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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

DISCIPLINA: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO


PROFESSORA: MARISOL BARENCO
ALUNA: DANIELLE PEREIRA DE OLIVEIRA PAIVA

ESCOLARIZANDO O MUNDO
Os processos descritos no documentário, em Ladakh na Índia, são
análogos com o que uma parcela do globo sofreu com a colonização europeia. Os países
colonizados na sua maioria tiveram sua cultura apagada, obrigados a aceitar a língua, a
religião e os costumes da Colônia, e dessa forma a episteme europeia se tornou
hegemônica. A dicotomia entre superior x inferior, primitivo x civilizado, natureza x
cultura estão presentes em todo o documentário, como os jesuítas fizeram com os
indígenas brasileiros, a educação pode servir como projeto de dominação de um povo ou
sociedade, tanto pela falta dela, como pela imposição de saberes que apagam a sua
identidade cultural.

Indubitavelmente, o projeto dos Estados Unidos e da Europa, da


homogeneização da educação nos países subdesenvolvidos é mais uma tentativa de
dominação, como a colonização foi outrora. Assim como aconteceu com a própria
globalização, a educação ocidental que chega até essas crianças acaba gerando mais
desigualdade, além do afastamento cultural, poucos são os jovens que realmente
conseguem se dar “bem na vida”. Em consequência, o que essas crianças e jovens
recebem é um sistema educacional alienante e que apenas criará mais operários para
alguma empresa multinacional em busca de profissionais alfabetizados e sem grandes
qualificações, alienados da sua cultura, mas úteis para o Mercado ou para o Estado.
Consequentemente, essa educação, formará principalmente trabalhadores, dependentes
da forma de viver americana, do consumo, do “time is money”.

Há falas complexas no documentário, como o da Heide, a mulher alemã


que se encantou com o local e decidiu ficar para “ajudar” a escola local, conseguindo
doações, possibilitando a criação de dormitórios para que as crianças pudessem ficar na
escola sem precisar retornar para seus lares, mas em que ponto isso é bom? Em outra fala
ela diz que permanece ali, pois os habitantes precisam muito ainda de ajuda, inclusive
mental, o que demostra, ainda que inconscientemente, uma pretensa superioridade. A
cena das crianças marchando, como soldados, é forte; metaforicamente, alcançar o sonho
americano é uma batalha, onde até mesmo os jovens estadunidenses sucumbem pelo
caminho, não completam o secundário, abuso de drogas, depressão, suicídio e ansiedade;
os jovens de Ladakh são preparados para uma guerra que não é deles.

A ideia de progresso e civilização atrelado a industrialização é típico do


ocidente, como a visão que áreas rurais precisam de desenvolvimento. O paradoxo dessa
questão está como mostrado no documentário é que essas áreas, povos, sociedades,
subsistem por milênios de forma sustentável, enquanto a nossa sociedade industrializada
que existe por apenas três séculos está a esgotar o planeta. Fato é que o conhecimento não
está atrelado a uma educação formal, o conhecimento de um povo é a sua cultura, sua
relação com a natureza, a sua linguagem, e seus valores, características que já existiam
muito antes de qualquer projeto educacional.

No documentário, há uma fala de Mahatma Gandhi – “A liberdade virá


quando nos libertarmos da dominação da educação ocidental, da cultura ocidental, e do
modo de vida ocidental.” A educação não deveria ser um projeto de poder, mas de
igualdade, infelizmente, principalmente em países subdesenvolvidos, estão presos a esse
modelo de educação que prepara para a linha de produção. A educação pode ser inclusiva
e libertadora, mas deve levar em conta a cultura, a história, e a linguagem; educação não
pode servir para homogeneizar, ou invisibilizar saberes, pelo contrário, educar do latim
educare ou educere significa conduzir, trazer para fora, mostrando as diversidades do
mundo. Um desafio para o terceiro milênio será entender que tanto a educação como a
cultura são plurais, distintas, mas não inferiores ou superiores e estão interligadas, uma
alimentando a outra.

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