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XVIII Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias


SNBU 2014

PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DOCUMENTAL: FORMAÇÃO E


ATUAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO

Iandra Marcela Honorato Fernandes


Márcia Regina Silva
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RESUMO
O objetivo deste trabalho é refletir sobre a formação e atuação do bibliotecário no que concerne à área
de preservação e conservação documental. Para tal, foram analisadas as matrizes curriculares dos
cursos de Biblioteconomia e Ciência da Informação das Universidades do Estado de São Paulo quanto
ao oferecimento de disciplinas obrigatórias ou optativas nessa área. Foram também realizadas
entrevistas com profissionais e aplicados questionários a estudantes de graduação. Verificou-se que
apenas um curso oferece uma disciplina obrigatória que abarca conteúdos relacionados à preservação e
conservação documental. As entrevistas revelaram que os profissionais buscaram adquirir
competências relacionadas à preservação e conservação documental em ambientes externos a
universidades. Já a análise das respostas obtidas com a aplicação dos questionários, demonstra
receptividade dos estudantes no aprendizado desse conteúdo. Os resultados obtidos revelam uma
lacuna no ensino de graduação quanto ao conteúdo relacionado à preservação e conservação
documental, sinalizando a necessidade dos cursos de graduação em Biblioteconomia e Ciência da
Informação se responsabilizarem pela formação do bibliotecário no que se refere a sua atuação com
excelência na gestão documental, envolvendo a avaliação de acervos e a tomada de decisão quanto à
conservação e a preservação documental.
Palavras-Chave: Conservação documental; Preservação documental; Formação do bibliotecário;
Atuação profissional; Perfil profissional.
ABSTRACT
The objective of this paper is to discuss the training and activities of the librarian regarding the area of
preservation and conservation documentary. To this end, the curriculum matrices of courses of
Librarianship and Information Science of the University of São Paulo as the offering of mandatory or
optional subjects were analyzed in this area. Were also conducted interviews with practitioners and
applied questionnaires to undergraduate students. It was found that only one course offers a
compulsory subject that includes content related to the preservation and conservation documentary.
The interviews revealed that professionals seeking to acquire related to the preservation and
conservation documentary Outside the Universities environments skills. However, the analysis of
responses to questionnaires, demonstrates the responsiveness of students in learning that content. The
results reveal a gap in higher education in relation to the preservation and conservation of
documentary content, noting the need for undergraduate courses in Library and Information be
responsible for the training of librarians in their performance with excellence in document
management, involving the evaluation of collections and decisions relating to the conservation and
preservation of the documentary.
Keywords: Conservation of documents; Document Preservation; Librarian Training; Professional
practice; Professional profile.
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1 Introdução

Devido à configuração atual do mercado de trabalho do segmento informacional,


distintas competências informacionais estão sendo acrescentadas ao perfil do bibliotecário. A
incorporação de documentos digitais nos acervos das bibliotecas talvez tenha sido o elemento
propulsor para repensar a atuação desse profissional, que mesmo experiente com a
organização e disseminação da informação, passa agora a exercer, com mais frequência, a
mediação extramuros da biblioteca, visando atender às necessidades informacionais de
usuários já acostumados com a manipulação de recursos tecnológicos diversos, como
celulares, tablets e e-readers, que permitem o acesso à Internet para obtenção de informações
de qualquer natureza.
Diante do processo de globalização e da rápida difusão das tecnologias de informação
e comunicação, o perfil do bibliotecário não poderia permanecer o mesmo. Sabendo que este
profissional lida com a informação e, por sua vez, a informação adquire as mais variadas
formas, esse profissional precisa estar atento às mudanças ocorridas tanto no mercado de
trabalho, quanto nas novas áreas de atuação (VIAPIANA, 2008).
Embora seja importante que este profissional acompanhe as necessidades do usuário
inserido no cenário tecnológico, percebe-se que o mesmo ainda não tem uma participação
efetiva nas tarefas que envolvem a preservação e conservação de documentos, sejam no
formato digital ou impresso.
Esta lacuna talvez seja decorrente da formação desses profissionais, já que nos
currículos dos cursos de Biblioteconomia e Ciência da Informação no Brasil há pouca ênfase
em disciplinas específicas de preservação e conservação de acervos, corroborando para que
haja poucos profissionais preparados para salvaguardar documentos impressos ou digitais que
necessitem de tratamentos específicos.
A conservação e preservação documental é um conceito em evolução. Segundo Hollós
(2010, p. 13) “a preservação, para além da conservação física dos suportes materiais,
constitui-se hoje como parte de um corpo representado também pela gestão, o acesso e a
difusão da informação e do conhecimento”. Complementando o aspecto de gestão dado ao
processo de preservação e conservação documental, Cownay (2001) salienta que a
preservação é uma atividade de administração e gerenciamento de recursos, compreendendo
políticas, procedimentos e processos que podem retardar a deterioração dos materiais e
promover o acesso à informação, intensificando sua importância funcional.
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A desmaterialização dos acervos de bibliotecas, ou seja, a incorporação de obras digitais


ou mesmo a digitalização de obras impressas é um processo que vem evoluindo rapidamente
nesses ambientes informacionais, no entanto, deve ocorrer concomitantemente com o
processo de conservação e preservação de acervos físicos. A digitalização de acervos pode
contribuir para a conservação documental, mas não descarta a necessidade de atuação de um
profissional qualificado para o desenvolvimento de meios e métodos de preservação e
conservação que possam retardar as ações severas humanas, do tempo e do ambiente que
podem provocar a degradação do documento.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho é refletir sobre a formação e atuação do
bibliotecário no que concerne a área de preservação e conservação documental. Para tal,
foram analisadas as matrizes curriculares dos cursos de Biblioteconomia e Ciências da
Informação das Universidades do Estado de São Paulo quanto ao oferecimento de disciplinas
obrigatórias ou optativas na área de preservação e conservação de documentos, bem como
foram realizadas entrevistas com profissionais que atuam nessa área e aplicados questionários
a estudantes de graduação do curso de Ciências da Informação, Documentação e
Biblioteconomia da Universidade de São Paulo.

2 Revisão de Literatura

Os documentos físicos estão propensos a se deteriorarem com o tempo, no entanto,


entende-se que um livro impresso, por exemplo, pode ser preservado por séculos se for bem
armazenado e receber os cuidados necessários para sua conservação. Hoje existem inúmeras
técnicas que são utilizadas com esta finalidade.
Assim como as pessoas, os livros impressos têm um ciclo de vida útil, que abrange
desde sua criação até o momento em que, devido a seu estado de conservação, não pode mais
ser utilizado. Para prolongar a vida útil de um livro é necessário adotar medidas de
conservação e preservação, que são conjuntos de práticas que previnem e evitam que o
documento seja danificado pela ação do tempo e outras circunstâncias.
Segundo Caldeira (2004), a política moderna para a longevidade dos suportes
informacionais orienta-se pela luta contra as causas de deterioração, na busca do maior
prolongamento possível da vida útil de livros e documentos. Dentro dessa perspectiva,
padrões de conduta devem ser adotados e harmonizados.
Conforme ressalta Caldeira (2004, p.15)
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a conservação preventiva surgiu, solidamente como campo de trabalho e


pesquisa científica, nos Estados Unidos, na década de 80, estabelecendo-
se como atividade responsável por todas as ações tomadas para retardar a
deterioração e prevenir danos aos bens culturais por meio da provisão de
adequadas condições ambientais e humanas.

Para Cassares (2000) a preservação é um conjunto de medidas e estratégias de ordem


administrativa, política e operacional que contribuem direta ou indiretamente para a
preservação da integridade dos materiais. Já a conservação é um conjunto de ações
estabilizadoras que visam desacelerar a degradação de documentos ou objetos por meio de
controle ambiental e tratamentos (higienização, reparos e acondicionamento).
É necessário conhecer a natureza dos componentes que constituem os materiais dos
acervos e seu comportamento diante dos fatores de degradação, tornando mais fácil detectar
os elementos nocivos e seu possível tratamento.
Acervos de bibliotecas são constituídos em geral por livros, mas também por mapas,
fotografias, revistas, manuscritos, entre outros, que utilizam o papel como suporte. Por mais
variada que seja a composição do papel, esse é constituído em sua maior parte de celulose, e
cabe-nos encontrar soluções que permitam melhorar suas condições, para que esse dure por
muitas gerações sem precisar de restauro. Esses acervos estão sujeitos a um contínuo processo
de deterioração por serem basicamente constituídos de matéria orgânica. Essa deterioração
pode ser acelerada se o acondicionamento for feito de forma indevida, levando o documento a
um estado de perda total.
A maior causa de deterioração de documentos é a acidez do papel. Ambientes quentes
e úmidos também geram grandes danos, pois causam reações químicas que enfraquecem as
cadeias moleculares de celulose, fragilizando o papel. Esses fatores, entre outros, são
chamados de agentes de deterioração e são classificados da seguinte forma: fatores
ambientais, fatores biológicos, intervenções impróprias, agentes biológicos, furtos e
vandalismo. (CASSARES, 2000; CONWAY, 2001; OGDEN, 2001; PALETTA;
YAMASHITA; PENILHA, 2004).
Para a biblioteca, tradicionalmente mantenedora do conhecimento, sabedoria e
experiência coletiva da sociedade, as implicações geradas com a deterioração são sérias. Qual
o propósito de adquirir, catalogar e guardar vastas coleções, se os próprios materiais vão se
deteriorando na metade da sua vida útil? Estimativas confiáveis e uma série de levantamentos
das condições, feitas em larga escala, sugerem que o papel de 25% ou mais dos volumes de
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importantes coleções tornou-se extremamente quebradiço. (MERRIL-OLDHAN, 2001).


A biblioteca é mais que um espaço arquitetônico “é um lugar de diálogo com o
passado, de criação e inovação, e a conservação só tem sentido como fermento dos saberes e
motor do conhecimento, a serviço da coletividade”. (BARATIN, 1995, p.45).
Embora no Brasil a atuação do bibliotecário em projetos de conservação e preservação
documental não seja tão divulgada, há inúmeras experiências na qual este profissional faz
parte. O Laboratório de Conservação Preventiva de Documentos da Biblioteca de
Manguinhos, por exemplo, executa atividades de conservação preventiva de documentos e é
coordenado por uma bibliotecária. Este laboratório é uma oficina com equipamentos e
materiais, que possibilitam a prática de atividades como: higienização, monitoramento
ambiental, encadernação, acondicionamento e pequenos reparos, procedimentos estes que
possam assegurar ao acervo a mais longa vida útil possível.
A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin também é outro exemplo de projeto de
conservação e preservação que conta com a atuação de bibliotecários. Inaugurada no dia 23 de
março de 2013 na Cidade Universitária, a biblioteca foi criada para abrigar a coleção de Guita
e José Mindlin, doada pela família Mindlin à Universidade de São Paulo. O edifício com mais
de 20 mil metros quadrados, além de abrigar a coleção, possui um Laboratório de
Conservação e Restauro.
Outro exemplo que merece ser destacado é a Biblioteca do Mosteiro de São Bento da
Bahia, uma das primeiras bibliotecas constituídas no país. Possui um acervo acumulado ao
longo de mais de quatro séculos, contando com uma biblioteca de livros raros com cerca de
13.000 volumes. Desde a Idade Média, a Biblioteca é um dos quatro pilares de uma abadia
Beneditina, de acordo com um provérbio medieval: claustrum sine armario quase castrum sine
armamentarium. (Mosteiro sem biblioteca é como quartel sem arsenal)1.
A preocupação de aumentar e, principalmente, de preservar o acervo bibliográfico,
sempre foi um objetivo de grande importância para os monges. Hoje o Mosteiro conta com
uma nova área para a guarda dos livros e um moderno laboratório de conservação e restauro
com equipamentos que permitem o desenvolvimento adequado de tratamento e preservação
de suporte papel segundo procedimentos internacionais.
Com a preocupação de preservar o patrimônio e compartilhar com a sociedade esse

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Provérbio medieval descrito na apresentação da Biblioteca de Livros Raros do Mosteiro de São Bento da Bahia. Disponível
em http://www.saobento.org/livrosraros/projeto.html
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conhecimento, o Mosteiro criou um projeto de restauração de livros raros e a Biblioteca


Digital de Livros Raros. Este projeto atingiu dois focos da preservação de acervos, isto é, a
restauração dos livros proporcionou a conservação do suporte, e a digitalização promoveu a
preservação do conteúdo informacional, que em longo prazo preservará o próprio documento.
Um profissional que atua na área de preservação e conservação documental não é um
artista ou um artesão, é um profissional que domina teorias e técnicas fundamentais para a
intervenção em qualquer suporte.
Hoje é possível a migração de dados existentes em obras impressas para mídias
digitais. Esse processo de digitalização é visto como uma alternativa viável que possibilita, ao
mesmo tempo, preservar o original e facilitar o acesso à informação. Com o documento
eletrônico e as redes de informação, é possível organizar bibliotecas digitais, que possibilitam
o acesso a indivíduos que se encontram em qualquer localidade sem o condicionamento da
presença física na biblioteca.
De acordo com Chepesiuk (2001, p. 54) “[...] a digitalização ajuda a preservar os
materiais frágeis, tirando-os de circulação e promovendo seu acesso através de um formato
alternativo, reduzindo assim os riscos aos quais estariam sujeitos através do manuseio”. Além
disso, o usuário tem a possibilidade de imprimir o documento acessado, mantendo sua cópia
pessoal para anotações particulares e livrando, assim, o original deste risco.
Ao mesmo tempo em que o documento eletrônico propicia a preservação da obra rara,
poupando-a dos riscos do manuseio, o uso isolado do processo de digitalização como medida
de preservação para acervos bibliográficos ainda não está consolidado em função da
instabilidade do ambiente digital.
Assim como o documento impresso, o documento eletrônico também está ameaçado
diante de condições inadequadas de armazenamento, fatores ambientais negativos, desgaste
causado pela ação de agentes biológicos, além das ameaças oferecidas pelo próprio homem.
Por ser inteiramente dependente de um equipamento para prover o acesso à informação nele
registrada, a durabilidade do documento eletrônico está ainda condicionada à expectativa de
vida dos sistemas de acesso.
Após a conversão dos originais em cópias digitais, o documento eletrônico passa a ser
o novo foco das iniciativas de preservação. Entende-se por preservação digital o
“planejamento, alocação de recursos e aplicação de métodos e tecnologias para assegurar que
a informação digital permaneça acessível e utilizável” (HEDSTROM, 1996).
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Preservar o patrimônio humano registrado em suportes digitais para as gerações


futuras é uma preocupação presente no Manifesto para a Preservação Digital da UNESCO.
Esta deve ser também uma preocupação permanente do profissional bibliotecário, que deve
gerenciar a melhor maneira para manter disponível o acesso à informação contida no
documento eletrônico.
No que se refere à biblioteca digital, sua principal vantagem é permitir o acesso
simultâneo a documentos como obra rara, por exemplo, que geralmente é constituída de
exemplar único. Outra vantagem é a possibilidade de manipulação de imagem digital gerada a
partir da digitalização de um documento original, pois é possível representar com maior
clareza o conteúdo da obra digitalizada, podendo-se corrigir eventuais imperfeições dos
originais.
Ainda que as vantagens da biblioteca digital para conservação de acervos fossem
resumidas apenas à possibilidade do acesso remoto, já valeria todo o esforço, uma vez que
esta forma de acesso protege a obra rara dos riscos aos quais estaria sujeita numa consulta
tradicional. Além disso, a biblioteca digital é uma excelente maneira de divulgação do acervo
da biblioteca física.
Outro ponto importante a ser destacado diz respeito à necessidade do
bibliotecário conhecer a constituição do acervo sob sua responsabilidade. Mesmo que nem
todos os acervos contenham obras raras, é importante que um bibliotecário também saiba
identificar se uma obra é rara ou não, para que não se corra o risco de perder importantes
obras por não terem sido identificadas e não terem recebido os cuidados necessários.
José Mindlin, dono da maior biblioteca particular de obras raras da América Latina,
admitia ficar atrapalhado quando lhe perguntavam o que é um livro raro, pois dizia que é das
coisas que a gente sabe, mas não consegue definir plenamente. “O livro pode ser raro, por
exemplo, por terem sido impressos poucos exemplares[...], pelo interesse do texto, por ser
uma primeira edição”(MINDLIN, 1997, p.29).
As obras raras, na realidade, podem ser conceituadas, em duas grandes categorias:
obras comprovadamente raras e obras circunstancialmente raras. Na primeira categoria
encontram-se obras que se enquadram no critério cronológico, ou seja, obras que abrangem
determinado limite histórico. Neste caso, é possível citar os manuscritos ou os incunábulos,
por exemplo. As obras circunstancialmente raras são aquelas que se enquadram em critérios
preestabelecidos por instituições ou colecionadores, podendo não ser consideradas raras em
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outros contextos.
Como se vê, são muitos os critérios que podem determinar a raridade de um livro. No
Brasil, por exemplo, entre os critérios de raridade de uma obra estão as obras publicadas no
século XIX, a partir da criação da Imprensa Régia, as primeiras obras impressas de conjunto
bibliográfico, como coleções de primeiros números de diversos períodos, características
bibliográficas de obras produzidas artesanalmente, independente da época de sua publicação,
etc.
Por possuírem objetivos distintos, cada biblioteca deve estudar detalhadamente seu
perfil e elaborar uma política que determine os critérios que serão adotados para melhor
atender às necessidades de seus usuários. Sendo assim, uma obra considerada rara em
determinada instituição, pode não o ser em outra. Na Biblioteca do Mosteiro de São Bento da
Bahia, por exemplo, os livros são considerados raros, pois se enquadram na maioria dos
critérios apresentados. Muitos dos livros foram escritos antes do período anterior a produção
tipográfica, muitas dessas obras possuem uma beleza tipográfica, algumas escritas em
pergaminhos, obras censuradas, etc. Muito provavelmente as obras consideradas raras no
Mosteiro de São Bento da Bahia, também seriam consideradas raras em qualquer outra
biblioteca, devido a essas peculiaridades.

É importante que a configuração atual do perfil do bibliotecário abarque tanto


competências informacionais de escopo tecnológico, que envolva o desenvolvimento de
produtos e serviços informacionais, como competências informacionais teóricas e técnicas
relacionadas à conservação e preservação de documentos impressos e digitais.

3 Materiais e Métodos

Para alcançar o objetivo deste trabalho foi necessária uma série de estratégias de
análise: análise documental, observação, entrevista e questionário. Essas estratégias visaram
obter informações sobre profissionais, estudantes, cursos e instituições, associando assim os
agentes envolvidos na atuação do bibliotecário na área de conservação e preservação
documental.

Primeiramente, foi realizada análise documental da matriz curricular dos principais


cursos Biblioteconomia e Ciência da Informação do Estado de São Paulo. A escolha por
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analisar somente a matriz curricular dos cursos oferecidos no Estado de São Paulo reside no
fato de que neste Estado concentram-se importantes instituições, bem como pela existência de
um nicho de mercado para atuação de bibliotecários competentes no que concernem as tarefas
relacionadas à preservação e conservação documental. A matriz curricular foi recuperada no
próprio site das instituições ou solicitada por e-mail. Verificou-se neste documento a
existência de disciplinas que abordavam conteúdos relacionados à conservação e/ou
preservação documental.
Em um segundo momento, foram realizadas visitas in loco a instituições que
trabalham com a preservação e conservação documental - Biblioteca Mario de Andrade,
Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e Arquivo Público do Estado de São Paulo. Nessas
visitas foi observada a dinâmica para o desenvolvimento de atividades dessa natureza. As
instituições visitadas foram escolhidas por possuírem acervos especiais e/ou raros, que
necessitam de cuidados rigorosos para a conservação e preservação documental. As
observações foram anotadas e utilizadas como complementação na análise dos resultados
obtidos com as entrevistas realizadas com os profissionais que atuam nestas instituições.
Optou-se por realizar entrevista semi-estruturada com quatro bibliotecários que atuam
ou já atuaram no desenvolvimento de práticas de preservação e conservação documental nas
instituições referidas anteriormente. A escolha pela entrevista semi-estruturada deveu-se à
maior flexibilidade, pois foi possível formular novas questões de acordo com o desenrolar da
conversa. Como forma de preservar os sujeitos entrevistados, os mesmos serão identificados
como PROFISSIONAL 1, PROFISSIONAL 2, PROFISSIONAL 3 e PROFISSIONAL 4.
Para verificar a percepção de estudantes em relação à temática, foi oferecido durante a
X Semana do curso de Ciências da Informação, Documentação e Biblioteconomia da
Faculdade de Filosofia, Comunicação e Informação da Universidade de São Paulo um
minicurso, abordando teoria e técnicas relacionadas conservação e preservação documental.
No final do minicurso os alunos foram convidados a responder um questionário com intuito
de refletir sobre o conteúdo ensinado.

4 Resultados Finais

O levantamento de dados permitiu uma reflexão sobre a formação do bibliotecário e


sobre sua atuação na área de conservação e preservação documental. Como forma de
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organização dos resultados apresenta-se a fragmentação desses resultados em: matriz


curricular, atuação profissional e formação acadêmica.

4.1 Matriz curricular dos cursos de Biblioteconomia e Ciência da Informação

Segundo as diretrizes curriculares para os cursos de Biblioteconomia no Brasil, o


profissional da informação Bibliotecário deve: “enfrentar com proficiência e criatividade os
problemas de sua prática profissional, produzir e difundir conhecimento, refletir criticamente
sobre a realidade que o envolve, buscar aprimoramento contínuo, observar padrões éticos de
conduta”. (BRASIL, 2001).
O atual profissional da informação pode ser denominado como aquele que de uma
forma ou de outra faz da informação a sua ferramenta de trabalho, ou seja, o profissional da
informação pode ser um arquivista, um administrador, um jornalista, um bibliotecário, um
museólogo ou até mesmo um analista de sistema. Mas apenas um desses profissionais é capaz
de participar do processo de geração, disseminação, recuperação, gerenciamento, conservação
e utilização da informação: o bibliotecário.
A busca por novos espaços no mercado de trabalho tem feito com que os profissionais
da informação busquem competências além daquelas aprendidas em seu curso de graduação.
Embora os cursos de Biblioteconomia e Ciências da Informação estejam ligados à
documentação, as disciplinas na área de Conservação e Preservação, por exemplo, quando são
oferecidas, na maioria das vezes, não são obrigatórias. Conforme Lino, Hannesch e Azevedo
(2006 p.2):
num momento em que os cursos de Biblioteconomia, em suas
reformulações curriculares, decidem que a cadeira de “conservação-
restauração” deve ser optativa (quando muito) e em que há um aumento
de cursos com ênfase na gestão, mas que não consideram a conservação
como inerente a essa atividade, como ponderar sobre “preservação do
patrimônio” ou, ainda, “preservação da memória?
Sem conhecimento básico sobre as ações a serem tomadas em relação à preservação,
esse profissional não saberá como agir de forma adequada. Lino, Hannesch e Azevedo (2006,
p.2) consideram que
um bibliotecário não necessita ser um técnico de conservação-
restauração, muito menos que aplique as técnicas, antes, ele deve ter o
conhecimento e o envolvimento com esta ciência, que o capacita a
entender melhor as necessidades do acervo sob sua custódia e a
contribuir para um melhor desenvolvimento das atividades de
conservação e restauração do acervo.
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Considerando a necessidade desse conhecimento para atuação do bibliotecário, a


presente pesquisa analisou a matriz curricular dos cursos de Biblioteconomia do Estado de
São Paulo, quanto à presença de disciplinas que visem o desenvolvimento dos graduandos na
área de conservação e preservação.
As universidades que tiveram seus currículos analisados foram: Universidade de São
Paulo – campus São Paulo; Universidade de São Paulo – campus Ribeirão Preto;
Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho – campus Marília; Universidade
Federal de São Carlos e Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
A partir da análise dos currículos dos cursos de Biblioteconomia observou-se que dois
dos cinco cursos possuem disciplinas que abordam conteúdos relacionados à preservação e
conservação. Os dois cursos são: o curso de Biblioteconomia da Universidade Estadual
Paulista Julio de Mesquita Filho, campus Marília, que oferece a disciplina optativa
“Preservação em Unidades de Informação” e o curso de Biblioteconomia da Fundação Escola
de Sociologia e Política de São Paulo, que oferece a disciplina obrigatória “Introdução a
Preservação e Conservação de Acervo”.
Verificou-se que a disciplina com este conteúdo é obrigatória somente no curso da
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP). O objetivo geral dessa
disciplina, segundo o Plano de ensino do curso 2012 é: “Orientar e esclarecer os alunos na
execução de um plano de conservação e de ações adequadas que assegurem a preservação de
acervos bibliográficos e documentais”.
A disciplina aborda o seguinte conteúdo: Conservação, Conservação preventiva,
Conservação Curativa e Restauração: Conceitos; Materiais que Constituem os Documentos:
papiro, pergaminho, papel, história do papel e história da encadernação; Causas de
Deterioração: Agentes físicos, Mecânicos, Químicos e Biológicos; Diagnóstico: Diagnóstico
de Conservação de Acervo Bibliográfico e Documental; Rotinas de Conservação:
Higienização, Controle de Microorganismos e Insetos, Pequenos Reparos, Encadernação,
Conservação de Encadernações, Acondicionamento e Manuseio Adequado; Administração de
Programa de Conservação: Especificações para Edifícios, Prevenção e Controle de Incêndios
e Inundações, Prevenção e Combate a Insetos Roedores, Condições Ambientais,
Armazenamento e Plano de Emergência.
Essa disciplina, com carga horária de sessenta e oito horas, contempla tantos aspectos
teóricos, como aspectos técnicos. Tais conhecimentos são importantes para todos os
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bibliotecários, mesmo aqueles que não atuam diretamente no processo de conservação e


preservação documental, já que a identificação de documentos afetados por pragas, ambientes
impróprios ao armazenamento e/ ou ações que podem prejudicar o documento, são atividades
que devem fazer parte da rotina de trabalho do bibliotecário.
A FESP destaca-se por oferecer disciplinas no campo da conservação e preservação de
acervo, tanto na graduação como na pós-graduação. O curso de Biblioteconomia desta
instituição demonstra entender que o profissional precisa saber lidar com as novas
tecnologias, mas deve também ter competências para preservar e conservar todo o tipo de
suporte.

4.2 Atuação do bibliotecário na área de Conservação e Preservação documental

As entrevistas realizadas com profissionais visaram buscar aportes que confirmem ou


refutem a importância da inclusão de disciplinas da área de conservação e preservação de
acervo nos currículos dos cursos de Biblioteconomia e Ciências da Informação.
Para apresentação das entrevistas concedidas optou-se por categorizar as respostas de
acordo com as perguntas dirigidas aos entrevistados: 1) presença de disciplinas voltadas para
a conservação e preservação documental nos cursos de Biblioteconomia e Ciência da
Informação; 2) aquisição de conhecimentos relacionados à conservação e preservação
documental e; 3) prática profissional: habilidades técnicas para o processo de Conservação e
Preservação de acervo.

4.2.1 Presença de disciplinas voltadas para a conservação e preservação documental nos


cursos de Biblioteconomia e Ciência da Informação

Sobre a importância de disciplinas voltadas à conservação e preservação documental


na matriz curricular dos cursos de Biblioteconomia e Ciências da Informação, os profissionais
foram unânimes ao responder que seria muito importante que os cursos oferecessem
disciplinas dessa natureza.
Destaca-se a fala da PROFISSIONAL 1 : a inclusão de disciplinas na área de
conservação e preservação de acervos é de extrema importância e sua inclusão nos cursos de
Biblioteconomia “deveria ser pra ontem”, pois a cada dia que passa, mais acervos sofrem
deteriorações de diversas naturezas, pois o bibliotecário responsável, na maioria das vezes,
não consegue identificar o problema no início, fazendo com que atinja proporções que podem
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levar a grandes prejuízos.


Caldeira (2004) fez um levantamento no qual comprova que os cursos de
Biblioteconomia não preparam seus futuros profissionais para lidar com a conservação e
preservação de acervos. Segundo a autora,
O ensino superior ministrado nas escolas de Biblioteconomia brasileiras
concentra-se no processo de geração, disseminação, recuperação,
gerenciamento e utilização da informação. Questões referentes ao
resguardo protetivo do acervo estão circunscritas a um menor número de
disciplinas (tais como estudo da preservação, da conservação e da
restauração) e a poucas instituições. Questões especificamente
direcionadas para a conservação preventiva não são enfocadas
academicamente por esses cursos. (CALDEIRA, 2004, p. 36)
A inexistência de disciplinas de conservação e preservação nas grades curriculares dos
cursos de Biblioteconomia certamente privilegiará o bibliotecário apto a organizar e
disseminar a informação, mas não a proteger o suporte informacional da degradação.

4.2.2 Aquisição de conhecimentos relacionados à conservação e preservação documental

Hoje há muitos cursos voltados para a área de conservação, preservação e restauro.


Estes cursos geralmente são ofertados por instituições como: ABER – Associação Brasileira
de Encadernação e Restauro, ABRACOR- Associação Brasileira de Conservadores-
Restauradores de Bens Culturais, ARQ-SP – Associação Arquivística do Estado de São Paulo,
Templo da Arte, entre outros. O conteúdo desses cursos gira em torno da conservação e
restauro em suporte de papel.
Das quatro entrevistadas apenas uma profissional afirmou ter adquirido conhecimentos
específicos da área de conservação e preservação durante sua graduação em Biblioteconomia.
Esta profissional graduou-se na FESP, como já referido, única instituição que possui em sua
matriz curricular uma disciplina obrigatória com conteúdo relacionado a esta área. Esta
profissional (PROFISSIONAL 2) ressaltou que em seu trabalho é preciso, por exemplo,
conhecer os tipos de papel para avaliar o tipo de encadernação mais pertinente a cada
documento.
Já a PROFISSIONAL 3 aprofundou seus conhecimentos de Conservação e
Preservação em cursos ofertados por várias instituições. Hoje trabalha com obras raras, o que
exige competências singulares para o tratamento documental. Sendo assim, a profissional
ressalta a importância de disciplinas dessa natureza nos cursos de Biblioteconomia.
Embora muitas instituições ofereçam cursos reconhecidos nessa área, é importante
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ressaltar que esses cursos são não são gratuitos e, geralmente, tem um custo elevado, ou seja,
aqueles que pretendem realizá-los devem investir um valor considerável. Assim, estudantes de
graduação dificilmente conseguem cursá-los, o que justifica a principal afirmativa desse
trabalho que é a necessidade de oferecimento de cursos dessa natureza nos cursos de
graduação em Biblioteconomia e Ciências da Informação.

4.2.3 Prática profissional: habilidades técnicas para o processo de Conservação e


Preservação de acervo

Todo tratamento de conservação deve ser desenvolvido por um especialista que tenha
conhecimento técnico-científico sobre a obra, seus materiais constitutivos e suas técnicas de
construção. Também deve ser capaz de avaliar seu estado de conservação, as causas de sua
deterioração e ter capacidade de intervir para manter a integridade da coleção.
A PROFISSIONAL 1 exemplifica que ao trabalhar com jornal, por exemplo, é preciso
saber manuseá-lo adequadamente, dada a sua constituição física que possui maior
suscetibilidade à danificações por manuseio. A PROFISSIONAL 2 ressalta a necessidade de
saber diferenciar os tipos de materiais e encadernações, assim como saber a melhor
climatização para cada tipologia documental. Já a PROFISSIONAL 3 afirma que é de extrema
necessidade saber identificar os materiais que necessitam de intervenções mais profundas,
daqueles que necessitam apenas de uma higienização e pequenos reparos. A PROFISSIONAL
4 além de utilizar conhecimentos específicos da área de preservação e conservação no
trabalho também trabalha na capacitação de profissionais.
Muitos bibliotecários se preocupam com as obras de seu acervo e sabem do risco que
eles podem correr, mas muitos não possuem treinamento específico para lidar com esses
problemas. Neste caso, o conhecimento sobre as técnicas de conservação e preservação
documental é primordial, mesmo que o profissional não tenha habilidades para trabalhar nesta
área, esse conhecimento será válido para a avaliação do acervo e identificação de problemas.
A preservação e a conservação não podem ser tratadas como uma atividade isolada de
um único setor e devem estar presentes nas políticas, procedimentos e serviços institucionais.
Segundo Ryckman (1997, p.45 apud GRIEBLER; MATTOS, 2008, p. 39) “muitas desculpas
rondam as ações de preservação, tais como falta de tempo, dinheiro e conhecimento técnico.”
Porém, é preciso vencer essas desculpas, sob pena de perder por absoluta ineficácia a
memória de nossa cultura para as pragas, acondicionamento inadequado e manuseio de forma
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a deteriorar os livros por completo.


Os acervos de bibliotecas, museus, arquivos, instituições culturais, necessitam de
preservação e conservação. Observando o cotidiano de muitas instituições, verificou-se a
quantidade de danos às coleções por roubos, danos por climatização, acondicionamento e
manuseio inadequado. Nas bibliotecas, os livros sofrem ações diretas de fatores como: luz,
temperatura, umidade, poluição, ataque de pragas e fungos. O controle desses agentes
ambientais torna-se fundamental para a preservação de um acervo.
A PROFISSIONAL 3 afirma que mesmo que o profissional não atue diretamente em
bibliotecas, ele poderá atuar em Museus, Arquivos, Bibliotecas escolares, Centros de
Memória, entre outros que provavelmente terão materiais (livros, revistas, papéis, objetos,
obras de arte, etc) que precisam ser preservados para serem acessados no futuro.
É de fundamental importância que o bibliotecário saiba identificar esses problemas em
seu acervo, pois é no seu dia a dia, no vai e vem entre as estantes que se percebem problemas
como infiltrações, ataque de pragas, temperatura inadequada. Mas para saber identificar esses
problemas o profissional da informação deve ter o conhecimento mínimo sobre conservação e
preservação. De acordo com a PROFISSIONAL 1 o conhecimento sobre conservação
preventiva é válido para a avaliação do acervo e identificação de problemas, uma vez que tal
conhecimento contribui para prolongar a vida dos materiais de um acervo e promove ajuda a
mantê-los em boas condições. A PROFISSIONAL 2 concorda com essa afirmação: quando a
identificação do problema é feita no início as chances de perda são menores.
Como já ressaltado anteriormente, ter conhecimento em Conservação e Preservação é
de suma importância. Saber conhecer o acervo em que se trabalha faz parte do cotidiano de
um bibliotecário, que não deve apenas saber catalogar, classificar e disseminar a informação,
mas manter seu acervo vivo, por muitas gerações. São atitudes simples que podem fazer essa
diferença. Conservar e preservar um acervo não precisa ser uma atividade onerosa, mas uma
atividade simples e rotineira que mantenha o acervo em segurança.

4.3 Formação acadêmica – Minicurso: bases para preservação e conservação de acervo

Entre os dias 14 e 18 de outubro de 2013 foi realizada a 10ª Semana de Estudos em


Ciências da Informação e Documentação da USP de Ribeirão Preto. Nesta semana foi
oferecido o minicurso intitulado “Bases para a Preservação e Conservação de Acervo”. Nesse
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minicurso foram abordados conceitos de conservação, de preservação e restauro, além dos


fatores de deterioração dos acervos e princípios básicos de higienização documental. No final
do minicurso, como forma verificar a percepção dos alunos sobre o conteúdo em questão,
aplicou-se um questionário visando levantar: se os estudantes gostariam de se aprofundar no
assunto; se o conteúdo do minicurso poderia ser aplicado na prática profissional e se eles
acreditam que os cursos de Ciências da Informação e Biblioteconomia deveriam ter
disciplinas nessa área.

Os 20 estudantes que participaram do minicurso se dispuseram a responder o


questionário. A análise dos questionários respondidos surpreendeu pela unanimidade
afirmativa nas três questões. Todos gostariam de aprofundar as temáticas abordadas no
minicurso, todos acreditam que podem aplicar os conhecimentos aprendidos e todos
sinalizaram a importância do oferecimento de disciplina com essa vertente no curso. As
respostas ainda foram complementadas por comentários elogiosos em relação ao conteúdo do
minicurso. Em relação à participação no minicurso, observou-se receptividade e participação
dos estudantes.
Com base nos resultados obtidos, infere-se a real necessidade latente da oferta, nos
cursos de Biblioteconomia e Ciência da Informação, de disciplina ou mesmo oficinas e/ou
cursos que possam dar conta de abarcar as competências e habilidades que são exigidas dos
bibliotecários no desenvolvimento de atividades relacionadas à conservação e preservação de
acervos.

5 Considerações Finais

O conhecimento dos fatores relacionados à conservação e a preservação documental,


ou seja, sua conceituação, seu histórico, suas diretrizes, seus procedimentos e metodologias,
contribui para a melhor tomada de decisão de profissionais bibliotecários que atuam nas
diversas unidades informacionais e que são responsáveis pela formação e desenvolvimento de
coleções bem como pela gestão informacional.
É importante repensar o ensino de conteúdos relacionados à conservação e a
preservação documental nos cursos de Biblioteconomia e Ciências da Informação. A
conservação e a preservação de acervos estão ligadas a documentos históricos, raros e
especiais. Esses documentos necessitam de atenção especial, pois a maioria é insubstituível
em caso de perdas ou degradações maiores. Porém, é importante ressaltar que os suportes
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informacionais “mais jovens”, também necessitam de cuidados, caso contrário, se deteriorarão


rapidamente e dificilmente chegarão às gerações futuras.
Os fatores analisados - opinião de profissionais que atuam na área e de estudantes do
curso de Ciências da Informação, Documentação e Biblioteconomia – corroboram com a ideia
de inserção de conteúdos relacionados à conservação e preservação documental. Entende-se
que os estudantes não precisam sair da Universidade como conservadores profissionais, mas
com conhecimentos específicos que possam contribuir para a identificação de problemas e
proposições de soluções que assegurem a integridade dos acervos.
Vale destacar ainda que mesmo em formato digital o documento necessita ser
preservado. Documentos digitalizados são constituídos de dois suportes (digital e físico) e
ambos precisam de atenção já que as mídias mudam constantemente: o que é moderno hoje,
amanhã pode se tornar obsoleto.
É importante registrar também que a falta de disciplinas desse âmbito nos cursos de
graduação comprometem a pesquisa na área. Este fato pode ser comprovado pela reduzida
literatura da área, traduzida em grande parte por uma literatura técnica voltada para manuais e
apostilas.
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6 Referências

BARATIN, M. O poder das bibliotecas. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1995.


BRASIL. Ministério da Educação. CNE/CES 492/2001. Diretrizes curriculares Nacionais dos
cursos de Filosofia, História, Geografia, Serviço Social, Comunicação Social, Ciências
Sociais, Letras, Biblioteconomia, Arquivologia, e Museologia. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, 9 jun. 2001. Disponível em:
<http://curriculouff.br.tripod.com/reformacurricular/id8.html>. Acesso em: 10 mar. 2014.
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bibliotecas. São Paulo: Arquivo do Estado: Imprensa Oficial, 2000.
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acervos em bibliotecas brasileiras. Nova Friburgo: Exito, 2008. p. 37-49.
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v. 23, n. 2, p. 13-30, jul./dez. 2010.
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Letras, 1997. p. 29.
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Bibliotecas e Arquivos: Arquvio Nacional, 2001.
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