Nascimento2, Timothy Gustavo Cavazzotto1, Sandra Aires Ferreira1, Marcos Roberto Queiroga (Orientador)1 e-mail: queirogamr@hotmail.com 1 Universidade Estadual do Centro-Oeste, Departamento de Educação Física de 2 Guarapuava-PR; Universidade Federal do Paraná, Departamento de Educação Física, Curitiba-PR
Comparou-se através de um estudo duplo cego o efeito da suplementação
de cafeína na variabilidade da frequência cardíaca durante cinco minutos de repouso em dez indivíduos saudáveis do sexo masculino. A partir dos resultados obtidos foi verificado um aumento significativo na FC de repouso na condição cafeína, para os parâmetros de VFC apesar de ter sido observado aumento este não foi significativo.
Introdução
A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) é caracterizada pelas
alterações da frequência cardíaca (FC) em respostas aos diversos estímulos fisiológicos e ambientais. Nos últimos anos verificou-se que a VFC também é sensível a desordens causadas por doenças. De forma geral, a VFC descreve as oscilações dos intervalos entre batimentos cardíacos consecutivos (intervalos R-R). É uma medida não invasiva que pode ser utilizada para identificar fenômenos relacionados ao sistema nervoso autônomo (SNA) (VANDERLEI et al., 2009). Mudanças nos padrões da VFC indicam comprometimento à saúde. Uma alta VFC caracteriza um individuo com mecanismos autonômicos eficientes. Por sua vez, baixa VFC sugere uma adaptação anormal e insuficiente do SNA, o que pode indicar a presença de mau funcionamento fisiológico no individuo (VANDERLEI et al., 2009). O SNA é composto por nervos aferentes e eferentes ligados ao coração na forma de terminações simpáticas e parassimpáticas. Assume-se que quando há uma diminuição da VFC ocorre um aumento na atividade autonômica simpática e/ou uma retirada parassimpática, ao passo que a resposta fisiológica inversa é observada quando há um aumento na VFC (ACHTEN & JEUKENDRUP, 2003). Muitos estudos têm utilizado deste método para identificação do controle neural cardíaco em diversas condições fisiológicas, pois é um método eficiente e não invasivo (CAMBRI, 2008). Contudo ainda são poucas
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11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – XXXX-XXXX as informações referentes às repostas autonômicas a partir da ingestão de substâncias estimulantes como a cafeína. A cafeína está presente em muitos alimentos consumidos na vida diária e geralmente utilizada como suplemento por esportistas. Segundo Alterman (2008) a cafeína age diretamente no sistema nervoso central exercendo bloqueio nos receptores de adenosina e aumentado a ação do sistema nervoso simpático. Considerando que a VFC pode ser empregada como indicador de saúde em humanos a partir de alterações na atividade autonômica simpática e parassimpática, alvo também da cafeína exógena, o objetivo do trabalho foi investigar o efeito da suplementação de cafeína no comportamento da VFC durante um período de cinco minutos em repouso.
Metodologia
A amostra foi constituída por 10 ciclistas semi-profissionais do sexo
masculino com idade variando de 18 a 50 anos. Antes da coleta dos dados todos os sujeitos foram informados sobre os objetivos e procedimentos aos quais seriam submetidos. Em seguida, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para participação. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com seres humanos sob protocolo nº 041/2011 da Universidade Estadual do centro Oeste do Paraná. Iniciou-se a coleta com registro de alguns dados pessoais para a identificação dos participantes, e em seguida, a obtenção de medidas antropométricas. As cápsulas, de cafeína (6 mg/kg) e placebo (farinha), foram manipuladas em laboratório. Um sorteio determinou a cápsula que cada ciclista deveria ingerir (cafeína ou placebo). O suplemento foi fornecido de forma duplo-cego e ingerido uma hora antes da coleta. Os intervalos R-R foram registrados com o uso de um monitor cardíaco POLAR modelo RS800. As informações foram transferidas para o software Polar Pro Trainer 5 e posteriormente analisadas pelo HRV Kubius (http://kubios.uku.fi/KubiosHRV/). Os intervalos R-R foram continuamente registrados com os ciclistas permaneceram em repouso durante 5 minutos que o após a ingestão da cápsula (60 minutos). Para comparação dos dados foram utilizado Modelos Lineares Generalizados considerando como covariáveis IMC e idade. O teste de comparação foi realizado a partir da estimação de máxima verossemelhança com utilização de teste Wald, considerando p<0,05. Utilizou-se o SPSS, versão 17.0. As informações foram apresentadas como média e desvio padrão (dados antropométricos) e média e Erro Padrão da Média para as variáveis cardiovasculares.
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11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – XXXX-XXXX Resultados e Discussão
A Tabela 1 exibe os dados antropométricos dos avaliados.
Tabela 1 Características Antropométricas da amostra
Variáveis 10 ciclistas* Idade (anos) 33,8±9,9 MC (kg) 79,2±13,9 Estatura (cm) 176,8±4,9 2 IMC (kg/m ) 25,2±3,1 Nota: MC: massa corporal; IMC: Índice de Massa Corporal; *média ± desvio padrão.
Na Tabela 2 são apresentadas as informações sobre os parâmetros de FC e
VFC dos ciclistas durante cinco minutos.
Tabela 2 Média e Erro Padrão das variáveis cardiovasculares nas diferentes
condições de medidas durante o repouso Variáveis Placebo Cafeína FC (bpm) 67,7±1,5 74,4±2,1* HF (ms²) 523,93±82,1 431,07±78,4 LF (ms²) 2244,1±194 2355,8±288,6 HF/LF (%) 4,5719±0,7 5,2±0,7 RMSSD (ms) 43,6±5 34,2±2,2 SD1 (ms) 30,9±3,5 24,2±1,5 SD2 (ms) 109,1±5,6 110,4±9,0 FC: freqüência cardíaca; HF: componentes de alta frequência; LF: componentes de baixa freqüência; HF/L: Relação entre os componentes HF e LF; RMSSD: Raiz quadrada da média do quadrado das diferenças entre intervalos normais adjacentes; SD1: Desvio padrão dos intervalos R-R instantâneos; SD2: Desvio padrão dos intervalos R-R analisados em longo prazo; *p<0,05.
Após análise dos dados revelou um aumento significativo na FC de repouso
com a suplementação de cafeína, apesar de não ter sido notado alterações nos parâmetros de VFC. A análise da densidade espectral não identificou diferenças na FC e nos parâmetros da VFC durante 10 minutos em repouso com suplementação de cafeína (RUIZ et al., 2011; KARAPETIAN et al., 2012). Contrariamente, Yeragani et al. (2005), por meio de análises lineares e não lineares, não verificaram diferença na FC, porém observaram aumento significativo na VFC com suplementação de cafeína durante 2 minutos de repouso. As informações são controversas e demonstram uma certa lacuna na literatura em relação à temática. Carece de padronização metodológica e tamanho amostral para entender melhor os efeitos da cafeína em repouso.
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11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – XXXX-XXXX Conclusão
A suplementação de 6 mg/kg de cafeína aumentou significativamente a FC,
porém, apesar de ter aumentados os valores de VFC não foi observado significância estatística nos ciclistas investigados durante o 5 minutos em repouso.
Agradecimentos
Aos integrantes do Laboratório de Fisiologia Experimental e Aplicada a
Atividade Física (LAFEAF) e, em especial, ao professor Vitor Bertoli Nascimento que contribuiu para a coleta e análise dos dados.
Referências
Achten, J.; Jeukendrup, A.E. Heart rate monitoring: applications and
limitations. Sports Medicine, 2003, 30(7), 517-38. Alterman, A.M; Dias C.S.; Luiz, M.V.; Navarro, F. A influência da cafeína como recurso ergogênico no exercício físico: sua ação e efeitos colaterais. Rev Bras de Nutrição Esportiva. 2008, 2(10), 225-239. Cambri, L.T.; Fronchetti, L.; Oliveira, F.R.; Gevaerd, M.S. Variabilidade da frequência cardíaca e controle metabólico. Arq Sanny Pesq Saúde, 2008, 1(1), 72-82. Karapetian, G.K.; Engels, H.J.; Gretebeck, K.A.; Gretebeck, R.J. Effect of caffeine on, LT, VT and HRVT. Int J Sports Med, 2012, 33(07):507-513. Ruiz, R.; Goessler. K.; Risardi, L.; Araujo, A.; Polito, M. Ingestão de cafeína e respostas cardiovasculares após sessão de exercícios resistidos. Rev Bras Cardiol. 2011, 24(2), 112-115. Vanderlei, L.C.M.; Pastre, C.M.; Hoshi, R.A.; Carvalho, T.D.; Godoy, M.F. Noções básicas de variabilidade da frequência cardíaca e sua aplicabilidade clínica. Rev Bras Cir Cardiovasc, 2009, 24(2), 205-217. Yeragani, V.K.; Krishnan, S.; Engels, H.J.; Gretebeck, R. Effects of caffeine on linear and nonlinear measures of heart rate variability before and after exercise. Depress Anxiety, 2005; 21(3): 130-134.
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Recuperação da frequência cardíaca após diferentes protocolos de treino em circuito: relação com a variabilidade da frequência cardíaca de repouso em mulheres pós-menopausadas fisicamente ativas