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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

LICENCIATURA EM AGROPECUÁRIA COM HABILITAÇÃO EM EXTENSÃO


AGRÁRIA 4º. ANO LABORAL

1º. GRUPO

ABEL VICTOR MILADO


ATIJA YAZIDO ALI
ADMIRO JUSTINO
BETUEL ROSARIO
CARIMO GORGES ARMANDO
SHARON VANESSA
JOÃO TOME JOÃO

EVOLUÇÃO DA EXTENSÃO RURAL NO MUNDO E EM


MOÇAMBIQUE

Quelimane
2023
ABEL VICTOR MILADO
ATIJA YAZIDO ALI
ADMIRO JUSTINO
BETUEL ROSARIO
CARIMO GORGES ARMANDO
SHARON VANESSA
JOÃO TOME JOÃO

EVOLUÇÃO DA EXTENSÃO RURAL NO MUNDO E EM


MOÇAMBIQUE

Trabalho de carácter avaliativo apresentado no


curso de Licenciatura em Agropecuária da
Faculdade de Ciências Agrárias, na cadeira de
Didáctica de Extensão Rural

Docente: dr. Pedro Eduardo Zezema

Quelimane
2023
Índice

1. Introdução .......................................................................................................................... 3

2. Objectivos .......................................................................................................................... 3

2.1. Objectivo Geral ............................................................................................................... 3

2.2. Objectivos específicos ..................................................................................................... 3

3. Metodologia ....................................................................................................................... 3

4. Extensão Rural no mundo: Origem e Evolução .................................................................. 4

4.1. Extensão Rural Em Moçambique .................................................................................... 7

4.1.1. A extensão rural no período colonial ............................................................................ 7

4.1.2. A Situação da Agricultura até a data da independência ................................................. 8

4.1.3. O sector familiar ........................................................................................................... 8

4.1.4. O Sector privado .......................................................................................................... 9

4.1.5. A Interligação entre os Sectores Familiar e Privado ...................................................... 9

4.1.6. Extensão Rural no período de socialização do campo ................................................. 10

4.1.7. A política Agrária no Período de socialização do campo ............................................. 11

4.2. A Agricultura no Período Pós-socialização do Campo ................................................... 14

4.2.1. A política agrária na pós-socialização do campo ......................................................... 14

5. Conclusão ........................................................................................................................ 16

6. Referências bibliográficas ................................................................................................ 17


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1. Introdução

Nas últimas décadas, significativas transformações vêm ocorrendo no campo.


Mudanças nas actividades económicas, nas práticas culturais, nas relações sociais e nos usos
dos recursos naturais criam, no meio rural, cenário bastante complexo e que não pode mais
ser observado a partir de olhares que reduzem o campo ao espaço. Estas transformações são,
grosso modo, induzidas pelos serviços de extensão de cada país. Todavia, as transformações
socioeconómicas e políticas que sucederam após o início da abertura política, deram subsídios
para a criação, em 1987, do Programa de Extensão Agrícola Público, resultando em um novo
direccionamento das políticas públicas, as quais passaram a contemplar o segmento dos
agricultores familiares. O presente trabalho pretende reflectir sobre o historial (evolutivo) da
extensão rural no mundo e em Moçambique.

2. Objectivos

2.1. Objectivo Geral

a) Compreender a Evolução da Extensão Rural no mundo e em Moçambique

2.2. Objectivos específicos

a) Identificar da origem e o surgimento da Extensão Rural;


b) Descrever os avanços dos serviços de Extensão Rural no Mundo e em Moçambique;
c) Falar sobre a introdução da Extensão Rural na em Moçambique;
d) Caracterizar os serviços de extensão rural em Moçambique.

3. Metodologia

Para a realização do trabalho cingi-me em fazer uma pesquisa bibliográfica à partir do


uso de internet, consultas de livros, artigos e manuais que abordam questões relacionadas com
Evolução da Extensão Rural no Mundo e em Moçambique. A metodologia opcionada para a
realização deste trabalho foi o método descritivo, esta opção justifica o facto do método
escolhido permitir uma descrição clara e flexível em relação as ideias que foram reunidas e
analisadas neste trabalho. Enquanto procedimento, o trabalho realizou-se por meio da
observação indirecta.
4

4. Extensão Rural no mundo: Origem e Evolução

A Extensão Rural nasce nos Estados Unidos, numa época de grandes transformações
em diversos sectores da economia, proporcionadas pela Revolução Industrial, e incluiu uma
transição de métodos de produção artesanais para a produção fabril, produção de ferro e aço,
uso crescente da energia, criação de máquinas e ferramentas, além da utilização de
combustíveis não renováveis (Romaniello e Thiago 2015).

A palavra "extensão" tem origem nos Estados Unidos, em 1914. Os extensionistas,


que são os profissionais que actuaram nestas entidades de extensão rural nos Estados Unidos,
trabalharam também como professores auxiliando o homem do campo nas suas necessidades
culturais e não só nas técnicas de plantios e condução das lavouras, estando, ao mesmo tempo,
a serviço do Departamento Federal de Agricultura dos Estados Unidos. A denominação
"Extensão Agrícola" surgiu também nos Estados Unidos, no final do século XIX, onde os
programas de extensão agrícola eram lançados em diversas partes do país, em resposta às
demandas locais (Romaniello e Thiago 2015).

A Revolução Industrial é um divisor de águas na história da extensão rural e quase


todos os aspectos da vida quotidiana da época foram influenciados de alguma forma. Foi,
portanto, a partir da Revolução Industrial que vários processos de produção colectiva em
massa surgiram, provocando a geração de lucro e acúmulo de capital. Nessa época, houve
uma grande pressão para a modernização da agricultura e dos agricultores considerados como
convencionais que viviam de uma indústria caseira de base artesanal (Romaniello e Thiago
2015).

Segundo Costa (1982), o termo “Extensão” com referência ao sector agrícola remonta
aos anos de 1755 a 1855 com a criação das Sociedades Agrícolas nos Estados Unidos.
Eram organizações formais, de carácter local, constituídas de agricultores e familiares,
organizadas em núcleos para a divulgação de informações elementares sobre agricultura,
pecuária e economia doméstica. Essas sociedades ofereciam aos agricultores oportunidades de
trocarem entre si informações sobre problemas relativos à agricultura (palestras, informativos,
feiras agrícolas) com vistas a alavancar a produção e, sobretudo, veicular informações.

Entre o período de 1855-1914, após avaliação de que essas sociedades não eram
suficientes para prestarem o apoio necessário foram criados Institutos Agrícolas. Estes
institutos, organizam reuniões, em que técnicos do Estado e professores dos Colégios
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Agrícolas eram postos à disposição de qualquer município que desejasse promover


conferências populares para os agricultores. Neste período, o governo americano, por meio de
Actos Legislativos, tomou várias iniciativas visando a estruturação do sistema de Serviço de
Extensão Agrícola, buscando estimular o desenvolvimento agropecuário.

Em 1862, criou-se o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e a lei Morril,


que orientou a primeira fase do sistema “Land Grant Colleges” – a doação de grandes
extensões de terras públicas do Governo Federal às Federações para implantação do Ensino
Superior Agrícola. Professores de Ciências Agrícolas e Veterinários foram chamados para
actuarem como conferencistas destes Institutos. O objectivo destas iniciativas era oferecer
uma educação em nível universitário, no campo da ciência e da técnica para tratar dos
problemas dos agricultores.

Em 1987, através da Lei Hatch, foram implantadas em cada Estado, Estações


Agrícolas Experimentais, ligadas ao já existente Land Grant Colleges, cujo objectivo
principal era responder a necessidade científica por meio de pesquisas, exigência para uma
nova prática agrícola (Rivera; 1991). Essa iniciativa resultou na estruturação e organização de
um trabalho integrado, com demonstrações práticas no campo, experiências em cooperação
com agricultores, divulgação de instruções técnicas publicadas em boletins informativos e
acessíveis a toda população, principalmente agricultores, e cursos por correspondência.

Essas técnicas de demonstrações práticas foram criadas pelo professor Seamnn


Knapp, que sempre convencia agricultores que estavam encontrando problemas para produzir
em suas lavouras a experimentar novas técnicas de cultivos. Essas experiências comprovavam
que, em geral, os agricultores não mudavam suas práticas de cultivo por simples apreciação
dos resultados que poderiam observar nas lavouras dirigidas por organizações oficiais. Era
necessário por um lado, que as demonstrações fossem levadas a cabo, pessoalmente pelos
agricultores, em suas próprias lavouras e de acordo com as condições normais de trabalho, o
que exigia por outro lado, um trabalho em grupo, comum nas actividades rurais.

Para além do estabelecimento dos métodos de demonstração em cooperação com os


agricultores, Knapp, foi também o idealizador da figura do “agente local” na actividade
extensionista, por meio do qual os agricultores podiam ter à sua disposição, pessoal técnico
qualificado, de quem receberiam os conhecimentos necessários para melhorar suas
práticas agrícolas. Neste período, os agentes agrícolas passaram a ser nomeados para
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atender as solicitações das sociedades agrícolas e organizações similares, reconhecimento do


trabalho que vinham prestando.

Com a comprovada viabilidade do sistema de agentes agrícolas, pela cooperação entre


as instituições oficiais (Estado e Universidade) e agricultores, em 1914, com a publicação da
Lei Smith-Lever-Act14, foi criado o “Serviço Cooperativo de Extensão Agrícola”. A partir
deste período, vários programas foram lançados em diversas partes do País como respostas às
necessidades locais, provocando modificações que resultaram numa crescente melhoria nos
campos de produção agropecuária.

Conforme apontou Luchetti (2003), o início do serviço de extensão foi uma resposta a
industrialização crescente; a necessidade em incrementar o fornecimento de matérias-primas
de origem vegetal e animal, sendo por isso a agricultura convocada a intensificar a sua
produção. Durante esse período ocorreu um incremento genético com o surgimento de novas
sementes, novas raças de animais. O aumento da produtividade envolvia a aprendizagem de
novas técnicas, o que levou a criação da extensão para ensinar como melhorar os métodos de
trabalho dos agricultores. Estas experiências foram implementadas por outros países, por
Escolas de Agricultura, Universidades ou Instituições de Pesquisa (Luchetti (2003).

Segundo Olinger (1996), o maior interesse da extensão rural nascido nos Estados
Unidos era o de habilitar o agricultor e a sua família a obter maior produtividade, por meio do
uso racional dos factores de produção como insumos, maquinaria e crédito rural. Toda a
óptica do processo de desenvolvimento da extensão rural norte-americana desenvolveu-se sob
a óptica dos interesses capitalistas.

Diante da dificuldade dos agricultores de adoptarem inovações tecnológicas em suas


propriedades, foram tomadas várias iniciativas pelas empresas ligadas a diversos sectores da
economia. Segundo Salgado & Andreozzi (2006), as empresas ferroviárias, as indústrias de
fertilizantes, indústrias de máquinas, bancos, faziam serviços de divulgação de técnicas, pela
publicação de panfletos e doação de áreas para serem transformadas em campos de
demonstração de técnicas modernas. Todas essas iniciativas tinham, implicitamente, a
possibilidade de ter maiores vantagens e lucros, caso a agricultura incorporasse tais técnicas e
tecnologias modernas. Se a modernização acontecesse rapidamente, consequentemente
haveria mais produtos para transportar e, uma maior produtividade exigiria a aquisição de
máquinas, instrumentos, insumos e, inclusive, novos investimentos.
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O significado da palavra assistir é ajudar, auxiliar, socorrer. A palavra técnica,


segundo o dicionário Michaelis, significa “um conjunto dos métodos e pormenores práticos
essenciais à execução perfeita de uma arte ou profissão”. Assim, o termo assistência técnica
significaria um trabalho de orientação aos agricultores de maneira mais pontual, visando,
principalmente, à resolução de problemas relacionados com a produção para os quais o
assistido não tem o conhecimento especializado.

Nos meados do século XVIII, era usual a formação de associações de agricultores em


vários municípios, onde eram feitas reuniões com palestras proferidas por técnicos
convidados e por agricultores esclarecidos em busca de soluções para os problemas de
produção e de tecnologia, nessa época era usual a utilização de circulares técnicas, feiras e
concursos. Segundo Olinger (1996), em 1856 o Jornal New York Times patrocinou um
concurso de produtividade do milho para jovens rurais.

4.1. Extensão Rural Em Moçambique

Em Moçambique, a extensão rural é praticada desde o período colonial. Nessa altura, a


assistência técnica era direccionada a determinados produtos de exportação, notadamente o
algodão, tabaco e o caju, no que se conhece como Commodity Based Approach, embora as
lojas rurais (vulgo cantinas) interessadas na aquisição de produtos agrícolas também
providenciassem alguma informação, em relação aos insumos e produtos que
comercializavam (Anselmo, 2000).

4.1.1. A extensão rural no período colonial

No período colonial, as práticas de extensão rural estavam mais viradas para o


enquadramento dos camponeses do sector familiar, isto é, uma vigilância e propaganda para
levá-los a cumprir com as normas de cultivo de produtos de exportação sobretudo do algodão.
(Anselmo, 2000).

A extensão rural assumiu a forma de controlo, obrigação e sanção à actividade dos


camponeses do sector familiar. A divulgação de técnicas melhoradas era apenas para culturas
comerciais, tais como o algodão."'Esta divulgação de técnicas melhoradas era sobre as
quantidades de produção, áreas a serem semeadas, controlo da data da sementeira, a área
lavrada e as quantidades produzidas. Nestas condições, uma proposta para a organização dos
serviços coloniais de extensão rural em benefício dos camponeses nunca chegou a ser
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aprovada durante o período colonial. Por conseguinte, não existia uma metodologia
estruturada de comunicação na extensão rural no pais. Metodologia estruturada no sentido de
um esquema organizado que funcionasse como padrão para a transmissão de informações
sobre inovações agrícola aos camponeses (Anselmo, 2000).

É que fora da extensão que se praticava com relação às culturas de rendimento, não
existia uma outra que pudesse apoiar os camponeses com vista a elevar a sua condição de vida
no campo. Isso significa que não foram criadas no campo as condições para levar os
produtores do sector familiar a passar dos métodos tradicionais de produção para outros novos
e mais científicos, que incluíssem novos componentes tecnológicos, visando aumentar e
melhorar as quantidades de produção (Anselmo, 2000).

No período colonial a única medida relacionada à organização da extensão em


Moçambique, foi transplantada dos Estados Unidos na década de 1960 e 1970, e deu sentido a
uma forma de agir dos agricultores que os tem levado a obedecer as políticas agrícolas
definidas pelo País com a adopção de “métodos modernos de produção” ou para o fomento
de determinada cultura subordinada a interesses comerciais de grandes empresas (Anselmo,
2000).

4.1.2. A Situação da Agricultura até a data da independência

Segundo Mucavelel e Artur (2021), até a data da independência, a agricultura em


Moçambique era desenvolvida por dois sectores, nomeadamente o sector familiar e o sector
privado. Assim, a estrutura agrícola neste período (1975/80) foi constituída por quatro formas
de organização da produção agrícola, nomeadamente: a) Empresas Agrárias Estatais, b) sector
privado, c) cooperativas agrícolas, e d) sector familiar individualizado (produção familiar)
(Amisse, 1997).

4.1.3. O sector familiar

O sector familiar produzia a sua própria alimentação, além de uma grande variedade
de culturas para a venda, assim como fornecia mão-de-obra para os sistemas capitalistas em
Moçambique e na África do Sul. A população moçambicana engajada neste sector vivia
geralmente duma forma dispersa, ou seja, a distribuição da população através do território
ordenou-se de acordo com os interesses do colonial-capitalismo português. Este tipo de
provamento disperso apenas era interrompido, donde em onde, por pequenos aglomerados
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populacionais habitados essencialmente por comerciantes indianos e portugueses (Mucavelel


e Artur, 2021).

A forma de povoamento disperso reflectia as características da posse e utilização da


terra em vigor. As melhores terras eram ocupadas por grandes companhias estrangeiras e por
colonos europeus, restando para os camponeses moçambicanos as zonas de solos menos
férteis (Mucavelel e Artur, 2021).

4.1.4. O Sector privado

O sector privado era constituído por agricultores colonialistas, produzindo culturas


lucrativas, especialmente algodão, cereais, horticulturas, carne e lacticínios, destinados ao
consumo nas cidades. Existia ainda o sector privado das grandes plantações de chá, cana de
açucar, sisal e copra. O sector privado envolvia ainda pequenos agricultores moçambicanos
semi- capitalistas, empregando mão-de-obra assalariada e algumas técnicas modernas na
produção de culturas lucrativas, como seja o algodão e cereais (Amisse, 1997).

4.1.5. A Interligação entre os Sectores Familiar e Privado

Havia uma forte ligação entre os sectores familiar e privado, ou seja, sector privado
capitalista dependia do sector familiar e vice-versa (Anselmo, 2000).

Na dependência do sector privado capitalista em relação ao sector familiar há três


aspectos mão-de-obra barata e muitas vezes sazonal, recrutada numa base migrante a partir do
sector familiar, alimentação aos trabalhadores das plantações, industriais e machambas
privadas; um fundo de divisas gerado não pelo próprio sector capitalista doméstico mas pela
venda de força de trabalho numa base migratória para a África do Sul e para a Rodésia, Esta
dependência do sector privado capitalista ao sector familiar conduziu à acumulação de capital
pelo sector privado capitalista à custa da exploração dos produtores do sector familiar
(Anselmo, 2000).

Na dependência dos camponeses em relação ao sector privado capitalista encontramos


famílias camponesas a depender do salário pago por este sector. As famílias camponesas ao se
manterem subordinadas às relações de classe capitalistas, era uma forma de garantirem o
rendimento do trabalho assalariado. Este rendimento assalariado lhes permitia satisfazer as
necessidades de subsistência como a compra do sal, tecido, óleo, peixe seco, cimento,
bicicletas,etc. Além disso, e o mais importante, o rendimento do trabalho assalariado era
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usado pelas famílias camponesas para a compra de meios de produção necessários à


reprodução da produção familiar (implementos agrícolas, cisternas de água, bombas, redes de
pesca e anzóis) (Anselmo, 2000).

O rendimento salarial das famílias camponesas tornou-se a base necessária para


investimento na produção familiar, isto porque, apesar da subordinação do campesinato ao
trabalho assalariado, não se tinha separado da terra, onde era investido então o rendimento
salarial (Anselmo, 2000).

4.1.6. Extensão Rural no período de socialização do campo

Até a realização do IV Congresso da FRELIMO, a mobilização política para a


agricultura não fazia menção à extensão agrária. Entretanto, parte dos projectos elaborados
pelo Ministério da Agricultura se referiam implicitamente a esta actividade (Anselmo, 2000).

As razões de não se falar abertamente sobre extensão rural explicam-se com a intenção
do governo querer apoiar o sector familiar através das cooperativas agrícolas. Essa pretensão
pode ser notada em alguns projectos preparados pelo Ministério da Agricultura sob
financiamento do MONAP, em apoio ao sector familiar.95 São exemplos os projectos CO-1
(desenvolvimento de cooperativas agrícolas), CO-2 (Criação de centros regionais de
experimentação e desenvolvimento) e FO-7 (Promoção de indústrias de pequena escala nas
Aldeias Comunais) (Anselmo, 2000).

Os objectivos do projecto CO-1 eram:

 Criar condições de desenvolvimento das cooperativas, permitindo uma participação


directa dos próprios camponeses; mostrar ao sector familiar as vantagens das
cooperativas, na melhoria do nivel de vida dos seus membros;
 Promover a integração das machambas colectivas nas Aldeias Comunais, dentro do
sector cooperativo;
 Desenvolver um programa de tracção animal

Assim temos o projecto CO-1 com o objectivo de promover as cooperativas para


permitir a participação directa dos camponeses, com vista a melhoria do nivel de vida dos
seus membros. Os seus membros são camponeses, destinatários principais dos programas de
desenvolvimento do
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4.1.7. A política Agrária no Período de socialização do campo

Com a independência em 1975, a FRELIMO adoptou medidas para transformar


radicalmente a estrutura agrícola existente em Moçambique. Como foi que isso aconteceu?

O sector agrícola, tal como todos os sectores da economia colonial, foram seriamente
afectados na altura da independência com a partida da população colona portuguesa, que
representava a maior parte da força de trabalho qualificada e administrativa (Amisse, 1997).

No campo, a partida dos agricultores e dos comerciantes rurais colonos originou


importantes quebras nos rendimentos da agricultura e um colapso generalizado dos sistemas
de comercialização agrícola nos quais aqueles operavam, assim como dos sistemas de
abastecimento de insumos agrícolas e equipamento, sobressalentes e assistência técnica
4sobretudo para as culturas de rendimento, como o algodão, copra e cajú (Amisse, 1997).

O novo poder politico em Moçambique, liderado pela FRELIMO via-se na


necessidade de demonstrar a sua capacidade para controlar a situação, provocada pela fuga
dos colonos portugueses, e assegurar a melhoria das condições de vida da população
moçambicana quer das zonas urbanas quer das zonas rurais (Amisse, 1997).

A resposta imediata do novo governo da FRELIMO em relação à crise rural consistiu


na criação de novas formas de produção, que consistiram no desenvolvimento de formas de
produção colectivas. O argumento principal apresentado pela FRELIMO para a criação destas
formas de produção era de que se tratava da extensão para um contexto novo da filosofia que
caracterizou a vida nas zonas libertadas, durante a Luta de Libertação Nacional (Amisse,
1997).

As propriedades e plantações abandonadas pelos colonos foram, então, nacionalizadas


e transformadas em machambas estatais e, em menor grau, em cooperativas.

O III Congresso da FRELIMO, realizado em 1977, veio a deixar claro a estratégia que
o novo poder pretendia seguir para o desenvolvimento rural em Moçambique.

Os objectivos do projecto CO-1 eram:

 Criar condições de desenvolvimento das cooperativas, permitindo uma participação


directa dos próprios camponeses;
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 Mostrar ao sector familiar as vantagens das cooperativas, na melhoria do nível de vida


dos seus membros;

 Promover a integração das machambas colectivas nas Aldeias Comunais, dentro do


sector cooperativo;

 Desenvolver um programa de tracção animal.

Assim temos o projecto CO-1 com o objectivo de promover as cooperativas para


permitir a participação directa dos camponeses, com vista a melhoria do nivel de vida dos
seus membros. Os seus membros são camponeses, destinatários principais dos programas de
desenvolvimento do campo, como é o caso da extensão rural. Conclui-se que o projecto CO-1
tinha uma componente de extensão rural, no contexto dos programas de socialização do
campo em Moçambique (Amisse, 1997).

O período entre 1987 e 1992 marcou a primeira etapa da institucionalização e


desenvolvimento da Extensão Pública no país como serviço do Ministério de Agricultura e
Desenvolvimento Rural (MADR), por meio do Documento Ministerial, Nº 41/87, publicado
no Boletim da República, em Março do mesmo ano. Acabou com todas as EAEs que
sobreviveram às crises económicas do período da Economia Centralizada. Estas foram
substituídas por empresas privadas que se interessaram em fomentar culturas rentáveis como
algodão, tabaco, chá e cajú. Juntaram-se às outras empresas que já operavam no país - a
SAMO e a LOMACO, formando os chamados Joint Venture Companies (JVCs), em que
o governo participou fornecendo a infraestruturas das antigas EAE (Anselmo, 2000).

A seguir à independência, foi criado, em 1982, o Departamento de Desenvolvimento


Rural (DDR) e, com recurso a vários projectos, foram ensaiados novos modelos de extensão.
Esta foi uma etapa curta que se estendeu até à criação da Direcção Nacional de
Desenvolvimento Rural (DNDR) em 1986. Durante este período (1982-1986) o "Commodity-
Based- Approach", que foi a base no tempo colonial, manteve-se, pois algumas empresas
concessionárias mantiveram-se e com a sua abordagem, enquanto o país continuava sem um
Serviço Nacional de Extensão. As actividades de extensão junto dos pequenos produtores,
quer de forma colectiva em cooperativas de produção ou machambas estatais ou ainda
individuais onde houvesse, foram, sobretudo, exercidas pelos projectos de assistência técnica
de vários parceiros, sendo de destacar os projectos financiados pelo MONAP3 e por ONGs.
Houve vários sistemas praticados em simultâneo, desde a extensão puramente agrária (focada
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em agricultura, pecuária e florestas), até à Extensão Rural Integrada, abarcando aspectos


económicos e sociais que fazem parte da vida da família camponesa (Anselmo, 2000).

No entanto, o País encontrava-se numa situação de emergência e não de


desenvolvimento. Grande parte da população rural estava afectada por causa do conflito ou só
podia trabalhar em suas terras durante algumas horas devido a possibilidade de ataques. Esta
situação de guerra dificultou ainda mais a instalação de um Sistema de Extensão Agrária
Pública eficiente. (Anselmo, 2000).

A abordagem ou o método de extensão usado pela DNDR nesta primeira etapa,


resumia- se ao sistema de T&V (Training and Visit = Treinamento e Visita), que realizava
uma formação em serviço dos extensionistas, e definia visitas periódicas a agricultores (1 vez
a cada 15 dias). Os extensionistas transmitiam conhecimentos tecnológicos relativamente
básicos como semear em linhas, fazer limpeza depois da brota como forma de combater as
ervas daninhas e como melhoria da qualidade do solo (Mucavele, 2002).

Este sistema procurou resolver alguns problemas importantes que afectavam o


funcionamento, sobretudo dos serviços públicos de extensão, tais como:

1) Melhorar a organização da extensão;


2) Transformar o papel multifacetado desempenhado actualmente por muitos
extensionistas, numa função com um único objectivo, claramente definido,
compreendendo fundamentalmente actividades de educação e comunicação;
3) Aumentar a cobertura efectiva (impacto) da extensão, limitando o número de famílias
a visitar pelo extensionista;
4) Melhorar a mobilidade dos Agentes de Extensão fornecendo meios de transporte
adequados;
5) Melhorar a capacidade técnica de cada extensionista através da ligação entre a
extensão e a investigação agrícola, e através da inclusão de especialistas temáticos
(técnicos ramais), todos incluídos num sistema unificado de extensão.

Este arranjo organizacional e institucional da extensão teve o mérito de organizar os


serviços de extensão, tanto do ponto de vista de metodologia, como do ponto de vista técnico.
Contudo, dado que o país ainda não possuía os pressupostos necessários para implementar o
sistema de T&V nomeadamente, a falta de segurança nas zonas rurais, falta generalizada de
especialistas temáticos (técnicos ramais), falta de um serviço de investigação efectivo e
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eficiente para alimentar os serviços de extensão, falta de meios transporte para os agentes de
extensão, fraco nível técnico dos agentes de extensão, ausência de outros serviços de apoio à
produção agrícola, como os serviços de provisão de insumos, fraca participação dos
produtores, entre outros, tornaram o modelo menos efectivo e muito criticado. Esta situação
obrigou a que fossem operadas, em 1992, algumas modificações no sistema original,
passando a chamar-se de “Sistema de Treinamento e Visitas Modificado” e com enfoque
participativo (Anselmo, 2000).

A aprovação do Primeiro Plano Director de Extensão Agrária do sector público (1994-


2004), posteriormente estendido até 2006, coincidindo com o período de implementação e
alinhado com os objectivos e directrizes do Programa Nacional de Desenvolvimento da
Agricultura (PROAGRI I e PROAGRI II), constituiu um marco importante para o
desenvolvimento e fortalecimento de um sistema pluralista na provisão de serviços de
extensão agrária em Moçambique. De destacar, o plano procurou introduzir o Sistema
Nacional de Extensão (SISNE) na perspectiva de melhoria de prestação de serviços aos
produtores agrários através de uma melhor e maior coordenação e colaboração do sector
público com empresas privadas, organizações não-governamentais (ONGs), organizações de
produtores, dentre outros (Anselmo, 2000).

O grupo alvo principal dos extensionistas era o “produtor de contacto” que devia
transmitir os novos conhecimentos aos agricultores vizinhos. Porém, frente a conjuntura
conturbada as orientações dos extensionistas e dos produtores pouco atingiram os agricultores
em razão destas condições: baixo nível de escolaridade dos segmentos que compunham a
agricultura familiar, heterogeneidade dos agricultores, hábitos culturais, pobreza absoluta,
guerra, produção e comercialização sem mercado e sem infra-estrutura (Anselmo, 2000).

4.2. A Agricultura no Período Pós-socialização do Campo

4.2.1. A política agrária na pós-socialização do campo

Após a realização do IV Congresso, o governo da FRELIMO inicia o processo de reformas


económicas visando estancar a crise de produção que se verificava, agravada pela guerra entre
o governo e a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) (Abrahamsson, 1994).

Estas reformas politicas e económicas anteriores ao PRE (1983-86) tentaram viabilizar


ainda o modelo socialista no campo ao querer restruturar as machambas estatais e incentivar o
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desenvolvimento das cooperativas. Significou apenas a reestruturação das machambas ou seja


revestí-las com novas infraestruturas e demarcar novas dimensões territoriais, só depois disso,
segundo se pensava, é que elas se poderiam tornar galvanizadoras do desenvolvimento rural
em Moçambique (Abrahamsson, 1994).

O PRE, como programa de reforma politico-económica, encorporava todas as politica


de mudança do IV Congresso. Este programa levou a uma importante viragem na vida
política e económica de Moçambique, O PRE deu grande prioridade à agricultura, devido à
sua importância extrema na vida económica e social do país. A título de exemplo, a actividade
agrícola envolve 80% da população e cerca de 70% das receitas de exportação agregadas
derivam de produtos agrícolas e de recursos naturais renováveis. 105 Dal que uns dos
objectivos do PRE visaram melhorarem os níveis de produção agrícola que eram, até então
(1987), cada vez mais baixos, comparativamente aos do período anterior à independência. As
machambas estatais (mesmo restruturadas) e as cooperativas não estavam a dar os resultados
esperados na economia nacional. Por isso, na implementação do PRE foram observadas as
seguintes medidas no sector agrícola (Abrahamsson, 1994).

a) Introdução da politica de preços e comercialização que incentivassem a produção;


b) Limitação do número de produtos com preço fixo;
c) Introdução de incentivos que mobilizassem uma maior contribuição do sector privado
na produção e comercialização
d) Melhoria de aprovisionamento de recursos para os produtores familiares
e) Reestruturação das empresas estatais contemplando a distribuição das áreas
excedentárias aos produtores familiares e privados.

Estas medidas do Programa de Reabilitação Económica destinavam-se a incentivar a


produção nas zonas rurais que, para além de se destinar ao consumo interno, visava promover
as exportações agrícolas e a compra de insumos.Com estas medidas, o PRE propunha-se a
facilitar o processo de produção e comercialização agrária sobretudo para os sectores privado
e familiar (Abrahamsson, 1994).
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5. Conclusão

O país passou por várias metamorfoses no que concerne à provisão de Serviços de


Extensão das quais muito se aprendeu. Apesar destas transformações nos parece que
permaneceu assente a visão que os Serviços de Extensão são cruciais no processo de
desenvolvimento agrário num todo, não apenas para o aumento da produtividade agrária, mas
para a criação ou fortalecimento de outras capacidades (sanidade, nutrição, produção de
sementes, ligação com mercados, associativismo, etc.). Isso sugere que estes serviços devem
ser alicerçados por múltiplos serviços de apoio que incluem os serviços de investigação, de
provisão de insumos e de financiamentos. Para alcançar este desiderato a adopção do Sistema
Unificado de Extensão (SUE) que, entre outros, procurou reforçar o papel de sectores/
instituições vocacionadas para prestar apoio técnico aos extensionistas e outros agentes de
extensão, e o reconhecimento do papel do sector privado (empresas, ONGs, etc.), através do
Sistema Nacional de Extensão, contribuiu para uma grande diversificação em termos de
provisão de serviços de extensão e assistência técnica. Todos estes veículos constituem
elementos estratégicos na facilitação de serviços de extensão e assistência agrária.
17

6. Referências bibliográficas

Abrahamsson, Hans (1994). Moçambique em transição: Um estudo da Historia de


desenvolvimento no período de 1974-1982. Maputo.

Anselmo M, Jorge (2000). Agricultura e método de Comunicação na Extensão Rural; Caso


do distrito de Angonia. Dissertação. Universidade Eduardo Mondlane. MaputoMucavelel,

Amisse, Júlio (1997). A importância da Extensão Rural; In: A Extensão Agrária em


Moçambique (1987 - 1997). Direcção Nacional de Extensão Rural, Maputo.

Custódio e Artur, Luís (2021). As Metamorfoses dos Serviços De Extensão Rural em


Moçambique: Um Contributo ao Debate sobre o Modelo de Extensão a Praticar no País.
OMR (Observatório do meio rural), Maputo-Moçambique.

Mucavele, C. Serviços Públicos de Extensão de Moçambique. Direcção Nacional de Extensão


Rural – MADER, Maputo. 1987-2002: 15 anos.

Romaniello, Marcelo Márcio e Thiago, Rodrigo de Paula Assis (2015). Extensão Rural e
Sustentabilidade: guia de estudos. Lavras, UFLA. 114 p. : il.

Olinger, Glauco, (1996). Ascensão e decadência da extensão rural. Florianópolis:


EPAGRI523 p.

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