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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

BÜHLER E POPPER:
TERAPIAS KANTIANAS PARA A CRISE NA PSICOLOGIA

Para Lorraine Daston e Gerd Gigerenzer

Dr. Thomas Sturm


Departamento de Filosofia
Universidade Autônoma de Barcelona
E-08193 Bellaterra (Barcelona)
Espanha
tsturm@mpiwg-berlin.mpg.de

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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

RESUMO
Eu analiso os antecedents históricos e as considerações filosóficas de Karl Bühler e seu
aluno Karl Popper relativamente à crise da Psicologia. Eles compartilham certas questões e
métodos kantianos para refletir sobre o conhecimento de ponta na Psicologia. A Parte 1
resume o diagnóstico e a terapia de Bühler para a crise na Psicologia, de acordo como ele a
percebeu, levando à sua famosa teoria da linguagem. Eu mostro também como as
características kantianas da abordagem de Bühler ajudam a lidar com as objeções ao seu
diagnóstico da crise e aos aspectos de sua teoria linguística. A Parte 2 dedica-se à
dissertação de Popper, concluída em 1928 sob a orientação de Bühler. Eu analizo a rejeição
de Popper ao fisicalismo de Schlick na psicologia, bem como os esforços de Popper para
estender as estratégias kantianas de Bühler ao campo da psicologia do pensamento. Na
conclusão, eu indico como essas abordagens da crise na psicologia diferem das noções de
Thomas Kuhn sobre crise e revolução, as quais são, ainda, tão populares nas discussões
filosóficas atuais sobre psicologia.

PALAVRAS-CHAVE
Karl Bühler; Karl Popper; Crise; Psicologia do pensamento; Linguística; Kantianismo

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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

Como a psicologia é possível?


Tal seria a pergunta de Kant em nossa situação.
(Bühler 1927, p. 29)

1. Introdução
Contemporâneos de pensadores estelares são estudados, principalmente, em termos
de sua contribuição a essas mentes grandiosas. Nem sempre é esse o caso, naturalmente,
mas isto se aplica ao desenvolvimento de Karl Popper. O jovem Popper começou no
Instituto Pedagógico de Viena, trabalhando também no laboratório de psicologia da
universidade, tendo-se graduado em 1928 sob a oriendação de Karl Bühler (ver Hacohen,
2001). A dissertação Zur Methodenfrage der Denkpsychologie [Sobre a Questão do Método
na Psicologia do Pensamento], de Popper, discutia importantes trabalhos dos seus
avaliadores: Allgemeine Erkenntnislehre [Teoria Geral do Conhecimento] (1918; 2a ed.
1925), de Moritz Schlick, e Die Krise der Psychologie [A Crise da Psicologia] (1927;
1990), de Karl Bühler.
Este artigo concentra-se na relação entre Bühler e Popper, a qual exemplifica um
interessante capítulo na complexa história do relacionamento entre psicologia e filosofia.
Para esclarecer desde o começo minhas intenções, distinguo duas questões.
(A) Qual a relação entre o trabalho inicial de Popper em psicologia e seu
subsequente racionalismo crítico na filosofia da ciência?
(B) Quais as assunções filsóficas e quais os argumentos que Bühler e Popper
usam para reagir à percepção de uma crise na psicologia?

Atualmente (A) exerce claro domínio na literatura sobre a relação entre Popper e
Bühler, incluindo a discussão sobre a dissertação de Popper. Podem-se discernir três
direções principais. Primeiramente, alguns autores detectam distorções na autobiografia de
Popper onde ele alega ter desenvolvido seu racionalismo crítico, ainda que
desordenadamente, desde os anos 1920 (Popper, 1976, p. 29; ver Hacohen, 2001; Gattei,
2004; ter Hark 1993, 2003, 2004). Em segundo lugar, encontramos uma queixa de que,
mais tarde, como filósofo da ciência, Popper teria subestimado a influência de Bühler e de

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outros psicólogos, talvez temendo o psicologismo na lógica e na epistemologia (ter Hark,


1993, 2003, 2004). Por fim, há um certo desapontamento quanto ao fato de que Popper,
tendo começado na psicologia do pensamento (Denkpsychologie), posteriormente
desacreditou o estudo empírico do pensamento humano ao distinguir, tão enfaticamente, a
descoberta e a testagem de hipóteses científicas (Popper, 1934). Acusam-no de ter tornado
irrelevante o estudo da criatividade e da descoberta, e de ter criado uma divisão
questionável nos estudos da ciência (Kurz, 1996). Tais leituras ilustram um interesse maior
em Popper do que em Bühler. E Popper tornou-se, claramente, um dos mais influentes
filósofos da ciência do século passado, enquanto Bühler permaneceu “meramente” um
filósofo-psicólogo influente dos anos 1920 e 1930, ignorado ou esquecido após seu exílio
forçado em 1938. Hoje ele é bem conhecido apenas entre historiadores da psicologia, e
entre linguístas, devido a partes de sua obra às quais eu terei, também, razões para discutir.
A literatura mencionada acima não é desprovida de constrovérsias, mas não devo
abordá-las aqui. Ao contrário, eu enfoco (B) acima, o qual tem sido examinado muito
superficialmente, quando não completamente desconsiderado. A negligência é
insatisfatória, tanto histórica quanto filosoficamente. Historicamente, porque o contexto
imediato da dissertação de Popper (1928) foram as declarações sobre a crise na psicologia
nos anos 1920. Como Bühler e Popper reagiram a essas discussões? Quais eram seus
argumentos? Responderiam estes adequadamente à (real ou alegada) crise da psicologia?
Como pretendo demonstrar, Bühler e Popper viram essa crise de um modo moderado e
tentaram lidar com ela à maneira kantiana: reflexões filosóficas sobre a ciência devem
identificar e explicitar as pressuposições – neste caso, metodológicas – de pesquisas e
conhecimentos empíricos. Nesse sentido, a solução para a crise não é começar do zero.
Ambos os autores partem do fato de que há uma psicologia, ou de que há exemplos
respeitáveis de conhecimento psicológico e perguntam sob que condições isto é possível.
Filosoficamente, tal abordagem pode nos ajudar a reconsiderar uma concepção ainda
popular de crise na ciência, nomeadamente, a de Thomas Kuhn. De acordo com Kuhn
(1962/1970), raramente os cientistas diagnosticam uma crise em seu próprio campo de
atuação; e a crise nem sempre é superada por um esforço consciente racional, mas mais

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frequentemente, por uma revolução científica impessoal. Em evidente contraste, a


abordagem de Bühler ilustra como a crise pode ser um agente e mostra como as reflexões
filosóficas sobre uma crise podem estar tão intimamente ligadas com a ciência existente
que as questões de descontinuidade não são levantadas.
Na Parte 2, eu resumo o diagnóstico e a terapia que Bühler prescreveu para a crise,
no modo como ele a via. Na Parte 3, eu discuto a crítica de Popper ao fisicalismo de
Schlick, bem como os esforços de Popper para estender o remédio kantiano de Bühler à
psicologia do pensamento. Na Parte 4, eu reflito brevemente sobre modo como a
abordagem deles se compara às noções de Kuhn, de crise e revolução em ciência.

2. Bühler sobre a crise na psicologia


2.1. Diagnóstico: temporária e construtiva, não uma crise permanente, ou destrutiva
O livro de Bühler (1927) é, claramente, parte de um debate de que muitos psicólogos e
filósofos gostavam, ou no qual sentiam necessidade de se engajar. Começando com as
publicações de Rudolf Willy (1897-1899), no fim do século XIX, as discussões sobre a
crise se multiplicaram, especialmente durante os anos 1920 (p. ex. Kostyleff, 1911;
Driesch, 1925; Vygotsky, 1927; Politzer, 1928; cf. Caparrós, 1991; Fritsche, 1981;
Hildebrandt, 1991; Maiers, 1988; Pleh, 1988; e as contribuições para este volume). Como
Bühler (1926a, p. 455) destacou, “pode-se ler até mesmo nos jornais que a psicologia passa
por uma crise.” Ele próprio escreveu um desses artigos jornalísticos, apresentando uma
versão sintética de seus pontos de vista. (Bühler, 1926b).
Bühler não comentou o debate como mero observador. Muitos autores da mesma
época viram uma causa maior da crise no enfraquecimento das primeiras teorias
psicológicas de sensação e associação, normalmente ligadas à escola de Wilhelm Wundt (p.
ex., Kostyleff, 1911; Driesch, 1925; Koffka, 1926). Bühler desempenhou, aí, um papel
preponderante. A partir de 1906, ele havia trabalhado como assistente de Oswald Külpe,
então à frente da escola Würzburg de psicologia do pensamento. Para decepção de Wundt,
Külpe – que a princípio fora discípulo Wundt – e outros membros daquela escola tentaram
demonstrar que métodos experimentais poderiam ser aplicados a fenômenos mentais de

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ordem superior, tais como pensamento, julgamento e volição, e que os resultados de seus
estudos desbancavam o sensacionismo e o associacionismo (Kusch, 1999; Mülberger,
1994). Mormente, não seria outro senão o próprio Bühler (1907, 1908) quem se viu
envolvido numa famosa disputa com Wundt sobre possíveis auto-relatos introspectivos de
tal atividade, em base experimental. Membros da escola de Würzburg viram seu trabalho, e
sua própria emergência, como uma ameça à escola de psicologia de Wundt. Alfred Binet
(1911), por exemplo, sentiu que a pesquisa de Würzburg sinalizava uma crise, talvez
mesmo uma “revolução” na psicologia (ver também Kostyleff, 1911; cf. Mülberger, no
prelo).
O diagnóstico de Bühler para a crise foi inicialmente publicado em 1926, como um
extenso artigo na revista Kant-Studien. Ele fora convidado a fazê-lo por Paul Menzer, então
co-editor daquele periódico e um importante estudioso de Kant . Não houve coincidência
nisso. Em suas aulas na Universidade de Viena, Bühler alternava entre filosofia e
psicologia (sendo a designação oficial de sua cadeira “Filosofia com especial consideração
sobre psicologia e pedagogia experimental”; Lebzeltern, 1969, 26). Em filosofia, ensinava
sobretudo lógica e epistemologia, frequentemente baseado em Kant. Nesse período,
colaborou com diversos artigos para a Kant-Studien (Bühler, 1926a, 1928, 1933, 1935),
alguns dos quais estando entre suas publicações mais importantes. Embora tivesse contato
com Schlick, Carnap e Neurath, Bühler não era membro do círculo de Viena, e certamente
não se filiara a nenhuma de suas doutrinas básicas. Ele cultivou sérias reservas ao
fisicalismo de Carnap (e outros). Porém, tais reservas serão encontradas apenas em suas
publicações dos anos 1930 (Toccafondi, 2004, ver seção 3.5 abaixo). Outra razão para isto,
presente já em 1926, era que Bühler se sentia incapaz de endossar a Lógica Empiricista em
sua rejeição às questões e metodologias kantianas e, talvez também, em sua rígida negação
do sintético a priori. Em todo caso, como devo demonstrar, sua resposta à afirmação da
crise tem características kantianas bem distintas.
A análise que Bühler faz da crise, tanto em seu artigo (1926a) como em seu livro
(1927), é complexa e cheia de nuances. Ele não tomou a alegação de crise na psicologia
como um valor aparente, tampouco negou completamente que houvesse algo a ser dito a

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respeito de uma tal percepção. Ao contrário, seu trabalho reflete a própria noção de crise
ao apresentar um diagnóstico e uma sugestão de terapia. Suas observações conceituais
sobre a “crise” podem ser descritas através de quatro afirmações inter-relacionadas:
(1) Temporalidade da crise. Bühler discorda da assunção de permanência. Willy
(1897) havia diagnosticado uma crise “crônica” da psicologia causada pela psicologia
experimental de Wundt e pelas investigações de Franz Brentano, William James e outros,
escondendo-se por detrás de proposições metafísicas problemáticas.
(2) Âmbito da crise. Bühler não pensa que apenas certos ramos ou abordagens
intrínsecas à psicologia estejam em crise. Para ele, a psicologia como um todo estava em
estado de crise.
(3) Direcionamento da crise. Bühler nega que a psicologia de seu tempo sofra de
uma “dacadência” (Zerfall). Contrariamente, ele diz, ela mostra sinais de uma “crise
construtiva” (Aufbaukrise) resultando de diferentes abordagens teóricas ou metodológicas
que ainda precisavam ser unificadas: “O número de psicologias co-existentes que temos
hoje, o número de abordagens simultâneas baseadas em iniciativas isoladas, provavelmente
jamais tenha existido antes” (Bühler, 1927, p. 1). Psicólogos, diz ele, têm se deparado com
cum um “embarras de richesse” (ibid.) [“problema de riqueza”]. A isto ele contrasta a
psicologia que havia por volta dos anos 1890, quando o associacionismo era visto como a
abordagem legitimamente mais elevada, a qual, pelo menos, oferecia algo como “um
programa comum e uma esperança compartilhada” (ibid. p.1; cf. pp.2-9). Uma vez que os
limites dessa abordagem haviam sido esquadrinhados, a pesquisa psicológica se dividiu em
pelo menos três programas gerais, todos caracterizados basicamente por seus métodos de
preferência: havia o Erlebnispsychologie, comprometido com a “experiência subjetiva”, a
proposta behaviorista de enfocar o comportamento inter-subjetivamente observável e,
enfim, a psicologia geisteswissenschaftliche, adotada por Wilhelm Dilthey e Eduard
Spranger (1926). Os dois últimos afirmavam que, para um adequado entendimento da
mente, era necessário estudar “as formações mentais objetivas” (Gebilde des objektiven
Geistes) tais como a arte, a arquitetura e a ciência. Para Bühler, não apenas cada uma
dessas abordagens favorecia uma metodologia específica, frequentemente reivindicando

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que esta, sozinha, fosse suficiente, como também as preferências dessemelhantes


conduziam a visões díspares do que consistia, de fato, o objeto de estudo básico da
psicologia, quer fosse a experiência subjetiva, o comportamento, ou os produtos da mente
objetiva.
(4) Oportunidades surgindo da crise. Bühler sentiu que a crise trazia à tona a
oportunidade de estabelecer mais claramente certas precondições filosóficas da psicologia
e, portanto, para explorar o que constitui, exatamente, a identidade da disciplina. É isto o
que será explicado a seguir.

2.2. Terapia: três aspectos metodológicos


Dado este diagnóstico da crise, a inclinação da sugestão terapêutica de Bühler deve
ser bastante óbvia. Ele afirma que se pode, e se deve, combinar os três aspectos: a
experência subjetiva, o comportamento significativo e as formações da mente objetiva. Ele
prossegue argumentando que combinar esses três aspectos não é apenas possível – é
também necessário.
Agora, e talvez contrariando expectativas, Bühler não sugere essa solução para
todas as partes da psicologia, mas para uma só, notadamente, a teoria da linguagem. Com
efeito, este exemplo é central para ambos, o trabalho mesmo de Bühler e para seu
entendimento do que seria a principal tarefa da psicologia em geral. Seu interesse em
linguagem era longevo (Bühler, 1909, 1918, 1922, 1923; cf. também 1934, p. xxviii) e,
sobretudo, intimamente ligado ao programa inicial da psicologia do pensamento (ver
Eschbach, 1997). Como afirmava, uma das prinicipais tarefas da teoria linguística é
explicar “como signos linguísticos são interpretados” (Deutungsvorgang) para significar a
representação (Darstellung) de uma situação objetiva. Isto é importante porque, segundo
Bühler – como veremos – representação é a função básica da linguagem e, com efeito, a
mais distinguível para os usuários humanos da linguagem. Ele afirma (1923, p. 288 fn. 2)
que “por quase 20 anos a moderna psicologia do pensamento tem se preocupado com o
entendimento desse processo interpretativo”. Isto é, talvez, um exagero, mas provavelmente
não de modo evidente. Em 1909, ele havia afirmado que, para funcionar como

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representações, signos linguísticos têm que ser atribuídos a objetos ou situações de acordo
com certas regulamentações que não podem ser alcançadas pela observação dos aspectos
meramente físicos ou fonéticos daqueles signos. Mais positivamente, o entendimento do
significado de uma sentença requer que pelo menos algumas conecções lógicas sejam
estabelecidas entre pensamentos usuais e não-usuais. Bühler (p. ex. 1909, p. 117) cunhou
um jargão que se tornou parte da fala cotidiana na Alemanha, a chamada “ah-ha!-
experience” (Aha!-Erlebnis, significando “Saquei!” ou “Entendi!”) para descrever a
experiência do entendimento do significado de uma sentença. Embora a psicologia do
pensamento não houvesse explicado o processo interpretativo, ou as leis que governam a
atribuição de termos a coisas ou situações, esta já havia revelado que o processo e as leis
eram muito mais complicadas do que se assumia anteriormente.
Para instruir a discussão que se segue, é necessário esquematizar brevemente a
teoria linguística de Bühler. Eu restrinjo este esquema aos elementos já contidos nos
trabalhos sobre a crise. Bühler (p. ex., 1928, 1931, 1932, 1933) continuou a desenvolvê-los,
culminando em sua brilhante Sprachtheorie [Teoria da Linguagem] (1934; 1990). Hoje,
esta elaborada teoria figura entre os clássicos da linguística, ao lado de Saussure (1916) ou
Chomsky (1965), e é descrita como um passo definitivo em direção a registros pragmáticos
da liguagem (cf. Ströker, 1969; Graumann & Herrmann, 1984; Eschbach, 1984a, 1988;
Pleh, 1984; Friedrich & Samain, 2004; Mulligan, 1997).
O que, então, conecta, na linguagem, os aspectos de experiência subjetiva,
comportamento e as formações da mente objetiva? Como Bühler quer mostrar que é
possível unificar a psicologia, ele reivindica – não implausivelmente – que deve haver uma
“unidade, ainda desconhecida, à qual a experência, o comportamento e os produtos da
mente pertencem como partes constitutivas” (Bühler 1926a, p. 466). No caso da linguagem,
esta “unidade” é o signo linguístico ou, mais precisamente, o ato concreto da fala no qual
um signo linguístico é usado. Agora, atos de fala são ferramentas empregadas para certas
intenções ou funções (ver Figura 1). Em seu chamado “modelo organon” da linguagem,
Bühler identifica três dessas funções como básicas: expressar experiências (Kundgabe; em
Bühler (1934, p. 28): Ausdruck), induzir comportamentos em terceiros (Auslösung; em

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Bühler (1934, p. 28): Appell), e representar (Darstellung) objetos ou situações (ver Figura
1). Do ponto de vista do emissor, o signo é um “sintoma”, nominalmente, daquilo que ele
experiencia; considerado na relação entre o emissor e o receptor, o mesmo signo funciona
como um “sinal”. Usado em referência a um objeto ou situação, o signo deverá ser descrito
como um “símbolo”. Bühler diz que nenhuma das três funções pode ser reduzida a uma (ou
duas) das outras. Por exemplo, ele refuta Wundt (1926a, p. 466, 1927, p. 30f.) por
descrever a linguagem como uma mera ferramenta de expressão de experiências
individuais. Behavioristas, por outro lado, lutam para explicar a linguagem somente em
termos de comportamento, sem concatenar que, dentre todos os comportamentos, temos
que tentar selecionar aqueles que têm um significado ou uma intenção para o agente, p. ex.
quando usamos a linguagem para dirigir as ações de outros seres humanos (novamente,
aqueles que estudam a linguagem meramente como sistemas acústicos cometem o mesmo
erro: Bühler, 1927, p. 46f.). Outras reprovações se aplicam àqueles que consideram a
linguagem somente como um produto objetivo da mente. Logo, para estudar a linguagem
adequadamente, todos os três aspectos têm que ser levados em consideração. Além disso, as
três funções estão sistematicamente relacionadas. Em um caso simples, quando alguém vê
um incêndio expressa sua experência pela emissão das palavras que representam a situação;
mas as mesmas expressões linguísticas podem também ser usadas para dirigir as ações de
outrem em relação ao fogo.

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Figura 1: O modelo de Bühler das funções da linguagem: signos linguísticos (“Z”=“Zeichen”) são
ferramentas que relacionam o emissor (Sender), o receptor (Empfänger), e o mundo em que vivem
(Gegenstände und Sachverhalte; em Bühler 1934, p. 28).

Krise, de Bühler talvez tenha recebido mais atenção do que qualquer outra
contribuição ao debate. Inspirou a análise mais ampla de Husserl (1936) sobre a crise das
ciências (Feest, neste volume) e foi absorvida por alguns de seus alunos e outros psicólogos
em suas próprias reflexões acerca de questões fundamentais da psicologia, e da situação da
psicologia em geral (Hofstätter, 1941; ver Gundlach, neste volume; Lersch, 1953; Wellek,
1958, 1959). Além disso, desde os anos 1970, Krise tem sido usado em discursos
presidenciais nas conferências da Sociedade Germânica de Psicologia (Deutsche
Gesellschaft für Psychologie) que tentaram esclarecer se a falta de unidade na psicologia
foi superestimada ou subestimada e se uma tal unidade seria de todo desejável afinal
(Allesch, 2001). Não obstante a controvérsia, Krise tem sido descrito como a mais valiosa
contribuição para tal reflexão até hoje (p. ex. Allport, 1966, p. 201; Fritsche, 1981, p. 66;
Allesch, 2003; Münch, 2002).

2.3. O caráter kantiano da abordagem de Bühler


Há poucas dúvidas, tanto na época como agora, acerca dos elementos centrais do
diagnóstico e da terapia de Bühler. Menos certezas rodeiam a aceitação, ou não, desse
diagnóstico e terapia. É impossível detalhar as objeções aqui, ainda que mais não seja
porque muitas consistem em argumentar que a psicologia veio a produzir várias abordagens
novas, ou tornou-se caracterizada por questões outras que não aquelas identificadas por
Bühler. É, todavia, supreendente que virtualmente nenhum de seus críticos reconheça
adequadamente a natureza básica da abordagem de Bühler. Isto importa, entretanto, se
fizermos justiça à sua abordagem. Primeiramente, explicarei em que consiste tal abordagem
e então discutirei como ela pode ajudar a lidar com certos problemas.
Dois elementos são evidentes: meta e método. Com referência a Kant, Bühler (1927,
p. 29; cf. 1926a, p. 466) descreve sua meta como um esforço para explicar, “como a

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psicologia é possível?” A pergunta é, supostamente, idêntica à tarefa de descobrir a unidade


subreptícia que integra os três aspectos, o que, por conseguinte, resolveria a crise. Bühler
nomeia o método, ou o tipo de argumento apto a desempenhar essa tarefa, como um “tipo
de dedução transcendental no sentido kantiano” (ibid.). Como veremos (3.1.), em sua
dissertação, Popper (1928, pp. iii e v) reconhece esses elementos, atribuindo a Külpe o
crédito por estabelecer o método mais claramente até do que o próprio Kant, e enfatizando
sua utilidade, literalmente, como uma análise das pressuposições da ciência então existente.
Külpe foi, provavelmente, também uma fonte para as visões de Bühler. Em todo caso, para
que tal método possa ser usado, uma certa quantidade de pesquisa e teoria no domínio
relevante deve existir previamente. Mais precisamente, e para prevenir possíveis enganos, o
método ou dedução transcendental proposto por Bühler (e Popper) pode ser “vagamente”
chamado de kantiano. Três pontos ajudam a esclarecer o que quero dizer aqui.
(i) Kant distinguiu duas versões de sua famosa (e infame) dedução transcendental
das categorias (ver Carl, 1989, PP. 158-171). Uma versão parte da premissa de que temos
conhecimento empírico dos objetos (p. ex., a experiência de sentido dos juízos empíricos
que têm ligação e estrutura que permitem que sejam verdadeiros ou falsos), e a partir daí
procede à identificação das necessárias condições sob as quais tal conhecimento é possível.
A outra versão não usa esta premissa. Antes, parte de uma investigação geral de como deve
ser a estrutura de nossas capacidades epistêmicas para que tenhamos a experiência de
objetos determinados. A primeira é chamada de uma dedução “objetiva”; a segunda é dita
“subjetiva” (Kant, 1998, p. Axvii). Uma dedução objetiva é mais frágil do que uma
subjetiva porque a primeira parte de uma premissa que pode ser questionada, qual seja, a de
que temos de fato tal conhecimento objetivo.
(ii) Agora, muitos filósofos do final do século dezenove e início do século vinte,
passaram da questão kantiana de como o conhecimento em geral (Erkenntnis überhaupt) é
possível para a questão de como tipos específicos de conhecimento científico são possíveis
(uma questão que Kant já havia levantado e à qual repondeu com a proposição de conceitos
e princípios a priori mais específicos para os casos da física – isto é, de conceitos e
princípios que definam e constituam a categoria de objetos materiais). Bühler e Popper

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seguem este caminho. Buscando respostas para o mesmo tipo de perguntas, eles usam a
moderada concepção objetiva de um método ou dedução transcendental, aplicando-a ao
caso do conhecimento em psicologia. Por exemplo, supondo-se que haja um conhecimento
empírico da linguagem, então a pergunta é: como uma análise unificada da linguagem é
possível?
(iii) Bühler (p. ex. 1927, pp. 1, 32, 50f., 55; 1934, 12-24) anseia por “axiomas” para
a linguística, e está claro que a validade desses axiomas não repousa em território lógico ou
conceitual, tampouco deriva-se de obsevação e experimento. Enquanto ele cuidadosamente
ressalta que não se deve, de início, “dizer o que é a priori e o que é a posteriori em relação a
eles”, também afirma que os axiomas são “constitutivos” e que “definem o domínio”, ou
que são “ideias para a indução necessária em todo campo de pesquisa” (Bühler, 1934, p.
20f.). Logo, são condições não-triviais e necessárias para uma teoria empírica unificada da
linguagem. Além disso, claramente ecoam a ideia kantiana das categorias e princípios do
entendimento como sendo constitutivos dos objetos do conhecimento überhaupt, e dos
conceitos e princípios a priori específicos, igualmente constitutivos dos domínios de várias
ciências.
Bühler e Popper não se comprometem com assunções kantianas mais exigentes.
Eles não afirmam que pressuposições relevantes da pesquisa empírica não podem ser
revisadas, nem que sejam estritamente universais (cf. Ströker, 1969, p. 21). E eles
contornam, também, outras dificuldades. Por exemplo, eles não endossam o idealismo
transcendental acerca dos objetos do conhecimento – certamente não no sentido em que o
idealismo transcendental costuma ser compreendido, como a visão de que a mente “faz” a
natureza. Mas não é preciso concordar com tais suposições para ser um kantiano em
importantes aspectos.

2.4. Três objeções e como lidar com elas


Agora, considere as três questões que se seguem:

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(1) A conecção que Bühler traça entre sua teoria lingüística, anteriormente
desenvolvida, e a aplicação desta na solução da crise na psicologia não seria
uma duvidosa pós-justificação daquela teoria?
(2) A linguagem deve ser entendida através dos três aspectos de experiência
subjetiva, comportamento significativo e as formações da mente objetiva, e
através deles somente?
(3) A abordagem de Bühler pode ser aplicada a outros domínios da psicologia?

Responderei às duas primeiras questões imediatamente, enquanto que é melhor lidar


com a terceira em conecção com a tentativa de Popper para estender a estratégia terapêutica
de Bühler (ver 3.4).
Quanto à questão (1), a resposta é não. É claro que conhecer a cronologia correta do
desenvolvimento do pensamento de Bühler é importante para rejeitar a suposição de que
sua teoria linguística seria uma consequência direta do debate da crise em psicologia.
Bühler (1927, p. 29) admite abertamente que o que ele usa como exemplo para a cura da
crise – o cerne de sua teoria linguística – estava, de fato, pronto antes do diagnóstico da
crise. Com efeito, a distinção das três funções básicas já havia sido estabelecida vários anos
antes (Bühler, 1918, p. 1). Então, ele primeiro trabalhou numa teoria psicológica da
linguagem e depois pensou que ela poderia ser usada para curar a crise. Nós, portanto, não
podemos usar essa história como um exemplo de como a crise na psicologia foi superada
por uma dramática alteração no âmbito da teoria, ainda que a teoria da linguagem de Bühler
tenha sido descrita como “revolucionária” – terminologia que ele próprio, incidentalmente,
jamais usou. Porém, seu procedimento é perfeitamente legítimo se levarmos em conta o
caráter kantiano de sua argumentação. Se a “dedução transcendental” revela que a teoria
linguística deve levar em consideração a experiência subjetiva, o comportamento e as
formações da mente objetiva, e se isto constitui a solução apropriada para a crise tal como
Bühler a descreve, então a ordem cronológica do desenvolvimento do diagnóstico e do
remédio é irrelevante.

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Restam, porém, outros problemas. A teoria pode ser vista como um exemplo bem
sucedido de como superar a crise na psicologia apenas se concordarmos com o diagnóstico.
Há algumas razões para duvidar de que devamos concordar com isso. Pode-se argumentar
que a crise não se deve a uma fragmentação temporária de metodologia ou de aspectos da
disciplina, como descreve Bühler. Tal objeção pode assumir duas formas: primeiro, alguém
pode objetar a especificidade da caracterização que Bühler faz desta fragmentação na
psicologia, ou propor outras distinções para escolas ou métodos. Politzer (1928, p. 15f.),
por exemplo, achou a descrição do behaviorismo feita por Bühler excessivamente simplista.
Novamente, Vygotsky (1927; ver Hyman, neste volume), embora não em oposição
explícita a Bühler, distinguiu, na linha marxista, entre tradições idealistas (que ele
equiparou às subjetivas) e materialistas (objetivas) na psicologia. Neurath (1933, p.16f.)
negou que falar de “aspectos” fosse de todo razoável de um ponto de vista psicológico.
Como veremos também (3.2.), Popper (1928) achou insuficiente a discussão de Bühler
sobre o fisicalismo. Uma resposta completa a estes pontos iria requerer uma cuidadosa
comparação de diagnósticos alternativos, tanto os desenvolvidos por contemporâneos de
Bühler, quanto por historiadores posteriores. Basta, aqui, mencionar que existia uma séria
fragmentação entre as escolas de psicologia, que a descrição feita por Bühler dessa
frangmentação não era inteiramente errada, e que seu diagnóstico ocupava-se apenas da
psicologia daquele tempo. Uma segunda objeção é de que a crise pode ter se devido a
assunções metafísicas mais complicadas, implicadas na pesquisa e teorização psicológica.
Se fosse esse o caso, então a bordagem de Bühler fracassaria desde o começo, porque esta
não visa uma crise crônica ou permanente. No entanto, como vimos acima (2.1.), ele não
toma superficialmente qualquer reivindicação de que a crise é crônica. Isto é, até certo
ponto, apenas justo. Se alguém pode estar certo ou errado sobre o diagnóstico específico da
crise na psicologia, tais julgamentos dependem de pressuposições sobre uma forma mais
ideal da disciplina, e esses julgamentos devem, necessariamente, fazer uso de critérios
normativos. Assim sendo, nós temos que ser cuidadosos com esse discurso da crise. Ele se
baseia em referenciais que nada têm de inocentes, e que demandam reflexão e
argumentação. Comparada ao ceticismo implicado pelos clamores de uma crise permanente

15
Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

da psicologia, a sóbria reconstrução de pressuposições feitas pela pesquisa psicológica


propriamente dita parece uma escolha mais plausível.
Outro conjunto de objeções tráz de volta a questão (2) acima. A qualidade do
argumento de Bühler depende também do que pensamos sobre a premissa central de sua
“dedução” – isto é, do conhecimento psicológico ser tomado como certo. A linguagem
pode, realmente, ser entendida apenas através desses três aspectos ou funções? O fato de
que a linguagem, de que o mesmo signo lingüístico, desempenha inúmeras funções foi
raramente passível de dúvida (mas veja Dempe, 1935; Bühler, 1936). Todavia, há outras
questões, três das quais devo, aqui, destacar brevemente: (2a) A teoria da linguagem estava
avançada o suficiente para derivar ou explicar suas próprias pressuposições? (2b) Podem-se
unificar as escolas em psicologia por meio da doutrina dos diferentes aspectos da
linguagem? (2c) Bühler acertou no número de aspectos?
(2a) Numa crítica, o filósofo e acadêmico kantiano Arthur Buchenau (1928, p. 74f.)
perguntou:

“Sob esses três aspectos principais, Bühler… levanta questões seguindo o exemplo de
questionamentos de Kant: como a psicologia é possível como ciência? E assim como Kant
usou a ciência natural matemática, Bühler usa a ciência da linguagem, ou melhor: o
fenômeno da linguagem, de modo a explicar suas afirmações, um procedimento que é, no
entanto, não inteiramente desprovido de problemas. Em contraste com o sistema
Newtoniano que Kant achou e no qual ele – e não examinaremos aqui se isso foi ou não
correto! – apoiou-se de fato, o ‘sistema’ de Bühler de uma filosofia ou psicologia da
linguagem ainda não existe.”

Este ponto parece correto num primeiro relance, mas não é. Para começar,
Buchenau mescla a questão sobre como a psicologia é possível com a questão sobre como a
psicologia é possível como ciência, uma questão que o própro Kant (1900ff., vol. IV, p.
471) ilustremente propôs, mas sob circustâncias completamente diferentes (Sturm, 2006).
Bühler ignora o problema da cientificidade da psicologia; importa-lhe a unidade da

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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

disciplina. (Veremos adiante que havia, no entanto, outras razões para buscar a conexão
entre essas diferentes questões de fundação da psicologia; ver seção 3.2). Também é
enganoso questionar sua abordagem pela colocação de que esta não poderia se basear em
uma já completa teoria da linguagem. Basta que tenhamos diversos programas empíricos de
pesquisa competindo entre si; e como Bühler admite, seus axiomas podem ser revisados
sempre que os linguistas fizerem avanços.
(2b) O psicólogo de Praga, Franz Scola (1931) atacou a assunção de Bühler de que
se pode estudar a linguagem através dos três aspectos, o que determinaria que a linguística,
como um todo, tem que ser vista como uma parte da psicologia. Ao invés disso, deveríamos
ver a fonética, a gramática e a psicologia da linguagem como diferentes disciplinas.
Segundo Scola, teríamos uma visão melhor da psicologia da linguagem como sendo
devotada, total e unicamente, ao aspecto da “percepção interior” (innere Wahrnehmung), ao
passo que a fonética estudaria o ruído linguístico, publicamente audível, e a gramática, a
formação objetiva da mente. Portanto, a teoria linguística de Bühler não poderia oferecer
um exemplo convincente para a solução da crise na psicologia – assinalando, antes, a
fragmentação de diferentes áreas científicas. Scola adimitiu que esta teoria poderia ser
ocasionalmente útil para um psicólogo da linguagem observar o que pensam os gramáticos
ou os estudiosos da fonética; mas apenas numa perspectiva metodológica ou heurística,
não como algo a ser tomado como resultado de uma pesquisa psicológica.
Este raciocínio negligencia outro traço kantiano do modelo de Bühler: as três
funções são separadas, mas também são inter-relacionadas. Linguagem é uma ferramenta
para expressar pensamentos; mas, em casos básicos e típicos, dirige-se a um receptor e a
uma situação a qual ambos, emissor e receptor, têm acesso e da qual podem falar a respeito.
Pode-se tentar evitar o entendimento da linguagem tal como uma ferramenta para a
comunicação; mas então se perderia o objetivo da fértil ideia de Bühler sobre a linguagem.
Ele não evoca uma integração de diferentes escolas, ou mesmo disciplinas, com o propósito
de que aprendam umas com as outras, mas porque ele propõe a determinação do próprio
objeto de estudo de uma teoria da liguagem. Ele deseja fornecer axiomas que “constituem”
ou “definem o domínio” de uma tal teoria.

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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

(2c) Popper (1976, p. 74; 1972/1979, p. 160 fn. 9) reinvidica ter objetado, numa
defesa oral de sua dissertação, que afirmar um argumento ou oferecer uma crítica às
afirmações de outra pessoa, são ações irredutíveis a qualquer das três funções de Bühler.
Num âmbito mais geral, não está claro o que Searle (1969) nomeu de “atos
perlocucionários”– tais como ridicularizar ou persuadir alguém, ou provocar uma pessoa
com palavras – pode ser reduzido a qualquer dessas funções. Entretanto, Bühler (1934, pp.
21-22) reconhece espontaneamente que pode haver espaço para mais funções básicas. Outra
vez: a estratégia é apenas levemente kantiana: se Bühler se esforça para identificar
condições necessárias para reivindicações da psicologia com relação à linguagem, ele não
alega ter encontrado a lista completa de tais condições. Sobretudo, isto pode mesmo
fortalecer sua estratégia para superar a diversidade de abordagens na psicologia. Uma
descrição diferente da fragmentação entre essas abordagens poderia apontar para uma
função ainda não identificada da linguagem. Reconhecidamente, não está claro se a quarta
função de Popper ou os atos perlocucionários de Searle, pderiam ser rastreados até um
aspecto enfatizado por alguma abordagem psicológica que Bühler falhou em identificar.
Porém, não obstante estas limitações, sua estratégia para integrar diferentes tradições
psicológicas, pela busca de uma “unidade subreptícia” com respeito a qual, diferentes
aspectos ou métodos poderiam ser integrados, é promissora, e ele a desenvolve para o caso
da linguagem de um modo impressionante. Aos seus leitores mais benevolentes, portanto,
não deve ter parecido inatural considerar que a estratégia pudesse ser estendida também a
outras partes da psicologia.

3. Popper sobre a metodologia da psicologia do pensamento


Tudo isso nos leva a Popper. Sua dissertação (1928) havia sido planejada como uma
investigação empírica da memória, com a intenção de levar adiante a tradição da psicologia
do pensamento, e baseada em vários anos de pesquisa (Wettersten, 1992; Hacohen, 2001).
Entretanto, ela nada contém desses estudos empíricos. Segundo a descrição de Popper, ele
já planejava há muito tempo introduzir seu estudo sobre memória com um capítulo sobre
metodologia. O material desse capítulo havia crescido e, ao final, interessou-lhe mais ao

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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

ponto de decidir submeter um tratado sobre problemas metodológicos de psicologia


(Popper, 1928, p. v). Pouco depois, ele publicou um ensaio sobre memória que pode ter
sido baseado nessa pesquisa anterior (Popper, 1931).
Como foi dito acima, a dissertação discute especialmente Schlick and Bühler.
Apesar de ela não diagnosticar explicitamente uma crise na psicologia, é muito claro que
Popper se baseia em Krise, de Bühler, tentando estender sua mensagem positiva a um novo
domínio na psicologia. Mais tarde em sua vida, Popper (1976, p. 78) descreveu o tópico de
sua dissertação como um tema que ele jamais retomou, caracterizando seu estudo como
fraco. Ambas as afirmações requerem explicação. Primeiro, embora Popper de fato nunca
tenha retornado à metodologia da psicologia, sua teoria posterior dos “três mundos” – o
mundo físico, o mundo mental, e o mundo das ideias objetivas ou conteúdos-pensados –
parece muito similar a alguns dos resultados de sua dissertação. Essa teoria também
apresenta marcas que indicam forte influência da linguística de Bühler; por exemplo, ao
apresentar sua teoria dos três mundos, Popper incluiu sua própria reação à teoria de Bühler
(p. ex., Popper, 1972/1979, p. 160 fn. 9; cf. Hacohen, 2001, p. 160; ter Hark, 2004, ch. 6).
Em segundo lugar, a dissertação de Popper é o primeiro trabalho de maior fôlego de um
homem jovem, cruamente escrito. Como apontou Bühler em sua avaliação, a segunda
metade e especialmente o final da dissertação demonstram mais fragilidade do que a
primeira metade. Não obstante, o estudo apresenta a habilidade de Popper de se propor uma
tarefa, de estruturar claramente o trabalho e de apresentar novas discussões. Também
sustenta comparações com outras contribuições ao debate da crise, e talvez tenha
influenciado os debates posteriores entre Bühler e seus oponentes, entre os quais os Lógicos
Empiristas (ver seção 3.2 e 3.5).

3.1. Objetivo, estrutura e método da dissertação de Popper


Primeiro, Popper ataca o programa de Schlick do fisicalismo na psicologia. Depois,
Popper estende a proposta pluralista de Bühler para a metodologia psicológica, tornando-a
própria para a psicologia do pensamento. Popper estabelece que isto seja coerente com uma
perspectiva kantiana: usa-se um tipo de “método transcendental” ou “dedução” (Popper

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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

1928, pp. iii e v) ao tomar como certos determinados elementos empíricos da ciência e
analizar suas pressuposições. A epistemologia pode estar apta a, ocasionalmente, fornecer
sugestões críticas ou sugerir onde esta pode ser útil para transferir uma ideia metodológica
de uma ciência para outra, mas não pode ditar à ciência seus métodos (ibid. p. ii). Mas há
também diferenças básicas entre Bühler e Popper. O mais importante é que Popper não
adota simplesmente a estratégia kantiana de Bühler a respeito de tudo. Ele insiste desde
logo em sua dissertação (1928, p. v) que seus resultados não serão de forma alguma a priori
sintéticos. Logo, o kantianismo de Popper é ainda mais moderado do que o de Bühler.

3.2. Por que o fisicalismo é relevante aqui?


Por que Popper se ocupa da questão do fisicalismo, afinal? Por que isto é relevante
no contexto do debate sobre a crise? O ponto principal é que Popper (1928, p. 5) acha o
fisicalismo insuficientemente discutido em Krise. Com efeito, Bühler discute o fisicalismo
sobretudo à maneira dos psicólogos da Gestalt. Se esta discussão é insufuciente, há ainda a
possibilidade de que o fisicalismo vença seu pluralismo. Em outras palavras, se o
fisicalismo estivesse correto, então nós teríamos uma melhor explicação para a unidade da
psicologia do que a que foi dada por Bühler. Segundo Popper (1928, p.6), o
Erkenntnislehre, de Schlick, continha os melhores argumentos para uma concepção
fisicalista da mente e da psicologia e era, portanto, o alvo mais válido para se atacar tal
abordagem.
É importante relembrar aqui que o fisicalismo de Schlick era primordialmente uma
tese metodológica e não (meramente) ontológica (Popper, 1928, p. 6). A existência de uma
perspectiva subjetiva, ou introspectiva, para os estados mentais de uma pessoa não era
negada; o que se rejeitava era a reivindicação de que tal perspectiva pudesse, e devesse,
desempenhar um papel metodológico dominante na pesquisa psicológica. Schlick rejeitou o
notório Ignorabimus (1872), de Emil du Bois-Reymond, acerca do suporte físico da mente:
sem “transformar a psicologia introspectiva em fisiológica, em psicologia científica e, em
última instância, em física de processos cerebrais” (Schlick, 1918, p. 288; cf. pp. 275, 291),
a psicologia como ciência permanece impossível. É desse modo que Popper começa a se

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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

interessar pelo problema do estatuto científico da psicologia, diferentemente de Bühler, que


restringe suas considerações ao tema da unidade ou da identidade da psicologia (ver 2.4).
Mas por que o estatuto científico da psicologia deveria ser colocado em dúvida se o
fisicalismo não diz a verdade? Brevemente falando, Schlick apresentou duas linhas centrais
de argumentação: (i) O conhecimento da mente não pode partir da introspecção, uma vez
que a possibilidade mesma de um tal conhecimento requer a redução de conceitos e leis da
mente a conceitos físicos (Schlick, 1918, pp. 275, 291). Este, eu o chamarei de “argumento
do conhecimento”. (ii) A demanda por uma unidade da ciência exclui qualquer dualismo
mais nítido, seja ontológico ou metodológico (ibid., 298). Como veremos a seguir, o
segundo ponto é menos presente na discussão de Popper do que o primeiro. Em linhas
gerais, ele pensa que para argumentar, com mais sucesso do que Bühler, a favor da
necessidade e possibilidade da psicologia introspectiva, deve-se refutar Schlick em seu
argumento do conhecimento.

3.3. Os argumentos de Popper contra o fisicalismo metodológico


Popper apresenta uma bateria de objeções que podem ser resumidas pelos cinco
pontos a seguir:
(1) Uma primeira versão do argumento do conhecimento de Schlick afirma que
conceitos qualitativos devem ser reduzidos aos quantitativos, porque somente então pode-se
alcançar o conhecimento “em um sentido perfeito” (in so vollkommener Weise; Popper
1928, p. 9). Aqui, Popper reivindica que este é um ideal de conhecimento que não pode ser
aceito por todas as ciências. É irrealista para o Geisteswissenschaften (ibid. p. 9f.) e, mesmo
se uma redução física do mental fosse possível, isto não precisa ser um requisito para todas
as ciências (p. ex., não para a anatomia e a biologia). De modo semelhante, não deve ser um
requisito para a psicologia (ibid. pp. 10-16).
(2) Do modo como Popper o vê, Schlick mina seu próprio paralelismo psicofísico
ao admitir que (i) os elementos mentais reunidos na mente podem ser fisicamente
separados, e (ii) os elementos fisicamente reunidos não necessariamente pertencem a uma

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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

única consciência (Popper, 1928, pp. 20ff). Mas se essas possibilidades são reais, então tal
fisicalismo não pode ser um método útil ou uma hipótese “eficaz” (ibid., pp. 20ff.).
(3) A objeção mais importante de Popper ao argumento do conhecimento é, porém,
a que se segue: ainda que uma redução fisicalista do mental fosse possível, esta iria
requerer o desenvolvimento prévio da teoria psicológica. Não pode haver redução de um
conjunto de leis A a um outro conjunto B, sem que A já esteja sendo desenvolvido (ibid.
pp. 16-18). “Para a psicologia, as considerações psicofísicas estão muito atrás das
considerações psicológicas” (ibid. p. 22).
Isto completa a discussão do argumento do conhecimento de Schlick. Adiante,
Popper inclui dois outros pontos:
(4) Com relação aos requisitos para a unidade da ciência: contrariando as
aparências, Schlick não baseia este aspecto do seu fisicalismo em razões epistemológicas.
Afirmando-se de maneira diferente, o fisicalismo é tão dogmático quanto a tese de
Ignorabimus (ibid. pp. 39ff.).
(5) O fisicalismo não pode ser uma suposição a priori, mas tem que ser justificado
empiricamente. Esta justificativa ainda não foi alcançada, e deveria ser considerado um
ponto em aberto se será possível alcançá-la um dia (ibid. pp. 43ff.). Pensar de outro modo
significaria supor que o fisicalismo seja uma hipótese metafísica, algo que o próprio
Schlick claramente não intenciona fazer.
Para finalizar, Popper objeta que o fisicalismo metodológico leva a posicionamentos
inúteis, senão impossíveis, e que tende a tornar-se um dogma. Ele também enfatiza que
“considerações psicofísicas” devem ser agrupadas como um quarto aspecto de uma
psicologia unificada, indicando portanto, mais uma vez, que a análise de Bühler, de três
aspectos básicos, não era completa (Popper, 1928, p. 43).

3.4. Estendendo a terapia de Bühler: os três aspectos do domínio do pensamento


O que dizer dos argumentos de Popper na segunda metade do seu estudo? Bühler
(1927, p. 59) limitou suas preocupações à linguagem, reivindicando que se devia lidar com
a crise na psicologia tratando uma parte de cada vez; mas ele afirmou também que seria

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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

fácil transferir essa abordagem para outras partes da psicologia (ibid., p. 29). Seu
argumento faz uma distinção entre pensamento e linguagem que estará viva na mente de
Popper quando ele pergunta se a metodologia dos três aspectos pode ser extensível ao
domínio do pensamento. Este objeto de estudo provavelmente o mobilizou como o campo
mais interessante para o qual tranferir a abordagem de Bühler, tanto por causa da
centralidade do tópico do pensamento para qualquer um que fosse influenciado pela escola
de Würzburg, quanto pelo estudo emprírico anterior de Popper a respeito da memória, que
ele via como um componente natural da psicologia do pensamento.
Agora, Popper enfatiza que ele não tenta transferir os resultados de Bühler (as
funções da linguagem ou a axiomatização da teoria linguística) para o domínio do
pensamento. Isto, como ele argumenta, culminaria na construção de analogias que
poderiam não funcionar no novo domínio. A abordagem de Popper segue paralela à de
Bühler apenas no seu procedimento transcendental: a metodologia deveria “começar por
métodos já usados na ciência e investigá-los criticamente” (Popper 1928, p. 47). Suas
afirmações sobre por que os três aspectos de experiência, comportamento e formações da
mente objetiva são necessários no estudo do pensamento podem ser agrupadas como a
seguir.

(I) Comportamento significativo. Popper parte de um ponto plausível extraído de


Bühler (1927, p. 47; ver 2.2. acima): a meta do behaviorismo de estudar exclusivamente
esquemas estímulo-resposta é confusa. Não se pode evitar a seleção daqueles
comportamentos que são significativos. Bühler faz, aqui, uso do estudo do comportamento
animal: observar quais condições podem inibir o comportamento de um animal significa,
necessariamente, interpretar as reações do animal como tendo um propósito. Em sua
discussão, Popper introduz uma importante distinção: (i) um comportamento pode ter
propósito (Zweckhaltigkeit) e (ii) o comportamento pode ser, eminentemente, propositivo
(Zweckhaftigkeit). Quando o cachorro late para avisar ao dono que um estranho entrou na
casa, este comportamento tem um propósito e é também propositivo. Mas quando o
cachorro late para um trem, o comportamento pode ter um propósito sem ter uma

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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

propositividade. Somente devido a uma distinção como esta, podem-se interpretar as ações
de um sujeito como “errônea” ou equívoca (Popper, 1928, p. 50f.: para uma análise de seu
uso da psicologia animal, ver Hark, 2004, pp. 119-125).
(II) Formações da mente objetiva. Em vez de enfocar a função das representações
externas para o estudo do pensamento – p. ex., representações tais como os signos
linguísticos – Popper pergunta, aqui, sobre a função do pensamento na representação. Ele
encontra uma visão comum na afirmação de que o pensamento confere significado, ou
sentido, a signos objetivos (ibid. p. 61f.). Ele argumenta que esta posição incorre em
dificuldades que dizem respeito à psicologia, à espistemologia e também à lógica. Se
atribuimos uma certa expressão linguística a um objeto particular, tal expressão é um
“nome”. Mas o que dizer sobre a classe de objetos? Como poderia um signo referir-se a um
número potencialmente infinito de objetos? Neste sentido, a que se refere uma frase? A um
pensamento, a uma situação concreta, ou a ambos? Popper reconhece que não pode resolver
estes problemas, mas que qualquer resposta iria requerer uma análise acurada das relações
entre as disciplinas mencionadas (ibid. p. 63). Tal investigação poderia ser chamada de
“semasiologia”, como exemplificado pelo trabalho de Heinrich Gomperz. Uma de suas
tarefas seria identificar as diferenças entre as regularidades empíricas do pensamento e as
leis da lógica (sendo a lógica uma formação objetiva da mente). Isto ajudaria a evitar o erro
de que a psicologia do pensamento deveria guiar-se pela lógica – um erro que poderia ser
dito o inverso do psicologismo na lógica (ibid. p. 65). Aqui, portanto, Popper argumenta
que, para estudar o pensamento adequadamente, deve-se levar em conta suas semelhanças e
diferenças em elação a um dos produtos objetivos da mente, qual seja, a lógica. Entretanto,
ele pensa que um outro caminho pode ser também possível, e inclusive potencialmente
mais rico. Haveria a opção por teorias biologicamente orientadas sobre o valor objetivo das
representações – por exemplo, teorias sobre a evolução desde as culturas primitivas até a
ciência natural, através de estágios tais como ritual mágico, especulação dogmática e
ciência crítica (ibid. 66-70). Popper, na realidade, não decide o caminho a seguir; ele
apenas aponta, basicamente, que tais caminhos existem.

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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

(III) Experiência. Aqui, Popper (ibid. p. 70f.) pensa ser a justificação trivial porque
supõe que pensamentos são primariamente acessíveis através da experiência subjetiva. A
questão é mais como é ter pensamentos: como eles aparecem quando estudados
introspectivamente? Como associações de ideias? Sentimentos? Experiências de sentido?
Experiências de Gestalt? Julgamentos? Popper também defende a introspecção
experimental, especialmente do modo como Külpe ou Bühler a praticam, de objeções
largamente difundidas, tais como a respeito das diferenças individuais dos sujeitos, da
incompletude dos protocolos, e do viés teórico dos sujeitos (ibid. pp. 72-78).

3.5. Méritos e deméritos dos argumentos de Popper


Em sua breve avaliação da dissertação de Popper, Bühler (1928b) apenas observou
que o argumento (3) contra o fisicalismo era convincente, enquanto a discussão das
precondições da psicologia do pensamento poderiam ter-se beneficiado de um melhor uso
da “função representativa” da linguagem. Com efeito, várias das objeções de Popper ao
fisicalismo são menos decisivas do que ele acredita. A objeção (1) a respeito do argumento
do conhecimento transfere o ônus da prova àqueles que aderem a um certo conceito de
conhecimento, nominalmente, àqueles que consideram como conhecimento apenas o
conhecimento quantitativo. Entretanto, pode- afirmar que, em termos de provas, a objeção
de Popper se situa sob uma demanda equivalente. Até aqui, suas considerações refletem
meramente a estipulação de conceitos opostos de conhecimento. O que dizer sobre suas
outras objeções ao argumento do conhecimento? Popper pensa que as objeções (2) e (3),
especialmente, mostram que a introspecção é um método legítimo em psicologia. Esta
inferência é fraca, embora (2) e (3), como tais, sejam plausíveis. Schlick (1918/1925)
poderia argumentar que para os experimentos psicológicos serem possíveis, devem-se
conectar conceitos mentais a conceitos do que seja inter-subjetivamente acessível. Mesmo
quando temos um acesso introspectivo a (alguns) estados e processos mentais, tal acesso
não basta para salvaguardar reivindicações de conhecimento. Por exemplo, quando falamos
do modo como as coisas nos parecem, o quão distantes, ou grandes, elas nos apresentam,
nossas afirmações fazem sentido apenas se são explicadas por uma referência inter-

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Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

subjetiva compartilhada a respeito de como as coisas realmente são; e tal referência é


usualmente dada pelos objetos do espaço tridimensional. Finalmente, a objeção (4) é
meramente ad hominem e a (5) é duvidosa também, pelo menos de um ponto de vista atual.
Todavia, essa discussão exigiria levarmos em consideração opções hoje disponíveis, (p. ex.,
Davidson, 1980, ch. 11), mas que Popper desconhecia.
Mas ainda que os argumentos de Popper não fossem todos convicentes, eles
tiveram, talvez, algum efeito sobre Bühler. Afinal, os Empiristas Lógicos logo
desenvolveriam argumentos novos, semânticos, para o fisicalismo: a linguagem psicológica
pode ser completamente traduzida em linguagem física, p. ex., de comportamentos
publicamente observáveis, que podem assegurar o lugar da psicologia no contexto do
programa de unidade da ciência (p. ex., Carnap, 1932; Neurath, 1933). Obviamente, esta
estratégia, se bem sucedida, iria garantir novamente a unidade na psicologia – não obstante,
de um modo que Bühler recusaria. Como bem se sabe, Carnap favoreceu o fisicalismo por
causa do problema das sentenças protocolares. Como poderia a base empírica da ciência
libertar-se da suspeição de que tratava meramente de dados de sentido subjetivo? Como
esta poderia tornar-se, de fato, universalmente válida? Uma coisa que uma correta análise
linguística da ciência envolveria, Carnap argumentou (1932, pp. 136-142), era a eliminação
de qualquer expressão linguística cuja referência variasse conforme o contexto de sua
emissão. Por exemplo, “Eu ouço uma voz aqui e agora” deveria ser substituida
(aproximadamente) por “Em maio de 1930, no círculo de Bühler em Vienna, Carnap ouve
uma voz”. Termos indexicais como “eu”, “aqui”, “agora” não teriam lugar numa linguagem
científica própria. Bühler (1934, p. 36; cf. p. 104f.) achou o preço alto demais: eliminar
essas expressões “deíticas” seria “suicídio científico”, uma vez que isto significaria a
destruição de uma parte fundamental do contato humano, cognitivo e linguístico, com a
realidade. Ainda que os argumentos de Popper contra o fisicalismo não seguissem nesta
direção, eles defendiam que os primeiros argumentos de Bühler não funcionavam contra
todas as versões do fisicalismo – especialmente contra aquelas desenvolvidas mais
proximamente dele.

26
Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

Eu retorno agora à questão (iii) deixada em aberto anteriormente (2.3.): pode-se


estender a estratégia de Bühler a outros domínios da psicologia? E a proposta de Popper, de
aplicar o método transcendental para o domínio do pensamento? Para começar, enquanto
ele tenta moldar sua dedução transcendental conforme a de Bühler, ocorre também, aqui,
uma importante des-analogia. Popper (1928, p. 2f.) diz que, dependendo do tópico
estudado, pode ocorrer que às vezes um aspecto, noutras vezes outro aspecto ou método,
assumam o controle de uma determinada pesquisa. Ele pensa que “uma descrição
satisfatória do ‘Mental’” é possível apenas através da “cooperação” (Zusammenwirken)
entre todos os três aspectos (ibid.). Porém, em seu estudo, não vai muito além deste ponto.
Bühler, em contraste, começa com uma análise de funções da linguagem que são, ambas,
necessárias e sistematicamente relacionadas. O que Popper argumenta é apenas que há
campos em psicologia onde se requer uma análise do comportamento, outros onde a
introspecção é necessária, e outros ainda onde precisamos estudar os produtos objetivos da
mente. Ele não mostra como as três partes são sistematicamente relacionadas umas às
outras; não há nenhum elemento unificador em suas considerações. Por exemplo, seus
argumentos para a necessidade de se estudar o comportamento propositivo de animais não
requer introspecção nem tampouco o estudo de produtos ou representações objetivas. Sob o
aspecto da experiência subjetiva, Popper nem mesmo fornece qualquer indicação sobre a
função que o pensamento exerce aqui. O que teria sido requisitado – e o que Bühler fez
para o estudo da linguagem – seria refletir sobre a natureza do pensamento. O que torna
possível que um mesmo e único pensamento desempenhe funções diferentes, mas
relacionadas, e possa portanto ser visto de acordo com os aspectos? Ao mesmo tempo, para
que haja sentido nisto como sendo uma extensão do trabalho de Bühler, as funções
identificadas têm que diferir das funções da linguagem. Uma ideia difícil seria dizer que,
primeiro, um ato concreto do pensamento é necessário para tornar possível a produção de
um raciocínio encadeado. Não podemos formular inferências, chegar a decisões bem
consideradas e assim por diante, a não ser que tenhamos – ao menos em princípio – acesso
subjetivo às diferentes etapas em nossa cadeia de raciocínio. Atos de pensameno podem
servir pra isso. O que dizer sobre o apelo da função do pensamento? Devido às diferenças

27
Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

entre linguagem e pensamento, não podemos supor que seja encontrada na indução direta
de terceiros a determinados comportamentos – já que esta indução tem que ser feita por
meio da linguagem ou de gestos. Uma opção, aqui, seria usarmos atos de pensamento para
simular o apelo para uma outra pessoa, a fim de antecipar sua reação, e assim
sucessivamente. Isto pode, certamente, ser propositivo para desenvolver e implementar
planos de ação. Finalmente, a respeito do terceiro aspecto, o olhar de Popper para a lógica
ou a ciência como formações objetivas da mente é um bom ponto de partida. Isto é assim
porque tais “formações” desempenham um papel óbvio nas atividades do raciocínio,
conforme observadas sob o segundo e terceiro aspectos.
Note-se aqui que eu não defendo tal ideia. O ponto é, meramente, indicar o que na
verdade requer a extensão da estratégia de Bühler.

4. Conclusão
Enquanto a tentativa (de Popper), aqui examinada, de estender a abordagem de
Bühler sofria de sérios problemas, esta abordagem não estava fadada ao fracasso. O
conceito de crise de Bühler e sua abordagem kantiana andaram de mão dadas: se a crise da
psicologia fosse crônica, ou revelasse uma inerradicável fragmentação na psicologia, tanto
a questão de como a psicologia é possível quanto o método transcendental de identificação
de métodos, que sejam diferentes mas relacionados, seriam supérfluos. Mas Bühler não
acreditava que a crise fosse crônica e não havia nenhuma razão de princípio para pensar
que tal fragmentação não pudesse ser superada. É verdade que Bühler não alcançou uma
unificação da psicologia como um todo – uma tarefa que ele nunca fingiu alcançar e que
seria de toda forma por demais ambiciosa. No entanto, sua incorporação da pesquisa sobre
a da linguagem, através de uma reflexão acerca de quais métodos tem que ser usados em
um estudo abrangente da “unidade” fundamental (o signo em uso, o ato da fala), foi um
exemplo impressionante.
Além disso, Bühler e Popper tiveram boas razões para rejeitar a ideia de que a
psicologia deveria começar tudo de novo, do zero, uma tendência encontrada entre autores
tão diversos quanto Driesch, Vygotsky, ou os Empiristas Lógicos. Ao mesmo tempo,

28
Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

Bühler não se furtou a abordar a crise – uma reação também comum na época (p. ex. Wirth,
1927, 108f.). Existe algo a respeito da percepção da crise que se deve lidar com
propriedade, através da reflexão crítica a respeito das pressuposições metodológicos e
teóricos nas pesquisas psicológicas correntes. A abordagem kantiana moderada permitiu
que Bühler e Popper usassem afirmações e teorias empíricas como pontos de partida para
suas “deduções transcendentais” de aspectos e metodologias.
Finalmente, comparemos suas noções e reações moderadas ao dramático discurso da
crise encontrado em autores tão diversos como Binet, Kostyleff e, posteriormente em Kuhn
(1962/1970). O conceito que Bühler faz de “crise” não é associado à suposição de que a
crise deva ser resolvida por uma “revolução” que substitua um paradigma por outro. Ao
invés disso, diferentes abordagens podem e devem ser integradas.
Deste modo, a “crise” pode ser uma categoria agente – ao contrário de Kuhn, que a
considerou primordialmente como uma categoria analítica. Cientistas que pensam que seu
campo está em crise podem reagir à situação aumentando o meta-nível; mas eles também
devem refletir sobre que método usar em que nível. As ideias de Kuhn pareciam, todavia,
quase inevitáveis para os psicólogos que refletiam sobre o desenvolvimento de sua
disciplina (p. ex., Weimer e Palermo, 1973; Staats, 1983; Westmeyer, 1994; Greenwood,
1999). Na medida em que Kuhn hesitava em ver a crise como um agente, não é sem ironia
que sua visão tenha se tornado tão influente na auto-caracterização dos psicólogos durante a
“revolução cognitiva” desde os anos 1960 (p. ex., Weimer e Palermo, 1973. Não é certo
que isso tenha tido muito efeito sobre a pesquisa psicológica concreta.

Agradecimentos

Muito obrigado ao John Carson, Uljana Feest, Horst Gundlach, Gary Hatfield, Annette
Mülberger, e a dois peritos anônimos pelas várias sugestões e críticas. Também sou grato
ao Vienna University Archive, especialmente a Kurt Mühlberger and Edwin Glassner, e ao
Forschungsstelle und Dokumentationszentrum für österreichische Philosophie (Graz),
especialmente to Alfred Schramm e Ulf Hoefer, pelos materiais do espólio literário de

29
Cabeço: Bühler e Popper: Terapias kantianas

Bühler. Finalmente, recebi apoio do Max Planck Institute for the History of Science
(Berlin), e do Spanish Ministry for Science and Innovation (Madrid), número de referência
FFI 2008-01559/FISO.

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