidade de escolher nosso
próprio destino. Mas algumas coisas são mais. E se os jovens Nate
e Daisy se conhecessem de outra vida? Um universo paralelo? E
se estamos destinados ou fadados a encontrar um ao outro em
todas as vidas?”

Morgan fica chateada com seus brinquedos ou talvez com


muito tempo no chão. Eu a pego, concentrando toda a minha
atenção nela porque as palavras de Nate parecem gelo fazendo
cócegas na minha espinha. “Parece um livro de fantasia ou um
filme.”

Ele se agacha ao meu lado, beijando Morgan na bochecha


enquanto eu tomo uma lenta, esperançosamente muito discreta,
inalação de seu aroma picante. “E se for uma história de amor
épica?” O olhar de Nate varre meu rosto, e sinto em todos os
lugares porque ele está a centímetros dos meus lábios.

“Você não me ama.” Eu engasgo com as palavras quando elas


saem como um sussurro estrangulado.

“Eu amo você”.

Morta. Morta. Morta.


Sem oxigênio.

Sem palavras.
Sem pulso.

“Porque acho que sempre te amei e tenho certeza de que


sempre amarei você.” Ele sorri, inclina-se e beija o topo da minha
cabeça. “Respire, Swayze. Eu não estou roubando você do seu
noivo.” Ele pega sua bolsa e café. “Eu acho que uma parte de você
será minha para amar em todas as vidas.”

Apenas quando a porta se fecha atrás dele é que eu deixo


meus pulmões receberem aquele oxigênio doce e refrescante.

JEWEL E. ANN
O resto da manhã eu brinco com um bebê sorridente e
risonho. Quando Morgan cai em uma soneca, recebo uma
mensagem de Nate. Eu olho para a câmera. O timing é perfeito
demais para ser uma coincidência.

Professor: Eu não queria te assustar esta manhã

Eu: Você não assustou


Eu minto.

Professor: Eu quis dizer que te amo como família. Como


alguém especial na minha vida. Nada mais.
Ele está mentindo? E se não, como eu respondo? Eu também
te amo?

Eu: Entendi. Você se lembra de mim de forma diferente da que


eu me lembro de você.
Reviro meus olhos para o meu comentário estúpido.
Eu: Você tem os sentimentos. Eu só tenho lembranças.

Eu: Não que eu não tenha nenhum sentimento por você.

“Não... não isso.” Eu me encolho.


Eu: Eu acho que você é um cara legal.

Sim, não é isso também. Eu não olho para a câmera, ele vai
ver meu constrangimento nervoso.

Professor: Ainda bem que não estou te convidando para sair.


O comentário do “cara legal” tem cheiro de rejeição.

Olhando para a sua resposta, escondo meu sorriso atrás da


cabeça de Morgan no meu peito.

Eu: Eu tenho dificuldade em acreditar que alguma mulher já


te rejeitou.

Professor: Uma garota que conheci há muitos anos me


rejeitava com frequência. Mas fui persistente.

JEWEL E. ANN
“Você não está jogando de forma justa”, murmuro enquanto
digito minha resposta.

Eu: Eu não posso dizer com certeza, desde que tenho uma nota
F em paquerar como adolescente, mas observando as meninas bem
ajustadas em volta de mim, meu palpite é que a garota que você
conhecia estava jogando duro para conseguir. Não sei.
Professor: Você tem um F em paquera?

Eu: Você não tem um trabalho a fazer?

Professor: Quando você vai ver a Dra. Albright de novo?


Eu: Amanhã à noite. Por quê? Você vai ficar escutando do lado
de fora da porta?
Professor: LOL se eu conseguir que meus pais fiquem com
Morgan, eu poderia.
Eu: Off topic… os pais de Daisy ainda estão vivos?
Professor: sim

Eu: Você acha que se eu conhecesse os pais de Daisy isso


provocaria mais lembranças? Quero dizer, são pessoas que ela viu
todos os anos por quinze anos.
Professor: Você quer conhecê-los?

Sim. Não tenho certeza. Há uma mistura de medo, intriga e


excitação rodando no meu estômago. Se eu me concentrar em
Daisy e deixar essa parte de mim sangrar para a superfície, então
absolutamente quero conhecer seus pais. Eu quero ver o quarto
dela, rastejar na cama dela. Revirar suas gavetas. Querido Deus,
espero que eles realmente não tenham todas as suas coisas, vinte
e dois anos depois de dizerem um último adeus.

Eu: Eu acho que quero.


Professor: Posso arranjar isso.

Eu: O que isso significa? Você não vai dizer nada sobre mim,
vai? Como você vai me explicar – nós.

JEWEL E. ANN
Professor: Vou pensar em algo. Eu sou incrivelmente
inteligente assim.

Eu: Eca
Professor: Trabalho chamando. Dê a Morgan um beijo por
mim.

Eu inclino meu queixo e beijo o topo da cabeça dela e pisco


para a câmera no canto.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 18

“Obrigada.”
Griffin aperta minha mão. “Pare de me agradecer.”

Eu bato na porta do consultório da Dra. Albright.

“Entre.”
“Mas sério...” Antes de abrir a porta, eu o olho de frente.
“Obrigada por vir comigo. Você poderia estar com um milhão de
outras mulheres normais com nomes normais, mas você está me
escolhendo, mesmo que ao casar só mude meu sobrenome. E,
para o resto da minha vida, talvez tenha que lidar com bebidas
alcoólicas de outros tempos. Ainda assim...” Eu sorrio. “… você
ainda está aqui.”

“Se você continuar falando assim, pode me convencer a dar


meia volta e correr. Pare enquanto você ganhando, Swayz.”
Levantando na ponta dos pés, pressiono meus lábios nos
dele. Ele me beija de volta, apenas o suficiente para transmitir seu
gosto de hortelã à ponta da minha língua. Griffin é gostoso em
todos os sentidos da palavra.
“Oi, Dra. Albright.” Eu saio do meu casaco. “Eu gostaria que
você conhecesse meu noivo, Griffin Calloway.”

Ela nos encontra no meio do caminho e aperta a mão dele.


“Muito prazer em conhecê-lo, Griffin. Por favor, sente-se. Posso
oferecer algo para vocês, água ou chá?

“Chá seria adorável.”


Eu levanto uma sobrancelha para Griffin. Ele sorri.

Não tenho certeza se já o ouvi dizer a palavra adorável.

JEWEL E. ANN
“Swayze?”
“Sim, acho que vou tomar um chá também. Obrigada.”

“Vocês dois tiveram um bom Dia de Ação de Graças?”

Com um sorriso, olho para Griffin. Foi o nosso primeiro Dia


de Ação de Graças juntos. E foi perfeito. Scott e Sherri convidaram
minha mãe e meus avós para jantar.

Nenhuma conversa sobre Nate ou vidas passadas.

Muita conversa sobre casamento. Boa comida. Riso. E


família.

Griff pisca para mim. Ele está pensando no longo fim de


semana que passamos na cama. Sim, isso também foi
espetacular. Um botão de retrocesso na vida seria legal. Eu
repetiria esses quatro dias de novo e de novo.
“Foi adorável.” Respondo por Griffin. “E você? Teve um bom
Dia de Ação de Graças?”

“Eu tive. Demorou um pouco para encontrar alguns amigos


vivos, mas peguei três e nos divertimos juntos.”
Griffin e eu rimos.

Ela nos serve chá e se senta atrás de sua mesa. Um sorriso


fácil se instala em seu rosto. “Quando Swayze me enviou um e-
mail, fiquei muito feliz em saber que você estaria se juntando a
nós, Griffin.”
Ele responde com um aceno de cabeça tranquilo antes de
tomar um gole de chá.

“Então você está pensando em tentar a hipnose?”

“Sim. Eu só queria trazer Griffin caso ele tivesse alguma


dúvida. Tentei explicar a ele o melhor que pude, mas não sou
especialista nisso.”
“Ah, então suponho que Swayze discutiu os possíveis
benefícios, bem como os riscos?”

JEWEL E. ANN
“Posso ser franco?” Griffin pergunta.
“Por favor”, Dra. Albright continua a sorrir.

Eu dou uma inspirada rasa e a prendo. Sobre o que ele


precisa ser franco?
“Eu não estou comprando cem por cento a coisa da
reencarnação. A única razão pela qual estou considerando isso
como uma possibilidade é porque não posso dar uma explicação
melhor para isso. Você honestamente acredita que Swayze é essa
tal Morgan Daisy Gallagher reencarnada?”

“É perfeitamente normal questionar a reencarnação, da


mesma forma que as pessoas questionam Deus ou todas as
crenças sobre como nos originamos e para onde vamos além desta
vida. Então, tudo o que posso oferecer a você é minha opinião. E
minha opinião, tanto profissional como pessoal, é que a alma de
Swayze e parte da alma de Daisy compartilham espaço no belo
corpo sentado ao seu lado. Eu acredito que somos tecidos de
muitas vidas.”

Sim, isso não parece nada maluco. Eu não posso ver além da
expressão estoica em seu rosto para determinar se ele acha o
“corpo bonito” sentado ao lado dele como um unicórnio mágico
como o que o Dra. Albright tenta levá-lo a acreditar.
Eu descanso meu casco branco em sua mão e abano minha
longa cauda, enviando um arco-íris de glitter em todas as direções.
“Então vamos fingir que você está certa.”

Meus lábios se apertam em uma linha firme, e tento evitar


que meus olhos rolem em descrença.

Essa mulher é altamente educada, incrivelmente sábia com


os anos de vida e a imagem de um sábio. No entanto, Griffin só
quer fingir que ela está certa. Isso não está indo tão bem quanto
eu esperava.

JEWEL E. ANN
“Desenterrar memórias antigas, como a morte, não seria
muito traumático? Ela tem vinte e dois. É inteligente arriscar esse
tipo de trauma psicológico?”

“É um risco. É por isso que quero que Swayze realmente


pense sobre isso antes de tomar uma decisão. Ela pode lembrar
de coisas que viu, mas também poderá reviver os sentimentos.”

“Mas é só isso”, eu interrompo. “Está me deixando maluca ter


essas imagens, mas sem sentimentos ou emoções associadas a
elas.”

Griffin se volta para mim. “Então você quer se lembrar de


como foi morrer? Ou pior... ser assassinada?”

“Não. Mas eu prefiro lembrar os sentimentos a deixar outra


mulher realmente morrer nas mãos dele. E não é só isso. Houve
bons momentos também. Eu odeio vê-los em minha vida, mas não
senti-los como Daisy. Essa familiaridade continua se agarrando à
superfície da minha consciência como se quisesse ser sentida.
Como se precisasse ser sentida.”

Ele zomba, balançando a cabeça enquanto olha para longe de


mim. “Bons momentos? Você quer dizer Nate.” Ele diz seu nome
com grande desprezo. “Você quer se lembrar de como se sentia
com ele?”

Eu olho para a Dra. Albright, mas ela não parece que está
pronta para pular na piscina e me salvar do afogamento.
“Não da maneira que você pensa, Griff.”

Griffin dá atenção a Dra. Albright. “Por favor, me diga que


você não aprova isso. Estamos noivos. Quero passar o resto da
minha vida com ela, mas não quero competir com outro homem
por seus sentimentos.”

Ela retorna um aceno de cabeça concentrado. “Swayze, você


pode explicar melhor sobre o tipo de sentimento que você quer
lembrar. Se não são sentimentos românticos, então talvez você
possa acalmar um pouco a mente de Griffin.”

JEWEL E. ANN
O músculo se contorcendo na mandíbula de Griffin diz que
não vou acalmar sua mente tão cedo, mas eu tento de qualquer
maneira.

“Nós éramos jovens. E antes que houvesse sentimentos de


amor, éramos amigos. Às vezes acho que a razão pela qual essa
outra vida avançou com algumas lembranças intactas é porque
estou aqui para fazer algo por Nate. Eu não estou dizendo isso do
jeito certo.”

A expressão de Griffin vai de irritada a assassina.

Seguro uma mão para impedir que ele perca a cabeça. “Ele
se sente responsável pela morte de Daisy. E o assassino dela ainda
está matando. E um bebê perdeu a mãe. O timing é muito
coincidente. Eu acho que tenho essas memórias para lidar com
Doug Mann, e cuidar de Morgan, e deixar Nate saber que não foi
culpa dele. Sua esposa morreu. Quando o vi pela primeira vez no
consultório do Dr. Greyson, percebi que ele estava pendurado por
um fio.”

Com o polegar e o dedo do meio, Griffin massageia as


têmporas.

“Se eu puder fazer uma sugestão…” Dra. Albright dobra os


braços na borda da mesa “...pense em você primeiro, Swayze. O
que você quer. O que você precisa. O que você está realmente
disposta a arriscar. Tente ignorar qualquer senso de dívida com
qualquer outra pessoa ou o medo da culpa por Doug Mann. Qual
é a única coisa que você realmente precisa disso tudo?”

Eu não tenho uma necessidade. Eu tenho um milhão de


necessidades indefiníveis. Minha necessidade não tem uma
palavra. É um sentimento. Uma sensação persistente e profunda.
E talvez eu seja a única que pode entender, mas algo me diz que
a Dra. Albright também, mesmo que não diga isso em voz alta na
frente de Griffin.

Então vou com a única coisa que deveria fazer sentido. “Eu
preciso me sentir segura.”

JEWEL E. ANN
Ele ri enquanto balança a cabeça mais. “Eu já disse, não vou
deixar nada acontecer com você.”

“Você não pode fazer essa promessa!” Eu me encolho.


O olhar simpático da Dra. Albright pousa em mim.
Eu solto um lento suspiro de arrependimento. “Você tem um
emprego. Eu tenho um emprego. Não podemos ficar presos um ao
outro pelo resto de nossas vidas.”

“E ninguém pode garantir que a hipnose nos dará a prova


que faltava para condenar um homem de um possível assassinato
que aconteceu há mais de vinte e dois anos. Mas, nesse meio
tempo, você se arriscaria a lembrar de algo que pode te assombrar
para sempre, ou você se arrisca...”
Soltando o final de sua sentença em um rápido suspiro, ele
esfrega os lábios.
“Conclua”, eu digo.

Ele olha na direção oposta.

“Eu preciso disso, Griff.”


“Bem.” Ele se levanta e agarra a jaqueta das costas da
cadeira. “O que você precisar, Swayz.”

“Griff?”
“Deixe-o ir, Swayze.”

O clique da porta atrás dele causa uma pequena lágrima no


meu coração.

Mantenho minhas emoções intactas, mesmo com a expressão


empática da Dra. Albright. “Por favor, diga que você me entende.”
“Eu entendo. Mas também entendo Griffin. Ele está com
medo de te perder para Nate.”

“Isso é ridículo.”

JEWEL E. ANN
“É? Algumas pessoas veriam essa história como destino. Nate
perde seu primeiro amor e, quando perde seu segundo amor, ele
o encontra de novo.”

“Destino?” Eu dou uma risada. “Você acha que é destino


estarmos juntos novamente?”

“Não. Eu não sou algumas pessoas. Mas não é mais louco do


que você acreditar que tem memórias daquela vida por razões de
destino. Talvez o destino exista, talvez não. Eu amo a ideia do
destino, mas é possível que você não esteja reconhecendo seu
verdadeiro destino ainda.”

“Qual é o meu verdadeiro destino?”

Ela toma o resto de seu chá e coloca a xícara no chão antes


de dar uma sugestão de sorriso. “Eu não faço ideia. Mas se for o
destino... você descobrirá.”
“É melhor eu ir embora. Eu deveria ir ver se preciso ligar para
um Uber.” Eu me levanto. “Se não tentar a hipnose, temo que
possa me arrepender para sempre. E não quero casar com Griffin
com esse tipo de arrependimento.”

“É basicamente sua escolha, e apenas sua. Estou aqui para


você em qualquer função que você precisar que eu esteja.”
“Obrigada.”

Griffin não está do lado de fora da porta dela, e não há sinal


dele no corredor em direção aos elevadores. Ele se foi. A maldição
de Daisy me fez autodestrutiva.

Eu subo as escadas para o primeiro andar e viro à esquerda


em direção à entrada do estacionamento.
Ele está lá.

Eu paro.

Eu encaro.
Admiro.

JEWEL E. ANN
Eu sonho.
E então começo a sentir dor.

Mãos enfiadas nos bolsos da frente da calça jeans, e uma


perna dobrada com o pé na parede, ele se afasta e me lança um
sorriso triste.

Eu sinto ainda mais dor.

“Você esperou.”

“Claro.”

“Mas você está bravo.” Eu diminuo meu ritmo quanto mais


perto chego dele.

“Frustrado.”
“Isso é código para bravo.”

Ele estende a mão. Eu aceito.


“Não é código para nada. Apenas vamos para casa.”

Eu deixo Griffin me guiar para sua caminhonete. Ele até abre


a porta para mim. Antes de recuar para fechá-la, aperto seu
casaco e o puxo para mais perto.
“Vamos pegar algo para o jantar.”

Ele balança a cabeça, olhos procurando meu rosto. Querido


Deus, eu amo esse homem de um jeito feroz.
“E então vamos nos esconder debaixo dos lençóis e pausar a
vida por algumas horas.”

Griff beija um lado da minha boca, depois o outro,


terminando em meus lábios, enquanto acena com a cabeça
levemente.

Em algum momento, não seremos capazes de pressionar o


botão de pausa e nos esconder do mundo, mas vou fazê-lo pelo
maior tempo possível – desde que ele esteja disposto a me amar
de volta.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 19

“Você reconhece?” Nate pergunta enquanto chegamos na


entrada de carros da casa amarelo claro de dois andares.
Há uma cerca em torno do quintal, cercando a grama
ornamental e lírios que precisam ser cortados antes que neve.

“Swayze?”

Eu concordo. Não sabia que isso estava na minha memória


até agora. Do mesmo jeito que não sabia que eu conhecia Nate até
que o vi. Vinte e dois anos não são longos o suficiente para
entender ou mesmo descrever esse sentimento de conhecer algo –
alguém – tão intimamente, mas Swayze Samuels nunca viu essa
casa.

Engulo em seco. “É como…” Balanço minha cabeça. “É como


abrir uma porta para um novo mundo. No segundo em que vi você,
não pensei simplesmente aí está Nate Hunt. Uma enxurrada de
memórias se infiltrou em cada centímetro do meu cérebro.”
“Ela tem cabelos loiros e olhos azuis. Ele tem cabelos louros
levemente mais escuros e olhos castanhos como Daisy. Ele pintou
a cerca de cinza; ela odiou e o fez pintar de branco. Na primavera
tulipas vermelhas florescem debaixo da árvore no quintal. Há
também um velho galpão no canto do quintal. Impressões de mãos
na laje de concreto logo depois do convés.”

Inacreditável... Eu balanço minha cabeça e olho para Nate.

Ele sorri. “Suas impressões de mãos.”

Essa é a parte que mais machuca. Mais do que os


sentimentos que faltam – não me lembro de mim.

JEWEL E. ANN
“Eu quero muito sentir isso. É como se eu não pudesse
realmente entender se não posso sentir. Vou fazer a hipnose.
Tenho que fazer.”

Nate descansa a mão na minha. Ele não segura nem esfrega.


Essa é a única parte que sinto. Como diabos eu não me lembro de
Daisy, mas me lembro do seu toque?
“Eu não preciso que você corresponda ao meu amor... nesta
vida.” Ele sorri.

Meus olhos se enchem de lágrimas. Como alguém pode ser


tão bonito e tão desamparado ao mesmo tempo?

Eu não preciso que você corresponda ao meu amor... nesta


vida.
Nate Hunt merece ser amado em todas as vidas,
especialmente nesta.
“Talvez depois de hoje você veja o suficiente para poder deixar
de lado.”

Estreitando meus olhos, eu lentamente viro minha mão para


que nossas palmas fiquem pressionadas juntas. Ainda assim, não
estamos entrelaçando nossos dedos ou nos agarrando a nada
mais do que a familiaridade de sua pele tocando a minha.
“Deixar de lado o que?”

“Qualquer coisa que não sirva ao propósito de você encontrar


felicidade nesta vida.”
Meu olhar deixa nossas duas mãos em busca de mais
explicações em seus olhos. “Você está me deixando de novo?”
Ele recua. “Swayze...”

Minha mão desliza para fora da dele. Eu a abro e fecho em


punhos apertados algumas vezes para me livrar do sentimento
persistente do garoto que eu conhecia antes do homem. “Irei me
casar. Tenho um ótimo trabalho. Acho que a felicidade me
encontrou.”

JEWEL E. ANN
Se ele está tentando esconder sua preocupação, esqueceu de
informar isso à ruga entre suas sobrancelhas.

Eu aceno para a casa. “Então você disse que eles estão


animados em conhecer Morgan. Como você vai explicar a babá
que veio acompanhando?”

“Eles sabem que você também está vindo. Eles sabem que
você é babá de Morgan. Eu disse que é uma amiga da família e
tem sido como uma irmã mais nova para mim há anos. Você já
ouviu todas as histórias sobre Daisy e queria conhecê-las.”

Meus lábios se torcem para o lado. “Eu suponho que vai dar
certo.”

Nate abre a porta. “Vai funcionar desde que você não fique
muito esquisita sobre o seu conhecimento deles ou da casa.”

Saio do veículo enquanto ele pega Morgan do outro lado. “Eu


acho que me chamar de esquisita é um pouco excessivo.”

“Realmente não é.” Seus lábios se enrugam para esconder um


sorriso enquanto ele fecha a porta.

Solte a música enquanto entro na Twilight Zone. Quando ela


abre a porta, uma onda de lembranças enfraquece meus joelhos.
É como se eu estivesse vendo um fantasma, mas ela não é um
fantasma. Esta casa não é uma alucinação.

Eu sou o fantasma

“Nate!” A mãe de Daisy estende os braços para um abraço.


“Claudia. É bom te ver.” Ele coloca a cadeirinha do carro de
Morgan no piso de entrada e abraça a mãe de Daisy.
Minha mãe?

“Claudia, eu gostaria que você conhecesse Swayze.” Nate


sorri para mim como: Está contigo agora. Não seja esquisitona.

“Prazer em conhecê-la, Swayze. Que nome único. Eu gosto.”

JEWEL E. ANN
Não é chocante que Claudia, que deu a filha o nome do meio
de Daisy, gostaria do meu nome.

“Obrigada. Prazer em conhecê-la também.”


Ela faz quilt e scrapbooks. Cozinhar não é o seu forte, mas
ela pode seguir as instruções com qualquer coisa que seja um
simples misture água e mexa bastante. A casa é limpa, mas não
obsessivamente limpa. Eu não tenho que passar o dedo ao longo
do corrimão ou uma mesa para descobrir isso. Apenas sei disso.

“Oh, Nate... ela é adorável.” Claudia pressiona a mão contra


o peito, olhando para Morgan em sua cadeirinha. Eu acho que ela
pode chorar. “Nos sentimos terríveis por perder o funeral, mas
estávamos na Europa e não conseguimos voltar a tempo.
Sentimos muito pela sua perda.” Ela sacode a cabeça. “Eu quis ir
te ver ou ligar um milhão de vezes, mas...”
Nate lhe dá um sorriso reconfortante. “Está tudo bem.
Compreendo.”

Claro que ela fica emotiva. Claudia perdeu seus dois filhos.

“Entre, por favor.” Ela fecha a porta atrás de nós e nos leva a
uma sala de estar formal. “Dennis deve voltar em breve. Ele correu
para pegar algumas coisas no mercado.”
Nós nos sentamos no sofá, e Claudia senta na cadeira ao lado
dele. Nate tira Morgan de seu assento de carro e a entrega a
Claudia.

Ela embala a menina enquanto Morgan sacode as pernas


porque adora pular. “Olhe para você, querida. Tanta energia.
Esses grandes sorrisos.”

Nate me lança um olhar. Eu sinto sua alegria e sua dor.

“Que nome você deu a esta linda garotinha?”


Ah... Porra...

Sério? Os pais de Daisy não sabem que Nate deu o nome de


Morgan?

JEWEL E. ANN
“O nome dela é Morgan.”
Claudia congela, mesmo com as pernas hiperativas de
Morgan exigindo mais saltos. Bela maneira de fazer Claudia
chorar, Nate. Aposto que Jenna teria enviado anúncios de
nascimento, então esse tipo de surpresa teria acontecido via
correio simples e não entrega especial.

Ela engasga e alguns segundos depois, libera a respiração no


que soa como um oco oh.

Eu pego Morgan antes que ela caia. O punho de Claudia


cobre seu coração enquanto lágrimas escorrem pelo seu rosto.

“Por que não lhe damos dois minutos?” Eu abraço Morgan


contra mim. “Nós vamos apenas… bisbilhotar por aí.” Eu digo as
últimas palavras em voz baixa. Mas sei que tudo o que Claudia
ouve é o nome dela, Morgan.
Nós subimos as escadas. Há três quartos e um banheiro no
corredor. Sim. Assim como eu me lembro. “Assim…” estou na
entrada do quarto de Daisy. “Este era o meu quarto, hein?”

Morgan não me responde. Ela está muito ocupada dando


tapinhas nas minhas bochechas. Eu reconheço tudo neste quarto.
Mas que coisa mais triste! Eles não tocaram no quarto desde que
ela morreu.

Eu me sinto mal por toda vez que disse à minha mãe que ela
precisava se afastar do meu pai. Ele não está morto há tanto
tempo em comparação com as duas décadas que Daisy morreu.

Não seria alguma coisa se soubessem que parte de sua filha


reside em mim? Talvez como aquela emoção comovente, mas
inspirada, que certamente acompanha o conhecimento de que os
órgãos de um ente querido salvaram vidas. Essa conexão física
persistente.

Mas isso é mais. Eu carrego algo maior que carne e sangue.


Eu tenho as memórias dela. E em dias como este, gostaria de ter
suas emoções também. Estou tão entorpecida com a familiaridade

JEWEL E. ANN
ao meu redor. Às vezes a empatia entra e se disfarça como algo
que eu acho que pertencia a Daisy, mas não é.

“Aí está você.”


Eu me viro para a voz de Nate e uma Claudia de olhos
arregalados atrás dele. Seu olhar se lança para o quarto. Eu não
saí do limiar. Parece que preciso de permissão para isso.
Um barulho do andar de baixo a distrai. “Deve ser o Dennis.
Deixe-me levar Morgan.” Ela tropeça em seu nome, piscando mais
lágrimas.

Eu entrego Morgan a ela.


“Vá em frente.” Ela sorri para Nate e acena em direção ao
quarto de Daisy. “Eu sei que parece loucura, mas deixei o quarto
dela do mesmo jeito. Todos esses anos depois, eu apenas gosto de
vir aqui e conversar com ela. Ela foi e sempre será minha filha.
Não quero esquecê-la.” Claudia encolhe os ombros como se não
fosse grande coisa.

Meu eu Swayze de vinte e dois anos, com pouca experiência


de vida, acharia Claudia um pouco tonta. Acho que obcecada foi
a palavra que usei com a minha mãe. Mas depois de todo o verão
e dos primeiros meses de outono com Nate, não me sinto mais
qualificada para julgar ninguém.

“Nós vamos estar lá embaixo. Não tenha pressa.”


“Obrigado”, diz Nate.

Quando Claudia está fora do alcance da voz, Nate me


empurra para o quarto e fecha a porta. Meus olhos se abrem
amplamente. Puta merda! O que ele está fazendo?
“Finalmente.” Ele me dá um olhar diabólico. Eu não vi esse
olhar do adulto Nate. No entanto, reconheço aquele mal em seus
olhos da minha memória dele embaixo de mim, quando ele soltou
o que você vai fazer comigo?
Glup!

JEWEL E. ANN
“Eu nunca tive permissão para entrar no quarto dela.”
“Quarto da D-Daisy”, eu gaguejo quando ele me dá um olhar
predatório.
Ele dá um passo em minha direção. Eu dou um passo atrás.
“Se eu olhasse na direção da escada, seu pai limpava a
garganta e me fazia uma careta.”

“O pai dela”, digo logo acima de um sussurro, porque não


consigo respirar.

“Vinte e dois anos atrás, eu teria jogado você na cama e ficado


com você até que você estivesse...” Ele sorri enquanto morde o
lábio inferior e balança a cabeça.

Eu dou outro passo para trás até minhas pernas baterem na


cama, e tropeço, aterrissando com a minha bunda na borda.
Minhas mãos apertam a colcha.
Até que eu estivesse o que? Não quero que ele termine.

Merda! Sim, eu quero.


Ele se ajoelha no chão na minha frente, descansando as mãos
nas minhas pernas. Está me causando queimaduras de terceiro
grau.
“Você se lembra deste quarto ou nós dois o estamos vendo
juntos pela primeira vez?”

Suas mãos exigem supervisão constante. Eu não posso tirar


meus olhos delas. “Uh…” Engulo em seco. “Eu lembro.”

“E?” Ele aperta minhas pernas uma fração.

Eu gostaria de estar tão entorpecida ao seu toque quanto às


emoções da vida de Daisy, mas não estou. Não é só que Nate é
esse homem incrivelmente sexy me tocando – estou noiva do
homem mais sexy do mundo. É que meu corpo se ilumina ao seu
toque, como ver um velho amigo pela primeira vez em duas
décadas. A familiaridade é como uma droga. Como se eu fosse

JEWEL E. ANN
uma vez viciada em Nate Hunt, e depois de anos de sobriedade,
estou sendo atingida novamente e isso envia meus sentidos para
um esquecimento de necessidade.

“Você se lembra de você?”


“De mim, não. Daisy.” Eu ainda não deixo meu olhar vagar
um centímetro de suas mãos. “E não. Eu tenho essa foto da vida
dela na minha cabeça, você, esta casa, seus pais... literalmente
tudo e todos menos dela. É como se Daisy tivesse sido apagada. E
detesto não ter sentimentos associados às coisas que vejo.”

Minha respiração fica presa quando sua mão se move da


minha perna para o meu queixo, inclinando-o para que olhe para
ele.
“Você quer se lembrar de como é ser Daisy?”

“Sim.”
“Por quê?”

“Para entender as coisas em minha mente.”

“E se isso significar que você vai sentir o que ela sentiu


quando morreu?”

“Eu não sei.”


“E se isso dificultar que você ignore as duas pessoas no andar
de baixo? Se o seu amor por eles voltar à vida, o que isso faria com
o seu relacionamento com sua mãe?”
Engolindo, balanço minha cabeça muito ligeiramente.

“Você quer sentir esse amor por eles?”

É amor. Pode o amor ser uma coisa ruim? Nós podemos amar
muitas pessoas?
“Talvez”, eu digo, sentindo o calor de seu corpo chamuscando
o meu.

JEWEL E. ANN
“Você quer sentir o nosso amor de novo?” Sua mão desliza ao
longo do meu pescoço até que a ponta do seu polegar esfrega o
ponto abaixo da minha orelha onde ele costumava me beijar.

Sim. Eu quero sentir. Quero fechar meus olhos e voltar vinte


e dois anos em minha mente e deixá-lo me beijar ali. Eu quero
isso para ele. Quero isso para mim. Então quero abrir meus olhos
e continuar com minha vida como se nunca tivesse acontecido
nada, enterrar o momento na sepultura com meu velho corpo e
nunca pensar nisso novamente.

“Eu ainda sinto você em todo lugar.” Seus olhos se fecham. A


mão na minha perna aperta e o polegar no meu pescoço pressiona
um pouco mais forte.
Controle. Ele está lutando por cada respiração. Se eu deixar
Nate me beijar, isso lhe daria um ponto final? O beijo de despedida
que ele nunca teve. Ou alimentaria uma fome insaciável? Onde o
beijo pararia? Onde suas mãos parariam?
Mais do que isso... Até onde eu o deixaria ir?

“Você vai me beijar?” Eu sussurro porque tenho que saber


antes do meu coração explodir.

Nate abre os olhos, compartilhando um olhar sem peso e um


sorriso suave. “Não, não vou beijar você.” Ele fala lentamente
enquanto o aperto de suas mão em mim relaxa. “Você não é minha
para beijar.”
“Mas você acha que sou sua para amar.”

“Parte de você.” Seu sorriso aumenta. “Sim.” Ele fica de pé.


“Vou deixar a parte física de te amar para o seu namorado de
verdade.”

Namorado de verdade...

Eu não tenho que lembrar como Daisy se sentia


emocionalmente para entender porque ela se apaixonou por Nate
Hunt. Mesmo agora, aos trinta e sete anos, aquele sorriso juvenil

JEWEL E. ANN
e brilho malicioso em seus olhos me desarmam sem qualquer
esforço.

Ele franze os lábios, me estudando por alguns segundos.


“Você ia me beijar?”
“Não seja arrogante.” Meus olhos se estreitam para ele.

“Você me perguntou primeiro. Isso te faz arrogante?”

“Você estava me tocando.”

“Você estava me deixando tocar em você. Então me deixe


reformular... você ia deixar que eu te beijasse?

Fico de pé, erguendo o queixo enquanto respiro com raiva.


“Estou noiva de outro homem.”

“Foi uma pergunta de resposta sim ou não.”


“O que você acha?” Meu queixo se inclina um pouco mais
alto.
Algumas mulheres passam a vida inteira sem ver um homem
olhando para elas em completa adoração. Eu já tenho dois
homens que olham para mim como se eu fosse algo muito
especial. Por quê? Bem, quem sabe?

“Não. Você nunca me deixaria te beijar como se fosse minha.


Você nunca concordaria em se casar com um homem que você
não ama com cada fibra do seu ser.”

Toda vontade de brigar drena do meu corpo, os ombros


relaxam, o queixo se afunda e minha carranca se suaviza.

“Sei disso porque parte de você uma vez me amou assim.”

Eu não penso. Meus braços voam em volta do pescoço dele,


abraçando-o contra mim. Depois de alguns segundos, ele retribui.
“Obrigada”, eu sussurro em seu ouvido.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 20

E se o propósito da minha vida for garantir que minha melhor


amiga encontre a felicidade?

Eu a abraço.

Ela teria me beijado de volta se eu tivesse me permitido beijá-


la, não porque não ama Griffin. Porque… Estamos testando o
tempo. Esperando o momento certo – a vida certa.
“Obrigada”, ela sussurra.

Eu a abraço mais forte. A cortina desceu para Nate e Daisy.


Lamentei o fim. No entanto, aqui estou recebendo um bis. Não vai
durar. Nada dura. Mas não vou piscar. Eu não vou respirar. Com
cada grama de força que tenho dentro de mim, vou parar o tempo
e viver neste momento para sempre.
“Oh... desculpe.” Dennis nos dá um sorriso desajeitado
quando abre a porta. Sem pigarro. Nenhum olhar assassino.

Swayze recua.

“É emocionante estar nesse quarto”, digo como uma desculpa


para o que ele acabou de ver. “Dennis, esta é Swayze.”
“Oi.” Ela sorri, bochechas vermelhas de vergonha. Um bom
rubor sempre parecia bem em Daisy também.

“Prazer em conhecê-la.” Dennis aperta a mão dela e me dá


sua atenção. “Eu não acho que Claudia vai deixar Morgan ir para
casa com você.”

JEWEL E. ANN
Sorrio. “Estou feliz que pudemos passar por aqui hoje.”
Nós o seguimos para baixo.

“Eu vou ficar com ela para mim.” Claudia abraça Morgan,
beijando suas bochechas rechonchudas.
Dennis sacode a cabeça. “É claro que você sabe para quem
ligar se precisar de uma babá.”

“Sim.” Claudia se anima. “Ligue para mim sempre que


precisar de alguém para ficar com ela.”

“Obrigado.” Pego Morgan e coloco-a na cadeirinha.

“Estar no quarto fez você se sentir mais perto dela?”

Eu olho para cima, dando a Swayze um rápido olhar.


Seus lábios se franzem juntos.

“Sim. Eu me senti muito perto dela.”


“É difícil acreditar que já faz tanto tempo. Eu tinha tantas
coisas que queria dizer a ela. Tantos conselhos que eu queria
compartilhar com ela. Você vai entender quando sua garotinha
envelhecer. Há tempo, apenas nunca o suficiente.”
Estou de pé, fechando minha jaqueta. “Não. Não há.”
Claudia descansa a mão na minha bochecha, inclinando a
cabeça para o lado. “Não desista do amor, Nate. OK?”
Eu concordo. “Tenho mais amor do que um homem merece
aqui.” Eu olho para Morgan. Será difícil, talvez até impossível,
amar como ela está dizendo, depois de perder Daisy e Jenna.
“Foi muito bom conhecer você, Swayze.”

Ela sorri para Claudia e Dennis. “Posso perguntar o que você


diz para ela… Quando você está lá em cima conversando com ela?
Eu perdi meu pai. Estou apenas curiosa, pois parece ajudá-la.”

Dennis dá a sua esposa um sorriso gentil quando agarra a


mão dela.

JEWEL E. ANN
Ela inspira lentamente. “Bem, tem sido um pouco de tudo.
Alguns meses depois que ela morreu, decidi recomeçar de onde
ela estaria na época. Nós discutimos escola, dirigir, meninos,
faculdade.” Ela ri. “Acho que até falei sobre controle de natalidade
com ela. E Nate...”

O foco de Claudia muda para mim por alguns segundos. “Eu


disse a ela tudo sobre você. Quanto você se entristeceu com a
morte dela. Eu disse a ela que se você não fosse ao baile de
formatura, sabia que era porque você não podia ir com ela.”

Porra. Isso dói. Eu não fui. Não vivi de muitas maneiras


durante anos... Até conhecer Jenna.

“Eu disse a ela que você decidiu ir para a faculdade em vez


de jogar hóquei. Eu tive que dar a notícia para ela do seu noivado.”
Ela pisca. “Ela ficou com ciúmes, mas entendeu.”
Swayze ri. Encontro seu olhar e sorrio.
“E mais do que tudo, dei a ela conselhos sobre como navegar
neste mundo, no caso dela ter uma segunda chance. Loucura,
certo?”
“Uma segunda chance?” Swayze arregala os olhos.
“Swayze, você pode, por favor, pegar a bolsa de fraldas?” Eu
levanto a cadeirinha.

“O que você quer dizer com...”

“Swayze, o saco de fraldas. Nós realmente devemos ir.”


Claudia agita seu pulso. “Eu só estou sendo boba. Sei que
provavelmente não existe reencarnação, mas é reconfortante
pensar que sua alma seguiu em frente. Nossa filhinha tinha uma
alma linda.”

“Engraçado você mencionar isso...”

“Swayze!”
Todos desviam sua atenção para mim.

JEWEL E. ANN
“Desculpa. Eu não quis levantar minha voz. Acabei de me
lembrar que tenho um podcast para gravar esta noite e estou de
repente me sentindo ansioso. Achando que não vou fazê-lo se não
levar Morgan para casa e colocá-la na cama bem cedo.”

“Claro.” Claudia nos leva até a porta. “Eu não posso te


agradecer o suficiente por trazê-la. Estou um pouco envergonhada
por não termos feito o primeiro esforço meses atrás.”
“Foi bom ver você, Nate. E bom conhecê-la, Swayze.”

“Obrigado, Dennis. Foi bom ver você de novo também.”

“Sim, obr...”
“Tenha uma boa noite.” Eu empurro Swayze pela porta na
minha frente.

“Qual é o seu problema?” Ela se desvia para ficar na calçada


enquanto a empurro para frente com a cadeirinha de Morgan
“Eu só fiz um pedido – não seja esquisita.”

“Eu não estava sendo esquisita. Cara! Ela levantou o assunto


como se estivesse aberta à ideia. E se ela soubesse?”
“Shh!” Empurro minha cabeça em direção a porta dela.
“Entre.” Eu prendo o assento infantil e pulo para o banco do
motorista antes que Swayze decida correr de volta para dentro
gritando: “Sou eu! Sua filhinha.”

“Se eu sou esquisita, então você, professor, é um completo


paranoico. E oh meu Deus… bom trabalho esperando tanto tempo
para mencionar que você deu o nome de Morgan à sua filha. Ótimo
trabalho.” Ela cruza os braços sobre o peito e gira a cabeça em um
aceno decidido.
“Swayze, você não pode fazer a reunião da filha morta quando
não tem nada para oferecer, a não ser visões. Você não pode amá-
los como Daisy os amava. Você tem uma nova vida, uma nova
família. Não é legal você querer jogar neles a bomba Eu Sou a

JEWEL E. ANN
Reencarnação da Daisy e depois pular fora como se você não
tivesse acabado de explodir suas mentes.”

“Eu tenho um pouco mais de graça e tato do que isso, mas


obrigada pelo voto de confiança.”
Quando nos voltamos para a estrada principal, alguns
minutos depois, olho-a de soslaio. “OK. O que você ia dizer a eles?”
Seu olho se contorce, a mandíbula cerrada.

“Eu estava protegendo-os, não te descartando.”

Ela sacode a cabeça para mim. “Você estava totalmente me


descartando, como uma criança. Eu sei quando estou sendo
repreendida publicamente. Meus pais costumavam fazer isso
quando eu ficava de saco cheio deles me tratarem como uma
criança.”

Eu sorrio. “Então, se dissessem algo sobre você agindo como


uma criança, sua resposta era fazer uma cena ainda maior, agindo
exatamente como uma criança?”

Seu nariz enruga enquanto ela fala com uma voz zombeteira.
“Swayze, você precisa ir ao banheiro? Swayze, você lavou as mãos
com sabão? Swayze, deixe-me ajudá-la a amarrar melhor o seu
sapato. Swayze, você está coçando muito a cabeça, deixe-me ver
seus piolhos.”

“E você teve piolho?”

“Essa não é a questão. Estou cansada das pessoas me


dizendo o que fazer ou o que pensar. É por isso que quero fazer a
hipnose. Eu quero que meus sentimentos e opiniões sobre essa
vida sejam meus.”
Coço minha cabeça. “Nós nos abraçamos muito ultimamente.
Isso é tudo o que é preciso para esses pequenos parasitas
traidores pularem em outra pessoa. Você sempre foi tão
generosa?”

JEWEL E. ANN
“Oh meu Deus! Você poderia, por favor, se concentrar? Eu
não tenho piolho.” Ela olha pela janela e murmura: “Muitas vezes.”

“Eca...”
Swayze afasta um fio de cabelo do rosto. “Cale-se. Havia pelo
menos dez chapéus vermelhos idênticos nos perdidos e achados
na escola. Acabei escolhendo o errado.” Com um suspiro, ela
inclina o corpo para mim. “Mas, falando sério, você sabe o quanto
isso poderia melhorar suas vidas se soubessem que Daisy teve
uma segunda chance?”

“Mais uma vez, você não está me ouvindo. Você não tem nada
emocionalmente para lhes oferecer. Se você tiver alguma
recuperação milagrosa de suas emoções através da hipnose, e
ainda sentir essa extrema necessidade de correr para casa de
Claudia e Dennis Gallagher, então você terá a minha bênção.”
“Bem, pai. É bom saber que tenho sua bênção.”
Eu me lembro de que ela tem vinte e dois anos, foi examinada
toda a sua vida e está vivendo com memórias de uma vida
passada. Ela merece um desconto pela atitude sarcástica e
infantil.

“Eu sinto muito.” Ela exala pura frustração. “Estou tendo


problemas de identidade. Questões de moralidade. Problemas de
compromisso. Questões de vida.”

Nós entramos na garagem. “Minha cabeça está em todo lugar


desde que nos conhecemos. E tenho certeza que o que eu sinto é
uma pequena fração do que você está lidando. Então não precisa
pedir desculpas. OK?”
“Obrigada por me levar para vê-los.” Ela descansa a mão na
minha sobre o câmbio de marchas.

O calor do seu toque me dá algo que perdi por tantos meses.


Eu saboreio, sentindo-a em meus ossos, profundamente. “De
nada.”
Ela abre a porta e sai.

JEWEL E. ANN
“Swayze?”
“Sim?”

Eu quero merecê-la. Eu a perdi uma vez. Minha esposa


morreu. O destino é essa linda, brilhante e tentadora desculpa
para dobrar minha própria moralidade para se ajustar ao que eu
quero, mesmo quando ela não é minha. “Não se perca em busca
dela.”
“Em busca de Daisy?”

Eu concordo.

Mordendo os lábios, uma linha profunda aparece ao longo de


sua testa. “E se eu precisar encontrá-la?”

“E se você não encontrar?”

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 21

“Aqui está o meu cara da mercearia favorito.”


Griffin olha por cima do ombro, trabalhando em alguma peça
de metal em sua bancada de trabalho. Seus olhos fazem a
inspeção usual.

“Ainda gosta do que vê?” Eu sorrio.

“Sempre.” Ele se volta para a peça em suas mãos,


inspecionando-a de perto.
Diga! Por favor.

“Como foi seu dia, Swayz?”


Sim!

“Eu exagerei no açúcar do meu café essa manhã. Deixou-me


um pouco trêmula no almoço. Morgan está engatinhando um
pouco. Em mais uma semana, acho que ela estará em todo lugar.”

“Uma idade divertida.”


“Sim.” Viro meu balde e me sento. Isso é legal. Estamos
falando do meu trabalho como um trabalho, não como a
concorrência de Griffin. Eu não sinto nenhuma agitação em sua
voz. Talvez eu possa conduzir isso bem, afinal.
“Eu tenho três boas opções de trabalho longe daqui”, diz ele.

“Espere. O que?”

Griffin se vira, limpando as mãos em um pano. “Eu conversei


com Jett sobre isso no outro dia. Ele me deu três opções, qualquer
uma delas seria minha se eu quisesse. Podemos ver qual local
seria a melhor opção para você encontrar um emprego. Já

JEWEL E. ANN
conversei com meus pais sobre isso também. Eles concordam que
é melhor.”

“Me...” Meus pulmões ardem, implorando por uma respiração


enquanto meu coração desmorona, caindo sobre o meu estômago.
“Melhor para quem?”

“Nós.”
Eu sacudo minha cabeça. “Do que você está falando? Por que
está fazendo isso?”

“Eu te amo.”

A adrenalina despeja nas minhas pernas, me fazendo pular


do balde. “Isso não é amor!”

“Eu quero você em segurança.”


“Você me quer longe de Nate.”

Griffin acena, estranhamente calmo, como se estivesse


segurando um royal flush.

“Nate não é um perigo para mim. Você não pode me tirar


deles. Você não pode me pedir para deixar minha mãe. Você não
pode me pedir para deixar a Dra. Albright quando estamos
chegando perto de fazer um progresso.”

“Eu te amo. E quero passar minha vida com você. Proteger


você é minha prioridade número um.”

Eu começo a responder, mas as palavras desaparecem,


deixando-me sufocando em uma respiração superficial. Parece
que o mundo está desmoronando ao meu redor enquanto Griffin
não mostra sinais de estresse, raiva ou arrependimento.

“Proteger-me de quem? Nate?”


“Você mesma.”

Luto contra as lágrimas que ardem nos meus olhos. “Isso não
é amor. É o seu ciúme. Isso é você não confiando em mim. Você
não acreditando em mim. Você acha que me arrastar para algum

JEWEL E. ANN
lugar longe daqui vai fazer as memórias desaparecerem. Mas elas
não vão a lugar nenhum, e a menos que eu encontre uma maneira
de trazê-las à vida, nunca serei capaz de deixar isso para trás.”

“Nós vamos nos mudar depois das férias, quer você tenha um
emprego ou não.” Ele vira as costas para mim.

“Isso é um ultimato?”
“É uma intervenção.”

Eu tusso sarcasticamente. “Uma intervenção? Acho que isso


exige mais de uma pessoa.”

Ele encolhe os ombros. “Bem. Vou ligar para os meus pais e


sua mãe.”

“Minha mãe? Realmente? Porque a última vez que conversei


com ela, ela estava do meu lado.”
“Swayz, estamos todos do seu lado.”
Quando ele se vira, encostando-se à bancada com as mãos
na beirada, solto as lágrimas que querem escapar.
“Forçar-me a fazer algo que não quero não é estar do meu
lado. Eu não sou criança. Estou tão cansada de pensarem que
sabem o que é melhor para mim.” O nó na minha garganta incha,
fazendo minhas palavras serem interrompidas. “Eu era Morgan
Daisy Gallagher, quer você aceite ou não.”

Griffin esfrega a mão sobre a cabeça. “Swayz, eu acredito em


você. Eu aceito.”

“Então por quê?”

“Porque não quero arriscar alguém fodendo com seu cérebro


por uma pequena chance de você se lembrar de algo que fará
diferença no destino de Doug Mann. Eu não quero arriscar ver
você perder a cabeça por causa de uma morte horrível. E...” Seu
pomo de Adão balança enquanto sua testa enruga.

JEWEL E. ANN
Eu me abraço como se pudesse fisicamente manter tudo
junto. “Termine. Você chegou até aqui. Apenas... diga tudo.”

“Eu não quero que você sinta coisas por ele. Estou te
implorando para deixar todas as emoções enterradas na porra do
chão, junto com o corpo dela.”

Meu queixo desliza de um lado para o outro. “E você


compartilhou tudo isso – Daisy, Nate, a reencarnação – com sua
família?”

“Sim.”

Solto um grunhido, balançando a cabeça. “E eles acreditam?”


“Eles não sabem no que acreditar. Mas, dado o fato de você
ter um psiquiatra que acredita em você, é difícil defender qualquer
outra coisa. No entanto, concordam que deixar Madison – deixar
Wisconsin – é a única maneira de termos uma chance.”
“Oh meu Deus...” Corro minhas mãos pelo cabelo, cutucando
a borda da histeria e do delírio. “É um ultimato. Eu concordo em
ir e temos uma chance. Mas e se me recusar a ir?” Eu seguro
minhas mãos para os lados, palmas para cima. “Então o que?”
Pela primeira vez, sinto uma dor genuína vindo de Griffin.
“Swayze ...”
Ótimo. Eu sou Swayze agora. Isso não está acontecendo.
Alguém por favor, me acorde da porra deste pesadelo.

“Estou indo, não importa o quê.”


Pressionando minha boca em uma linha firme, aceno
lentamente, focando no chão entre nós. “Então isso não é
realmente sobre o que é melhor para mim. Você só quer se
mudar.”

“Jesus...” Ele suspira, finalmente mostrando uma ponta de


agitação, andando vários passos em cada direção, cabeça baixa,
mãos enfiadas nos bolsos de trás de sua calça jeans. “É tudo sobre
você! Você não entende isso?”

JEWEL E. ANN
“Então, por que você ainda se mudaria se eu dissesse não?”
Ele para na minha frente, agarrando meu rosto com um
aperto firme. “Porque eu não vou assistir você se autodestruir. Não
vou assistir você se apaixonar por outro homem. Eu não vou
assistir você ser mãe de uma criança que não é minha. Você quer
o pedido perfeito e o casamento perfeito. Mas eu só quero você.
Desde o dia em que nos conhecemos, tem sido simples assim para
mim. E vou te aceitar com as almas de um milhão de vidas tecidas
na sua. Vou te ouvir quando você precisar falar, vou te proteger
quando você estiver com medo, vou ser o que for ou quem você
precisar que eu seja... mas não serei ele.”

“Eu não o quero”, sussurro.


“Não?” Ele inclina a cabeça para o lado.
“Não.”
“Então, mude-se comigo.”

“Por favor, não me peça para fazer isso.”

“Não peça para você fazer o que? Casar comigo? Ter uma
família comigo? Morar comigo?” Suas palavras ganham um tom
mais afiado quando seu aperto no meu rosto se intensifica. “Ser
fiel a mim?”
Eu engulo apesar do bloqueio irregular na minha garganta.
As narinas de Griffin se abrem quando ele me solta com uma mão
e alcança seu bolso traseiro.

“Levar uma foto minha no seu bolso?” Ele segura a foto de


Nate.
Eu não tenho que perguntar onde ele a conseguiu. Estou
usando legging hoje. Griffin cuida da nossa roupa, e eu fui
desleixada e esqueci que a foto estava no bolso do jeans que deixei
no chão do nosso closet.

Como pude ser tão descuidada em deixar isso lá? Como pude
ser tão estúpida em ficar com ela em primeiro lugar?

JEWEL E. ANN
Ele amassa a foto e a solta no chão enquanto a outra mão
espalma a parte de trás do meu pescoço, pressionando nossas
testas juntas.

“Swayz...” Meu nome sangra em seu peito enquanto


respirações pesadas caem entre nós.

Eu pisco e a represa libera toda a dor que não posso mais


ignorar.
Ele puxa uma respiração instável. “Você está. Quebrando. A.
Porra. Do. Meu. Coração.”

Eu tento falar, mas soluços dolorosos sufocam minhas


palavras.
Seus lábios pressionam minha bochecha. Mesmo agora,
quando ele tem todo o direito de estar com raiva, tudo o que sinto
é seu amor – a dor dele. Eu machuquei meu cara da mercearia. E
não sei como consertar isso.

“Se você não se afastar disso...” Ele roça a boca sobre o meu
rosto, apagando minhas lágrimas com os lábios “... eu não serei
capaz de aguentar.”
Meus dedos enrolam em sua camisa.
Não me deixe.
“Griff...” enterro meu rosto em seu peito. “Eu te amo.”

Suas mãos caem flácidas para os lados, deixando uma


lembrança arrepiante do seu toque ao longo do meu rosto. Depois
de fazer uma bagunça molhada e enrugada em sua camisa, ele dá
um passo para trás, nos separando.
Não… sou eu quem está nos separando porque estou muito
confusa da cabeça. É um pensamento mórbido, mas neste
momento me pergunto se um tumor no cérebro seria menos
doloroso para nós dois.

JEWEL E. ANN
“Eu sei que você me ama.” Griffin diz isso para mim,
enquanto seu olhar permanece fixado na foto de Nate no chão, é
um punhal auto infligido em meu coração.

Isso é muito pior do que a Apple sentada no meu balde. Este


é Griffin viajando para a Califórnia com ela. Não… Isso é pior. Não
tem como uma noite trancados em nosso quarto, sob os lençóis,
consertar isso.
Quando seus olhos avermelhados me encontram novamente,
eu não olho para longe, não importa o quanto dói. E querido Deus,
a angústia e a decepção doem. Então confesso, esperando que
haja verdade na frase “a verdade te libertará.” Eu não acho que
vai, mas Griffin merece a honestidade de mim.
“Essa outra vida quer me consumir, e eu não sei se posso
parar. Quero deixar de lado, mas é mais forte que qualquer droga.
É maior que eu. É maior que a vida. Então posso lutar pelo resto
da minha vida, ou posso me submeter a isso.”
“Isso ou ele?”

É claro que ele acha que é sobre Nate, há uma foto no chão
que mostra o nome de Nate em neon. Mas não é sobre ele.

“Ela. É sobre Morgan Daisy Gallagher. Eu não posso deixar


isso para trás até eu saber quem estou deixando ir.”

Griffin se vira, esfregando a foto amassada com a bota. “Eu,


você está me deixando”, ele murmura indo embora. “Você está me
deixando ir.” Ele levanta a porta da garagem, coloca a jaqueta e o
capacete e sai sem outro olhar na minha direção.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 22

Encontrei a foto quando corri para casa na hora do almoço.


Talvez haja um motivo para eu não estar procurando por amor no
dia em que conheci Swayze. Amor como este é uma emoção
miserável.
A foto do professor Hunt não é da infância deles. É uma foto
de um Nate viril e sem camisa de vinte e poucos anos, mais ou
menos da minha idade, eu acho.
Ele deu a ela? Ou ela pegou?

Eu não sei. Não importa. Estou perdendo Swayze e não há


nada que eu possa fazer.

Amor assim é uma emoção miserável.


“Ei.” Minha mãe olha para cima do balcão da cozinha que
estava limpando. Ela me dá um sorriso triste.

Eu tiro minha jaqueta e devolvo a mesma expressão solene.


“Ei.”

“Você voltou. Isso significa que não correu bem?”

Depois que encontrei a foto, eu pensei sobre ir atrás do


Professor Hunt e bater nele até o último suspiro. Em vez disso,
vim para cá. Meus pais têm uma maneira de dissipar minha raiva.

“Algo assim.”

“Onde está Swayze?” Mamãe pergunta assim que meu pai


desce as escadas.

JEWEL E. ANN
Ele me dá o mesmo olhar, acomodando-se na cadeira da
cozinha ao meu lado.

Eu olho para trás para a minha mãe enquanto ela joga o pano
na pia e se inclina contra o balcão. “Eu suponho que ela está em
casa. Depois que a confrontei, acabei saindo. Eu não sabia mais
o que dizer.”

“Eu liguei para Krista depois que você saiu mais cedo. Acabei
descobrindo que ela e Swayze tiveram uma conversa de coração
para coração sobre isso. Krista também sabe da foto. Eu posso
dizer que o coração dela está realmente quebrando por Swayze.”

Solto uma respiração rápida pelo meu nariz, balançando a


cabeça. “Jesus! Meu coração está partido por ela também. Mas
não posso salvá-la se ela não quiser ser salva. Eu não posso fazê-
la querer um futuro comigo se ela não sabe quem é. Não há como
competir com isso. Ela mesma disse isso. Isso é maior que todos
nós. Mas eu não fiz parte daquela vida. Ele fez. Eu não tenho
respostas para ela. Ele tem.”

Descansando meu cotovelo na mesa, fecho meus olhos e


massageio a tensão da minha testa.

Mamãe me abraça por trás. “Ela ama você. Krista disse isso.
Estou dizendo isso. Todos nós vemos isso.”

Eu arranho uma risada. “Eu sei que ela me ama. Se não


acreditasse, apenas iria embora. Mas eu não vou. Estou
defendendo meu ponto de vista, mas não posso deixar as coisas
como estão e esperar que piorem. Se ela fizer essa hipnose e as
coisas piorarem, não vai ser no meu ombro que ela vai chorar. As
emoções serão da Daisy. E sabemos que não sou o amor da vida
de Daisy.”
Com um beijo na minha orelha, minha mãe me solta e senta
do lado oposto do meu pai. “Nós amamos Swayze como uma filha.
Mas você é nosso filho. Você vem primeiro. Não dê mais do que
você tem para dar. Se ela cair, e você não puder salvá-la, saia do
caminho antes que ela te derrube junte.”

JEWEL E. ANN
“Eu odeio isso”, sussurro, mantendo meus olhos fechados
para manter as emoções sob controle.

*
Está frio pra caralho enquanto ando por mais uma hora na
minha moto. Dou as boas-vindas ao entorpecimento – se isso
pudesse me atravessar e se enrolar no miserável órgão bombeador
de sangue no meu peito. Swayze não tentou ligar ou me mandar
uma mensagem. Talvez eu deva ficar grato por ela estar me dando
espaço, mas parte de mim imagina se ela está longe demais para
salvar o que nos resta.

A porta dos fundos e o piso de madeira rangem para anunciar


minha chegada. Tudo nesta casa range quando as temperaturas
caem.
“Ei.” Swayze agarra seu rabo de cavalo e tira seus fones de
ouvido, me olhando por cima do ombro, suas mãos e joelhos no
chão da cozinha. “Tire suas botas no tapete. Estou quase
terminando de esfregar o chão.”
Ela não esfrega o chão.
Eu me inclino e desato os cadarços das minhas botas
enquanto ela vai para a última tábua do patamar perto da mesa
giratória.

“Por que você está esfregando o chão?” É como se eu estivesse


assistindo a um vídeo dela em velocidade acelerada.
Ela se levanta, enxuga o suor da testa e suspira. “Ele fica sujo
rapidamente nesta época do ano.”

“Sim. Mas por que você está esfregando o chão?” Eu saio das
minhas botas.

Jogando seu telefone e fones de ouvido no balcão, ela lava a


esponja. “Eu só estava tentando ficar ocupada.”
“São quase dez horas.”

JEWEL E. ANN
Ela pega um pedaço de papel toalha e seca as mãos,
levantando os ombros. “Minha mente não vai desligar ainda, então
achei que ouvir música que odeio misturado com as tarefas que
odeio fazer, seria fisicamente e mentalmente desgastante. Você
precisa usar o banheiro? Eu vou limpa-lo em seguida. Talvez esse
seja o ponto de inflexão da minha exaustão.”

“Quando você começou a ter problemas para dormir?”


“Desde que decidi fazer o que for preciso para impedir meu
noivo de me deixar.”

Eu esfrego a parte de trás do meu pescoço. “Swayz, eu não


quero deixar você. Eu quero levar você.”

“Isso não faz sentido!” Ela balança os punhos. “Estamos


planejando um casamento e você quer se mudar? Como isso vai
funcionar? Iremos nos esconder na cidade para dizer o sim? A
nossa família vai vir até nós em vez disso? Ou? Ou? Ou?”
“Pare!”

Ela estremece.

Com as mãos plantadas nos meus quadris, eu me inclino


para frente. “Eu encontrei uma foto de um cara seminu no bolso
do seu jeans.”
Ela morde os lábios. Mesmo a essa distância, sei que é para
manter suas emoções sob controle. Não esconde o ligeiro tremor
do queixo. “É só isso. Esqueci o seu aniversário e você me trancou
para fora da sua casa. Você achou uma foto de Nate no meu
bolso… Mas ainda estou aqui. Eu não entendo.”

“Eu exagerei no meu aniversário.”


“Por quê?”

Esfregando minha testa, eu chuto. “Porque eu estava


animado em pedir para você morar comigo. Porque você me pegou
completamente desprevenido. Porque eu estava tendo um
momento.” Estendo minhas mãos. “Eu não sei, Swayz, porque sou

JEWEL E. ANN
humano, porra. Você me coloca em um pedestal, e nunca vou viver
de acordo com o que está em sua cabeça. Às vezes vou ser mal-
humorado e irracional. Mas não vou carregar a porra de uma foto
de outra garota!”

Ela recua.

Mais uma vez, estou mostrando a ela minhas imperfeições.


Estou mostrando a ela meu amor disfarçado de ciúme e minha
dor disfarçada de raiva.

Ela esfrega os lábios, concentrando-se no chão entre nós. “Eu


sinto muito.”

Eu sei que ela sente. Mas não é o que preciso ouvir.


“Você quer conhecer os lugares onde Jett pode me conseguir
um novo emprego?”

Sua cabeça treme, mas ela não olha para mim. Agarrando o
balde de suprimentos de limpeza, ela mantém seu olhar nos pés
todo o caminho até o banheiro.

A porta clica.
“Foda-se, Morgan Daisy Gallagher”, sussurro.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 23

“Você ainda está aqui.” Eu esfrego meus olhos e gemo quando


sirvo uma xícara de café que meu noivo não bebedor de café fez
para mim.

Eu não o mereço. Mas eu o quero.

“Está nevando muito hoje. Vou levá-la para o trabalho e


buscá-la.” Ele enxágua o copo de suco na pia.

Eu não o mereço. Mas eu o quero.


“Obrigada.” Tomo um gole de café, olhando para ele sobre o
vapor. Senti falta daqueles braços em volta de mim na noite
passada. Por mais que queiramos acreditar que sob os lençóis
nossa conexão física pode consertar todos os erros do mundo, não
pode.
Meu coração esperou na minha garganta metade da noite,
desesperado por seu toque. Não precisava ser sexo. Um beijo. Uma
roçada de sua mão contra a minha. Qualquer coisa para me dar
um pouquinho de certeza de que estaríamos bem.

Nada.
Griffin se vira, me observando ansiosamente. Eu tomo mais
um gole de café e coloco a caneca no balcão. “Vou pegar minhas
meias para que possamos ir. Não quero que você se atrase para o
trabalho.”

Seus lábios repuxam em um sorriso. Um quase indetectável.


É o tipo de sorriso que um estranho na rua pode me dar se
fizermos um breve contato visual.
É isso que somos agora? Estranhos?

JEWEL E. ANN
Griffin olha para mim e se pergunta quem eu sou? A garota
que ele conheceu na mercearia o seguiria para qualquer lugar.
Aquela garota nunca levaria uma foto de outro cara no bolso.

Eu não o mereço. Mas eu o quero.


Ele olha para o relógio.

Eu entendo a dica e sigo para pegar minhas meias. Griff


parece muito sexy esperando por mim na porta com sua jaqueta
e um gorro preto na cabeça.

“OK.” Jogo a bolsa sobre meu ombro.

Ele pega minha mão e isso quase faz meu coração parar. “Eu
limpei a entrada de carros, mas ainda está escorregadio.”

Nós saímos e aperto a mão dele, não porque está


escorregadio. Eu aperto porque não quero soltar. Porque estou
morrendo por dentro. Porque é como meu coração está se
sentindo.

Sufocado.

Estrangulado.
Desesperado.

Não há nada que eu possa fazer para acabar com essa dor –
para fazê-la ir embora. Então vejo a neve cair enquanto os carros
se arrastam pelas ruas brancas e ouvimos o rádio, preenchendo o
silêncio desajeitado entre nós. Ele para na entrada de Nate, que
também foi limpa.

Eu solto meu cinto de segurança. “Obrigada pela carona.”

Ele não diz nada. Em vez disso, desce, vem ao redor e abre a
minha porta. E eu me apaixono por ele ainda mais do que pensei
ser possível. Griffin não me envia uma dúzia de rosas no meu
aniversário. Ele me entrega uma única pétala todos os dias. Às
vezes é um olhar. Às vezes é um sussurro. E às vezes está abrindo
minha porta, me ajudando, e segurando minha mão até o topo dos
degraus.

JEWEL E. ANN
“Às cinco?” Griffin solta minha mão e desliza as mãos nos
bolsos do casaco.

“Cinco.” Eu levanto as mãos até minhas orelhas, para


bloquear o vento.
Ele balança a cabeça, se vira e desce os degraus.

“Griff?”

Ele se volta.

Largo minha bolsa na porta da frente, desço os quatro


degraus e coloco meus braços em volta do pescoço dele. “Você é
minha pessoa favorita de todo o mundo. Meu amor... meu amigo...
meu cara da mercearia.” Enterro meu rosto no calor do pescoço
dele. “Saiba disso. Sempre saiba disso.”

Ele não me abraça de volta. E tudo bem. Ele está me deixando


na porta do homem cuja foto encontrou no meu bolso. Isso é culpa
minha. Tudo isso. Ele é meu para amar ou minar e perder.

Sem encontrar seu olhar – porque sei que iria me quebrar –


eu me afasto e subo correndo as escadas, pegando minha bolsa
antes de desaparecer atrás da porta da frente. Apoiando minhas
costas contra ela, tento acalmar minha respiração, segurando as
lágrimas.
“Estou feliz em ver que você conseguiu uma carona”, Nate
grita da cozinha.

Eu tiro meu casaco e botas.


“Bom Dia. Como estão as estradas?” Ele pergunta.

Eu sorrio para a pequena senhorita Morgan trabalhando para


engatinhar. “Neve típica do inverno adiantado. Lisas. E cheias de
motoristas deslizando uns contra os outros. É Wisconsin, não o
Texas. Como as pessoas esquecem de suas habilidades de dirigir
no inverno tão facilmente?”

JEWEL E. ANN
Nate me entrega uma xícara de café. “Vinte centímetros a
mais são esperados para hoje mais tarde. Vai ser uma viagem
divertida para casa.”

“Obrigada.” Tomo um gole. “Ainda bem que tenho um


motorista hoje.”

“Bom homem.”
Sorrio, balançando a cabeça. “Eu não acho que você diria isso
se soubesse como foram as últimas doze horas para mim.”

“Oh?”

“Sim.” Colocando a caneca no balcão, volto minha atenção


para Morgan. Ela sorri quando me deito no chão com ela,
tentando-a com um brinquedo. Quando eu começo a falar, minha
voz se quebra. É cru. Muito cru. Limpando minha garganta,
começo de novo como se estivesse relatando as notícias em vez de
compartilhar minha angústia. “Griffin quer que eu largue tudo e
vá embora com ele.”

Depois de alguns segundos de silêncio, olho por cima do


ombro. Talvez Nate não tenha me ouvido. Suas sobrancelhas estão
tão curvadas que parecem uma em vez de duas.
Ele me ouviu.
“Mesmo?”
“Sim. Mesmo.”

Nate acena com a cabeça uma vez. “Então você está me dando
seu aviso-prévio?”

Volto-me para Morgan, girando-a para o outro lado para que


ela não fique frustrada com a cabeça batendo no sofá, já que seu
engatinhar ainda não contempla marcha ré. “Eu não sei. Eu não
quero me mudar. Mas...”

“É o trabalho dele?”

JEWEL E. ANN
“Ele não quer que eu continue com a Dra. Albright. A
hipnose.”

“Então não faça. Mas isso não significa que você precisa se
mudar.”
“Não? Eu tenho essa pessoa dentro de mim e não a conheço.
Ela é a chave para colocar um assassino atrás das grades.” Eu me
levanto, pegando Morgan e balançando com ela enquanto a garota
começa a se remexer. “Isso não é como devolver algo para a loja.
Nossa mudança não vai apagar Daisy da minha cabeça.”

“Isso é realmente o que ele pensa?”

Olhando pela janela, solto uma respiração lenta. “Ele


encontrou sua foto no bolso do meu jeans.” Quando volto meu
olhar para Nate, suas sobrancelhas estão arqueadas em sua testa.

“Swayze...”
“Eu não deveria ter pegado. Eu não deveria ter carregado no
bolso. Um milhão de diferentes eu não deveria ter, mas não posso
mudar o que aconteceu. Não é justo que ele me peça para deixar
meu emprego e deixar minha família porque ele não...” Engulo de
volta minhas palavras, com uma ruga de dor no rosto.
“Ele não te quer perto de mim.” Nate esfrega os lábios,
balançando a cabeça lentamente.

“Eu sei. É ridículo. E...”

“Não é.” A tristeza enruga os cantos de seus olhos enquanto


se estreitam um pouco.

“O que você quer dizer?”


Ele zomba. “Swayze, você tinha uma foto de outro homem no
seu bolso. Não um cartão de baseball de noventa e nove centavos
do seu jogador favorito. Como você esperava que ele reagisse?”

“Então você acha que esse ultimato que ele está me dando é
justificado?”

JEWEL E. ANN
“Ultimato?” Ele me entrega a mamadeira de Morgan quando
ela começa a se agitar mais um pouco.

Eu me sento na cadeira e dou a ela. “Sim. Ele não sugeriu


que eu pedisse demissão e nós nos mudássemos. Ele me disse que
está indo com ou sem mim no primeiro dia do ano.”

“Então vá.”
Minha mandíbula se abre. “O-o que você está falando? E
quanto a Morgan? E quanto a Doug Mann? Daisy? Minha mãe? A
família dele?”

“E quanto a você?” Ele levanta sua bolsa para o ombro. “Você


o ama? Ele é o cara?”
Lágrimas ardem em meus olhos. Eu as pisco para longe.
“Você está defendendo Griffin.”

Nate franze a testa, caminhando em direção à cadeira. Ele


beija Morgan na cabeça. E então me beija na cabeça. Eu odeio que
queira que ele faça isso. Eu odeio que isso pareça tão natural e
esperado. “Talvez eu esteja.” Ele fica de pé.

“Por quê?”
Com uma risada suave, ele coça a barba no queixo e na
mandíbula. “Se eu fosse da idade de Griffin… Não importa a idade
dele. Inferno, mesmo na minha idade, se eu tivesse uma noiva e
encontrasse uma foto de outro cara em seu bolso, eu iria atrás
dele e arrancaria sua cabeça de seu corpo.”

“Você não faria isso.”

Ele ergue uma sobrancelha. “Agora essa é a jovem ingênua


Swayze falando. Aquela que realmente não me conhece. Dê-me
um segundo. Assim que começar a pensar como Daisy, você
saberá que estou sendo cem por cento sincero.” Ele encolhe os
ombros. “Se tenho orgulho disso? Não. Tenho idade suficiente
para saber que violência não resolve nada, mas não sou velho
demais para lembrar como é querer uma garota além de qualquer
razão.”

JEWEL E. ANN
Eu procuro a resposta certa, mas não há uma, então apenas
pisco para ele repetidamente.

“Eu tenho que começar a trabalhar. Mantenha-se aquecida.”


Mais piscadas.
“Nate?” Digo assim que ele abre a porta. “Então você quer que
eu vá embora?”

“De jeito nenhum. Eu ainda sou o garoto que quer a garota


além de qualquer razão.”

A porta se fecha.

Trinta minutos depois, recebo uma mensagem de texto.

Professor: Pare de prender a respiração. Eu quero minha


‘amiga’. Só isso.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 24

“Na semana passada, Griffin me deu um ultimato. Mude-se


ou me perca. Nós temos coexistido em um silêncio quase total
desde então. Eu tenho menos de um mês para decidir se quero
ficar ou ir.”

Dra. Albright oferece um sorriso simpático, mas não sinto


nenhuma surpresa.

“Eu quero Griffin, mas não quero ir embora. Quero dizer…


Ele disse que acredita em mim. Ele acredita que eu fui Daisy e ele
pode aceitar isso.”
Ela escuta, dando-me um lento aceno de cabeça.
“Mas ele está preocupado com Nate. Os sentimentos de Daisy
por ele. Meus sentimentos por sua filha. E…”
Dra. Albright continua a oferecer um sorriso receptivo. Eu
amo a paciência dela comigo. Não é tic-tac seu tempo está quase
acabando. Ela olha para mim como se me compreendesse.
Claro que ela compreende.

“Continue. Não tenha pressa.”

Sim. Esta é a parte cansativa. Eu sei o quanto isso me


machuca, e eu só posso imaginar que é multiplicado por um
milhão com Griffin. “Ele encontrou a foto de Nate. Estava no bolso
do meu jeans.”
“Isso deve ter sido difícil. Doloroso.”

Eu aceno, piscando com as lágrimas. “A necessidade de


saber, sentir essa outra vida me deixa imprudente. Estou tomando
decisões ruins, mas elas não são minhas. E apenas dizer isso em
voz alta me faz sentir completamente insana. Ninguém é absolvido

JEWEL E. ANN
por assassinato porque a voz em sua cabeça era de outra vida. Na
melhor das hipóteses, acabam em um hospital psiquiátrico até
que cortam seus pulsos com um osso de galinha afiado.”

Dou risada. Não é engraçado, mas preciso me salvar. “Aposto


que eles só servem cortes de carne desossada em hospitais
psiquiátricos. Certo?”

Dra. Albright sorri. Um sorriso largo. Não o humor contido do


Dr. Greyson. “Eu não tenho todas as respostas. E não vou fingir
que sim. Escrevi esses livros como um meio de terapia. Eu os
escrevi também, para que talvez outras almas perdidas não se
sentissem tão sozinhas. Às vezes as memórias fazem você se sentir
fortalecida. Às vezes parecem a sua morte.”
Ela toma seu chá e levanta um dedo. “Lembre-se… Esta é
uma jornada nova para você. Uma jornada cheia de escolhas.
Reconhecer sua vida passada é uma escolha. Eu sei que não
parece agora, mas é. Nem todo mundo tem a oportunidade de fazer
essa escolha. Se você precisa saber, então você precisa saber. Não
se sinta culpada por isso.”

“Mas e quanto a Doug Mann? E se a razão pela qual eu me


lembro dessa outra vida é porque a alma de Daisy não havia
terminado tudo ainda? Isso é possível?”
“Absolutamente. Existem muitas possibilidades. Mas seu
trabalho não é descobrir o que Daisy quer, é descobrir o que
Swayze Samuels quer. E tudo bem se for a mesma coisa, mas
também está tudo bem se não for. Você é Swayze. Esta é sua vida.
Você não pode voltar e viver a vida dela.”

“Você está dizendo que eu deveria ir com Griffin.” Ela


provavelmente está certa. Afinal, ele está lá embaixo esperando
por mim, me protegendo, mesmo quando estou onde ele não quer
que eu esteja. Ou ele está ganhando tempo para poder dizer que
fez tudo o que podia ou ele me ama muito.

“Estou dizendo que você deve fazer o que Swayze quer. Ela
tem muitas estradas para escolher. E talvez algumas voltas
erradas ao longo do caminho. Isso é tudo parte da vida. Não roube

JEWEL E. ANN
nada do passado, nem pegue emprestado nada do futuro. Pague
suas dívidas hoje. Isso é viver a vida.”

Porra.
Sim, tenho vinte e dois anos, mas me sinto com doze porque
não sei o que isso significa. Mas tenho a sensação de que é o
conselho mais importante que alguém já me deu. Eu deveria
tatuar isso no meu antebraço e encarar todos os dias até que seu
significado penetre na minha alma.

“Como foi seu dia?” Eu quebro o silêncio no caminho de casa.


“Essa é a minha fala”, diz Griffin, os olhos na estrada.

“Bem, você não tem os direitos autorais sobre isso, e você não
me pergunta isso há algum tempo, então estou tentando ver se me
serve.”
“Meu dia foi bom. Fiz alguns treinos esta manhã e fui
entrevistado para um artigo de revista.” Essa é a maior frase que
ele me disse em uma semana.
“Isso é legal. Mal posso esperar para ver o artigo. É online ou
uma publicação em papel mesmo?”

“Ambos.”
“Então, foi um bom dia.”

“Sim, ela me levou para almoçar para a entrevista. Lugar


legal. Pagou a conta.”

Ela.

Nada demais. Não tem porque minha mente vagar pela terra
do ciúme. Não. Eu não. Não é como se ela estivesse sentada no
meu balde ou compartilhasse uma única garrafa de cerveja ou o
tivesse convidado para ir à Califórnia.
Droga.

JEWEL E. ANN
Estou queimando com uma febre de ciúmes. Ele não tem uma
foto seminua dela no bolso. Ele nunca faria isso.

“O que estamos fazendo?” Eu pergunto enquanto ele entra


em um estacionamento no shopping.
“Caso isso tenha escapado da sua mente, o Natal está na
porta. Eu preciso comprar alguns presentes. Você precisa ir para
casa imediatamente?”

“Não. Boa decisão. Nós deveríamos fazer compras.” Eu ainda


estou no meu primeiro com ele. É a nossa primeira temporada de
férias juntos. Griffin tem uma lista de Natal. Eu gosto disso. Ele
poderia clicar em alguns botões no computador, mas ele não faz
isso. Ele está fazendo compras. Eu gosto muito disso.
Nós damos as mãos. Outra coisa que gosto. Uma pequena
coisa que não dei o valor correto.
“Café?” Eu olho para ele enquanto ele segura a porta de uma
cafeteria. “Agora sim!”

“Não para você. Minha mãe gosta de um café muito especial,


mas meu pai não quer saber de gastar dinheiro com isso porque
não é barato.”
“Desculpe... tudo que ouvi foi ‘não para você’. Agora sinto que
preciso deste café.”

Ele me dá uma careta antes de lançar um sorriso assassino


à senhora atrás do balcão enquanto solta minha mão.

Minhas emoções estão se partindo. Tenho picos altos e


baixos, com ciúmes e paranoias. Interpretando cada pequena
olhada que ele me dá ou não me dá.
A senhora pega para Griffin dois pacotes do café e lança um
flerte realmente óbvio na direção dele, mordendo seu lábio
enquanto bate os cílios. Esse olhar costumava não me perturbar.
Eu era a garota que ele levava para casa. A garota que ele despia.
O corpo que ele adorava. Agora me sinto à beira de ser sua maior
decepção. Seu maior erro.

JEWEL E. ANN
“Posso servi-lo em algo mais?”
“Não...”

“Na verdade, eu...” dou a ela um sorriso bem açucarado.


“…gostaria de uma pequena xícara disso. Por favor.”
Griffin franze a testa para mim novamente. Mas que porra!
Por que o cenho franzido?

Eu faço uma careta para ele. Ele olha para longe.

“Pode marcar o meu separadamente.”

Ela coloca uma tampa no copo de café e o deposita no balcão.

“É tudo junto”, Griffin diz com um pouco de exasperação.


Os olhos da Paqueradora jogam pingue-pongue entre nós
enquanto ela fecha a conta.

Griffin paga em dinheiro e agarra a sacola. “Obrigado.” Ele


joga outro sorriso incrível.

Droga! Eu quero esse sorriso.

Ela morde o lábio novamente e balança a cabeça, soltando-o


e ficando sóbria quando vê minha sobrancelha levantada.
“Swayz”, diz Griffin, segurando a porta aberta.

Eu levo mais alguns segundos olhando para ela como se fosse


a vilã do meu pesadelo. Mas ela não é. A vilã mora no espelho.

Girando, dou a Griffin o mesmo olhar fixo.


“Qual é o seu problema?” Ele pergunta quando a porta se
fecha atrás de nós.
“Qual é o seu problema?” Eu alongo meus passos para ficar
alguns passos na frente dele como se eu soubesse para onde
vamos em seguida. Mas não sei. “Nada de café para você, Swayze.
Nenhum sorriso para você, Swayze.” Minha cabeça balança
rapidamente de um lado para o outro.

JEWEL E. ANN
Estou pegando uma carona no trem para o manicômio. O
relógio está correndo, não estamos apenas contando em voz alta.
A mistura tóxica de raiva, medo, ressentimento, ciúme e um amor
profundo está desnudando cada pedaço da minha sanidade.

Todo dia eu acho que ele vai ceder e dizer que não temos que
ir embora. Que vamos resolver as coisas bem aqui. Em vez disso,
todos os dias ele se afasta de mim um pouco mais – não há mais
tantos olhares, quase nenhuma palavra, raramente um toque.

Talvez ele esteja protegendo seu coração.

Eu gostaria de poder proteger o meu, mas não posso. Vai ficar


partido não importa o quê. Não tem como isso terminar sem eu
desistir de um pedaço de mim mesma, sem que eu diga adeus a
parte do meu coração despedaçado.
“Você terminou?”
Eu olho por cima do meu ombro. Antes de vomitar mais
veneno, mordo minha língua e aceno. Ele está ferido. Eu estou
machucando Griffin. Isso é comigo. Eu não mereço um bom café
ou grandes sorrisos.

“Aqui.” Ele sacode a cabeça na direção da livraria.


Volto alguns passos e sigo-o para dentro. “Quem vai ganhar
livros de Natal? Seu pai?”

“Sim.” Ele assume a liderança desta vez como quem sabe


exatamente para onde está indo.

“Eu amo que seu pai leia muito. Ele sempre tem seu nariz
enfiado em um livro.”

Griffin atravessa o labirinto de livros enquanto eu tomo meu


café.

“História?”

Ele concorda, folheando as páginas de um livro sobre a


Segunda Guerra Mundial.

JEWEL E. ANN
“Vou espiar a seção de crianças.”
Para Morgan. Mas não digo isso para ele. Ele balança a
cabeça sem olhar para mim. Eu ando pelos corredores de livros de
crianças, recusando educadamente a ajuda toda vez que um
funcionário pergunta se estou procurando algo específico.

“Não derrame seu café. Você é terrivelmente propensa a


acidentes.”
O medo toma conta do meu coração, tornando impossível
respirar. Afasto-me da voz enquanto me viro, batendo em uma
prateleira. Vários livros caem no chão.

Doug Mann sorri aquele maldito sorriso psicopata enquanto


balança a cabeça. “Como eu estava dizendo...”
Eu faço uma varredura rápida, procurando por Griffin, mas
ele está longe de ser encontrado. “Saia de perto de mim.”
Doug levanta as mãos. “Eu não estou fazendo nada. Só
dizendo um Oi.”

Abraço minha xícara de café no peito, mas deveria jogá-la em


seu rosto feio e cheio de cicatrizes.
Oh. Meu. Deus.

Eu... Ela cortou o rosto dele. Meus olhos se fecham


brevemente. Atrás deles, vejo um pedaço de metal enferrujado na
mão trêmula de uma jovem.

A mão dela. Minha mão.

“Você não tem coragem, garotinha”, ele a provocou.

“Eu quero ir para casa. Deixe-me ir e eu não vou te machucar”,


sua voz treme como a mão.
Ainda assim, não a vejo. Eu só vejo Doug. Vejo o que ela viu.
Mas não sinto o que ela sentiu. A única coisa que sinto agora é o
meu próprio medo.

JEWEL E. ANN
“Griffin!” Eu bato a mão na minha boca enquanto meu
próprio grito por ajuda me assusta. Não me lembro de pensar que
deveria gritar por ele, simplesmente aconteceu.

A livraria já silenciosa fica estranhamente mais quieta.


Doug dá um passo para trás, dois passos para trás. Algumas
pessoas se reúnem com a preocupação estampada em seus rostos.
Meus olhos arregalados vão de Doug para o homem pensativo que
se coloca atrás dele.

“Ei!” Doug levanta as mãos em sinal de rendição quando


Griffin agarra a frente da jaqueta dele e o empurra para fora da
loja.

“Você está bem?” Um dos funcionários me pergunta.


Eu concordo.

E sacudo minha cabeça.


Eu aceno de novo.

Sem responder com palavras reais, dou passos cautelosos em


direção à entrada da loja. Assim que pego a maçaneta da porta,
ela se abre.
“Vamos embora.” Griffin agarra minha mão.

Meu café cai, respingando por toda parte. Quando olho para
baixo, vejo um arqueado Doug Mann lutando para ficar de joelhos,
dobrado ao meio, agarrando seu abdômen. Griffin praticamente
me arrasta para a caminhonete, abre a porta, levanta-me para
dentro como se eu não pudesse fazer aquilo sozinha, e sai
correndo para entrar no lado do motorista.
Ele dá partida. “Você está bem?”

Eu cruzo minhas mãos com tanta força que mal posso senti-
las.

Griffin sai do estacionamento. “Swayze, você está bem?” Sua


voz sobe um pouco mais.

JEWEL E. ANN
Eu concordo com a cabeça. Por que aceno quando não quero
dizer que sim é um mistério. Mas eu pareço fazer muito isso. Meu
olhar dispara em torno da caminhonete até que a junta
avermelhada da sua mão direita atrai toda a minha atenção.

Ele bateu em um homem por mim. Um assassino. E se Doug


vier atrás de Griffin?

“Swayze?” A impaciência de Griffin me arranca dos meus


pensamentos.

“Sim.”

“Sim, você está bem?” Ele descansa a mão na minha perna.


Eu pisco e as lágrimas começam a rolar.

“Ele te machucou?”
Não. Doug não me machucou. Eu machuquei ele. Eu o cortei.
Ela o cortou e eu não sabia até hoje à noite. Essas memórias
exigem uma voz. Uma segunda chance. “Não”, eu sussurro.

“Você está chorando. Não minta para mim. Ele te machucou?


Ameaçou você?”
Outra negação com a cabeça.

Griffin suspira, mas é um suspiro pesado, de frustração, não


de alívio.

Eu não posso evitar. Minhas lágrimas são porque ele está me


tocando, e temo que meus dias de senti-lo me tocar estejam
contados. A vida de Daisy não está desaparecendo, está se
intensificando. Ela está arruinando minha vida e eu não sei como
parar isso.

Quando chegamos, pulo para fora antes que Griffin pare


completamente.

“Swayz?”

JEWEL E. ANN
Eu corro para dentro da casa, chegando ao banheiro bem a
tempo de vomitar. Quando termino de escovar meus dentes e
enxaguar minha boca, Griffin aparece na porta.

“Sinto muito que ele tenha chegado tão perto de você.”


Balanço minha cabeça, limpando a boca com a toalha. “Você
não pode viver ao meu lado.”
“Isso não vai acontecer novamente.”

Vai. Acontecerá de novo e de novo até que Doug aproveite


uma oportunidade para me deixar em paz ou até que eu encontre
uma maneira de provar que ele é um assassino sem ter que morrer
– de novo – no processo.
Eu me aproximo. Ele se desloca para o lado para me deixar
passar. Eu não quero passar por ele. Eu só quero ele.

“Toque-me”, sussurro, me aproximando até que a parede do


corredor o impede de recuar outro passo.

“Eu não posso.” A dor se forma ao longo de sua testa,


penetrando nas profundezas de seus olhos.
“Por quê?” Eu descanso minhas mãos em seu peito, fazendo-
o recuar.

“Porque vou embora em breve, e não acho que você virá


comigo. Meus pais estão comprando a casa para alugar. Eles vão
alugá-la para você, se quiser ficar aqui.”

Às vezes, as emoções nos atingem com tanta força que não se


passa nem mesmo um segundo antes que as lágrimas se
derramem em fluxos implacáveis. “Não vá.” Eu me engasgo com
duas pequenas palavras.
“Venha comigo.”

Eu enrolo minhas mãos, pegando sua camisa. “Escolha-me...


por favor.”

JEWEL E. ANN
A dor em seu rosto afunda em sua testa. “Você nunca foi uma
escolha. Sempre foi você. Mas eu pedi para você se casar comigo,
então agora é a sua vez de... nos escolher.”

Eu deixo a cabeça cair no peito dele, ao lado dos punhos


cerrados. A emoção invade meu corpo, mas ele não me toca. Eu
vejo o pedaço irregular de metal. A mão trêmula saiu do controle,
cortando o rosto de Doug, apagando seu sorriso zombeteiro,
substituindo-o por sangue e raiva.

Eu morri. Eu morri.

A adaga ensanguentada cai no chão. A menina corre.

Eu corro.
Para fora da porta. Descendo os degraus apodrecidos.
Tecendo entre o mato e as árvores.
“Ele me feriu!” Eu choro.

“Ela. Não você.” Griffin diz com total controle.

“E-ele está... vai fazer isso de novo.”


“Você está segura.”
Finalmente... Griffin me abraça.
Lentamente.

Hesitante.
Não importa. Eu estou em seu abraço. E talvez esteja
torturando-o ao deixar isso acontecer, mas não me importo. Eu
apenas preciso dele. Desesperadamente. De um jeito egoísta.

É uma ilusão.

Griffin tem que saber disso também. No fundo, ele tem que
saber que não pode me proteger de um assassino.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 25

Entre os lençóis, Griffin me dá seu abraço. Quero fingir que


podemos nos perder no físico, entorpecendo o emocional. Não vai
resolver nada.

Ele sabe isso.

Eu sei.

Mas quando acordo nas primeiras horas da manhã, preciso


de mais. Eu preciso dele para aliviar a dor e esconder as memórias
sob um véu de prazer físico.

Qualquer coisa.
Minutos. Segundos.

Eu vou aceitar absolutamente qualquer coisa agora. Qualquer


coisa para fazer as visões na minha cabeça desaparecerem por
tempo suficiente para recuperar o fôlego.

Minha mão cobre a sua mão descansando no meu abdômen,


logo abaixo da bainha da minha camiseta. Ele não recua, apenas
respira levemente na parte de trás da minha cabeça. Minha mão
o guia para baixo, descendo pela frente da minha calcinha.

O corpo dele se contrai, acalmando novamente atrás de mim.


Eu o ouço engolir com força enquanto meus lábios se separam
para deixar escapar pequenos suspiros, tentando acompanhar a
vibração do meu pulso.
Meu dedo do meio pressiona seu dedo médio, como se tocasse
uma tecla de piano. A ponta acaricia meu clitóris. Fechando os
olhos, abro minhas pernas, acolhendo seu toque mais profundo
entre elas.

JEWEL E. ANN
Ele endurece. Eu tento não deixar sua apreensão penetrar
em minha consciência, meu coração. Com tudo o que tenho, cada
pensamento final, cada última oração, silenciosamente, peço-lhe
que me leve em direção a ele. Cubra meu corpo com o dele.
Enterre-se dentro de mim. E apenas… sinta.

Ele não faz nada disso.


Mas Griffin move a mão sem que eu o guie mais. Dedos se
espalham como se ele estivesse reivindicando algo que já deveria
ser dele; e desliza dois dedos dentro de mim.

O lento crescimento das minhas respirações ofegantes é o


único som no quarto. Com a palma da mão, ele esfrega o meu
clitóris.
É lento, mas forte e desesperadoramente exigente. Ele está
me dando prazer. Estou dando dor a ele. Sinto isso com cada
toque de seus dedos. O prazer aumenta, cegando as imagens na
minha cabeça.

Sua ereção pressiona contra minhas costas. Eu preciso dele


para me sentir inteira. Lágrimas ardem em meus olhos. Eu tento
me virar, desesperada por sua boca na minha, mas ele empurra
minhas costas firmemente contra seu peito enquanto sua mão
esfrega círculos fortes sobre o meu clitóris, os dedos tão fundo
quanto eles podem alcançar. Eu sou uma prisioneira ao seu toque,
lutando para arquear minhas costas. Minhas mãos tentam
agarrar a cabeça dele atrás de mim. Ele enterra o rosto no meu
pescoço.

Quando eu gozo, seus dentes afundam no meu ombro até que


choro.

Até que desmorono.


Até eu morrer neste momento.

“Foda-se, Daisy”, ele sussurra com uma voz


assustadoramente crua.

JEWEL E. ANN
Ainda me recuperando da sensação de cegueira, não consigo
registrar o que ele está fazendo até que estou sozinha na cama.
Ouço a descarga no banheiro. A água sendo ligada. A porta do
banheiro abrindo.

Eu espero.

Nada.
Em um piscar de olhos, a dor retorna. As visões voltam à vida.

E estou sozinha.

Porque ele está certo.

Foda-se Daisy.

*
Eu acordo tão sozinha quanto adormeci. Não há aroma de
café de avelã. Nada de Griffin.

No sofá há um travesseiro em cima de um cobertor bem


dobrado. Eu não olho para ele ou para as fotos de nós na lareira
ou seus tênis na porta.

Na verdade, não consigo sair da casa com rapidez suficiente.


“Olá?” Eu chamo, tirando meu casaco e botas dentro da
entrada de Nate.

“Shh...” Nate está sussurrando de seu escritório.


Eu espio pela porta. “Manhã preguiçosa para a pequena
senhorita Morgan?”

“Sim.” Nate mantém seu foco na tela do computador, os


dedos cutucando no teclado com a graça de um touro correndo
pelas ruas de Pamplona. “Um belo presente esta manhã já que eu
tinha algumas coisas para terminar.”

“Não vou distraí-lo, então. Vou pegar um pouco de café e ficar


de olho nela.”

JEWEL E. ANN
Ele sacode a cabeça. “Está bem.” Batendo a tampa no
computador, ele sorri e estica seu corpo alto da cadeira da
escrivaninha. “Terminei.” Depois de colocá-lo em sua bolsa de
mensageiro, ele se aproxima de mim. “Bom Dia. Como você está?”

Eu não posso negar-lhe um pequeno sorriso, mesmo que não


se encaixe no meu humor hoje. “Estou bem.”

Com o polegar e o dedo do meio, ele aperta minhas bochechas


como um pato. “Você precisa tentar ser mais convincente. Está
bem?” Ele continua em direção à cozinha.

Tudo depende. Ou está de cabeça para baixo. Ou


simplesmente fodido.

“Estou pensando em lhe dar meu aviso de duas semanas.”


Ele para e volta para mim. Eu enrugo meu nariz, esperando
por uma resposta.
E espero mais um pouco...

“OK.” Ele retoma seus passos sem me dar outro olhar para
trás. “Mas vou precisar de algo mais concreto do que você está
pensando. Eu não posso talvez procurar por uma nova babá.”
“É isso? OK? Não por quê? Não, por favor, reconsidere? Você
me pagou cinco mil dólares para estar aqui quando a faculdade
começou. Mas agora não é grande coisa?”
“Não faça isso.” Ele se vira. É o mesmo olhar patético e cheio
de dor que Griffin me deu. Eu sou o animal ferido do lado da
estrada quando todo mundo passa esperando alguém ou alguma
coisa aparecer para me tirar da minha miséria.

Nate suspira, recostando-se na geladeira. “Eu pedi por uma


semana. Isso é maior. É o seu futuro. Eu não vou pedir para você
ficar. Se você não quiser ir, então...”
“O que? Eu quero ficar com Griffin. Eu simplesmente não
consigo me livrar do passado. Todos os dias sinto que me lembro
mais. E Doug…” agarro a parte de trás do meu pescoço com as

JEWEL E. ANN
duas mãos e balanço a cabeça, o medo ainda cru e nauseante.
“Ele me encurralou na livraria ontem à noite.”

“O que?” Nate se afasta da geladeira.


“Eu vi. Ela… Eu. Ela estava segurando um pedaço de metal
irregular. A cicatriz no rosto… Ela o cortou e então saiu correndo.
Toda vez que eu o vejo, tenho mais lembranças.”
“O que ele disse a você? Por que você estava sozinha ontem à
noite?”
Eu continuo a sacudir a cabeça. “Não… Griffin estava lá,
apenas alguns corredores mais longe. E ele não falou muito. É o
jeito que fala comigo. Ele sabe que eu sei sobre Daisy e Erica. Sou
a próxima, Nate.” Minha voz treme junto com todos os músculos
do meu corpo.

Ele me envolve em seus braços. “Eu não vou deixar isso


acontecer.”

Algo dentro de mim se encaixa. Eu empurro Nate pra longe.


“Você não pode dizer isso. Griffin não pode dizer isso. Ninguém
pode afirmar isso, a menos que esteja ao meu lado vinte e quatro
horas por dia. Griffin estava literalmente a dez metros de
distância, mas Doug chegou até mim. Foi uma coincidência? Ele
estava lá por acaso? Ou estava me seguindo? Ele está tentando
provar que ele pode chegar até mim, não importa quem esteja
cuidando de mim? Ele está brincando comigo?” Eu corro minhas
mãos pelo cabelo, puxando-o com frustração.
“Vou ver se há algo que eu possa fazer.”

Sorrio. “Boa ideia. Enquanto isso, eu apenas serei… morta.”


Minha risada se transforma em algo histérico. “Eu vou morrer
duas vezes nas mãos do mesmo homem. Mas está tudo bem.
Talvez consiga me livrar da próxima vez.” Meu corpo se curva em
uma gargalhada. Eu daria absolutamente qualquer coisa para ser
a mulher normal que era há seis meses. Minha pobre alma é uma
droga nessa coisa chamada vida.

JEWEL E. ANN
Nate agarra meus ombros e me empurra para cima e direto
contra a parede. Minha risada para como uma bala na minha
testa.

“Pare.” Ele range os dentes. “Você não pode fazer isso. Você
ir para o lago sozinha quando eu disse que ficasse longe, que não
deveria fazer isso, não é nada bem. Você se afastou de mim porque
eu tive um momento com meu ego estúpido e isso não foi nada
bem.”

Lágrimas iradas enchem seus olhos. “Você morrendo sob


meus cuidados não está nada bem.”

Eu não posso respirar. Ou piscar. Ou mover qualquer parte


do meu corpo.
“Você voltando à vida quando preciso de você mais do que
tudo, só para me dizer que está apaixonada por outro homem não
está bem. Você roubar o coração da minha filha não está bem. Seu
maldito aviso prévio de duas semanas não está bem. E você rindo
sobre esse homem que te matou NÃO é...” Ele bate a mão na
parede ao lado da minha cabeça “Nada bem!” Outro estrondo na
parede.

Morgan chora.
Ele não deixa nenhuma lágrima escapar, mas sinto cada uma
em minha alma.
Morgan chora mais alto.

Os músculos sulcados de seus braços começam a relaxar. Ele


está me enjaulando contra a parede. Ele deixou vinte e dois anos
de emoções perfurarem meu coração, mas agora tem que me
deixar e ir acalmar sua filha chorando.

Eu começo a afastar minhas costas da parede, e ele agarra


minha cabeça e me beija.
Oh. Meu. Fodido. Inferno.

JEWEL E. ANN
Meu cérebro e meu coração explodem ao mesmo tempo. Este
não é um beijo casto na cabeça. Este é o beijo que reitera cada
palavra angustiante que ele acabou de me dizer. Esta é uma
explosão de duas vidas. É a ruína da minha vida como Swayze
Samuels. Este é o beijo que envia almas para o inferno.

Eu não sei quando minhas mãos chegaram ao seu cabelo,


mas elas estão lá. E é familiar.
Eu não sei quando meus lábios começaram a se mover, mas
estão se movendo contra os dele. E é familiar.

Eu não sei quando minha língua decidiu provar a dele, mas


elas estão duelando como se não conseguissem obter o suficiente.
E é familiar.
Cada centímetro de seu corpo pressionado contra o meu,
cada toque, cada gemido... é muito familiar.
E então... acabou.

Ele desaparece pelo corredor até o quarto de Morgan. Com


uma mão, traço meus lábios machucados e, com a outra mão, sigo
meus dedos ao longo do pescoço, logo abaixo da orelha. É onde eu
precisava de seus lábios. Um beijo.
Gentil.
Reverente.
A maneira como ele me beijou pela primeira vez.

Nate não deveria destruir meu mundo. Ele não deveria


quebrar o fio frágil que me prende a Griffin.

Mas ele quebrou.

Eu endireito meus joelhos para não cair enquanto ele carrega


Morgan para mim, enxugando as lágrimas de seus olhos. Ela sorri
no momento em que me vê.

Esta menina me ama, mesmo que não possa definir o amor


ainda. Eu também a amo. E se for honesta comigo mesma, eu

JEWEL E. ANN
também amo o pai dela. Muito parecido com ela, não sei como
definir meu amor por Nate.

Quando nossos olhos se encontram, eu luto para conter as


emoções tóxicas. O arrependimento toma conta de cada
centímetro de seu corpo em ondas implacáveis. Ele não precisa
dizer nada.

“Eu...” Ele balança a cabeça com um olhar como se tivesse


acabado de atropelar o cachorro da família. “Eu estou...”

“Está...” Minha cabeça treme, espelhando a dele. O que?


Bem? Não. Está o oposto de tudo bem. É a definição de
insanidade. É a pior coisa que já fiz. Sim. Ele me beijou. Mas eu o
beijei de volta. E não o parei. Eu não tenho certeza de quanto
tempo eu teria deixado ele me beijar se Nate não tivesse parado
quando parou. As palavras da minha mãe ecoam na minha
consciência. Onde isso para?

“Você beijou...”

“Daisy.”

“Sim”, sussurro.
Ele a beijou porque se lembra de tudo. Mas isso não explica
porque eu o beijei. Um milhão de desculpas invocam seu caso na
minha cabeça. Desculpas válidas, razoáveis e confiáveis.

“Eu não deveria ter beijado você”, diz ele.

“Você pode ver se seus pais podem ficar com ela hoje? Eu
preciso…” engulo a dor, a culpa grossa e sufocante. “Preciso fazer
umas coisas.”

Ele concorda. “Vou ver se eles podem estar aqui dentro de


uma hora.”

“Ok.” Eu a pego dele. “Vamos trocar e alimentar você.”


Passando por ele, levo-a de volta ao berçário.

JEWEL E. ANN
Alguns segundos depois, a porta de trás se fecha, e eu
desmorono, abraçando Morgan ao meu corpo porquê... eu perdi
meu cara da mercearia.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 26

“A que devemos essa honra?” Jett pisca para mim enquanto


tiro a neve das minhas botas no lado de dentro da porta da frente
da concessionária.

“Eu estava esperando pegar Griffin em um intervalo.”

“Griff nunca faz intervalos, mas eu provavelmente posso ver


se ele faz uma exceção para você.”

Eu forço um sorriso. Dói como um inferno. “Obrigada.”


Ele acena com a cabeça em direção do departamento de
serviço. “Siga-me.”
Griffin está em um computador. Ele olha para cima.

“Sua mulher quer que você faça uma pausa, ok. A porta do
banheiro tem uma fechadura.” Jett sorri.
Griffin não dá bola para ele. Nem eu. É como se ele pudesse
ver dentro de mim, como se soubesse o que vou dizer. Sou a garota
que esqueceu o aniversário dele. Eu sou a garota que beijou outro
cara. E Griffin é o menino que se apaixonou pela garota errada.

Meu peito dói tanto que está me esmagando. Tenho que dizer
a ele o que aconteceu. E mesmo sabendo, sem sombra de dúvida,
que isso não significa nada para mim, isso significará tudo para
Griffin. E é justo, porque o cara da mercearia, o mais gentil do
mundo, merece uma garota que nunca deixaria outro homem
beijá-la.

Eu olho em volta, mas não há mais ninguém à vista. Griffin


descansa seu corpo contra o encosto, apoiando uma das botas no
metal, as mãos cruzadas sobre o peito.
“Você nunca pareceu mais infeliz”, diz ele.

JEWEL E. ANN
Sorrio um pouco, lutando contra as lágrimas.
“Se você não vai se mudar comigo, então não precisa dizer
nada.”
Mordo meus lábios trêmulos e pisco. Assim que ele vê minhas
lágrimas, desvia o olhar. Eu fecho meus olhos.

“Conte-me sobre o seu dia, Swayz.” Griffin me lança aquele


sorriso assassino em nosso terceiro encontro.

Nós estamos jantando em sua casa pela primeira vez. Ele


assou salmão e preparou aspargos cozidos no vapor. Eu trouxe uma
garrafa de vinho e biscoitos que tentei passar como caseiros, mas
tenho certeza que ele sabe que foram comprados em uma loja.
Foi a primeira vez que ele me chamou de Swayz. Ninguém
nunca me deu um apelido antes. Naquele momento, pela primeira
vez na minha vida, não odeio meu nome.
“Foi bom.” Dou de ombros, ainda me esforçando para manter
contato visual com ele por mais de cinco segundos sem corar como
uma colegial.

“Bom é uma descrição terrível. Eu preciso de detalhes.” Ele dá


outra mordida no salmão e me prende com o olhar mais sexy.
“Detalhes, huh? Bem, nada muito emocionante. Eu fui tirar
medidas para minha beca e capelo...”
“Não.” Ele balança sua cabeça. “Comece do começo. Café da
manhã. O que você comeu no café da manhã?”
“Mesmo? Você quer todos os detalhes? Eu não sou tão
excitante.”
“Eu serei o juiz disso.”

Meu rosto dói de tanto sorrir. “Torrada e manteiga. Café com


açúcar. Eu gosto muito de açúcar no meu café. Tanto que não tenho
certeza se minha energia vem da cafeína ou do açúcar. Aula de
Barre Fit. Chuveiro...”

JEWEL E. ANN
“Conte-me mais sobre este chuveiro.”
Sorrio com um rubor total. “Estava molhado.” Minhas mãos
cobrem meu rosto. “Gah! Eu não posso fazer isso.”
“Swayze Samuels nua e molhada. Posso trabalhar com isso.
Você lava o cabelo ou ensaboa seu corpo primeiro?”

Balançando a cabeça, continuo a rir. “Eu não posso fazer isso.


É como sexo por telefone sem o telefone.”

“Bem. Vamos guardar o sexo por telefone, sem o telefone, para


as conversas depois do jantar. Então, de quanto açúcar estamos
falando? Você diria que toma café com açúcar ou açúcar com café?”
“Provavelmente o último.”

“Barre fit. Você é dançarina? Por favor, diga sim.”


Sorrio mais ainda. Eu nunca soube que rir era minha coisa até
que conheci O Cara da Mercearia.
“Não. Minha coordenação é bastante desafiadora, mas eu
gosto da queimação e supostamente isso vai levantar minha bunda.
Acho que o júri ainda não tomou uma decisão sobre isso.”
Seu queixo se agita. “Levante-se. Deixe-me ver. Eu serei o juiz.”

“Você é um completo paquerador.”


“Só com você.”
“Ha! Eu duvido disso.”

Griffin me dá aquele olhar, o tipo de olhar que vem com uma


pausa exagerada como se ele precisasse processar alguma coisa.
Algo novo. Algo inesperado.

Eu gosto desse olhar porque ao contrário do flerte casual,


parece algo que ele não deu a mais ninguém.

Ficamos sentados em sua mesa de duas pessoas por quase


duas horas, flertando, rindo e compartilhando olhares especiais.
“Posso te convencer a sentar no meu sofá?” Ele estende a mão.

JEWEL E. ANN
Eu esfrego a borda do copo de vinho sobre o meu lábio inferior.
“Há algo especial sobre o seu sofá?”

“É mais confortável do que essas velhas cadeiras de madeira.”


“Você está me convidando para ficar confortável?” Sorrio,
tentando flertar, mas... cara, eu estou tão nervosa. Terceiro
encontro e nenhum beijo. Justiça seja feita, é nosso primeiro
encontro noturno. Os outros dois foram refeições rápidas durante a
pausa para o almoço.

Três encontros em três semanas, mas nos mandamos


mensagens todo dia. Muitos textos sobre os mais aleatórios
assuntos.

Griffin: Morangos estão em promoção. Você gosta de


morangos?

Eu: Cortei meus sanduíches na diagonal. Você corta seus


sanduíches ao meio?

Griffin: Indo para a pista de velocidade com alguns amigos.


Você bate seus cílios para escapar de multas por excesso de
velocidade?
Eu: Nunca faça um vinegar rinse depois de raspar as pernas.
Griffin: Fazendo outra tatuagem.
Eu: Sparrow1. O nome da garota nova na minha aula de barre
fit. Os pais são estúpidos.
“Sim. Estou te convidando para ficar mais confortável.”

Coloco minha mão na mão dele. Cabe. Parece certo. Não,


parece perfeito.

“Então, quantas tatuagens você tem?”

“Algumas.”

1
Pardal.

JEWEL E. ANN
Nós nos sentamos no sofá. Um pequeno sorriso repuxa seus
lábios quando deixo uma almofada cheia entre nós. Meus nervos
estão agitados. Há cem por cento de chance de eu choramingar se
nossos corpos chegarem perto demais.

“Você não conta?”

“Não.”
“Você tem alguma que seja sua favorita?”

“O Dragão.”

Meu olhar inspeciona as tatuagens em seus braços.

“Estou usando muitas roupas para você ver.”

O calor sobe pelo meu pescoço e também em lugares inferiores.


“Você tem alguma tatuagem?”

Balanço a cabeça. “Apenas uma marca de nascença.”


Seu olhar faz uma rápida inspeção de mim.

Sorrio abertamente. “Estou usando muitas roupas para você


ver.”
“Fofa.” Ele se recosta no canto oposto, cruzando os braços
cobertos de tinta no peito. “Eu sei o que você está fazendo. E isso
não vai funcionar. Eu não sou tão fácil.”

“O que estou fazendo?” Dou risada.


“Você está fingindo que tem uma marca de nascença, então
vou concordar em mostrar a você meu dragão se você me mostrar
sua marca de nascença. E só depois que eu estiver na sua frente,
completamente nu, você vai revelar que não é realmente uma marca
de nascença, apenas uma verruga de formato estranho. Não…” Ele
balança sua cabeça. “Eu não vou me apaixonar por isso. Se você
me quer pelado, vai ter que me mostrar a marca de nascença
primeiro.”
Diversão.

JEWEL E. ANN
Choque.
Embaraço.

E desejo.

Todos me atingem de uma só vez. Griffin não é apenas um


flerte. Ele é bom... muito bom mesmo.

Engulo em seco. Tudo o que meu cérebro compreende naquele


momento é uma troca simples. Eu levantando minha blusa alguns
centímetros em troca dele ficar nu. Eu preciso ver o dragão. Afinal,
é sua tatuagem favorita e quem não gosta de dragões?

“Não é uma verruga de formato estranho.” Recosto-me no canto


do sofá e deslizo minha blusa para cima.

A língua de Griffin faz um movimento preguiçoso ao longo de


seu lábio inferior. Esfrego meus lábios juntos, esperando, rezando
para que esses lábios sejam pressionados em sua boca em breve.
Nós estamos no terceiro encontro, mas todos os textos aleatórios me
fizeram sentir como se eu o conhecesse mais. Meu corpo só quer
acompanhar minha mente.

“Essa é uma bela marca de nascença. Eu não posso ver a coisa


toda.” Seu olhar voa para o meu, olhos brilhando com um desafio
sexy.
Minha camisa estava levantada até a parte inferior do sutiã,
mas a marca de nascença se estende mais um pouco para cima da
parte de baixo do meu seio esquerdo.

“Eu teria que tirar meu sutiã.” Finjo confiança. Como se não
fosse grande coisa.

Ele olha para o relógio inexistente em seu pulso. “Eu não tenho
planos por um tempo. Tenho tempo. Você?”

“Nós não nos beijamos ainda, mas você quer que eu tire o meu
sutiã?”

JEWEL E. ANN
Ele sorri. “Swayz, você faz isso parecer um strip-tease. Eu só
quero ver toda sua marca de nascença antes de te mostrar meu
dragão.”

Raspo meus dentes ao longo do meu lábio inferior, olhando


para sua camiseta apertada e sexy e pernas musculosas cobertas
com denim desgastado. Braços fortes e cheios de tinta. Cabeça
raspada. Pelo menos dois dias de barba ao longo de sua
mandíbula.

Sentando-me mais ereta, tiro minha blusa, a adrenalina


evidente na exagerada subida e descida do meu peito.

O pomo de Adão de Griffin balança logo antes de seus lábios


se separarem.
“Aqui.” Deslizo a borda do meu sutiã apenas o suficiente para
mostrar a ele onde minha marca de nascença termina.
“Essa é uma marca de nascença bem sexy.”

Volto meu sutiã para o lugar. “Não é um dragão.”

Seu sorriso cresce tanto que posso senti-lo ao longo de cada


centímetro da minha pele, mas em nenhum lugar sinto isso mais
forte do que no pulsar pesado entre as minhas pernas.
Em um movimento completo, ele fica de pé e tira a camisa.
Engulo meu gemido e aperto minhas pernas juntas.
Ele se vira, me mostrando as costas e o dragão que começa no
meio do caminho e sai para o lado. Tento falar, mas ele desabotoa
a calça jeans, deixando-me procurando por um único pensamento.

Glup.
Suas costas eram demais para mim, mas... mas... a bunda!

Suspiro. Babo. Choramingo.

Ele deixa a calça jeans cair até os joelhos e empurra sua cueca
para baixo no lado onde o rabo do dragão serpenteia sobre sua
bunda perfeita e metade da perna.

JEWEL E. ANN
Digo a mim mesma para fechar a boca e parar de ofegar, mas
meu corpo não responde.

Griffin olha por cima do ombro. Meu olhar segue para o dele, e
bato em minha boca, mas tenho certeza que ele viu o rastro de
saliva escorrendo pelo meu queixo.

“Dragão fêmea. Estou pensando em chamá-la de Swayze.”


Solto uma risada. Ele sorri enquanto desliza sua cueca de
volta sobre a bunda e puxa sua calça jeans. Ele me encara
novamente, mas seu jeans não está bem fechado. Digo a mim
mesma para não encarar sua ereção forçando a cueca, mas não é
minha culpa se Deus me deu uma visão excelente e uma mente
naturalmente curiosa.
Segundos ou talvez uma década depois, a voz de Griffin
quebra meu transe. E suas palavras começam o que se torna Griffin
e Swayze – sexo on demand. Todo. Santo. Dia. “Diga-me para
fechar meu jeans e colocar minha camisa.”

Como uma vadia sem vergonha, deixo meu vagaroso olhar


faminto aproveitar a vista até encontrar seus olhos. “Por que diabos
eu faria isso?”

Ele se ajoelha na minha frente e tira meu jeans. Minhas pernas


estremecem. Dentes estão batendo. Eu nunca estive tão assustada
por querer algo tanto assim.

“Você vai me beijar em breve?”


Eu não costumo – bem, nunca – ficar nua com um homem antes
do primeiro beijo.

Griffin agarra meus quadris, empurrando-me para a borda do


sofá. Respiro fundo, pegando seus bíceps para me esticar. Sua
ereção pressiona entre as minhas pernas, protegida por duas finas
camadas de algodão.
Nossos lábios estão a milímetros de se tocar. Suas mãos
deslizam pelas minhas costas, dedos habilidosos soltando meu
sutiã.

JEWEL E. ANN
Eu me inclino para beijá-lo antes que meu coração exploda. Ele
recua apenas o suficiente para me negar o beijo. Tento novamente.
E novamente ele recua, usando um sorriso diabólico.

“Griff...” sussurro. “Beije-me.”


Mantendo seus olhos negros presos aos meus, ele tira meu
sutiã pelos braços. Meus olhos lutam para ficar abertos quando sua
mão segura meu peito.
Ele apenas olha para mim com o que só pode ser descrito como
adoração. Depois de anos de escrutínio, alguém está olhando para
mim como se não precisasse me entender.

“Por favor…”
Ele balança a cabeça lentamente, seu olhar varrendo cada
centímetro do meu rosto. “Acho que vou.” Dentes brancos e
brilhantes fazem sua aparição um segundo antes de ele me beijar.
Para uma garota que não acredita em destino ou em qualquer
coisa escrita nas estrelas, soube com um beijo que nunca mais iria
querer beijar outro homem.

Mas beijei. Eu beijei Nate. E não pareceu totalmente errado,


mas deveria ter sido assim. Então tenho que deixar o meu cara da
mercearia ir e ser o homem perfeito de outra pessoa. Ninguém
jamais o amará mais do que eu o amo, mas talvez alguém possa
amá-lo melhor.
Eu não tento parar as lágrimas ou até mesmo limpá-las do
meu rosto. Tudo está muito entorpecido. Tudo exceto meu
coração. Parece que ele passou dez rodadas no ringue. Alguém,
por favor, pode simplesmente me nocautear?

Griffin finalmente olha para mim. Ele faz uma careta, abrindo
e fechando as mãos várias vezes. “Quem é você?”

Eu engulo, tentando evitar que a dor em mim me sufoque.


“Eu não sei.”

JEWEL E. ANN
Deslizando para fora do banco, ele puxa uma respiração lenta
que expande seu peito, empurrando seus ombros para trás. Ele
sempre teve uma confiança que não consigo imaginar em milhões
de vidas.

Ele caminha na minha direção. Dou um passo em direção a


ele. Os nós de seus dedos roça minha bochecha manchada de
lágrimas. “Lembra quando você era minha?”
Engasgo com mais soluços, tornando impossível que ele
recolha todas as minhas lágrimas. Nada de bom pode vir de dizer
a Griffin que Nate me beijou. Parece cruel se eu não vou embora
com ele – se terminarmos. Mas nós não somos assim. Eu conto a
ele sobre o meu dia e ele fala sobre o seu. Nós compartilhamos os
altos e baixos.
Eu deveria ter mostrado a ele aquela foto. Deveria ter dito a
ele o quão confusa e curiosa isso me fez sentir.

Griffin era minha pessoa. E se transportamos pedaços de


outras pessoas conosco, entremeadas em nossas almas, então
significa que levarei parte dele comigo para minha próxima vida.
E se eu o toquei da mesma maneira, não quero que isso termine
com uma mentira, escondida sob um segredo.
“Nate me beijou, Daisy. A amiga dele.”
Sua mandíbula se aperta, raiva distorcendo sua face. Mas
nada além de dor transparece em seus olhos. “Você o beijou de
volta?”
“Sim.” Minha mente grita comigo. Diga a ele que não foi você
quem beijou Nate de volta, diga a ele que era Daisy.
Eu não falo mais nada. Não há como isso fazer bem para ele.
Não tem desculpas. Não imploro por perdão ou misericórdia.
Quero sempre me lembrar de Griffin como a parte mais honesta e
pura de mim mesma.

“Eu sinto muito.”


“Pelo quê?” Ele diz com uma voz firme.

JEWEL E. ANN
Por minhas inseguranças. Por ser uma dona de casa ruim.
Por encolher sua camisa de lã. Por colocar gengibre no molho
Alfredo. Por esquecer o seu aniversário. Por vomitar em você. Por
aceitar o emprego errado. Por beijar Nate.

“Sinto muito que você tenha entrado na fila errada na


mercearia.”

“Jesus...” Ele sussurra enquanto a dor preenche seus olhos.


Eu retiro meu anel de noivado. “Você é inequivocamente o
melhor momento da minha vida.” Deslizando o anel em sua mão
e fechando seus dedos em torno dele, levanto na ponta dos pés e
pressiono meus lábios no canto de sua mandíbula. “Eu te amo,
Cara da Mercearia.” Soltando sua mão, recuo e sorrio por entre
minhas lágrimas. “Para sempre.”
Deixando meu coração aos seus pés, eu me viro e saio.
Ok, Daisy, termine isso.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 27

Eu a perdi.

É um tipo especial de inferno. Mas não posso competir com


algo que ocorreu antes de eu dar minha primeira respiração.

Não tenho certeza do que vai aliviar a dor. Algo me diz que
esta não é a resposta, mas por falta de uma ideia melhor, isso é
tudo que tenho.
“Griffin...” O Professor Que Pegou algo Que Era Meu nem
sequer finge estar surpreso ao me ver esperando na porta de seu
escritório. “Eu tenho uma aula em quinze minutos.”
Eu olho em volta, para o corredor congestionado com os
alunos. “Isso não vai demorar muito.”
Ele acena para mim. É lento, como se soubesse exatamente
porque estou aqui. “Eu tenho certeza que não vai”, ele murmura,
abrindo a porta de seu escritório. Ele dá três passos para dentro.
Fecho a porta atrás de nós. No segundo em que ele se vira, enfio
um punho em seu estômago. Assim que ele se curva, acerto outro
soco no rosto dele. Tropeçando para trás alguns passos, ele
pressiona os dedos no lábio ensanguentado.

Nem um pingo de choque no rosto dele.


Nem um pouco de raiva em sua postura.

Nem um único punho fechado.

Nenhum sopro de palavra.

JEWEL E. ANN
“Você quer que ela seja alguém que ela não é.” Eu sacudo
meu punho e acerto de novo, porque não tenho certeza se já estou
farto do sangue em seu rosto. “Então você pode beijá-la. Você pode
transar com ela. Você pode fingir que ela é a mãe da sua bebê.
Mas isso não a trará de volta. Ela está morta. Você está
perseguindo um fantasma. Um dia Swayze vai acordar e perceber
que se acomodou em uma vida emprestada. E esse é o melhor
cenário possível.” Sacudo minha cabeça, apertando a mandíbula.
“Se você deixar essa terapeuta tentar recuperar memórias... isso
vai destruí-la. E isso será sua responsabilidade.”

Pow!

Entro com um gancho final em sua mandíbula. Ele se vira


como se tivesse levado mais do que alguns golpes no rosto. “Foda-
se por pegar todo o meu maldito mundo.”
Eu me viro e agarro a maçaneta da porta.

“Ela não me ama”, diz ele.

Agarrando a maçaneta com mais força enquanto fecho meus


olhos, deixo suas palavras morrerem atrás de mim. “Eu sei.”

“Olá docinho. Que surpresa...”

No segundo em que minha mãe abre a porta, eu caio em seus


braços. E solto cada emoção. “Eu o perdi.”

“Oh, Swayze...” Ela me abraça, acariciando a parte de trás do


meu cabelo.

“Por quê?”

JEWEL E. ANN
Ela se afasta, colocando meu rosto contorcido e feio entre
suas duas mãos. Todo o meu desgosto reflete em seu rosto. “O
que?”

“Por que eu não posso ser normal?” Engasgo com outro


soluço. “M-minha vida inteira... eu só queria... ser normal.”

Beijando minha testa, ela me abraça novamente. Eu


costumava pensar que ela melhorava tudo com um abraço
mágico.

Costumava pensar a mesma coisa sobre o abraço de Griffin.


Mas os demônios dentro de mim são intocáveis. Eles exigem
minha atenção. Sou escrava das intenções deles.

“Sente-se. Vamos dar um jeito nisso.”


Se apenas…

Sento na poltrona de couro e ela se ajoelha na minha frente,


me entregando vários lenços antes de pousar a mão na minha.
Quando ali aperta, arranca mais lágrimas.

“Sherri me contou sobre Griffin encontrar a foto.”


Eu concordo. Deus, eu a amo por não me dar o olhar eu te
disse.

“Ele está se mudando.” Eu fungo, manchando meus olhos.


“Sherri disse que Griffin quer que você vá com ele.”

Outro aceno de cabeça. “Mas eu não posso.”

“Swayze… você pode. Não quero que você se mude, mas


depois de conversar com Sherri, acho que Griffin está certo. Se
isso vai ajudar, você precisa de um novo começo. Você precisa
escolher uma vida.”
“Eu não posso. Doug Mann me assassinou. E ele vai fazer de
novo se eu não fizer alguma coisa.”

JEWEL E. ANN
Ela se encolhe. Eu sei que falar de mim mesma como Daisy
em primeira pessoa deve soar louco. Mas não posso mais separar
as duas.

“Eu tenho que deixar Dra. Albright tentar hipnose em mim.


Se me lembrar de todos os detalhes, talvez possam prendê-lo.”
Sacudo minha cabeça. “Eu não posso viver minha vida olhando
por cima do meu ombro. Eu não posso fugir.”
Ela solta um suspiro lento. “Não estamos falando de pegar
um ladrão, Swayze. Se os fragmentos do que você lembra são
verdadeiros, ele é um assassino em série.” Apertando minha mão
novamente, ela se inclina para mim. “Se ele assassinou Daisy e a
alma dela reside em você, então você está pedindo que Dra.
Albright traga de volta memórias de alguém te matando. Minha
filha querida, você entende isso? As pessoas cometem suicídio
porque têm lembranças de abuso, estupro, guerras e tortura
presas em suas cabeças.”

“Então ela me hipnotiza e tira essas memórias depois que


Doug estiver na prisão.”

Mamãe franze a testa. “Griffin disse que a Dra. Albright não


pode garantir que vai funcionar.”
“Funcionou com ela.”
Ela suspira. “Por favor. Estou te implorando. Deixe Griffin te
levar para longe de tudo isso. Deixe-o mantê-la em segurança.”
Eu puxo minha mão da dela e me inclino para trás na
poltrona, passando meus braços em volta do meu corpo. “Isso não
é um interruptor que pode ser desligado. Esta não é uma
experiência ruim na escola. Não é uma oportunidade perdida. Isso
não é nada que você, Sherri ou Griffin, ou qualquer um pode
sequer começar a entender!”
Sua testa enruga. “Swayze, acalme-se. Eu não estava...”

“Eu não posso me acalmar! Você não vê? Eu sou a porra de


uma bagunça.”

JEWEL E. ANN
“Swayze...”
“Eu não posso fugir. Não posso simplesmente deixar de lado
algo que está corroendo minha própria existência. Eu não posso
desligar isso. E eu não posso ir com Griffin.”
“Por favor... você vai perder todo...”

“EU JÁ O PERDI!” Deixo a cabeça cair em minhas mãos,


tremendo de dor.

Mamãe descansa as mãos nas minhas pernas.

“Nate... me beijou.” Minha voz se quebra em pequenos


soluços.

“Oh querida…”

“E...” A vergonha. É um peso pesado no meu peito. Uma faca


cavando no meu íntimo. Um câncer no meu cérebro. “Eu o beijei
de volta.” Levanto minha cabeça. “Eu senti como se tivesse feito
isso um milhão de vezes. Era errado, mas no momento não parecia
errado.”

Lágrimas enchem os olhos da minha mãe. “Isso vai esmagar


Griffin.”

Eu pisco grandes lágrimas de crocodilo.


“Swayze...” Ela balança a cabeça lentamente enquanto seu
olhar se aproxima do meu peito. Eu a deixo puxar meu braço para
longe do meu corpo. Seus dedos roçam sobre o meu dedo anelar
esquerdo. “O que você fez?” Ela sussurra.

Engulo um nó grosso na garganta, piscando meus olhos


inchados. “Eu preciso de respostas. E isso não parece uma
escolha. É como se eu estivesse dizendo para meus pulmões
pararem de respirar. Não importa o quanto eu tente, não posso
parar o que quer que seja. E…” respiro fundo. “Eu tive que contar
a ele porque eu o amo.”

“Ele vai partir. Com ou sem você. Foi o que Sherri disse. Você
vai perdê-lo para...”

JEWEL E. ANN
“Sempre”, sussurro.
Sua cabeça se inclina para o lado. A pena em seu rosto
aumenta minha auto aversão. “Não é um tempo. Ele não está
tirando férias. Isto é para sempre. Diga-me que você realmente
compreende isso. Diga-me que você sabe que alguma garota vai
recolher os pedaços do coração dele e vai remontar.”
“Eu sei.” Não sinto nada agora. Tudo está entorpecido.

Se pudesse trocar as cartas na minha mão, eu faria. Mas não


posso. Então vou jogar com elas e rezar para que eu viva para
contar história.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 28

Griffin está trabalhando na garagem quando eu chego em


casa.
Casa.

Não sei mais onde fica minha casa. Costumava ser simples –
Griffin era meu lar. Quando minha alma não consegue decidir
uma vida, como vou encontrar uma casa, um marido ou qualquer
tipo de existência normal?
Essa coisa nem parece um rompimento. Parece uma tragédia.
Um tumor no cérebro. Câncer terminal. Um soldado indo para a
batalha. Cupido com uma flecha rebentada e uma lágrima nos
olhos.

Aos vinte e dois anos meus sonhos foram destituídos de


esperança. Unicórnios, Papai Noel, o Coelhinho da Páscoa e felizes
para sempre não existem.

Eu paro no meio do caminho para a porta dos fundos e me


viro. De olho na porta da garagem, meus pés me levam até lá. Ele
está indo embora. Eu sei.
Estamos agonizando. Eu sei.
Mas ele não foi embora ainda. E meu coração ainda galopa
com sua proximidade, então... não estamos mortos.

Ele poderia me odiar. Mas e se ele não for assim?


Doug Mann poderia jogar meu carro para fora da estrada
amanhã e Griffin me deixando não teria mais importância. Minha
mãe nunca planejou morar sozinha aos quarenta anos.
Eu abro a porta.
Porra. Meu coração...

JEWEL E. ANN
Griffin não reconhece que estou ali. Ele está encaixotando
suas ferramentas.

Ele está me deixando. Oh… meu… coração…


Fecho a porta atrás de mim. Está quente aqui. O aquecedor
no canto está ligado.

Largo minha bolsa na porta e olho em volta da garagem. Meu


balde não está no seu lugar habitual. Ele o escondeu? Jogou fora?
Embalou?
A bancada está livre, então pulo nela, cruzo as mãos no colo
e fico observando Griffin. Eu me pergunto se daqui a vinte anos
vou lembrar o quanto eu amava apenas observá-lo. Acredito que
sim. Eu espero que, se ele encontrar o amor de novo, ela saiba
como é maravilhoso apenas estar com ele.

Espero que ela tenha dias emocionantes para compartilhar


com ele. E espero que ela saiba como é incrivelmente raro
encontrar um homem que realmente se importe com o dia dela.

Talvez eu não devesse estar aqui. Talvez seja um tapa na cara


dele. Pode ser sal na ferida. Meu cérebro – minha consciência –
sabe disso. Mas meu coração não entende.
Eu me pergunto se meu coração vai entender.
Ele se pergunta por que eu não vou embora, do jeito que me
pergunto porque ele não vai ficar? Ou nós dois sabemos as
respostas. Mas… sim… o coração não pensa. Não é esse o seu
trabalho.

Minha cabeça sabe que eu deveria estar lá dentro, arrumando


minhas coisas, pelo menos uma mala para levar para a casa da
minha mãe. Mas meu coração mantém minha bunda plantada
nessa bancada, meus olhos acompanhando cada movimento seu.

Segundos cedem aos minutos. Eu os gasto revendo todas as


lembranças que marcamos no tempo. Memórias consomem quase
duas horas – duas horas em que não sinto Daisy.

JEWEL E. ANN
Duas horas da garota que conheceu o cara na mercearia. Eu
gosto dela. Eu gosto deles.

Olho para cima de algum lugar no passado quando as luzes


se apagam. Griffin está na porta, segurando-a aberta. Meus lábios
se voltam para cima. Um pequeno sorriso que ele não pode ver.

Nossos olhares se encontram pela primeira vez esta noite


quando passo por ele, saindo para a noite fria. Depois de vários
passos, eu me viro, lembrando-me da minha bolsa no chão.

Mas não está na garagem. Griffin a tem apertada em sua


mão.

Nossos olhares se encontram novamente. Não é como hoje


cedo. É… Pacífico. Talvez seja aceitação. Então eu me viro e deixo-
o carregar minha bolsa. Deixo-o me seguir até a casa.

Sim, vou ter flashbacks de Griffin Calloway pelo resto da


minha vida.

Ele coloca minha bolsa na mesa da cozinha e lava as mãos.


Vou até o quarto, pego uma mochila do armário, coloco na cama
e começo a colocar algumas roupas nela. Disse a minha mãe que
voltaria para ficar com ela. Ela provavelmente está preocupada
comigo.
Volto para a cozinha para pegar o celular da minha bolsa.
Griffin tem dois pratos no balcão e está fazendo sanduíches.
Meus lábios encontram aquele pequeno sorriso de novo
quando inclino meu queixo em direção ao meu telefone, enviando
um texto para minha mãe.

Eu: Desculpe, estou um pouco atrasada. Arrumando minha


bolsa agora e pegando um sanduíche. Estarei aí em breve.

Mãe: OK. Envie-me um texto quando sair para que eu possa


ficar de olho em você.
Eu: Vou mandar.

JEWEL E. ANN
Griffin coloca os dois pratos na mesa, mas ele não olha para
mim. Senta-se e começa a comer. Eu já sinto falta dele. Tomando
um lugar ao lado dele, nós comemos em silêncio. É triste, mas
reconfortante. E sem palavras faladas, dizemos muitas coisas.

Eu sinto muito. A vida não é justa. Isso dói. Eu nunca te


esquecerei.

E quando ambos terminamos, ele finalmente olha para mim.


E é claro que as únicas palavras que restam são aquelas que não
mudam nada, mas significam tudo.

Eu te amo.

Quando ele leva nossos pratos para a pia, volto para o quarto
e termino de enfiar algumas coisas na minha bolsa. Fecho a
mochila e respiro fundo, expirando um pouco de cada vez junto
com o peso do mundo enquanto dou uma olhada ao redor do
ambiente.
Se eu ficasse, se alugasse a casa de Sherri e Scott, teria essas
lembranças. Alguns dias me dariam conforto, outros dias me
sufocariam de tristeza. Eu acho que é a vida, um pêndulo estável.
Equilíbrio não é nada mais que uma respiração no meio. Talvez à
noite eu pudesse fingir que ele está ao meu lado na cama; talvez
então pudesse encontrar equilíbrio e respirar.
Acho que posso fazer isso – posso sobreviver com uma boa
respiração por dia.
Griffin me assusta quando se esgueira atrás de mim,
estendendo a mão para pegar minha mochila. Seu peito roça
minhas costas. É claro que ele será o cavalheiro, o protetor, e me
levará até o carro.

Tum.

Ele deixa minha mochila no chão.


Eu viro. Nossos olhos se encontram. Ele agarra meu rosto e
me beija. É duro e exigente. Impossível respirar. Tudo bem. Eu só
preciso de um bom fôlego. Eu vou ter que me recuperar depois.

JEWEL E. ANN
Ele apaga todos os traços de que outro homem me abraçou –
me beijou. Não é certo e não é errado. Simplesmente é.

É Griffin e Swayze.
E talvez isso seja inútil, um time perdendo por vinte pontos
com dez segundos restando para o fim do jogo. Mas quem não
adora ver o time perdedor jogar duro até o tempo acabar?
Griffin se afasta, sem fôlego e lindamente assombrado
enquanto olha para mim. Ele está se certificando de que tudo o
que vê é sua Swayz?

Ele tira a camisa. Eu tiro a minha. E nos beijamos


novamente, deixando tudo no campo. Suas mãos seguram meu
cabelo enquanto minhas unhas cravam nas costas dele.
Não é uma corrida. Nós somos lentos para fazer uma pilha de
roupas no chão. Há muitos beijos para se ter pressa. O futuro não
tem promessas, então nós aproveitamos nosso tempo fazendo
outra memória.

É uma boa.

Ele desce meu corpo nu na cama, debaixo do dele.


“Eu conheço cada curva do seu corpo... Eu sei como cada uma
delas fica em minhas mãos.”
Eu amo as mãos dele. Nos meus sonhos favoritos, elas foram
feitas para me tocar. Só eu. Sempre eu.

Ele aproveita seu tempo calmamente, assegurando que seus


lábios toquem cada pedaço da minha pele. Eu me contorço
embaixo dele, comprometendo esse sentimento com as partes
mais profundas da minha alma. Se eu levar algo comigo quando
morrer, dessa vez, será o quão incrivelmente reverenciada por esse
homem eu me senti.
*

JEWEL E. ANN
Eu a estou deixando e isso dói. Achado não é roubado não se
aplica a humanos. Mas ela está aqui agora e eu estou tomando o
agora, e vou aproveitar cada minuto que ela me der – só para mim.
Então vou embora. Vou deixá-la encontrar o que está faltando,
mas não posso ficar aqui quando ela perceber que não sou eu.

Por enquanto, estou deixando meu toque em todos os lugares.


Quando ele a tocar, eu quero que ela lembre que meus lábios
estiveram aqui primeiro.

Eu a rolo de barriga. Ela arqueia as costas, esticando o


pescoço para cima. “Griff...” Ela murmura enquanto eu deposito
beijos ao longo de sua espinha. Seus braços esticam sobre a
cabeça, as mãos agarrando os lençóis. Ela nunca pareceu mais
bonita, curvada sob o meu toque.
Se esta fosse a nossa vida, eu poderia mantê-la por toda a
eternidade. Ela me ama. Swayze me ama.

Mas esta não é nossa vida. Esta é apenas uma pequena


recompensa por sobreviver às coisas difíceis.
Enquanto provoco a curva de sua bunda com meus dentes.
Ela se levanta nos cotovelos, olhando para mim por cima do
ombro.

Eu beijo as marcas dos dentes, olhando para ela com um


sorriso. Ela sorri apesar das emoções cristalinas, que são reféns
em seus olhos.

“Você está me marcando?”


“Sim.” Mordo um pouco mais baixo.

Outra mordida E outra...

Ela ri, contorcendo-se até que escapa para o topo da cama,


costas pressionadas na cabeceira da cama.

JEWEL E. ANN
Eu não tenho certeza do que dói mais, a granada explodindo
em meu próprio peito ou saber que sob aquele sorriso dela, ela
está destruída e perdida. E não há nada que eu possa fazer para
melhorar. Esticando minhas pernas em direção a ela, curvo um
dedo.

Ela morde o lábio inferior e balança a cabeça, abraçando os


joelhos no peito. Eu concordo.
Ela treme.

Minhas sobrancelhas levantam um pouco. Ela solta um


suspiro silencioso e rasteja em minha direção, ocupando minhas
duas pernas estendidas.

Espalmando sua bunda, guio-a para baixo em mim. Seus


olhos se agitam quando ela agarra meu bíceps.

“Baby...” sussurro sobre seus lábios.


Ela passa a boca pela minha, balançando lentamente a pélvis
contra a minha. Resisto ao desejo ardente de virá-la de costas e
transar com ela em um grande pedido de desculpas – até que ela
peça meu perdão – até que cada lembrança de Daisy e Nate
desapareça. Até que ela escolha ter uma vida comigo.
“Não entrei na fila errada na mercearia.”
Ela continua, movendo as mãos pelas minhas bochechas,
tanta dor no rosto. “Não posso ir com você.” Mais emoções se
acumulam em seus olhos.

“E eu não posso ficar.” Cubro a mão dela com a minha. “Mas,


Swayz... eu não entrei na fila errada na mercearia.”

Ela pisca outra rodada de lágrimas. “Foda-se, Daisy.” É algo


entre um soluço e uma risada.

Eu sorrio e aceno uma vez. “Foda-se, Daisy.”

Nós nos beijamos e somos apenas nós.

JEWEL E. ANN
Eu não posso mudar o que está do lado de fora. Não posso
salvá-la de outra vida. Então a devoro como se nunca mais
pudesse comer ou respirar novamente. E depois de mais alguns
segundos dessa construção lenta, eu a coloco de costas e tento
enfiar alguma razão nela, fodendo-a.

Não sou um herói. Sou humano. Mas ainda assim... eu quero


o impossível.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 29

“Não”, Griffin resmunga em uma voz sonolenta, apertando


seus braços em mim enquanto tento deslizar para fora, saindo
debaixo de seu braço em volta da minha cintura.

“Eu tenho que fazer xixi e mandar uma mensagem para


minha mãe. Ela acha que estou indo para lá.” Eu já sei que tenho
um bilhão de mensagens perdidas dela. Estou surpresa que ela
não tenha vindo até aqui. O fato de eu deixá-la rastrear minha
localização no telefone é provavelmente a única coisa que a
mantém em casa.
“Eu estou deixando você. Você não está me deixando.”

Não sei se devo rir ou chorar. É um pouco cedo demais e


muito cru para essas palavras.

Ele me libera. “Vai. Estou brincando. Mas volte. Eu não


terminei de arruinar você.”

Para outro homem – Nate.


Estou bem em ser a ruína do Griffin. Pelo menos sei que ele
pode me remontar. O problema é que ele está partindo.
Entro na camiseta descartada de Griffin, pego meu telefone e
vou para o banheiro. Sim. Seis mensagens e duas chamadas
perdidas.

Eu: Sinto muito.


Eu: Acabei me distraindo.

Eu: Ficando aqui.

Eu: Falo com você de manhã.


Mãe: Oh! Isso é bom. Sim?

JEWEL E. ANN
Eu: Ainda é desolador. Mas eu quero isso.
Como uma droga, a falta vai ser horrível. Espero em Deus,
que eu sobreviva.
Mãe: Te amo.

Depois que termino no banheiro, vou na ponta dos pés até a


cozinha para tomar um gole de água. Está nevando novamente.
Observo por alguns minutos.

O chão atrás de mim range.

“Mais neve”, eu digo.

Griffin se eleva atrás de mim. Ele pega meu copo e bebe o


resto da minha água antes de colocar o copo para o lado na mesa
da cozinha na minha frente.
“Eu gosto de você na minha camisa. Sempre gostei.” Sua mão
desliza ao meu redor, sob a bainha da frente da camiseta.
Minha mandíbula relaxa, liberando pequenas respirações
erráticas entre meus lábios entreabertos. Seus dedos me
provocam enquanto a outra mão encontra meu seio, beliscando
meu mamilo. Eu pressiono de volta contra ele até que seu pau
cutuca minhas costas.

“Incline-se para frente.” Suas palavras raspam ao longo do


meu ouvido. “Eu vou foder você na nossa mesa. Porque posso.”

Sim. Ele me arruinou porque – Deite de costas, eu vou


gentilmente fazer amor com você – nunca fará isso por mim. Nunca
alimentará minha fome de ser fisicamente e emocionalmente
possuída por um homem como Griffin.
Inclino-me para frente e descanso minha bochecha na
madeira fria, segurando o lado oposto da mesa. Um arrepio frio
dispara ao longo da minha espinha quando ele desliza a camiseta
para cima, expondo minha bunda. Seus dedos me provocam,
fodendo-me, até que impulsiono minha pelve contra a mão dele. A

JEWEL E. ANN
cabeça do seu pau substitui essa mão, e ele investe contra mim
em um impulso duro. Seguido por outro. E outro...

A mesa raspa ao longo do chão uma fração toda vez que seus
quadris acertam o meu traseiro.
É ele.

Sou eu.

Somos nós.

Swayze e Griffin – sexo on demand.

“Eu quero chorar. Mas acho que meus canais lacrimais estão
quebrados.” Franzo a testa para Griffin quando ele me entrega
uma xícara de café.
Ele retorna um sorriso triste antes de inclinar meu queixo
para cima com o dedo e pressionar seus lábios nos meus em um
beijo leve. “Bom Dia.”

“Dia.” Bom? Eu não posso dizer isso.

Ele vai trabalhar. Ele tem que saber que vou trabalhar
também – na casa de Nate. No entanto, ele está demonstrando
uma tonelada de confiança a mais do que eu poderia reunir no
meu melhor dia.
“Como você faz isso?”

Ele enche uma garrafa de água na pia. “Faço o que?”

“Noite passada. Esta manhã. A foto. O beijo. O aniversário


esquecido. Daisy. O anel de noivado devolvido. Estamos nos
desfazendo e você continua evitando o tópico como se não fosse
grande coisa. Mas o que vai acontecer quando chegarmos ao
último tópico?”

“Então vou partir.” Ele desliza em sua jaqueta.

JEWEL E. ANN
Eu poderia encontrar uma maneira de espremer mais
algumas lágrimas se ele continuar dizendo coisas desse tipo.
Dando de ombros, balanço minha cabeça. “Então... como se não
fosse grande coisa.”

Ele puxa um gorro na cabeça, os olhos estreitados uma


fração. “É uma grande coisa. Mas neste ponto, não posso controlar
você, seus pensamentos ou nosso destino. Você já se decidiu.
Quer seguir uma vida que não é minha. E eu me decidi. Eu não
quero ver você se jogar de um penhasco sabendo que nunca vou
conseguir te pegar. Eu não posso remontar se eu não souber onde
as peças se encaixam.”

“Isso dói”, murmuro.


Ele acena várias vezes, abrindo a porta dos fundos. “Com
certeza dói.” A porta se fecha atrás dele.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 30

“Oi”, digo, desprovida de toda confiança.


“Oi”, diz Nate de costas para mim enquanto lava algumas
mamadeiras.

“Ela ainda está dormindo?”

“Sim.”
Eu relaxo na banqueta. Quando ele se virar, vou sentir todo
tipo de dor e arrependimento. Mas não posso me esconder para
sempre.

“As coisas correram bem com seus pais ficando com ela
ontem?”

“Sim.”

Eu concordo. Um oi e dois sim... que bom que as coisas não


estão estranhas.

“Eu vou ver a Dra. Albright na próxima semana. Nós vamos


tentar a hipnose.”
Nate seca as mãos e se vira.

“Jesus...” Eu me levanto, indo até ele. “O que aconteceu com


o seu rosto?” Quando toco meu polegar sobre o corte em seu lábio
inchado, ele se afasta e me evita, pegando seu recipiente de café.

“Beijei minha melhor amiga.”


“O que você está falando...” Então eu compreendo. “Griffin?
Ele veio aqui? Ontem?”

Nate fecha a tampa de sua garrafa de café, me lançando um


olhar de soslaio com um sorriso torto repuxando seu lábio

JEWEL E. ANN
inchado. “Não. Tenho que dar crédito a ele por defender seu ponto
no meu escritório, em vez de em minha casa com meus pais e
Morgan.”

“Nate, eu lamento muito...”


“Lamenta?” Ele ri, balançando a cabeça. “Isso é Swayze
falando. Eu levei muitos socos por Daisy. E ela nunca se sentiu
mal. Tenho certeza que isso entrava nos critérios do que um
namorado de verdade deveria fazer. E eu com certeza queria ser
seu namorado de verdade. Mas isso faz eu me sentir mal por você,
Swayze, que um cara tenha saído em sua defesa, em defesa do
que os dois têm juntos e que você esteja lamentando.”

Ele se inclina contra o balcão, uma mão segurando o café e a


outra mão escorrega no bolso da frente de seu jeans escuro.
“Quando Jenna e eu estávamos em nossa lua de mel, tinha um
cara sentado do outro lado, em um bar ao ar livre e ele decidiu dar
em cima dela. Bem ali na minha frente. O anel de casamento
brilhante claramente à vista de todos. Ela educadamente disse a
ele que seu marido estava sentado do outro lado dela. O panaca
teve coragem de descansar a mão na perna dela. Eu quebrei o
nariz dele. Sangue por toda parte.”
“Jenna pegou minha mão e me arrastou para o hotel e fomos
direto para o nosso quarto. Foi o sexo mais apaixonado que já
tivemos. Tudo porque ela ficou excitada em ver dois caras se
atracando por causa dela.”

“Não é a mesma coisa. Eu te beijei de volta.”

“Daisy me beijou de volta.”

“É só isso. Eu não a sinto como você. Você se lembra de tudo


dela. Eu não. Então, e se não fosse Daisy quem te beijou de volta?”
Seus lábios se retorcem, a testa fica vincada. “Não importa.
Eu beijei Daisy. Eu nunca teria te beijado se você não fosse ela na
minha cabeça naquele momento.”

Eu sacudo minha cabeça. “Como você pode dizer isso com


certeza?”

JEWEL E. ANN
“Porque você está noiva de outro homem.” Sua voz aumenta
até o limite do controle. “Este não sou eu. Não toco no que não é
meu. Eu tenho moral. Sou professor. Um pai. Eu não sou ladrão.”

Esfrego o lugar vazio onde meu anel de noivado costumava


residir. O olhar de Nate segue meu movimento.

“Swayze...” Ele faz uma careta.


Com a mão esquerda, eu cubro a mão direita. “Não foi você.
Fui eu. Eu retribuí. Ele não pediu por isso. Mas não posso fingir
que não era ela. Não posso fingir que Doug Mann não é um
assassino. E não posso pedir que ele me ame – case-se comigo –
se não puder lhe dizer quem sou.”

“Vá se desculpar. Vá salvar sua relação. Implore. Rasteje. O


que for preciso.” Nate pega o casaco do fundo do sofá e o coloca.

“O que? Você não me ouviu?”


Fechando o casaco, ele olha para mim. “Perfeitamente.”

“Ele bateu em você!” Minha sanidade diminui.

Nate ri. “Eu fiquei na frente dele e de bom grado recebi três
socos sólidos. Não vou mentir, meu rosto dói mais do que imaginei
que doeria. Pode ser minha idade. Mas eu posso jurar... não fui
espancado.”
Deslizando a bolsa por cima do ombro, ele para na minha
frente. “Se eu tivesse descoberto que você contou a ele sobre o
beijo e ele não me fizesse uma visita, eu ficaria muito desapontado
com ele.”

“Ele está partindo. Eu vou ficar.”


“Não seja idiota. Deixe Daisy ir.”

Sorrio. “Isso é perfeito vindo do cara que nomeou a filha em


homenagem a ela. O cara que visita o túmulo dela.”

JEWEL E. ANN
Ele olha para mim, sem piscar, por alguns segundos.
“Certifique-se de que a porta da frente esteja trancada. Tenha um
bom dia.”

*
Eu tenho um bom dia. Então tenho outro bom dia. E esse
bom dia continua na semana seguinte. Nate é um mestre me
tratando como sua babá. Griffin, um mestre, me fodendo como se
fosse um esporte. Até mesmo Scott e Sherri passam algumas vezes
em casa para conversar como se nada estivesse acontecendo.

Minha mãe é a única, além de mim, que vê a devastação se


aproximando. Ela para de tentar enfiar “sentido” em mim. Em vez
disso, promete ser quem vai me pegar se eu pular daquele
penhasco.
E hoje estou me preparando para me aproximar desse
penhasco.
Dra. Albright sorri. “Vou começar devagar, só para ver se e
como você responde. Se isso funcionar, começaremos com coisas
fáceis. Memorias felizes. Não vamos nos arriscar a arruinar suas
férias com uma possível lembrança de assassinato.”

Eu aceno, soltando um longo suspiro. “Você é a única que


não acha que minha necessidade de saber é loucura. Obrigada.”

Um sorriso triste torce sua boca. “De nada. Mas sinto muito
que você esteja perdendo Griffin por causa disso. Eu vejo os dois
lados. Eles não podem realmente ver o seu lado. Como alguém
velho o suficiente para ser sua avó, sinto empatia com a sensação
de que você é jovem e isso tem o potencial de mudar você – e talvez
não de um jeito bom. Eu acreditava que nossas mentes
inconscientes nunca trariam mais do que podemos lidar. Mas
depois que tive pesadelos com a morte, percebi que o pior cenário,
embora seja uma pequena chance, pode acontecer. Tive a sorte de
poder ter essas mesmas memórias reprimidas.”

“Mas não saber e sentir tanta angústia é seu próprio tipo de


tortura.”

JEWEL E. ANN
Ela acena várias vezes.
Eu relaxo no sofá. Como sua uma paciente não oficial, ela
sugeriu que fizéssemos isso em sua casa. Eu me preocupo em não
lembrar. Eu me preocupo em lembrar. Eu me preocupo com tudo,
até que minha mente começa a relaxar e tudo que ouço é a voz da
Dra. Albright.

*
Duas horas depois, entro pela porta dos fundos depois que
minha mãe me deixa. Ela concordou em ser minha motorista por
sugestão da Dra. Albright.

Demoro alguns segundos para encontrar Griffin sentado no


sofá, assistindo ESPN. Há caixas por toda parte, algumas vazias,
algumas cheias e etiquetadas, e outras meio embaladas.

“Oi.” Ele desliga a TV.


“Oi.” Eu fecho a porta atrás de mim e tiro o casaco. “Você
esteve ocupado.”

“Sim.” Ele se senta, apoiando os cotovelos nos joelhos. “Está


quase pronto. O resto das coisas, estou deixando para você.”
Sim. Isso está acontecendo.

Eu concordo. “Obrigada. Mas não deixe nada que você queira


ou precise. Realmente, posso substituir o que quer que seja.”

Exceto ele. Eu não posso substituí-lo.


“Eu quero saber se deu certo.” Ele aperta as mãos.

“Funcionou. Nós não fomos muito longe. Lembranças felizes.


Elas não estavam totalmente claras, mas eu pude senti-las. Como
minha mãe e meu pai – mãe e pai de Daisy. Era mais do que uma
visão ou memória desconectada. Foi mais profundo.” Eu quero
contar a ele todos os pequenos detalhes. Isso é o que fazemos. Nós
compartilhamos tudo. Mas quando vejo a angústia em seu rosto,
que ele não consegue esconder, percebo que não somos mais nós.

JEWEL E. ANN
Estamos a ponto de não sermos nós. E eu sei que no fundo, Griffin
estava esperando que a hipnose não funcionasse comigo.

Não posso culpá-lo por querer algo tanto assim. Por me


querer tanto.
“Vamos esperar até depois do Natal para ir mais longe.”

Ele fica de pé. “O caminhão de mudança chegará na segunda-


feira depois do Natal.”

“Oh... pensei que você não fosse embora até depois do Ano
Novo.”
“Eu quero uma chance de me ajeitar por alguns dias antes de
começar meu trabalho. Entrar no clima.”

Nós discutimos muito. Nós evitamos muito. Nós contornamos


muitos tópicos em favor de apenas curtir os momentos um com o
outro. Eu nunca fiz essa pergunta a ele, e ele nunca me falou isso
também.

“Para onde você está se mudando?”

Ele pega a fita da mesa de café e fecha uma caixa. “Eu acho
que é melhor você não saber.”

“Você o quê?” Eu tento evitar que meu queixo caia até o chão.
“Tem que ser um corte de verdade. Eu não quero que você
pense em mim e onde estou. Não quero que você fique repensando
sua decisão e aparecendo na minha porta, porque você precisa
que eu a ajude a se reestabelecer, só para nós dois percebermos
que você ainda não sabe quem é – mas você teve um momento de
fraqueza e estamos de volta à estaca zero novamente.”
Ai!

Ele joga a fita no sofá e me dá um olhar de desculpas. “Eu


sinto muito.”

Minha cabeça balança de um lado para o outro. “Não. Eu


mereço...”

JEWEL E. ANN
Griffin envolve seus braços em mim. “Tudo. E eu não estou
tentando ser malvado. Eu só preciso de tudo ou nada. E quero o
último minuto de tudo que nos resta. Mas eu não posso viver
minha vida imaginando se realmente terminamos. Se você vai
mudar de ideia. Isso vai me deixar louco.”

“Griff...”

“Talvez não seja a nossa hora.” Ele beija o topo da minha


cabeça.

Eu recuo, olhando para ele. Realmente olhando para ele. Sim,


sempre achei que ele tinha uma alma antiga. E na maioria das
vezes ele tem esse controle militar sobre suas emoções, onde eu
não tenho nenhum. Ele me mostra raiva silenciosa, raiva
reprimida, uma mandíbula cerrada e o tipo de raiva que
simplesmente se afasta.
Silêncio se infiltra. Eu vejo o conflito em seus olhos. Sua
mandíbula fica tensa. E ele bate os lábios contra os meus, quase
me derrubando. É duro. É doloroso em profundidades além de
qualquer sensação física.
Minhas mãos empurram seu peito. Ele resiste. Eu empurro
com mais força. Ele me solta, nós dois sem fôlego.
“Diga.”

O queixo anguloso fica tenso novamente. “Diga o quê?”


“Tudo.”

Soltando o queixo, ele coça a nuca. “Do que você está


falando?” Sua voz é rouca.
“Eu posso aguentar. Sou mais forte do que você pensa que
sou.”

Ele se vira de volta para as caixas, balançando a cabeça. “Vou


levar essas caixas para a garagem. Você pode abrir a porta?”

“Diga.”

JEWEL E. ANN
Ele me ignora, empilhando duas caixas, uma em cima da
outra e pegando-as. Eu volto para a porta, pressionando minhas
costas contra ela.

“Abra a porta.”
“Diga.”

“Swayze, abra a maldita porta.”

“Diga.”

“Você não sabe o que...”

“Diga!”

“Eu odeio que você esteja ficando!”


Tum!
As caixas caem no chão.
“Eu odeio que esta vida não seja boa o suficiente para você.
Odeio que você esteja escolhendo uma vida que não sabe nada ao
invés de uma vida comigo. Eu odeio que esta pequena parte de
mim realmente acredite que você seja ela. Odeio o jeito que você
olha para ele. Odeio que você tenha essa foto estúpida dele. Eu
odeio que você o deixe colocar um dedo em você. E eu…” Ele pisca
e uma lágrima desliza por sua bochecha. “Eu quero
desesperadamente odiar você, mas não odeio. Eu te amo..” Ele
engole em seco, as narinas dilatam enquanto tenta controlar suas
emoções. “... e te amar agora é incrivelmente deprimente.”
Talvez... apenas talvez, morrer e experimentar uma nova vida
não seja uma ideia tão ruim. Talvez eu conseguisse uma vida sem
Doug Mann. Uma vida sem memórias da anterior. Talvez eu tenha
uma vida normal. Uma infância normal. Um nome normal. E
encontraria o amor normal. Talvez um trabalho chato e um marido
apaixonado. Dois filhos e um cachorro. Simples e na média, seria
extraordinário.

Eu teria uma autoestima estelar. Nenhuma festa de piedade.


Nenhum drama. Apenas... lindamente entediante.

JEWEL E. ANN
Me desculpe, não vai dar certo. Eu nem tenho certeza de onde
o pedido de desculpas começaria. Deus sabe que nunca haveria
um fim para isso. Eu acho que “desculpe-me por viver” não é mais
aceito.

“Eu vou embora”, digo com total derrota.

Griffin passa por cima das caixas e pressiona as mãos na


porta acima da minha cabeça, enjaulando-me com seu corpo, mas
sem me tocar. Sua respiração irritada roça minha testa. “Não. Eu
vou me afastar. Eu vou deixar você.” Suas palavras roucas tiram
várias camadas do meu coração já esfolado. “Mas ainda não.”

Meu olhar encontra o dele e por agora eu deixo Griffin me


beijar como se ele odiasse me amar. Eu o deixo me despir como se
odiasse minhas roupas. Eu deixo que possua meu corpo, mesmo
que sinta seu ódio por querer tanto.

E então minha mente fica entorpecida. E reajo ao físico e


libero todo o ódio e todas as coisas neste momento que não servem
a nenhum propósito.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 31

Nós terminamos nossas compras.


Nós celebramos o Natal com a família como se nosso
relacionamento não estivesse morto.

Griffin me dá um tutorial sobre todas as coisas importantes


que preciso saber sobre a casa, como onde está localizada a caixa
do disjuntor.

Então…
Chega o dia da mudança.

Eu acordo com o aroma de avelã e um lugar vazio ao meu


lado na cama. Depois de um longo adeus ontem à noite, achei que
ele pelo menos me deixaria acordar uma última vez em seus
braços. Em vez disso, me conformo com uma última caminhada
pelo corredor até seu sorriso de bom dia e a mão estendida com
minha caneca de café.
São sempre as pequenas coisas.
“Adicione a acordar cheirando avelã na lista de coisas que
vou sentir falta.” Eu paro na cozinha, olhando em volta. Há um
bule de café com o aquecedor ligado e uma caneca vazia ao lado.
“Griff?” Espio de volta pelo corredor. A porta do banheiro está
aberta, luz apagada.

Estou no meio da sala e olho em volta. Seu casaco não está


no gancho perto da porta. Nenhum de seus sapatos ou botas estão
na porta.

Meu coração fica pequeno.


Não.
Tento engolir o caroço que se forma na minha garganta.

JEWEL E. ANN
Não.
Meus pés dão passos cautelosos para o quarto. Seu
travesseiro se foi, fronha de travesseiro dobrada vazia. As duas
malas que estavam aos pés da cama na noite passada se foram.
Não…

Eu não posso respirar.

Correndo para a porta de trás, arranco meu casaco do gancho


e enfio os pés em minhas botas enquanto enfio meus braços nas
mangas, só chegando aos cotovelos enquanto corro porta afora no
ar gelado.
“Griffin!” Meus gritos formam nuvens de desespero em
evaporação. Sua caminhonete foi embora. A porta lateral da
garagem está trancada, olho pela janela. Pela primeira vez, meu
carro está estacionado na garagem. Tudo mais se foi.
A motocicleta.

As caixas.

Os poucos móveis que ele decidiu reivindicar como seus para


levar.
Tudo se foi.

Meu cara da mercearia se foi.

Há coisas para as quais você nunca pode se preparar, como


a perda. É uma emoção debilitante que a vida te traz sem um
manual de instruções.

Nós não falamos sobre esse dia, nem sobre como lidaríamos
com o último adeus. Eu sabia que haveria lágrimas, mas não sabia
que choraria sozinha.
Como algo tão inacabado pode ser tão definitivo?

Eu caio de joelhos na calçada coberta de neve e choro.


*

JEWEL E. ANN
Demoro três dias para tomar banho. Minha mãe respeita
minha necessidade de ficar sozinha. Ela precisou de tempo para
chorar pelo meu pai. E agora preciso de tempo para lamentar a
ausência de Griffin. Nate ainda não sabe nada porque está de
férias, o que significa que estou de férias.

No quinto dia, a intervenção começa. Eu me pergunto se


Griffin deixou para minha mãe e sua família um guia sobre
Swayze.

Dê-lhe cinco dias, então, por favor, entrem e ofereçam-lhe uma


mão e um abraço.

“Olá docinho. Feliz Ano Novo.” Minha mãe sorri, entrando


pela porta dos fundos com Sherri atrás dela.
Elas estão chegando agora em casa, mas vi o carro da minha
mãe e os veículos dos Calloway entrando e saindo da garagem por
dias. Tenho certeza que espiaram nas janelas à noite só para ter
certeza de que não cortei meus pulsos. Essa chance de uma vida
nova, embora atraente, não é o que eu quero ainda. Estou decidida
a terminar uma boa vida.
Infelizmente, a parte boa me deixou cinco dias atrás sem um
verdadeiro adeus, mas eu o perdoo.
Pisco várias vezes. Hoje chego ao sofá, mas tudo o que posso
fazer é olhar para a parede onde a TV costumava estar. Ele
ofereceu deixa-la aí, mas eu não assisto TV, então seria uma coisa
tola deixar para trás.
“Eu tenho sopa. Hoje você precisa comer.”

Eu aceno uma vez, minha cabeça ainda pesada de dias de


luto, pulsação palpável em meus olhos inchados.

“Café, do tipo bom.” Sherri me entrega um copo de café e se


senta ao meu lado.
Não é de avelã. Não importa. Estou pensando em desistir de
café e todas as outras partes da minha vida que me lembram de

JEWEL E. ANN
Griffin. Concordar em ficar nesta casa foi uma ideia estúpida. As
memórias servem apenas como lembranças dolorosas.

“Ele queria que eu lhe dissesse que chegou bem ao seu


destino.” Sherri descansa a mão no meu joelho enquanto continuo
a observar a parede em branco.

Seu destino. O lugar que eu não tenho permissão para saber.


Um término limpo, sem rebarbas. Não há nada de limpo sobre
término. É tão fodido que não consigo ver além das imagens
desordenadas na minha cabeça. É um labirinto com uma centena
de bolinhas de gude colidindo umas contra as outras e sem saída.

“Diga-lhe que estou bem”, digo em voz monótona.

Mamãe me estende a sopa e uma colher. Sherri pega o café


de mim.

“Você está?” Sherri pergunta.


Eu aceno várias vezes, mexendo a sopa de arroz. “Eu vou
ficar.”

Não sei, não. Há muita coisa em minha lista: esquecer Griffin,


ressuscitar os mortos e pegar um assassino. Nada demais. Pelo
menos Scott está limpando a neve da entrada da garagem. Se ele
pudesse prender Doug, isso também seria maravilhoso. Algo me
diz que não é o que um contador faz.

Uma vergonha.

“Vou fazer umas compras mais tarde. Vou trazer alguns itens
básicos para você também”, minha mãe diz da cozinha.

Estou supondo que ela está inspecionando a geladeira. É bem


patético. Ontem decidi dar ao meu estômago algo para digerir além
de si mesmo e um monte de tristeza, mas o melhor que pude
encontrar foi aquele pão de grãos. Eu mergulhei aquilo na
manteiga. Funcionou.
“Eu vou ao mercado.”
Ela espia a cabeça no canto. “Você vai?”

JEWEL E. ANN
Não sei porque ela parece tão surpresa. Bem, talvez eu saiba. A
cara de quase morta pode levar os forasteiros a acreditar que estou
com um pouco de dificuldades.

Dói olhar para Sherri sem sentir vergonha. O que ela deve
realmente pensar de mim? Mesmo que queira acreditar que sou
Daisy reencarnada, ela não pode saber com certeza. Pelo menos
parte dela tem que pensar “talvez ela seja apenas louca”.
Uma pequena parte de mim também pensou assim, até que
a Dra. Albright me hipnotizou. E agora eu sei sem sombra de
dúvida, fui Daisy.

“Não era justo ir com ele... e não era justo pedir-lhe para
ficar.” Depois de uma pausa grave, olho para Sherri.
Ela fica com os olhos marejados. “Eu sei. Mas pelo menos ele
foi embora com coisas boas entre vocês dois. Sem
ressentimentos.”
Meus lábios tentam um pequeno sorriso. Quando Griffin
partiu, tenho certeza de que os únicos sentimentos entre nós eram
duros, feridos e dolorosos. Simplesmente machucava mais estar
separado do que estar junto.

“Então...” Sherri bate as mãos nas pernas. “As garotas estão


descansando por mais dois dias. Vamos todos fazer manicures e
pedicures. Por minha conta.”

Eu amo Sherri. Amo toda a família de Griffin. Eu amo o jeito


que eles não apenas me receberam, mas formaram um vínculo
especial com minha mãe. Tenho que romper com eles também? O
que acontecerá quando Griffin chegar em casa para visitá-los?
Receberei notificação para ficar longe?

Coloco minha sopa na mesa de café. “Eu volto já.” Sem


realmente correr, eu me retiro para a sala de estar e fecho a porta,
encostando-me nela. Meu coração parece tão exposto. Vulnerável
a todo pensamento, toda lembrança. Eventualmente, não será tão
difícil respirar quando pensar em nunca mais ver Griffin. Mas
ainda não estou nesse ponto. Nem mesmo perto.

JEWEL E. ANN
Fechando as duas mãos sobre meu coração, eu cavo fundo
para encontrar a próxima respiração indescritível. Então
mergulho de volta e encontro outra.

Uma respiração.
Um segundo.

Um dia de cada vez.

“Swayze?” Minha mãe bate na porta.

Abro a porta e ela desliza para dentro, fechando-a atrás de si.

Ela enfia meu cabelo atrás da minha orelha e descansa a mão


na minha bochecha.

“Vai ficar mais fácil, certo?” Engasgo com a dor.


“Sim.” Ela oferece um sorriso simpático.

“Eu era Daisy, mãe. Gostaria que você pudesse ter visto as
memórias que eu vi. Foi uma boa vida, mesmo que curta… foi
bom. Pela primeira vez, posso senti-la.

“Eu...” Ela balança a cabeça. “Eu não sei o que dizer. É difícil
pensar em você como alguém além da minha filha.”
“É estranho.” Eu recuo e corro minhas mãos pelo cabelo. “E
se eu juntar tudo e não for o suficiente, porque...” Minha voz
começa a tropeçar e quebrar de todos os sentimentos. “Porque não
tenho o meu cara da mercearia?”

“Talvez você não estivesse destinada a ficar com Griffin. E se


algumas pessoas tiverem que passar por nossas vidas em vez de
andarem ao nosso lado?”

Olho pela janela como se estivesse esperando uma


caminhonete preta estacionar na garagem. “Papai deveria passar
pela sua vida?”

“Eu não pensava assim porque parecia que nós estávamos


caminhando muito bem um ao lado do outro. Mas eu estava
errada.”

JEWEL E. ANN
“Papai está morto. Griffin está vivo. Você não precisa
imaginar outra pessoa vivendo a vida com seu maior amor.”

Ela me abraça por trás, apoiando o queixo no meu ombro.


“Você tem vinte e dois anos, minha querida menina. Há um grande
mundo lá fora. Acho que você vai encontrar outro grande amor. E
o timing será perfeito. Você saberá quem você é. Você estará
pronta para se entregar completamente.”
Se eu viver tanto tempo.

Sorrio através das lágrimas ameaçadoras. “Como vou saber?”

Seus braços me apertam mais forte. “Oh, você saberá.”

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 32

“Obrigado por me ver.”

A professora Albright faz um gesto para uma poltrona. “Claro.


Você disse que não podia esperar até depois das férias de inverno.
Naturalmente, estou intrigada. Posso pegar algo para você beber?”
“Estou bem. Mas obrigado.”

“Onde está Morgan?”


“Meus pais estão olhando-a.”

“Ah. Aposto que adoram isso.”

“Sim.” Eu esfrego minha testa.


“Nathaniel, você parece torturado. O que está acontecendo?”
“Preciso de um favor.”

“Claro.”
Solto um grunhido misturado com risada. “Não concorde
antes de eu dizer qual é o favor.”

“Oh céus…”

Sim querida, está certa. Odeio estar aqui pedindo esse favor.
Mas não tenho escolha.

“Preciso que você faça algo antiético.”


Suas sobrancelhas arqueiam em sua testa enquanto ela bate
os dedos no braço da cadeira.

JEWEL E. ANN
“Sei que você hipnotizou Swayze. Sei que funcionou.
“E por antiético você está me pedindo para divulgar o que
aconteceu na minha sessão com Swayze?”
“Não.”
“Não? Bem, agora estou confusa.”

Inclinando-me para frente, descanso meus braços nos


joelhos e cruzo as mãos. “Se a memória for muito dolorosa,
perigosa demais, a mente inconsciente não a deixa passar à
consciência. Estou certo?”

“Usualmente. Mas há exceções. Eu fui uma.”

Eu concordo. “Preciso que você tenha certeza de que Swayze


não vá se lembrar de todos os detalhes da morte de Daisy.”
“É improvável que ela se lembre, de qualquer maneira, se não
estiver pronta.”
“Entendi. Mas...”

“Mas?”

Mordendo meus lábios, respiro lentamente. “Eu preciso que


você se certifique de que há uma chance zero de que ela se lembre
disso. Para sempre.”
“Você quer que eu fale com ela sobre isso?”
“Não. Ela não está prestando atenção a nenhum conselho
sensato no momento. Quero que você a hipnotize. Quero que você
não vá lá. A morte. Doug Mann. Eu não sei...”

Balanço minha cabeça. “Tente reprimir cada memória


daquela vida que você puder, especialmente Doug Mann.”
“Se ela estiver certa sobre Doug Mann, há um assassino à
solta. Essa é grande parte de sua motivação. Ela tem uma
obrigação moral válida de tentar garantir que ele não mate
novamente. E a cada dia que esperamos é outro dia que ele pode
estar perseguindo sua próxima vítima. E se for a Swayze?”

JEWEL E. ANN
“Não é.”
“Como você sabe?”

“Eu apenas sei.”

“Nathaniel. Você não pode me pedir para fazer algo antiético


e não me dar todas as razões pelas quais eu deveria arriscar
minha carreira, minha licença.”

Nós ficamos nos encarando.

Eu perco.

E arrisco tudo para salvá-la.

*
Depois de ligar para os meus pais para saber de Morgan, vou
até a casa de Swayze. Isso me lembra da casa em que morei na
Gable Street, só que a dela está em melhor estado de conservação.
Depois de tocar a campainha várias vezes e bater, presumo
que ela não está em casa. Paro logo antes de voltar ao meu carro.
Tem música. Parece que está vindo da garagem para um único
carro, então eu sigo.

Abro a porta. Swayze olha para cima de seu lugar perto de


uma bancada de trabalho. Ela está sentada em um balde virado.
A música mais deprimente alternativa toca em seu telefone que
está apertado em sua mão.

“Oi”, digo.

Ela falha em sua tentativa de sorrir.

“Você ficou trancada para fora de sua casa?”

“Não.”

Eu entro. Não é um lugar feliz.

“Quer falar sobre isso?”


Swayze olha para o celular. “Não.”

JEWEL E. ANN
“Você quer que eu sugira músicas para montar uma playlist
melhor?” Isso a faz sorrir um pouco mais.

Ela desliga a música e se levanta. “Onde está Morgan? Se


você a deixou no carro, vou ter que denunciá-lo.” Passando por
mim, ela anda para fora, arrastando os quadris como uma criança
preguiçosa.

Eu a sigo. “Meus pais estão com ela enquanto eu resolvo


algumas coisas.”

“Sou uma das coisas?” Tirando a neve das botas, ela abre a
porta dos fundos da casa.

“Sim. Você é minha última missão.” Eu tiro meus sapatos


depois de entrar e fechar a porta.
“Você quer saber sobre a hipnose. Estou certa?” Colocando-
se no sofá, ela pega o cobertor do encosto e envolve em torno de
si.

“Não. Estou apenas vendo como você está. Isso é tudo.”

“Oh, bem, aqui está a atualização: ainda estou relativamente


estável. Você não precisa se preocupar com meu estado mental.
Morgan ficará a salvo comigo.”
“Eu confio cegamente em você com Morgan. Estou aqui
apenas como seu amigo. Mesmo as pessoas mentalmente estáveis
precisam de amigos às vezes.”

Seus lábios se retorcem, os olhos se estreitam uma fração.


“Tudo bem. Eu gosto do tipo de amigos que trançam o cabelo um
do outro. Você sabe como fazer tranças, professor Hunt?”

“Eu não sei nem amarrar uma gravata. Você realmente acha
que uma trança está no meu repertório?” Eu me sento ao lado dela
no sofá.
“Você tem uma filha. Você precisa aprender a trançar. Eu não
estarei por perto para sempre para fazer coisas para você.”

JEWEL E. ANN
“Não? Aonde você vai? Espero que seja para algum lugar
quente.”

Ela cutuca minha perna com o pé. “Você está tentando se


livrar de mim?”
“Nunca.”

Seu sorriso continua escorregando. Eu quero pegá-lo e colá-


lo no lugar. Ela tem o sorriso mais brilhante. É esmagador vê-la
sem ele.

“A hipnose. Principalmente meus pais e minha décima


primeira festa de aniversário.” Seu olhar encontra o meu.
Eu apenas escuto.

“Ganhei uma bicicleta nova. E minha mãe – a mãe de Daisy


– era minha amiga. Sou amiga da minha mãe agora, mas quando
era mais jovem, ela estava mais preocupada com o meu potencial
do que com coisas como ajudar-me a encontrar o vestido certo
para o baile de boas-vindas ou fazer tranças no meu cabelo.” Ela
sorri um pouco mais. “A mãe de Daisy trançava o cabelo dela. Viu
como as garotas se lembram disso? Você precisa aprender a
trançar cabelo, Nate.”
“Você sabe, aquela vida se foi. Vale a pena desistir de tudo só
para lembrar?”

“Você quer dizer Griffin?”

Eu concordo.
“Limbo é um lugar miserável. Eu sou uma pessoa miserável
sentindo-me presa no meio. Preciso saber tudo ou nada. É como
andar descalço na praia: não é grande coisa, mas ter algumas
partículas de areia no seu sapato é enervante. Griffin merece estar
com alguém que não está preso no meio. E Doug Mann precisa ir
para a prisão. É simples assim.”
“Swayze, você merece felicidade. É tão simples assim.”

JEWEL E. ANN
Ela encolhe os ombros. “Vou encontrar a felicidade quando
for a hora certa. Nosso timing não estava certo.” Desviando o
olhar, ela engole em seco, negando tudo o que acabou de dizer.

“Se Doug Mann não fizesse parte da equação, você ainda


sentiria essa necessidade ardente de saber mais? Você teria
deixado Griffin partir sem você?”

Uma risada, meio um ronco, escapa de seu nariz. “É um


ponto discutível. Mas depois do que aconteceu entre nós...” Ela se
vira para mim.

Eu quero murchar e morrer como o idiota que sou por beijá-


la.

“Eu tive que deixá-lo ir.”


“Foi apenas um beijo.”

Seu rosto se contorce em uma careta dolorosa. “Não foi


apenas um beijo. E você minimizar isso só me dói mais.”

“Se não era apenas um beijo, então o que foi?”

“Pare.” Jogando o cobertor de lado, ela anda pela sala. “Na


faculdade fiz sexo que foi menos estimulante do que aquele beijo.”

Engulo minha risada. “Talvez você tenha apenas baixos


padrões.”
“Vá se foder.” Seus olhos se estreitam para mim.

“Sim, certo.” Fico de pé.

“Por quê?” Sua voz perde toda a luta. “Eu entendo o beijo. Há
uma parte de mim que se perguntava como seria. Uma
curiosidade profunda que crescia mais com todas as histórias que
compartilhou sobre você e Daisy. Quanto mais eu sentia que tinha
que ser ela, mais queria sentir o que ela sentia. E ...” Ela balança
a cabeça, braços abraçados ao peito. “...a única coisa que eu
queria sentir mais do que qualquer outra coisa era você.”
“Swayze...”

JEWEL E. ANN
Continuando a sacudir a cabeça, ela recua enquanto dou um
passo em sua direção.

Sua mão pressiona o pescoço logo abaixo da orelha. “Eu


pensei que você me beijaria aqui, como você a beijava. Como o pai
dela beijava a mãe dela.”

Depois de alguns segundos olhando para o chão entre nós,


ou anos no passado, seus olhos encontram os meus. “Eu queria
picolés vermelhos e laranja e chocolates roubados. Eu queria
sentir aquele amor jovem. As borboletas. A antecipação. Eu pensei
que isso traria uma mudança em mim, e eu me lembraria de como
era ser aquela garota que se apaixonou por você. Eu pensei que
um beijo poderia tornar a vida real na minha cabeça.”
Picolés e chocolates. Eu sou um idiota.
“Mas você não me beijou como um garoto de quinze anos
beijaria uma garota de quinze anos. Você me beijou como um
animal emergindo da hibernação. Como um homem desfeito de
dentro para fora. Como se não me beijasse, você deixaria de
existir.”
Como se eu estivesse procurando aquele pedaço de mim que
você levou com você quando morreu.
Olhando para longe por um breve segundo, ela inspira de um
jeito instável. “E eu beijei você de volta como... se precisasse
saber.”
“Precisasse saber o que?”

Seu olhar encontra o meu novamente, e sinto sua dor


profunda nos ossos. Não sei se o que aconteceu é destino ou
irresponsabilidade. O destino pode ser tão imprudente? Eu
simplesmente não sei. Eu a amo – mesmo que não tenha certeza
em nenhum dia quem ela é ou como definir esse amor.

“Eu precisava saber se outro homem poderia me fazer sentir


do jeito que Griffin me fazia sentir. No meu coração, sabia que isso
era impossível. Mas você esteve na minha cabeça, nos meus

JEWEL E. ANN
sonhos, uma foto no meu bolso... e precisava saber se meu
coração iria me trair.”

Não pergunte. Não pergunte. Não importa. Ela não é sua.


“O coração pode ser bastante volúvel e um escravo tolo do
desejo.”

“Então eu não deveria confiar no meu coração?”

Dou de ombros. Esta não é a conversa que quero ter com ela.
Não sou especialista em amor. Todas as minhas experiências
terminaram em tragédia. É por isso que preciso protegê-la.

“Só estou dizendo que deve haver um bom controle e


equilíbrio entre sua mente e seu coração. Nenhum dos dois deve
ter direito total nas grandes decisões.”

“Beijar você não foi realmente minha decisão.”


Porque eu sou um idiota.
“Não foi realmente uma decisão para mim também. Foi um
impulso. Minha mente não acompanhou até que eu estava no meu
carro, saindo da garagem. Sinto muito.”
“Então por que você me beijou?”

Eu me viro e ando de um lado para o outro, pelo mesmo


caminho que ela fazia alguns minutos antes, de cabeça baixa,
mãos no quadril. “Eu não sei. Temos que discutir isso? Foi errado.
Não posso voltar atrás. Isso não vai acontecer novamente.
Lamento profundamente. Não sei mais o que dizer.”

“Você passou por aqui para discutir o beijo?”

Eu paro meu movimento. “O que? Não, claro que não. Você


quem levantou isso.”
“Então o que você queria discutir?”

“Eu só queria ter certeza de que você está bem. Sei que Griffin
saiu da cidade e… Eu não sei. Presumi que você poderia estar
passando por um momento difícil.”

JEWEL E. ANN
“Quem te disse que ele saiu da cidade? Nós não conversamos
desde antes do Natal.”

Merda.
“Ele me contatou. Pediu-me para ficar de olho em você. Para
vir dar uma olhada depois de alguns dias.”

“Besteira.” Ela sacode a cabeça. “Sem chance.”

“Não é mentira.”

“Ele bateu em você. Ele não pediria ao cara que beijou sua
noiva para cuidar dela. Eu sou jovem e às vezes um pouco
ingênua, mas acreditar nisso me faria estúpida. Qual é o seu
objetivo? Por que você está dizendo isso? Quem te disse que ele foi
embora? Dra. Albright?”

“Dra. Albright nunca falaria sobre você comigo.”


Estou indo para o inferno. Ou em minha próxima vida,
voltarei como uma barata.

“Então quem?”
“Griffin.”

“Você está me irritando.”


“O que você quer que eu diga? Ligue para ele e pergunte.”

Ela murcha. Eu faço uma careta. Acabou. Ela realmente


terminou tudo com ele. Tudo por um passado – uma vida inteira
atrás.

“Não importa. Vou ver Dra. Albright amanhã. Vou me lembrar


do que Doug fez para Daisy – para mim. E vou garantir que ele
pague pelo que fez. Estou cansada de olhar por cima do ombro,
caminhar para o meu carro com o coração na garganta, ficar sem
sono toda vez que ouço um barulho. Tenho dormido com uma faca
de cerâmica debaixo do meu travesseiro desde que Griffin se foi.
Eu quero ficar com minha mãe, mas não quero preocupá-la, então

JEWEL E. ANN
faço de conta que não estou com medo. Mas... estou com muito
medo.”

Paro o movimento da minha mão. Eu quero abraçá-la, tocá-


la, confortá-la, para que saiba que não há necessidade de ter
medo. Em vez disso, enfio as duas mãos nos bolsos para evitar
que se desviem para tais desejos.

“Você está em boas mãos. Eu sei que a Dra. Albright vai lhe
dar a ajuda que você precisa.” É isso aí. É tudo que tenho para
dar a ela.

Patético.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 33

“Eu não entendo.”


A Dra. Albright tem uma expressão de dor no rosto. Estou
acostumada com a empática, mas não com essa. “Swayze, a mente
tem um instinto natural de preservar o seu bem-estar.”

“Mas funcionou da última vez.”

Ela retorna um lento aceno de cabeça. “Eu sinto muito. Nós


podemos tentar novamente mais tarde. Você esteve sob uma
tremenda quantidade de estresse ultimamente. Precisamos ouvir
o que seu corpo e sua mente estão tentando nos dizer. Não está
pronta.”
“Bem. Vou tentar dormir bem. Eu não tenho dormido
ultimamente. Talvez você possa prescrever algo para mim e
possamos tentar novamente amanhã.”

“Acho que devemos esperar mais de um dia. Talvez eu possa


lhe mostrar algumas técnicas de relaxamento. Chá de camomila.
Um bom livro. Talvez você possa fazer uma massagem.”

“Uma massagem? Um bom livro? Chá de camomila? Você


está falando sério? Eu posso estar morta amanhã. Aquele
assassino poderia estar se escondendo no meu banco de trás
neste exato momento. E amanhã você poderia descobrir que eu
caí de uma ponte. Eles chamam isso de suicídio – afinal,
ultimamente tenho me sentido muito perturbada. Tudo porque ele
dominou a arte de escapar de assassinato, e não consigo me
lembrar de nada para detê-lo!”
“Um pouco de Xanax, conforme necessário, pode ser um bom
ajuste, afinal.” Ela levanta um dedo. “O bloco de prescrição está
no meu escritório, me dê um segundo.”

JEWEL E. ANN
Com a mão na minha boca, eu aceno. Esse não foi um
momento bom para mim.

A Dra. Albright me manda para casa com um “anime-se” e


uma receita que só devo tomar se for absolutamente necessário.
Depois de verificar o banco de trás, pego minha receita e vou
para casa. E se nunca me lembrar? Eu realmente não pensei
muito sobre isso ser uma possibilidade. Não tenho um plano B.
Havia apenas o plano A.

Eu ligo para minha mãe assim que entro na porta e a fecho


atrás de mim. E se ele estiver aqui? Escondido no closet. Atrás da
cortina do chuveiro? A hipnose não funcionar hoje tem mexido
com a minha mente. Disparou minha paranoia.
Minha mãe não atende. Eu abro o saquinho branco e pego o
frasco de comprimidos. Talvez só precise dormir. Mas quem vai
me proteger se eu cair no sono profundo e não acordar quando ele
invadir minha casa?

Por segurança, pego outra faca na gaveta e a coloco no bolso


de trás. Talvez eu devesse ligar para Sherri e Scott. Não. E se eles
contarem ao Griffin? Eu não quero que ele saiba o quão fodida
estou agora. Ele vai se sentir mal e correr de volta para me salvar.
Uma das razões pelas quais ele partiu foi evitar ver minha
autodestruição.

Porra! Isso é o que está acontecendo.


Eu tenho um frasco de Xanax na minha mão e uma faca no
meu bolso.

Um frasco de Xanax e uma faca.

Colocando meu telefone na mesa da cozinha para que minha


mãe pense que estou aqui, abro a porta e volto para o meu carro
com nada mais do que minha bolsa, uma faca e um frasco de
Xanax.

É pouco depois das duas da tarde. A maior parte do mundo


ainda está trabalhando, com a exceção de alguns estudantes

JEWEL E. ANN
universitários que gostam do último dia de folga de inverno.
Dougly Fodido Esquisitão Mann é uma coruja da noite. É possível
que ele nem saia da cama. Erica costumava revirar os olhos para
seus horários estranhos, que coincidiam muito bem com malucas
horas no hospital.

Eu estaciono em uma rua lateral a duas quadras do prédio.


Puxando meu capuz e deslizando um óculos de sol no rosto, eu
caminho para o prédio. Sem uma chave, não posso passar pela
porta principal. E não quero anunciar minha chegada ao homem
que vou visitar. Então espero perto da porta por alguns minutos
e, com certeza, alguém sai do prédio.

“Oh graças a Deus”, murmuro apenas alto o suficiente para


ela me ouvir, mantendo meu queixo dobrado no meu peito
enquanto reviro minha bolsa. “A estúpida chave sempre se perde
no fundo e está frio como o ártico aqui fora. Obrigada.”

“Não tem problema”, a senhora diz enquanto segura a porta


aberta para mim.

Apesar das temperaturas árticas, algumas gotas de suor


escorrem pelas minhas costas enquanto subo as escadas. Cada
degrau rouba um pouco mais do oxigênio dos meus pulmões, o
peso do que estou prestes a fazer pressionando meu peito. Meu
pulso bate fora de controle, tornando impossível ouvir qualquer
coisa além do sussurro de medo.
Paro por um momento e olho para a porta do meu antigo
apartamento. Depois de algumas respirações, viro no canto e subo
o último lance de escadas. Meus olhos ficam focados na porta dele.
Se eu olhar para a direita, para a porta de Erica, vou perder a
cabeça.

Quando meu punho trêmulo bate em sua porta, meu coração


tenta saltar do meu peito. Ele matou Erica.
Eu bato de novo.

Ele matou Daisy.


Eu bato um pouco mais forte.

JEWEL E. ANN
Ele está me provocando.
Toc! Toc! Toc!

Acho que poderia derrubar esta porta. Meus planos de drogá-


lo antes de enfiar uma faca em seu coração podem ser
descarrilados pela vingança correndo em minhas veias. Quando
ele abrir a porta, vou ter dificuldades para não pular a parte de
drogar. Tudo que eu quero fazer é matá-lo.

“Senhorita? Eu acho que você pode estar no apartamento


errado.”

Eu pulo com a voz do desconhecido que desce as escadas do


andar de cima.
“Não”, eu digo secamente, virando as costas para o cavalheiro
de meia-idade dando o último passo para o patamar atrás de mim.

Bam! Bam! Bam!


“Senhorita, odeio ser quem tem que lhe dar essa notícia, mas
o Sr. Mann cometeu suicídio há vários dias.”

Minha mão em punho fica congelada na porta, deixando


minha respiração cheia de adrenalina como o único som na
escada.

“O que?” Eu inclino minha cabeça, olhando-o por cima do


meu ombro.

O cavalheiro desgrenhado e loiro fecha o casaco, assentindo.


“Isso mesmo. O senhorio o encontrou quando foi lá para consertar
um problema de encanamento que Mann havia reportado na
semana anterior.” Ele calça as luvas. “Meus pêsames se você o
conhecia, senhorita.”
Meus pés permanecem enraizados em seu lugar enquanto o
homem segue seu caminho para o andar de baixo.

Doug está morto.


*

JEWEL E. ANN
Depois de uma viagem entorpecente para casa e um Xanax,
durmo por dez horas. A droga não dura tanto tempo, mas a paz
de espírito funciona em sinergia com ela. Eu acordo com uma
dormência residual. É como se alguém tivesse jogado meu quebra-
cabeça no chão e talvez eu nunca consiga todas as peças de volta
no lugar certo, mas talvez isso não importe.

Sento-me na beira da cama, sentindo falta do corpo que


costumava ficar ao meu lado da cama. Depois de olhar para a tela
do meu celular por alguns minutos, mando uma mensagem para
Griffin.
Eu: Doug está morto.

A mensagem diz não entregue.


Eu reenvio.

Não entregue novamente.


Eu não deveria ligar para ele. Sua voz me deixaria uma
bagunça, soluçando. Se ele não está recebendo a mensagem,
talvez se ligasse, iria para o seu correio de voz de qualquer
maneira. Eu espero.
Meu pulso começa a acelerar como ontem na porta de Doug.
E se Griff não atender? Depois de alguns minutos bancando a
covarde, eu ligo.

Toca uma vez.

Merda! Ele vai atender.


Eu não posso respirar.

Não é ele. É uma gravação dizendo que o número não está


mais em serviço. Eu não entendo. Ligo para ele novamente,
discando o número com o código de área.

Mais uma vez, a mesma gravação.


Em seguida eu ligo para Sherri.
“Ei, Swayze.”

JEWEL E. ANN
“Oi, Sherri.”
“Como vai você? As garotas se divertiram muito fazendo
manicure e pedicure com você e sua mãe.”
“Sim, hum… eu também. Ei, eu só queria saber se você sabe
alguma coisa sobre o telefone do Griffin. Eu tentei enviar
mensagens de texto e ligar para ele, e diz que o número não está
mais disponível.”
Minhas pernas saltam para o lado da cama, cheias de
nervosismo. Ela não responde.

“Sherri?”
“Sim, Swayze. Ouça, querida...”

Nada de bom vem depois das palavras “ouça querida.”


Minhas pernas ficam paralisadas, ainda assim todo o foco do meu
corpo vai para ouvir.
“Ele tem um novo número.”

“Então tem seu novo código de área ao invés deste aqui?”


Outro silêncio constrangedor.

“Sherri, o que está acontecendo?”


“Você precisa mandar um recado para ele? Eu posso
retransmitir.”
“Eu posso fazer isso se você me der seu novo número.”

“Eu sinto muito. Ele me pediu para não fazer isso. Realmente
sinto muito, querida.”
Uau…

Eu me sinto como a excluída sentada na mesa do refeitório


sozinha, pegando os ocasionais olhares de “querida desculpe” e
risos de mão-sobre-a-boca.

Então isso é um término limpo?

JEWEL E. ANN
Uau…
“Diga a ele...” Eu balanço minha cabeça. Se ele estivesse
realmente preocupado comigo e com minha segurança, não teria
cortado todos os laços. Não comigo morando sozinha, sabendo que
Doug havia me insultado desde que a Erica morreu – desde que
ele a matou. “Deixa pra lá. Não tem nenhum recado.”

“Swayze...”
“Eu tenho que me preparar para o trabalho. Vejo você mais
tarde.” Eu encerro a ligação.

Sem lágrimas. Já chega de ficar triste. Estou irritada. Ferida.


Mas seriamente chateada, independentemente se realmente tenho
o direito de estar ou não.
Nós não terminamos de um jeito ruim. Terminamos com uma
longa noite emaranhada no corpo um do outro.
E então... nada.

Ele partiu. Eu o deixei. Mas não achei que ele faria isso.

Isso não parece amor, nem autopreservação. Isso parece


crueldade.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 34

Eu paro. Apenas paro.


Pelo próximo mês, eu funciono no modo robótico.

Nenhum psiquiatra.

Nenhuma menção de Griffin para minha mãe ou qualquer


outra pessoa.
Nenhum contato prolongado com os Calloways.

Quando Scott vem para limpar a entrada, dou-lhe um aceno


educado e coloco uma xícara de café na bancada da garagem para
ele. Quando Sherri liga para ver se quero ir jantar ou almoçar nos
fins de semana, sempre encontro uma desculpa.

Nate não me pergunta nada.

Não sobre Doug.


Não sobre Dra. Albright.

Nem sobre hipnose.


Nada.
Na verdade, ele não fala muito. Ele se tornou o empregador
que eu precisava que fosse meses atrás.

Educado.
Grato.

Amigável.

Profissional.
Um mês sem mencionar Daisy.

JEWEL E. ANN
Não é que eu tenha me esquecido dela ou das partes da sua
vida que residem em minha mente. Algo aconteceu comigo
naquele dia. E não tenho certeza se foi a morte de Doug ou a perda
total da conexão com Griffin.

Eu acho que ainda estou tentando descobrir como cheguei a


este ponto na minha vida. Ou talvez esteja tentando descobrir
exatamente que ponto é esse.
Minha mãe é a única pessoa que sabe sobre Doug. Ela
precisava saber que sua filha estava segura. Então precisei que
ela prometesse nunca mais mencionar o nome dele para mim ou
para ninguém.

“Olhe para você, abóbora.” Nate sorri enquanto passa pela


casa e vê Morgan de pé em frente ao sofá, os quadris girando para
manter o equilíbrio. Seu sorriso é a luz mais brilhante que já vi.
Sem dúvida, ela é a melhor coisa da minha vida no momento.
Eu quero que ela seja inteligente, mas não muito inteligente.
Popular, mas gentil. E eu quero que ela conheça um garoto como
seu pai costumava ser, mas não quero que algum filho da puta
doente a mate antes que ela possa realmente viver sua vida.

Apenas pensamentos aleatórios. Desejos para as estrelas.


Orações para um Deus desconhecido.
Quando Nate vem para pegá-la no colo, ela se vira para mim.
Por mim. Eu não deveria me gabar, mas preciso. Eu preciso de
algo.
“Quem Morgan ama?” Eu a abraço, sorrindo para Nate.
“Swayze. É Swayze que ela ama.”
Ele a tira de mim, me dando um olhar maligno que não
esconde totalmente seu sorriso. “Você está demitida.”

Sorrio. “Eu fico com ela por cinco dias. Você, dois e talvez
uma ou duas horas à noite. O que você espera? Claro que ela acha
que eu sou incrível.”

JEWEL E. ANN
“Ela cambaleou e caiu em sua direção, e você deu
importância demais para isso?”

“Não seja mesquinho. Você também acha que eu sou


incrível.”
“Uau... seu ego faminto está com um apetite voraz hoje.”

“Aposto trezentos dólares que posso fazer você dizer que sou
incrível.”

Ele levanta uma sobrancelha. “Agora estamos apostando na


sua grandiosidade ou falta dela? E não a típica aposta de cem
dólares, mas a interessante quantia de trezentos dólares?”
Dou de ombros. “Minha lava-louças quebrou. Trezentos
dólares por uma nova.”

Ele me estuda. “Não vou ter pena de você. Uma máquina de


lavar louça não é uma necessidade.”
Claro que ele diria isso. Quando criança, ele não tinha uma.

“Eu não espero sua pena. Vou ganhar o prêmio Swayze, Você
É Incrível de maneira justa e honesta.”
Ele acaricia o pescoço de Morgan e ela ri.

“Pronto?” Sorrio.
Nate sorri. Grandemente. É familiar. É o menino que me
amou naquela outra vida. “Faça o seu pior.”

Eu pego Morgan dele, segurando-a de um jeito que ela está


contra o meu peito, de frente para ele. Minha boca roça sua orelha
enquanto eu sussurro, de forma que só ela pode me ouvir.

“Pa pa...” Ela diz com um sorriso.


Nate parece estar em choque. Não tenho certeza se ele vai
desmaiar, chorar ou engolir a língua.

JEWEL E. ANN
É apenas condicionamento. Ela realmente não liga essa
palavra a ele ainda, mas pode dizê-la – graças a mim. E essa é sua
primeira palavra oficial.

Um sorriso incrível toma conta do seu rosto enquanto seu


olhar se move dela para mim. Sorrio de volta. Não é um sorriso
alegre, apenas felicidade genuína. É o sorriso que diz que Jenna
morreu, mas Morgan vai te adorar para sempre. Eu não posso
realmente dizer o quanto quero que ele tenha algo especial em sua
vida para sempre.

“Você é incrível”, diz ele meio engasgado. E ele nunca


admitiria isso, mas há um pouco de lágrimas não derramadas em
seus olhos.
E parece que tenho borboletas na minha barriga e picolés
laranja e vermelho em dias quentes. Como se minha vida fizesse
sentido novamente. Talvez eu esteja aqui para fazer Nate sorrir.
Talvez eu simplesmente esteja aqui para Nate, e ele sabe disso.
Mesmo Griffin pode ter sabido, antes mesmo que eu estivesse
pronta para admitir isso.

“De nada.”

Depois de mais alguns segundos de felicidade total, ele tira a


carteira do bolso e passa os polegares através de um maço de
notas, depositando três centenas no balcão.

“Quem por acaso tem trezentos dólares em sua carteira por


capricho?”
“Pessoas que pagam por tudo em dinheiro.” Ele pega Morgan
de volta com um sorriso bobo permanentemente preso ao seu
rosto.

Meus lábios se torcem para o lado. “Eu não posso pegar seu
dinheiro. O olhar no seu rosto foi o suficiente. Além disso, você
está certo, uma máquina de lavar louça não é uma necessidade.
E eu não cozinho muito sozinha.”

“Pensei que você estivesse pagando aluguel. Isso não deveria


ser substituído pelo seu senhorio?”

JEWEL E. ANN
“Provavelmente. Mas não quero pedir.”
“Por que não?” Ele coloca Morgan no chão, e ela rasteja direto
para o sofá para se levantar novamente.
“Meus senhorios são os pais do meu ex-noivo.” Eu ainda não
digo o nome de Griffin em voz alta.

“É mesmo? Se você está pagando aluguel, eles devem


consertar ou substituir a lava-louças.”

Concordo com a cabeça, sem realmente concordar com nada,


apenas reconhecendo que ouvi o que ele disse. “O que você vai
fazer para o jantar? Quer pedir pizza de abacaxi e pimenta
jalapeño?
“Desculpe?” Ele ri. “Você é uma garota de queijo.”

“Talvez. Mas nunca tentei abacaxi e jalapeño. Soa nojento.


Mas talvez possa ser minha geleia. Você já conheceu uma garota
que gostava disso. Eu também posso gostar.”

Ele faz um péssimo trabalho em esconder sua apreensão,


mas mantenho meu queixo para cima e o que eu espero que seja
um sorriso irresistível no meu rosto.
“Encomende. Mas você vai pagar por isso com seus trezentos
dólares.”
Sorrindo, pego meu telefone no balcão. “Acho que tem um
cupom on-line que posso usar. Você sabe... já que eu estou
pagando.”
E assim começa. Minha amizade com Nate Hunt. Não começa
em um ônibus escolar desta vez. Começa com uma pizza grande,
uma menina sorridente, e com um descanso no sofá, assistindo
hóquei juntos depois que ele coloca Morgan na cama.

Faço comentários estúpidos como se eu não entendesse o


esporte – só para provoca-lo – e ele cutuca minha perna, dando-
me um olhar de olhos estreitos. Perto das onze horas, ele me leva

JEWEL E. ANN
até o meu carro que já está aquecido porquê... sim... ele deu
partida nele há quinze minutos atrás.

“Obrigado pela pizza”, diz ele.


Dou risada. “A qualquer momento. Eu me diverti vendo
aqueles caras batendo naquela coisa de disco com aquelas
coisinhas de remo ao redor do gelo.”
“Você não é boa. Cale a boca. Zero. Cem por cento de
problemas.”

“Mas você me ama, certo?”

Ah Merda…

Eu disse isso. Mas quis dizer isso de uma forma brincalhona.


Meu olhar cai para os meus pés enquanto raspo minhas botas
contra a entrada pontilhada com alguns pedaços de neve
endurecida.
“Sim. Eu amo.”

Minha cabeça se levanta, o queixo caído.


Nate desliza as mãos nos bolsos, levantando os ombros até
as orelhas em um inocente encolher de ombros. “Sempre amei.
Sempre amarei.”

“Nate...” digo seu nome porque todas as outras palavras me


falham.

Mantendo as mãos nos bolsos, como se estivessem lá para


ficar longe de problemas, ele se inclina para frente e beija o topo
da minha cabeça. Ficando ali, ele murmura: “Não é um amor cheio
de expectativas. Não é um amor romântico. Não é um beijo
inapropriado. Não é nem minha filha dizendo meu nome.”

Virando a cabeça, ele descansa sua bochecha na minha


cabeça. Pressiono minhas mãos no peito dele.

“É o que sempre esteve no meu coração. Você morreu, mas


eu vivi e meu amor por você também.”

JEWEL E. ANN
Ele se endireita.
“Nate...” Sim. É tudo que tenho.

Ele sorri. “É um amor inocente. É um lindo amor. Acho que


é até um amor eterno. Mas… Eu não sei ainda. Talvez em outra
vida possamos saber. Descobriremos se nossas almas
compartilham algo que transcende o tempo ou se elas não passam
de uma época.”
“Épico?”

“Época. É um evento ou período marcante no tempo.”

“Época...” sorrio. “Eu definitivamente acho que é época. Mas


também acho que pode ser transcendente… e isso seria épico.”

Ele espicha a mão por trás de mim e abre a minha porta.


“Dirija com segurança.”
“Seguro.” Eu começo a entrar no meu carro e paro. “É
estranho.”

“O que é estranho?”
“Faz mais de um mês desde que meu noivo partiu, desde que
eu contei que estava dormindo com uma faca debaixo do
travesseiro. Um mês que você sabia que eu ia fazer hipnose para
lembrar o que aconteceu. Mas você apenas...” dou de ombros, o
rosto contorcido em confusão. “Você nunca perguntou. Como se
tivesse parado de se importar. Eu sinto que todo mundo parou de
se importar. É como no momento em que meus pais desistiram
que eu seria algo extraordinário.”

Nate tem um olhar inexplicável em seu rosto. É estranho.


Cauteloso? Contemplativo? “Como foi isso?”
Dou uma risada. “Você está falando sério? Como foi tudo isso?
Eu não estou morta, é assim que está indo, mas caramba...
obrigada por perguntar um mês depois.”

Ele recua.

JEWEL E. ANN
“Sério! O que precisa acontecer para que as pessoas que me
amam se importem comigo?”

“Swayze...”
“Você tem câmeras de vídeo em sua casa, mas minha
segurança não vale nem um ‘Hey, você está trancando suas
portas?’ ou ‘Aquele psicopata tentou se aproximar de você de
novo?’”
“Ele tentou?”

“Não!” Eu jogo minhas mãos no ar. “Porque ele está morto!”

Nate assente.

Porra! Ele assente!

“Então você esteve a salvo.”


Minha cabeça bate de volta como um encontro com um
ônibus em uma rua movimentada. “Ele está. Morto.”
Nate acena novamente. Um lento aceno com aquele olhar. Um
olhar cauteloso e contemplativo. “Isso é um alívio.”

“O que está acontecendo, Nate?” Minha respiração fica


superficial e me sinto fraca nos joelhos.
“O que você quer dizer?”

“Quero dizer que você não está reagindo de uma maneira


normal. Eu digo que Doug Mann está morto e você não tem
perguntas. Nenhuma. Nada de ‘você está falando sério?’ Ou
‘quando? Onde? Como?’ Como, Nate. A reação normal é imaginar
como ele morreu. Ataque cardíaco, câncer, acidente de carro ou
uma faca em seu coração. Minha faca, Nate. Eu levei uma faca e
um frasco de Xanax até o seu apartamento.”
Seus olhos se estreitam, enrugando a pele.

“Eu ia matá-lo porque a hipnose não funcionou mais. Eu ia


matá-lo porque essa era a única maneira que eu poderia viver.
Essa é a única maneira que poderia me sentir segura. A única

JEWEL E. ANN
maneira de aliviar minha consciência de que ninguém mais
morreria em suas mãos.”

“Eu sinto muito.”


Ele sente muito. Está tudo errado. O que está acontecendo?
Quando começo a falar, ele me puxa em seus braços,
sufocando minha tentativa de falar. Eu não quero um abraço. Eu
quero respostas. Quero saber como os dois homens que mais me
amaram me abandonaram quando mais precisei deles.

Eu me afasto. “Nate...”

“Shh...” Ele abaixa a cabeça, pairando sobre os meus lábios,


uma mão deslizando no meu cabelo, segurando o lado da minha
cabeça enquanto esfrega os nós dos dedos da outra mão sobre a
minha bochecha, deixando-me sem palavras e sem fôlego.

A ponta de seu polegar desliza sobre o meu lábio inferior,


confundindo meus pensamentos. Seu polegar trilha para baixo,
seus lábios seguem em sua esteira.

Quando seu polegar esfrega meu pescoço, logo abaixo da


minha orelha, minhas pálpebras se rendem, encontrando consolo
nas lembranças de uma vida inteira atrás. Eu agarro seus braços
para me equilibrar quando seus lábios pressionam no meu
pescoço.

É essa a sensação.

De ser amada.
De ser adorada.

Ser amada além das palavras.

Ser jovem.
Estar viva.

“Swayze”, murmura Nate contra meu ouvido. “Você está


segura, porque aqueles que dizem amar você realmente te amam.”
Ele beija meu pescoço.

JEWEL E. ANN
Eu morro.
Ele beija minha bochecha e me solta, dando-me as costas e
não olhando mais para trás enquanto anda até sua entrada. “Boa
noite.”

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 35

Acho que é hora de rever a Dra. Albright. Então mudo de


ideia. Ela me ligou uma vez por semana desde a minha falida
sessão de hipnose, só para ver como estou indo. Não há pressão
para ir visitá-la. Não há pressão para compartilhar qualquer coisa
com ela. Às vezes, a única coisa que compartilho é uma nova
receita que deu errado e que o desperdício de comida é a razão
pela qual eu como tanto.
Ela é uma amiga, alguém que conhece minha jornada muito
bem. A mão de um verdadeiro amigo está sempre estendida. Saber
que posso pegar essa mão sempre que preciso é um conforto.

Na manhã de segunda-feira, preciso dessa mão. Meus joelhos


tremem a cada passo que dou em direção da porta da frente de
Nate. O beijo no pescoço na noite de sexta-feira me deixou confusa
e desnorteada. Nervosa e tonta. Aquele beijo no pescoço me deu
um sono profundo. Eu não acordei nem uma vez procurando por
Griffin. Não perdi uma única lágrima com a ausência dele, e não
o odiei de manhã.
Amar Griffin dói demais. Odiá-lo pode ser extremo, mas
quando penso que ele me abandonou e cortou todos os laços,
todos os meios de comunicação, o ódio é simplesmente mais fácil.
Mas por duas noites, me senti como eu novamente. Não a garota
que perdeu o cara.

“Você está atrasada”, Nate chama do berçário.

Eu espio no canto. “Dois minutos.” E é só porque levei algum


tempo para ter coragem de abrir a porta da frente.
Nate recolhe a roupa de Morgan e a pega no colo, depositando
um grande beijo na bochecha de esquilo antes de entregá-la para

JEWEL E. ANN
mim. “Agora estou dois minutos atrasado.” Ele me beija… na
cabeça. Eu não sei o que pensar desses beijos na cabeça.

“Então me demita, professor.”


“Estou pensando nisso, Srta. Samuels.” Ele pega seu casaco
e bolsa, enquanto Morgan e eu o seguimos. “Tenham um bom dia,
senhoras.”
Passo o mais perto que posso dele quando ele dá um último
beijo em Morgan.
“Onde está o meu.” Eu sorrio.

Ele levanta uma sobrancelha por um segundo antes de me


beijar novamente, na cabeça.

“Eu tenho lábios que funcionam bem para isso também,


sabe. Talvez você deva tentar novamente.”
É loucura negar por mais tempo. Nate é meu destino, mesmo
que meu coração não esteja totalmente convencido. Griffin fez
uma marca nele, então pode demorar um pouco para que fique
completamente de acordo. Mas minha mente acha que faz todo o
sentido. Nós nos apaixonamos em outra vida. Eu voltei a sua vida
quando ele precisava de mim. Morgan precisa de mim. Nós nos
damos bem.
“Acho que já disse isso antes, e se realmente não disse isso,
pensei muito.”

“O que é?”
Um sorriso triste se forma em seu rosto. “Você não é minha
para beijar. Não é assim.”
Sorrio. “Uh… OK. Então de quem sou eu?

“Você sabe essa resposta.” Ele continua até a porta dos


fundos.

“Não. Na verdade, eu não sei. A última vez que olhei, era uma
mulher solteira tomando minhas próprias decisões.”

JEWEL E. ANN
Depois de abrir a porta, ele se vira. “Ele partiu, mas ele ama
você.”

“Amava. Ele me amava. E você está certo, ele me deixou. Mas


o que ele não deixou foi qualquer maneira de eu entrar em contato
com ele – nunca. Eu não sei onde ele mora. Ele tem um número
de telefone diferente e disse a sua família que não me desse essa
informação. Não foi um adeus, foi...” olho para Morgan e volto para
Nate, murmurando. “…uma merda.”

Nate tem esses olhares. Alguns deles fazem com que eu me


sinta como uma criança. Alguns me fazem sentir culpada. Alguns,
especificamente este, me fazem sentir como se eu tivesse partido
seu coração.
“Você pode me fazer um favor? Como você não me ouviu
quando eu te disse para ficar longe da propriedade abandonada...”
Este. Quando ele me vê como Daisy, ele me dá um olhar de
desgosto.

“Qual é o favor?”

“Busque a felicidade. Nunca se acomode. Lute pelo que você


quer, não pelo que você acha que merece. Sonhe grande... o
suficiente para duas vidas.”
Eu o amo. Eu sei que Daisy o ama. Mas tenho certeza de que
Swayze também se apaixonou por ele ao longo do caminho.
“E se você e Morgan forem meu sonho?”

Outro olhar comovente. “Eu vejo vocês duas mais tarde.”

Quando chega mais tarde, falo com ele para pedir comida
tailandesa. Nós dois preferimos pedir comida em casa. Eu
adiciono isso à lista de coisas que temos em comum. Nós
brincamos com Morgan. Eu paro do lado de fora da porta do
quarto dela, ouvindo-o contar-lhe uma história. Eu assisto TV
enquanto ele avalia alguns papéis no sofá. Ele me leva até o meu
carro e me beija na cabeça.

JEWEL E. ANN
Isso acontece dia após dia. Eu sinto seus olhos em mim o
tempo todo. Sei que ele está tentando descobrir o que estamos
fazendo. Eu digo a mim mesma que estou perseguindo a
felicidade, ainda lutando com meu coração relutante.

Maldito seja, Griffin Calloway!

Não tenho certeza do que Nate está fazendo, mas tenho todo
o tempo do mundo para esperar que ele abra os olhos para a
segunda chance bem na frente dele.

Nas férias de primavera, depois de meses evitando os avanços


de Swayze em minha direção e meses tentando esquecer como
meu coração martelou no peito com necessidade e desejo no dia
em que eu a beijei contra a parede, ela começou a ficar um pouco
nervosa sobre tudo.
Os beijos castos em sua cabeça.

O jeito que eu, de brincadeira, a lembro para manter


distância quando ela tenta se aconchegar em cima de mim no sofá.
O jeito que me olha fixamente quando lhe digo que eu poderia
mordê-la, como se ela quisesse que eu a mordesse.
Eu a quero como um amigo quer o seu companheiro. Mas
também a quero como um homem morrendo de vontade de se
perder em uma mulher – mas não em Daisy. Ela está dentro de
Swayze. Meu desejo é todo pela mulher física que está bem na
minha frente, as partes que toquei, as partes dela que eu vi, e as
partes dela que fantasiei muitas malditas vezes.

Em algum lugar ao longo do caminho, o homem dentro de


mim desenvolveu uma forte atração física por essa jovem.
Os pensamentos inapropriados.

JEWEL E. ANN
Olhares quentes.
Os toques inocentes que me deixam instantaneamente duro.

Tudo isso está me matando, porque ela não é minha.

“O que devemos fazer na próxima semana?” Swayze pergunta


enquanto tiro minha gravata para o início da minha semana de
folga. Eu oficialmente aprendi a dar um nó de gravata Half
Windsor – nas palavras de Swayze – como um menino grande. Ela
está tão orgulhosa de mim e de si mesma por me ensinar.

“Na verdade, conversei com Brad, o irmão de Jenna. Rachael


está voando para DC para passar a próxima semana com ele. Brad
perguntou se eu levaria Morgan e passaria algum tempo com eles
também. Então consegui um voo para nós no domingo à tarde.”
“Três bilhetes?” Ela pergunta.
“Dois.”
“Você é um merda.”

“Vou te dar a semana remunerada.” Eu jogo minha gravata


sobre as costas da cadeira e sorrio para Morgan enquanto
desabotoo os dois primeiros botões da camisa.

“Você vai sentir minha falta. Você vai desejar ter a babá de
unicórnio de Morgan com você.”
Ela não faz ideia do quanto vou sentir falta dela.

“Ela precisa de uma desintoxicação de Swayze. Talvez até o


final das férias de primavera ela sorria para mim como sorri para
você.”

Como eu sorrio para você.


“Você é um merda.” Ela franze a testa.

Sim, vou sentir saudades desta mulher todos os dias pelo


resto desta vida.
“Você já disse isso. Precisa melhorar seu repertório.”

JEWEL E. ANN
“Você realmente é um merda. Onde está meu bônus de
inverno? Eu nunca estive em DC. Seria pedir demais levar a
melhor babá do mundo com você?”

“Como vou explicar por que preciso da babá comigo para


visitar a tia e o tio de Morgan?”

Ela cruza os braços sobre o peito enquanto me sento no sofá,


brincando com Morgan, que está percorrendo entre a mobília
como uma campeã.

“Nós poderíamos largar o rótulo de babá. Eu poderia ser sua


amiga. Você sabe, nós costumávamos ser amigos.”

Se apenas…
Sim, quero ser seu amigo. Eu quero tudo com ela. Mas não é
a nossa hora.

“Minha amiga morta, Daisy, ou minha amiga de vinte e dois


anos, Swayze? Para os ouvidos deles, qualquer um dos cenários
será igualmente digno de constrangimento.”

“Então você nunca vai contar à sua família ou à família de


Jenna sobre nós?”
“Nós?” Dou a ela um elevar de sobrancelhas questionador.
“Novamente, estamos falando da minha amiga que já morreu?”
“Não. Estamos falando de mim, Swayze. Você sabe, a garota
que você beijou. A garota com quem você fantasiou depois que eu
te mandei uma mensagem por engano.”
“Eu não fantasiei”

“Mentira! Nem tente isso comigo. Griffin me disse que não há


como você não ter tido pensamentos inapropriados. E tudo bem.
Porque eu tive sonhos inapropriados sobre nós. Olhei para a foto
e me perguntei como seria a sensação de beijar seus lábios, correr
minhas mãos por esses músculos. E agora eu sei, porque você me
beijou. E eu quero que você faça de novo. Mas não na minha
cabeça como se beijasse o cachorro da família. Quero que você me

JEWEL E. ANN
beije novamente como fez naquela parede ali. Mas desta vez não
quero que você pare de me beijar.”

Foda-me!
Eu quero apenas dizer que se ferre tudo, colocar Morgan na
cama e pegar tudo que Swayze está me oferecendo. Ela me faz
querer ser egoísta e indulgente. Mas eu não posso...
“Você não é minha para beijar.”

“Pare de dizer isso!”

Eu lanço a ela um olhar de desaprovação quando Morgan se


assusta com a explosão como se ela pudesse chorar. Mas assim
que ela vê o pequeno e arrependido sorriso de Swayze, ela também
esboça um e continua sua exploração.

“Griffin não merece meus beijos. Ele não quer meus beijos.
Ele me deixou sozinha na mesma cidade que o homem que queria
me matar. Por que você o defende? Para aliviar sua própria culpa
de não estar cuidando de mim?”

“Nada aconteceu com você.”


“Mas poderia ter acontecido! Pare de tomar crédito pela sorte,
como se de alguma forma soubesse...” O rosto dela fica pálido,
como se o sangue em suas veias se transformasse em gelo. Uma
lufada de ar passa por seus lábios e sua testa fica tensa, como se
não pudesse encontrar sua próxima respiração.

Eu conheço o sentimento porque sei onde isso está indo. Na


realidade, parece que meus próprios pulmões não passam de dois
sacos de areia dentro do meu peito.

Eu desvio meu olhar para Morgan. Não posso nem olhar para
Swayze. Não quando ela está montando o quebra-cabeça.

“Oh meu Deus… como eu pude ser tão cega? Todas as


perguntas não respondidas. Quando te interroguei sobre a morte
de Doug, quando eu realmente te pressionei... você beijou meu
pescoço, o único lugar que você sabia que me deixaria sem

JEWEL E. ANN
palavras. A distração final. Não foi seu desejo físico por mim. Foi
tudo planejado. Você me manipulou.”

“Swayze...” olho para ela.


“Não...” Ela balança a cabeça, os olhos estreitados para mim.
“Doug Mann, o mestre em organizar assassinatos para parecer
acidentes ou suicídios, suicidou-se ele mesmo. Nunca me pareceu
muito certo isso, mas deixei o alívio me distrair. Mas não foi o que
aconteceu, não é?”

“Doug foi assassinado. Alguém fez exatamente o que ele fez


com Daisy e Erica e quem sabe quantas outras mulheres.”

A mão dela cobre a boca. “Oh meu Deus... você o matou.”


Balanço minha cabeça, voltando a atenção para Morgan.
Sim, eu sei que pareço tão culpado quanto um homem apanhado
na câmera puxando o gatilho, mas não sei o que fazer. Meu
trabalho é vigiá-la e protegê-la. Como eu faço para protegê-la da
verdade?

“Por isso você sabia que eu estava segura. É por isso que você
não perguntou sobre o meu progresso com a Dra. Albright. É por
isso que você não ficou surpreso quando eu disse que ele estava
morto. Você nem piscou. É por isso que você disse o que disse.
Você está segura porque aqueles que alegam amar você realmente
amam você.”

Ela passa as mãos pelos cabelos. “É claro... quem melhor


para saber como matar alguém e fazer parecer suicídio do que um
professor de anatomia?”

Sua mão aperta o peito enquanto se ajoelha no chão ao lado


dos meus pés, exigindo minha atenção. “Por que você faria isso?
Você tem uma filha. Por que arriscar tudo por mim?”

Depois de alguns segundos de nada além dos pequenos


gritinhos e risos de Morgan, eu viro meu olhar para o dela. “Eu
deveria ter te salvado mais de duas décadas atrás. Eu não salvei.
Alguém tinha que te salvar dessa vez. Alguém tinha que garantir

JEWEL E. ANN
sua segurança. Alguém precisava lhe dar uma chance de ter uma
vida longa e cheia de felicidade.”

Sua boca se abre e ela balança a cabeça devagar. “Nate...” Ela


aperta a mão na minha bochecha.
Não…

“Você o matou por mim. Você arriscou tudo por mim. Seu
amor por mim não conhece limites. Você é o meu alguém.”

Não…

Swayze me beija. Eu me afasto tão rápido que a assusta. A


dor e o embaraço em seu rosto cortam meu coração. Deus… quero
beijá-la. Quero ser seu herói, quero ela toda, mas...

“Eu não sou o seu alguém.”


Ela recua como se eu tivesse acabado de lhe dar um tapa no
rosto. “Por que você está sendo assim? Por que matar um homem
por mim e depois me rejeitar? Você não me quer? Há algo de
errado comigo?” Lágrimas enchem seus olhos. “Eu não sou
suficiente como ela? Não sou bonita o suficiente? Inteligente o
suficiente? Diga-me, porque agora sinto que estou perdendo a
cabeça. Como se aquele beijo não significou nada.”
Eu esfrego minhas mãos no rosto, balançando a cabeça. “Não
é isso.”
“Então o que?”

Eu fico de pé, soprando uma respiração frustrada enquanto


descanso minhas mãos nos quadris. Morgan desce e se senta e
mastiga um brinquedo. Deve ser bom estar desconectado do
coração partido do mundo.
“Swayze, você é tudo. As estrelas e a terra. O sol de um milhão
de vidas. Você é a garota por quem me apaixonei. Você é a mulher
que eu quero amar. Você é cada sorriso de Morgan. Você é minha
paz de espírito. Minha salvação. Você é linda além das palavras.
Inteligente. Sexy. Apenas… tudo. Exceto… minha.”

JEWEL E. ANN
Ela fica em pé, as mãos cerradas, a mandíbula cerrada. “Pare
de falar sobre ele.” Raiva domina suas palavras.

“Swayze” tento cobrir o rosto dela com minhas mãos.


Ela se afasta. “Não me venha com Swayze. E não me toque a
menos que vá tocar em tudo de mim. A menos que você vá me
beijar como fez antes. A menos que você vá me ajudar a esquecer
ele.”

Ela ri, mas é uma risada dolorosa. “Você matou um homem


por mim. Você tem que ser meu alguém. Se isso não é destino,
então o que é? Eu só… eu...” Lágrimas enchem seus olhos
enquanto ela se abraça. “Me ame...” Suas palavras se quebram ou
talvez ela esteja se partindo.
Pego seu rosto e beijo suas bochechas, seu nariz, sua
mandíbula... Eu a beijo em todos os lugares, oscilando à beira do
controle, mas não beijo sua boca. E isso está me matando.

Suas mãos cobrem as minhas, arranhando minha pele


enquanto seus lábios perseguem os meus, desesperados pelo que
eu não quero – o que não posso – dar a ela.

“Me ame...” Ela diz em um soluço angustiado e estrangulado.


“Eu amo.” Meu abraço se intensifica enquanto meu coração
bate no peito, empurrando todas as emoções cruas para a boca do
meu estômago onde vão ficar.
“Beije-me... por favor.”

Minha testa pressiona a dela, balançando para frente e para


trás enquanto fecho meus olhos bem apertados. “Não.”
“Sim.” Ela move as mãos para o meu rosto, tentando me
segurar de forma que sua boca possa encontrar a minha.
“Não!” Eu pego suas mãos, acalmando-as.

“Por quê?” Ela chora, desmoronando em um ataque de


soluços. Seu corpo desmorona no meu.

JEWEL E. ANN
Eu a abraço para mim. “Porque não sou. Seu. Alguém. Você
entende isso?” Evito beijar o topo de sua cabeça. É instintivo a
este ponto. “Mas eu teria sido. Eu teria arriscado tudo por você.
Por mais de duas décadas, senti essa culpa mordaz por não ter te
salvado.”

Eu a seguro perto de mim. Ela soluça em suas emoções.

“Eu não matei Doug Mann. Mas...”


Seu rosto se contorce em algo ainda mais doloroso ou
confuso. “Mas o que?”

Isso não deveria acontecer. Ela não deveria saber – nunca.


“Conte-me!”

“Mas alguém o matou para salvá-la – para protegê-la.”


Ela pisca mais lágrimas quando os lábios se abrem, os olhos
desfocados. “Não”, ela sussurra, congelada no lugar, como se
minhas palavras disparassem nela um tranquilizante. Sua cabeça
se inclina para o lado de fora. “Eu preciso odiá-lo. Não... não faça
isso.”
Enquanto Griffin Calloway estiver vivo, ela nunca será
minha. Eu soube na primeira vez que o conheci – a maneira como
ele olhou para ela. Era o jeito que eu olhava para Daisy. É como
olho para Morgan agora – como se fosse o meu mundo.

Griffin não tinha que me dizer que matou Doug, mas ele fez.
Ele caminhou até a borda do mundo e pulou do penhasco só para
ter certeza de que ninguém a machucaria.

Ela não é minha. E ela nunca será.


Ele me pediu para ficar de olho nela, para ter certeza de que
encontraria a felicidade, porque é o que as pessoas fazem quando
amam alguém com as profundezas de suas almas.

Ela não é minha. E ela nunca será, não nesta vida.

JEWEL E. ANN
Então eu fiz a minha parte. Pedi a Dra. Albright para trair a
confiança de Swayze, para enganá-la. Arrisquei meu futuro, assim
como o futuro de Griffin, confessando o assassinato. Mas no
fundo, sabia que Dra. Albright entenderia. E ela entendeu. A única
maneira de salvar Swayze da autodestruição era traí-la. Tanto
Dra. Albright como eu levaremos esse segredo para nossas
sepulturas, sabendo que uma jovem teve uma chance de felicidade
por causa dessa mentira.

Mas… não sou sua chance de felicidade porque ela não é


minha.
Morgan caminha até meus pés e tenta subir minhas pernas.
Eu a pego no colo.
“Eu o perdi”, sussurra Swayze.
Pego a mão de Morgan e esfrego sobre uma das bochechas de
Swayze para secar suas lágrimas. Swayze força um sorriso de
partir o coração.

“Possivelmente.” Eu enfio o dedo indicador de Morgan no


nariz de Swayze. Griffin não matou Doug para ficar com Swayze.
Ele fez isso para protegê-la, fez isso para deixá-la livre.

“Mas você encontrará um homem que ama Swayze Samuels.


E você não terá que se sentir mal por ele ter arriscado tudo por
você. E ele não terá que se sentir mal por isso. Porque nunca terá
que saber que em um ponto do seu passado, você precisou que
alguém tirasse a vida de outro humano para salvar a sua.”
“Enterre o passado. Encontre um emprego como professora.
E deixe a felicidade simplesmente... acontecer.”
Swayze está certa. Algumas coisas simplesmente são uma
droga. E isso é uma delas. Ela precisa deixar Daisy ir. Eu preciso
deixar Daisy ir. A única maneira de realmente fazer isso é deixar
o outro livre.

“Nate, por que você está fazendo isso?”

JEWEL E. ANN
Ela está me quebrando, uma lágrima de cada vez. Mas eu não
digo isso a ela.

“Porque sou seu amigo.”


Ela sacode a cabeça. “Você poderia tentar ser um namorado
de verdade.”

Sorrio. “Eu poderia, mas nós dois sabemos que esse nunca
foi o meu dom.”

“Isso dói. Você está me machucando.”

“Não...” pressiono a palma da mão na sua bochecha,


inclinando a cabeça para o lado. Eu adoro essa jovem mulher.
Tudo nela. “Estou te dando uma saída.”

Ela funga. “Uma saída para quê?”


“Ser Swayze.”

“Você está me demitindo?”


Sim. Não. Eu mordo meus lábios. E então faço a coisa certa.
“Sim. Quando a universidade entrar em férias, vou deixar você ir.
Libertar você.”

Seu olhar vagueia para a janela. Ela pisca várias vezes e


engole em seco enquanto me dá um leve aceno de cabeça. “Eu
preciso...” Sua mandíbula vai de um lado para o outro. “Eu preciso
ir.”

Aceno quando ela volta sua atenção para mim. Swayze dá a


Morgan um meio sorriso e a abraça antes de pressionar os lábios
na minha bochecha, deixando-os se demorar por alguns longos
segundos.

Meus olhos se fecham.


Tchau, Daisy.

“Tenha uma boa viagem”, ela sussurra na minha bochecha.


Recuando, ela enxuga os olhos e encontra um sorriso maior.
“Ainda é uma merda que você não esteja me levando com vocês.”

JEWEL E. ANN
Sorrio. “E você ainda não encontrou uma palavra melhor do
que merda.”

Ela encolhe os ombros. “Tchau.”

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 36

Dois meses depois

“Amanhã é seu último dia?” Dra. Albright pergunta.

Faz muito tempo desde que eu a vi pessoalmente. Uma vez


que parei de me sentir um fracasso por desistir de me lembrar do
passado, decidi que era hora de uma última conversa cara-a-cara,
não entre médica e paciente, mas como amigas.
“Sim. É agridoce. Agora parece mais amargo que doce. Nate
e Morgan são da família. Eu os amo profundamente. Como… Eu
me pergunto se amarei meu filho tanto quanto a amo.” Sorrio.
“Isso é idiota, certo? Claro que sim. É difícil imaginar agora porque
ela é meu... tudo.”
“Tenho certeza que você ainda vai vê-la.”
Eu sorrio após a desolação. “Na verdade, estou indo embora.”
“Oh? Por acaso...” Ela me dá um sorriso esperançoso.
“Não. Eu saí de casa no mês passado. Tenho ficado com
minha mãe. Eu não falo com a família dele há algum tempo. Minha
mãe ainda almoça com Sherri, mas não conversamos sobre isso.
Pelo que sei, minha mãe ainda não sabe onde ele mora. Sherri e
Scott têm respeitado sua vontade. Eu acho que eles sabem que
dizer a minha mãe seria como me contar. E ao longo dos últimos
cinco meses e meio, houve muitas vezes que eu quis entrar no
meu carro e apenas… ir até ele.”

“E agora?”
Esfrego minha mão sobre o peito, sem muita consciência
disso até que o olhar da Dra. Albright se desloca para minha mão.

JEWEL E. ANN
É possível que eu sempre faça isso quando pensar em Griffin. Meu
coração se recusa a deixá-lo ir. Pelo resto da minha vida, eu
poderia ter que massagear essa dor.

“Espero que ele esteja feliz. Eu realmente espero.”


Esfrego meu peito um pouco mais. O que tivemos foi
explosivo e um turbilhão de amor louco. É claro que uma parte
dele sempre será como um estilhaço no meu coração.
“Você cresceu, Swayze. Tanto em tão pouco tempo. Você se
reconciliou com seu passado. Aceitou as coisas que você não pode
mudar. E fez isso com graça.”

“Ha! Eu não tanta certeza.” Ela não sabe que fui ao


apartamento de Doug Mann com o frasco de sedativos que ela me
receitou e uma faca. Ela não sabe sobre o ataque de ciúme que eu
tive com a Apple sentada no meu balde. “Mas obrigada. Significa
muito vindo de você. Eu te admiro imensamente.”
“Obrigada querida. Então... para onde você está indo?”

“Eu não sei.” Sorrio. “Eu saberei quando chegar lá. Loucura?”

Seu sorriso de gato Cheshire me faz sentir uma estranha


sensação de poder. “Eu acho que loucura é exatamente o que você
precisa. Mande-me um cartão postal.”
Eu me levanto e nos abraçamos. “Eu vou mandar.”
*

Morgan Daisy Gallagher


Amada filha e amiga

Sento-me de pernas cruzadas no chão sobre o túmulo,


pegando a grama verde. “É isso. É onde eu te deixo… por agora.
Caso ele se esqueça de lhe contar, Nate meio que já reivindicou
sua próxima vez por aqui. Então, anote aí para daqui um século
mais ou menos, como seu verdadeiro namorado. Eu acho que ele
vai ser um dos bons.”

JEWEL E. ANN
Respirando fundo, seguro o ar por alguns segundos e deixo
sair lentamente junto com uma lágrima rebelde ou duas. “Você
realmente aprontou na minha vida no ano passado. Eu não sou
louca. Já entendi… Doug precisava morrer e Nate precisava de um
ponto final. Queria ter percebido isso desde o começo. Talvez eu
pudesse ter mantido o que eu tinha com um certo cara da
mercearia. Talvez não.” Dou de ombros.

“Pensei que queria entrar completamente em sua cabeça e


coração. Mas estou feliz que não deu certo dessa maneira. Acho
que seria mais difícil me encontrar. Não que eu realmente tenha
conseguido fazer isso ainda. Perambular parece ser a melhor coisa
por agora, já que não sei exatamente o que estou procurando. Um
novo lugar. Um novo trabalho. Tudo novo. Inferno, posso até
conseguir um novo nome. Shh... não conte para minha mãe.”
Eu enfio a mão no bolso e tiro a foto enrugada de Nate que
recuperei do chão da garagem depois que Griffin partiu. “Aqui. Ele
é todo seu.” Enfio o fundo da foto entre o chão e a lápide.
“Você está me enterrando?”

Dou um pulo enquanto minha mão voa para o meu peito.


“Nate?

Ele se inclina ao meu lado e tira a foto de Daisy da carteira.


“Talvez você esteja certa. É hora de deixá-los.” Ele desliza a foto
dela ao lado da dele.

“Por que você está aqui?”


“Ontem foi seu último dia. Você disse que viria para se
despedir de nós antes de sair da cidade, mas os abraços que deu
em mim e Morgan pareceram um adeus.” Ele encolhe os ombros.
“Entendi. Ninguém gosta de dizer adeus.”
Eu aceno lentamente. Foi um adeus. Meu coração não
aguentou tornar isso oficial.

“Eu pensei que você poderia passar por aqui. Claro que não
sabia ao certo. Eu não sabia quando. Mas… aqui estamos nós,
inconscientemente, nos inclinando para o destino.”

JEWEL E. ANN
Eu olho para as cartas na lápide. “Destino...”
“Mas aqui está a coisa… eu preciso de um verdadeiro adeus.
Um que é por escolha.”
“Griffin simplesmente foi embora. Ele não disse adeus.” Eu
continuo a manter o meu olhar para frente.

“E todo dia você se sente enganada.”

Eu concordo.

“Então não me engane.”

Levantando minha cabeça na direção dele, eu me rendo a um


sorriso. Ele fica de pé, estendendo a mão. Quero e deixo ele me
puxar para cima. Meus braços imediatamente o abraçam.

“Eu te amo.” Liberto minhas emoções. “É verdade. Eu amo


você.”

Não como amante.


Não como um melhor amigo – não me lembro de nós dessa
forma.

Não como um pai.


É difícil descrever. Eu simplesmente o amo como Nate. E
talvez a melhor maneira de descrever isso seja dizendo que eu o
amo como um pedaço de mim mesma.
“Eu também te amo. Muito.” Ele me abraça com força, sua
voz cheia de emoção. “Obrigado por me encontrar. Obrigado por
me devolver o que eu sentia falta por tanto tempo.”

“Daisy?”

“Eu mesmo.” Ele pressiona seus lábios no meu pescoço, logo


abaixo da minha orelha. É macio, tão macio. Como vinte e dois
anos atrás, meio suave.

JEWEL E. ANN
Deslizo meus dedos pelo seu cabelo, agarrando-o para
segurá-lo no meu pescoço enquanto soluços silenciosos invadem
meu corpo.

Sim, adeus é uma droga.


Eu deixei Griffin partir e o arrependimento me despedaçou.
Agora eu estou deixando Nate, e meu coração me odeia e permito
sentir.

A dor.
O pesar

O amor.

“Dê-me notícias, ligue para dizer que está viva. OK?”


Eu aceno, engolindo as emoções descontroladas.

“Envie-me fotos de Morgan.”


Ele concorda.

Eu limpo meus olhos enquanto ele me solta.

“Encontre um namorado de verdade. OK?”


Uma risada escapa entre minha respiração ofegante, ainda
lutando para lidar com todas as emoções. “Vou tentar.”

Nate sorri. É lindo. Eu gostaria de ter esta foto dele. “Eu vou
te ver por aí.” Ele dá um passo para trás e depois outro, parecendo
bonito demais para o seu próprio bem.

“Você acha?” Eu sorrio, prendendo meu lábio inferior entre


os dentes.

Ele encolhe os ombros, dando outro passo para trás. “Eu


acho. Somos eternos.”
Mais lágrimas borram minha visão antes que eu as limpe,
meu sorriso cresce a cada passo que ele dá. Então ele se vira e
continua em direção ao seu carro, a cada poucos segundos
olhando para mim. Nossos olhos se encontram novamente quando

JEWEL E. ANN
ele entra no banco do motorista. Ele vai embora, acenando como
um idiota.

É o adeus perfeito.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 37

“Bateria extra para carregar o seu telefone?”


“Sim, mãe.” Carrego as últimas caixas no porta-malas.

“E você promete parar a noite assim que estiver um pouco


cansada?”

“Sim, mãe.” Fecho o porta-malas.


“E você não tem ideia de onde está indo?”

“Não.”
Com os braços cruzados sobre o peito, ela morde a unha do
polegar. “Estou com inveja de você. E estou morrendo de medo
também. Estou orgulhosa de você. Mas sim... estou morrendo de
medo também.”

Dou risada, dando-lhe um grande abraço. “Você poderia vir


comigo.”

“Não.” Ela me libera. “Esta é sua jornada. Transforme isso em


algo mágico. Seja ousada... mas se mantenha em segurança.”
Sorrio. “Ousadia, com segurança. Certo.”

“Protetor solar e repelente de insetos?”

“Sim.” Eu abro a porta do motorista.


“Camisinha e lubrificante?” Ela sorri.

“Vou comprar algumas ao longo do caminho. Eu acho que


por enquanto, meu vibrador vai ficar bem.”

“Oh. Você tem pil...?”

JEWEL E. ANN
“Sim, mãe. Eu tenho pilhas para o meu vibrador.” Eu deslizo
no assento e prendo o cinto de segurança.

Ela ri. “Ok. Mas com toda a seriedade, tire muitas fotos ao
longo do caminho.”
Eu estendo minha mão. Ela pega e dá um último aperto.

“Eu te amo, mãe.”

“Eu também te amo, Swayze.”

Começo a fechar a porta.

“Swayze?”

“Sim?”
Lágrimas enchem seus olhos. “Você excedeu minhas
expectativas.” Ela afasta as lágrimas e engole em seco. “Estou tão
orgulhosa de você. E se seu pai ainda estivesse vivo, ele diria a
mesma coisa também.”
Bem, que merda. Pensei que ia escapar do adeus de verdade
sem lágrimas. Eu acho que não.

“Obrigada.”
*
Eu saio para a rua e penso nas despedidas. Isso ainda é uma
merda. Toda vez. Mas não me impede de fazer uma última parada
antes de sair da cidade.

“Swayze!” Sherri se ilumina com surpresa.

“Oi.” Eu entro.

Ela me abraça. “Como você tem passado? Nós sentimos sua


falta.”

“Senti sua falta também. Na verdade, estou justamente


saindo da cidade. Eu queria dizer adeus.”

JEWEL E. ANN
“Sua mãe disse que você ia partir. Ela não me disse para onde
você está indo.” Sherri franze a testa. “Mas é justo.”

Griffin. Ela está falando sobre ele e seu sigilo.


“Não há nada para contar.” Eu dou de ombros. “Estou apenas
seguindo pela estrada até encontrar um lugar para pousar. Eu
não tenho um emprego arranjado ainda. Sem casa. Nada. Só eu e
a estrada... e infinitas possibilidades.”
“Oh... bem, tenha cuidado.”

“Eu vou.”

“Ei, olha quem está aqui.” Scott desce as escadas e me puxa


para um abraço.

“Meninas, Swayze está aqui. Venham dizer olá”, Sherri grita


de volta.
As meninas correm para dentro da casa, praticamente me
derrubando com grandes abraços. “Onde você esteve?” Sophie
pergunta.

“Estive ocupada. Isso é tudo. Eu senti saudade de vocês.”


“Swayze veio para dizer adeus. Ela está se mudando”, Sherri
diz.

“Para onde você está indo?” Chloe pergunta.


“Eu não sei. Estou apenas fazendo a viagem, para onde quer
que me leve.”

“Estou com inveja.” Hayley dá a Scott e Sherri um olhar. Eles


reviram os olhos.

“Griffin está vindo amanhã. Você vai perdê-lo.”


Todo mundo franze a testa por Sophie revelar isso para mim.

Eu sorrio. “Está bem. Diga-lhe que mandei um oi.”

Um dia. Vou me desencontrar dele por um dia. Eu poderia


ficar. Mas não vou.

JEWEL E. ANN
Destino... tenho que acreditar nisso uma vez. Eu tenho que
acreditar que tem algo realmente bom esperando por mim.

“Nós diremos.” Sherri me dá um sorriso triste.


“Ótimo. Então...” aponto meu polegar em direção à porta. “...
é melhor eu pegar a estrada.”

Nós compartilhamos mais abraços e muitos adeuses. Eu


combato qualquer desejo de chorar. Quero ser forte para eles. Eu
quero ser forte por mim. Mas mais do que tudo, quero que eles
sejam capazes de dizer a Griffin que estou bem.

Eu estou. Estou bem.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 38

Passaram-se duas semanas desde que eu comecei esta


jornada épica de autodescoberta. Ainda não tenho ideia de quem
sou, mas estou gostando de viajar sem destino e de viver sem
expectativas.

Consegui alguns trabalhos de design, que fiz a partir de


quartos de hotel ao longo do caminho. Até encontrar um emprego
de professora, preciso manter alguma renda estável para
sustentar minhas andanças.

“O que a trouxe a Salt Lake City?” A gerente do prédio de


apartamentos me pergunta enquanto dou uma bela olhada no
apartamento com a melhor vista.
“As montanhas.” Sorrio. “Eu não sei se vou ficar, mas como
que você está oferecendo um contrato de seis meses... acho que
vale a pena tentar.”

“Você não vai mais embora.” Ela pisca. “É seu, se você


quiser.”

Eu me afasto da janela. “Quero!”


*
Eu durmo em uma cama de criança na primeira noite, uma
vez que coloquei meus móveis em um depósito até encontrar uma
residência permanente. Na manhã seguinte, ligo para minha mãe
para lhe dar uma atualização. Ela está muito animada em vir me
visitar em breve.

Depois de ligar para a companhia de mudança, saio nessa


manhã gloriosamente ensolarada para pegar alguns itens
essenciais. Estou feliz por não estar pulando de um hotel para o
outro.

JEWEL E. ANN
Seis meses.
Salt Lake City tem seis meses para me conquistar.

“Eu já estou amando”, digo a mim mesma, dando à


cordilheira ao longe um grande sorriso. Sim, amo esta cidade. É
nova. É grande. É emocionante. E é minha.

Estou pensando seriamente em mudar meu nome para


tornar este novo começo realmente novo.

Abigail, Abby.

Elizabeth, Beth ou Lizzy.

Jennifer, Jenn.

Um bom nome de três ou mais sílabas que tenha um apelido


fácil. Talvez eu mantenha Swayze como um nome do meio em
respeito aos meus pais.

“Samantha, Sam. Ha! Samantha Swayze Samuels.” Eu bufo,


quando saio do carro.

Pego um carrinho de compras na entrada. Vamos encarar, eu


não vou cozinhar muito em casa, mas alguns itens essenciais são
necessários, como café, talvez um pouco de vinho, chocolate... oh,
batatas fritas também.

Ando por todos os corredores, encontrando mais do que eu


tinha na minha lista. Então vou para o caixa com meu carrinho
transbordando. Eu deveria ter escolhido um carrinho maior.
“Eu preciso trocar a bobina aqui”, o caixa me diz antes de eu
começar a descarregar meus mantimentos. “Tanya pode ajudá-la
no corredor três.”

Eu aceno, andando para trás com meu carrinho e


empurrando-o por dois corredores.

“Merda...” É um grunhido profundo e frustrado.


Eu congelo. Aquela voz. Tenho medo de olhar para cima, mas
olho de qualquer maneira.

JEWEL E. ANN
O cavalheiro na minha frente na fila de Tanya, corredor três,
está se dando um tapinha. “Droga… Acho que deixei minha
carteira em casa. Como diabos fiz isso?” Com o queixo inclinado
para baixo, ele esfrega a mão sobre o rosto, com frustração.

Demoro alguns segundos para perceber que isso não é um


sonho. Pego meu cartão de crédito da carteira e entrego a caixa.
“Aqui. Pode cobrar aqui.”
O cavalheiro ergue a cabeça como se qualquer movimento
repentino pudesse provocar uma explosão.

Eu conheço o sentimento.

Ele é bonito. E familiar. O cabelo está mais comprido, mas


ainda é curto. Eu noto uma nova tatuagem em seu braço
esquerdo. Parece uma folha verde. Maconha? Não. Eu realmente
acho que é couve.
Eu sorrio, desviando meu olhar para encontrar o dele.

“Eu tenho mais de cem dólares em mantimentos”, diz ele,


estampando o maior sorriso que eu já vi.

“Eu posso ver.” Levanto meu pacote de batatas fritas. “Dois


por cinco. Muito mais barato do que aqueles produto frescos e
crus em suas sacolas.”
“Como você sabe o que está nas minhas sacolas?”
Levanto um único ombro. “Apenas um palpite”.

“Vou precisar de sua assinatura”, diz Tanya.

Dou-lhe um empurrão brincalhão para que saia do meu


caminho. Ele está bloqueando o leitor de cartão de crédito. Meu
corpo inteiro tem um momento de uau, mas que diabos é isso?
Quando sente os dois segundos de calor familiar de seu braço
tocando o meu.

Não dou a ele uma segunda olhada. Ele vai ver o calor nas
minhas bochechas, então coloco meu cartão no bolso e começo a
depositar minhas compras na esteira.

JEWEL E. ANN
“Obrigado”, diz ele.
“Mm-hm.” Eu aceno, mantendo as costas para ele.

Ele sai do supermercado e eu posso respirar de novo.

“Você está corando”, diz Tanya. “Tudo bem.” Ela dá um


tapinha no próprio rosto. “Eu também. Ele era uau! E foi muito
legal da sua parte pagar as compras de um estranho.”

“Nada demais. Ele teria feito o mesmo.”

“Você tem certeza disso?”

“Tenho certeza.” Sorrio para ela.

Tanya sacode a cabeça. “Eu não tenho tanta certeza. A


maioria dos caras que tem uma aparência dessas são egoístas
demais para fazer algo tão abnegado quanto ajudar os outros.”
“Eu não sei.” Pego meu cartão novamente para pagar minhas
compras. “Talvez. Mas vou dar a ele o benefício da dúvida.”
Quando as portas de entrada se abrem, vejo o beneficiário da
minha generosidade encostado na parte de trás do meu carro com
os braços cruzados sobre o peito. Sim, perecendo extremamente
gostoso!

Ele descola as costas do carro quando me aproximo com o


carrinho. Pressiono o botão e o porta-malas se abre.
“Você tem um monte de compras aqui para alguém que está
apenas passando pela cidade.” Ele carrega minhas sacolas no
porta-malas para mim.

“Você acha?” Sorrio enquanto ele fecha a tampa.

Ele puxa seu longo recibo. “Você tem uma caneta?”


Eu concordo.

“Escreva seu nome e número aqui no verso, para que eu


possa lhe pagar”.

JEWEL E. ANN
Prendo meu lábio inferior entre meus dentes, controlando o
sorriso. Ele fez a mesma coisa. Há uma energia explosiva entre
nós que não desapareceu nem um pouco em todos esses meses.

Vasculho minha bolsa, rindo do destino. Depois de encontrar


uma caneta, pego o recibo dele e o apoio no carro para anotar meu
nome e número. Fica pouco legível, minha mão está tremendo
muito.
Ele lê quando lhe entrego o papel de volta, um pequeno
sorriso brincando com sua boca. “Samantha, hein?”

Aceno, engolindo de volta o meu sorriso.

“Você gosta do seu nome?”


Aceno de novo várias vezes rapidamente.

“Hã.” Ele encolhe os ombros, dobrando o recibo e colocando-


o no bolso da frente. “Meio monótono para uma garota como você.
Você não acha?”

“Eu gosto do monótono. Nada de errado com a monotonia.”

Ele me dá um aceno de cabeça pensativo e uma sobrancelha


franzida, mas entra no jogo. Eu o amo por entrar na encenação.
“Prazer em conhecê-la, Samantha. Eu sou Griffin.”

Olho para a mão dele estendida no espaço entre nós. Meu


coração quase parou quando meu braço roçou o dele lá no caixa.
Um aperto de mão vai me paralisar com certeza.
Enfiando meus dedos nos bolsos da frente do meu short
jeans, eu sorrio. “Prazer em conhecê-lo também.”

“Você não vai apertar minha mão?”

Minha cabeça gira de um lado para o outro, os olhos


arregalados.

Ele ri. “Por que não?”


“Razões.”

JEWEL E. ANN
“Razões... tudo bem.” Ele retira a mão oferecida. “Eu ligo para
você para devolver o dinheiro ou descubro uma maneira de
recompensá-la adequadamente.”

“Ok.” Eu limpo minha garganta porque pareço um rato


estridente. “Ok.” Isso foi melhor.

“Até mais tarde, então.” Ele se afasta.


“Oh... não...” sussurro para mim mesma.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 39

Não tem como isso ser possível.


Cinquenta estados.

Milhares de cidades.

Ainda mais mercearias.


A parte mais dolorosa? Faz uma semana desde que o vi. Uma
semana desde que ele pediu o meu número. Ele sabia o meu
número… Não mudou. Por que ele não me deu seu número? Ah...
Isso mesmo, não posso ligar para ele ou saber onde ele mora.

Griffin poderia estar na Nova Zelândia agora. Foi uma


encenação. Não o destino. Não um sinal.

Lugar errado. Hora errada.

Já fui a esse mesmo mercado duas vezes desde então. Ele


provavelmente agora faz compras em um lugar diferente. Há uma
concessionária da Harley aqui, mas não vou até lá. Eu não vou
ligar.
O ano passado não roubou todo o meu orgulho.

Pelo menos minha mobília chegou, dando ao meu


apartamento uma sensação mais caseira. Que pena que meu novo
começo já pareça obsoleto. Serão longos seis meses,
constantemente pensando que posso encontrá-lo – esperando e
temendo ao mesmo tempo.

Ocupo-me com o trabalho de design, matriculei-me em um


centro de fitness e pretendo candidatar-me à certificação de
ensino aqui em Utah. Eu quero ensinar, mas tenho um contrato
de aluguel de seis meses.

JEWEL E. ANN
Além de toda a coisa de evitar Griffin, estou amando esse
lugar. Mas esconde-esconde não é minha brincadeira favorita.
Então eu acho... é uma cidade enorme. Ele está fazendo o melhor
que pode para me evitar, se ainda estiver aqui. Sério, ele poderia
estar na Nova Zelândia.

Volto para o destino. Se eu estiver destinada a ficar aqui, vou


encontrar um emprego como professora. Será um sinal.
Então é o que vou fazer. Vou seguir em frente com minha
nova vida.

“Swayze!” minha mãe grita quando atendo meu telefone, os


pés apoiados na grade da varanda enquanto tomo meu vinho.
“Jesus, o que é isso?”

“Eu não deveria te dizer isso, mas acho que você precisa
saber. Não enlouqueça.”

Sorrio. “Como você está?”

Sua expiração longa passa pelo alto-falante. Isso deve ser


sério.
“Eu almocei com Sherri hoje. Nós raramente falamos sobre
Griffin… Ela é muito reservada. Mas perguntei como ele está indo.
Nada específico. Ela disse que ele está bem. Então perguntou se
poderia ser honesta comigo, como uma amiga, não como sua mãe.
Eu disse sim.”
“Ela disse que tem sido difícil para ele, que ele gosta do
trabalho, mas realmente não tem mais nada fora do seu trabalho.
Mas… você está realmente pronta para isso?”
Eu tomo um grande gole do meu vinho. “Acho que sim.” Não
tenho certeza. Eu não contei a ela que encontrei com Griffin. Ele
contou a Sherri que nos vimos?

“Na semana passada ele foi a um encontro. É o primeiro


encontro que ele tem desde que vocês dois se separaram. Sherri

JEWEL E. ANN
disse que tudo correu bem e ela está feliz por ele. Estou feliz por
ele também. E quero que você fique feliz também. Ele também
merece a felicidade. Eu sei, no fundo, você quer isso para ele.”

Uma semana atrás. Isso foi antes ou depois que ele me viu?
Explica por que ele não ligou.

Uau. Este é um tipo especial de dor. Se eu mereço?


Provavelmente. Mas ainda dói.
O destino não é incrível hoje.

“Sim.” É tudo que consigo expulsar da minha boca. É claro


que quero que ele seja feliz, mas por um milésimo de segundo me
perguntei se me encaixaria nessa equação novamente. Esperança
falsa.
“Há mais uma coisa...”

Oh bom. Tem mais.


Eu engulo o resto do meu vinho, desesperada por cada gota.

“Ela perguntou de você. Eu contei que você alugou um


apartamento em Salt Lake City. Ela ficou branca como fantasma.
A próxima coisa que sei, ela estava inventando alguma desculpa
de porque ela tinha que ir para casa. Swayze?”

“Mmm-hmm?” Eu mantenho meus lábios juntos.


“Eu acho que é onde Griffin está. Acho que ele também está
em Salt Lake City.”
“Sim...” corro a mão pelo meu cabelo “...Na verdade, esbarrei
nele na semana passada. Eu não te contei porque não queria que
você ficasse cheia de esperanças.”

“Você está falando sério? Quando? Como... o que vocês


falaram?”

“Não muito. Em retrospecto, parece o adeus oficial que nunca


tivemos.” Meia verdade. Na época, pareceu o começo de algo. Eu
interpretei mal. Então, sim, em retrospecto, foi um adeus.

JEWEL E. ANN
“Isso deve ter sido difícil.”
Não tão difícil quanto isso.

“Um pouco. Eu estou bem. Estou esperando encontrar um


emprego como professora. Eu realmente estou amando viver aqui.
E é uma cidade grande. Acho que as chances de encontrar Griffin
novamente são muito pequenas.”
“É incrível o quanto a vida muda em um ano.”

Eu aceno, muito sensível para dizer muito.

“Eu vou deixar você desligar. Estou planejando te fazer uma


visita no mês que vem.”

“Isso parece ótimo. Te amo.”

“Amo você também.”


Lanço meu telefone na cadeira ao meu lado e sirvo outro copo
de vinho.
Ele tem vinte e quatro anos. Claro que vai namorar. Estou
um pouco surpresa que semana passada tenha sido seu primeiro
encontro desde que partiu, há seis meses. Mas talvez ele tenha
estado com outras mulheres, apenas não em encontros.

Ele tem vinte e quatro. Jovem. Sexy.


Eu seria uma idiota em acreditar que ele não esteve com
outra pessoa. E enquanto dói, não posso ficar com ciúmes, nem
com raiva, nem nada. Escolhi Daisy porque na hora não me
pareceu uma escolha.

Mas aqui está a conclusão: Griffin matou Doug Mann para


me manter em segurança. Essa é uma dívida não paga que vou
levar para sempre.
Então ele pode namorar um milhão de mulheres. Ele pode
escolher nunca enviar mensagens de texto ou me ligar novamente.
É o passe livre para todos os outros passes.
Eu lhe devo minha vida. Ele não me deve nada.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 40

Uma semana inteira passa. Ele não vai ligar.


O exercício se torna meu foco para minha saúde mental.
Sempre que começo a sentir uma pontinha de pena, troco de
roupa e levo minha bunda para a academia no fim da rua. E eu
não volto para casa até estar pronta para desmaiar.
Alguns dias vou até as montanhas para subir uma trilha
longa. Eu gosto do ar lá em cima. Eu gosto da clareza. Eu gosto
do quão pequena eu me sinto. É onde sempre encontro
perspectiva de novo.
“Depois de você”, um jovem segura a porta do meu prédio.
“Obrigada.”

“Você acabou de se mudar para cá?” Ele pergunta.

“Sim.” Recolho a correspondência da minha caixa na parte


inferior das escadas.
Ele abre uma caixa duas colunas acima da minha. “Bem,
estou aqui há cinco anos. Então, se precisar de alguém para
ajudá-la a descobrir a área, me avise. Fico no 4A. Sam.” Ele
estende a mão.

Sam. Eu sorrio. Ele roubou meu nome. Ainda bem que não
tomei nenhuma providência legal. Samantha e Sam nunca dariam
certo. Não estou querendo dizer que estou procurando que algo dê
certo. Mas desde que Nate me deixou ir, e Griffin seguiu em frente,
talvez eu deva manter minhas possibilidades abertas para algo.

Aperto a mão dele. “Swayze.”


“Swayze. Eu gosto desse nome.”

JEWEL E. ANN
Dou risada. “Não. Por favor. Se vamos ser bons vizinhos,
quero gostar de você. Mas se você gostar do meu nome, temo que
não tenhamos mais nada para discutir.”

Sam ri. “Justo. Espero ver você em breve.”


“Eu também.” E sorrio.

Subo dois lances de escada atrás dele, e compartilhamos um


último sorriso antes que ele continue até o quarto andar enquanto
sigo pelo corredor do segundo andar, folheando minha
correspondência. Quase tudo é lixo.

Enquanto pego minha chave do bolso, olho para cima e paro


um pouco assustada.
“Oi”, eu digo em um suspiro sem fôlego.

Griffin desencosta da minha porta, segurando um envelope


branco. “Dinheiro da compra do mercado.”
“Eu te dei meu número de telefone, não meu endereço.” Pego
o envelope e coloco na minha bolsa.

“Desculpe, demorei muito para conseguir o dinheiro.” Ele


ignora o meu comentário sobre o endereço.
Eu passo por ele, destrancando minha porta. Ele cheira a
hortelã como se tivesse acabado de enfiar um novo pedaço de
chiclete na boca.

“Você não tem que me pagar nada.” Eu abro a porta e jogo


minha bolsa no chão.

“Eu não gosto de ficar com dívidas.”

Eu me viro. Ele se inclina contra o batente da porta enquanto


seguro a porta aberta.
“Você nunca poderia estar em dívida comigo.”

Uma pequena tensão repuxa sua testa. Ele sabe que eu sei?

JEWEL E. ANN
Um pequeno riso escapa do meu peito, uma tentativa nervosa
de quebrar esse momento estranho. “Você não tem que ficar no
corredor. Pode entrar.”

“Eu preciso ir.”


Quanto tempo ele ficou parado na minha porta? Ele
conseguiu meu endereço com a mãe dele ou a minha. Ele poderia
ter me enviado o dinheiro pelo correio.
Ele não me deve nada. Nate disse que eu não era sua para
beijar. Bem, tenho certeza de que nenhuma parte de Griffin ainda
é minha.

“Ok.” Eu seguro a porta aberta com meu quadril, deslizando


minhas mãos nos bolsos traseiros do short.
O olhar de Griffin desce pelo meu corpo. É tão familiar. Ele já
fez isso centenas de vezes antes. Eu não deixo a familiaridade
alimentar qualquer falsa esperança.

“Por que Salt Lake City?”

Dou de ombros. “Pareceu ser legal. As montanhas. A energia.


Eu assinei um contrato de locação de seis meses, só para
experimentar – a cidade.”
Ele abaixa a cabeça em um lento aceno, com um olhar
contemplativo no rosto.
Essas pausas silenciosas são dolorosas.

“Minha mãe está vindo me visitar no próximo mês. Seus pais


e irmãs estiveram aqui para visitá-lo?”

Ele sacode a cabeça.

Palavras, Griff. Dê-me palavras ou vá embora, mas estou


morrendo aqui.

“Você está trabalhando na concessionária Harley?” Eu me


encolho. Por que perguntei isso? Ah sim... porque ele está parado
ali sem dizer nada. Eu sacudo minha cabeça. “Desculpa. Você não

JEWEL E. ANN
precisa responder isso. Eu apenas… Estou sem saber o que dizer,
porque você está parado na minha porta, sem falar, sem sair e
sem entrar. É só...”

“Desculpa.” Ele dá um passo atrás.


Não, eu não quero que ele vá embora. Mas não posso pedir
que fique.
Isso é o adeus. Eu sinto isso no meu íntimo. Porque se
tivéssemos feito uma escolha, poderíamos ter isso. Mas é muito
tarde. Posso ver em seus olhos, olhos que se deslocam para o meu
peito. É quando percebo que estou esfregando a palma da mão
sobre o meu coração.

Sim. Isso dói.


“Cuide-se.” Ele me dá um sorriso de boca fechada.

Cuidar. Não, até mais. Não, eu ligo para você. Não. Cuide-se
é um adeus permanente.

Ele gira em suas botas pretas e segue em direção às escadas.

“Griffin?”
Bam! Bam! Bam!

Meu coração martela em minhas costelas.


Ele para sem se virar.
“Obrigada.”

Depois de alguns segundos congeladas, suas pernas


recomeçam o movimento.
Sem olhar.

Nenhum aceno de cabeça.

Nada.
Adeus, cara da mercearia.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 41

“Muito bem.”
Eu pulo, empurrando minha blusa de volta para baixo sobre
minha barriga, toda suada do meu treino.

“Peguei você.” Beth pisca para mim no espelho enquanto os


ratos de academia passam por nós.

Escondo meu sorriso, envergonhada, mas ninguém percebe


já que estou muito vermelha de malhar. “Eu tenho meus
abdominais definidos.” Dou risada. “Não tire sarro de mim. Eu
nunca tive isso antes. Não consigo parar de olhar para aqueles
pequenos montinhos.”
Beth puxa a bolsa por cima do ombro. “Acho que ainda
preciso perder uns dez quilos antes de poder identificar
adequadamente qualquer coisa acidentada no meu estômago
como um músculo de verdade.”

Sorrio mais ainda. Isso é bom.


Ela suspira enquanto caminhamos para fora. “Uau... olá!”

Sigo o olhar dela pela rua. Cerca de cinco vagas de


estacionamento ao sul, há duas motos. Um cara e uma garota
tirando os capacetes.

Não, não. NÃO!

Antes que eu possa me esquivar ou fugir, Griffin me vê.


“Você pode dizer Santa Gostosura?” Beth se abana.

“Qual é a população de Salt Lake City?” Eu murmuro.

“Por que você pergunta?”

JEWEL E. ANN
Dou a Griffin um sorriso tímido. Ele sabe que eu o vi. E não
posso desviar o olhar e fingir que não, especialmente com os olhos
de Beth querendo rolar pela calçada para descansar a seus pés.
“Nenhuma razão. Apenas achei que fosse maior quando cheguei
aqui. Mas ultimamente parece muito pequena.”

“Oh caramba... a gostosura dele é andar assim.”

Sim, ele é muito gostoso, assim como sua amiga. Merda... Por
que ela me lembra da Apple? Apenas o cabelo dela é loiro.

Mais loiro que o meu.

Mais longo que o meu.


Mais grosso que o meu.

Ela deve ter quase minha altura, mas talvez um pouquinho


mais alta.
É basicamente eu, mas mais.
E ela anda de moto.

“Estou dando o fora daqui. Eu não consigo me aproximar de


um cara sexy quando estou fedida desse jeito. Até mais tarde.”

“Beth.”
Ela está a dez metros na direção oposta antes que eu possa
fazer qualquer coisa. Ótimo. São dois contra um.
“Oi”, diz ele.

Porra, seu cabelo parece com o de um comercial de xampu,


mesmo depois de usar um capacete.
Eu sei que pareço tão bem quanto me sinto agora –
incrivelmente horrível. “Ei. Mundo pequeno.”

Muito pequeno.

“Pelo jeito. Samantha, esta é Ginny. Gin, esta é Samantha.”


Ele pisca para mim.

JEWEL E. ANN
Estreito meus olhos apenas por um breve segundo antes de
disparar o meu melhor sorriso para sua amiga.

“Oi.” Ela sorri. É tímido e doce. O oposto de uma mulher


comercial de xampu.
Eu era tímida e doce como ela quando conheci Griffin.

E ela tem um ótimo nome. Pode ser mais longo ou curto.


Tantas possibilidades.

“Prazer em conhecê-la”, eu digo sem soar sarcástica. Eu não


sou malvada. Ok, fiquei meio enlouquecida com a Apple, mas ela
não é Apple.
“O que traz você para o meu bairro?” Sim. Reivindiquei toda
essa vizinhança em pouco menos de quatro semanas.

“Sorvete.” Griffin sacode a cabeça em direção à sorveteria ao


lado da minha academia.
Eu concordo. Quando ele começou a comer sorvete por
capricho?

“Entendo.” Sorrio de novo para Ginny. É mais fácil olhar para


ela do que olhar para ele.
Ela aponta para a rua em um ângulo. “E você vive bem
naquele prédio de apartamentos.” Seu dedo aponta direto para o
meu prédio.

“Oh, como você sabe que eu moro lá?” Ele fala de mim com
ela?

“O que?” Seus olhos se estreitam um pouco. “Não. Quero


dizer, o apartamento de Griffin fica naquele prédio.”

Meus olhos ficam maiores. Ele molha os lábios e esfrega-os


juntos.

Não, caralho. Sem chance.


“Ela está brincando”, murmuro.

JEWEL E. ANN
“Sem brincadeira.” Seus olhos se alternam entre nós dois
como se ele não tivesse dito a ela sobre mim. “Por que isso é
estranho?”

Griffin olha para ela e sorri. “Não é. Vamos tomar um


sorvete.”

Ginny acena com a cabeça. “Sim.” Ela me dá aquele sorriso


inocente novamente. “Prazer em conhecê-la.”

Eu aceno devagar. Choque mantém todas as minhas palavras


presas.

“Até mais.” Griffin me dá uma rápida inspeção.


Sim, Griff. Não me dê esse olhar. Eu sei… eu sei… você
atualizou para o Swayze 2.0. Bem feito.

Enquanto o observo abrir a porta para ela, eu me pergunto


se ela tem pequenos montes de músculos em seu abdômen. Talvez
eu devesse ter contado a ele que tenho alguns agora.

OK. Talvez não.

*
É um prédio alto. As pessoas estacionam em todos os lados e
na rua em ambas as direções, bem como na garagem do outro lado
da rua.
Eu não posso me repreender muito por não ter visto sua moto
ou caminhonete. E entrar e sair do prédio é tudo sobre o timing.
Eu provavelmente só encontrei uma dúzia de outros inquilinos
nas quatro semanas que estive aqui.

Mas... SANTA MERDA! Griffin mora no meu prédio.

E Swayze 2.0 sabe onde ele mora. Ela esteve no apartamento


dele? Provavelmente. Quero dizer… Fizemos sexo em nosso
terceiro encontro oficial. Aposto que ela não vomita no final de um
boquete. A Swayze 2.0 não faria isso.

JEWEL E. ANN
Oh, a ironia. Griffin não queria ficar em Madison por tantos
motivos, mas tenho certeza que o maior motivo foi Nate. Ele não
queria me ver apaixonada por outro homem.

E aqui estou eu, vendo-o namorar uma versão melhorada de


mim. Isso é muito gentil da sua parte. Destino. Realmente.

Depois de um banho, trabalho em um panfleto comercial


para um cliente, e olho algumas fotos que Nate me enviou de
Morgan. Sempre só ela. Ele nunca está em nenhuma delas.

Há uma batida na minha porta. O primeiro toc toc na minha


porta desde que me mudei para cá. Fico apenas um pouco
surpresa ao ver Griffin do outro lado do olho mágico, todo recém-
banhado, em uma camiseta branca e jeans rasgado.
Pressionando minha cabeça contra a porta, tomo algumas
respirações para me acalmar.
Ele bate três vezes novamente. Destranco a porta e a abro,
cumprimentando-o com um sorriso meio gelado.

“No dia em que vim te pagar, deveria ter dito que morava
nesse prédio. Eu sinto muito.”
Passe livre para o resto de sua vida.
“Não precisa se desculpar. Nunca.” Eu consigo fazer com que
os meus lábios façam algo genuíno. Parece o jeito que eu
costumava sorrir para ele.

“Posso entrar?”
Um arrepio de emoções percorre minha pele, trazendo
lágrimas aos meus olhos que eu rapidamente pisco para longe
enquanto evito seu olhar. “Sim. Claro. Entre.”
O apartamento é menor que meu último apartamento. Tudo
está em um só ambiente, exceto por um pequeno closet e o
banheiro.

Griffin anda por aí, parando na janela. “Eu fico do mesmo


lado do prédio. Quatro andares acima.”

JEWEL E. ANN
“Amei a vista.”
Ele balança a cabeça, com as mãos nos bolsos, virado para
mim. “Quais são as chances de eu te ver na mercearia no dia em
que esqueci minha carteira? Quais as chances de eu te ver no dia
que tive meu primeiro encontro desde você? Qual a probabilidade,
porra?”

Ele fica de frente para mim, encostado no parapeito. Eu não


reajo. Não sei quais são as respostas para as perguntas dele.
Minha bunda fica plantada contra a porta da frente no caso de eu
precisar fugir em busca de oxigênio.

“Nem me faça começar a enumerar a probabilidade de você


alugar um apartamento no meu prédio.”
Eu sou a rainha de quais são as chances. É incrível que
qualquer coisa me surpreenda nesse momento. Porcos podem
voar e acho que eu não daria nem uma segunda olhada.
“Ginny se mudou para cá há dois meses.”

Aqui vamos nós. Minha mão se move para a maçaneta,


apenas por precaução.
“Ela é sobrinha do meu chefe. Não é meu estilo namorar
alguém relacionado ao meu chefe ou a outro funcionário. As coisas
podem ficar confusas. Eu não gosto de bagunça.”

É difícil manter uma expressão neutra. Meu rosto quer se


contorcer em vergonha. Sou a definição de bagunça.

Seu olhar percorre o apartamento. É um pouco confuso


também. “Depois de encontrá-la no trabalho, achei que talvez não
fosse uma ideia terrível. Ela é legal. E engraçada. Fácil de
conversar.”

Punhalada. Punhalada. Punhalada.


Está bem. O homem que salvou minha vida está autorizado
a me torturar. Estou completamente à sua mercê pelo resto da
minha vida.

JEWEL E. ANN
Meu aperto na maçaneta fica mais forte.
“Mas então você apareceu – porra, apareceu do nada.” Sua
voz permeia um pouco de firmeza, engrossando o ar da sala.
Os músculos de sua mandíbula se contraem várias vezes.
“Eu vou embora”, digo. “Vou aonde você quiser que eu vá. De
volta a Madison. Seattle. Dallas. Nova Zelândia.” Eu luto contra a
emoção que cresce na minha garganta. “Vou para o inferno se você
quiser.”

Lágrimas enchem meus olhos.

Ele recua. “Por que você diria isso?”

Sufoco uma risada dolorida, sentindo aquela antiga, mas


familiar, ponta da insanidade. “Você matou um homem por mim.
Cada respiração de oxigênio que meus pulmões absorvem tem seu
nome. Eu te devo minha vida. Então, vou viver essa vida
absolutamente em qualquer lugar que você queira que eu viva.”

Sua expressão endurecida se desvanece em pura angústia.

Eu pisco para liberar as lágrimas borrando a minha visão. “A


hipnose não funcionou. Eu não consegui lembrar. Mas estava com
tanto medo.”

Mesmo agora, ainda me lembro do medo, da raiva e do


desespero que senti ao bater na porta do apartamento de Doug.

“Fui ao apartamento dele com um frasco de sedativos e uma


faca.”

“Jesus...” Ele diz.

Meus olhos brilham, revendo imagens do meu punho


derrotado descansando em sua porta quando o homem me disse
que ele estava morto.

“Eu odiei você por me deixar sem dizer adeus. Odiei a mim
mesma por pensar que eu me lembraria do que aconteceu com
ela. E odiava ele por matar uma criança inocente e uma jovem

JEWEL E. ANN
mulher. Havia essa parte de mim que sabia que tinha que haver
mais. Mais mortes. Mais vidas perdidas.”

Eu dou de ombros, mudando meu queixo de um lado para o


outro, olhando fixamente para o chão entre nós. “Se eu não o
matasse, a raiva, o medo e a culpa iam me matar.”

Suas botas pretas entram em meu campo de visão. Levanto


minha cabeça, seguindo seu corpo até encontrar seus olhos.
“Você quer saber o que ele disse antes de morrer?”

Limpo meus olhos e balanço a cabeça.

“Não?” Ele para bem na minha frente, tão perto que eu posso
sentir o calor do seu corpo.

“Não”, sussurro, encontrando seu olhar. Sentindo falta das


profundezas daqueles olhos de uísque.
“Eu acho que você precisa saber.”
Eu fecho meus olhos. “Não.”

A hortelã penetra no meu nariz. Ele está perto. Incrivelmente


perto.

“Ginny é perfeita para você.” Não é mentira.


“Eu não quero Ginny.”

A dor inunda meu peito, na boca do meu estômago.


“Quero que você saiba o que ele me disse antes de morrer.”

Mais lágrimas escapam quando aperto meus olhos com mais


força. “Por quê?” Consigo perguntar entre respirações
entrecortadas.

Sua mão toca minha bochecha. Meu corpo treme de emoção.

“Porque eu quero você. E a única maneira que posso ter você


é se souber de tudo.” Suas palavras carregam tanto peso, muita
angústia.

JEWEL E. ANN
Abrindo meus olhos, espicho a mão para tocá-lo. Ele recua,
soltando a mão do meu rosto e agarrando a maçaneta. Eu me
afasto, me sentindo desolada de novo.

“Não há meio termo para nós. Tem que ser tudo ou nada.”
Dando mais uma respiração instável enquanto envolvo os
braços ao meu corpo, eu aceno uma vez.
Ele começa a fechar a porta, mas para no meio do caminho.
“Desconte o cheque.” A porta se fecha.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 42

Eu entendo.
Ele matou Doug. Estou em dívida.

Mas cheguei tão longe. Deixei tanto para trás. Eu não quero
reviver o passado.

Não mais.
Parte de mim teme a possibilidade de que uma dúzia de
outras almas inquietas vivam dentro de mim. Eu não quero voltar.
Nunca mais.

É como se o mundo soubesse quando precisamos nos


encontrar e quando precisamos de espaço. Faz uma semana desde
que Griffin veio ao meu apartamento, e não nos encontramos
desde então.

Pensei em ir até ele, mas não sei seu número de telefone ou


o número do apartamento. Então, ou o destino nos coloca no
mesmo lugar novamente, ou ele tem que vir até mim.
Griffin se tornou obsessão de Beth desde que eu disse a ela
que éramos noivos. Ela tem 27 anos com um marido apaixonado
e um filho de três anos – mas minha história é seu escape feliz.

“Você tem um absorvente?” Ela sussurra alguns minutos


antes de nossa aula de spinning começar.

“Oh... hum...” Eu pulo da minha bicicleta. Ela me segue até


os cubículos. Vasculho minha bolsa e pego um absorvente que
parece ter estado enterrado no fundo da minha bolsa por um ano.
Meu nariz se franze. “Desculpa. O papel em volta ainda está
intacto.”

JEWEL E. ANN
“Salva-vidas.” Ela arranca da minha mão. “Aqui.” Ela se
abaixa. “Isso caiu da sua bolsa.”

Eu pego o envelope. “Obrigada.”


Ela corre para o banheiro feminino.
Merda. Eu deveria descontar o cheque de Griffin. Deslizo meu
dedo pelo selo do envelope, abrindo-o.

Há um cheque e um bilhete com o seu número de telefone.

Tem estado bem aqui na minha bolsa por semanas. Eu olho


para o cheque. Tem seu endereço e número do apartamento.

E porque sou uma idiota que se recusa a aceitar o meu nome


incrível, ele fez o cheque nominal a Samantha Samuels.

Eu sorrio, balançando a cabeça.


Desconte o cheque.

Depois da aula, tomo um banho e subo quatro lances de


escada porque estou muito impaciente para esperar o elevador.
Bato na porta dele com uma mão enquanto afasto minha blusa
para longe da minha pele suada com a outra.

Eu deveria ter esperado o elevador.


Ele abre a porta. Burburinho e risadas se espalham pelo
corredor.
“Oi.” Seus olhos se arregalam de surpresa.

Estico meu pescoço para olhar além dele. NASCAR está na


TV. Nossa velha TV. E há uma dúzia de pessoas, homens e
mulheres em seu apartamento.

Ele está dando uma festa e eu não recebi um convite. Bem,


isso é maravilhosamente estranho.

Algo me diz que ele não está querendo discutir os detalhes de


como matou um homem e o que aquele homem disse antes de dar
seu último suspiro.

JEWEL E. ANN
“Uau.” Levanto minhas mãos e dou um passo para trás. “Eu
deveria ter ligado. Lamento.”

“Estamos apenas assistindo a corrida e matando tempo.


Entre.”
Sacudo minha cabeça. “Eu não quero invadir sua festa.”

Ele ri. “Eu não disse que você estava invadindo. Se puder se
comportar, então é mais que bem-vinda para entrar.”

Respirando fundo, colo meu melhor sorriso e entro em seu


apartamento. Ele fecha a porta enquanto eu me esforço para mais
perto da pequena multidão de pessoas, pegando alguns sorrisos
aqui e ali de uma sala cheia de estranhos.
Enquanto caminho até a cozinha, rezando para que haja
algum tipo de álcool, congelo. Há uma loira de costas para mim,
poucos metros na minha frente.
Swayze 2.0.

Eu não posso acreditar que ele me convidou para entrar em


seu apartamento com ela aqui. Antes que ela se vire, eu me viro
para ir direto para a porta. Esta foi uma ideia horrível.
Smack

Eu giro direto contra o peito largo de Griffin. O que quer que


ele tivesse em seu copo descartável acabou de cair na frente de
nós dois.

Eu faço uma careta enquanto ele segura o copo pingando


longe de nossos corpos.

“Merda. Eu sinto muito.”

“O que você estava fazendo?” Ele franze a testa para a camisa


molhada.

Eu me inclino e abaixo minha voz. “Eu estava saindo porque


você me convidou para vir e Ginny está aqui. Isso é estranho. Por
que você faria isso?”

JEWEL E. ANN
Suas sobrancelhas ficam franzidas. “Ela não está aqui.”
Eu empurro minha cabeça para trás, dando um revirar de
olhos estranho.
Griffin olha por cima da minha cabeça e seu rosto relaxa. Ele
se inclina e coloca o copo no balcão. Agarrando meus ombros, ele
vira meu corpo para que minhas costas fiquem em seu peito.
Eu tento me soltar antes que Swayze 2.0 se vire.

“Pessoal, conheçam Samantha. Ela mora no segundo andar.


Nova garota. Sejam legais. Ela é fácil de se assustar.”

A garota loira se vira, e ela não é Gina.

“Oi, Samantha”, todo mundo responde em uníssono agitado.

Você poderia fritar um ovo no meu rosto. Estou tão vermelha


de vergonha. Não gosto de ser o centro das atenções, e Griffin
apenas disse que eu me assusto facilmente, o que não é verdade.
Bem, não é inteiramente verdade. Ele me apresentou como
Samantha quando eu estava apenas experimentando esse nome
por um dia.
No entanto, a parte mais desconcertante desta situação é que
ele me posicionou, de forma que estou escondendo sua camisa
molhada, mas minha camisa está molhada e meus mamilos estão
duros porque o que ele tinha em seu copo estava gelado.
Griffin me libera e enrolo meus ombros para dentro para
esconder meu problema nos mamilos. “Eu tenho que ir.” Começo
a passar por ele.

Ele pega minha mão e me puxa para a esquerda, direto para


seu quarto.
“Eu preciso trocar minha blusa!”

Ele fecha a porta e leva um dedo aos lábios. Eu puxo o tecido


molhado para longe do meu peito.

JEWEL E. ANN
“Você não pode ir até me dizer porque você veio ao meu
apartamento.” Ele tira a camisa molhada.

Eu o encaro. E fixamente. E... sem desviar os olhos.


“Você já viu isso antes.” Ele arranca uma camiseta limpa de
um cabide.

Dou de ombros. “Nunca cansa.”

Ele sorri. “Por que você veio? Além de finalmente ter aberto o
envelope e encontrado meu endereço.”

Meu sorriso bobo se esvai.

“Mas eu ainda não vi o cheque ser descontado no banco.”

“Samantha Samuels. Sério?”


“É o que dizia na parte de trás do recibo”.

“Eu não posso nem desconta-lo.”


“Por que você veio?” Ele se coloca de pé na minha frente e
agarra a bainha da minha camisa.

Aperto os braços no meu corpo. “Hum... o que você está


fazendo?”
“Você pode colocar uma camisa minha limpa.”

Olho para ele sem piscar, firmemente agarrada a minha


camisa.
“Eu já vi tudo isso antes. Braços para cima.”

Enquanto relaxo, ele puxa a camisa sobre a minha cabeça.


Seu olhar vai para a minha marca de nascença, algo mais que ele
viu cem vezes antes. Nunca o vi focar assim nela, exceto na
primeira vez que a viu.

“Por que você veio?” Ele sussurra, mantendo um olho focado


na minha marca de nascença, como se estivesse hipnotizado por
ela. Eu nunca me senti consciente disso... até agora.

JEWEL E. ANN
“Eu... uh... queria falar com você.” Cruzo meus braços sobre
o meu abdômen para esconder a marca de nascença.

Ele se ajoelha na minha frente. “Sobre?”


O que ele está fazendo? Seus olhos nunca deixam minha
barriga.

“Doug.”

Os olhos de uísque piscam para encontrar meu olhar por dois


segundos. Ele balança a cabeça e retorna sua atenção para minha
barriga.

“O que você está fazendo?” Eu pergunto quando ele puxa


meus braços para longe.

“Shh...” Ele pressiona seus lábios na parte inferior da minha


marca de nascença.
Lágrimas ardem em meus olhos. Eu não sei o porquê. Seu
toque é tão incrivelmente terno, reverente e assombroso. Sempre
bem devagar, ele move seus lábios em uma pequena fração, como
se estivesse tentando... Eu não sei.
“Ele matou Daisy”, ele sussurra sobre a minha pele. “Mas ele
a cortou primeiro... daqui...” ele pressiona seus lábios até o fundo
novamente e os roça até o topo, bem embaixo do meu peito “...até
aqui.”
Não…

“Não agora...” imploro, lutando contra essa realidade


miserável – essa revelação assombrosa.

“Agora”, diz ele.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 43

“Eu disse que ia te proteger. Eu prometi mantê-la segura.


Você era meu mundo, mesmo que eu não fosse seu.”

Seu corpo treme de emoção quando envolvo meus braços em


sua cintura, descansando minha bochecha em sua marca de
nascença.

“Acordei cedo naquela manhã, antes do sol. E observei você


dormir. Tudo que eu queria era te pegar em meus braços e te levar
comigo. Eu queria perseguir a escuridão onde poderíamos nos
esconder sob as sombras de um milhão de sois. Se você podia
transcender o tempo, por que não poderíamos pará-lo? Por que
nosso amor não poderia ser imortal?”

“Griff...” Ela geme.


Eu não quero machucá-la. Eu quero amá-la. Mas tirei outra
vida e a minha nunca mais será a mesma. Para nós, para vivermos
juntos, esse fardo tem que ser dividido entre nós dois. Vou levar
para o meu túmulo. Ela vai levar para o dela. E nós dois
deixaremos isso para trás nesta vida. Não deixaremos segredos
entre nós.
Temos que ser tudo ou nada.

“Jett costumava ser das Forças Especiais. Ele tinha certas


habilidades e conhecimentos que compartilhava comigo. Eu não
tenho uma única arma. Não precisei de uma. Nada a esconder.
Menos responsabilidade. Bati na porta de Doug enquanto

JEWEL E. ANN
bloqueava o olho mágico com a minha outra mão enluvada. Ele
era destemido, como todos os idiotas são, e abriu a porta.”

“Mas que por...”


Eu o empurrei para dentro, fechando e trancando a porta atrás
de mim.

“Dê o fora daqui antes que eu chame a polícia.”

“Morgan Daisy Gallagher.”

Ele estreitou os olhos, dando passos para trás até suas pernas
baterem no sofá.

“Você a matou?”

“Eu não sei do que você está falando?”


Meus lábios se contorceram de lado. “Estou com uma agenda
apertada hoje. Apenas me delicie. Será menos doloroso se você
fizer.”
“Acha que vai me bater de novo?”

“Deus, não.” Balancei a cabeça, dando um passo mais perto.


“Você vai se enforcar.”
Ele soltou uma risada nervosa. “Vá se foder.”
“A única questão é… por quê? Hmm… Você acha que é a
cicatriz em seu rosto que faz você parecer assustador pra caralho?
É possível que um dia você tenha acordado e não pudesse mais se
olhar no espelho? Talvez por pura raiva e insanidade
autodestrutiva você tenha aberto a cicatriz. Uma limpeza do seu
passado, seus pecados. E então você se enforcou.”

Eu me aproximei.
Ele caiu de volta no sofá.

“O que você quer? Isso é sobre a minha vizinha propensa a


acidentes?”

JEWEL E. ANN
Balancei a cabeça. “Eu quero saber sobre Morgan Daisy
Gallagher. Eu quero saber sobre essa cicatriz no seu rosto.”

“Não é da sua conta.”


“Quão doente é você?” Eu me movi em direção a sua cozinha.
“Estamos falando de partes do corpo em seu freezer?”

Ele pulou do sofá e veio até mim. Eu o joguei contra a parede.


Não forte o suficiente para deixar uma marca, apenas forte o
suficiente para contê-lo e colocá-lo onde eu o queria, onde meu
domínio sobre ele controlava todo o oxigênio em seu cérebro.

“A cicatriz?” Aumentei a pressão, usando meus braços onde


não deixariam uma marca. “Um... dois... três...”
Ele se debateu. Parei apenas o suficiente para lhe permitir uma
inspiração respiração rápida.

“A cicatriz? Um... dois... três...” Eu solto um pouco.


Fizemos isso várias vezes até ele falar.

“Ela me cortou...” Ele tossiu. “Então eu a cortei.”

“Onde?”
Ele tossiu. Apliquei pressão novamente. “Um... dois... três...”

Mais tosse quando eu soltei. Sua mão foi de agarrar meu braço
imóvel para desenhar uma linha invisível em seu peito. “Eu a cortei
com o mesmo pedaço de metal que ela usou para me cortar...”

“ONDE?” Minha paciência diminuiu.

“A-aqui.” Seu dedo pressionou as costelas e subiu.

A marca de nascença Ele desenhou o local exato da marca de


nascença. Minha mandíbula ficou mais tensa. “Quantas vezes?”

Mais tosse. Mais pressão até que ele agarrou meu braço
novamente.

“Quantas meninas? Quantas? Última chance antes que eu


corte a sua maldita cara.”

JEWEL E. ANN
“Eu... não sei.”
Fechei meus olhos. “Eu não sei” significava que havia muitas.
Demais para contar. Não abri meus olhos novamente. Meus braços
aplicaram mais pressão. Eu contei.
Ele se debateu.

Precisava dele inconsciente, não morto.

Quando seu corpo relaxou por dez segundos. Eu soltei, o


coloquei no chão e peguei o torniquete de dentro do meu casaco. Fiz
nós deslizantes nas duas extremidades da corda – uma para a
cabeça, outra para a maçaneta da porta – e o levantei para enforcá-
lo. Posicionei um banquinho por perto. E saí.
Sem faca.

Nenhuma arma
Nenhum sinal de ferimentos ou uma luta.
Então dirigi para o oeste. Deixando todo o meu maldito mundo
em Madison. Mas…
Beijo sua marca de nascença novamente. E de novo. E de
novo. “Você estava segura.”

“Griff...” Meu nome sai do peito dela.


“Eu acreditei em você… noventa e nove por cento. Mas antes
de tirar a vida de um homem, eu precisava saber com total
certeza.”

Eu a abraço enquanto ela chora. Não posso imaginar como


deve ser ouvir detalhes de sua própria morte. Então... eu apenas
a abraço.

Depois de longos minutos, suas respirações ofegantes e


soluços bruscos desaparecem para uma quietude silenciosa. Ela
cobre meu rosto, forçando-me a olhar em seus olhos vermelhos e
as bochechas manchadas de lágrimas. “Eu a deixei ir.”

JEWEL E. ANN
Eu aceno e viro minha cabeça para beijar o interior de seu
pulso.

“Eu o deixei livre.”


“Eu sei”, digo com meus lábios saboreando sua pele macia.
Se ela não tivesse deixado Daisy e Nate livres, ela não estaria
aqui.

“Mas meu coração... nunca deixou você.”

Meu olhar encontra o dela, encarando enquanto eu me


contenho. “Eu sei.”

Ela sorri. “Tudo.”

Eu olho.
“Você disse que somos tudo ou nada.”

Eu sorrio. “Tudo.” Então pego uma camiseta limpa e coloco


sobre a cabeça dela.

“É um pouco grande.” Ela aperta a frente e leva ao nariz. “Mas


cheira a Griffin.”

Sorrio. “É uma roupa limpa.”


Ela encolhe os ombros.

Pego a mão dela. “Vamos, Samantha. Vamos pegar um pouco


de comida.”

Ela se afasta na direção oposta. Eu paro.


Sua expressão fica séria novamente. “Você tirou uma vida.”

Eu tirei uma vida.


E enquanto preciso que ela compartilhe um pouco do fardo,
nunca direi a ela que todos os dias pelo resto da minha vida eu
vou pensar sobre como é ser juiz, júri e executor. Eu nunca direi
a ela que não importa o quanto ele merecesse morrer, é impossível

JEWEL E. ANN
matar alguém sem deixar um pedaço da sua própria alma para
trás.

“Eu salvei uma vida. Muitas vidas.”


Eu digo isso a mim mesmo todos os dias também. Eu tenho
que pensar isso. Tenho que acreditar.

“Quantos? Quantas você acha que ele matou?”

Eu dou de ombros. “Eu não sei.”

“Por quê?” Ela sussurra.

Eu não respondo. Sei que sua pergunta é retórica. As pessoas


não sabem explicar exatamente o que move um serial killer.

“Ele sempre teve mulheres indo e vindo de seu apartamento.


Presumi que eram apenas prostitutas.”

“Talvez fossem. Pessoas como ele não matam todos com quem
se associam. Pense nos serial killers fodidos que tiveram esposas
e filhos.”

“Então como ele escolhe? Por que Daisy? Por que Erica?”

Eu sacudo minha cabeça. “Realmente não sei. Seu palpite é


tão bom quanto o meu. Ele estava claramente chateado com Daisy
por cortar seu rosto. Ele a sequestrou? Quanto tempo ela ficou
perdida antes de encontrarem seu corpo? Será que ela cortou o
rosto dele frustrando outros planos que ele tinha para ela? Ele era
doentio, porra.”
“Outros planos?”

“Vamos deixar isso para lá. Não importa.”

Ela puxa a mão da minha, abraçando-se. “Você acha que ele


fez coisas com ela ou que estava planejando isso?”
Esfrego a parte de trás do meu pescoço. “Não importa. Não
merece nossos pensamentos.”

JEWEL E. ANN
“Como você pode dizer que isso não importa? Como você pode
acreditar que eu era ela, e ainda assim dizer que não importa se
aquele bastardo doente fez coisas impensáveis com ela – comigo.”

Seguro minha língua por alguns segundos. Ela está aqui.


Sozinha. Ela se afastou de Nate e daquela vida. Ela se afastou do
passado. Mas ela está certa. Sempre estará com ela, logo abaixo
da superfície.
Assim como eu sempre pensarei no corpo sem vida de Doug
pendurado em um laço. E ela sempre pensará em morrer
tragicamente.

“Ele está morto. Você não pode mudar o que aconteceu.


Então isso não importa.” Eu pego seu rosto e me inclino até meu
nariz tocar o dela, até que compartilhamos o mesmo fôlego.
“Vamos arcar com as cargas um do outro para sempre. Mas para
termos tudo, os fardos têm que viver em silêncio. Nós nunca
podemos lhes dar uma voz.” Eu fecho meus olhos. “E eu quero
tudo com você.”

Ela se inclina para me beijar. Eu me afasto para trás,


liberando-a.

“Vamos viver no agora. E agora eu quero comida.” Eu pego a


mão dela novamente e a conduzo até a porta.

“É Swayze.”
Eu abro a porta e lanço um olhar confuso para ela.

“Não Samantha.”

Eu sorrio. “Você tem certeza?”


Ela revira os olhos. “Sim. E o meu banco também. Você me
deve dinheiro das compras.”

“Vou cuidar disso mais tarde.”

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 44

Depois que a corrida termina, acabo sendo empurrada para


o corredor com o resto da multidão. Subindo na ponta dos pés,
tento ver Griffin. Ele está bem dentro da porta, conversando com
alguns de seus amigos.
Em um suspiro derrotado, vou para as escadas e volto para
o meu apartamento. São quase dez. Estou emotiva e fisicamente
exausta.
Depois que lavo o rosto e escovo os dentes, levanto a camisa
e olho meu reflexo no espelho. Ele me cortou com o pedaço de
metal que eu usei para cortá-lo. Agito minha cabeça.
“Inacreditável”, eu sussurro.

Os investigadores provavelmente descartaram aquilo como


um corte do cais ou do barco em minha luta. Eu não sei. Mas todo
esse tempo estive com meu passado estampado no peito.
Rastejo para a cama. No segundo em que a luz se apaga, ouço
uma batida na minha porta.

“Mesmo?” Eu jogo as cobertas e acendo a luz.

Nenhuma surpresa, ou talvez a melhor surpresa da minha


vida, Griffin está do outro lado do olho mágico. Abro a porta.

Ele inspeciona minha camiseta de dormir, que por acaso é


sua. “Bela camiseta.”

“Acho que sim.”

JEWEL E. ANN
Ele caminha na minha direção. Eu recuo. A porta se fecha
atrás dele. Ele a tranca.

Levanto uma sobrancelha. “Você vai ficar?”


Griffin trocou sua calça jeans e botas por shorts de ginástica
e tênis de corrida desamarrados, sem meias. “Você quer que eu
fique?” Ele dá outro passo em minha direção.
Desta vez eu não recuo. “Quer rastejar debaixo dos lençóis
comigo e se esconder durante a noite?” Eu dou de ombros. “Não
porque temos que fazer isso... só porque queremos?”

Ele tira a camisa. Eu abandono a minha. Ele tira os tênis e


olha para mim com expectativa. Meus olhos percorrem seu peito,
voltando para encontrar seu olhar novamente quando ele limpa a
garganta.

“Calcinha. Fora.”
“Você ainda está vestindo duas peças. Eu somente uma.”

“Eu realmente ainda tenho duas peças de roupa?”

Claro... que ele não está usando cueca debaixo desse short.
Eu esfrego meus lábios. Ele ainda não beijou meus lábios. Já
faz sete meses. Estou morrendo. É um replay brutal de quando
começamos a namorar.
“Você está brincando comigo.”

Prendendo o lábio inferior entre os dentes, ele me inspeciona


por alguns longos segundos. “Eu estou?”

“Do mesmo jeito que brincou comigo no nosso terceiro


encontro.”
“Ah... nosso terceiro encontro.” Ele sorri. “Foi realmente
muito bom, pelo que eu me lembro.”

Eu aceno, odiando a onda de insegurança. Quantos


encontros ele teve com Ginny? Três? Mais de três?

JEWEL E. ANN
Não é da minha conta.
Ele vai me comparar com ela agora? Ela era melhor na cama?

Não é da minha conta.

Eu odeio quando a merda não é da minha conta, mas ainda


preciso saber.

“Tudo”, diz ele.


Minha mente se recupera de volta ao presente.

Ele caminha na minha direção. Eu volto a recuar. Fazemos


isso até que a parte de trás das minhas pernas bate na cama.

“Eu disse que temos que ser tudo ou nada. Não há meio para
nós. Para ser tudo...” Ele coloca meu cabelo atrás da minha orelha.
Eu estremeço.

“Tudo… Isso significa que aceito seu passado e você aceita o


meu. E esse passado inclui os meses em que nos separamos.”

Como ele pode ler minha mente?

“Eu parti. Você ficou. E a vida continuou para nós dois.”


Eu sei o que ele está implicando. Ele achava que tínhamos
terminado. Eu também. Mas ainda dói.

“Eu não fiz sexo com o Nate.”


A tensão se instala ao longo de sua testa. “Você não tem que
me dizer isso.” Seus dedos roçam meu braço.

“Eu preciso que você saiba.”


“Eu já sabia.”

“Você...” Meu queixo cai e eu zombo com descrença quando


me sento aos pés da cama, pegando um cobertor para segurar
sobre meu peito exposto. “Como você poderia saber? Você ficou
em contato com o Nate pelas minhas costas? É isso que ele quis

JEWEL E. ANN
dizer quando disse que você disse para ele ficar de olho em mim?
Foi assim que ele soube que você foi quem matou Doug?”

Griffin solta uma respiração pesada pelo nariz. “Antes de sair


da cidade, fiz uma visita a ele. Sim, eu disse a ele para ficar de
olho em você. Eu disse para cuidar de você. E então disse a ele
que você estava segura.”

“Você disse a ele que matou Doug. Porque ele sabia. Foi assim
que eu soube.”

Griffin acena com a cabeça.

“O que ele disse? Você contou a ele que havia matado um


homem. Ele poderia ter denunciado você. Você poderia ter sido
preso por assassinato.”
Griffin balança a cabeça. “Eu sabia que ele não faria tal coisa.
Nós dois queríamos a mesma coisa, você em segurança.”
“Nada? Ele não disse nada? Não fez nenhuma pergunta?

“Ele disse ‘obrigado’. E antes de eu sair pela porta, ele


perguntou por que estava deixando você.”
Deus, meu coração dói ao ouvir isso. “O que você disse?” Eu
sussurro.

As pontas de seus dedos acariciam o ângulo da minha


mandíbula. “Eu disse que você não era minha. E a dor no rosto
dele me disse que você também não era dele.”

Você não é minha para beijar.

Minha cabeça se curva com vergonha. Uma ironia tão


dolorosa. Eu fui amada por dois homens, e nenhum deles sentia
que era digno, quando a verdade é que eu sou a única que não é
digna desse tipo de amor deles.

Em outra vida, deixei Nate ir quando deveria ter lutado por


nós. Eu fui até a propriedade abandonada quando ele havia me
dito para não ir. Por quê? Eu não sei. Posso nunca saber o motivo.
Mas por mais de duas décadas, ele viveu com a culpa.

JEWEL E. ANN
“Eu precisava saber… tudo. Como Daisy morreu. Como ela
se sentia. Por que foi para a propriedade sozinha. O desconhecido
me consumia como um câncer. Só isso…” faço uma careta. “Esta
necessidade enervante. Uma droga. Um vício mais forte que
qualquer coisa.”

“O que mudou?”

Meu olhar avança para encontrar o dele. “Você.”


Seu rosto enruga com confusão.

“Doug foi a força motriz. Mas quando descobri que ele estava
morto e eu não podia ligar ou mandar uma mensagem para você,
me sentia tão vazia. Eu me senti morta.” Fui virando minha cabeça
lentamente. “Não me importava mais. O vício foi embora. O medo
foi embora. Você foi embora. Então eu apenas... parei.”

“Parei de ver a Dra. Albright. As visões na minha cabeça não


passavam de sussurros, ruído branco. Elas não mais alimentavam
uma necessidade – uma curiosidade. De certa forma, morreram
no dia em que fui ao apartamento de Doug.”

Eu pisco, liberando uma lágrima solitária. “Deixei parte de


mim – ela – morrer com ele. E por um tempo eu me senti tão
solitária e cheia de raiva. Raiva direcionada a Daisy por sequestrar
minha vida. Raiva de você, por partir. Raiva de Nate por tudo –
estar em busca de uma babá. Me contratar. Apenas... tudo.”
Sorrio. “Estava tão brava. Mas ali estava Morgan. Ela era
inocente. E meu amor por ela é incrível. Então, depois de um
tempo, pensei – tudo bem, vida, é aqui onde eu deveria estar? Aqui
com Nate e Morgan?”

Meu olhar se desloca para o lado, tentando descobrir como


explicar como cheguei de lá até aqui.

“E qual foi a resposta?”


Eu resmungo. “A resposta de Nate foi que eu não era dele.
Para ele, eu nunca poderia ser dele quando outro homem matou

JEWEL E. ANN
para salvar minha vida. Mas honestamente... acho que ele sabia
quem eu era mesmo quando eu não sabia.”

“E quem é você?”
Inclinando-me para frente, pressiono meus lábios no
abdômen de Griff. Minhas mãos soltam o cobertor ao chão
enquanto me levanto devagar. Fechando meus olhos, deixo meus
lábios encontrarem o mesmo caminho que tomaram tantas vezes
antes, até o seu torso, seguindo minhas linhas favoritas de
músculos e tinta. Eu não preciso ver; senti isso um milhão de
vezes.

“Pergunte-me de novo”, murmuro sobre sua clavícula antes


de levantar na ponta dos pés para beijar seu pescoço.
Seus dedos mergulham no meu cabelo enquanto ele solta um
gemido baixo. “Quem é Você?”
Meus lábios saboreiam o ângulo bem delineado da sua
mandíbula enquanto meus braços envolvem seu pescoço,
pressionando meu peito nu ao dele.

“Novamente...” sorrio contra sua bochecha.


Ele segura meu cabelo com uma mão enquanto a outra mão
desliza pelas minhas costas, agarrando minha bunda.
Resmungo com a dor do seu aperto firme.
Ele sorri com os dentes cerrados. “Me responda.”

Mordo seu lábio inferior, puxando-o com força até que ele
geme e se encolhe. “Você sabe a resposta.”

Seus olhos se estreitam. “Samantha?”

Eu tento prender seu lábio inferior novamente com os dentes.


Ele se afasta, aumentando a pressão de seu aperto na minha
bunda. “Swayze?”

JEWEL E. ANN
Sacudo minha cabeça. Nossos olhares se fixam e a
brincadeira morre. Espero que ele veja que estou me abrindo para
ele por causa de quem eu sou.

Por favor, me veja...


“Quem?”

Lágrimas enchem meus olhos. Eu preciso que ele veja isso.


Eu preciso que ele diga. Eu preciso que ele acredite. “Griff...” Meus
lábios sussurram sobre os dele.

Seus olhos ficam vermelhos quando olho para cima,


mantendo meus lábios pairando sobre os dele.
Ele engole em seco. “Minha…” Essa palavra se divide em
outras. “Você é minha.”

“Sua.”
Ele me beija.
É o ponto final.

Uma promessa.

Uma afirmação. Nesta vida, meu coração – minha alma


pertence a Griffin.
Ele me abaixa para a cama. “Eu não faço sexo desde
dezembro. Espero lembrar como isso funciona.”
Suas palavras me matam. Quase tanto quanto aquele sorriso.
Eu não perguntei. Não era da minha conta. Mas quando um
homem ama uma mulher como Griffin me ama, ele não deixa
espaço para dúvidas ou insegurança.

Ele se eleva sobre mim em suas mãos e joelhos. E me sinto


protegida. Segura. E amada.

Griffins (elfos) são criaturas míticas – metade águia, metade


leão. Acredita-se que sejam leais e protetores de tesouros e posses
inestimáveis.

JEWEL E. ANN
Quais as probabilidades de encontrar um cara da mercearia
e um elfo?

Bem feito, o destino. Parabéns.

JEWEL E. ANN
CAPÍTULO 45

Já passou um ano desde que consegui minha segunda


chance. Eu não estraguei tudo. Foi em uma viagem de volta para
casa para visitar nossa família em Madison. Meus pais planejaram
jantar no convés, jogos no quintal e tomar banho no final do verão,
antes de Swayze iniciar seu primeiro ano oficial como professora
de período integral na terceira série.
“Não se desvie. Sua mãe precisa apenas de três coisas, e
proteína em pó não é uma delas.” Swayze me deu uma cutucada
lúdica com a cesta.

Eu estreitei meus olhos para ela, mas meu sorriso brotou e


arruinou minha carranca.

Nós pegamos morangos, pães de hambúrguer e limonada. Dei


um telefonema falso enquanto passávamos pela fila da caixa
registradora número três. Ela carregou os itens na esteira.
Entreguei-lhe algum dinheiro e disse alguns okays e uh-huhs para
absolutamente ninguém. Quando ela deu um passo à frente depois
que a pessoa na nossa frente terminou de pagar, eu pisquei para o
caixa.

O caixa piscou para alguém no serviço ao cliente. Enquanto


Swayze mexia em seu telefone, peguei um anel – o anel – e me
ajoelhei.

A pessoa no serviço ao cliente falou no alto-falante, lendo uma


folha de papel que lhes dei no dia anterior. “Atenção compradores,
há um homem de joelhos no caixa três.”

JEWEL E. ANN
A cabeça de Swayze subiu para ver o número do caixa, e então
a atenção dela pousou em mim, segurando o anel.

A pessoa do serviço ao cliente continuou: “Alerta de pedido de


casamento épico. Repito, alerta de pedido de casamento épico.
Griffin Calloway está prestes a pedir a Swayze Opal Samuels em
casamento.”

Swayze ficou vermelha como um carro de bombeiros, talvez


por causa do alto-falante, talvez pelo fato de eu ter dado seu nome
inteiro. Sim, Opal em homenagem a sua avó, como se Swayze não
fosse impressionante o bastante. Suas palavras, não minhas.
Iniciais SOS.

“Ela vai dizer sim? Vamos esperar e ver...” O orador faz uma
pausa.
“Você quer se casar comigo, Swayz? Eu quero tudo e quero
com você.”
Ela ficou lá com uma mão sobre a boca e a outra sobre o peito.

E então a coisa que eu não poderia planejar... aconteceu. Um


dos compradores na fila atrás de nós começou a cantar. “Diga sim.
Diga sim…” e todos os outros entraram na onda.
Tão. Perfeito. Porra.
Eu não acho que ela poderia ter falado nem se quisesse, mas
ela concordou. Então coloquei o anel no dedo dela. A multidão
aplaudiu.

A pessoa do atendimento ao cliente voltou no alto-falante. “Nós


temos um sim! Esta é a proposta mais épica na história das
propostas. Nada estragou esse momento, senhoras e senhores.
Parabéns, Griffin e Swayze.”

Eu fiquei de pé. Ela jogou os braços em volta de mim.


“Eu fiz tudo certo desta vez? Esta é a proposta que você vai
contar aos nossos filhos e netos?” Murmurei em seu ouvido.

JEWEL E. ANN
Ela ainda não conseguia falar, então apenas balançou a
cabeça meia dúzia de vezes.

“Eu tenho algo para você. Na verdade, é um presente do seu


noivo”, diz minha mãe.

Eu me viro, alisando minhas mãos sobre o rico tecido branco


e sedoso do meu vestido de casamento. “Griffin me deu um
presente?” Eu murcho um pouco. Não comprei nada para ele.

Ela ajusta meu delicado colar de gota de diamante. “Mas sua


maquiagem está perfeita. Estamos a quinze minutos de você
entrar pelo corredor. Eu preciso que você aguente firme.”
“Por que eu não aguentaria firme?”

“Apenas...” Ela empurra um maço de lenços na minha mão.


“Faça o seu melhor. Vou me preparar para ir me sentar.”

Sorrio. “Você não pode estar sentada até que me acompanhe


pelo corredor.”

Ela sorri e abre a porta do quarto. “Outra pessoa foi


convocada para entregar sua mão.”

Eu me inclino para o lado para espiar o corredor. Quem entra


é um anjo de pouco mais de dois anos em um vestido vermelho
com pequenas flores brancas ao redor do pescoço.

Aperto os lenços na minha mão. Desculpe, mamãe, vou


precisar deles. Faz mais de um ano desde que eu a vi, exceto em
fotos.

“Morgan.”

Ela para, claramente, não mais me reconhecendo, e se vira.


Então só para arrancar TODAS as lágrimas, Nate aparece no

JEWEL E. ANN
canto. Eu não vi ou falei com ele desde que deixei o cemitério. Ele
me envia fotos de Morgan. Apenas isso.

“Ouvi dizer que você precisava de um braço para te levar pelo


corredor. E também ouvi que você não tinha uma florista. Isso não
podia ficar assim.”

Pressiono minha mão fechada na boca, lenços prontos. A


aposta mais segura é simplesmente não respirar para evitar o
choro.

Nate está usando um terno preto e uma gravata vermelha que


combina com o vestido de Morgan. Olhos azuis fazem uma
inspeção completa em mim. E aquele sorriso... é perfeito.

“Esta vida fica muito bem em você.”


Sorrio, mas sai como um pequeno soluço.

Morgan levanta as mãos para cima. Nate a pega no colo. Ela


lhe dá aquele olhar de adoração, o que eu sempre quis que fosse
dele.

“Oi.” Eu encontro uma palavra que posso dizer sem


desmoronar.
“Oi.” Ele sorri.

A familiaridade com ele não me assombra mais. Ele viverá


para sempre dentro da minha alma, ao lado de Daisy. Ele sempre
saberá o quão longe Griffin foi para me conceder esta vida.

Nate e Morgan são minha família. Eles deixaram suas


impressões digitais por todo o meu coração. Eu me sinto
incrivelmente honrada por ter sido tocada por eles.
“Diga-me que você é ainda tão feliz quanto parece.”

“Nesta vida...” sorrio “...tenho certeza de que nenhum homem


me fez tão feliz quanto Griffin.”

Nate assente. Eu não vejo nada além de amor verdadeiro por


mim – pela minha vida.

JEWEL E. ANN
“Obrigada.” Eu me aproximo e me estico para beijar a
bochecha de Morgan e depois a bochecha de Nate.

“Pelo quê?” Ele pergunta.


“Por não me deixar ser sua.”
Os lábios de Nate se abrem num pequeno sorriso. “Eu sabia
que você merecia um namorado de verdade.”

Um namorado de verdade.

Eu não posso prever o futuro. E não quero, mas tenho certeza


de que essas três palavras nos unirão pela eternidade.

“Então, nós estamos indo amanhã”, diz ele.

“Para Disney?”
Ele ri. “Não. Para o mundo.”

Agora eu sorrio. “Isso é um pouco amplo. É o que diz nas suas


passagens de avião?”

“Quando Jenna estava grávida de Morgan, concordamos em


fazer uma pausa em nossas carreiras e levá-la ao redor do mundo.
Deixá-la aprender com a experiência. Ser um cidadão do mundo.
Imersão cultural.”
“Uau... então você...”

Ele concorda. “Estou levando Morgan para experimentar a


vida.”

Meu sorriso parece que poderia quebrar meu rosto. “Estou


sem palavras. E realmente orgulhosa de você por fazer isso sem
Jenna.”

“Parece o certo.” Ele beija a cabeça de Morgan, o que a leva a


abraçar seu pescoço como se estivesse condicionada a devolver
cada pedacinho de amor que ele lhe dá – multiplicado por cem.

“Pronta?” O cerimonial de casamentos espia no quarto,


segurando uma pequena cesta cheia de pétalas vermelhas e

JEWEL E. ANN
brancas para Morgan em uma mão e meu buquê de flores
vermelhas na outra mão.

Eu me viro e faço uma última inspeção no espelho, olhando


para cima para ver o reflexo de Nate e seu enorme sorriso. Depois
de consertar minha maquiagem e batom, me viro. Ele oferece seu
braço.

“Griffin pediu para você fazer isso? Sério?”


“Sim.”

Cara da Mercearia... Eu te amo até as infinitas profundezas


do meu coração.
O evento íntimo nos espera no santuário ao pôr do sol.

Velas.
Um harpista e um flautista.

As irmãs de Griffin caminham pelo corredor com seus


vestidos pretos, segurando buquês brancos.

Em seguida vem Morgan. Ela anda surpreendentemente


devagar, distraída por todos que olham para ela, mas os pais de
Nate estão na fila da frente, persuadindo-a a completar sua
jornada.

Ela chega até a frente e isso traz lágrimas aos meus olhos.
Mas as pisco para longe.

A marcha nupcial começa e todos ficam de pé – trazendo


lágrimas aos meus olhos.

Mas as pisco para longe.

Lá está ele. Meu noivo. E parece um pedaço de mau caminho


naquele smoking, mas é o jeito que está olhando para mim que é
algo além da beleza... indescritível.

JEWEL E. ANN
Nate me leva até o altar e beija minha mão como um
verdadeiro cavalheiro antes de me entregar. Lágrimas ardem nos
meus olhos.

Mas as pisco para longe.


Eu olho para os pais de Nate e minha mãe. Mais lágrimas
ameaçam minha maquiagem.
Mas as pisco e entrego meu buquê a Hayley.

Griffin e eu nos encaramos, de mãos dadas. Antes de o


ministro começar a falar, Griff se inclina para frente e sussurra
em meu ouvido: “Mal posso esperar para saber do seu dia, Swayz”.
Lágrimas transbordam. Ele puxa um lenço do casaco e seca
minhas bochechas.

Há um “oh” audível entre alguns amigos e familiares. Tenho


certeza de que estão se perguntando o que ele sussurrou no meu
ouvido.

Eu gesticulo com a boca, sem emitir som, “Eu te amo, Cara


da mercearia.”
Há os votos.
Troca de anéis

Mais lágrimas.
E a apresentação do Sr. e da Sra. Griffin Calloway.

Há uma recepção cheia de boa comida, melhores amigos e a


melhor família.

O DJ anuncia que é hora da primeira dança. Griffin queria


escolher a música e queria que fosse uma surpresa. Eu só sei que
vai ser algo de Dirty Dancing, e nós vamos ter a nossa primeira
briga oficial como marido e mulher antes de sairmos da recepção.

“Não me olhe com essa cara, Sra. Cara da Mercearia


Calloway”, diz ele, pegando minha mão e levando-me até a pista
de dança.

JEWEL E. ANN
Ele me puxa para seus braços e pressiona seus lábios no meu
ouvido. “Vamos fazer uma vida inteira de memórias.”

E então a música começa: “Boxes” do Goo Goo Dolls.


Cada palavra me toca profundamente e eu não tenho certeza
se Griffin imaginou isso quando escolheu essa música.

“Acabe comigo”, diz Griffin, tirando o paletó e a gravata, de


pé diante de mim no meio de uma suíte de hotel ridiculamente
cara.

Eu olho para ele de um jeito curioso.

Ele sorri. “Você já me tirou o fôlego um milhão de vezes hoje.


Agora, aqui estou eu, assim como disse que estaria – admirando
o fato de que a mulher mais gentil e mais bonita já disse “sim”
para mim.”
Aproximando-se, ele me beija lentamente enquanto suas
mãos aproveitam para lentamente, desabotoar e abrir meu
vestido.
“Eu gosto disso ‘desembrulhar o melhor presente que já
recebi’.”

Ele gosta de devolver todas as minhas palavras. Ele fez isso


na mercearia quando me pediu em casamento, e está fazendo isso
hoje à noite.

Sua respiração fica presa quando meu vestido cai aos meus
pés, deixando-me com nada além de uma tanga branca de renda
e cetim, salto alto e meu único colar de diamantes.
“Morto”, ele sussurra. “Você acabou de me dar o meu último
suspiro.”

Meus dedos mexem nos botões da camisa dele. Eu amo que


depois de todo esse tempo juntos, ainda posso tirar o fôlego de
Griffin, e ele pode desvendar meu nervosismo com antecipação do
que está por vir.

JEWEL E. ANN
Só falta uma coisa – a única coisa para completar o meu dia.
Diga!

Depois que sua camisa está no chão ao lado do meu vestido


e minhas mãos começam a abrir sua calça, ele finalmente diz.
“Então, me conte como foi o seu dia, Swayz.”

JEWEL E. ANN
EPÍLOGO

Um século depois, em um bar em Milwaukee…

“Aí vem o problema.” Meu amigo Adam cutuca meu braço.

“Tenho certeza que não estou procurando problemas.” Eu


recuo minha cerveja enquanto olho a loira batendo a neve de suas
botas perto da porta.
É a terceira noite seguida que ela aparece neste bar
parecendo uma fruta proibida enquanto descarta todos os caras
na sala que se atrevem a sorrir para ela.
“O de sempre?” O garçom pergunta enquanto ela se aproxima
do banquinho ao meu lado, seu joelho roçando o meu.

Eu quase engasgo com a minha cerveja. Ao mesmo tempo,


ela faz uma pausa, respirando fundo.
“Cara, você está bem?” Adam pergunta, batendo a mão nas
minhas costas.
Aceno com a cabeça, mantendo meu olhar fixo em ricos olhos
castanhos, alguns tons mais escuros do que a minha cerveja
favorita.

“A gente se conhece?” Ela pergunta, estreitando os olhos um


pouco.
“Merda. Ela está falando com você”, Adam tenta dizer
discretamente do meu outro lado.

Eu não fui exatamente um santo durante os meus dois


primeiros anos de faculdade. É possível que tenha feito sexo com
mais mulheres do que minha lembrança embriagada pode
recordar. Mas estou me chutando minha bunda mentalmente por

JEWEL E. ANN
não lembrar dela. A breve cutucada de seu joelho contra a minha
perna transmitiu uma calorosa onda de familiaridade que
percorreu meu corpo inteiro.

É difícil explicar porque nunca senti isso antes.


“Você parece...” Eu tento não estragar tudo. “Realmente
familiar. Mas vai ter que me desculpar, esta é a minha quarta
cerveja da noite. Estamos comemorando o fim das provas finais.”
Sua mão esfrega o joelho algumas vezes. Sim, ela também
sentiu, e não para de me encarar. Não que eu me importe.

“Charlotte.” Ela estende a mão.


“Gol!” Adam sussurra atrás de mim.

Idiota completo.
Eu sacudo sua mão. Nós dois tomamos o mesmo fôlego
novamente, o que deixa meus pulmões em espasmos.
O que está acontecendo?

“Mathias”, engasgo com o meu próprio nome, caralho.

Ela continua apertando minha mão lentamente, seu olhar


observando maravilhada as nossas mãos.
Adam continua cutucando minhas costas, fazendo
comentários rudes. Seu nariz já feio está prestes a receber meu
punho.

O barman coloca uma taça de vinho na frente de Charlotte.


Ela desliza a mão para fora da minha – lentamente, até que as
pontas dos nossos dedos se tocam por mais alguns segundos
antes que a conexão seja interrompida.

Quando ela se vira para tomar um gole do seu vinho, eu juro


que ela sussurra: “Uau”.

Uau está certo. Que raios foi aquilo?

JEWEL E. ANN
Depois que Adam se cansa de olhar para as minhas costas,
ele me dá um rápido “até mais tarde, cara”.

Eu giro meu corpo, dando toda minha atenção para


Charlotte, com seu cabelo loiro bagunçado e olhos profundos de
cor de cerveja.

“Então me fale sobre você, Charlotte?”


Parte de mim espera a mesma dispensada que ela deu a todos
os caras nas últimas três noites. Em vez disso, ela desloca seu
corpo para o meu, colocando nossas pernas juntas naquele espaço
apertado.

Um milhão de faíscas que estão no mundo disparam através


do meu corpo, e posso ver pela emoção em seu rosto que ela
também sente isso. Ela quer me tocar. É como se precisássemos
nos tocar.
Que diabos?

“Eu larguei meu namorado semana passada. O quarto cara


que larguei em dois meses. Eles são sempre “isso é demais” ou
“não é suficiente daquilo”. Você sabe o que eu quero dizer?”
“Como as garotas que pensam que são tão bonitas que não
conseguem parar de se olhar em cada janela ou espelho? Ou
garotas que são tão inseguras de que nem olham dentro dos seus
olhos. Ou a melhor de todas… As que têm dez camadas de
maquiagem no rosto e toda vez que sorriem, partes daquilo trinca.
Muito egoístas. Muito inseguras. Muito falsas.”

“Sim!” Ela levanta o copo de vinho como se estivesse pronta


para brindar ao meu discurso terrivelmente degradante sobre as
mulheres. “Eu escolho os caras que estão muito dedicados aos
seus empregos. Muito filhinhos da mamãe, sem cérebro suficiente
para falar sobre qualquer coisa além do tamanho de seus paus e
que não têm a decência suficiente para trazer flores a uma garota
ou demonstrar simpatia quando seu cão morre.”

Eu me encolho. “Lamento pelo seu cachorro.”

JEWEL E. ANN
“Oh...” ela acena com a mão para mim “...meu cachorro não
morreu. Acabei de usar isso para sair de um encontro catastrófico
na semana passada. Mas ele não sabia que meu cachorro
realmente não havia morrido. Onde foram parar as flores e o
cartão demonstrando simpatia?”

Eu rio. Ela definitivamente é um problema.


“Mathias, se meu cachorro morresse esta noite e você
soubesse disso, você mandaria flores, certo?”

Sim. Todo tipo de problema. Por que um problema nunca


pareceu ou se sentiu tão bom?

“Com certeza.”
Seus lábios se retorcem. “Você sabe o que eu preciso?”

Pego minha cerveja, virando os últimos dois goles antes de


bater no bar com um pouco mais de força do que pretendia. “Eu
acho que sei.”

E porra, déjà vu… sei o que ela vai dizer antes que diga,
porque ela disse isso antes e eu já ouvi isso antes.
Ao mesmo tempo, dizemos: “Um namorado de verdade.”

“Eu acho que uma parte de você será minha para amar
em todas as vidas.”

JEWEL E. ANN

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