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Direito Penal

Crimes contra o patrimônio, dignidade sexual, paz pública e fé pública


EXTENSIVO DPE
CURSO RDP
DIREITO PENAL

Atualizado em 10/03/23

SUMÁRIO

DIREITO PENAL ........................................................................................................................................................................................................... 4

1. FURTO ............................................................................................................................................................................................................... 4
1.1 AUMENTO DE PENA – REPOUSO NOTURNO ................................................................................................................................................. 4

1.2 FURTO PRIVILEGIADO ..................................................................................................................................................................................... 5

1.3 FURTO PRIVILEGIADO-QUALIFICADO OU FURTO HÍBRIDO ........................................................................................................................... 6


1.4 ENERGIA ELÉTRICA – EQUIPARAÇÃO À COISA MÓVEL .................................................................................................................................. 7

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
1.5 QUALIFICADORAS DO FURTO (art. 155, § 4º) ................................................................................................................................................ 7

1.6 QUALIFICADORA COM EMPREGO DE EXPLOSIVO ....................................................................................................................................... 10


1.7 QUALIFICADORA DE TRANSPORTE PARA OUTRO ESTADO OU EXTERIOR ................................................................................................... 10

1.8 QUALIFICADORA ANIMAL DOMESTICÁVEL .................................................................................................................................................. 10

1.9 TEORIAS SOBRE O MOMENTO CONSUMATIVO DO FURTO ........................................................................................................................ 12


1.9.1 CONCRETATIO ............................................................................................................................................................................................ 12
1.9.2 ABLATIO ..................................................................................................................................................................................................... 12

1.9.3 AMOTIO OU APPREHENSIO ....................................................................................................................................................................... 12

1.9.4 ILATIO ......................................................................................................................................................................................................... 12


1.10 FURTO/APROPRIAÇÃO CONTRA IDOSO...................................................................................................................................................... 14
2. ROUBO ............................................................................................................................................................................................................ 14

2.1 ROUBO PRÓPRIO .......................................................................................................................................................................................... 14


2.2 ROUBO IMPRÓPRIO ...................................................................................................................................................................................... 14
2.3 VIOLÊNCIA PRÓPRIA (REAL) .......................................................................................................................................................................... 16
2.4 VIOLÊNCIA IMPRÓPRIA ................................................................................................................................................................................. 16
2.5 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA NO ROUBO ............................................................................................................................................... 16

2.6 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA NO ROUBO (2/3) ...................................................................................................................................... 19


2.7 ROUBO QUALIFICADO .................................................................................................................................................................................. 20
ATENÇÃO AO ENUNCIADO DE SÚMULA 582 DO STJ ......................................................................................................................................... 22
2.8 FURTO DE USO .............................................................................................................................................................................................. 22

2.9 ROUBO DE USO ............................................................................................................................................................................................. 22


3. EXTORSÃO ....................................................................................................................................................................................................... 22
3.1 AUMENTO DE PENA NO CRIME DE EXTORSÃO............................................................................................................................................ 24

3.2 SEQUESTRO RELÂMPAGO (§ 3º, art. 158).................................................................................................................................................... 24

4. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO ............................................................................................................................................................... 24


4.1 QUALIFICADORA DO CRIME DE EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO .......................................................................................................... 24

4.2 REDUÇÃO DE PENA PELA “DELAÇÃO PREMIADA” NA EXTORSÃO............................................................................................................... 25


5. EXTORSÃO INDIRETA ...................................................................................................................................................................................... 25
6. CRIME DE DANO ............................................................................................................................................................................................. 25

6.1 DANO QUALIFICADO..................................................................................................................................................................................... 25


7. DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA .......................................................................................................................................................................... 27
8. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA.................................................................................................................................................... 28

8.1 EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE PELO PAGAMENTO ESPONTÂNEO ................................................................................................................ 28

9. ESTELIONATO .................................................................................................................................................................................................. 30

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9.1 TESES JURISPRUDENCIAIS IMPORTANTES SOBRE O CRIME DE ESTELIONATO ........................................................................................... 37
10. RECEPTAÇÃO................................................................................................................................................................................................. 38

10.1 RECEPTAÇÃO PRÓPRIA ............................................................................................................................................................................... 38

10.2 RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA........................................................................................................................................................................... 38


10.3 RECEPTAÇÃO DA RECEPTAÇÃO .................................................................................................................................................................. 38

10.4 RECEPTAÇÃO CULPOSA .............................................................................................................................................................................. 39

10.5 CRIME ANTECEDENTE – INDEPENDÊNCIA TÍPICA ...................................................................................................................................... 39

10.6 RECEPTACÃO DE PRODUTO OBJETO DE ATO INFRACIONAL ..................................................................................................................... 39

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
10.7 RECEPTAÇÃO DE BENS PÚBLICOS (PENA DOBRADA) ................................................................................................................................ 39

10.8 RECEPTAÇÃO QUALIFICADA (EXERCÍCIO DE ATIVIDADE COMERCIAL OU INDUSTRIAL) ........................................................................... 40

11. ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS E RELATIVAS ........................................................................................................................................................ 40


11.1 HIPÓTESES DE INCIDÊNCIA DAS ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS ....................................................................................................................... 40
11.2 HIPÓTESES DE INCIDÊNCIA DAS ESCUSAS RELATIVAS ............................................................................................................................... 41

12. CADASTRO NACIONAL DE PESSOAS CONDENADAS POR CRIME DE ESTUPRO............................................................................................ 42


13. ESTUPRO ....................................................................................................................................................................................................... 42

14. ESTUPRO DE VULNERÁVEL ........................................................................................................................................................................... 43


15. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE ....................................................................................................................................................... 46
16. IMPORTUNAÇÃO SEXUAL ............................................................................................................................................................................. 47

17. ASSÉDIO SEXUAL ........................................................................................................................................................................................... 47


18. ASSÉDIO PROFESSOR-ALUNO ....................................................................................................................................................................... 47

19. REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE SEXUAL (INSERIDO EM 2018) ........................................................................................... 47


20. DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO OU DE PORNOGRAFIA ................ 49

21. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA ............................................................................................................................................................................. 52


22. CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA ........................................................................................................................................................... 52
23. CRIME DE MOEDA FALSA ............................................................................................................................................................................. 53

24. PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA .............................................................................................................................................. 55


25. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO ................................................................................................................................................... 56
26. FALISIFICACAO DE DOCUMENTO PARTICULAR ............................................................................................................................................ 59

27. FALSIDADE IDEOLÓGICA ............................................................................................................................................................................... 60

28. CERTIDÃO OU ATESTADO IDEOLOGICAMENTE FALSO ................................................................................................................................ 63


29.FALSIDADE DE ATESTADO MÉDICO ............................................................................................................................................................... 63

30.USO DE DOCUMENTO FALSO ........................................................................................................................................................................ 64


31.FALSA IDENTIDADE ........................................................................................................................................................................................ 66

QUESTÕES PARA FIXAR ....................................................................................................................................................................................... 70


QUESTÕES PARA FIXAR - COMENTÁRIOS ........................................................................................................................................................... 73

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Crimes contra o patrimônio. Crimes contra a liberdade sexual. Crimes contra a paz pública. Crimes contra a fé
pública.

Agora vamos ingressar nos crimes contra o patrimônio, entre outros.

Vamos começar com furto.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
1. FURTO
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

PENA: reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.

É relevante saber pena mínima e máxima? Em regra, não. No entanto, em alguns crimes é importante a
gente saber. Porque é por intermédio da pena mínima ou máxima que a gente sabe se é cabível ou não
determinado instituto. Ex.: suspensão condicional do processo, transação penal, etc.

COISA ALHEIA MÓVEL E JURISPRUDÊNCIA: A dívida de corrida táxi não pode ser considerada coisa alheia móvel
para fins de configuração da tipicidade dos delitos patrimoniais. REsp 1.757.543-RS, Rel. Min. Antônio Saldanha
Palheiro, Sexta Turma, julgado em 24/09/2019, DJe 07/10/2019.

1.1 AUMENTO DE PENA – REPOUSO NOTURNO


Art. 155 (...) § 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.

A causa de aumento de pena do § 1º do art. 155 do CP (que está topograficamente antes das qualifi-
cadoras), além de se aplicar para os casos de furto simples (caput), pode também incidir nas hipóteses de furto
qualificado (§ 4º)? Temos a seguinte divergência1:

Para o STJ: NÃO. A causa de aumento prevista no § 1º do art. 155 do Código Penal
(prática do crime de furto no período noturno) não incide no crime de furto na sua
forma qualificada (§ 4º). STJ. 3ª Seção. REsp 1.890.981-SP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 25/05/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1087) (Info 738).

Para o STF: SIM A causa de aumento do repouso noturno se coaduna com o furto
qualificado quando compatível com a situação fática. STF. 1ª Turma. HC 180966
AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 04/05/2020.

1 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A causa de aumento do § 1º pode ser aplicada para o furto qualificado?. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/deta-
lhes/944bdd9636749a0801c39b6e449dbedc>. Acesso em: 15/08/2022

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A decisão do STF entende que “não convence a tese de que a majorante do repouso noturno seria
incompatível com a forma qualificada do furto, a considerar, para tanto, que sua inserção pelo legislador antes
das qualificadoras (critério topográfico) teria sido feita com intenção de não submetê-la às modalidades qua-
lificadas do tipo penal incriminador. Se assim fosse, também estaria obstado, pela concepção topográfica do
Código Penal, o reconhecimento do instituto do privilégio (CP, art. 155, § 2º) no furto qualificado (CP, art. 155,
§ 4º) -, como se sabe, o Supremo Tribunal Federal já reconheceu a compatibilidade desses dois institutos. Ine-
xistindo vedação legal e contradição lógica, nada obsta a convivência harmônica entre a causa de aumento de
pena do repouso noturno (CP, art. 155, § 1º) e as qualificadoras do furto (CP, art. 155, § 4º) quando perfeita-

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
mente compatíveis com a situação fática. STF. 2ª Turma. HC 130952, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
13/12/2016.”

Vale lembrar, ainda, que o STJ entende que, para a configuração da circunstância majorante do § 1º
do art. 155 do Código Penal (repouso noturno), basta que a conduta delitiva tenha sido praticada durante o
repouso noturno, dada a maior precariedade da vigilância e a defesa do patrimônio durante tal período e, por
consectário, a maior probabilidade de êxito na empreitada criminosa, sendo irrelevante o fato das vítimas não
estarem dormindo no momento do crime, ou, ainda, que tenha ocorrido em estabelecimento comercial ou
em via pública, dado que a lei não faz referência ao local do crime. STJ. 5ª Turma. AgRg-AREsp 1.746.597-SP,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 17/11/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1849490/MS, Rel. Min.
Antonio Saldanha, julgado em 15/09/2020.2

Dessa forma, para o STJ é irrelevante as vítimas estarem, ou não, dormindo no momento do crime, ou
o local de sua ocorrência, em estabelecimento comercial, via pública, residência desabitada ou em veículos,
bastando que o furto ocorra, obrigatoriamente, à noite e em situação de repouso. STJ. 3ª Seção. REsp
1979989-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 22/06/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1144)(Info 742).

1.2 FURTO PRIVILEGIADO – DECORAR OS REQUISITOS (art. 155, § 2º, CP)


- ser primário (requisito objetivo),
- ser de pequeno valor a coisa furtada (requisito objetivo),
- para que possibilite o juiz a substituir a pena de reclusão pela de detenção,
- diminuí-la de um a dois terços,
- ou aplicar somente a pena de multa.

FURTO PRIVILEGIADO
1) Primariedade do agente 2) Pequeno valor da coisa furtada
O agente (criminoso) deve ser primário. Segundo a jurisprudência, para os fins do § 2º do art.
Primário é o indivíduo que não é reincidente, nos 155, coisa de pequeno valor é aquela cujo preço, no
termos do art. 63 do CP. momento do crime, não seja superior a 1 salário-mí-
nimo.

2CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Para incidir a majorante de repouso noturno basta que a conduta delitiva tenha sido praticada
durante o repouso noturno. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurispru-
dencia/detalhes/d5da28d4865fb92720359db84e0dd0dd>. Acesso em: 15/08/2022

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PRIVILÉGIO DO ART. 155, § 2º, CP É DIREITO SUBJETIVO DO RÉU? Sim! Para o reconhecimento do crime de
furto privilegiado - direito subjetivo do réu -, a norma penal exige a conjugação de dois requisitos objetivos,
consubstanciados na primariedade e no pequeno valor da coisa furtada que, na linha do entendimento
pacificado neste Superior Tribunal de Justiça, não deve ultrapassar o valor do salário-mínimo vigente à
época dos fatos. É indiferente que o bem furtado tenha sido restituído à vítima, pois o critério legal para o
reconhecimento do privilégio é somente o pequeno valor da coisa furtada. STJ, AgRg no REsp 1785985/SP,
Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 03/09/2019, DJe 09/09/2019.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
CAIU NA DPE/GO – 2021 – FCC: Sobre o crime de furto, previsto no Art. 155, caput, do Código Penal, sua causa
de aumento de pena se praticado durante o repouso noturno (§1º), sua forma privilegiada (§2º) bem como
sua forma qualificada do §4º, incisos I (destruição ou rompimento de obstáculo), II (abuso de confiança,
fraude, escalada ou destreza), III (emprego de chave falsa) e IV (concurso de duas ou mais pessoas), é correto
afirmar, segundo consolidada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que:
a) é viável a incidência do privilégio do Art. 155, §2º, do Código Penal, em hipóteses de furto qualificado, sejam
as qualificadoras de caráter objetivo ou subjetivo;
b) a causa de aumento de pena relativa à prática do crime de furto durante o repouso noturno (Art. 155, §1º,
do Código Penal) é aplicável ao furto qualificado, mas não ao furto simples;
c) a causa de aumento de pena relativa à prática do crime de furto durante o repouso noturno (Art. 155, §1º,
do Código Penal) não se configura quando o crime é cometido em estabelecimento comercial ou residência
desabitada;
d) para o reconhecimento da qualificadora do rompimento de obstáculo/arrombamento e escalada no crime
de furto, se prescinde da realização de exame pericial, ainda que fosse possível fazê-lo à época, desde que sua
substituição possa se dar por outros meios probatórios;
e) no furto simples, o reconhecimento do privilégio do Art. 155, §2º, do Código Penal, é um direito subjetivo
do acusado, de modo que se exige à sua configuração dois únicos requisitos de natureza objetiva, consubs-
tanciados na primariedade do acusado e no pequeno valor da coisa furtada.3

1.3 FURTO PRIVILEGIADO-QUALIFICADO OU FURTO HÍBRIDO


Seria possível aplicar o furto privilegiado acima nos casos de furto qualificado? Segundo o STJ, sim, mas
desde estejam presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem
objetiva (Enunciado de Súmula 511 do STJ).4

Mas o que seria qualificadora de ordem objetiva?

Por exemplo, furto qualificado com destruição ou rompimento de obstáculo, ou com emprego de chave
falsa, são qualificadoras objetivas (a sua incidência pode ser objetivamente aferida no plano fático).

O inciso II, § 4º do art. 155 do Código Penal, traz uma qualificadora de ordem subjetiva, que é o abuso de
confiança (CAIU NA DP-DF 2019).

3GAB:E.
4Enunciado 511-STJ: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualifi-
cado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.

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Em resumo: cabe o privilégio quando além dos requisitos do art. 155, § 4º, a qualificadora seja de ordem
objetiva.

1.4 ENERGIA ELÉTRICA – EQUIPARAÇÃO À COISA MÓVEL


Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.

DE OLHO NA JURIS: em 13/03/2019, no RHC 101.299-RS, o STJ decidiu que no caso de furto de energia elétrica
mediante fraude, o adimplemento do débito antes do recebimento da denúncia não extingue a punibilidade.5

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
JURISPRUDÊNCIA QUE VAI CAIR: A alteração do sistema de medição, mediante fraude, para que aponte resul-
tado menor do que o real consumo de energia elétrica configura estelionato. STJ. 5ª Turma. AREsp 1.418.119-
DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 07/05/2019 (Info 650).

Importante distinção entre GATO E ALTERAÇÃO DO SISTEMA DE MEDIÇÃO:

“GATO” ALTERAÇÃO DO SISTEMA DE MEDIÇÃO


O agente desvia a energia elétrica de sua fonte natu- O agente altera o sistema de medição, mediante
ral por meio de ligação clandestina, sem passar pelo fraude, para que aponte resultado menor do que o
medidor. real consumo.
Trata-se de FURTO. Trata-se de ESTELIONATO.
No furto, a fraude tem por objetivo diminuir a vigi- A fraude tem por finalidade fazer com que a vítima
lância da vítima e possibilitar a subtração da coisa incida em erro e voluntariamente entregue o objeto
(inversão da posse). ao agente criminoso, baseada em uma falsa percep-
ção da realidade.
O bem é retirado sem que a vítima perceba que está
sendo despojada de sua posse. A concessionária sabe que está fornecendo energia
A concessionária não sabe que está fornecendo elétrica para aquele consumidor, mas a fraude faz
energia elétrica para aquele indivíduo. Ele está des- com que ela não perceba que ele está pagando me-
viando (subtraindo) a energia da rede. nos do que deveria.
*Tabela Extraída do site Dizer o Direito6

1.5 QUALIFICADORAS DO FURTO (art. 155, § 4º)


I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

CUIDADO 01: A conduta de violar o automóvel, mediante a destruição do vidro para que seja subtraído bem
que se encontre em seu interior — no caso, um aparelho de som automotivo — configura o tipo penal de
furto qualificado pelo rompimento de obstáculo à subtração da coisa, previsto no art. 155, § 4º, inciso I, do

5 Esse posicionamento deve ser criticado, tendo em vista que nos crimes tributários há a extinção da punibilidade quando o pagamento

é feito a qualquer tempo, inclusive após o trânsito em julgado (STJ. 5ª Turma. HC 362478-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
14/9/2017 (Info 611). STF. 2ª Turma. RHC 128245, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/08/2016). Trata-se de inegável SELETIVISMO
PENAL!!
6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Adulterar o sistema de medição da energia elétrica para pagar menos que o devido: estelionato

(não é furto mediante fraude). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurispru-
dencia/detalhes/11704817e347269b7254e744b5e22dac . Acesso em: 17/04/2022

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CP. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1364606-DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 22/10/2013 (Info 532). STJ.
3ª Seção. EREsp 1079847/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 22/05/2013.7

II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

CUIDADO 02: O STJ firmou orientação recente de ser imprescindível, nos termos dos arts. 158 e 167 do CPP,
a realização de exame pericial para o reconhecimento das qualificadoras de escalada e arrombamento no
caso do delito de furto (art. 155, § 4º, II, do CP), quando os vestígios não tiverem desaparecido e puderem

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
ser constatados pelos peritos. Contudo, excepcionalmente, pode-se dispensar a prova pericial quando esti-
verem presentes nos autos elementos aptos a comprovar a escalada de forma inconteste. No caso concreto,
a circunstância qualificadora foi comprovada pela prova oral, inclusive pela confissão do próprio réu, além
da existência de laudo papiloscópico que identificou impressões digitais no local apontado pela vítima como
sendo o local onde o réu pulou o muro. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1895487-DF, Rel. Min. Antonio Salda-
nha Palheiro, julgado em 26/04/2022 (Info 735).8

CUIDADO 03: No crime de furto, não deve ser reconhecida a qualificadora da “destreza” (art. 155, § 4º, II,
do CP) caso inexista comprovação de que o agente tenha se valido de excepcional — incomum — habilidade
para subtrair a coisa que se encontrava na posse da vítima sem despertar-lhe a atenção. Destreza, para fins
de furto qualificado, é a especial habilidade física ou manual que permite ao agente subtrair bens em poder
direto da vítima sem que ela perceba o furto. É o chamado “punguista”. STJ. 5ª Turma. REsp 1478648-PR,
Rel. para acórdão Min. Newton Trisotto (desembargador convocado do TJ/SC), julgado em 16/12/2014 (Info
554).9

III - com emprego de chave falsa;

IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

IMPORTANTE: o inciso IV traz o furto qualificado pelo concurso de pessoas. Já o art. 157, § 2º do Código
Penal traz o concurso de pessoas como majorante (causa de aumento de pena), o que acaba sendo “mais
favorável”. Seria possível aplicar, no furto, a majorante do roubo em vez da qualificadora do furto?

A resposta é não. O STJ entende que é inadmissível; vejam o Enunciado de Súmula 442:

Enunciado 442-STJ: É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do
roubo.

7 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Subtrair objeto do interior do automóvel mediante quebra do vidro: furto qualificado. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/deta-
lhes/da11e8cd1811acb79ccf0fd62cd58f86. Acesso em: 15/04/2021.
8 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em regra, é necessária perícia para comprovar a escalada no caso de furto qualificado (art. 155,

§ 4º, II, do CP). Excepcionalmente, a prova pericial será prescindível (dispensável) se houver nos autos elementos aptos a comprovar a
escalada de forma inconteste. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurispru-
dencia/detalhes/e355ad06c5a89f911fbb0aff2de52435 . Acesso em: 15/08/2022
9 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Destreza e excepcional habilidade sem ser descoberto. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Dispo-

nível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d94e18a8adb4cc0f623f7a83b1ac75b4. Acesso em:


15/04/2021.

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CUIDADO: Como futuros(as) integrantes da Defensoria, devemos lembrar que o Direito Penal deve respeitar
diversos princípios, dentre eles a proporcionalidade nas sanções e a lesividade. Ora, se o crime de roubo,
que é muito mais grave, trata o concurso de pessoas como majorante, não há lógica em fazer com que essa
mesma circunstância seja, no crime de furto, algo mais severo, tendo em vista o furto ser um crime com
muito menos gravidade. O saudoso Luiz Flávio Gomes (LFG) lembra que a Súmula 442 viola o princípio da
proporcionalidade. Para o autor, “há algumas balizas punitivas nas leis brasileiras muito chocantes.
Verdadeiras arbitrariedades. Um exemplo disso é o que está sendo discutido aqui: a mesma majorante

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
(concurso de pessoas) valorada de forma distinta, conforme o delito seja o de furto ou o de roubo. Aliás, no
roubo referida majorante só permite o aumento de 1/3 a metade. No furto o aumento é de do dobro. Total
desproporcionalidade, sem nenhuma justificativa razoável (para a diferenciação). Ou seja: é mais do que
evidente que deve ter incidência o princípio constitucional da proporcionalidade, cabendo ao julgador fazer
o ajuste de pena necessário, sem inventar pena. O ajuste, no caso, é simples: é aplicar ao furto o mesmo
quantum agravador do roubo (1/3 até 1/2).” Contudo, esse entendimento não é majoritário na
jurisprudência.10

O STJ entende que caso seja reconhecida a incidência de duas ou mais qualificadoras, uma delas po-
derá ser utilizada para tipificar a conduta como delito qualificado, promovendo a alteração do quantum de
pena abstratamente previsto, sendo que as demais poderão ser valoradas na segunda fase da dosimetria, caso
correspondam a uma das agravantes, ou como circunstância judicial, na primeira das etapas do critério trifá-
sico, se não for prevista como agravante.

Qualificadora remanescente utilizada como circunstância judicial – possibilidade


Reconhecida a incidência de duas ou mais qualificadoras, uma delas poderá ser uti-
lizada para tipificar a conduta como delito qualificado, promovendo a alteração do
quantum de pena abstratamente previsto, sendo que as demais poderão ser valora-
das na segunda fase da dosimetria, caso correspondam a uma das agravantes, ou
como circunstância judicial, na primeira das etapas do critério trifásico, se não for
prevista como agravante. Precedentes. Ao exasperar a pena-base utilizando como
fundamento a incidência de uma das qualificadoras do crime de furto, a Corte local
alinhou-se à jurisprudência deste Sodalício, inexistindo, in casu, coação ilegal a ser
reconhecida ex officio. HC 463769/SP

CAIU NA DPE/CE – 2022 – FCC11: Segundo a orientação que prevalece no Superior Tribunal de Justiça, o crime
de furto praticado
a) com destruição ou rompimento de obstáculo configura a forma qualificada do delito, ainda que o dano
recaia sobre o próprio objeto da subtração.
b) com abuso de confiança permite o reconhecimento do privilégio desde que o réu seja primário e de pe-
queno valor o bem furtado.

10 Disponível em: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2207538/sumula-442-do-stj-flagrante-violacao-ao-principio-da-proporcionali-


dade. Acesso em: 15/04/2021.
11 GAB: E.

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c) no interior de residência durante o repouso noturno configura a forma qualificada do delito, salvo se ela
estiver desabitada.
d) mediante ligação clandestina de água de concessionária de serviço público é insuficiente para a incidência
da qualificadora da fraude.
e) com duas qualificadoras admite que uma delas seja utilizada para qualificar o delito e a outra para exasperar
a pena-base.

Cuidado para não confundir o furto qualificado pela fraude (furto mediante fraude) com o estelionato.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
São coisas distintas!

FURTO MEDIANTE FRAUDE ESTELIONATO


A pena é maior. No estelionato a própria vítima entrega o objeto ao
criminoso, diferente do furto mediante fraude, que a
O agente “ludibria” a vítima, através de uma fraude é utilizada para que o sujeito possa ter melho-
fraude, com o objetivo de subtrair determinado res condições de subtrair.
objeto.

1.6 QUALIFICADORA COM EMPREGO DE EXPLOSIVO


A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum.

O furto qualificado pelo emprego de explosivo é crime hediondo, vide Lei de Crimes Hediondos:
Art. 1º, IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum
(art. 155, § 4º-A). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

CAIU NA DPE/PB – 2022 – FCC: considerado um crime hediondo12:


a) Associação ao tráfico de drogas.
b) Epidemia com resultado lesão grave ou morte.
c) Furto qualificado pelo emprego de explosivo.
d) Infanticídio.
e) Porte de artefato explosivo

1.7 QUALIFICADORA DE TRANSPORTE PARA OUTRO ESTADO OU EXTERIOR


A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transpor-
tado para outro Estado ou para o exterior.

1.8 QUALIFICADORA ANIMAL DOMESTICÁVEL


O furto de animal, domesticável é também chamada de “abigeato”.

12 GAB: C.

10
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Em 2016, o Código Penal foi alterado para acrescentar mais uma qualificadora ao furto. A pena é de reclusão
de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido
ou dividido em partes no local da subtração. (ALTERAÇÃO DE 2016).

CRÍTICA: é de ser observar que o legislador, com essa alteração legislativa, buscou proteger desproporcio-
nalmente os interesses dos criadores de animais de produção, fruto do direito penal de emergência. O in-
teressante é que a pena mínima desse furto é a mesma do art. 149, que traz o crime de redução à situação
análoga à de escravo, o que demonstra a total falta de razoabilidade do legislador quando da edição de

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determinados tipos penais.

Outro ponto importante é que a jurisprudência do STJ caminhava no sentido de impedir a aplicação
do princípio da insignificância no furto qualificado. No entanto, em 17/02/2020, entendeu a 5ª Turma que a
despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da
atipicidade material da conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesivi-
dade do fato imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância. HC 553.872-SP, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 11/02/2020, DJe 17/02/2020.

Prezadas e prezados, não confundam furto de pequeno valor com furto de valor insignificante.

FURTO DE PEQUENO VALOR FURTO DE VALOR INSIGNIFICANTE


A jurisprudência entende que o furto será de Observância do caso concreto, desde que preenchidos
pequeno valor quando não for superior a 1 (um) os requisitos informados pela jurisprudência, além do
salário-mínimo. valor (sentimental, por exemplo) do bem para a vítima.

Sendo de pequeno valor, poderá ser aplicado o Portanto, aqui afasta a tipicidade material (bagatela
art. 155, § 4º, isto é, substituir a reclusão pela de própria).
detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou apli-
car somente a pena de multa. Obs.: o STJ possui julgados afirmando que o valor
insignificante do objeto furtado não pode ultrapassar
10% do salário-mínimo (ou, se ultrapassar, será em valor
ínfimo). Por todos: HC 434.707, Rel. Min. Reynaldo
Soares.

ENUNCIADO DE SÚMULA IMPORTANTE: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155


do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno
valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva (Súmula 511-STJ).

Detalhe especial para a Lei nº 14.155/2021, que inseriu os seguintes parágrafos ao art. 155 do Có-
digo Penal:
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 a 8 anos, e multa, se o furto mediante fraude é
cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à
rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a

11
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utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento aná-


logo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado


gravoso: (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

I – aumenta-se de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado mediante a utilização de servidor


mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

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II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou
vulnerável. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

Sobre essa atualização legislativa, a doutrina estabelece que “o juiz, no momento da dosimetria, de-
verá definir qual é a fração de aumento que será imposta (1/3, 1/2, 2/3 etc.). Essa escolha deverá ser funda-
mentada e levará em consideração a “relevância do resultado gravoso”. Assim, por exemplo, se o idoso teve
um prejuízo patrimonial muito elevado, o magistrado poderá utilizar essa circunstância para impor um au-
mento no patamar de 2/3”.13

Rogério Sanches lembra que a majoração da pena pressupõe a ciência das circunstâncias referidas no
§ 4º-C acima. Neste caso:
(...) O autor da subtração deve ter conhecimento de que sua conduta se vale
de conexão internacional. Ou deve saber que a vítima é idosa ou vulnerável,
o que nem sempre ocorrerá, em razão das circunstâncias dos crimes ciberné-
ticos, nos quais muitas vezes o criminoso não tem nenhum contato – nem
mesmo remoto – com sua vítima.” (CUNHA, Rogério Sanches. Lei 14.155/21 e
os crimes de fraude digital: primeiras impressões e reflexos no CP e no CPP.
Disponível em https://meusitejuridico.editorajuspo-
divm.com.br/2021/05/28/lei-14-15521-e-os-crimes-de-fraude-digital-primei-
ras-impressoes-e-reflexos-no-cp-e-no-cpp/

Para saber o exato momento CONSUMATIVO do furto, foram desenvolvidas algumas teorias, vamos
analisá-las agora.14

1.9 TEORIAS SOBRE O MOMENTO CONSUMATIVO DO FURTO

1.9.1 CONCRETATIO 1.9.2 ABLATIO 1.9.3 AMOTIO OU APPREHENSIO 1.9.4 ILATIO


A consumação se dá A consumação A consumação ocorre no momento A consumação só
pelo simples contato ocorre quando a em que a coisa subtraída passa para o ocorre quando a

13 Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2021/05/lei-141552021-promove-alteracoes-nos.html. Acesso em 10 de Junho de

2021.
14 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Momento consumativo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: https://www.busca-

dordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/fb60d411a5c5b72b2e7d3527cfc84fd0. Acesso em: 15/04/2021.

12
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entre o agente e a coisa, além de apre- poder do agente, ainda que por breve coisa é levada ao lo-
coisa alheia. endida, é transpor- espaço de tempo, mesmo que o su- cal desejado pelo la-
tada de um lugar jeito seja logo perseguido pela polícia drão para tê-la a
para outro. ou pela vítima. salvo.
Adotada pelo STJ.

ATENÇÃO AO ENUNCIADO DE SÚMULA 567 DO STJ


ENUNCIADO 567-STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime
de furto.15

CAIU NA DPE/GO-2021- FCC: O crime impossível16:


a) é reconhecido pelo Superior Tribunal de Justiça quando o agente já possuidor da droga a oferece ao policial,
que efetua a prisão em flagrante.
b) pela impossibilidade absoluta do meio ocorre quando o objeto não pode sofrer a ação típica, como no caso
de alguém que atira da janela uma pessoa que já estava morta.
c) demanda o potencial lesivo da conduta e a ausência de elementos subjetivos do tipo para sua configuração.
d) ocorre quando o agente em situação de extrema vulnerabilidade pratica um fato típico em razão da falta
de apoio do Estado.
e) pode ocorrer em caso de furto em estabelecimento comercial se a vigilância concretamente tornar impos-
sível a consumação do delito.

Importante ressaltar que há jurisprudência do STF reconhecendo a atipicidade de furto em estabele-


cimento comercial diante das especificidades do caso concreto. Nesse caso, não houve apenas a vigilância
através das câmeras de segurança, mas dos funcionários do estabelecimento que exerceram a vigilância direta
sobre a conduta dos agentes durante todo o iter criminis.

DE OLHO NA JURIS: HABEAS CORPUS. PENAL FURTO QUALIFICADO TENTADO. ARTIGO 155, § 4º, INCISO IV, EM
COMBINAÇÃO COM O ART. 14, INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. CONDUTA DELITUOSA PRATICADA EM
SUPERMERCADO. ESTABELECIMENTO VÍTIMA QUE EXERCEU VIGILÂNCIA DIRETA SOBRE A CONDUTA DOS
PACIENTES. ACOMPANHAMENTO ININTERRUPTO DE TODO O ITER CRIMINIS. INEFICÁCIA ABSOLUTA DO MEIO
EMPREGADO PARA A CONSECUÇÃO DO DELITO, DADAS AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO. CRIME
IMPOSSÍVEL CARACTERIZADO. ARTIGO 17 DO CÓDIGO PENAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ORDEM
CONCEDIDA. COM FUNDAMENTO DIVERSO, VOTARAM PELA CONCESSÃO DA ORDEM OS EMINENTES
MINISTROS CELSO DE MELLO E EDSON FACHIN.
1. A forma específica mediante a qual os funcionários do estabelecimento vítima exerceram a vigilância direta
sobre a conduta dos pacientes, acompanhando ininterruptamente todo o iter criminis, tornou impossível a
consumação do crime, dada a ineficácia absoluta do meio empregado. Tanto isso é verdade que, no momento

15 Em provas abertas, caso questionados sobre o teor desse enunciado de súmula, devemos afirmar que é possível sim dizer que o
furto será crime impossível caso haja sistema interno de monitoramento. Isso porque todo o estabelecimento é vigiado, havendo
comunicação direta entre a sala de controle e os seguranças que circulam pelo local. Nessas circunstâncias, não há falar em possibili-
dade de se concretizar o crime dada a vigilância ostensiva.
16 GAB: E.

13
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em que se dirigiam para a área externada do estabelecimento comercial sem efetuar o pagamento dos
produtos escolhidos, os pacientes foram abordados na posse dos bens por funcionário comunicado de sua
conduta, sendo esses restituídos à vítima.
2. De rigor, portanto, diante dessas circunstâncias, a incidência do art. 17 do Código Penal, segundo o qual
“não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto,
é impossível consumar-se o crime”.
(...)
STF; HC 144.851; Segunda Turma; Rel. Min. Dias Toffoli; DJE 06/02/2018 (grifo nosso)

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
1.10 FURTO/APROPRIAÇÃO CONTRA IDOSO
Se o agente se apropria ou desvia bens, de proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso,
dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade, responderá pelo art.102 do Estatuto do Idoso, e não por
furto (princípio da especialidade).

Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso,
dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:

Pena - reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa

Feitas essas observações, vamos para o ROUBO.

2. ROUBO
Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa,
ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Vamos começar distinguindo o roubo próprio do impróprio.

2.1 ROUBO PRÓPRIO 2.2 ROUBO IMPRÓPRIO


Está no caput do art. 157 do CP. O roubo impróprio está no § 1º do art. 157 do Código
Penal.
É a grave ameaça ou a violência que é utilizada antes
ou durante. A violência, nesse caso, é utilizada logo depois de
subtraída a coisa, onde o agente emprega violência
contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar
a impunidade do crime ou a detenção da coisa para
si ou para terceiro.

CAIU NA 2ª FASE DA DPE/MT (2023): Adotando-se a teoria objetivo-formal, o rompimento de cadeado e


destruição de fechadura da porta da casa da vítima, com o intuito de, mediante uso de arma de fogo, efetuar
subtração patrimonial da residência, configuram meros atos preparatórios que impedem a condenação por
tentativa de roubo circunstanciado. AREsp 974.254-TO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por

14
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unanimidade, julgado em 21/09/2021, DJe 27/09/2021.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.

Pessoal, cuidado para não confundir o roubo impróprio com a violência imprópria, pois são coisas
distintas. Assim, analise abaixo o que é violência própria e a imprópria.

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2.3 VIOLÊNCIA PRÓPRIA (REAL) 2.4 VIOLÊNCIA IMPRÓPRIA


Aquela em que o agente, com emprego de força fí- Na violência imprópria o agente reduz o sujeito pas-
sica, lesiona a vítima. sivo à incapacidade de resistir, como por exemplo o
agente que coloca um boa noite Cinderela na bebida
de outrem, e subtrai o seu celular.

A violência é imprópria porque o agente reduz o su-


jeito passivo à incapacidade momentânea.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
No plano fático, dizem a doutrina e a jurisprudência que pode existir roubo PRÓPRIO com violência
IMPRÓPRIA, mas não é possível que ocorra roubo IMPRÓPRIO com violência IMPRÓPRIA (pois não é possível
a pessoa subtrair o bem e, como forma de garantir o sucesso da empreitada, reduzir o sujeito passivo à inca-
pacidade de resistir; a violência necessariamente será PRÓPRIA).

No roubo há causas de aumento que vão de 1/3 à metade, e outras que aumentam 2/3.

Veremos primeiro as causas referentes ao aumento de 1/3 à metade.

2.5 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA NO ROUBO DE (1/3) ATÉ À METADE


§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:

I – se a violência é exercida com emprego de arma; REVOGADO EM 2018 (VEREMOS ABAIXO)17

II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;18

III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.

IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior (note que no furto essa mesma situação é qualificadora).

V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.

VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibi-


litem sua fabricação, montagem ou emprego. (NOVIDADE DE 2018).

VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)

Em 2018 tivemos uma modificação muito importante no tocante ao aumento de pena que antes era

17 Cuidado, pois apesar desse inciso ter sido revogado, a Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime) trouxe um novo inciso VII ao § 2º do
art. 157 do Código Penal, em que traz novamente a “arma branca”, agora expressamente, como majorante do crime de roubo.
18 Se um maior de idade pratica o roubo juntamente com um inimputável, esse roubo será majorado pelo concurso de pessoas (art.

157, § 2º do CP)? Sim. STF. 1ª Turma. HC 110425/ES.

16
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previsto no art.157, § 2º, inciso I do Código Penal.

Antes, no inciso I que está revogado aí em cima, o Código Penal afirmava que a pena aumentava de
1/3 (um terço) até metade se a violência fosse exercida com emprego de arma, o que abrangia, por isso, tanto
a arma branca (faca) como a arma de fogo, por exemplo.

Com a Lei nº 13.654/2018, a causa de aumento de pena foi para o § 2º-A do art. 157 (em que há o
aumento de pena de 2/3 e não de 1/3 como antes). Por outro lado, a lei traz expressamente que a ameaça ou

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a violência, para majorar o crime de roubo com emprego de arma, deve ser com emprego de “arma de fogo”.19

Com a Lei Anticrime, que alterou a Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90), roubo com emprego de
arma de fogo passou a ser hediondo:

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no


Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou
tentados:

II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso


V); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo
emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º); (Inclu-
ído pela Lei nº 13.964, de 2019

CAIU NA DPE/GO – 2021 -FCC: Sobre as alterações trazidas pela Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), é
correto afirmar que: 20
a) seguindo o anseio legislativo de maior recrudescimento penal, o limite de cumprimento das penas privativas
de liberdade poderá alcançar o patamar de quarenta anos, independentemente do momento da prática do
delito;
b) ainda que surtam efeitos na execução da pena e, portanto, no sistema carcerário, o crime de roubo
circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (Art. 157, §2º-A, I, do Código Penal) passou a ser considerado
hediondo;

19 No Inf. 668 do STJ, a Corte entendeu que após a revogação do inciso I do artigo 157 do CP pela Lei nº 13.654, de 23 de abril de 2018,
o emprego de arma branca no crime de roubo deixou de ser considerado como majorante, a justificar o incremento da reprimenda na
terceira fase do cálculo dosimétrico, sendo, porém, plenamente possível a sua valoração como circunstância judicial desabonadora.
HC 556.629-RJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 03/03/2020, DJe 23/03/2020. No entanto, como
vimos, a majorante da arma branca já voltou com a Lei nº 13.964, de 2019. Portanto, o julgado do STJ é pertinente apenas para o
período entre a Lei nº 13.654, de 23 de abril de 2018 e a 13.964, de 24 de dezembro de 2019.
20 GAB: B.

17
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c) o juiz não poderá receber a denúncia apenas com fundamento nas informações das declarações do réu que
realizou a colaboração premiada, mas poderá decretar medidas cautelares reais;
d) a exclusão dos perfis genéticos dos bancos de dados ocorrerá após dez anos do término do cumprimento
da pena dos crimes graves contra a pessoa;
e) o cumprimento e/ou rescisão do acordo de não persecução penal é/são causa(s) interruptiva(s) da
prescrição.

Tratando-se de novatio legis in mellius, deve atingir os fatos anteriores com relação a quem está sendo

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processado ou quem já foi condenado por roubo majorado com emprego de arma branca. Essa foi uma das
teses da peça criminal da segunda fase da DPE-MA de 2018. No entanto, com relação a quem cometeu o crime
de roubo com emprego de arma de fogo antes da Lei nº 13.654/2018, o aumento será o referente à lei antiga,
tendo em vista que a majoração é mais benéfica (1/3).

NOVIDADE LEGISLATIVA: Gente, cuidado. Como dissemos à nota de rodapé acima, apesar desse inciso I ter sido
revogado pela Lei nº 13.654/2018, a Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime) trouxe um novo inciso VII ao § 2º
do art. 157 do Código Penal, em que traz novamente a “arma branca”, agora expressamente, como majorante
do crime de roubo, além de ter sido incluído o §2º-B também ao art. 157 do Código Penal, a fim de estabelecer
que se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,
aplica-se em dobro a pena prevista no caput.

Podemos dizer que tivemos três fases sobre esse tema21:

ROUBO MEDIANTE EMPREGO DE ARMA


Depois da Lei 13.654/2018 Depois da Lei 13.964/2019 (atual-
Antes da Lei 13.654/2018
ATÉ a Lei 13.964/2019 mente)
Tanto a arma de fogo como a Apenas o emprego de arma de Tanto a arma de fogo como a arma
arma branca eram causas de au- fogo é causa de aumento de pena. branca são causas de aumento de
mento de pena. O emprego de arma branca não é pena.
causa de aumento de pena.
O emprego de arma (seja de O emprego de arma de fogo é pu- O emprego de arma branca é pu-
fogo, seja branca) era punido nido com aumento de 2/3 da nido com aumento de 1/3 até 1/2
com aumento de 1/3 a 1/2 da pena. (metade).
pena. O emprego de arma de fogo é pu-
nido com aumento de 2/3 da pena.

Porém, o STJ entende que, nos casos em que se aplica a Lei nº 13.654/2018, é possível a valoração do
emprego de arma branca, no crime de roubo, como circunstância judicial desabonadora

1. Em razão da novatio legis in mellius engendrada pela Lei nº 13.654/2018, o


emprego de arma branca, embora não configure mais causa de aumento do crime

21CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Nos casos em que se aplica a Lei nº 13.654/2018, é possível a valoração do emprego de arma
branca, no crime de roubo, como circunstância judicial desabonadora. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/456048afb7253926e1fbb7486e699180. Acesso em: 15/04/2021.

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de roubo, poderá ser utilizado como fundamento para a majoração da pena-base,


quando as circunstâncias do caso concreto assim justificarem. 2. O julgador deve
fundamentar o novo apenamento ou justificar a não realização do incremento na
basilar, nos termos do que dispõe o art. 387, II e III, do CPP. 3. Não cabe a esta Corte
Superior a transposição valorativa da circunstância para a primeira fase da dosimetria
ou mesmo compelir que o Tribunal de origem assim o faça, em razão da
discricionariedade do julgador ao aplicar a novatio legis in mellius. STJ. 3ª Seção. REsp
1921190-MG, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 25/05/2022 (Recurso

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Repetitivo – Tema 1110) (Info 738).

Vejamos agora as outras causas de aumento, que trazem uma fração de 2/3:

2.6 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA NO ROUBO (2/3)


§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços).

I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo. (NOVIDADE DE 2018)

II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo


que cause perigo comum. (NOVIDADE DE 2018).

Agora se liguem em alguns detalhes importantes que sempre aparecem em provas objetivas sobre a
questão envolvendo a majorante da arma de fogo:

ARMA DESMUNICIADA Segundo o STJ, não incide a majorante.


ARMA DE BRINQUEDO Não incide a majorante.
Depende.
Se for absolutamente ineficaz é incapaz de servir como majorante, embora
ARMA COM DEFEITOS possa servir para caracterizar o roubo simples em razão da grave ameaça ou
violência.
Se esse defeito for relativo, poderá incidir a majorante.

Aprofundemos.

É NECESSÁRIO QUE A ARMA UTILIZADA NO ROUBO SEJA APREENDIDA E PERICIADA PARA QUE INCIDA A
MAJORANTE?
NÃO. O reconhecimento da referida causa de aumento prescinde (dispensa) da apreensão e da realização
de perícia na arma, desde que o seu uso no roubo seja provado por outros meios de prova, tais como a

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palavra da vítima ou mesmo de testemunhas STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 449102/MS, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 09/10/2018.22

Tudo bem.

Mas se por acaso foi realizada a perícia? Aí podem acontecer duas situações.

ARMA PERICIADA E COM DEFEITO ABSOLUTA- ARMA PERICIADA E COM DEFEITO

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
MENTE INEFICAZ RELATIVAMENTE INEFICAZ
Não incide a majorante. Incide a majorante.

Veremos agora as hipóteses de roubo qualificado.

A primeira trata do roubo que resulta em lesão corporal grave, e a segunda, resultado morte (o famoso
latrocínio).

Antes falar sobre o latrocínio, lembre-se que este é crime hediondo, portanto inafiançável e insusce-
tível de graça ou anistia.

2.7 ROUBO QUALIFICADO


§ 3º Se da violência resulta:

I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (ALTERADO EM 2018)

II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. (ALTERADO EM 2018).

Lembro a vocês que o latrocínio, como sabemos, é um crime praticado contra o patrimônio. Por essa
razão a competência não é do Tribunal do Júri (este é competente, como sabemos, para julgar os crimes do-
losos contra a vida), mas sim da Vara Criminal comum.

Mas quando se consuma o latrocínio? Se houver o roubo consumado e a morte tentada, há latrocínio?
E se houve o resultado morte consumado e o roubo tentado, há latrocínio?

Vamos fazer uma tabela.

SUBTRAÇÃO CONSUMADA + MORTE CONSUMADA Latrocínio consumado.


SUBTRAÇÃO TENTADA + MORTE TENTADA Latrocínio tentado.
Latrocínio consumado, nos moldes do enunciado de
SUBTRAÇÃO TENTADA + MORTE CONSUMADA
súmula 610 do STF.

22CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Roubo circunstanciado pelo emprego de arma e desnecessidade de perícia. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/deta-
lhes/0e9fa1f3e9e66792401a6972d477dcc3. Acesso em: 15/04/2021.

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Enunciado 610. Há crime de latrocínio, quando o ho-


micídio se consuma, ainda que não realize o agente
a subtração de bens da vítima.
SUBTRAÇÃO CONSUMADA + MORTE TENTADA Latrocínio tentado.

É importante registrarmos um ponto interessante, considerando a divergência jurisprudencial.

Se for atingido um único patrimônio, mas houver mais de uma morte, qual a capitulação jurídica?

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Ex.: Maria e Pedro vem para o trabalho em um único carro, que pertence a Pedro, quando o assaltante,
com emprego de arma, subtrai o veículo e mata o casal, considerando que estes reagiram. Perceba que houve
a subtração de um único bem, que pertencia a Pedro, mas houve duas mortes. E agora, há concurso formal
impróprio ou crime único?

STJ STF
Concurso formal
STF e doutrina majoritária: crime único de latrocínio.23
impróprio.

Pergunta interessante: e se em um assalto em um ônibus, o agente subtrair bens de diversos passa-


geiros? E se os bens subtraídos tiverem todos em posse do cobrador do ônibus? Veja o quadro abaixo.
SUBTRAÇÃO DE PERTENCES DOS PASSAGEIROS SUBTRAÇÃO DE BENS NA POSSE DO COBRADOR
Concurso formal próprio. Um único crime, mesmo que os bens subtraídos per-
tençam à companhia para a qual ele trabalha.
Mas como aumenta?
Imagine a seguinte cena: o cobrador coloca no bolso
24
A jurisprudência entende da seguinte forma : de sua camisa dinheiro que pertence a ele e dinheiro
que pertence à companhia. Quando ocorre o roubo,
2 crimes – aumenta 1/6. mesmo que o criminoso leve todo o dinheiro indistin-
tamente, para fins processuais será considerado que
3 crimes – aumenta 1/5. ocorreu um único roubo, já que todo o dinheiro estava
na posse do cobrador.
4 crimes – aumenta 1/4.

5 crimes – aumenta 1/3.

6 crimes – aumenta 1/2.

23 Essa é a corrente que deve prevalecer pois, se o latrocínio é um crime contra o patrimônio, então deve-se analisar quantos patrimô-
nios foram lesados com a conduta do agente, e não quantas mortes ocorreram no fato.
24 Cada passageiro será contado como um crime.

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ATENÇÃO AO ENUNCIADO DE SÚMULA 582 DO STJ – TEORIA DA AMOTIO NO ROUBO


Enunciado 582-STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de
violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e
recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. STJ. 3ª Seção.
Aprovada em 14/09/2016, DJe 19/09/2016 (Info 590).

No tocante ao furto de uso e ao roubo de uso, cuidado!

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2.8 FURTO DE USO 2.9 ROUBO DE USO
Não é crime.
É crime.
O agente subtrai, usa e devolve.

Para finalizar o assunto sobre roubo, vamos tratar de um tema importante.

Além do roubo majorado pelo emprego de arma, o agente responderá também pelo porte ilegal de
arma de fogo como crime autônomo? Vou dar um exemplo. Pedro assaltou a loja “RDP INSTRUMENTOS MU-
SICAIS”, valendo-se, durante o assalto, de uma arma de fogo. Neste caso, ele deverá responder por roubo
majorado e, também, pelo crime de porte ilegal de arma de fogo, já que não tem porte? A resposta é depende.

NÃO RESPONDERÁ PELO PORTE DE ARMA RESPONDERÁ PELO PORTE DE ARMA


Essa é a regra. Aplica-se o princípio da consun- Caso seja provado que o agente portava ilegalmente a
ção, considerando que o porte ilegal de arma de arma de fogo em outras oportunidades - antes ou de-
fogo funciona como crime meio para a prática do pois do crime - de roubo. Aí sim ele responderá pelo
roubo (crime fim), sendo por este absorvido. crime de roubo majorado com o cúmulo material do
crime de porte ou posse de arma de fogo.

Então depende do que a instrução criminal apurar.

ENUNCIADO DE SÚMULA IMPORTANTE: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo
circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação
do número de majorantes (Enunciado 443-STJ)

Entraremos agora no crime de extorsão.

3. EXTORSÃO
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Súmula 96 do STJ: “O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem inde-


vida”.

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CAIU NA DPE/PA – 2022 – CESPE : É considerado(a) como crime formal:
A) a propriação indébita simples.
B) o roubo simples.
C) o furto simples.
D) a extorsão simples.
E) a fraude à execução

DISTINÇÃO ENTRE ROUBO E EXTORSÃO: Talvez você esteja pensando: ué, mas qual seria a diferença entre

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
roubo e extorsão? Cleber Masson, ao dissertar sobre o tema, lembra que se nota, “em uma análise preliminar,
que no roubo o núcleo do tipo é “subtrair”, ao passo que na extorsão a ação nuclear é “constranger”. E daí
desponta uma relevante consequência: se o bem for subtraído, o crime será sempre de roubo, mas, se a pró-
pria vítima o entregar ao agente, o delito poderá ser de roubo ou de extorsão. Estará caracterizado o crime de
extorsão quando, para a obtenção da indevida vantagem econômica pelo agente, for imprescindível a colabo-
ração da vítima. No roubo, por seu turno, a atuação do ofendido é dispensável. Na extorsão, a vítima possui
opção entre entregar ou não o bem, de modo que sua colaboração é fundamental para o agente alcançar a
indevida vantagem econômica. Note-se que na extorsão a vantagem almejada pode ser contemporânea ao
constrangimento (exemplo: a vítima é abordada por um criminoso armado no terminal de atendimento de
uma agência bancária, mas, se não fornecer sua senha, o agente jamais conseguirá sacar o numerário deposi-
tado em sua conta corrente) ou posterior a ele (exemplo: em um “falso sequestro”, um presidiário telefona
para um pai de família e determina o depósito, no dia seguinte, de determinada quantia em uma conta ban-
cária, sob a ameaça de matar seu filho, que estaria em cativeiro. Nesse caso, a vítima também tem a opção
entre realizar ou não o comportamento exigido pelo extorsionário). Todavia, se houve a entrega do bem, mas
isto não era indispensável, pois a vítima não tinha nenhuma opção, pois, se não o entregasse, o sujeito poderia
de imediato tomá-lo à força, o crime será de roubo. No exemplo antes referido, pode o ladrão, se o desejar,
retirar a carteira da vítima, em vez de aguardar sua entrega. Além disso, o criminoso poderia até mesmo imo-
bilizar ou matar a vítima, a qual nada poderia então fazer para impedir a tradição do bem. Há, finalmente, uma
sensível e indiscutível diferença entre roubo e extorsão. Nesta, a lei não a restringiu às coisas móveis, ao con-
trário do que fez naquele. Em verdade, a expressão “indevida vantagem econômica” possibilita um maior raio
de incidência, atingindo inclusive os bens imóveis. Em suma, um bem imóvel não pode ser roubado, mas cer-
tamente é possível figurar como a vantagem econômica da extorsão. Exemplo: “A” ameaça “B”, dizendo que
irá matá-lo se não transferir em seu proveito um imóvel que lhe pertence”26.

ROUBO EXTORSÃO
A subtração se dá com violência ou grave ameaça. Há a figura do constrangimento.
Apenas bem móvel. Bem móvel ou imóvel.
A vítima pode ou não colaborar. A vítima necessariamente colabora.
A vantagem é imediata. A vantagem é mediata.

25 GAB: D. A extorsão é crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. É o que se extrai da Súmula 96 do Superior
Tribunal de Justiça: “O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”.
26 Direito penal: parte especial: arts. 121 a 212 / Cleber Masson. – 11. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO,

2018, 450.

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ENUNCIADO DE SÚMULA IMPORTANTE


Enunciado 96 STJ – O crime de extorsão se consuma independente da obtenção da vantagem indevida.27

3.1 AUMENTO DE PENA NO CRIME DE EXTORSÃO


§ 1º: Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de
um terço até metade.

§ 2º: Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior do CRIME DE

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ROUBO
Ou seja:

I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (ATUALIZADO EM
2018)

II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. (ATUALIZADO EM 2018).

3.2 SEQUESTRO RELÂMPAGO (§ 3º, art. 158)


Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a
obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se
resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectiva-
mente.

Veremos agora a extorsão mediante sequestro.

4. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO


Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição
ou preço do resgate.

Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

ATENÇÃO: Nos termos da Lei dos Crimes Hediondos, a extorsão mediante sequestro e suas três qualifica-
doras abaixo tornam o crime hediondo (Art. 1, IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art.
159, caput, e §§ 1º, 2º e 3º)

Cuidado com a qualificadora de extorsão mediante sequestro.

4.1 QUALIFICADORA DO CRIME DE EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO


§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou
maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.

27 O que demonstra que a extorsão é crime formal, ou seja, não exige a ocorrência do resultado naturalístico.

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§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:


Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.

§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.

4.2 REDUÇÃO DE PENA PELA “DELAÇÃO PREMIADA” NA EXTORSÃO


§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a liber-

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
tação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

Por fim, vamos agora para o crime de extorsão indireta, previsto no art. 160 do Código Penal.

5. EXTORSÃO INDIRETA
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que
pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

No tocante a esse crime de extorsão indireta, é preciso fazer algumas ponderações com relações aos
dois verbos: exigir e receber.

CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO
MODALIDADE TENTATIVA
RESULTADO
VERBO EXIGIR Crime formal Apenas na forma escrita.
VERBO RECEBER Crime material É admissível.

Visto isso, vamos crime de dano.

6. CRIME DE DANO
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa

6.1 DANO QUALIFICADO


Parágrafo único do art. 163, CP:

Dano qualificado

Parágrafo único. Se o crime é cometido:

I - com violência à pessoa ou grave ameaça;

II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave;

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III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação
pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos;
(Alterado pela Lei nº 13.531/2017!)

IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:

Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
ATENÇÃO: apenas por excesso de zelo, lembrem-se que todas as qualificadoras aumentam a pena mínima
e a máxima em abstrato. Diferente das causas de aumento de pena, que aumentam em fração.

Galera, o legislador, ao prever a redação originária do referido inciso III do art. 163, parágrafo único,
não incluiu o “Distrito Federal”, as “autarquias”, as “fundações” e as “empresas públicas”. Dessa forma, por
exemplo, a jurisprudência passou a entender que o dano praticado com essas pessoas jurídicas era simples
(não qualificado), em razão da falha legislativa.

1. O Direito Penal é regido pelo princípio da legalidade, não havendo crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal, nos termos do artigo 5º,
inciso XXXIX, da Constituição Federal, e do artigo 2º do Código Penal. 2. Em observân-
cia ao mencionado postulado, não se admite o recurso à analogia em matéria penal
quando esta for utilizada de modo a prejudicar o réu. Doutrina. Precedentes. 3. No
caso dos autos, o recorrente teria danificado patrimônio da Caixa Econômica Federal,
empresa pública cujos bens não se encontram expressamente abrangidos nos previs-
tos no inciso III do parágrafo único do artigo 163 do Código Penal. 4. Ainda que com a
previsão da forma qualificada do dano o legislador tenha pretendido proteger o patri-
mônio público de forma geral, e mesmo que a destruição ou a inutilização de bens de
empresas públicas seja tão prejudicial quanto as cometidas em face das demais pes-
soas jurídicas mencionadas na normal penal incriminadora em exame, o certo é que,
como visto, não se admite analogia in malam partem no Direito Penal, de modo que
não é possível incluir a Caixa Econômica Federal no rol constante do dispositivo em
apreço. Precedente do STJ. 5. Recurso provido para desclassificar a conduta imputada
ao recorrente para o crime previsto no caput do artigo 163 do Código Penal. (RHC
57.544/SP, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR CONVO-
CADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em 06/08/2015, DJe 18/08/2015)

Porém, a Lei nº 13.531/2017 corrigiu essa falha e incluiu o “Distrito Federal”, as “autarquias”, as “fun-
dações” e as “empresas públicas” no rol do inciso III do parágrafo único do art. 163 do CP. não incluiu neste
rol as empresas públicas.

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28
ANTES DA LEI Nº 13.531/2017 ATUALMENTE
Art. 163 (...) Art. 163 (...)
Parágrafo único. Se o crime é cometido: Parágrafo único. Se o crime é cometido:
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Dis-
empresa concessionária de serviços públicos ou so- trito Federal, de Município ou de autarquia, funda-
ciedade de economia mista; ção pública, empresa pública, sociedade de econo-
mia mista ou empresa concessionária de serviços pú-
blicos;

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Jurisprudência em teses edição n. 87 - STJ 3) O delito de dano ao patrimônio público, quando praticado por
preso para facilitar a fuga do estabelecimento prisional, demanda a demonstração do dolo específico de cau-
sar prejuízo ao bem público (animus nocendi), sem o qual a conduta é atípica.

CAIU NA DPE/SC – 2021 – FCC29: De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, a pessoa presa que destrói
grades da cela com o objetivo de facilitar a fuga de estabelecimento prisional pratica:
a) fato atípico diante da ausência de animus nocendi.
b) crime de dano qualificado com agravante de garantir a impunidade de crime.
c) crime de dano qualificado com atenuante genérica pelas condições degradantes da prisão.
d) fato atípico diante da ausência de animus necandi.
e) crime de dano qualificado com obrigação de reparação dos danos causados.

Sobre a apropriação indébita, vejam o que vocês precisam saber.

7. DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Cuidado para não confundir apropriação indébita com furto.

FURTO APROPRIAÇÃO INDÉBITA


A coisa não está em poder
O agente ativo já possui a posse ou detenção da coisa.
do agente.

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA


§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:

I – em depósito necessário;

II – na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;

28 E por que eu preciso saber essas datas, RDP? Galera, é que em provas, muitas vezes na segunda fase, o examinador trabalha com
datas. Nesse caso, por envolver direito intertemporal, e por ser o período anterior à Lei nº 13.531/2017 mais benéfico ao assistido da
Defensoria Pública, pois a qualificadora ainda não existia, tem grande importância para nossas provas.
29 GAB:A. Animus nocendi é o dolo específico de causar dano e animus necandi é o dolo específico de matar.

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III – em razão de ofício, emprego ou profissão.

Vejamos o art. 168-A, o tipo para apropriação indébita previdenciária.

8. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA


Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo
e forma legal ou convencional.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
INCORRE NAS MESMAS PENAS DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de:

I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido
descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;

II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos
relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;

III – pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados
à empresa pela previdência social.

Atenção, pois o delito de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP) não pode ser confun-
dido com o crime do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 (Lei de Crimes Contra a Ordem Tributária)30:

Art. 168-A do CP Art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90


O agente deixa de repassar contribuições previ- O agente deixa de repassar quaisquer outros tributos
denciárias recolhidas dos contribuintes. (que não contribuições previdenciárias) recolhidas
dos contribuintes.

A título de aprofundamento, já se sustentou que o referido delito do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 seria
inconstitucional por ser uma hipótese de prisão civil por dívida. Contudo, a tese não prevalece na jurisprudên-
cia, nada impedindo, contudo, a sustentação em provas abertas.

8.1 EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE PELO PAGAMENTO ESPONTÂNEO


Art. 168-A, § 2º. É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o paga-
mento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na
forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.

30CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de apropriação, deixa de recolher o ICMS
cobrado do adquirente da mercadoria ou serviço, incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei 8.137/90. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/481263854facf41a2f8a64a21956d87b. Acesso
em: 17/04/2021.

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Ainda há situações em que o juiz deixa de aplicar a pena ou aplica apenas a pena de multa, caso o
agente seja primário e com bons antecedentes.

Art. 168-A, § 3º: É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for
primário e de bons antecedentes, desde que:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contri-
buição social previdenciária, inclusive acessórios; ou

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela
previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fis-
cais.

CUIDADO COM A ALTERAÇÃO DE 2018


Art. 168-A, § 4º: A faculdade prevista no § 3º (essas que vimos na tabela acima) não se aplica aos casos de
PARCELAMENTO de contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele estabelecido,
administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.

Cuidado com uma regra que é um pouco esquecida, vejam abaixo:

APLICAM-SE AS REGRAS DO ART.155, § 2º À APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA


§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de re-
clusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

PRESCRIÇÃO SUSPENSA ENQUANTO O CRÉDITO ESTIVER SUSPENSO


A prescrição da pretensão punitiva do crime de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP) per-
manece suspensa enquanto a exigibilidade do crédito tributário estiver suspensa em razão de decisão de
antecipação dos efeitos da tutela no juízo cível.

Isso porque a decisão cível acerca da exigibilidade do crédito tributário repercute diretamente no reconhe-
cimento da própria existência do tipo penal, visto ser o crime de apropriação indébita previdenciária um
delito de natureza material, que pressupõe, para sua consumação, a realização do lançamento tributário
definitivo. STJ. 5ª Turma. RHC 51596-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/2/2015 (Info 556).31

DESNECESSIDADE DE DOLO ESPECÍFICO NA APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA


Para a caracterização do crime de apropriação indébita de contribuição previdenciária (art. 168-A do CP),
não há necessidade de comprovação do “dolo específico” de se apropriar de valores destinados à

31CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Efeitos da suspensão da exigibilidade de crédito tributário na prescrição da pretensão punitiva.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/deta-
lhes/bb7946e7d85c81a9e69fee1cea4a087c. Acesso em: 17/04/2021.

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previdência social. STJ. 6ª Turma. AgRg no Ag 1083.417-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 25/6/2013
(Info 526). STJ. 3ª Seção. EREsp 1296631-RN, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/9/2013 (Info 528).32

Veremos agora o crime de ESTELIONATO:

9. ESTELIONATO
Art. 171 – Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo al-
guém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.

Um ponto importante sobre o estelionato é que também se aplicam as regras do 155, § 2º do Código
Penal (furto privilegiado), nos moldes do art. 171, § 1º, vejam.

REGRAS DO FURTO PRIVILEGIADO AO ESTELIONATO


§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o
disposto no art. 155, § 2º.

Novamente eu insisto para que não confundam estelionato com furto mediante fraude.

ESTELIONATO FURTO MEDIANTE FRAUDE


Crime autônomo. A vítima é iludida, entregando o É o furto qualificado pela fraude. Quando o agente
bem ao próprio criminoso após o artifício, ardil ou emprega uma fraude como meio para subtrair o
outro meio fraudulento. bem.

A vantagem é de natureza econômica. A vítima não entrega o bem, ao contrário, este é sub-
traído.
Ex.: pessoa se apresenta falsamente como missioná-
ria e solicita vantagem de natureza econômica argu- Ex.: pessoa se apresenta falsamente como técnico
mentando que seria para ações de caridade. A vítima de TV a cabo para realizar reparos na antena da casa
entrega a vantagem e o agente se apropria dos valo- da vítima. Após distração daquela, o agente subtrai
res. os bens que deseja e se evade do local.

CAIU NA DPE/GO– 2010 – INSTITUTO CIDADES: Fulano de Tal falsificou a assinatura em um cheque e utilizou-
o na compra de um rádio. Posteriormente, descoberta a fraude, Fulano de Tal deverá responder pelo(s)
crime(s) de:
a) estelionato em concurso com falsificação de documento.
b) estelionato em concurso com uso de documento falso.
c) estelionato em concurso com falsificação e uso de documento falso.

32CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Efeitos da suspensão da exigibilidade de crédito tributário na prescrição da pretensão punitiva.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/deta-
lhes/bb7946e7d85c81a9e69fee1cea4a087c. Acesso em: 17/04/2021.

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d) exclusivamente estelionato.
e) furto mediante fraude.33

Detalhe importante é que com a Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), o crime de estelionato ganhou
o § 5º no art. 171.

CÓDIGO PENAL PACOTE ANTICRIME


§ 5º Somente se procede mediante representação,

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
salvo se a vítima for:

I – a Administração Pública, direta ou indireta;

Não há correspondência.
II – criança ou adolescente;
O art. 171 só ia até o § 4º

III – pessoa com deficiência mental; ou

IV – maior de 70 (setenta) anos de idade ou inca-


paz.”(NR)34

A Defensoria Pública, no processo penal, é a instituição que garante aos réus e sentenciados materi-
almente defendidos, concretizado os princípios da ampla defesa, do contraditório, da inadmissibilidade no
processo das provas obtidas por meios ilícitos, dever de motivação das decisões e reafirma o estado de ino-
cência (que tem sido uma garantia sistematicamente atacada).

A ação penal no crime de estelionato, como vimos, era pública incondicionada. Com o pacote anti-
crime, passou a ser, em regra, pública CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO, salvo se a vítima for a Administra-
ção Pública, direta ou indireta, criança ou adolescente, pessoa com deficiência mental, maior de 70 anos35 de
idade ou incapaz.

A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei nº 13.964/2019, retroage para
alcançar os processos penais que já estavam em curso? Mesmo que já houvesse denúncia oferecida, será
necessário intimar a vítima para que ela manifeste interesse na continuidade do processo?

Segundo esclarece o professor Márcio Cavalcante, não.

(...) É a posição amplamente majoritária na jurisprudência. Não retroage a norma


prevista no § 5º do art. 171 do CP, incluída pela Lei 13.964/2019 (“Pacote Anti-
crime”), que passou a exigir a representação da vítima como condição de procedibi-
lidade para a instauração de ação penal, nas hipóteses em que o Ministério Público
tiver oferecido a denúncia antes da entrada em vigor do novo diploma legal. A

33 GAB:D.
34 Não basta ser idoso, deve ser idoso com MAIS DE 70 ANOS.
35 Cuidado com pegadinhas com “maior de 60 anos”. É maior de 70 anos.

31
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retroatividade da representação prevista no § 5º do art. 171 do CP deve se restringir


à fase policial. A exigência de representação no crime de estelionato, trazida pelo
Pacote Anticrime, não afeta os processos que já estavam em curso quando entrou
em vigor a Lei nº 13.964/2019. Assim, se já havia denúncia oferecida quando entrou
em vigor a nova Lei, não será necessária representação do ofendido. STJ. 5ª Turma.
HC 573093-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/06/2020 (Info
674). STF. 1ª Turma. HC 187341/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
13/10/2020 (Info 995). STF. 2ª Turma. ARE 1230095 AgR, Rel. Gilmar Mendes, jul-

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
gado em 24/08/2020. 36

No Habeas Corpus nº 610.201 – SP, publicado em 08/04/2021, a Terceira Seção do STJ consolidou o
entendimento, entendendo que de fato a retroatividade da norma que previu a ação penal pública condicio-
nada, como regra, no crime de estelionato, é desaconselhada por, ao menos, duas ordens de motivos.

• A primeira é de caráter processual e constitucional, pois o papel dos Tribunais


Superiores, na estrutura do Judiciário brasileiro é o de estabelecer diretrizes aos de-
mais órgãos jurisdicionais. Nesse sentido, verifica-se que o STF, por ambas as turmas,
já se manifestou no sentido da irretroatividade da lei que instituiu a condição de
procedibilidade no delito previsto no art. 171 do CP.

• Em relação ao aspecto material, tem-se que a irretroatividade do art. 171,


§5º, do CP, decorre da própria mens legis, pois, mesmo podendo, o legislador previu
apenas a condição de procedibilidade, nada dispondo sobre a condição de prosse-
guibilidade. Ademais, necessário ainda registrar a importância de se resguardar a
segurança jurídica e o ato jurídico perfeito (art. 25 do CPP), quando já oferecida a
denúncia.

Colaciono abaixo a ementa do julgado:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. ESTELIONATO. LEI N.


13.964/2019 (PACOTE ANTICRIME). RETROATIVIDADE. INVIABILIDADE. ATO
JURÍDICO PERFEITO. CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. WRIT INDEFERIDO. 1. A re-
troatividade da norma que previu a ação penal pública condicionada, como regra,
no crime de estelionato, é desaconselhada por, ao menos, duas ordens de motivos.
2. A primeira é de caráter processual e constitucional, pois o papel dos Tribunais
Superiores, na estrutura do Judiciário brasileiro é o de estabelecer diretrizes aos de-
mais Órgãos jurisdicionais. Nesse sentido, verifica-se que o STF, por ambas as tur-
mas, já se manifestou no sentido da irretroatividade da lei que instituiu a condição
de procedibilidade no delito previsto no art. 171 do CP. 3. Em relação ao aspecto
material, tem-se que a irretroatividade do art. 171, §5o, do CP, decorre da própria

36CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei 13.964/2019, retroage
para alcançar os processos penais que já estavam em curso?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: https://www.busca-
dordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f12a6a7477077af66212ef0813bcf332. Acesso em: 17/04/2021.

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mens legis, pois, mesmo podendo, o legislador previu apenas a condição de proce-
dibilidade, nada dispondo sobre a condição de prosseguibilidade. Ademais, ne-
cessário ainda registrar a importância de se resguardar a segurança jurídica e o ato
jurídico perfeito (art. 25 do CPP), quando já oferecida a denúncia. 4. Não bastassem
esses fundamentos, necessário registrar, ainda, prevalecer, tanto neste STJ quanto
no STF, o entendimento "a representação, nos crimes de ação penal pública condi-
cionada, não exige maiores formalidades, sendo suficiente a demonstração ine-
quívoca de que a vítima tem interesse na persecução penal. Dessa forma, não há

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
necessidade da existência nos autos de peça processual com esse título, sendo sufi-
ciente que a vítima ou seu representante legal leve o fato ao conhecimento das au-
toridades.” (AgRg no HC 435.751/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 23/08/2018, DJe 04/09/2018). Relator MINISTRO RIBEIRO DANTA. HC nº
610.201 – SP, publicado em 08/04/2021.

Porém, há decisão da 2ª Turma do STF em sentido contrário:

A alteração promovida pela Lei nº 13.964/2019, que introduziu o § 5º ao art. 171 do


Código Penal, ao condicionar o exercício da pretensão punitiva do Estado à repre-
sentação da pessoa ofendida, deve ser aplicada de forma retroativa a abranger tanto
as ações penais não iniciadas quanto as ações penais em curso até o trânsito em
julgado. STF. 2ª Turma. HC 180421 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
22/6/2021 (Info 1023).

Quando o assunto é retroatividade, e apenas para não haver confusão, gostaria de te lembrar que o
ANPP (Acordo de Não Persecução Penal), segundo a jurisprudência (STF e STJ), aplica-se a fatos ocorridos antes
da Lei nº 13.964/2019 (portanto retroage), desde que não recebida a denúncia. Isso porque a Lei nº
13.964/2019, no ponto em que institui o acordo de não persecução penal (ANPP), é considerada lei penal de
natureza híbrida, admitindo conformação entre a retroatividade penal benéfica e o tempus regit actum.

Nesse sentido o STJ:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. VIA INADEQUADA. NÃO CO-


NHECIMENTO. TRÁFICO DE DROGAS. APLICAÇÃO DO ART. 28-A DO CPP. ACORDO DE
NÃO PERSECUÇÃO PENAL (ANPP). DENÚNCIA JÁ RECEBIDA. IMPOSSIBILIDADE. PRE-
CEDENTES DESTA 5ª TURMA E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. HABEAS CORPUS
NÃO CONHECIDO. (...) 2. A Lei n. 13.964/2019 (comumente denominada como "Pa-
cote Anticrime"), ao criar o art. 28-A do Código de Processo Penal, estabeleceu a
previsão no ordenamento jurídico pátrio do instituto do acordo de não persecução
penal (ANPP). 3. O acordo de não persecução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorri-
dos antes da Lei nº 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. (HC-
191.464/STF, 1ª TURMA, Rel. Ministro GILMAR MENDES, DJe de 12/11/2020). No
mesmo sentido: (EDcl no AgRg no AgRg no AREsp 1635787/SP, Relator Ministro REY-
NALDO SOARES DA FONSECA, Quinta Turma, DJe 13/8/2020 e Petição no AREsp

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1.668.089/SP, da Relator Ministro FELIX FISCHER, DJe de 29/6/2020). 4. No caso dos


autos, a discussão acerca da aplicação do acordo de não persecução penal (art. 28-
A do CPP) só ocorreu em sede de apelação criminal e no momento do recebimento
da denúncia não estava em vigência a Lei nº 13.964/2019, o que impede a incidência
do instituto. 5. Habeas corpus não conhecido. (HC 607.003/SC, Rel. Ministro REY-
NALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 24/11/2020, DJe
27/11/2020)

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Ainda, sobre o tema, o STF:

EMENTA: Direito penal e processual penal. Agravo regimental em habeas corpus.


Acordo de não persecução penal (art. 28-A do CPP). Retroatividade até o recebi-
mento da denúncia. 1. A Lei nº 13.964/2019, no ponto em que institui o acordo de
não persecução penal (ANPP), é considerada lei penal de natureza híbrida, admi-
tindo conformação entre a retroatividade penal benéfica e o tempus regit actum. 2.
O ANPP se esgota na etapa pré-processual, sobretudo porque a consequência da sua
recusa, sua não homologação ou seu descumprimento é inaugurar a fase de ofere-
cimento e de recebimento da denúncia. 3. O recebimento da denúncia encerra a
etapa pré-processual, devendo ser considerados válidos os atos praticados em con-
formidade com a lei então vigente. Dessa forma, a retroatividade penal benéfica in-
cide para permitir que o ANPP seja viabilizado a fatos anteriores à Lei nº
13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. 4. Na hipótese concreta, ao
tempo da entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019, havia sentença penal condena-
tória e sua confirmação em sede recursal, o que inviabiliza restaurar fase da perse-
cução penal já encerrada para admitir-se o ANPP. 5. Agravo regimental a que se nega
provimento com a fixação da seguinte tese: “o acordo de não persecução penal
(ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº 13.964/2019, desde que não rece-
bida a denúncia”. (HC 191464 AgR, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Primeira Turma,
julgado em 11/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-280 DIVULG 25-11-2020 PU-
BLIC 26-11-2020).

NOVA LEI: em 21/12/2022 foi publicada a Lei nº 14.478/2022, que trata sobre ativos digitais, alterando o CP,
Lei de Lavagem de Dinheiro e Lei de Crimes Contra o Sistema Financeiro. Essa lei criou o crime de “Fraude com
a utilização de ativos virtuais, valores mobiliários ou ativos financeiros” no art. 171-A do CP:

Art. 171-A, CP. Organizar, gerir, ofertar ou distribuir carteiras ou intermediar operações que envolvam ativos
virtuais, valores mobiliários ou quaisquer ativos financeiros com o fim de obter vantagem ilícita, em prejuízo
alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

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Dando continuidade ao nosso estudo, vamos a um ponto importante: o estelionato previdenciário (§


3º do art. 171 do Código Penal)37 é crime “permanente” ou “instantâneo de efeitos permanentes”?

A resposta é depende. Isso porque se for praticado pelo beneficiário, o crime é permanente, mas se
for praticado por terceiro beneficiário, é instantâneo de efeitos permanentes.

Vejam a tabela.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
PRATICADO PELO BENEFICIÁRIO PRATICADO POR TERCEIRO BENEFICIÁRIO
É permanente. É instantâneo de efeitos permanentes.

Isso tem relevância para fins de início da contagem do prazo prescricional. Porque se o agente pratica
crime permanente, a prescrição só se inicia quando cessar a permanência (como é o caso do beneficiário); por
outro lado, se é instantâneo de efeitos permanentes, a prescrição se inicia com a consumação instantânea do
delito (que, no caso, é a primeira percepção da vantagem pelo terceiro beneficiário).

Bom lembrar que recentemente tivemos alteração no crime de estelionato, no CP, em razão da publi-
cação da Lei nº 14.155/2021. Essa lei incluiu o § 2º-A e § 2º-B. ao art. 171, e alterou a redação do § 4º do
mesmo artigo.
Fraude eletrônica
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é
cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro in-
duzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio
eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Inclu-
ído pela Lei nº 14.155, de 2021)

§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado


gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado
mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional. (Incluído
pela Lei nº 14.155, de 2021)
(...)
Estelionato contra idoso ou vulnerável (Redação dada pela Lei nº 14.155, de
2021)

§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido contra


idoso ou vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso. (Redação
dada pela Lei nº 14.155, de 2021)

Chamo novamente sua atenção para a Lei nº 14.155/2021, que inseriu o § 4º ao art. 70 do CPP, mo-
dificando a competência quando o crime de estelionato for praticado mediante depósito, mediante emissão

37§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de
economia popular, assistência social ou beneficência.

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de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou medi-
ante transferência de valores:

Art. 70. (...)

§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Código Penal (estelionato), quando pratica-
dos mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de
fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transfe-

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
rência de valores, a competência será definida PELO LOCAL DO DOMICÍLIO DA VÍ-
TIMA, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela preven-
ção. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

Para o STJ, no crime de estelionato, não identificadas as hipóteses descritas no § 4º do art. 70 do CPP
(acima), a competência deve ser fixada no local onde o agente delituoso obteve, mediante fraude, em bene-
fício próprio e de terceiros, os serviços custeados pela vítima.

Caso concreto: um ex-funcionário da empresa vítima, atuante no ramo de turismo,


em associação com os outros dois agentes delituosos, simularam contratos de par-
cerias com empresas terceiras, com a intenção de obter para si vantagens ilícitas, a
saber: passagens aéreas e reserva de veículos e hotéis. De acordo com inquérito
policial, o estelionatário fazia uso próprio de tais passagens, bem como as repassava
para terceiros, obtendo o proveito do crime. A empresa vítima possui sede em Bra-
sília/DF, contudo o ex-funcionário apontado como estelionatário trabalhava como
representante comercial na filial localizada em São Paulo (SP), onde os golpes teriam
sido praticados em conluio com outros dois agentes, também residentes em muni-
cípios localizados no Estado de São Paulo. O núcleo da controvérsia consistia em
definir se o julgamento do delito de estelionato competiria ao Juízo Criminal de Bra-
sília/DF, considerando-se o local da sede da empresa vítima e de sua agência bancá-
ria; ou ao Juízo Criminal do Foro Central Barra Funda/SP, em razão do local onde o
agente delituoso auferiu o proveito do crime. No caso concreto, como não foi iden-
tificada nenhuma das hipóteses descritas no § 4º do art. 70 do CPP deve incidir o
teor do caput do mesmo dispositivo legal, segundo o qual “a competência será, de
regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tenta-
tiva, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução”. Logo, foi fixada a
competência do Juízo Criminal do Foro Central Barra Funda/SP. STJ. 3ª Seção. CC
185983-DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 11/05/2022 (Info 736).38

Estão superadas, assim, as súmulas 244 e 521:

38 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. No crime de estelionato, não identificadas as hipóteses descritas no § 4º do art. 70 do CPP, a
competência deve ser fixada no local onde o agente delituoso obteve, mediante fraude, em benefício próprio e de terceiros, os serviços
custeados pela vítima. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurispruden-
cia/detalhes/0a66e17d3ccde15bdecb253e7e293294>. Acesso em: 15/08/2022

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Enunciado 244-STJ: Compete ao foro do local da RECUSA processar e julgar o crime


de estelionato mediante cheque sem provisão de FUNDOS.

Enunciado 521-STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de


estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de FUN-
DOS, é o do local onde se deu a RECUSA do pagamento pelo sacado.

9.1 TESES JURISPRUDENCIAIS IMPORTANTES SOBRE O CRIME DE ESTELIONATO

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
1. O estelionato judicial consistiria no uso do processo judicial para auferir lucros ou vantagens indevidas,
mediante fraude, ardil ou engodo, ludibriando a Justiça. STJ. 6ª Turma. RHC 88.623/PB, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 13/03/2018.

2. O delito de estelionato não será absorvido pelo de roubo na hipótese em que o agente, dias após roubar
um veículo e os objetos pessoais dos seus ocupantes, entre eles um talonário de cheques, visando obter
vantagem ilícita, preenche uma de suas folhas e, diretamente na agência bancária, tenta sacar a quantia
nela lançada. A falsificação da cártula não é mero exaurimento do crime antecedente. STJ. 5ª Turma.
HC 309939-SP.

9.2 ENUNCIADOS DE SÚMULA IMPORTANTES SOBRE ESTELIONATO


Enunciado 48-STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da VANTAGEM ilícita processar e julgar crime de
estelionato cometido mediante FALSIFICAÇÃO de cheque.

Enunciado 244-STJ: Compete ao foro do local da RECUSA processar e julgar o crime de estelionato mediante
cheque sem provisão de FUNDOS.

Enunciado 521-STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a mo-
dalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de FUNDOS, é o do local onde se deu a RECUSA do
pagamento pelo sacado.

Enunciado 73-STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de
estelionato, da competência da Justiça Estadual.

Enunciado 17-STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este ab-
sorvido.

Enunciado 554-STF: O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da de-
núncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

Enunciado 246-STF: Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque
sem fundos (não se pune criminalmente a emissão CULPOSA de cheque sem fundo).

Para finalizar os crimes contra o patrimônio, precisamos falar sobre receptação.

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10. RECEPTAÇÃO
Art.180 Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe
ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

CAIU NA DPE/GO – 2021 – FCC: O crime de receptação39:


A) é impunível se o autor do crime de que proveio a coisa é isento de pena, conforme jurisprudência do Supe-

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
rior Tribunal de Justiça.
B) é punível ainda que o agente tenha apenas influído para que terceiro, de boa-fé, oculte coisa que sabe ser
produto de crime.
C) de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, com finalidade de co-
mercialização, é crime contra a fauna e submetido às causas de aumento de pena da Lei n° 9.605/1998.
D) tem a pena aumentada por se tratar de circunstância agravante, quando envolver bens do patrimônio do
Estado ou Município.
E) tem a pena aumentada por se tratar de circunstância agravante, quando envolver bens do patrimônio do
Estado ou Município.

10.1 RECEPTAÇÃO PRÓPRIA 10.2 RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA


O agente adquire, recebe, transporta, conduz ou Incrimina-se a conduta do intermediário, ou seja, de
oculta. Tipo alternativo ou de conteúdo variado, quem se coloca entre o autor do crime anterior e o ter-
de maneira que a prática de mais de um núcleo ceiro de boa fé.
num mesmo contexto fático caracteriza a prática
de um único delito. AUTOR DO CRIME (FURTO) à INTERMEDIADOR (RE-
CEPTADOR) à TERCEIRO DE BOA FÉ (não pratica crime).

Se o terceiro não for de boa fé será receptador próprio.

Veja que a lei determina que a coisa deve ser produto de CRIME. Portanto, o produto objeto de con-
travenção não gera receptação, pois não se pode utilizar analogia in malam partem.

10.3 RECEPTAÇÃO DA RECEPTAÇÃO


O professor Nelson Hungria entende ser possível a receptação da receptação, desde que a coisa conserve
seu caráter delituoso. Ou seja, se for adquirida por terceiro de boa-fé não haverá receptação.

Não podemos confundir receptação com o crime de favorecimento real.

RECEPTAÇÃO (ART. 180, CP) FAVORECIMENTO REAL (ART. 349, CP)


É um crime contra o patrimônio. Diferente do fa- É um crime contra a administração da justiça.
vorecimento real, o agente aqui realmente quer

39 GAB: B.

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(ou para si ou para outrem) o produto objeto do O agente presta auxílio ao criminoso (ex.: ladrão de ce-
crime. lular) para tornar seguro o proveito do crime.

Ex.: pessoa que esconde o celular objeto de crime em


sua casa.

É importante dizer que há também receptação culposa, quando o agente adquire ou recebe coisa que,
por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
presumir-se obtida por meio criminoso, vejam:

10.4 RECEPTAÇÃO CULPOSA


§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.

Há ainda um tratamento jurídico diferente para a receptação culposa e a dolosa.

RECEPTAÇÃO CULPOSA RECEPTAÇÃO DOLOSA


Se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do
consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a art. 155 do CP, ou seja, as regras do furto privilegi-
pena. ado.

10.5 CRIME ANTECEDENTE – INDEPENDÊNCIA TÍPICA


A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
No entanto, a receptação é crime acessório ou também chamado de crime parasita, pois depende de um
crime antecedente.

10.6 RECEPTACÃO DE PRODUTO OBJETO DE ATO INFRACIONAL


A lei se refere a coisa objeto de crime, sem fazer referência a ato infracional. Essa é a visão de Claudio He-
leno Fragoso.

10.7 RECEPTAÇÃO DE BENS PÚBLICOS (PENA DOBRADA)


Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços
públicos, aplica-se em dobro a pena do caput.

Veremos agora a receptação qualificada.

39
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10.8 RECEPTAÇÃO QUALIFICADA (EXERCÍCIO DE ATIVIDADE COMERCIAL OU INDUSTRIAL)


Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender,
expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade co-
mercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime.

Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.

Professor, é possível receptação de animal de produção?

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Sim, pessoal. O art. 180- A, inserido em 2016, traz essa previsão.

10.9 RECEPTAÇÃO DE ANIMAL


Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de
produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em
partes, que deve saber ser produto de crime:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Agora veremos as imunidades previstas no art. 181 e 182, importantíssimas para nossas provas.

Trata-se de situações em que, preenchidos os requisitos legais, os crimes contra o patrimônio pratica-
dos sem violência ou grave ameaça podem deixar ser punidos (escusa absoluta) ou a ação penal pública in-
condicionada passar a depender de representação (escusa relativa).

Vamos analisar as situações.

11. ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS E RELATIVAS

ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS ESCUSAS RELATIVAS


As escusas absolutórias têm natureza jurídica, majo- Estão previstas no art. 182 do Código Penal (vere-
ritariamente, de excludente de punibilidade, es- mos abaixo).
tando previstas no art. 181 do Código Penal (vere-
mos abaixo).
São causas objetivas de procedibilidade, ou seja, a
Como dito, Cezar Roberto Bitencourt defende que as ação penal pública incondicionada passa a ser con-
imunidades absolutas são condições negativas da dicionada, não excluindo o agente da pena comi-
punibilidade. nada ao tipo violado.

11.1 HIPÓTESES DE INCIDÊNCIA DAS ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS


Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:

I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;

40
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II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

IMPORTANTE: Enunciado 26 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ: A escusa absolutória do
artigo 181, inciso II, do Código Penal abrange também a paternidade e filiação socioafetiva.

Agora vamos analisar as hipóteses de escusa relativa.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
11.2 HIPÓTESES DE INCIDÊNCIA DAS ESCUSAS RELATIVAS
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em
prejuízo:

I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado (cuidado, se for na constância da sociedade conjugal


a escusa é absolutória).

II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;

III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita (tem que haver coabitação).

Para encerrar, vocês precisam saber que há situações em que NÃO SE APLICAM essas imunidades.
São a exceção da exceção (ou seja, aquilo que o examinador A D O R A ).

Vejam:

NÃO SE APLICA NENHUM TIPO DE ESCUSA NAS SEGUINTES SITUAÇÕES (ART. 183)
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:

I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência
à pessoa;

II - ao estranho que participa do crime.40

III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Trataremos agora sobre os crimes contra a liberdade sexual, que sofreram bastante alteração em
2018.

40 A escusas são personalíssimas, por isso não se comunicam.

41
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12. CADASTRO NACIONAL DE PESSOAS CONDENADAS POR CRIME DE ESTUPRO

Inicialmente, saibam que foi publicada em 2 de outubro de 2020 a Lei nº 14.069/202041, que cria o
Cadastro Nacional de Pessoas Condenadas por Crime de Estupro. Segundo a nova lei, o Cadastro conterá, no
mínimo, as seguintes informações sobre as pessoas condenadas por esse crime:

I – características físicas e dados de identificação datiloscópica;


II – identificação do perfil genético;

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
III – fotos;
IV – local de moradia e atividade laboral desenvolvida, nos últimos 3 (três) anos, em
caso de concessão de livramento condicional.

Agora iniciaremos com o crime de estupro, presente no art. 213 do Código Penal.

13. ESTUPRO
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça42, a ter conjunção carnal ou a praticar
ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.

CUIDADO 01: houve continuidade normativo-típica com relação ao crime de atentado violento ao pudor.
Não houve abolitio criminis.

CUIDADO 02: a partir de 2018, o crime de estupro se procede mediante ação penal pública incondicio-
nada.

CUIDADO 03: quando o tipo penal se refere à violência, se está fazendo referência a qualquer ato que cer-
ceie o direito de a vítima se esquivar da situação. Ex.: em um ônibus lotado, o agente pressiona a vítima
contra um dos balaústres do veículo, de maneira que a pessoa não consegue sair. Está configurado o crime.

Nós que almejamos a Defensoria Pública precisamos sempre fazer paralelo com o estudo dos Direitos
Humanos. Sobre a temática de violência sexual, um dos casos mais emblemáticos no sistema regional ameri-
cano é o González e outras (“Campo Algodoeiro”) Vs. México, que abordou, segundo a doutrina43,

(...) Os direitos humanos das mulheres de forma global, ao reconhecer a responsa-


bilidade do Estado por irregularidades e atrasos nas investigações dos desapareci-
mentos (e posteriores mortes) de Laura Berenice Ramos Monárrez (de 17 anos),
Claudia Ivette González (de 20 anos) e Esmeralda Herrera Monreal (de 15 anos).
Após o desaparecimento das três mulheres, os corpos foram encontrados num
campo algodoeiro na Cidade Juárez, em Chihuahua, no México, com sinais de

41 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14069.htm. Acesso em: 17/04/2021.


42 A simulação de arma de fogo pode sim configurar a “grave ameaça”, para os fins do tipo do art. 213 do Código Penal. STJ. 6ª Turma.
REsp 1.916.611-RJ, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em 21/09/2021 (Info 711).
43 Mazzuoli, Valerio de Oliveira. Curso de direitos humanos/Valerio de Oliveira Mazzuoli. – 5. ed., rev. atual. ampl. – Rio de Janeiro:

Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018, p. 306/307.

42
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violência sexual e demais abusos físicos. Em consequência, a Corte reconheceu a


responsabilidade do México por violação à Convenção Americana e à Convenção de
Belém do Pará relativamente às três vítimas e seus familiares, em razão de não ter
o Estado empreendido as diligências necessárias para resguardar o direito das víti-
mas à integridade pessoal, à vida e à liberdade, bem assim por não ter tomado as
medidas necessárias ao devido esclarecimento do crime, tomando por base padrões
socioculturais discriminatórios em relação às pessoas do sexo feminino.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
CAIU NA DPE/PA – 2022 – CESPE/CEBRASPE: Os agentes A e B praticaram um assalto contra a vítima X, que
tinha dezessete anos de idade na data do fato. Durante o assalto, A aproveitou-se da situação de coação da
vítima X e, contra a vontade desta, com ela praticou conjunção carnal, enquanto B, sabendo da intenção de
A, ficou vigiando o local, sem, entretanto, assistir ao ato sexual.
Nessa situação hipotética:
a) A praticou roubo circunstanciado e estupro simples, enquanto B só responderá por roubo circunstanciado.
b) A praticou roubo circunstanciado e estupro qualificado, enquanto B só responderá por roubo circunstanci-
ado.
c) A e B responderão por roubo circunstanciado e estupro simples.
d) A e B responderão por roubo circunstanciado e estupro qualificado, mas B responderá apenas como partí-
cipe do crime de estupro.
e) A e B responderão por roubo circunstanciado e estupro qualificado.44

Dando continuidade, veremos agora o estupro de vulnerável.

14. ESTUPRO DE VULNERÁVEL


Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:

CUIDADO: o vulnerável nem sempre é o menor de 14 anos. O Código Penal afirma que incorre na mesma
pena quem pratica os verbos do caput do art. 217-A com alguém que, por enfermidade ou deficiência men-
tal, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência.

É importante ressaltar que existia uma discussão no STJ se nos casos de estupro em razão de vulnera-
bilidade temporária (ex.: pessoa embriagada), a ação penal seria incondicionada ou condicionada. Tínhamos,
portanto, duas posições45:

44GAB:D.
45CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Estupro de vulnerável, vulnerabilidade temporária e ação penal. Buscador Dizer o Direito, Ma-
naus. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a68259547f3d25ab3c0a5c0adb4e3498.
Acesso em: 17/04/2021.

43
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5ª Turma do STJ 6ª Turma do STJ

Em casos de vulnerabilidade da ofendida, a ação penal A “pessoa vulnerável” de que trata o parágrafo
é pública incondicionada, nos moldes do parágrafo único do art. 225 do CP é somente aquela que pos-
único do art. 225 do CP. sui uma incapacidade permanente de oferecer re-
sistência à prática dos atos libidinosos.
Esse dispositivo não fez qualquer distinção entre a vul-
nerabilidade temporária ou permanente, haja vista Se a pessoa é incapaz de oferecer resistência ape-
que a condição de vulnerável é aferível no momento nas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos,

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
do cometimento do crime, ocasião em que há a prá- ela não pode ser considerada vulnerável para os
tica dos atos executórios com vistas à consumação do fins do parágrafo único do art. 225, de forma que a
delito. ação penal permanece sendo condicionada à re-
presentação da vítima.
Em outras palavras, seja a vulnerabilidade perma-
nente ou temporária, no caso de estupro de vulnerá-
vel a ação penal é sempre incondicionada.

STJ. 5ª Turma. HC 389.610/SP, Rel. Min. Felix Fischer, STJ. 6ª Turma. HC 276.510-RJ, Rel. Min. Sebastião
julgado em 08/08/2017. Reis Júnior, julgado em 11/11/2014 (Info 553).

Em 2020, a Sexta Turma voltou novamente a entender que no crime sexual cometido durante vulne-
rabilidade temporária da vítima, sob a égide do art. 225 do Código Penal com a redação dada pela Lei nº
12.015/2009, a ação penal pública é condicionada à representação. REsp 1.814.770-SP, Rel. Min. Antonio Sal-
danha Palheiro, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 05/05/2020, DJe 01/07/2020 (Informativo 675-
STJ).

Contudo, é preciso deixar claro que a discussão acima exposta existia ANTES da Lei nº 13.718/2018.
Atualmente não interessa mais, salvo para definir situações pretéritas. Isso porque a Lei nº 13.718/2018 alte-
rou a redação do art. 225 do CP e passou a prever que TODOS os crimes contra a dignidade sexual são de ação
pública incondicionada (sempre). Não há exceções! Há que se ressaltar, no entanto, que a Lei nº 13.718/2018
entrou em vigor na data de sua publicação (25/09/2018). Como se trata de lei penal mais gravosa (novatio
legis in pejus), ela é irretroativa, não alcançando fatos praticados antes da sua vigência. Essa regra de irretro-
atividade vale, inclusive, para as ações penais. Assim, por exemplo, se, em 24/09/2018, o agente praticou
conjunção carnal ou ato libidinoso contra uma pessoa “temporariamente vulnerável”, a discussão acima ainda
permanece porque a Lei nº 13.718/2018 não poderá retroagir. 46

Ação penal
Art. 225, CP. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se medi-
ante ação penal pública incondicionada. (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018)
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018)

46CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Estupro de vulnerável, vulnerabilidade temporária e ação penal. Buscador Dizer o Direito, Ma-
naus. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a68259547f3d25ab3c0a5c0adb4e3498.
Acesso em: 17/04/2021.

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SÚMULA IMPORTANTE: O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de
ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do
ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente (Súmula 593-STJ,
Aprovada em 25/10/2017, DJe 06/11/2017).

Ademais, é bom lembrar que o contato físico entre autor e vítima não é indispensável para configu-
rar o delito.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
A conduta de contemplar lascivamente, sem contato físico, mediante pagamento,
menor de 14 anos desnuda em motel pode permitir a deflagração da ação penal
para a apuração do delito de estupro de vulnerável. Segundo a posição majoritária
na doutrina, a simples contemplação lasciva já configura o “ato libidinoso” descrito
nos arts. 213 e 217-A do Código Penal, sendo irrelevante, para a consumação dos
delitos, que haja contato físico entre ofensor e ofendido. STJ. 5ª Turma. RHC 70976-
MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 2/8/2016 (Info 587).

CAIU NA DPE/PB – 2022 – FCC: O crime de estupro de vulnerável, conforme o Superior Tribunal de Justiça,
a) impede a responsabilização do agente na qualidade de partícipe.
b) prescinde de contato físico direto do réu com a vítima.
c) não é considerado hediondo diante da legalidade estrita para tal configuração.
d) pode ser considerado atípico diante de eventual consentimento da vítima.
e) exige a fixação de regime inicial fechado em razão do quantum de pena previsto.

Vale a pena revisar e decorar a seguinte tabela:

MENOR DE 14 MAIOR DE 14 E MENOR DE 18 MAIOR DE 18 E VULNERÁVEL


Estupro de vulnerável indepen- É uma qualificadora do estupro Incorre nas mesmas penas do estu-
dente de consentimento. (art. 213, § 1o do CP). pro de vulnerável o cometido contra
o maior de 18 anos, mas vulnerável
Previsão do art. 217-A. (temporariamente ou permanente-
mente).

Previsão do art. 217-A, § 1o


do CP.

JURISPRUDÊNCIA: Pessoal, no HC 100181/RS, julgado em 15/08/2019, “o Plenário, por maioria, concedeu ha-
beas corpus de ofício para decotar da pena imposta ao paciente — condenado pela prática dos crimes de
estupro em concurso de agentes e atentado violento ao pudor em concurso de agentes; além do crime de
corrupção de menores, tudo em concurso material — a incidência da majorante prevista no art. 9º da Lei nº
8.072/1990. A defesa argumentou que a incidência da referida majorante consubstancia bis in idem. Prevale-
ceu o voto do ministro Alexandre de Moraes. De início, não conheceu da impetração, porque movida contra
decisão monocrática de ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Entretanto, anotou que a posterior
revogação do art. 224 do Código Penal (CP) (2) deixou sem efeito a aplicabilidade do art. 9º da Lei nº

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8.072/1990, expressamente condicionado à incidência daquele dispositivo. Afastou a alegada ocorrência de


bis in idem, mas reconheceu que a alteração legislativa que revogou o art. 224 do CP implicou situação mais
favorável ao paciente e, portanto, deve retroagir em seu benefício. Vencidos os ministros Marco Aurélio (re-
lator) e Ricardo Lewandowski, que concederam a ordem de ofício em maior extensão. Consideraram que a Lei
nº 12.015/2009 unificou os delitos de estupro e atentado violento ao pudor, de modo que caberia ao juiz da
execução analisar as condutas do paciente para aplicar-lhe reprimenda compatível com a configuração de
crime único ou crime continuado, sem a incidência de concurso material. HC 100181/RS, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 15.8.2019. (HC-100181)

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
De quem é a competência para julgar o crime de estupro praticado contra criança e adolescente no
contexto de violência doméstica e familiar?

Após o advento do art. 23 da Lei nº 13.431/2017, nas comarcas em que não houver
vara especializada em crimes contra a criança e o adolescente, compete à vara es-
pecializada em violência doméstica, onde houver, processar e julgar os casos envol-
vendo estupro de vulnerável cometido pelo pai (bem como pelo padrasto, compa-
nheiro, namorado ou similar) contra a filha (ou criança ou adolescente) no ambiente
doméstico ou familiar. De quem é a competência para julgar o crime de estupro pra-
ticado contra criança e adolescente no contexto de violência doméstica e familiar?

1ª opção: juizado ou vara especializada em crimes contra a criança e o adolescente


(caput do art. 23 da Lei nº 13.431/2017);

2ª opção: caso não exista a vara especializada em crimes contra a criança e o ado-
lescente, esse crime será julgado no juizado ou vara especializada em violência do-
méstica, independentemente de considerações acerca da idade, do sexo da vítima
ou da motivação da violência (parágrafo único do art. 23 da Lei nº 13.431/2017);

3ª opção: nas comarcas em que não houver varas especializadas em violência contra
crianças e adolescentes ou juizados/varas de violência doméstica, a competência
para julgar será da vara criminal comum. STJ. 3ª Seção. EAREsp 2099532/RJ, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/10/2022 (Info 755).47

15. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE


Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio
que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima.

ATENÇÃO: se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também a pena multa
(parágrafo único).

47CAVALCANTE, Márcio André Lopes. De quem é a competência para julgar o crime de estupro praticado contra criança e adolescente
no contexto de violência doméstica e familiar?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodi-
reito.com.br/jurisprudencia/detalhes/293c3b96edea6588bc4b9415c3be4e66>. Acesso em: 09/01/2023

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16. IMPORTUNAÇÃO SEXUAL. (INCLUÍDO EM 2018)


Esse crime foi incluído pela Lei nº 13.718/2018.

Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria
lascívia ou a de terceiro.

A pena é de reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave48.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
OBS: Presente o dolo específico de satisfazer à lascívia, própria ou de terceiro, a prática de ato libidinoso
com menor de 14 anos configura o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), independentemente
da ligeireza ou da superficialidade da conduta, não sendo possível a desclassificação para o delito de impor-
tunação sexual (art. 215-A do CP). STJ. 3ª Seção. REsp 1959697-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
08/06/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1121) (Info 740).

17. ASSÉDIO SEXUAL


Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-
se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego,
cargo ou função.

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

CUIDADO 01: o sujeito ativo deve ser superior hierárquico ou ascendência inerente ao cargo, emprego ou
função, podendo ser em órgãos públicos ou privados.

CUIDADO 02: o assédio criminoso é o sexual. Não confundir com o assédio moral, que no Brasil não há
tipificação específica.

ANOTA AÍ: a pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.

18. ASSÉDIO PROFESSOR-ALUNO


No informativo 658 do STJ, entendeu-se que é possível a configuração do delito de assédio sexual na relação
entre professor e aluno. REsp 1.759.135-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti
Cruz, Sexta Turma, por maioria, julgado em 13/08/2019, DJe 01/10/2019.

19. REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE SEXUAL (INSERIDO EM 2018)


Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato
sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes.

CUIDADO: na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro
registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.

48 Percebam que a parte final do delito dispõe expressamente que ele tem natureza subsidiária.

47
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Cuidado com o crime de corrupção de menores previsto no Código Penal, pois há, no ECA, outro crime
de corrupção de menores, mas com outra objetividade jurídica.

Vejam:

CORRUPÇÃO DE MENORES NO CÓDIGO PENAL CORRUPÇÃO DE MENORES NO ECA


(ART. 218) (ART. 244-B)
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) Art. 244-B Corromper ou facilitar a corrupção de menor

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
anos a satisfazer a lascívia de outrem. de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal
ou induzindo-o a praticá-la.

SÚMULA IMPORTANTE: A configuração do crime previsto no artigo 244-B do Estatuto da Criança e do Adoles-
cente independe da prova da efetiva corrupção do menor, por se tratar de delito formal (Súmula 500-STJ).

O art. 218-B foi acrescentado ao Código Penal pela Lei nº 12.015/2009 e revogou tacitamente o crime
do art. 244-A do ECA.

Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança


ou adolescente ou de vulnerável. (Redação dada pela Lei nº 12.978, de
2014)

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração


sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir
ou dificultar que a abandone: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)

§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se tam-


bém multa. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 2o Incorre nas mesmas penas: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)


I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18
(dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste ar-
tigo; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as


práticas referidas no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)

§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a


cassação da licença de localização e de funcionamento do estabeleci-
mento. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

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O STJ entende que o delito de favorecimento à exploração sexual de adolescente (art. 218-B do CP)
não exige habitualidade. Trata-se de crime instantâneo, que se consuma no momento em que o agente obtém
a anuência para práticas sexuais com a vítima menor de idade, mediante artifícios como a oferta de dinheiro
ou outra vantagem, ainda que o ato libidinoso não seja efetivamente praticado. Esta interpretação da norma
do art. 218-B, do Código Penal é a única capaz de cumprir com a exigência de proteção integral da pessoa em
desenvolvimento contra todas as formas de exploração sexual. STJ. 6ª Turma. REsp 1963590/SP, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 20/09/2022 (Info 754).49

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Ademais, o entendimento do STJ é também no sentido de que o fato de a vítima já ser corrompida,
atuante na prostituição, é irrelevante para o tipo penal. Isso porque o delito do art. 218-B do CP não pune a
deterioração moral da vítima, mas sim o incentivo à atividade de prostituição, inclusive por aproveitamento
eventual dessa atividade como cliente. Pune-se não somente quem atua para a prostituição do adolescente –
induzindo, facilitando ou submetendo à prática ou, ainda, dificultando ou impedindo seu abandono –, mas
também quem se serve desta atividade. Trata-se de ação político-social de defesa do adolescente, mesmo
contra a vontade deste, pretendendo afastá-lo do trabalho de prostituição pela falta de quem se sirva de seu
atendimento. STJ. 6ª Turma. HC 288374-AM, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 5/6/2014 (Info 543). 50

Continuando o ponto...

20. DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO OU


DE PORNOGRAFIA (INCLUÍDO EM 2018)
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divul-
gar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou tele-
mática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de
vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo,
nudez ou pornografia.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA: a pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é
praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de
vingança ou humilhação.

CUIDADO 01: quando falamos do crime em questão, previsto no CP, estamos tratando de pessoas com mais
de 18 anos, pois se aqueles que tiveram a intimidade exposta têm idade inferior, o crime será o de porno-
grafia infantil (arts. 240 a 241-A, ECA).

CUIDADO 02: se, nas cenas divulgadas de sexo, nudez ou pornografia, houver pessoa com mais de 18 anos
e pessoa com idade inferior, ocorrerá concurso formal impróprio entre os crimes do CP e do ECA desde que,

49 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O delito de favorecimento à exploração sexual de adolescente não exige habitualidade, tratando-

se de crime instantâneo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurispruden-


cia/detalhes/3722e31eaa9efae6938cc5c435365dfd>. Acesso em: 09/01/2023
50 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O delito de favorecimento à exploração sexual de adolescente não exige habitualidade, tratando-

se de crime instantâneo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurispruden-


cia/detalhes/3722e31eaa9efae6938cc5c435365dfd>. Acesso em: 09/01/2023

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claro, o agente saiba a idade das pessoas envolvidas (caso contrário haveria responsabilidade penal obje-
tiva).

EXCLUDENTES DE ILICITUDE
Art. 218-C, § 2º.

Não há crime quando o agente:

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
- pratica as condutas descritas em publicação de natureza jornalística,
- científica,
- cultural ou acadêmica,
- com a adoção de recurso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização,
caso seja maior de 18 (dezoito) anos.

AUMENTO DE PENA AOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL (art. 226)


I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;

II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela; (Re-
dação dada pela Lei nº 13.718, de 2018)

Por fim, cuidado com duas causas de aumento de pena chamadas de “estupro coletivo” e “estupro
corretivo”, trazidas pela Lei nº 13.718/2018 ao art. 226, IV, “a” e “b”.

ESTUPRO COLETIVO ESTUPRO CORRETIVO


Causa de aumento de pena em 1/3 a 2/3, quando Causa de aumento de pena em 1/3 a 2/3, quando prati-
praticado mediante concurso de 2 (dois) ou mais cado para controlar o comportamento social ou sexual
agentes. da vítima.

Note que o art. 226, I, traz uma causa de aumento de pena de ¼ para o estupro, quando este é come-
tido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas. De igual maneira, o art. 226, IV, “a”, traz outra causa de
aumento de pena, quando o estupro coletivo é cometido mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes. A
questão a ser indagada é a seguinte: em caso de confronto entre os dois dispositivos (inciso I e IV), qual dos
dois deverá prevalecer, isto é, ser aplicado no caso concreto? Sobre o assunto formam-se duas correntes:

Sobre o tema, ainda bem atual, surgem duas teses:

Observa-se assim que existem dois dispositivos tratando do mesmo assunto, qual
seja: crimes do Capítulo I e II praticado mediante o concurso de 2 (duas) ou mais
pessoas. A grande questão reside no quantitativo da pena. A novatio legis (art. 226,
inciso IV, alínea a) tem um quantitativo mais elevado (1/3 a 2/3), enquanto o inciso
I do mesmo artigo tem um quantitativo de quarta parte (1/4).

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• Primeira corrente: entende que os dispositivos devem se integrar no ordenamento


jurídico, sendo que a causa de aumento do inciso IV, alínea a (com maior quantita-
tivo), deverá ser aplicada aos crimes de estupro e estupro de vulnerável, tendo em
vista que o nome iuris da causa de aumento especifica “estupro coletivo”;

• Segunda corrente: entende que entre o confronto dos dispositivos citados, deverá
prevalecer o mais favorável ao réu, ou seja, o inciso I (com menor quantitativo). Ar-
gumentam que o legislador mudaria a redação do inciso I, o que não ocorreu no

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Senado, permanecendo, portanto, a mesma redação. Outra, a nome iuris (estupro
coletivo) de uma causa de aumento de pena não tem o condão de enquadrá-la como
causa de aumento específica para o delito de estupro, pois se assim quisesse caberia
o legislador inserir na redação do dispositivo, por exemplo, “se o crime de estupro
ou estupro de vulnerável é cometido por duas ou mais pessoas”.51

Guilherme de Souza Nucci (2020, p. 1.209), ainda pontua o seguinte:

Conforme o título dado pelo legislador (estupro coletivo), são esses os dois crimes
sujeitos a esta causa de aumento do inciso IV, a. No entanto, qualquer outro crime
sexual dos Capítulos I e II, havendo duas ou mais pessoas como autoras, comporta a
causa de aumento prevista no inciso I deste artigo. No mais, a elevação é variável de
1/3 a 2/3. Cremos que o aumento deve pautar-se pelo número de pessoas envolvi-
das. Se duas, aumento de 1/3; se muitas, elevação de 2/3. 52

Por fim, é de grande relevância a leitura da Edição 15153, 15254 e 15355 da Jurisprudência em Teses do
STJ sobre o tema “crimes contra a dignidade sexual”, publicada respectivamente em junho, julho e agosto de
2020, que podem ser encontradas nos links referenciados.

CAIU NA DPE/AM – 2021 – FCC: Sobre as causas de aumento previstas na parte especial do Código Penal, é
correto afirmar que:
a) a pena será aumentada até um terço se na associação criminosa houver a participação de adolescente.
b) a sanção será em dobro se a vítima do crime de estelionato for idosa.
c) no crime de perseguição a pena é aumentada de metade se for cometido contra pessoa com deficiência.
d) a pena, exceto no caso de difamação, aumenta em um terço se o crime contra a honra for praticado contra
pessoa maior de 60 anos.
e) no crime de importunação sexual a pena é aumentada de metade se o agente é empregador da vítima.56

51 Disponível em: http://genjuridico.com.br/2018/11/30/as-inovacoes-legislativas-aos-crimes-sexuais-no-enfrentamento-a-criminali-


dade/. Acesso em: 17/04/2021.
52 Manual de direito penal/Guilherme de Souza Nucci. – 16. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 1.209.
53 Disponível em: https://scon.stj.jus.br/docs_internet/jurisprudencia/jurisprudenciaemteses/Jurisprudencia%20em%20Te-
ses%20151%20-%20Dos%20Crimes%20Contra%20a%20Dignidade%20Sexual%20-%20I.pdf. Acesso em: 17/04/2022.
54 Disponível em: https://scon.stj.jus.br/docs_internet/jurisprudencia/jurisprudenciaemteses/Jurisprudencia%20em%20Te-
ses%20152%20-%20Dos%20Crimes%20Contra%20a%20Dignidade%20Sexual%20-%20II.pdf. Acesso em: 17/04/2022
55 Disponível em: https://scon.stj.jus.br/docs_internet/jurisprudencia/jurisprudenciaemteses/Jurisprudencia%20em%20Te-
ses%20153%20-%20Dos%20Crimes%20Contra%20a%20Dignidade%20Sexual%20-%20III.pdf. Acesso em: 17/04/2022
56 GAB:E.

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Agora iniciamos os crimes contra a paz pública.

21. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA


Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer CRIMES.

Como a pena é de 1 a três anos, cabe a suspensão condicional do processo.

ATENÇÃO: A pena aumenta até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
ou adolescente. (parágrafo único)

Vamos ter cuidado, pois a Lei nº 12.850/2013 deu uma redação diferente a esse crime, antes chamado
de “quadrilha ou bando”.

Vejam o antes e depois:

ANTES DA LEI Nº 12.850/2013 DEPOIS DA LEI Nº 12.850/2013


Era chamado de “quadrilha ou bando”. Associação criminosa
Associarem-se MAIS DE TRÊS PESSOAS, em qua- Associarem-se TRÊS OU MAIS PESSOAS, para o fim es-
drilha ou bando, para o fim de cometer crimes. pecífico de cometer crimes.

SÉRIE INDETERMINADA DE CRIMES


Se a reunião de pessoas for para cometer contravenção penal não haverá associação criminosa.

Se a reunião for eventual, casual, haverá mero concurso de pessoas.

22. CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA


Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular,
grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos no Código Penal.

Não se confunde com a associação criminosa, pois a constituição de milícia tem a finalidade de constituir,
organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão.

Vejam as diferenças entre associação criminosa, organização criminosa e milícia privada.

ASSOCIAÇÃO CRIMI- ASSOCIAÇÃO PARA O ORGANIZAÇÃO CRIMI- MILÍCIA


NOSA TRÁFICO NOSA PRIVADA
3 (três) ou mais pessoas 2 (duas) ou mais pessoas 4 (Quatro) ou mais pes- Não tem número mínimo.
(art. 288 do CP). (art. 35 Lei de Drogas). soas. (art. 2, Lei nº (art.288-A)
12.850/2013).
Dispensa estrutura orde- Também não precisa de Pressupõe estrutura Apesar o verbo do tipo dis-
nada e divisão de tarefa. estrutura ordenada e di- ordenada e divisão de pensar, em regra as tare-
visão de tarefas. tarefas. fas são divididas.

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O objetivo é cometer cri- O objetivo é cometer cri- Crime ou contravenção A finalidade aqui é de co-
mes (qualquer crime). mes, reiterados ou não, com pena máxima SU- meter crimes previstos no
dos artigos 33, caput e § PERIOR a 4 anos, ou in- Código Penal. A lei não
1º, e 34 da Lei de Drogas. dependente da pena, fala quais.
desde que seja de cará-
ter transnacional.

A partir de agora veremos os crimes contra a fé pública, tema de absoluta relevância apara Defenso-

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
ria Pública.

23. CRIME DE MOEDA FALSA


Art.289. Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou
no estrangeiro.

Chamada também de contrafação (sinônimo de falsificação). É de competência da Justiça Federal.

ATENÇÃO 01: Enunciado de Súmula 73-STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado confi-
gura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.

ATENÇÃO 02: Inaplicabilidade do arrependimento posterior no crime de moeda falsa. STJ. 6ª Turma. REsp
1242294-PR.

ATENÇÃO 03: Os Tribunais não têm aplicado a insignificância aos crimes de moeda falsa, por atingir a fé
pública.

Nesse crime de moeda falsa, o bem jurídico tutelado é a fé pública no que diz respeito à emissão de
moeda. Trata-se de crime cuja competência é da Justiça Federal.

O STJ, em 2014, não acolheu a tese da DPU no sentido de aplicar o arrependimento posterior ao crime
de moeda falsa.

Imagine a seguinte situação adaptada:


João, utilizando duas notas falsas de R$ 50, comprou gêneros alimentícios no mer-
cadinho de D. Maria.
Quando D. Maria foi trocar o dinheiro no banco, foi informada que as cédulas eram
falsas, tendo procurado a polícia para comunicar o ocorrido.
Logo após ser instaurado o inquérito policial, João confessou a prática do crime e
ressarciu D. Maria pelos prejuízos causados.
Mesmo assim, o Ministério Público federal denunciou João pelo cometimento do
crime de moeda falsa, previsto no § 1º do art. 289 do CP:
Art. 289. Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de
curso legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.

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§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou
exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação
moeda falsa.
Tese da DPU
A DPU, que fazia a assistência jurídica de João, afirmou que ele teria direito de rece-
ber o benefício do arrependimento posterior, insculpido no art. 16 do CP:
Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o
dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
A tese da DPU foi aceita pelo STJ? É possível aplicar o benefício do arrependimento
posterior ao réu acusado do crime de moeda falsa?
NÃO.
Não se aplica o instituto do arrependimento posterior ao crime de moeda falsa.
No crime de moeda falsa a vítima é a coletividade como um todo, e o bem jurídico
tutelado é a fé pública. Logo, não se trata de um crime patrimonial.
Tanto isso é verdade que a consumação desse delito ocorre com a falsificação ou
com a introdução da moeda falsa em circulação, sendo irrelevante que tenha ocor-
rido dano patrimonial imposto a terceiros.
Os crimes contra a fé pública, assim como os demais crimes não patrimoniais, são
incompatíveis com o instituto do arrependimento posterior, dada a impossibilidade
material de haver reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.242.294-PR, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para
acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/11/2014 (Info 554)57.

O STJ também não aplica o princípio da insignificância ao crime de moeda falsa:

Ainda que seja apenas uma nota e de pequeno valor, não se aplica o princípio por
tratar-se de delito contra a fé pública, havendo interesse estatal na sua repressão.
O bem violado é a fé pública, a qual é um bem intangível e que corresponde à con-
fiança que a população deposita em sua moeda, não se tratando, assim, da simples
análise do valor material por ela representado. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp
558790/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 15/10/2015.

Vale lembrar que, para o STJ, a utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em
tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.

Súmula 73 – STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura,


em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.

57 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inaplicabilidade do arrependimento posterior ao crime de moeda falsa. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/deta-
lhes/b197ffdef2ddc3308584dce7afa3661b>. Acesso em: 29/08/2022

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Embora não tenha ligação com o crime de moeda falsa, anotem esses dois enunciados de súmula, pois
podem aparecer em sua prova:

Enunciado 609-STF: É pública incondicionada a ação penal por crime de sonegação fiscal.
• Válida (art. 15 da Lei nº 8.137/90).

Enunciado de súmula vinculante 24-STF: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no
artigo 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Agora, continuando sobre o crime de moeda falsa.

PRIVILÉGIO (A QUEM RECEBEU A MOEDA FALSA DE BOA FÉ) § 2º DO ART. 289


Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois
de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa. A pena é, portanto,
inferior à falsificação de moeda prevista no art. 289, caput.

FALSIFICAÇÃO FUNCIONAL (§ 3º, ART. 289)


(A PENA É MAIS GRAVE QUE A FALSIFICAÇÃO DE MOEDA COMUM)
É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal
de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:

- de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;


- de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.

Não confundam a falsificação de moeda com o crime do art. 291 (petrechos para falsificação de mo-
eda), pois neste a falsificação ainda não começou, mas os maquinários, aparelhos ou instrumentos já foram
adquiridos. É um exemplo de punição de um crime autônomo de atos preparatórios.58

24. PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA


Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, apare-
lho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda.

Perceba que os fatos previstos no art. 291 traduzem no PERIGO de falsificação, de modo que o legis-
lador se antecipou, a fim de criminalizar os atos preparatórios dos crimes de falsificação de moeda. Vale lem-
brar que, na hipótese do agente delituoso ser surpreendido com os petrechos (aparelhos, máquinas,e tc) para
falsificação de moeda, mas se constatar que de fato já houve a contrafação/falsificação de moeda, este crime
do art. 291 será absorvido pelo delito do art. 289 do CP. Também não é demais reforçar que a Justiça Federal
é competente para julgar crime do art.291 do CP.

58 Lembrem-se que de acordo com a regra do iter criminis os crimes só são punidos a partir da fase de execução. No entanto, há crimes
autônomos que funciona como uma espécie de atos preparatórios. É o caso de petrechos para falsificação de moeda, que constitui
crime autônomo, e independe do agente ter efetivamente fabricado ou não a moeda falsa.

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25. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO

Falsificação de documento público

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento


público verdadeiro:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
aumenta-se a pena de sexta parte.

§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de en-


tidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de
sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.

§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:

I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a


fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de se-
gurado obrigatório;

II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento


que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da
que deveria ter sido escrita;

III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as


obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da
que deveria ter constado.

§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o,
nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de
trabalho ou de prestação de serviços.

O art. 297 tipifica uma hipótese de falsidade material, ou seja, referente ao documento, e não ao seu
conteúdo. Ex: agente que confecciona uma CNH falsa; agente que adultera uma CNH até então verdadeira,
substitui o nome e a foto do verdadeiro titular por outro.

Resumidamente, podemos dizer que documento público é aquele destinado a expor um fato ou uma
declaração de vontade, elaborado de acordo com a forma prevista em lei e emanado de funcionário público
no exercício de suas atribuições.

O próprio art. 297, em seu § 2º, traz os documentos públicos por equiparação,

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§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de en-


tidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de
sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.

Outro ponto especial é o previsto no § 4o,do mesmo artigo, o qual estabelece uma figura equiparada:
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o,
nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de
trabalho ou de prestação de serviços.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Trata-se de uma hipótese de falsidade ideológica, equivocadamente inserida no art. 297, e não no art.
299. É crime omisso próprio, punindo quem deixa de inserir, nos documentos mencionados, qualquer das
informações indicadas (ex: nome do segurado, dados pessoais, etc).

No que se refere à competência para processar/julgar o crime do art. 297, há duas regras (embora
haja decisões contrárias):

REGRA 01: no crime de falsificação, a competência é fixada com base no ente responsável pela emissão do
documento. Por exemplo, se emitido por ente federal, a competência será da JF (CPF, certidões da receita
federal, etc.). Caso contrário, a competência será da Justiça Estadual (ex: falsificação de identidade ou de CNJ).
Todavia, a Súmula 62 do STJ excepciona essa regra:

Súmula 62 do STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na Carteira de
Trabalho e Previdência Social, atribuído à empresa privada.

Vale dizer que que há decisões do STJ afirmando que compete a JF processar e julgar os crimes pre-
vistos no art. 297, §§3º, II, e 4º do CP (AgRg no CC 148963/RJ, j. 10/04/2019).

REGRA 02: No crime de uso de documento falso (art. 304), a competência é determinada em razão da pessoa
jurídica prejudicada. Nesse caso, o uso de documento expedido pela União perante a Fazenda Estadual será
julgado na Justiça Comum Estadual. É o que estabelece, inclusive, a Súmula 546 do STJ:

Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão
da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão
expedidor.

Aqui inicialmente faço uma observação: se o próprio agente falsifica e posteriormente faz o uso do
documento falso, responde apenas pelo FALSO, restando o USO absorvido (post factum impunível). Neste
caso, a competência será fixada com base no ente responsável pela emissão do documento (regra 01).

Por outro lado, se o agente falsifica o documento e utiliza na prática de um estelionato, sem mais
potencialidade lesiva, responde apenas pelo ESTELIONATO, sendo absorvido o falso. Neste caso, assim, a com-
petência será fixada com base na regra 02.

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No Informativo 764, o STJ entendeu que compete à Justiça Federal processar e julgar o crime de fal-
sificação de documento público, consistente na falsificação de identidades funcionais do Poder Judiciário da
União. STJ (Inf. 764). CC 192.033-SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
14/12/2022, DJe 19/12/2022. Esse julgado é interessante porque o STJ fez um distinguishing sobre a súmula
546:

O Superior Tribunal de Justiça sedimentou, na Súmula n. 546, a orientação jurispru-


dencial de que "a competência para processar e julgar o crime de uso de documento

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento
público, não importando a qualificação do órgão expedidor". No caso, não houve a
apresentação dos documentos falsos à autoridade policial. Assim, não se apura o
crime de uso de documento falso, mas de falsificação de documento público, pois
"não há como se reconhecer na conduta, a priori, o elemento de vontade (de fazer
uso de documento falso) necessário à caracterização do delito do art. 304 do CP"
(CC 148.592/RJ, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Terceira Seção, DJe de
13/2/2017). Contudo, ainda que não se trate de uso de documento falso, a compe-
tência é da Justiça Comum Federal. É certo que em crimes nos quais as vítimas pri-
márias de falsificações de documentos emitidos por órgãos federais são particulares,
a competência para processar e julgar o delito não é deslocada para a Justiça Fede-
ral, em razão de prejuízos tão somente reflexos a interesses e bens da União, suas
autarquias ou empresas públicas. Todavia, há distinção (distinguishing) em relação
à diretriz jurisprudencial acima. A vítima primária é a União, pois não se cogita de
prejuízo fundamental a particulares. Vale destacar que a Lei n. 12.774/2012, ao dis-
por sobre as Carreiras dos Servidores do Poder Judiciário da União, prescreveu, em
seu art. 4º, que "as carteiras de identidade funcional emitidas pelos órgãos do Poder
Judiciário da União têm fé pública em todo o território nacional". Dessa forma, a
falsificação de identidades funcionais do Poder Judiciário da União atinge direta e
essencialmente a fé pública e a presunção de veracidade de documento, cuja expe-
dição atribui-se à Administração Pública Federal, à qual o resguardo compete cons-
titucionalmente à Justiça Comum Federal (art. 109, inciso IV, da Constituição Fede-
ral).

Outras súmulas importantes:

Súmula 36 do STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denun-
ciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de
falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação
de Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.

Súmula 200 do STJ: O Juízo Federal competente para processar e julgar acusado de
crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.

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Súmula 104 do STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes
de falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de
ensino.

CAIU NA DPE/AM – 2018 – FCC: Comete o crime de:


a) falsa identidade aquele faz uso de Carteira Nacional de Habilitação (CNH) falsa para conduzir veículo auto-
motor.
b) falso testemunho aquele que imputa a outrem falsamente fato definido como crime.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
c) uso de documento falso aquele que faz uso de documento particular falso.
d) falsidade de atestado médico aquele produz atestado falso se passando pela condição de médico
e) falsificação de documento público aquele que insere em documento público declaração falsa com o fim de
prejudicar direito de terceiro.59

26. FALISIFICACAO DE DOCUMENTO PARTICULAR

Falsificação de documento particular.


Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar docu-
mento particular verdadeiro:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Falsificação de cartão

Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular


o cartão de crédito ou débito. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)

O art. 298 também tipifica uma hipótese de falsidade material, isto é, referente a aspectos exteriores
do documento. A Lei 12.735/2012, conhecida como Lei Carolina Dieckman, incluiu o parágrafo único, do art.
298, a fim de equiparar o cartão de crédito/débito a documento particular. Ocorre que mesmo antes da edição
da Lei nº 12.737/2012 a jurisprudência do STJ já considerava que cartão bancário poderia se amoldar ao con-
ceito de "documento". Assim, a inserção do parágrafo único no art. 298 do Código Penal apenas confirmou
que cartão de crédito/débito é considerado documento, sendo a Lei nº 12.737/2012 considerada como lei
interpretativa exemplificativa. Logo, ainda que praticada antes da Lei nº 12.737/2012, a conduta de falsificar,
no todo ou em parte, cartão de crédito ou débito é considerada como crime de falsificação de documento
particular (art. 298 do CP). STJ. 6ª Turma. REsp 1578479-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para
acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 2/8/2016 (Info 591).

CAIU NA DP-DF – 2013 – CESPE: O agente que falsificar cartão de crédito ou débito cometerá, em tese, o crime
de falsificação de documento particular previsto no CP.60

59 GAB:C.
60 GAB: C.

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No delito do art. 298 é indispensável que a falsificação seja idônea a enganar terceiros, visto que, caso
a falsificação seja grosseira, isto é, perceptível de plano, fica afastado o tipo do art. 297, podendo ficar confi-
gurado o crime de estelionato no caso concreto, na hipótese de o agente delituoso conseguir ludibriar a vítima.

O STF entende que o contrato social de uma sociedade empresária é documento particular. Assim,
caso seja falsificado, haverá o crime de falsificação de documento particular (e não de documento público).

Não se pode condenar o réu pelo crime de uso de documento falso quando ele pró-

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
prio foi quem fez a falsificação do documento. A pessoa deverá ser condenada ape-
nas pela falsidade, e o uso do documento falso configura mero exaurimento do
crime de falso. STF. 1ª Turma. AP 530/MS, rel. orig. Min. Rosa Weber, red.p/ o acór-
dão Min. Roberto Barroso, julgado em 9/9/2014 (Info 758).61

27. FALSIDADE IDEOLÓGICA

Falsidade ideológica

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
fato juridicamente relevante:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão


de um a três anos, e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o docu-
mento é particular.

Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-


se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil,
aumenta-se a pena de sexta parte.

Vimos que os artigos 297 e 298 puniam a falsidade material, isto é, aquela referente a aspectos físicos,
externos do documento. Nos dois tipos penais vistos antes, o a gente confecciona um documento falso ou
altera um documento verdadeiro inserindo rasuras ou inseridos trechos, etc.

Por outro lado, quanto à falsidade ideológica (art. 299), o documento é formalmente autêntico, de
modo que a falsificação atinge o seu conteúdo intelectual, ou seja, a declaração nele veiculada (que não re-
produz a realidade). Em suma, enquanto a falsidade material diz respeito à forma, a falsidade ideológica atinge
o seu conteúdo.

61CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Falsidade de contrato social para ocultar o verdadeiro sócio. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c5cc17e395d3049b03e0f1ccebb02b4d>. Acesso
em: 22/02/2023

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CAIU NA DPE/AP – 2018 – FCC: Sobre o crime de falsidade ideológica, é correto afirmar que é necessária a
realização de perícia, uma vez que, a exemplo do que ocorre com a falsidade documental, a alteração é no
conteúdo do documento.62

FALSIDADE IDEOLÓGICA (ART. 299, CP) FALSIDADE MATERIAL (ART. 297 E 298, CP)
O documento é verdadeiro, mas o conteúdo é falso. A informação do documento pode ser verdadeira,
mas a sua forma é falsa.
Atinge o conteúdo do documento, a declaração nele Atinge aspectos físicos, externos ao documento

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
veiculada
Emana de quem tem legitimidade para produzir o Emana de quem não tem legitimidade para produzir
documento o documento
A observação física do documento, por si só, não Passível de constatação por meio da observação.
permite constatar o falso. Não há que se falar em Tanto assim que é imprescindível a realização de pe-
exame pericial. rícia.
Ex: proprietário entabula contrato de compra e Ex: particular confecciona CNH falsa.
venda de imóvel, mas na realidade está doando o
bem.

CAIU NA DPE/AM – 2018: Comete o crime de falsificação de documento público aquele que insere em docu-
mento público declaração falsa com o fim de prejudicar direito de terceiro. 63

Sobre o crime do art. 299, Cleber Masson (2018, p. 554), arremata que:

(...) De fato, o documento é formalmente verdadeiro, mas seu conteúdo, a ideia nele
lançada, é divergente da realidade. Não há contrafação ou alteração de qualquer
espécie. O sujeito tem autorização para criar o documento, mas falsifica seu conte-
údo. Daí a razão de o crime de falsidade ideológica ser também conhecido como
falso ideal, falso moral ou falso intelectual. Exemplo: O sujeito, desgastado em seu
casamento, afirma perante o tabelião o estado civil de solteiro, fazendo inserir esta
declaração em escritura pública, com a finalidade de prejudicar os direitos de sua
esposa em futuro e eventual divórcio. O ponto marcante da falsidade ideológica re-
pousa no conteúdo falso lançado pela pessoa legitimada para a elaboração do do-
cumento. Logo, se vem a ser adulterada a assinatura do responsável pela emissão
do documento, ou então efetuada assinatura falsa, ou finalmente rasurado ou mo-
dificado de qualquer modo seu conteúdo, estará caracterizada a falsidade material.

Um ponto que vale a pena frisar é o fato de que o elemento subjetivo do tipo é dolo. Exige-se, ainda,
o elemento subjetivo específico, consistente na finalidade especial de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sofre fato juridicamente relevante.

62 GAB: E. Como vimos, não há que se falar em perícia, já que a falsificação é no conteúdo (diferente da falsidade material, cuja con-
trafação é na forma – aspectos externos).
63 GAB: E. Trata-se de crime de falsidade ideológica.

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CAIU NA DPU – 2015 – CESPE: Praticará o crime de falsidade ideológica aquele que, quando do preenchimento
de cadastro público, nele inserir declaração diversa da que deveria, ainda que não tenha o fim de prejudicar
direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.64

ATENÇÃO: Segundo o STJ, na falsidade ideológica, o termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pre-
tensão punitiva é o momento da consumação do delito e não o da eventual reiteração de seus efeitos. RvCr
5.233-DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 13/05/2020,
DJe 25/05/2020. Para a Corte, a falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos efeitos podem se

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
protrair no tempo. A despeito dos efeitos que possam, ou não, gerar, ela se consuma no momento em que é
praticada a conduta. Diante desse contexto, o termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão
punitiva é o momento da consumação do delito e não o da eventual reiteração de seus efeitos.

O STJ entende que não é típica a conduta de inserir, em currículo Lattes, dado que não condiz com a
realidade. Isso não configura falsidade ideológica (art. 299 do CP) porque: 1) currículo Lattes não é conside-
rado documento por ser eletrônico e não ter assinatura digital; 2) currículo Lattes é passível de averiguação e,
portanto, não é objeto material de falsidade ideológica. Quando o documento é passível de averiguação, o STJ
entende que não há crime de falsidade ideológica mesmo que o agente tenha nele inserido informações falsas.
STJ. 6ª Turma. RHC 81451-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 22/8/2017 (Info 610).

O STJ também entende ser atípica a mera declaração falsa de estado de pobreza realizada com o
intuito de obter os benefícios da justiça gratuita. A conduta de firmar ou usar declaração de pobreza falsa em
juízo, com a finalidade de obter os benefícios da gratuidade de justiça, não é crime, pois aludida manifestação
não pode ser considerada documento para fins penais, já que é passível de comprovação posterior, seja por
provocação da parte contrária seja por aferição, de ofício, pelo magistrado da causa. STJ. 6ª Turma. HC 261074-
MS, Rel. Min. Marilza Maynard (Desembargadora convocada do TJ-SE), julgado em 5/8/2014 (Info 546).

CAIU NA DPE/AP – 2018 – FCC65 : Sobre o crime de falsidade ideológica:


a) É atípica, em tese, a conduta daquele que faz inserir, em documento público, declaração falsa acerca do
verdadeiro condutor de veículo envolvido em sinistro de trânsito uma vez que integrante do direito à ampla
defesa.
b) É necessária a realização de perícia, uma vez que, a exemplo do que ocorre com a falsidade documental, a
alteração é no conteúdo do documento.
c) O documento para fins de falsidade ideológica deve ser uma peça que tenha possibilidade de produzir prova
de um determinado fato, ainda que para tanto sejam necessárias outras verificações.
d) É crime material, como todo falso, não sendo suficiente para sua consumação a mera potencialidade lesiva.
e) É atípica a conduta de fazer afirmações possivelmente falsas, em ação judicial, com base em documentos
também tidos por adulterados (instrumentos procuratórios com assinaturas falsas e comprovantes de resi-
dência adulterados), uma vez que a Constituição Federal assegura a todos o acesso à justiça.

64 GAB: E. O elemento subjetivo do crime de falsidade ideológica é o dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo
específico), representado pela expressão "com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
relevante".
65 GAB: E.

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28. CERTIDÃO OU ATESTADO IDEOLOGICAMENTE FALSO

Certidão ou atestado ideologicamente falso

Art. 301 - Atestar ou certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou cir-
cunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço
de caráter público, ou qualquer outra vantagem:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Falsidade material de atestado ou certidão

§ 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o teor de


certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que habilite
alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou
qualquer outra vantagem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
§ 2º - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se, além da pena privativa de
liberdade, a de multa.

Trata-se de modalidade especial de falsidade ideológica, cometida por funcionário público no exercício
de suas funções. Apenas o funcionário público pode praticar o referido delito (crime próprio). É indispensável
que a conduta seja praticada em razão da função publica, isto é, valendo-se o agente da facilidade propiciada
pelo seu cargo/função publica.

Vale dizer que o atestado ou a certidão devem ser emitidos originariamente pelo sujeito ativo. Dessa
forma, tratando-se de cópia falsa do documento original, o crime passa a ser o de falsidade material (art. 297
ou art. 298 do CP).

29.FALSIDADE DE ATESTADO MÉDICO

Falsidade de atestado médico

Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso:


Pena - detenção, de um mês a um ano.

Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Trata-se de crime próprio que só pode ser cometido por médico, que além de ser delito tipificado na
lei penal, constitui infração disciplina prevista no art. 80 do Código de Ética Médica. Vale lembrar que a pessoa
que, dolosamente, utiliza o atestado médico falso incorre no crime de uso de documento falso (art. 304), que
será visto ainda neste resumo.

63
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Considerando que o tipo penal insere apenas o “médico” no tipo penal, não estão abrangidos outros
profissionais como dentistas, veterinários e enfermeiros.

CAIU NA DPE/AM – 2018 – FCC: Comete o crime de falsidade de atestado médico aquele produz atestado falso
se passando pela condição de médico.66

A doutrina aponta uma espécie de “privilégio desarrazoado e manifestamente imoral” ao tratamento


mais brando dispensado pela legislação à falsidade ideológica praticada pelo médico. Para Sylvio do Amaral,

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
“quando ele mente cidadão, será punido com pena de reclusão de 1 a 3 anos; se o faz, entretanto, como mé-
dico, sujeita-se a pena que vai de 1 mês a 1 ano, apenas de detenção”.

CAIU NA DPE/PR – 2022 – AOCP: A conduta do médico que, no exercício de sua profissão, emite atestado falso
caracteriza o crime de falsidade ideológica.67

30.USO DE DOCUMENTO FALSO

Uso de documento falso

Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se refe-
rem os arts. 297 a 302:

Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.

Trata-se de importante crime para nossa prova. O art. 304 não traz a definição do que são os docu-
mentos falsificados/alterados, mas remete àqueles do art. 297 a 302. Trata-se que chamam de tipo penal
remetido.

A figura típica é “fazer o uso”, isto é, utilizar, empregar o documento falsificado ou alterado. Desta
forma, para a configuração do delito é necessário que o documento saia da esfera pessoal do agente. Por isso
que a doutrina não configurar crime a mera ostentação do documento falso, vangloriando-se o agente de sua
habilidade.

Para os Tribunais Superiores, o crime do art. 304, para ser configurado, pouco importa se o agente faz
o uso do documento por iniciativa própria ou se o ato decorre de exigência ou solicitação da autoridade.

STF: Pratica o crime do art. 304 do Código Penal aquele que, instado, por agente e
autoridade policial, a se identificar, exibe cédula de identidade que sabe falsificada.
HC 70.422/RJ. 1ª Turma, j. 03.05.1994.
STJ: É copiosa a jurisprudência que entende que o delito previsto no art. 304 do Có-
digo Penal consuma-se mesmo quando a carteira de habilitação falsificada é exibida

66 GAB: O sujeito ativo é o médico (crime próprio).


67 GAB: E. Responde pelo delito específico do art.302.

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ao policial por exigência deste, e não por iniciativa do agente. AgRg no Restp
1758686/SP, 5ª Turma, j. 25/09/2018.

Contudo, o doutrinador Delmanto entende de maneira oposta, no sentido de que a caracterização do


delito do art. 304 exige a saída do documento da esfera do agente por INICIATIVA dele próprio.

Para parte da doutrina, estando o agente na condução de veículo automotor, o simples porte de CNH
falsa já caracterizaria o crime do art. 304, por se tratar de documento obrigatório para dirigir. Essa é a posição,

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
por exemplo, de Bitencourt e Damásio.

CAIU NA DPE/PR – 2022 – AOCP: Comete o crime de falsa identidade aquele faz uso de Carteira Nacional de
Habilitação (CNH) falsa para conduzir veículo automotor.68

Jamil Chaim Alves e Regis Prado discordam, pois é perfeitamente possível que o condutor, em posse
de CNH falsa, caso seja abordado por uma autoridade (ex: Blitz Policial), não apresente o documento, optando
por dizer a verdade sobre não ter CNJ e não ser habilitado. Esse, inclusive, é o posicionamento do STJ (CC
148592/RJ, 3ª Seção, 2017).

Importante lembrar, contudo, que o princípio constitucional da autodefesa não afasta o crime de uso
de documento falso, de forma que responde pelo delito do art. 304, por exemplo, pessoa foragida que apre-
senta documento de identidade falso à autoridade policial para não ser identificado e, consequentemente,
preso. Nesse sentido o STJ e o STF:

STF: A utilização de documento falso para ocultar a condição de foragido do agente


não descaracteriza o delito de uso de documento falso (art. 304 do CP, 103314, Rel.
Min. Ellen Gracie, 29 T., j. 24/05/2011).

STJ A justificativa da utilização de documento falsificado, a fim de ocultar a condição


de foragido da justiça, como exercício de autodefesa, não é admitida por esta Corte
Superior, independentemente de haver solicitação da autoridade policial para apre-
sentar o documento (AgR no AREsp 1398376/SP, Rel. Min Rogério Schietti Cruz, 6ª
T. J 25/06/2019)

O STF já decidiu que o agente que faz uso de carteira falsa da OAB pratica o crime de uso de documento
falso, não se podendo admitir que esse crime seja absorvido (princípio da consunção) pela contravenção penal
de exercício ilegal da profissão (art. 47 do DL nº 3.688/41). Não é possível que um crime tipificado no Código
Penal seja absorvido por uma infração tipificada na Lei de Contravenções Penais. STF. 1ª Turma. HC 121652/SC,
rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/4/2014 (Info 743).

68GAB: E. Comete, em tese, o crime do art. 304 (uso de documento falso) e não o crime de falsa identidade. Vale lembrar que o crime
de falsa identidade ocorreria se o agente se fizesse passar por outra pessoa sem utilizar documento falso.

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Em regra, a comprovação da materialidade do crime exige a realização de exame de corpo de delito


(prova pericial). Trata-se, portanto, de regra geral. Porém, o STJ já entendeu ser possível a condenação pelo
crime de uso de documento falso (art. 304 do CP) com fundamento em documentos e testemunhos constantes
do processo, acompanhados da confissão do acusado, sendo desnecessária a prova pericial para a comprova-
ção da materialidade do crime, especialmente se a defesa não requereu, no momento oportuno, a realização
do referido exame. O crime de uso de documento falso se consuma com a simples utilização de documento
comprovadamente falso, dada a sua natureza de delito formal. STJ. 5ª Turma. HC 307586-SE, Rel. Min. Walter
de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 25/11/2014 (Info 553).

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
O STJ tem entendimento de que a conduta de apresentar à empresa privada atestado médico com o
timbre da rede pública de saúde, ainda que conste a identificação de médico não pertencente ao serviço pú-
blico, configura o delito de uso de documento público falso. Trata-se de entendimento que já foi cobrado em
prova (DPE/PR, 2022):

RECURSO ESPECIAL. ART. 304 C/C 297, AMBOS DO CP. FALSIFICAÇÃO DE ATESTADO
MÉDICO. DOCUMENTO COM O TIMBRE DA SECRETARIA DE SAÚDE DO DISTRITO FE-
DERAL. ASSINATURA DE MÉDICO NÃO PERTENCENTE AO SUS. DOCUMENTO PARTI-
CULAR. DESCLASSIFICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO IMPROVIDO. 1. A conduta
de apresentar à empresa privada atestado médico com o timbre da rede pública de
saúde, ainda que conste a identificação de médico não pertencente ao serviço pú-
blico, configura o delito de uso de documento público falso. 2. Recurso especial im-
provido. (STJ - REsp: 1757386 DF 2018/0194696-4, Relator: Ministro NEFI COR-
DEIRO, Data de Julgamento: 07/05/2019, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 14/05/2019)

CAIU NA DPE/PR – 2022 – AOCP: A conduta de apresentar à empresa privada atestado médico com o timbre
da rede pública de saúde, ainda que conste a identificação de médico não pertencente ao serviço público,
configura o delito de uso de documento público falso.69

Por fim, não se pode confundir o crime do art. 304 (uso de documento falso) com o delito do art. 307
(falsa identidade), o qual veremos agora.

31.FALSA IDENTIDADE

Falsa identidade

Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em
proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento
de crime mais grave.

69 GAB: C.

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O art. 307 do CP é também um dispositivo muito importante para provas de Defensoria Pública. Cons-
titui modalidade de falsidade pessoal, na qual o agente atribui a si próprio ou a terceiro falsa identidade. Ex:
Marcos Silva está foragido, e por esbarrar em uma abordagem policial, apresenta-se como Rodrigo Freitas.

Da mesma forma como vimos para o delito do art. 304, o princípio da autodefesa (vedação à autoin-
criminação) não alcança o direito de se identificar falsamente perante a autoridade policial. Esse é o posicio-
namento do STF:

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
STF: o princípio constitucional da vedação à autoincriminação não alcança aquele
que atribui falsa identidade perante autoridade policial com o intuito de ocultar
maus antecedentes, o que torna típica, sem qualquer traço de ofensa ao disposto
no art. 5°, LXII, da CF, a conduta prevista no art. 307 do CP.(RE 971959, Rel. Min. Luiz
Fux, Pleno, j. 14/11/2018)

Nesse mesmo sentido a Súmula 522 do STJ:

Súmula 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade poli-


cial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.

CAIU NA DPE/PR – 2022 – AOCP: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é atípica
se em situação de alegada autodefesa. 70

POSICIONAMENTO CONTRÁRIO: Guilherme de Sousa Nucci tem posicionamento em sentido contrário. Para o
autor, não constitui infração penal a conduta do agente que atribui falsa identidade para escapar de ação
policial, evitando sua prisão. Nucci entende que o agente está em via pública, prestas a ser preso, e se tem o
direito de fugir e não ser punido por isso, não pode ser sancionado porque se atribui falsa identidade. A lei
penal, inclusive, não considera fato típico a fuga de pessoa presa, desde que sem emprego de violência, por
isso é natural que a atribuição de falsa identidade para atingir o mesmo objetivo também não possa ser assim
considerado.

O delito do art. 307 é expressamente subsidiário, já que o preceito secundário estabelece “se o fato
não constitui elemento de crime mais grave”. Dessa forma, alguém que atribui falsa identidade para a prática
de estelionato, bigamia, violação sexual mediante fraude, etc, responderá pelo crime mais grave, ficando o
art. 307 preterido.

Por fim, para que não haja confusão entre alguns delitos “parecidos”, vamos de tabela salva vidas.

70 GAB: E.

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Uso de documento falso Uso de documento de identidade Falsa identidade


(art. 304) alheia (art. 308, 1ª figura) (art. 307, 1ª figura)
Fazer uso de qualquer dos papéis Usar, como próprio, passaporte, Atribuir-se (...) falsa identidade
falsificados ou alterados, a que se título de eleitor, caderneta reser- para obter vantagem, em proveito
referem os arts. 297 a 302 vista ou qualquer documento de próprio ou alheio, ou para causar
identidade alheia dano a outrem
Pena: a cominada à falsificação ou Pena: detenção, de 4 meses a 2 Pena: detenção de 3 meses a 1
à alteração anos, e multa, se o fato não cons- ano, ou multa, se o fato não cons-

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
titui elemento de crime mais titui elemento de crime mais
grave grave
Pressupõe o efetivo uso de docu- Pressupõe o efetivo uso de docu- Pressupõe atribuição de identi-
mento falso (ex: documento de mento de identificação verda- dade falsa, sem o uso de docu-
identidade falsificado) deiro alheio mento
Crime expressamente subsidiário Crime expressamente subsidiário
Se a conduta envolve o uso de do- Se a conduta envolve o uso de do-
cumento falso, há apenas o delito cumento falso, há apenas o delito
do art. 304 do art. 304

Se a conduta envolve o uso de do-


cumento de identificação alheio,
há apenas o delito do art. 308

32. INSIGNIFICÂNCIA EM CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA

Por fim, é bom registrar que a jurisprudência do STF e do STJ entende pela inaplicabilidade do princípio
da insignificância na hipótese de crimes praticados contra a fé pública (ex: uso de atestado médico falso; in-
trodução de moedas falsas), em função do bem jurídico tutelado pela norma, que, no caso, a fé pública repre-
senta caráter supraindividual. STF. 2ª Turma. HC 117638, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/03/2014
STF. 1ª Turma. HC 187269, Rel. Min Roberto Barroso, decisão monocrática em 18/06/2020. STJ. 6ª Turma.
AgRg-AREsp 1.963.955, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 08/02/2022 STJ. 5ª Turma. AgRg-RHC
155.201, Rel. Min. Jesuíno Rissato, julgado em 12/12/202171

OBS: Excepcionalmente, admite-se o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública (uso de ates-
tado falso) em casos que o dolo do réu revela, de plano, "a mínima ofensividade da conduta do agente, a
nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a inex-
pressividade da lesão jurídica provocada", a demonstrar a atipicidade material da conduta e afastar a

71 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em regra, não se admite o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública, salvo quando

há circunstâncias excepcionais verificadas. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://buscadordizerodireito.com.br/ju-
risprudencia/detalhes/45988a729df28f554d96a5b9932b17e1>. Acesso em: 22/02/2023

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incidência do direito penal, sendo suficientes as sanções previstas na Lei trabalhista. STJ. 5ª Turma. AgRg no
AREsp 1816993/B1, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 16/11/2021.72

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.

72 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em regra, não se admite o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública, salvo quando

há circunstâncias excepcionais verificadas. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://buscadordizerodireito.com.br/ju-
risprudencia/detalhes/45988a729df28f554d96a5b9932b17e1>. Acesso em: 22/02/2023

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QUESTÕES PARA FIXAR


Questão 01
Para que o furto seja privilegiado, são necessários alguns requisitos, sendo um subjetivo, isto é, que o réu seja
primário, e outro objetivo, que seja de pequeno valor a coisa furtada.

CERTO ERRADO

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Questão 02
A alteração do sistema de medição, mediante fraude, para que aponte resultado menor do que o real consumo
de energia elétrica configura furto mediante fraude.

CERTO ERRADO

Questão 03
A teoria adotada pelo STJ para definir o momento consumativo do crime de furto é a teoria da ablatio, segundo
a qual a consumação ocorre no momento em que a coisa subtraída passa para o poder do agente.

CERTO ERRADO

Questão 04
O roubo impróprio ocorre quando a grave ameaça ou a violência é utilizada antes ou durante a prática do
crime.

CERTO ERRADO

Questão 05
No crime de roubo, o emprego de arma branca ou arma de fogo é punido com aumento de 2/3 da pena.

CERTO ERRADO

Questão 06
O crime de latrocínio, em que pese seja um crime contra o patrimônio, por resultar em morte, é da compe-
tência do Tribunal do Júri.

CERTO ERRADO

Questão 07
O crime de extorsão se consuma independentemente da obtenção da vantagem indevida.

CERTO ERRADO

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Questão 08
Com o advento do Pacote Anticrime, o crime de estelionato passou a ser, em regra, de ação penal pública
condicionada à representação.

CERTO ERRADO

Questão 09
Em se tratando do crime de receptação culposa ou dolosa, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

CERTO ERRADO

Questão 10
Segundo o Código Penal, é isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos no título II do Código
Penal (Crimes contra o patrimônio), se o crime é cometido em prejuízo do cônjuge, na constância da sociedade
conjugal, desquitado ou judicialmente separado.

CERTO ERRADO

Questão 11
Segundo entendimento sumulado do STJ, o crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção
carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima
para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente

CERTO ERRADO

Questão 12
A conduta de praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria
lascívia ou a de terceiro, é tipificado como crime de violação sexual mediante fraude.

CERTO ERRADO

Questão 13
A pena do crime de divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou
de pornografia é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que
mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.

CERTO ERRADO

Questão 14
Configura o crime de associação criminosa a conduta de associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim
específico de cometer crimes ou contravenções penais.

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CERTO ERRADO

Questão 15
Segundo o STJ, a utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de moeda
falsa, da competência da Justiça Estadual.

CERTO ERRADO

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Questão 16
O crime de falsidade ideológica somente se configura se realizado em documento público.

CERTO ERRADO

GABARITO
1.E 2.E 3.E 4.E 5.E 6.E 7.C 8.C
9.E 10.E 11.C 12.E 13.C 14.E 15.E 16.E

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QUESTÕES PARA FIXAR - COMENTÁRIOS


Questão 01
Para que o furto seja privilegiado, são necessários alguns requisitos, sendo um subjetivo, isto é, que o réu seja
primário, e outro objetivo, que seja de pequeno valor a coisa furtada.
GAB: E. Para o reconhecimento do crime de furto privilegiado - direito subjetivo do réu -, a norma penal exige
a conjugação de dois requisitos objetivos, consubstanciados na primariedade e no pequeno valor da coisa

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
furtada que, na linha do entendimento pacificado neste Superior Tribunal de Justiça, não deve ultrapassar o
valor do salário-mínimo vigente à época dos fatos. É indiferente que o bem furtado tenha sido restituído à
vítima, pois o critério legal para o reconhecimento do privilégio é somente o pequeno valor da coisa furtada.
STJ, AgRg no REsp 1785985/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 03/09/2019,
DJe 09/09/2019.

Questão 02
A alteração do sistema de medição, mediante fraude, para que aponte resultado menor do que o real consumo
de energia elétrica configura furto mediante fraude.
GAB:E. Conforme o STJ (Info 650) a conduta configura o crime de estelionato.

Questão 03
A teoria adotada pelo STJ para definir o momento consumativo do crime de furto é a teoria da ablatio, segundo
a qual a consumação ocorre no momento em que a coisa subtraída para o poder do agente.
GAB: E. O STJ adotou a teoria da amotio, sendo que o conceito da teoria foi o abordado pelo enunciado.

Questão 04
O roubo impróprio ocorre quando a grave ameaça ou a violência é utilizada antes ou durante a prática do
crime.
GAB: E. O enunciado aborda o roubo próprio (art. 157, do CP).

Questão 05
No crime de roubo, o emprego de arma branca ou arma de fogo é punido com aumento de 2/3 da pena.
GAB: E. O emprego de arma branca é punido com aumento de 1/3 até a ½ (art. 157, §2º, VII, do CP).

Questão 06
O crime de latrocínio, em que pese seja um crime contra o patrimônio, por resultar em morte, é da compe-
tência do Tribunal do Júri.
GAB: E. O Tribunal do Júri somente é competente para julgar os crimes dolosos contra a vida. Desta forma, o
crime de latrocínio é de competência da Vara Criminal comum.

Questão 07
O crime de extorsão se consuma independentemente da obtenção da vantagem indevida.
GAB: C. Previsão da súmula 96, do STJ.

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Questão 08
Com o advento do Pacote Anticrime, o crime de estelionato passou a ser, em regra, de ação penal pública
condicionada à representação.
GAB:C. Previsão do art. 171, §4º, do CP. Vimos, inclusive, detalhes sobre a (i)retroatividade dessa modificação.

Questão 09
Em se tratando do crime de receptação culposa ou dolosa, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em
consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
GAB: E. O juiz somente pode deixar de aplicar a pena se a receptação for culposa (art. 180, § 5º, do CP).

Questão 10
Segundo o Código Penal, é isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos no título II do Código
Penal (Crimes contra o patrimônio), se o crime é cometido em prejuízo do cônjuge, na constância da sociedade
conjugal, desquitado ou judicialmente separado.
GAB: E. Na hipótese de o cônjuge ser desquitado ou judicialmente separado não há isenção de pena. Nesta
situação somente se procederá a ação mediante representação (art. 182, I, do CP).

Questão 11
Segundo entendimento sumulado do STJ, o crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção
carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima
para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.
GAB: C. Previsão da súmula 593, do STJ.

Questão 12
A conduta de praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria
lascívia ou a de terceiro, é tipificado como crime de violação sexual mediante fraude.
GAB: E. Trata-se do crime de importunação sexual (art. 215-A, do CP).

Questão 13
A pena do crime de divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou
de pornografia é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que
mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.
GAB: C. Previsão do art. 218-C, §1º, do CC.

Questão 14
Configura o crime de associação criminosa a conduta de associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim
específico de cometer crimes ou contravenções penais.
GAB:E. Não há qualquer menção no art. 288, do CP, sobre a prática de contravenções penais.

Questão 15
Segundo o STJ, a utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de moeda
falsa, da competência da Justiça Estadual.
GAB:E. Segundo a súmula 73, do STJ, a conduta acima especificada configura, em tese, o crime de estelionato.

74
EXTENSIVO DPE
CURSO RDP
DIREITO PENAL

Atualizado em 10/03/23

Questão 16
O crime de falsidade ideológica somente se configura se realizado em documento público.
GAB:E. O crime de falsidade ideológica se configura se realizado em documento público ou particular (art. 299
do CP).

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.

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