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Infra-estrutura e políticas de preservação

para os Arquivos Brasileiros


Ingrid Beck
Coordenadora de Conservação de Documentos - Arquivo Nacional
Coordenadora do Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos

I. A preservação e as políticas institucionais

As condições climáticas adversas, a fragilidade dos materiais de arquivo e ainda a indefinição


de políticas para a salvaguarda dos acervos tornam a situação dos arquivos preocupante. Não
só os documentos em papel ácido e quebradiço, mas também uma diversidade de fotografias,
filmes, discos e registros magnéticos correm perigo. A preservação deveria em primeiro lugar
concentrar esforços para reduzir ao máximo a velocidade de deterioração desses materiais, já
condenados por seus constituintes internos a um tempo de uso muito breve.

Onde a temperatura e a umidade relativa do ar são elevadas, a durabilidade dos materiais que
compõem esses acervos diminui consideravelmente, reduzindo-se a chance de uma longa
permanência. Estudos científicos comprovam que a velocidade de degradação química por
hidrólise é duplicada a cada aumento de dez graus centígrados. Outros fatores, como a
umidade, os poluentes e os agentes biológicos se somam a esse processo degradativo.

O conhecimento contido nos documentos produzidos em papéis ácidos está condenado a se


fragmentar em partículas ininteligíveis. A restauração ou qualquer outro meio de intervenção
para recuperar estes suportes falidos não é eficiente, pela baixa produtividade, o alto custo e o
resultado insatisfatório. A incumbência de arquivamento pressupõe que os registros
acumulados sejam disponibilizados como informação e ao mesmo tempo preservados,
alcançando as gerações futuras.

Muitas instituições começam a investir na digitalização de seus acervos, mas devem ser
alertadas de que esta mídia, mesmo oferecendo recursos incomparáveis para agilizar o
acesso, ainda não pode ser considerada uma ferramenta de preservação, considerando-se a
velocidade com que programas e equipamentos se tornam obsoletos e inacessíveis. Na
maioria dos casos a solução mais adequada é a preservação em microfilme.

II. O projeto cooperativo Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos

Os acervos documentais latino-americanos tem sido objeto de preocupação pela falta de


políticas direcionadas à preservação de seus acervos. Algumas questões como a falta de
programas institucionais e a descontinuidade nas atividades desenvolvidas, mostram falta de
consciência da grande importância da preservação dos nossos registros documentais.

Em 1984 a Organização dos Estados Americanos patrocinou um encontro em Quito, em


continuidade a reuniões já realizadas na República Dominicana e no México, dentro do
programa denominado de Mesa Redonda Latino-Americana de Centros de Conservação de
Documentos. O grupo de representantes de 11 países identificou como necessidade imediata a
capacitação profissional de conservadores, a nível técnico e gerencial, e o acesso a manuais
técnicos atualizados, considerando ainda as barreiras de idioma. Essas conclusões basearam-
se nos estudos preliminares realizados nos diferentes países representados, e o levantamento
junto aos arquivos brasileiros estava integralmente de acordo com este documento.

A idéia de um amplo programa de treinamento e informação sobre preservação a ser


desenvolvido no Brasil foi apresentada ainda naquele ano à Fundação Andrew W. Mellon, que
a levou à consideração da Commission on Preservation and Access. Esta se ofereceu a
colaborar num projeto cooperativo em parceria com instituições brasileiras, para traduzir e
disseminar literatura técnica sobre preservação.
Em 1997 o projeto cooperativo Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos traduziu
e publicou 52 textos técnicos sobre Conservação Preventiva de documentos, filmes,
fotografias, discos e meios magnéticos, que foram distribuídos gratuitamente a mais de 1.400
instituições.

Para assegurar que este material chegasse às mãos das pessoas certas, preparou-se um
extenso cadastro de quase 5.000 instituições, para as quais se enviou um questionário com
perguntas sobre seus acervos, profissionais e necessidades de preservação. As quase 1.450
respostas foram incorporadas a um banco de dados, e orientaram a distribuição das
publicações.

Nas cinco regiões do país foram realizados seminários, que prepararam multiplicadores para
disseminar o conhecimento e incentivar a sua aplicação em programas institucionais. Ao todo
foram seis seminários com a duração de 5 dias, e o tema central foi o planejamento de
preservação. Participaram desses eventos profissionais de reconhecida atuação na área,
professores de conservação e coordenadores dos cursos de Biblioteconomia e Arquivologia,
para que pudessem colaborar numa ampla difusão do conhecimento por meio de programas
institucionais e disciplinas de conservação.

Após os seminários aconteceram muitos desdobramentos nos estados. Também são


observadas mudanças em algumas instituições de liderança, como o Arquivo Nacional, que
está revendo os procedimentos gerenciais para a preservação dos seus acervos.

Um exemplo interessante da atuação dos multiplicadores foi o das duas colaboradoras do


estado do Maranhão. Para divulgar o Projeto e a Conservação Preventiva, uma das instituições
visitadas foi o Arquivo da Arquidiocese de São Luís, a quarta do Brasil em antigüidade.
Presenciaram goteiras e a situação lastimável em que se encontrava a documentação, sem
organização e inacessível para consulta. Em uma audiência com o Arcebispo presenciaram,
coincidentemente, a chegada de uma documentação do Vaticano orientando sobre a
Conservação Preventiva, reforçando assim os seus argumentos. Em conseqüência disto a
Arquidiocese contratou um aluno do curso de História para organizar o arquivo.

Nos cursos de Arquivologia e Biblioteconomia da Universidade do Rio de Janeiro, UNIRIO, com


a incorporação da Conservação Preventiva no currículo das disciplinas de Conservação, o
professor responsável comentou que a sala de aula se transformou num fórum, onde os alunos
trazem as preocupações dos gerentes de acervos das instituições onde estagiam. Estes
tiveram sua atenção despertada para a preservação a partir das ponderações técnicas desses
estagiários.

Para atualizar o banco de dados e acompanhar o desenvolvimento das atividades dos nossos
colaboradores em todo o país, foi realizada nova pesquisa em dezembro de 1998 junto aos 160
participantes dos seminários. Com uma resposta em torno de 50 % pudemos obter dados
importantes. Quando perguntados sobre a forma de ajuda que esperavam do projeto para a
realização de novos seminários, eles solicitaram material didático, especialmente audiovisuais,
e o envio de professores, indicando como prioritários os temas demonstrados na figura 1.
Figura 1: Temas prioritários para treinamentos e publicações.

Com base nesses dados gerais, valeria a pena observar ainda as preferências apresentadas
por estes colaboradores, por região, na figura 2. Nas regiões Norte e Nordeste identificam por
exemplo, a necessidade de treinamentos em organização de acervos.

REGIÃO 1ª 2ª 3ª 4ª SIGLA ÁREA DE CONHECIMENTO

PC Procedimentos de Conservação

NORTE PC MA OR PP OR Organização

NORDESTE MA PC OR PP MA Meio Ambiente

CENTRO-OESTE PP PC MA PE ED Edificações

SUDESTE PP PC ED MA PP Planejamento de Preservação

SUL PC MA ED PE PE Plano de Emergência

Figura 2: Temas prioritários por região.

A partir destas informações já podemos observar mudanças importantes no encaminhamento


de prioridades. O interesse pela restauração está cedendo lugar à preocupação com o
planejamento e o meio ambiente de preservação. Entretanto preocupa o fato de em algumas
áreas persistir a necessidade de orientação para a organização de acervos e de maneira geral
existir uma grande lacuna quanto ao conhecimento dos recursos da Reformatação, em especial
da Microfilmagem para Preservação.

Pelos desdobramentos ocorridos, o projeto obteve um novo apoio de seus patrocinadores para
consolidar a Rede de Informação em Preservação. Pretende-se dar continuidade ao programa
de publicações e treinamentos e concentrar esforços para cobrir as áreas que mais carecem de
informação, como a de microfilmagem, com base no diagnóstico relatado acima. Na página do
projeto na Internet são disponibilizadas todas as publicações, o banco de dados, e outros
recursos informativos e didáticos.

O projeto recebeu a mais importante premiação do Ministério da Cultura na área de patrimônio


cultural, o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade – 1998.

Dos produtos deste projeto, o mais importante é a disseminação do conhecimento da


Conservação Preventiva em todo o país. A ferramenta para acompanhar este processo de
continuidade de cooperação é o banco de dados. Por ele podemos obter inúmeras informações
sobre o desenvolvimento das atividades de Preservação.
III. As instituições arquivísticas

As pesquisas realizadas no banco de dados se baseiam nas informações relativas a acervos,


recursos humanos e condições de organização e preservação fornecidas pelas 1.534
instituições inseridas neste cadastro, até o momento. Comparando por região o número de
instituições, chama atenção a grande diferença dos números das regiões Sul e Sudeste em
relação às demais. Estas duas concentram 78% das instituições . Os 22 % restantes se
referem aos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Vários fatores explicam tamanha diferença. Por um lado observamos a baixa densidade
demográfica nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e por outro a pobreza de recursos
das instituições, principalmente na área de recursos humanos, que é um fator determinante
para os reduzidos índices de resposta. Mesmo informadas de que a resposta ao questionário
habilitaria as instituições a receberem as publicações, algumas perguntas sobre metros
lineares de documentos, período de abrangência dos acervos e percentual de organização
podem ter dificultado o preenchimento do questionário, por não possuírem as informações
referentes aos acervos.

A partir das 1.534 instituições cadastradas podemos selecionar as que possuem documentos
textuais, e encontramos 703 instituições. Ao se limitar a pesquisa quanto às instituições
caracteristicamente de Arquivos, que possuem esses documentos, o número cai para 195. Isto
mostra que cerca de 72 % das instituições que guardam documentos não são formalmente
arquivos, confirmando o informe da Fundación Histórica Tavera, de que existem muitos
arquivos inseridos em instituições como bibliotecas, museus, empresas e instituições religiosas,
sem institucionalização jurídica. Estes arquivos costumam ser os mais carentes, porque lhes
falta autonomia e uma estrutura administrativa adequada às suas funções.

Dos 195 arquivos, 160 são públicos e apenas 35 privados. Dos arquivos públicos, 53 são
federais, 46 estaduais e 61 municipais. Observe-se que estão incluídos os arquivos das
universidades. Considerando ainda que arquivos se constituem de diferentes registros de
informação, foram levantadas quantitativamente as instituições de maneira geral e os arquivos,
em relação aos principais tipos de acervos, como mostra a figura 3.

Figura 3: Representação gráfica sobre instituições em geral e arquivos com diferentes acervos.

IV. A preservação dos acervos e os recursos humanos

O desenvolvimento das ações que visam a preservação dos acervos depende sobretudo de
decisões administrativas que promovam as necessárias mudanças para adequar os serviços
da instituição às novas tecnologias de acesso e preservação. A decisão sobre prioridades e
medidas de preservação deve ser tomada em consenso, e mesclar questões relacionadas ao
conteúdo intelectual e à freqüência de uso dos documentos, considerando ainda o grau de
fragilidade dos diferentes suportes documentais.
Por isto, antes de qualquer recurso material, a instituição necessita de profissionais aptos a
atuar nas diferentes funções. Neste sentido é fundamental que os cursos de Arquivologia
tenham como matéria obrigatória a Preservação, especialmente tratada a nível gerencial, para
que os profissionais possam contribuir no processo decisório da seleção para preservação.

Não há dúvida de que a qualificação dos profissionais se reflete diretamente sobre a qualidade
dos serviços que a instituição presta. Os cursos de Arquivologia se concentram nas regiões
Sudeste e Sul, sendo dois no estado do Rio de Janeiro, um no Paraná e um no Rio Grande do
Sul; na Região Nordeste conta com apenas um curso na Bahia e na Centro-Oeste também com
um, no Distrito Federal.

Os cursos de especialização em Arquivologia, Ciências da Informação e Preservação se


realizam em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Paraná, respectivamente. Em 1998 realizou-se
pela primeira vez um curso de especialização de dois anos sobre Conservação de Documentos
e Obras em Papel, na Universidade Federal do Paraná, e se espera que tenha continuidade.

A nível técnico, a Associação Brasileira de Encadernação e Restauro, ABER, em parceria com


a Escola Técnica do SENAI Teobaldo de Nigris, oferece cursos com a duração de quatro
meses.

Várias instituições, como a Fundação Casa de Rui Barbosa, a Fundação Biblioteca Nacional e
o Arquivo Nacional oferecem estágios práticos, com duração média de 3 meses.

Observando a figura 4, que compara o número de instituições com pessoal de nível


universitário, nota-se que as instituições que contam com mais de 50% de seu acervo
organizado possuem um percentual bem superior destes profissionais.

INSTITUIÇÕES COM DOCUMENTOS TEXTUAIS : COM PESSOAL DE NÍVEL % DE INSTITUIÇÕES


EM GERAL E ARQUIVOS UNIVERSITÁRIO (APROXIMADO)

Em geral: Até 50% organizados 474 197 50%

Em geral: Com + de 50% Organizados 229 149 65%

Arquivos: Até 50% organizados 111 52 50%

Arquivos: com + de 50% Organizados 66 40 60%

Arq. Públicos: Até 50% organizados 91 46 55%

Arq. Públicos: com + de 50% Organizados 56 34 60%

Figura 4: Instituições com documentos escritos e correspondente número de instituições com


pessoal de nível universitário.

Podemos constatar também, como mostra a figura 5, que o número de instituições com mais
de 50% dos acervos organizados ainda é, em geral, muito pequeno, sendo que este é um
condicionante à preservação e ao acesso.
Figura 5: Representação de instituições de arquivo por região que possuem mais de 50% dos
acervos textuais organizados.

V. As Condições de Guarda e Segurança

Sendo a preservação dos materiais de arquivo diretamente relacionada à melhoria das


condições ambientais nas áreas de armazenamento, esta deveria ser nossa primeira
preocupação. Pelo banco de dados, entretanto, apenas 20% das instituições, em média,
possuem ambientes climatizados. Observamos que na região Norte, este percentual se eleva a
40 %, o que se explica pelas condições extremas de temperatura e umidade, e o uso da
climatização para conforto. O oposto ocorre no Sul, com o clima temperado, onde o percentual
não passa de 18 %, e a necessidade de tais investimentos é menor.

Os sistemas de acondicionamento, como mobiliário e embalagens de materiais duráveis e


estáveis, são fundamentais para a preservação dos documentos. Nos últimos anos ocorreram
progressos significativos com a produção de papéis e cartões alcalinos, e alguns padrões de
embalagens para arquivos já se desenvolvem em linhas industriais, mas ainda faltam no
mercado interno caixas sem acidez para o acondicionamento de documentos (Tavera, pg. 28).
Na figura 6 podem ser comparados esses investimentos por região.

Figura 6: Por região, arquivos com documentos textuais que investem em acondicionamento.

As recomendações para a ocupação dos edifícios de arquivo estabelecem que a área


destinada aos depósitos deve corresponder minimamente a 60 % da área construída. Segundo
o relatório da Fundação Histórica Tavera (pg. 25), as instalações dos arquivos encontram-se
em grande parte sobrecarregadas e esgotadas. O mau uso das instalações pode acarretar
vários riscos para os acervos. O depósito dos arquivos intermediários, sem a preocupação com
o meio ambiente de preservação, também merece alerta, considerando-se a fragilidade e baixa
durabilidade dos papéis modernos em condições ambientais adversas.

Um outro grande perigo é o imprevisto. Os materiais constituintes de arquivos, como papéis,


acetatos e ocasionalmente nitratos (filmes de acetato e nitrato de celulose) podem rapidamente
perecer diante de fogo, água, insetos, ou vandalismo. Em quase todas as situações de
desastres, as causas estiveram ligadas a deficiências nas instalações, por falta de prevenção
contra os sinistros.

Entre as mais importantes funções de um edifício para arquivos, o desenho, a estrutura e os


recursos de adequação, e também a sistemática de vistorias e manutenções, são partes
fundamentais para assegurar condições de segurança e preservação aos acervos.
Considerando esta uma das mais importantes questões relacionadas à preservação dos
Arquivos, a Câmara Técnica de Conservação de Documentos, do CONARQ, publicou em 1999
as Recomendações para a Construção de Arquivos.

Além de funcionar como uma barreira de proteção contra as condições adversas do exterior, o
edifício que abriga os arquivos deve oferecer recursos de segurança contra sinistros, entre os
quais se incluem fogo, água, invasão de microorganismos e de insetos. O estabelecimento de
um plano para o resgate de acervos em situações emergenciais é também requisito básico
para a segurança dos acervos. Segundo o banco de dados, como pode ser visualizado na
figura 7, a situação geral das instituições que guardam acervos documentais é comparada à
dos 195 Arquivos, dos quais 32 contam com uma brigada de incêndio, 22 possuem detetores
automáticos de fogo e 176 extintores manuais. Ainda 109 informam que fazem prevenção e
controle de térmitas. Mas o planejamento para resgate em situações de emergência ainda não
foi devidamente incorporado em nossas instituições.

Figura 7: Condições dos edifícios e de proteção contra emergências.

VI. Reprodução de acervos

No caso dos documentos ameaçados de desaparecimento pela acidez, os países da América


do Norte e da Europa realizam um grande esforço para salvar uma significativa massa de
informação em papel ácido. Esta campanha já se iniciou de forma organizada há cerca de uma
década, pela microfilmagem cooperativa.

No Brasil, em 1978 a Biblioteca Nacional já possuía uma excelente estrutura para a


microfilmagem cooperativa de periódicos, num projeto de âmbito nacional. Entre 1978 e 1992
foram microfilmados quase 8.000 títulos, em cerca de 25.000 rolos de microfilme. Um outro
importante projeto de cooperação firmado em 1995 entre os governos do Brasil e de Portugal,
por meio da Comissão Luso-Brasileira de Salvaguarda e Divulgação do Patrimônio Documental
está microfilmando documentos coloniais, pelos festejos dos 500 anos do descobrimento.

Entretanto, a microfilmagem de documentos fragilizados pela acidez não conta com uma
política consistente. Esta atividade ainda se limita a iniciativas isoladas, limitadas a
pouquíssimas instituições. Dos arquivos brasileiros que constam em nosso banco de dados,
apenas 17% informam realizar ou contratar serviços de microfilmagem. Na figura 8 podem ser
visualizados estes níveis relativos aos Arquivos.

Figura 8: Níveis correspondentes a atividades de microfilmagem, por região.

A microfilmagem cooperativa de documentos precisa ser estimulada no país, e o caminho


poderia ser um grande levantamento para eleger os conjuntos documentais de conteúdo mais
significativo, envolvendo as diferentes instituições possuidoras das partes que complementam
esses conjuntos. O levantamento deverá também verificar as condições de recursos humanos
e equipamentos, com vistas a se prever o necessário aparelhamento para que o projeto tenha
resultados satisfatórios.

Experiências importantes vividas no desenvolvimento desses projetos cooperativos deverão


servir como subsídios para se elaborar um programa brasileiro de reprodução dos conjuntos
documentais. Um exemplo dos benefícios desta interlocução foram as observações
encaminhadas pelo lado português da Comissão Luso-Brasileira de microfilmagem, sugerindo
compatibilizar os microfilmes brasileiros com as normas internacionais, o que motivou o
CONARQ a organizar um grupo de trabalho para revisão de sinaléticas, que terá continuidade
com a padronização dos procedimentos para a microfilmagem de preservação.

Neste sentido Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos deverá publicar nos
próximos meses o Manual para Microfilmagem de Arquivos, tradução do RLG Archives
Microfilming Manual, editado por Nancy Elkington, considerado um dos mais importantes guias
práticos para a microfilmagem de preservação. O lançamento desta publicação será
acompanhado de cursos e seminários para técnicos e gerentes.

O projeto também legendou o vídeo norte-americano Into the Future, de Terry Sanders, sobre
as preocupações dos arquivistas com a preservação da informação produzida em meio digital.

VII. Recomendações

A Curto Prazo: 1999/ 2000

Conscientização
Promover uma ampla campanha incentivando a organização, a preservação e a divulgação dos
documentos arquivísticos, nos diferentes setores da sociedade.

Incentivar e apoiar aprendizagem à distancia, utilizando os recursos da Internet.

Facilitar o acesso à Internet por meio de ajuda financeira pelo período de um ou dois anos, das
instituições que ainda não possuem tais equipamentos e linhas de acesso.

Organizar um seminário para disseminar o conhecimento sobre a importância da


Microfilmagem de Preservação.

Organizar um seminário para ampliar o conhecimento sobre edifícios de arquivos como


elementos de preservação.

Censo Nacional dos Arquivos

Realizar um levantamento preliminar de situação e necessidades dos arquivos públicos e


privados, complementando os dados fornecidos pelo relatório da Fundação Histórica Tavera e
do Projeto Conservação Preventiva, como base para a implementação de ações prioritárias. O
levantamento, a ser realizado por um grupo de especialistas, irá abranger os seguintes tópicos:

• Estrutura administrativa;
• Condições orçamentárias, projetos institucionais em desenvolvimento;
• Quantidade e qualificação profissional das equipes;
• Organização dos acervos;
• Fundos documentais, inventários, se possuem;
• Acesso a documentos legíveis por máquina, como sonoros e de imagem em
movimento;
• Condições de acesso, estatísticas de usuários, uso de microfilme e equipamentos de
leitura de microfilmes;
• Condições de conservação dos diferentes acervos, atividades de preservação que
desenvolvem e necessidades específicas;
• Segurança e prevenção de sinistros, equipamentos de segurança de que dispõem;
• Condições dos edifícios, situações de risco, dimensionamento e condições das áreas
de depósito, condições ambientais;
• Monitoramento das condições ambientais, climatização, desumidificação ou ventilação;
• Recursos humanos e equipamentos disponíveis para a microfilmagem e outros meios
de reprodução;
• Condições de acesso à Internet, equipamentos;
• Profissionais nos estados capazes de coordenar o Inventário Nacional de Acervos, que
deverão receber treinamento.

A Médio Prazo: 2001-2004

Inventário Nacional de Acervos

Com base nos levantamentos realizados desenvolver um inventário nacional dos acervos
documentais do país, utilizando programa informático específico e um manual de aplicação;

Acompanhar o processo do Inventário Nacional de Acervos junto aos diferentes segmentos da


comunidade arquivística.

Melhoria das condições de armazenamento e preservação

Com base no diagnóstico sobre a situação das instalações dos arquivos, estimular e apoiar
projetos de recuperação de edifícios de arquivos, buscando parcerias com os governos locais;
Estimular e promover a melhoria de instalações e equipamentos, como sistemas de
condicionamento ambiental, de prevenção e de combate de sinistros,

Estimular o desenvolvimento e o uso de sistemas de embalagem com qualidade arquivística


para a preservação dos acervos.

Educação

Com base nas necessidades identificadas no Senso Nacional de Arquivos, priorizar ações
dentro das seguintes linhas:

Continuidade a programas de aprendizagem à distancia, a exemplo dos programas


desenvolvidos na Austrália.

Incentivo à criação de novos cursos de arquivologia e rever o conteúdo programático dos já em


funcionamento com vistas a adequar a profissão às novas tecnologias de preservação e
acesso.

Estabelecimento de um plano de capacitação e atualização profissional, dando-se ênfase


especial a investimentos para as regiões mais carentes, mediante cooperação com as
universidades e os cursos de arquivologia existentes.

Estabelecimento de um plano intercâmbio nos estados com estudantes de universidades, em


programas de estágio curricular e de férias.

Promoção de seminários e cursos sobre preservação, incluindo planejamento, edificações,


monitoramento e melhoria das condições ambientais, microfilmagem e digitalização,
acondicionamento.

Estabelecimento de programas de intercâmbio e treinamento com instituições brasileiras e


estrangeiras, para a capacitação de gerentes e técnicos, nas áreas de preservação de
documentos escritos e audiovisuais, de microfilmagem e digitalização.

Microfilmagem cooperativa

Com base no Inventário Nacional de Acervos, estabelecer prioridades e desenvolver um


programa de microfilmagem cooperativa de acervos documentais. Para viabilizar este
programa, além dos investimentos previstos para a capacitação de profissionais nesta área, os
dados colhidos no Senso Nacional de Arquivos deverão indicar prioridades de investimento, a
saber:

• Promover de forma cooperativa a renovação dos equipamentos de microfilmagem das


instituições aptas a colaborar no programa, em todo o país;
• Identificar e indicar os profissionais que deverão ter acesso prioritário aos programas
de treinamento em microfilmagem de preservação;
• Criar o registro nacional de microformas.

A Longo Prazo: A partir de 2005

Consolidação dos programas iniciados:

Estabelecimento de um Plano Nacional de Preservação dos acervos documentais, que


assegure a destinação de linhas de investimento para a o desenvolvimento profissional neste
campo e a preservação dos acervos.

Bibliografia
ALBITE SILVA, Sérgio Conde de. Algumas reflexões sobre preservação de acervos em
arquivos e bibliotecas Comunicação Técnica 2; Rio de Janeiro: Centro de Memória. Academia
Brasileira de Letras, 1998.

ATKINSON, Ross W. Seleção para Preservação: uma abordagem materialística. Rio de


Janeiro, Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos, Arquivo Nacional, 1997.

BERTOLETTI, Esther Caldas. Microfilmagem e Memória Nacional, Papéis Avulsos 12,


Fundação Casa de Rui Barbosa,1994.

CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS, Câmara Técnica de Conservação de Documentos.


Recomendações para a construção de arquivos, Rio de Janeiro, 1999.

HAZEN, Dan. Desenvolvimento, Gerenciamento e Preservação de Coleções. Rio de Janeiro:


Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos, Arquivo Nacional, 1997.

HAZEN, Dan. Preservation Priorities in Latin America: A Report from the Sixtieth IFLA Meeting
Havana, Cuba, The Commission on Preservation and Access, July 1995.

SIMONET BARRIO, Julio Enrique. Recomendaciones para la Edificación de Archivos. Normas


Técnicas de la Subdirección General de Archivos Estatales, Madrid, 2ª edición, 1998.

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