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Priva&zação da Casa da Moeda x Digitalização do Real

No Brasil, por diversos mo0vos socioculturais, ainda é comum deparar com uma
parcela considerável da população que se confunde quanto às atribuições do Banco
Central e da Casa da Moeda. Par0ndo dessa premissa, é importante ressalvar que não é
o Banco Central que fabrica o papel-moeda. Essa é uma prerroga0va cons0tucional
exclusiva da Casa da Moeda que é uma estatal de controle direto da União, não
dependente do Tesouro Nacional, e supervisionada pelo Ministério da Fazenda, com
atuação semelhante a uma gráfica na impressão do dinheiro em espécie, ou dinheiro
“vivo” como popularmente costuma ser chamado. O Banco Central é, até então, o
principal cliente da Casa da Moeda...

Quebrando um jejum de mais de uma década sem um anúncio sequer de


priva0zação federal, a Casa da Moeda, após ter sido considerada no pacote de
desesta0zações aventado no governo de Michel Temer, foi efe0vamente incluída no
Programa Nacional de Desesta0zação (PND) e qualificada para estudos no âmbito do
Programa de Parcerias de Inves0mentos (PPI) do Governo Federal em 14 de outubro de
2019 mediante a publicação do Decreto nº 10.054 assinado pelo então presidente Jair
Bolsonaro e seu ex-ministro da Economia Paulo Guedes.

Em seguida, foi editada a Medida Provisória nº 902 de 6 de novembro de 2019


que dentre as alterações legisla0vas propostas destacava-se o fim da exclusividade da
Casa da Moeda do Brasil na fabricação do papel-moeda, ou seja, a ex0nção do monopólio
estatal na confecção das cédulas e moedas do Real.

Um estudo encomendado à Fundação Getúlio Vargas (FGV) naquele ano pela


própria diretoria da Casa da Moeda revelou que a companhia ocupava o penúl0mo lugar
em um ranking de 17 empresas do mesmo setor instaladas em diferentes países,
demonstrando que o Banco Central do Brasil economizaria o dinheiro dos pagadores de
impostos se ao menos pudesse também comprar cédulas e moedas no mercado
internacional.

Entretanto, a MP perdeu validade em 14 de abril de 2020 por não ter sido votada
no prazo regimental pelo Congresso Nacional. Logo após, no mesmo ano, mais
precisamente apenas quatro meses depois, o Banco Central, por sua vez, deu início a um
grupo de trabalho para elaborar estudos preliminares sobre a emissão de uma moeda
digital brasileira e criou um fórum regular para a discussão do tema com o corpo técnico,
conforme publicado nos anais da ins0tuição. E, respeitosamente, refiro a essa inicia0va
como um dos reflexos posi0vos em reação à pandemia que notoriamente acelerou o
processo da transformação digital no mundo.

A exemplo do PIX, criado em novembro de 2020, plataforma que revolucionou o


sistema financeiro brasileiro possibilitando que fossem realizadas transferências
eletrônicas de forma instantânea, a bancarização e inclusão digital também propiciada
pela ferramenta fez com que se tornasse o meio de pagamento mais u0lizado no país,
registrando um recorde de 142,4 milhões de transações em um único dia.
A corrida pela modernização e inovação tecnológica no setor financeiro é um
fenômeno inevitável que não deve ser subes0mado ou apartado pelo estado. Diante
dessa realidade, em menos de 3 anos após o seu bem-sucedido primogênito PIX ter sido
implementado, o Banco Central do Brasil anunciou sua nova moeda digital ou CBDC
(Central Bank Digital Currency, como é conhecido esse tipo de ativo ao redor do mundo)
denominada ‘DREX’, sigla que de acordo com a instituição o “d” representa digital, “r”
Real, “e” eletrônico e o “x” passa a visão de modernidade e conexão.

O real digital, em desenvolvimento, será uma extensão do real físico com cotação
equivalente à do papel-moeda em circulação, mas na prática será administrado por meio
de carteiras digitais atreladas a instituições de pagamentos e visa baratear os custos de
transação e democratizar o acesso a serviços financeiros, além de otimizar o tempo e a
segurança das operações.

Similar ao yuan digital já em utilização na China, que foi pioneira ao iniciar em


2014 os estudos de uma moeda virtual oficial regulada pela autoridade monetária
chinesa (PBoC), a previsão é de que o DREX comece a ser testado e disponibilizado à
população a partir do próximo ano, assim como o também recém anunciado PIX
automático que permitirá ao usuário programar pagamentos recorrentes.

Apesar da Casa da Moeda, fundada em 1964, ser a segunda empresa pública mais
longeva em operação no país seguida dos Correios, após 329 anos de existência já pode-
se dizer que a estatal está com os seus dias contados. Haja vista que foi desperdiçada a
oportunidade de priva0zá-la, é questão de tempo pra Casa da Moeda virar “Museu
Nacional da Moeda”.

Referências:
h.ps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Decreto/D10054.htm
h.ps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Decreto/D10885.htm
h.ps://www.congressonacional.leg.br/materias/medidas-provisorias/-/mpv/139711

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