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Caroline Serrano - 142

Dermato

Farmacodermias
CONCEITO
Afecções tegumentares e/ou sistêmicas produzidas pelo uso de
medicamentos, sendo os mais frequentes causadores de farmacodermias as sulfas,
antibióticos, analgésicos/antiinflamatórios e tranquilizantes.

EPIDEMIOLOGIA
● Correspondem a 3 a 6% de internações hospitalares
● 5 a 30% apresentam durante a internação
● Estão entre as principais causas de morte em dermatologia
● Crianças → menos frequente (imaturidade imunológica e ausência de
exposição prévia a múltiplos medicamentos)
● Idosos → alterações relacionadas à farmacocinética das drogas e ao uso de
múltiplos medicamentos
● Fatores genéticos → drogas indutoras de Lúpus Eritematoso, deficiência
genética da enzima G6PD levando à anemia com uso de determinados
fármacos…
○ HLA I e II predisposição genética para certas entidades (HLA-B*1502
SSJ com a carbamazepina)
● Fator climático → reações de fotossensibilidade

MECANISMOS

As reações medicamentosas adversas são desencadeadas por mecanismos


imunológicos e não imunológicos. As reações de natureza imunológica são
chamadas de alergia medicamentosa. RMA por mecanismos não imunológicos são
muito mais frequentes, e incluem as interações medicamentosas. A utilização de
fármacos costuma desencadear a produção de anticorpos, embora sem
expressão clínica

REAÇÕES IMUNOLÓGICAS
● Reações alérgicas → 4 tipos de hipersensibilidade Gell e Coombs
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○ Tipo I → dependentes de IgE


■ As drogas que desencadeiam esta reação induzem à síntese
de IgE, que se liga aos mastócitos
■ Quadro clínico → urticária, angioedema e reações anafiláticas
■ Agentes → analgésicos, penicilinas, soros...

○ Tipo II → reação mediada por anticorpos, citotóxica


■ Púrpura trombocitopênica pelo sedormide
■ Penfigóides bolhoso

○ Tipo III → dependente de imunocomplexos


■ O antígeno e o anticorpo formam um complexo que fixa
complemento → esses imunocomplexos depositam-se nas
paredes vasculares, causando vasculite
■ Relativamente frequente
○ Tipo IV → reações mediadas por células
■ Hipersensibilidade celular retardada
■ Eczema de contato
■ Síndrome de Steven Johnson e a Necrólise epidérmica tóxica
● Reações cruzadas:
○ Drogas diferentes compartilham um mesmo radical
■ Sulfa, a fenolftaleína e anilina compartilham o mesmo anel
parafenilenodiamina
■ Penicilina e Cefalosporina → 10-15%
■ Piroxicam e Timerosol (antigo mertiolato)

REAÇÕES NÃO IMUNOLÓGICAS


● Efeito colateral ou secundário → sonolência/antihistamínicos
● Alterações metabólicas → Hidantoína, interferindo com a absorção de
folato, desencadeando estomatite aftosa
● Interações medicamentosas:
○ Rifampicina diminuindo a eficácia da pílula anticoncepcional
○ Probenecida interfere na excreção da penicilina
○ Concorrência pelo mesmo carreador ou receptor
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● Exacerbação da doença pré-existente → lítio e betabloqueadores,


desencadeando psoríase
○ Superdosagem: Não consegue nem metabolizar nem excretar o
excesso
● Alterações de equilíbrio ecológico → candidíase e diarreia, decorrentes da
alteração da flora intestinal por antibióticos
● Fotossensibilidade
● Efeitos tóxicos → aplasia de medula pelo cloranfenicol
● Fatores individuais → idiossincrasia
● Teratogenicidade
● Reação de Jarisch-Herxheimer

APRESENTAÇÕES CLÍNICAS

● Exantema
○ 2 semanas após uso de medicação
○ rash maculopapular eritematoso e pruriginoso
○ Curso benigno
○ TTO: suspender medicação
● Eritema fixo → mancha avermelhada que surge no mesmo local após o
paciente tomar uma determinada medicação
○ Lesões únicas ou múltiplas
○ Ex.: anti-inflamatórios não esteroidais (AINE), dipirona e sulfas.
○ Inicialmente eritemato edematosa que evolui para hipercromia de
natureza melânica e tende a se intensificar mediante novas
exposições
■ Eritematosas -> acastanhadas
■ Pode ser doloroso e ter sensação de ardência
■ Pode evoluir para hiperpigmentação tecidual
■ A cada nova exposição -> lesões nos mesmos locais

● Eritema de contato
○ É uma erupção eritematosa vesiculosa, pruriginosa, circunscrita à área
de contato do remédio; decorre de um mecanismo de
hipersensibilidade retardada (tipo IV)
● Despigmentação → prurido
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● Atrofias
○ Uso de corticoides fluorados tópicos
○ Estrias atróficas, principalmente de localização na região
inguinocrural, são relativamente comuns, em decorrência do
acréscimo de corticosteróides aos antimicóticos locais, com
uso recorrente
● Erupções acneiformes
○ Pústulas e pápulas
○ Ausência de comedões
● Fotoonicólise → descolamento das unhas (clássico com Tetraciclina
como doxiciclina)

EXEMPLOS DE FARMACODERMIAS

● Eritema nodoso → nódulos dolorosos de localização pré-tibial


(preferencialmente), acompanhados ou não de manifestações sistêmicas
○ Diagnóstico diferencial: tuberculose e
hanseníase
● Eritrodermia esfoliativa → erupção universal,
atingindo todo o tegumento,
eritematoescamosa, com prurido intenso
○ Diagnóstico sindrômico → eritema e
descamação em mais de 90% de área
corporal acometida
○ Exemplos → psoríase, farmacodermias, eczemas
● Vasculites → erupções decorrentes do comprometimento da parede dos
vasos
○ Desaparece à vitropressão
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● Urticárias → a urticária por drogas envolve mecanismos imunológicos,


reações do tipo I (anafilaxia), por ativação do complemento e não
imunológicas (substâncias capazes de liberar histamina do mastócito por
ação direta, tais como ácido salicílico, morfina, codeína, tubocurarina,
polimixina B, tiamina, quinina e papaverina)
○ Forma imediata após 30 minutos da medicação
○ Urtica ou ponfo: placas eritematosas com centro pálido, edematosas
e pruriginosa.
○ Pode ter evolução para angioedema (50%) -> edema de glote ->
choque anafilático
○ Tratamento: suspensão da medicação + anti-histamínicos
○ Choque anafilático: adrenalina 0,5 ml IM/SC

● Erupções vesicobolhosas → podem ser desencadeadas por medicamentos


tais como brometos, iodetos, D-penicilamina, captopril, penicilina, etc
○ Erupção assemelha-se ao pênfigo, penfigóide e dermatite
herpetiforme
● Fotossensibilidade → erupções eritematosas,
eritematopapulosas e vesicobolhosas, em áreas
expostas ao sol, podem ocorrer com o uso de
medicamentos ativos fotoquimicamente e capazes
de absorver a luz como a clorotiazida, tetraciclinas,
fenotiazinas sulfonamidas, griseofulvina e retinóides
○ Fototóxica: medicação deixa a pele mais sensível a exposição solar,
fazendo queimaduras
○ Fotoalérgica: Quando exposta ao sol o medicamento é reconhecido
como alérgeno, surge eczema

● Lúpus eritematoso sistêmico-símile → manifestações cutâneas e o


envolvimento renal são menos frequentes
○ Células LE e FAN sempre positivas
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○ Anticorpo anti duplo DNA é sempre negativo


○ Griseofulvina, sulfas, difenil-hidantoína, hidralazina, isoniazida,
penicilina, reserpina, fenilbutazona, procainamida
● Eritema polimorfo → lesões eritematosas, com expansão centrífuga,
podendo atingir alguns centímetros
○ Um halo eritematoso se forma em torno da parte central, que é mais
plana, escura e purpúrica, a clássica lesão em alvo ou em íris com três
zonas → púrpura central, halo pálido e elevado e eritema periférico
■ Lesão clássica: em alvo
● Apresenta 3 anéis concêntricos, diferentes colorações
com bordas elevadas
■ Das extremidades para o tronco
○ Nos casos mais intensos evoluem com bolhas
○ Localizações preferenciais → dorso das mãos e dos pés e face
extensora dos membros
■ As mucosas são atingidas em 20-45%
○ Prurido e sensação de ardência ocorrem com frequência
○ Síndrome de Stevens-Johnson é um quadro dermatológico de EP, que
evolui com extrema gravidade

● Síndrome de Stevens-Johnson → quadro de eritema polimorfo


cutâneo-mucoso grave acompanhado de bolhas, com febre, cefaléia,
dores musculares e articulares
○ É a mesma doença que a necrólise epidérmica tóxica, mas com
espectros diferentes
○ Comprometimento grave de mucosas (uretrite, estomatite, balanite,
vulvovaginite, conjuntivite, uveíte) e de outros órgãos (pulmão, rins...)
○ Sulfas, penicilinas, alopurinol, barbitúricos e hidantoína
○ Desnudamento ocorre em menos de 10% do corpo
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● Necrólise epidérmica tóxica → quadro grave, podendo evoluir para o êxito


letal, caracterizado por erupção generalizada, com bolhas extensas, rasas e
vasta área de necrose epidérmica, lembrando um grande queimado
○ Ex.: Sulfas, barbitúricos, penicilinas, salicilatos
○ Desnudamento ocorre em mais de 30% da superfície corpórea
○ Inicia com sintomas gripais como coriza, mal estar, astenia ou diarreia
○ Rash maculopapular eritematoso com disseminação do centro para
extremidades, doloroso e com lesões em alvo atípicas
○ Sinal de Nikolsky positivo: indica desnudamento quando aperta a
pele. Está positivo apenas nas áreas acometidas
○ 2 ou mais áreas de lesões mucosas
■ Mucosa ocular
■ Placas na língua
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● Doença do soro → caracteriza-se por urticária, artralgia, febre, mal-estar,


linfadenopatia, sendo decorrente do tipo de hipersensibilidade por
imunocomplexos
○ Imunossoros e penicilina
● Choque anafilático → reação do tipo I (anafilaxia) e reação do tipo III
(formação de imunocomplexos → antigenia de certos medicamentos com
os imunosoros)
○ Urticária, hipotensão, sudorese e hipotermia
● Síndrome de hipersensibilidade à droga (DRESS) → Drug Reaction with
Eosinophilia and Systemic Symptoms
○ Erupção cutânea, eventualmente grave, linfoadenopatia
generalizada, hepatite, artralgia, febre e eosinofilia
■ Acomete mais o fígado > rins > pulmões
○ 1 mês a 8ª semana de tratamento
○ Mais frequente em negros
○ Fatal em cerca de 10%
○ Tipicamente causada por anticonvulsivantes aromáticos → fenitoína,
fenobarbital e carbamazepina
■ Sulfonamidas, minociclina, talidomida, dipirona, ranitidina
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● TTO: suspender a medicação + corticóide -> regride em 2 meses

DIAGNÓSTICO

● Anamnese
● Quadro clínico → deve-se desconfiar de quadros clínicos atípicos ou com
evolução atípica

TRATAMENTO

● Eliminar o uso da droga


● Adrenalina, corticóide venoso, traqueostomia...
● Terapêutica adequada a cada caso
● Profilaxia → a frequência que ocorrem as farmacodermias e a gravidade
impõem ao médico reflexão antes de indicar qualquer terapêutica

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