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ISSN 2318-8014
1 INTRODUÇÃO
A utilização de medicamentos tem por finalidade auxiliar no diagnóstico, prevenção,
tratamento e alívio de doenças sendo estes efeitos alcançados por meio de uma ou mais substâncias
ativas, que sejam comprovadamente terapêuticas. Essas substâncias, que compõem o produto,
recebem o nome de fármacos, drogas ou princípios ativos (ANVISA, 2010) e são selecionadas de
acordo com seu objetivo terapêutico. No entanto, com a crescente demanda e produção de novos
fármacos na indústria farmacêutica, houve aumento no uso indisciplinado de medicamentos, como
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X Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG & VIII Salão de Extensão
2 FARMACODERMIA
As farmacodermias são reações adversas a medicamentos (RAM), também conhecidas como
erupções medicamentosas, reações cutâneas por medicamentos (RCM), tóxico esteroides e
dermatoses medicamentosas. Tais alterações correspondem a uma reação alérgica ocasionada após a
administração de um medicamento (via oral, parenteral, tópica ou nasal), levando ao aparecimento
de lesões dermatológicas, que podem variar de tamanho, aspecto e gravidade. Em casos mais graves,
pode ocorrer o desenvolvimento da Síndrome de Stevens-Johnson ou a necrólise epidérmica tóxica
(NET) (CABALLERO, 2004). Nesses casos, as RAM podem contribuir para o aumento da
mortalidade de pacientes, assim como prolongar o tempo de internação ou ainda causar novas
hospitalizações (CRF, 2021).
As reações adversas cutâneas podem ser classificadas pela sua origem imunológica ou não
imunológica. Nos casos de reação não imunológica, a afecção é desencadeada por meio de
propriedades químicas ou físicas de determinado agente ou metabólito, é de caráter dose dependente,
de maneira previsível e não apresenta relação imunomediada (SCHNYDER & BROCKOW, 2015).
Diferentemente das reações adversas a medicamentos que representam efeito colateral, superdosagem
e/ou interação medicamentosa, a farmacodermia surge de uma reação de hipersensibilidade causada
pela resposta imunológica individual do indivíduo (SILVA & ROSELINO, 2003). Dessa maneira,
quando a droga é aplicada, torna-se capaz de gerar uma resposta de hipersensibilidade devido a
formação de anticorpos específicos contra aquele agente, mais comumente após a segunda exposição
do medicamento. Entretanto, em alguns animais a reação pode ser observada na primeira
administração, onde o fármaco ativa a cascata de reação alérgica sem a formação do complexo
antígeno-anticorpo (SANTOS, 2015).
Os medicamentos mais observados em situações de farmacodermia são os antibióticos,
principalmente as penicilinas e outros β-lactâmicos, medicamentos inibidores da enzima conversora
da angiotensina (IECA), insulina, anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), diuréticos,
anticonvulsivantes e anestésicos (SANTOS, 2015). Em casos onde as farmacodermias são causadas
por antibióticos, como as penicilinas e β-lactâmicos, essas alterações imunológicas geralmente irão
ocorrer após a segunda exposição do paciente ao fármaco (SILVA & ROSELINO, 2003). Nesses
casos não é indicado utilizar antibióticos que fazem parte do mesmo grupo farmacológico para a
continuidade do tratamento (NAYAK & ACHARJYA, 2008).
Tabela 1.: Classificação das reações de hipersensibilidade de acordo com o mecanismo envolvido
Classificação da
Manifestações clínicas
reação de Mecanismo Envolvido Drogas Envolvidas
dermatológicas
hipersensibilidade
- Penicilina
- Proteínas de alto
Mediada por IgE ligada
peso molecular: anti
a receptores de - Urticária
soros heterólogos,
mastócitos => -Angioedema
Tipo I insulina
degranulação e -Broncoespasmo
-Anti-inflamatórios
liberação de aminas -Anafilaxia
-Inibidores da
vasoativas
enzima conversora
da angiotensina
- Penicilinas
- Metildopa - Anemia
Citotoxicidade => IgM
-Fenotiazínicos - Hemolítica
ou IgG dirigidos contra
Tipo II -Sulfonamidas - Trombocitopenia -
antígenos (droga) na
-Quinidina Petéquias
superfície da célula
-Heparina - Nefrite
-Meticilina
- Anti-
sorosheterólogos
- Penicilinas
- Cefaclor
- Doença do soro like
Tipo III Imunocomplexos - Alopurinol
- Vasculites
- Fator estimulante
de colônia de
granulócitos
- Propiltiouracil
- Penicilinas
Não identificado como - Sulfas -Exantema Morbiliforme -
Não Classificada
único - Anti-inflamatórios Outras
- Anticonvulsivantes
Fonte: Adaptado de LIMA (2020).
2.2 Epidemiologia
A estimativa é de que 5% a 15% dos pacientes que fazem tratamento com algum fármaco
acabem desenvolvendo reações cutâneas medicamentosas (SILVARES et al., 2008). Entre as RCM
já relatadas, as farmacodermias representam de 10% a 30% das ocorrências (CONSELHO
REGIONAL DE FARMACIA, 2021) e dependem de fatores como: idade, sexo, raça, herança
genética, gravidez, histórico de doença prévia e utilização concomitante de outros medicamentos
(FERREIRA et.al., 2019). De acordo Amarante (2012), um estudo evidenciou que a predisposição
racial não tem relevância para essa patologia, já que diversas raças como Pinscher (3,1%), Chow
Chow (2,4%), Teckel (1,5%), Pit Bull (1,4%), Poodle (0,5%) e o SRD (0,4%) foram acometidas.
2.4 Diagnóstico
O diagnóstico de farmacodermia é difícil, visto que grande parte dos pacientes recebem
diversos medicamentos simultaneamente. Dessa forma, é recomendado inicialmente a suspensão de
todos os fármacos seguido da realização exames laboratoriais, como por exemplo a biópsia da pele,
visando a exclusão de outras possíveis afecções dermatológicas. Outra possibilidade, é a realização
do exame marcador bioquímico, os quais se tratam de células específicas, moléculas, genes, enzimas
ou hormônios que passam por um processo de medição e indicam a ocorrência de resposta normal ou
patológica a um agente farmacológico. No entanto, alguns fármacos não são detectados nesse tipo de
método (LARSSON & LUCAS, 2016).
2.5 Tratamento
O tratamento das farmacodermia deve ser instituído de forma individualizada, conforme o
quadro clínico do paciente. Em casos mais graves recomenda-se a internação do paciente com a
realização protocolos de suporte como incluindo a reposição de eletrólitos, dieta hiperprotéica,
antibioticoterapia, fluidoterapia intravenosa, aplicação de soluções antissépticas sobre as lesões e
analgesia para a dor (PÉREZ & YABOR, 2001).
3 METODOLOGIA
A revisão bibliográfica foi realizada por meio de consultas em materiais científicos, incluindo
artigos científicos e livros, e em ambiente digital, como as plataformas PubMed, Scielo. A pesquisa
dos artigos foi realizada no período de 18 de abril a 27 de junho de 2022, utilizando as seguintes
palavras chaves em português: farmacodermia, efeitos adversos de medicações, sistema tegumentar,
dermatologia. Os indexadores em inglês utilizados foram: Pharmacodermia, adverse effects of
medications, integumentary system, dermatology. Os critérios de escolha dos materiais para consulta
incluíram a abordagem de cada estudo, com preferência a trabalhos que apresentavam resultados
sobre efeitos adversos cutâneos causados por medicamentos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da farmacodermia ser considerada como uma afecção de baixa ocorrência na
Medicina Veterinária, a mesma pode acarretar em casos de mortalidade caso não haja o diagnóstico
precoce do fármaco causador e principalmente a suspensão do mesmo. Por este motivo, é importante
que haja o acompanhamento de pacientes internados e pós internação, que estejam fazendo tratamento
com diferentes fármacos, para que se possa ter maior rastreabilidade do medicamento causador da
farmacodermia e dessa forma fazer a suspensão imediata do mesmo, assim como o tratamento
adequado das lesões.
5 REFERÊNCIAS
LARSSON, C.E.; LUCAS, R. Tratado de medicina externa: dermatologia veterinária. 1.ed. São
Paulo: Interbook, 2016.
MELO, M..E.F de; PORFIRO, C.A; DANTAS, L.A; NETO FILHO, M.A.; TRICHES, C.M.F;
SANTOS, JSG dos. Principais classes farmacológicas relacionadas com a farmacodermia.
Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento, [S. l.], v. 11, n. 2, pág. e8011225492, 2022. DOI:
10.33448/rsd-v11i2.25492. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/25492.
Acesso em: 3 jul. 2022.
NAYAK, S., ACHARJYA, B. Adverse cutaneous drug reaction. Indian Journal of dermatology,
v. 53, n. 1, p. 2, 2008.
PÉREZ, O.P.; YABOR, V.A. Necrólisis epidérmica tóxica: descripción de 1 caso. Revista Cubana
de Pediatria, v. 73, n.4, p. 245-248, 2001.
SANTOS, F.P; QUITÉRIO, L.M; PINTO, V.B; GOMES, L.B. Farmacodermia: identificação dos
tipos, medicamentos envolvidos e classes farmacológicas que acometem pacientes internados na
clínica dermatológica. Revista Brasileira de Farmácia. v.6 n.2. São Paulo, abril/junho de 2015.
Disponível em: < https://www.rbfhss.org.br/sbrafh/article/view/223/224> Acesso em: 20 de junho
de 2022.
SÃO PAULO: Grupo Técnico de Trabalho de Farmácia Clínica, 2021. CONSELHO REGIONAL
DE FARMÁCIA.
SCHNYDER, B.; BROCKOW, K. Pathogenesis of drug allergy – current concepts and recent
insights. Clinical and Experimental Allergy, v.45, p.1376-1383, 2015.