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OLHO VERMELHO

Prof. Dra. Bruna Melchior


Graduação, Residência, Fellow e Doutorado - USP
Research Fellow - Columbia University (NY, USA)
📍 Santos, SP
@drabruna.oftalmologista

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DOR OCULAR

u Dor ocular = hiperemia ocular (salvo raras exceções)


1. Dor de superfície
§ “Arranha”, sensação de areia/corpo estranho, dificuldade para abrir (piora ao
piscar), melhora com anestésico tópico
§ Possíveis causas: corpo estranho, olho seco, abrasão corneana (trauma)

2. Dor intraocular
§ Dor em peso ou latejante ou no fundo do olho, podendo estar associado a fotofobia,
dor à movimentação ocular e/ou baixa visão
§ Possíveis causas: esclerite/episclerite, uveíte, glaucoma agudo

u Dor palpebral
§ Dor à palpação, hiperemia local, possível edema
§ Possíveis causas: hordéolo, dacrioadenite, dacriocistite, blefarite, trauma, celulite

É importante diferenciar os sintomas para tentar identificar a causa.

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BLEFARITE

u Inflamação das margens palpebrais


§ Aguda x crônica
§ Anterior (crostas nos cílios) x posterior (meibomite)
u Fisiopatologia mal estabelecida
§ Pesquisa EUA: 37% dos pacientes
u Sinais/sintomas margens palpebrais: coceira,
hiperemia, dor discreta, “caspas”, olho seco,
hordéolos de repetição
u Tratamento:
1. Higiene palpebral com shampoo neutro +
compressa morna + colírio lubrificante
2. Pomada antibiótica + corticoide s/n
3. Encaminhar ao Oftalmologista, se não houver
melhora

1. A blefarite é uma condição oftalmológica caracterizada por uma inflamação das


margens das pálpebras. Pode ser aguda ou crônica, sendo a crônica a forma mais
comum. Pode ainda ser definido pela localização do problema, anterior e posterior.
Geralmente apresenta sintomas recorrentes que podem variar ao longo do tempo e
envolver ambos os olhos. A blefarite é um diagnóstico clínico baseado na irritação das
margens das pálpebras com descamação e formação de crostas nos cílios.

2. Na blefarite anterior, está envolvida uma infecção, geralmente estafilocócica, ou


processo de doença seborreica. Os indivíduos freqüentemente apresentam dermatite
seborréica na face e no couro cabeludo. Além disso, a blefarite anterior pode estar
associada à rosácea. A disfunção da glândula meibomiana causa blefarite posterior. As
glândulas secretam excessivamente uma substância oleosa, ficando obstruídas e
ingurgitadas. Geralmente, isso está associado à acne rosácea e há suspeita de causas
hormonais.

3. O principal tratamento para a blefarite é uma boa higiene das pálpebras e eliminação
dos gatilhos que agravam os sintomas. Antibióticos tópicos podem ser prescritos.
Pacientes refratários a essas medidas necessitam de encaminhamento a um
oftalmologista. O objetivo do tratamento é aliviar os sintomas. Como a maior parte da
blefarite é crônica, os pacientes precisam manter um bom regime de higiene para
prevenir recorrências.

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HORDÉOLO (“TERÇOL”)

u Infecção bacteriana aguda da margem palpebral


§ Hordéolo externo = abscesso no folículo do cílio
§ Hordéolo interno = infecção nas glândulas meibomianas ou de Zeiss

u Staphylococcus aureus (90%)

u Tratamento
§ Compressa morna 4x/dia
§ Pomada ATB + corticoide 4x/dia
§ Lubrificante

1. Uma infecção bacteriana aguda da margem palpebral, 90% a 95% dos casos de
hordéolo são devidos ao Staphylococcus aureus, sendo o Staphylococcus epidermidis a
segunda causa mais comum. Um hordéolo externo representa uma formação de
abscesso localizado no folículo de um cílio, enquanto um hordéolo interno é uma
infecção bacteriana aguda das glândulas meibomianas da pálpebra.

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OLHO SECO

u 5-50% da população
u Doença multifatorial
§ Doenças autoimunes
§ Medicamentos (antidepressivos, roacutan, anticolinérgicos, colirios de glaucoma,
anti-histamínicos…)
§ Cirurgias e comorbidades oculares, uso de lentes de contato, alergias
§ Uso de telas, ar condicionado
§ Fatores ambientais (baixa umidade, poluição, fumaça de cigarro…)
u Sintomas crônicos: olho vermelho, sensação de olho seco, sensação de areia
u Complicações: dor, queda da qualidade de vida, lesões corneanas, baixa visão
u Tratamentos
§ Controle dos fatores desencadeantes
§ Colírios lubrificantes, pomadas lubrificantes para dormir, higiene palpebral
§ Oftalmologista: medicações específicas, cirurgias

1. O olho seco é uma doença multifatorial da superfície ocular caracterizada por uma
perda da homeostase do filme lacrimal e acompanhada por sintomas oculares, nos
quais a instabilidade do filme lacrimal e a hiperosmolaridade, a inflamação e os danos
da superfície ocular e as anormalidades neurossensoriais desempenham papéis
etiológicos.

2. O filme lacrimal tem aproximadamente 2 a 5 µm de espessura sobre a córnea e é


composto de três componentes principais. Esses componentes (lipídicos, aquosos e
mucina) são frequentemente descritos como camadas, embora isso possa ser uma
simplificação exagerada do ambiente do filme lacrimal. A camada mais superficial, a
camada lipídica, é produzida pelas glândulas meibomianas das pálpebras e funciona
reduzindo a evaporação das lágrimas. A camada aquosa média é o componente mais
espesso do filme lacrimal e é produzida pelas glândulas lacrimais, localizadas nas
órbitas, e pelas glândulas lacrimais acessórias (glândulas de Krause e Wolfring) na
conjuntiva. A camada basal é composta por mucinas, ou glicoproteínas, e é
predominantemente produzida por células caliciformes conjuntivais. As mucinas
aumentam a propagação do filme lacrimal sobre o epitélio da córnea através da
regulação da tensão superficial

3. Possíveis causas:
§ Medicamentos sistêmicos, como anti-histamínicos, anti-hipertensivos,
ansiolíticos/benzodiazepínicos, diuréticos, hormônios sistêmicos, antiinflamatórios
não esteroides, corticosteroides sistêmicos ou inalados, medicamentos
anticolinérgicos, isotretinoína (causa atrofia da glândula meibomiana) e
antidepressivos
§ Os medicamentos tópicos incluem colírios para glaucoma ou toxicidade de

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conservantes de colírios
§ Doenças de pele nas pálpebras ou ao redor delas, como rosácea ou eczema
§ A disfunção da glândula meibomiana é uma comorbidade comum com
espessamento e eritema das pálpebras e secreções inadequadas ou alteradas das
glândulas meibomianas.
§ Cirurgia oftalmológica, incluindo cirurgia refrativa, cirurgia de catarata,
ceratoplastia e cirurgia de pálpebras.
§ Queimaduras químicas ou térmicas que cicatrizam a conjuntiva.
§ Alergias oculares.
§ O uso do computador ou dispositivo, pois isso pode diminuir o piscar ao olhar para
a tela.
§ Dosagens excessivas ou insuficientes de vitaminas, especialmente deficiência de
vitamina A, podem causar xeroftalmia
§ Sensibilidade diminuída na córnea devido ao uso prolongado de lentes de contato,
infecções por vírus do herpes ou outras causas de córnea neurotrófica.
§ Doença do enxerto contra hospedeiro.
§ Doenças sistêmicas, que incluem síndrome de Sjogren e outras doenças autoimunes
ou do tecido conjuntivo, como artrite reumatoide e lúpus, e doenças da tireoide
§ Os fatores ambientais incluem exposição a irritantes como vapores químicos,
fumaça de cigarro, poluição ou baixa umidade.

4. TRATAMENTO
O tratamento da síndrome do olho seco é realizado em uma abordagem gradual que pode
variar dependendo da gravidade da doença. As abordagens iniciais incluem educação sobre a
condição, modificação do ambiente (eliminação direta de alto fluxo de ar/ventiladores, tempo
reduzido de tela, umidificador), identificação e eliminação de agentes tópicos e sistêmicos
agressores, lubrificantes oculares tópicos e higiene das pálpebras (compressas quentes e
esfoliantes para as pálpebras). ), ácidos graxos essenciais orais.

A próxima etapa das opções de tratamento inclui lubrificantes oculares sem conservantes,
oclusão punctal reversível (tampões punctais), pomada noturna ou óculos de proteção contra
umidade, aquecimento assistido por dispositivo e/ou expressão das glândulas meibomianas,
terapia de luz intensa pulsada, anti- medicamentos inflamatórios (corticosteroides,
ciclosporina, lifegrast) e antibióticos orais (macrólido ou tetraciclina)

Outras opções de tratamento incluem colírios séricos, secretagogos orais ou tópicos, lentes de
contato terapêuticas, enxerto de membrana amniótica, oclusão punctal cirúrgica e tarsorrafia.

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HEMORRAGIA SUBCONJUNTIVAL

u Coleção de sangue circunscrita subconjuntival


u Olho calmo e assintomático!
§ Sintomas = somatização?
u Causas
§ Aumento PA (Valsalva, exercício físico, estresse, HAS…)
§ Trauma local
u Tratamento = expectante
§ Expectante, orienações, controle PA
§ Lubrificante s/n = placebo
§ Regride em até 2-3 semanas

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PTERÍGIO

u Crescimento fibrovascular da conjuntiva ocular


u Fatores de risco: raios UV e olho seco
u Sintomas: irritação ocular, astigmatismo
§ Oclusão do eixo visual

u Prevenção:
§ Proteção solar + lubrificante
u Tratamento: cirúrgico
§ Possibilidade de recorrência

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CONJUNTIVITE

u Viral
o Hiperemia, sensação de areia, lacrimejamento, prurido, secreção mucoide
o Linfonodo pré-auricular palpável
o Pode haver história de IVAS (adenovirus é o agente mais comum)
o Auto-limitada
o 4 dias a 3 semanas
o Muito contagiosa à cerca de 12 dias e enquanto estiver vermelho

o Tratamento:
§ Cuidado com contágio (contato direto e indireto)
§ Lavar secreçõo, compressa fria, colírio lubrificante à NÁO USAR CORTICOIDE!
§ Se edema palpebral intenso ou queda da visão à encaminhar Oftalmologista
§ Possíveis complicações

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CONJUNTIVITE

u Bacteriana não-gonocócica
§ Vermelhidão, sensação de corpo estranho, secreção purulenta
leve/moderada
§ Prurido é pouco proeminente

§ Tratamento
§ Auto-limitada, mas trata com colirio lubrificante e colírio antibiótico para amenizar
§ Melhora em até 48h

§ Pode precisar cultura


§ Acompanhar 2/2 dias até melhora
§ Sem melhora ou piora à encaminhar ao ofalmologista

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CONJUNTIVITE

u Bacteriana gonocócica (IST)


§ Vermelhidão, sensação de corpo estranho, secreção purulenta muito intensa,
início hiperagudo (12h após inoculação)
§ Pode acometer bebês com 12-48h de vida (transmissão no canal de parto)
§ RNs devem receber profilaxia tópica ao nascimento (colírio de nitrato de prata)

§ Bebês com conjuntivite bacteriana após 10 dias de vida à considerer Chlamydia

§ Tratamento:
§ Adultos: Ceftriaxona 1g IM + azitromicina 1g VO DU (considerar coinfecção Chlamydia)
§ Tratar parceiro sexual (igual)

§ Bebês: eritromicina VO
§ Encaminhar para avaliação oftalmológica de urgência
§ Risco de perfuração ocular rápida

1. O colírio usado em recem nascidos para prevenção de conjuntivite gonococica pode


causar conjuntivite tóxica, com hiperemia ocular, lacrimejamento e um pouco de
secreção mucoide, auto-limitada e dura cerca de 2 dias. O Quadro clínicao é bem
diferente da conjuntivite gonocócica, que tem secreção bem purulenta

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CONJUNTIVITE

u Alérgica
o Hiperemia, lacrimejamento, principal sintoma = coceira
§ Crônica à paciente atópico
§ Aguda à fator desencadeante

o Tratamento:
o Lubrificante
o Compressa gelada
o Antialérgico VO
o Eliminar agente desencadeante
o Encaminhar oftalmo
o Possíveis complicações

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ESCLERITE E EPISCLERITE

u Hiperemia + dor, sem secreção, sem prurido, sem fotofobia

u Episclerite – evolução benigna, auto-limitada


§ Não envolve a esclera, clareia com colírio vasoconstrictor (esclerite
não clareia)
§ Maioria idiopática, mas pode haver acometimento sistêmico
§ Maior probabilidade se bilateral
§ Pode ser tratado com colírio lubrificante e AINE s/n (cetorolaco)

u Esclerite – potencialmente grave


§ Pode estar associada a doenças infecciosas e auto-imunes
§ Encaminhar ao oftalmologista

1. EPISCLERITE: A episclera é um delgado tecido conjuntivo frouxo vascularizado


que se localiza entre a conjuntiva bulbar e a esclera, recoberto por uma capa de
tecido elástico, a cápsula de Tenon. A episclerite é uma inflamação aguda da
episclera, de evolução benigna e autolimitada, não trazendo risco á acuidade
visual do paciente. Na maioria das vezes é idiopática (70% dos casos), embora
possa ocorrer associada a doenças sistêmicas inflamatórias, com destaque para
as vasculites, a artrite reumatoide, LES e as espondiloartropatias soronegativas
(ex.: síndrome de Reiter, artrite enteropática). O mecanismo da episclerite é a
resposta imunológica de hipersensibilidade. A histopatologia revela edema,
vasodilatação e infiltrado linfocítico da episclera. A episclerite é mais comum em
mulheres jovens, embora possa ocorrer em qualquer faixa etária e também no
sexo masculino. O paciente se apresenta com um quadro agudo de olho
vermelho, com desconforto ocular e lacrimejamento. Tipicamente, não há dor
ocular intensa, fotofobia, borramento visual ou secreção. Na maioria das vezes
é unilateral. Os casos de bilateralidade são incomuns na forma idiopática e
devem sempre aventar a hipótese de uma doença sistêmica associada. O quadro
clínico geralmente resolve espontaneamente em poucos dias (2-21 dias). O
diagnóstico da episclerite é clínico. Diante de tal achado, é importante consultar
um clínico para avaliar a possibilidade de uma doença sistêmica. Exames de
sangue como hemograma, VHS, proteína C reativa e fator reumatoide são
geralmente solicitados.

2. ESCLERITE ANTERIOR: A esclerite anterior é uma desordem ocular


potencialmente grave, ameaçadora da visão, pelo risco de ulceração ou
perfuração escleral, envolvimento corneano secundário e associação com

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esclerite posterior. A associação com doenças inflamatórias sistêmicas está
presente em 50% dos casos, predominando a artrite reumatoide (presente em
1/3 dos casos). Outras doenças registradas em associação com esclerite anterior
são vasculites necrosantes (granulomatose de Wegener, poliarterite nodosa, LES,
policondrite recidivante, sarcoidose, doença inflamatória intestinal, sífilis,
tuberculose, zóster oftálmico. A patogênese da esclerite parece ser uma
vasculite imunomediada, gerando uma reação inflamatória crônica de caráter
granulomatoso. Nas formas mais graves, há necrose fibrinoide da parede
vascular que pode provocar trombose luminal e, consequentemente, isquemia e
necrose do tecido local. A esclerite anterior predomina em adultos, na faixa
etária entre 30-60 anos. Pode ser uinilateral, bilateral ou alternante (ora num
olho ora no outro). Manifesta-se com um quadro subagudo ou insidioso de olho
vermelho e importante dor ocular, o que a difere das conjuntivites, hemorragia
subconjuntival e da episclerite. Lembre-se de que a dor ocular é uma indicação
precisa de se encaminhar o paciente com olho vermelho ao oftalmologista!! A
dor costuma ser contínua e de forte intensidade, impedindo as atividades diárias
e atrapalhando o sono do paciente. Fotofobia e lacrimejamento também podem
ocorrer. Ao exame da lâmpada de fenda, o oftalmologista percebe vermelhidão
difusa ou localizada, associada a “injeção conjuntival e episcleral” e descoloração
violácea do “branco do olho” (importante sinal semiológico!). Ao toque, a lesão é
dolorosa e a aplicação de um colírio vasoconstrictor reduz a vermelhidão
proveniente da injeção conjuntival-episcleral, permitindo uma melhor
visualização da lesão escleral. A atividade inflamatória da esclerite anterior
costuma durar meses ou mesmo anos...

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UVEÍTE

u Inflamação do trato uveal (íris, corpo ciliar e/ou coroide)


u Sinais/sintomas: olho vermelho + dor + fotofobia + baixa visão
§ Não há secreção
§ A hiperemia é mais intensa ao redor da córnea

u Causas: auto-imune, Infecciosa (toxoplasmose, sífilis, herpes, CMV…)

u Conduta: encaminhar ao Oftalmologista


§ Tratamento = colírios corticoide e cicloplégico + tratamento da causa

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Obrigada!

@drabruna.oftalmologista

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