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Faculdade de Educação

Projeto de Pesquisa
O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO 1962:

CONCEPÇÕES E DEFESA DE UM PROJETO

PARA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Edital PIBIC/CNPq UFF 2022 /2023

Proponente: Profa. Flávia Monteiro de Barros Araujo (matrícula siape 01565223)


Aluno:
Local: Faculdade de Educação (FEUFF)
Endereço: Rua Professor Waldemar Freitas Reis s/n
Bairro: Gragoatá Cidade: Niterói UF:RJ CEP: 24210-430

Palavras chaves: Plano Nacional de Educação/1962; Conselho Nacional de


Educação; educação nacional.

Grande área: 7.00.00.000 - Ciências Humanas

Área: 7.08.00.00-6 – educação / Subárea: 7.08.02.009 administrações educacional

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O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DE 1962:
DEBATES E DISPUTAS ACERCA DE UM PROJETO
PARA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Resumo
Com o fim do Estado Novo em 1937 e a redemocratização do país em 1945, uma nova
constituição federal é aprovada. O novo texto constitucional dedica um capítulo à educação e
incumbe a União de elaborar diretrizes e bases da educação nacional. Entretanto, somente com
a sanção da primeira Lei de Diretrizes e Bases n.4024, em 1961, encontramos uma menção a
formulação de um plano de educação. De acordo com a primeira LDB, no capítulo dedicado aos
recursos financeiros, seria competência de o Conselho Federal elaborar o Plano Nacional de
Educação referente aos fundos da educação primária, média e superior. O primeiro Plano
Nacional de Educação (PNE) teve como relator Anísio Teixeira e foi promulgado em 1962 por
uma iniciativa do Ministério da Educação e Cultura. O PNE era válido por oito anos e se
voltava para a organização do financiamento da educação. Com a posse de Goulart, e a
formulação do Plano Trienal de Desenvolvimento 1963-1965 que preconizava a realização de
reformas de base, tendo em vista a promoção do desenvolvimento nacional, o Plano Nacional
de Educação foi abandonado. Neste projeto, temos como objetivo analisar o nosso primeiro
PNE, de 1962, o estudo que propomos volta-se para o exame das concepções e propostas
veiculadas neste documento. Para tanto, a pesquisa irá realizar o levantamento da literatura de
fontes documentais

Palavras-chave: Plano Nacional de Educação – 1962; Anísio Teixeira; Planejamento


educacional.

Introdução e Justificativa
Os primeiros esforços em prol da elaboração de um Plano Nacional de Educação (PNE), foram
realizados pelo Conselheiro João Simplício Alves de Carvalho, em 1931, no recém-criado
Conselho Nacional de Educação1. Este conselheiro propôs a formação de comissões
encarregadas da elaboração deste importante documento a ser submetido ao governo da
República e dos estados (CURY, 2008). Nesse momento de debates em torno da Assembleia
Constituinte, se realizou em 1932, em Niterói, a V Conferência Nacional de Educação
promovida pela Associação Brasileira de Educação (ABE). O programa desta conferência teve
como tese: "Quais as atribuições respectivas dos governos federal, estaduais e municipais,
relativamente à educação?" De acordo com Oliveira e Silva (2000), foi constituída uma
comissão especial composta por dez educadores indicados pela ABE (Comissão dos Dez) e

1 O Conselho Nacional de Educação foi implantado em 1930 por Francisco Campos, primeiro-
ministro da educação de Getúlio Vargas.
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representantes oficiais de todos os Estados do Brasil, do Distrito Federal e do Território do Acre
(Comissão dos Trinta e Dois). Essa Comissão elaborou um anteprojeto para a Constituição
Brasileira de 1934, na parte referente à Educação. A justificativa do Anteprojeto foi assinada
por Anísio Teixeira, um dos fundadores da ABE.
A ideia de um plano de educação foi acolhida na Constituição de 1934 que determinava como
competência de a União fixar o PNE, contemplando todos os graus e ramos do ensino, comuns
e especializados. Esta tarefa foi atribuída ao Conselho Nacional de Educação que chegou a
concluí-la. Para tanto, em 1936, o Ministro Gustavo Capanema distribuiu um questionário para
professores, estudantes, jornalistas, escritores, cientistas, sacerdotes e políticos apresentarem as
suas contribuições para a elaboração de um Plano Nacional de Educação.
O documento final do Plano Nacional era constituído por 504 artigos e se autodenominava de
Código da Educação Nacional. Observa-se que o Plano buscava definir finalidades, diretrizes
para educação nacional e ainda questões relativas ao financiamento da educação (SAVIANI,
2008). Entretanto, o decreto do Estado Novo, em 1937, fez com que esta proposta fosse
abandonada antes mesmo de sua aprovação pelo Congresso Nacional.
Com o fim do governo Vargas, em 1945, um novo cenário foi delineado para educação
brasileira. No processo de redemocratização do país, foi aprovada uma nova Constituição, em
1946, que estabeleceu como competência de a União legislar sobre as diretrizes e bases da
educação nacional.
Nas décadas de cinquenta e sessenta, o Brasil viveu momentos de otimismo econômico,
embalado algumas vezes pelo fervor nacionalista, que teve, na criação da Petrobrás, especial
destaque. A constituição da Companhia Siderúrgica Nacional e a elaboração do Plano de Metas
de Juscelino Kubitschek (1956- 1960) são exemplos que ilustram o papel decisivo do Estado na
gerência do desenvolvimento econômico brasileiro (TAVARES, FIORI, 1993).
Neste contexto, se difundiu a ideia de que a educação constituiria instrumento de
desenvolvimento econômico, favorecendo a equalização das oportunidades sociais e o aumento
da produtividade do trabalho. Os objetivos da política educacional do governo de Kubitschek
era formar as classes dirigentes para que influísse de forma positiva no destino do país,
oferecendo aos trabalhadores e seus filhos um ensino técnico e de especialização para que esses
pudessem desempenhar funções dentro do mundo produtivo com mais eficácia e qualidade,
principalmente nas fábricas automobilísticas que se instalavam no Brasil. Tal preocupação
conduziu o Presidente Juscelino a enfatizar a ampliação do sistema educacional, propondo a
criação de cursos complementares ao ensino primário com orientação profissional (CARDOSO,
1977). A ênfase recaiu sobre as escolas técnico-profissionais, que deveriam preparar recursos

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qualificados para os setores da produção econômica. Subjacente a esta concepção estava a
teoria do capital humano , segundo a qual a melhor qualificação do indivíduo, decorrente de um
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maior nível de escolaridade, concorre para o incremento da produtividade e consequente


aumento dos salários.
Neste contexto, após longa tramitação, em 1961, foi sancionada a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional nº 4.024/61. Entre as polêmicas que marcaram o processo de elaboração do
texto legal, estão os embates em torno da defesa da escola pública versus escola particular, da
defesa da centralização versus descentralização no campo educacional (SAVIANI, 2008).
No texto da Lei foi determinada a elaboração de três Fundos de ensino: primário, secundário e
superior, com o objetivo de fornecer assistência técnica aos estados e municípios e, ainda, a
formulação de um Plano de Educação (PNE) pelo Conselho Federal de Educação (CFE). Este
processo teve como um de seus protagonistas o educador Anísio Teixeira, indicado como
relator do texto. O PNE aprovado em 1962 constituía um conjunto de metas ou objetivos que
deveriam nortear o desenvolvimento da educação até 1970, orientando a aplicação dos recursos
destinados pela Lei de Diretrizes e Bases aos Fundos de Educação primária, média e superior. O
PNE de 1962 era válido por oito anos e se voltava para a organização do financiamento da
educação. Com a posse de Goulart, e a defesa das reformas de base, tendo em vista a promoção
do desenvolvimento nacional, o Plano Nacional de Educação foi incorporado ao Plano Trienal
de Desenvolvimento 1963-1965 elaborado pelo governo. A sua coordenação passa para o
economista Celso Furtado.
Neste projeto, temos como objetivo resgatar e analisar este importante documento que constitui
o nosso primeiro PNE. O estudo busca analisar as concepções e diretrizes para educação
brasileira veiculadas neste documento, dando destaque, em especial, aos debates travados no
processo de formulação do I Plano Nacional de Educação. Observa-se, no período, um intenso
debate acerca da concepção de planejamento educacional vista como instrumento de
racionalidade tecnocrática. Sobressai ainda a atuação de organismos internacionais que
influenciaram a delimitação de metas para a educação. Para cuidar do processo de implantação
foi instituída um órgão especial pelo Ministério da Educação e Cultura, a Comissão Nacional de
Planejamento Educacional (Copled). Com o golpe civil-militar em 1964, o efêmero PNE é

2 De acordo com Souza (s/d): “Essa vertente de interpretação dos investimentos em capital humano nasce da
necessidade da economia neoclássica explicar satisfatoriamente o crescimento econômico do mundo ocidental nos
períodos de estabilidade alcançada nas décadas que se seguem a II Grande Guerra Mundial. Os fatores inputs da
função crescimento – capital e trabalho – não bastaram para explicar o output registrado – taxa de crescimento –
nas décadas de 1950 e 19603. Durante certo tempo prevaleceu a compreensão de que esse resíduo da taxa de
crescimento era um “terceiro fator” que, para alguns, era a técnica, e para outros, era simplesmente uma incógnita
que a própria economia ainda não conseguira decifrar. Dois autores se destacaram na busca do “desvendamento”
desse mistério: Becker e Schultz”.
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abandonado. Destarte, ressaltamos que o PNE (1963-1970) é nosso o primeiro plano
oficialmente implementado, e, portanto, um documento histórico de máxima valia para
compreensão da constituição histórica do Sistema Nacional de Educação no Brasil.
2. Objetivos:
Geral

● Analisar as propostas veiculadas no I Plano Nacional de Educação aprovado pelo Conselho


Federal de Educação em 1962, perquirindo as concepções e propostas nele contidas.

Específicos

● Recuperar o processo de elaboração e tramitação do I Plano Nacional de Educação,


abordando as influências que marcaram a elaboração deste documento.

● Debater o contexto político, assinalando os embates entre as forças políticas e as suas relações
com a produção da política educacional.

3. Metodologia
A pesquisa que propomos é de caráter qualitativo e envolve diferentes procedimentos
metodológicos. A primeira delas será dedicada a revisão da literatura sobre o tema; já a segunda
tem como objetivo rastrear e analisar documentos que contenham posicionamentos, propostas e
concepções sobre o Plano Nacional de Educação. Pretende-se investigar fontes primárias,
considerando a existência de um acervo vasto de documentos a serem estudados.
O exame dos textos permite detectar referenciais teóricos, concepções educativas. A análise dos
textos, de acordo com Ozga (2000), constitui “(...) um método útil em investigação em política,
pois muitos dos textos estão disponíveis ao público e prontamente acessíveis, possibilitando
uma análise da política ao longo do tempo” (p.170). Osga observa que a política se materializa
em documentos. Os textos políticos são importantes recursos de análise, em termos das
mensagens que transmitem ou que procuram transmitir, contendo narrativas particulares sobre o
que é possível ou desejável conseguir através das políticas educativas. Os documentos
produzidos expressam intenções, concepções, categorias e modelos que orientam a política
educativa. São produtos e produtores de política (OZGA, 2000).
O texto e o discurso são vistos como receptáculos, como modos de expressão, de manifestação.
A intenção é operar sobre os documentos, a partir de seu interior, ordenando e identificando
enunciados referentes à formação do professor nas direções apontadas nos objetivos deste

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projeto. A compreensão dos textos envolve, contudo, a recuperação do contexto de influência
onde foram produzidos (BALL,1992 apud Lopes 2004), o que nos remete para o nível macro
dos processos estudados.
O trabalho inicial de análise implicará na tomada de conhecimento dos documentos, na leitura e
releitura do material e no destaque de passagens “a priori” significativas em relação aos
objetivos de conhecimento visados pelo projeto. A investigação dos textos e documentos
constituirá em um vaivém entre a manipulação concreta dos dados e um distanciamento
analítico a fim de construir interpretações e atribuir sentidos ao material pesquisado. Trata-se
simultaneamente de estabelecer categorias e de desenvolver uma grelha de análise. Tal grelha
será sempre provisória, pois será suscetível de ser corrigida em função do material empírico
recolhido. Numa primeira fase a grelha de análise será construída em função dos objetivos da
investigação e posteriormente, supõe-se, será enriquecida com outras categorias provenientes do
material analisado.

4. Plano de trabalho do bolsista


O bolsista deverá estar envolvido nas diferentes etapas previstas para a pesquisa, tais como:
realizar pesquisa documental; auxiliar na tabulação e análise dos dados e elaborar os relatórios
parcial e final. Além das atividades relacionadas, o bolsista deverá participar de eventos
científicos para divulgação dos resultados obtidos e das publicações resultantes do projeto de
pesquisa.

ATIVIDADES Bimestre

1 2 3 4 5 6

Levantamento e revisão da X
literatura

Pesquisa documental X X X

Análise dos resultados X

Discussão/ conclusão X

5 - Referências
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AMÂNCIO, M. H. As batalhas de Anísio Teixeira: análise do contexto de influência do I
Plano Nacional de Educação. 2017. 204 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de
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