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Presidência da República

Ministério da Educação
Secretaria Executiva
Secretaria de Educação Básica
Diretoria de Formulação de Conteúdos Educacionais
Coordenação Geral de Materiais Didáticos

Equipe Técnico-Pedagógica – COGEAM/SEB


Carlos Francisco da Silva
Cristina Thomas de Ross
Edivar Ferreira de Noronha Júnior
Francisco Roberto Vasconcelos Lima 5 Apresentação
Gislenilson Silva de Matos
José Ricardo Albernás Lima
Júnia Sales Pereira 9 Introdução ao guia
Paulo Roberto Gonçalves da Cunha
Samara Danielle dos Santos Zacarias

Equipe Técnico-Pedagógica – DAGE/SEB 17 a POESIA NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL


Contribuição Diretoria de Apoio à Gestão Educacional – DAGE/SEB
Assessora: Mirna França da Silva de Araújo
35 Prosa para o pequeno leitor
Seleção de originais e Coordenação da edição
Magda Becker Soares
Aparecida Paiva 53 Compartilhando experiências com livros de imagem
Planejamento editorial e preparação de textos
Ana Paiva
Rogerio Mol
69 Quadrinhos e alfabetização: o caso do Menino Maluquinho
Projeto gráfico, ilustrações e diagramação
Christiane Costa 85 Obras selecionadas

L775
Literatura na hora certa : guia 1 : 1º ano do ensino fundamental : PNLD/PNAIC :
alfabetização na idade certa 2015 / Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica. – Brasília: MEC/SEB, 2015.
104 p. : il.

ISBN: 978-85-7783-177-7

1. Ensino Fundamental. 2. Obras Literárias. 3. Literatura Infantil. 4. Interação Leitu-


ra-Escrita. 5. Sala de Aula. 6. Alfabetização da Criança. 7. Letramento. I. Ministério
da Educação. II. Secretaria de Educação Básica.

CDU 087.5

Tiragem
Guia 1 – PNLD/PNAIC: Literatura na hora certa – 1º ano do ensino fundamental
136.924 exemplares
Ministério da educação

O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa –


PNAIC - é um compromisso formal do Ministério da
Educação (MEC) que conta com a participação articulada
entre Governo Federal, governos estaduais e municipais
e do Distrito Federal, dispostos a mobilizar esforços e
recursos na valorização dos professores e das escolas; no
apoio pedagógico com materiais didáticos de qualidade
para todas as crianças do ciclo de alfabetização e na im-
plementação de sistemas adequados de avaliação, gestão e
monitoramento, objetivando alfabetizar todas as crianças
até oito anos de idade, apresentando como referência o
Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007, a Portaria nº
867, de 4 de julho de 2012 e a Meta 5 do Plano Nacional
de Educação (PNE – Lei nº 13.005/2014).

4 Literatura na hora certa Apresentação 5


No período de três anos, o ciclo de alfabe- garantia dos direitos de aprendizagem e desen- O Pacto Nacional da Alfabetização na Ida- destinados aos alunos matriculados no 1º ano do
tização proposto visa à inserção da criança na volvimento dos estudantes e para a melhoria da de Certa conseguiu, até então, mobilizar os 26 ensino fundamental, 02 (dois) àqueles matri-
cultura escolar assegurando a alfabetização e o qualidade do ensino público brasileiro. Estados e o Distrito Federal, o que inclui 5497 culados no 2º ano e 02 (dois) aos que estão
letramento, e, assim, à aprendizagem da leitura Além disso, as ações colaboram para a me- municípios do país, gerando a participação de matriculados no 3º ano do Ensino Fundamental.
e da escrita, à ampliação das capacidades de lhoria na qualidade do processo de formação um total de 313 mil professores alfabetizadores Foram formados 02 (dois) acervos com 35 (trin-
produção e compreensão de textos em situações continuada dos/as professores/as alfabetizado- e mais de 15 mil orientadores de estudo, com ta e cinco) títulos para cada categoria, a saber:
familiares e não familiares e à ampliação do seu res/as ao promoverem seu desenvolvimento o apoio de uma rede de Universidades respon- Categoria 1 - Textos em verso – tais
universo de referências culturais nas diferentes crítico e reflexivo. sáveis pelo processo de formação continuada e como quadra, parlenda, cantiga, trava-língua,
áreas do conhecimento. As ações do PNAIC apoiam-se, portanto, elaboração de material didático específico, além poema, adivinha;
Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para em quatro eixos de atuação: daqueles distribuídos no âmbito do PNLD e Categoria 2 - Textos em prosa – tais
o Ensino Fundamental de 9 Anos (Resolução 1) Formação continuada presencial para do PNBE. como clássicos da literatura infantil, pequenas
CNE nº 7/2010), encontra-se estabelecido que professores/as alfabetizadores/as e para O Programa ainda possibilitou a articulação narrativas, textos de tradição popular, fábulas,
os três anos iniciais do ensino fundamental de- orientadores/as de estudo, que objetiva entre as instituições públicas de Educação Su- lendas e mitos;
vem assegurar a alfabetização e o letramento e ampliar as discussões sobre a alfabetiza- perior e as escolas de Educação Básica quando Categoria 3 - Livros ilustrados e/ou
também o desenvolvimento das diversas formas ção, na perspectiva do letramento, no fomentou o debate sobre as licenciaturas bem livros de imagens.
de expressão, incluindo o aprendizado da Língua que tange a questões pedagógicas das como uma melhor compreensão da prática pe- Trata-se, portanto, de um total de 210 (du-
Portuguesa, da Literatura, da Música e demais diversas áreas do conhecimento em uma dagógica do/a professor/a e das metodologias zentos e dez) títulos, a serem distribuídos às salas
Artes e da Educação Física, assim como o apren- perspectiva interdisciplinar, bem como de trabalho nas unidades escolares. Isso demons- de aula das turmas de 1º, 2º e 3º anos do Ensino
dizado da Matemática, da Ciência, da História e sobre princípios de gestão e organização tra o comprometimento do MEC com a articu- Fundamental da rede pública, para utilização por
da Geografia. Conforme o Parecer da referida do ciclo de alfabetização; lação entre as diferentes políticas educacionais estudantes e docentes do ciclo de alfabetização
Resolução são os componentes curriculares que, 2) Avaliações sistemáticas que contemplam e, mais especialmente, com a formação inicial e e letramento.
“ao descortinarem às crianças o conhecimento as avaliações processuais, debatidas du- continuada dos profissionais da Educação Básica Os acervos são acompanhados dos Guias
do mundo por meio de novos olhares, lhes ofe- rante os cursos de formação oferecidos (Meta 15 do PNE). Literatura na Idade Certa: 1, 2 e 3, destinados à
recem oportunidades de exercitar a leitura e a no âmbito do PNAIC, que podem ser O PNLD/PNAIC é uma ação desenvol- apresentação do processo de avaliação e sele-
escrita de um modo mais significativo” desenvolvidas e realizadas continuamen- vida em parceria entre o FNDE e a Secretaria ção das obras e ao apoio pedagógico no uso
O PNAIC tem sido desenvolvido por meio te pelo/a professor/a junto aos edu- de Educação Básica (SEB/MEC) por meio de criativo das obras distribuídas no âmbito das
de ações que estimulam a ação reflexiva docente candos e a aplicação, junto aos alunos Edital público de convocação de detentores de ações do PNAIC.
sobre o tempo e o espaço escolares. Para tanto, concluintes do 3º ano, de uma avaliação direitos autorais no país com vistas à inscrição Trata-se, portanto, de acervos que são resul-
cinco princípios centrais orientam a proposta: externa universal, pelo Instituto Nacio- de obras literárias que possam efetivamente tantes de criteriosa seleção e avaliação pedagó-
1) Currículo inclusivo; nal de Estudos e Pesquisas Educacionais contribuir com os processos de alfabetização gica levada a cabo pelo Ministério da Educação,
2) Integração entre os componentes cur- Anísio Teixeira (INEP); e letramento no âmbito do PNAIC. O Guia reafirmando o seu compromisso com a melho-
riculares; 3) A gestão, o controle social e a mobili- – Literatura na Hora Certa, do PNLD/PNAIC, ria da Educação Básica, com o trabalho docente
3) Foco na organização do trabalho pe- zação, formado por quatro instâncias: o composto por três (03) volumes, acompanha os desde a alfabetização/letramento e com a prática
dagógico; Comitê Gestor Nacional, a coordenação acervos de obras literárias selecionadas por meio pedagógica pluralista, reflexiva e criativa.
4) Seleção e discussão de temáticas fun- institucional em cada Estado, a Coordena- de processo de Avaliação Pedagógica desenvol- O Ministério da Educação, por meio da
dantes; e ção Estadual e a Coordenação Municipal, vido pela Secretaria de Educação Básica através Secretaria de Educação Básica, deseja aos edu-
5) Ênfase na alfabetização e letramento fortalecendo a articulação entre o Minis- de cooperação, nessa edição, com a qualificada cadores dedicados aos processos de alfabetização
das crianças. tério da Educação, as redes estaduais, as equipe de especialistas do Centro de Alfabeti- e letramento que usufruam, com as crianças, das
O processo formativo do PNAIC objetiva municipais e as Instituições formadoras; e zação, Leitura e Escrita – Ceale – Universidade excelentes obras criteriosamente selecionadas
ampliar as discussões sobre a alfabetização na 4) Distribuição de materiais didáticos, tanto Federal de Minas Gerais. com vistas ao incentivo ao gosto literário, à
perspectiva do letramento numa abordagem para salas de aula quanto para bibliotecas No âmbito desta edição do PNLD/PNAIC imaginação, à ampliação das referências culturais
interdisciplinar que privilegie um diálogo per- entregues por meio do Programa Nacional está prevista a distribuição de até 06 (seis) acer- e às formas – plurais e diversas – de leitura das
manente e sistemático com a prática docente do Livro Didático (PNLD) e do Programa vos, formados, cada um, por 35 (trinta e cin- palavras, das imagens e dos símbolos, por meio
e com a equipe pedagógica da escola, para a Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) co) títulos, sendo que 02 (dois) acervos são da leitura do mundo.

6 Literatura na hora certa Apresentação 7


Magda Soares 1

Que livros são estes?

V ocê, professora, professor, está recebendo caixas com


livros de literatura infantil: são acervos de obras li-
terárias destinados ao Ensino Fundamental, enviados às
salas de aula das escolas públicas brasileiras como uma
das ações do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
Certa (PNAIC).

1
Professora Titular Emérita da Faculdade de Educação da UFMG; autora de artigos
e livros na área do ensino de português: alfabetização, letramento, leitura, produção
de texto.

8 Literatura na hora certa 9


O PNAIC é um compromisso formal do Ministério da Educação
(MEC) de apoio às redes públicas para o cumprimento da Meta 5 do
Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024:

PNE Alfabetizar todas as crianças no máximo até o


META 5 final do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental.

Foto de Ratao Diniz


A disponibilização pelo MEC de obras literárias para apoio peda-
gógico ao processo de introdução das crianças à cultura do escrito é um
dos eixos de atuação do PNAIC, que se concretiza pela distribuição de
acervos especificamente para as salas de aula dos três anos iniciais do
ensino fundamental – o PNLD/PNAIC. Assim, poemas vão encantar as crianças e, ao mesmo tempo, vão
ajudá-las a voltar a atenção para os sons das palavras, para as rimas, para
o ritmo das frases, para aliterações, o que é essencial para que elas façam
Por que obras literárias a descoberta fundamental para a compreensão do sistema alfabético:
no processo de alfabetização? representamos na escrita os sons das palavras, não o significado das pa-
Alfabetização e letramento devem desenvolver-se ao mesmo tempo: a lavras. Narrativas em prosa, em belos livros ilustrados, ou em histórias
criança aprende o sistema alfabético de escrita – a alfabetização propria- em quadrinhos, vão cativá-las, diverti-las, emocioná-las, e, ao mesmo
mente dita – e, simultaneamente, aprende os usos sociais e pessoais da tempo, vão levá-las a reconhecer frases e palavras, a ampliar o vocabulário,
escrita – letramento; entre esses usos, deve-se propiciar à criança a desco- a relacionar texto verbal com texto não verbal, a desenvolver habilidades
berta do prazer de ler obras literárias e o desenvolvimento de habilidades de compreensão, de interpretação, de inferência, de avaliação. Livros de
de leitura de textos literários – o letramento literário. imagens, só de imagens ou de imagens com pouco texto, cativam as
Muitas das crianças que chegam às escolas públicas tiveram pouco con- crianças, que se deixam seduzir pelas ilustrações, descobrem nelas uma
tato com a literatura infantil: as condições socioculturais e econômicas em narrativa, e, ao mesmo tempo, buscam as relações entre imagens e os
que vivem em geral lhes proporcionam poucas experiências com a leitura pequenos textos que as acompanham, tentam ler o título do livro para
literária. Daí a importância de lhes possibilitar um rico e intenso contato nele encontrar o sentido da história. Letramento e alfabetização.
com livros literários desde a fase da alfabetização, fase em que a maioria Nos acervos enviados à sua escola, destinados às salas de aula dos três
das crianças tem seu primeiro contato com o mundo da escrita e do livro. anos iniciais do ensino fundamental, encontram-se livros desses diferentes
tipos e gêneros, como mostra o tópico seguinte.

Por que livros de literatura nas salas de aula?


Que livros estão chegando para as salas de aula?
Se, em princípio, as escolas têm bibliotecas, e para elas recebem
anualmente acervos de livros literários, por meio do Programa Nacional São dois acervos para cada ano, com 35 livros cada um:
Biblioteca da Escola (PNBE), por que acervos de livros literários para
cada uma das salas de aula dos três anos iniciais do ensino fundamental? ANO N o DE ACERVOS N o DE LIVROS POR ACERVO TOTAL DE LIVROS
Respondendo: porque é importante que os livros estejam cotidiana- 1º 2 35 70
mente ali, à vista e à mão, disponíveis para professores(as) e crianças, nos
2º 2 35 70
três anos em que se introduz, se desenvolve e se consolida a alfabetização,
de modo que esta se faça sempre a partir da leitura e para chegar à leitura; 3º 2 35 70
a criança aprende a ler para ler, e lê para aprender a ler – alfabetização e Totais 6 - 210
letramento, particularmente letramento literário.

10 Literatura na hora certa introdução ao guia 11


Assim, os três anos iniciais da escola receberão um número signifi-
cativo de livros de literatura, número tanto maior quanto mais turmas
Com que critérios foram
de cada ano existirem. Em cada acervo, há livros de diferentes tipos e escolhidos os livros para
gêneros, como mostra a tabela: compor os acervos?
Além de constituir cada acervo com dife-
N de obras
o
rentes categorias de livros e diferentes tipos e
Tipos/gêneros gêneros, os livros foram selecionados pelo crité-
1 o ano 2 o ano 3 o ano
rio de sua qualidade: qualidade textual, que se
Verso 15 19 17 revela nos aspectos éticos, estéticos e literários,
Prosa 32 42 37 na estruturação narrativa, poética ou imagética,

Diniz
Imagem 21 9 12 numa escolha vocabular que não só respeite,

Foto de Ratao
mas também amplie o repertório linguístico
Quadrinhos 2 - 4
de crianças em fase inicial de alfabetização e
Totais 70 70 70 letramento; qualidade temática, que se ma-
nifesta na diversidade e adequação dos temas e
Entre os livros classificados como de VERSO há poemas, parlendas, no atendimento aos interesses das crianças, aos
trava-língua, quadras, adivinhas; entre os classificados como PROSA, há diferentes contextos sociais e culturais em que
clássicos da literatura infantil, histórias, textos de tradição popular, fábulas, vivem e ao nível dos conhecimentos prévios
lendas; os livros de IMAGEM incluem livros só de imagens e livros de que possuem; qualidade gráfica, que se tra-

Foto de Ratao Diniz


imagens com pequenos textos; os QUADRINHOS são histórias ou são duz na excelência de um projeto gráfico capaz
tiras, com palavras ou sem palavras em balões. de motivar e enriquecer a interação do leitor
Como mostra a tabela, a quantidade de livros varia nos diferentes com o livro: qualidade estética das ilustrações,
tipos/gêneros; é que os acervos são compostos por meio de seleção no articulação entre texto e ilustrações, uso de
conjunto de livros inscritos no MEC pelas editoras, e estas inscrevem recursos gráficos adequados à criança na etapa
sobretudo livros nas categorias PROSA, predominante, e POESIA, inicial de inserção no mundo da escrita. fichados. À biblioteca as crianças vão para inte-
havendo assim mais alternativas de escolha de livros em prosa e de po- Foi ainda critério para constituição dos acer- ragir com livros, isoladamente, em um diálogo
vos a seleção, entre as obras consideradas de qua- pessoal com eles, ou socialmente, por meio de
esia – isso explica o motivo destes gêneros serem mais numerosos nos
lidade, dentre as categorias prosa, verso, imagem, atividades desenvolvidas pela pessoa responsável
acervos; por outro lado, a inscrição, pelas editoras, de livros de IMAGEM
história em quadrinhos, daquelas que represen- pela biblioteca ou pelo(a) professor(a) que, em
e de QUADRINHOS é ainda pequena, levando à pouca representação
tassem diferentes níveis de dificuldade, de modo dias em geral pré-determinados, desenvolvem
desses gêneros nos acervos, embora sejam gêneros de grande interesse
a atender a crianças em variados níveis tanto de atividades no ambiente peculiar da biblioteca.
das crianças e de muita potencialidade para o desenvolvimento da alfa-
aprendizagem da língua escrita quanto de com- À biblioteca as crianças vão também para
betização e do letramento.
preensão dos usos e funções da escrita, possibili- buscar livros por empréstimo, ou para devol-
Uma alternativa para suprir essa distribuição pouco equilibrada
tando assim formas diferentes de interação com ver livros que levaram para ler em casa. Na
dos tipos e gêneros de livros nos acervos pode, porém, ser explorada na
o livro, seja pela via da leitura autônoma pela biblioteca aprendem as regras que regem os
escola: como é tênue a distinção entre livros para 1º, 2º ou 3º ano, uma
criança, seja pela leitura mediada pelo professor. empréstimos e desenvolvem comportamentos
vez que, nas salas de aula de diferentes anos, ou mesmo de um mesmo
ano, estão crianças diferentes entre si, em diferentes níveis de apropriação de convívio adequado em bibliotecas; na biblio-
da leitura, os livros dos acervos podem transitar de uma sala a outra por e literatura na sala de teca, se ela é atraente e estimulante, constroem o
troca, entre professores(as). O importante e fundamental é que em cada aula e também na biblioteca: conceito de bibliotecas como locais de cultura
e de conhecimento, o que pode levar ao hábito
sala de aula haja livros de literatura sempre disponíveis para atividades qual é a diferença? de frequência a bibliotecas ao longo da vida.
de alfabetização e de letramento literário.
A biblioteca é, na escola, a “casa dos livros”: Já a sala de aula não é “casa dos livros” ape-
eles habitam ali, e ali estão organizados em es- nas, é lugar onde muitas e variadas atividades
tantes por certos critérios, estão classificados, se realizam. Entre elas, atividades com livros

12 Literatura na hora certa introdução ao guia 13


literários, desenvolvidas com objetivos especí- obras do acervo que o representam, e apresen- sugestões do guia para o livro provocarem grande interesse e indicarem
ficos que contribuam para a alfabetização e o tam várias e ricas sugestões de como trabalhar as possibilidade de uso com crianças de outro ano.
letramento das crianças. com os livros em sala de aula: Além desses textos sobre os livros dos acervos, por gênero, há, ao final
Nas salas de aula os livros ficam no “canti- de cada guia, a relação de todos os títulos selecionados no PNLD/PNAIC,
como levar os alunos a conhecer o livro
nho de leitura”, ou em bolsões, ou em pequenas separados por ano e por acervo. Assim, é possível saber quais os livros
como objeto – a capa, a quarta capa, a lombada,
estantes, ou em baús... em inúmeras e variadas que compõem o acervo de cada ano, facilitando escolhas, trocas, busca
autores, ilustradores, editora etc.;
formas que a criatividade de professores e profes- de relações de tema ou gênero entre os livros.
como identificar os usos convencionais de
soras inventam para que os livros estejam sempre
livros – a direção da leitura das páginas, a nu-
à vista e à mão, de forma atraente e estimulante.
Nas salas de aula os livros não precisam,
meração das páginas (que às vezes não aparece), Concluindo
diferentes tamanhos e espessuras dos livros etc.;
até não devem, ser organizados, fichados, para O PNAIC tem procurado colaborar com as redes públicas para a
como deverá ser feita a leitura – autôno-
que as crianças tenham liberdade para mani- alfabetização das crianças “na idade certa”; faz parte desta colaboração
ma, pelo aluno? mediada, pelo(a) professor(a)?
pulá-los, folheá-los, confrontar temas, gêneros, fazer chegar às salas de aula dos três primeiros anos do ensino fundamental
silenciosa? em voz alta?;
dimensões, número de páginas; para que o(a) das escolas públicas brasileiras livros de literatura, o que se faz por meio
que atividades desenvolver antes da leitura,
professor(a) possa ter ali, em sua sala, o livro dos acervos selecionados pelo PNLD/PNAIC.
durante a leitura, após a leitura;
que quer ler para as crianças, que quer discutir Na fase em que as crianças são introduzidas ao mundo do escrito,
como explorar as relações entre ilustra-
com as crianças, que quer usar para atividades alfabetização e letramento devem desenvolver-se em harmonia e si-
ções e texto;
de alfabetização e letramento. multaneamente, para que elas, ao mesmo tempo que aprendam a ler e
como enriquecer o vocabulário dos alu-
Entretanto, quer na biblioteca, quer na sala a escrever, vivenciem os usos sociais da leitura e da escrita, sobretudo
nos a partir da leitura;
de aula, mediadores de leitura – profissionais da vivenciem a leitura literária, pois talvez o que de mais importante elas
como desenvolver habilidades de inter-
biblioteca ou professores(as) nas salas de aula – esperem da escola é que esta lhes possibilite o acesso à leitura de his-
pretação, inferência, avaliação de comportamen-
devem reconhecer-se como responsáveis por tórias, poemas, livros de imagem, histórias em quadrinhos, que tanto as
tos e personagens;
aproximar dos livros as crianças e por fazer delas atraem e encantam.
em que partes do texto convém inter-
leitores de literatura por toda a vida. Para que isso aconteça, é fundamental a mediação dos professores e
romper a leitura em uma pausa para prever o
das professoras que têm o grande privilégio de introduzir no mundo do
que virá em seguida;
escrito as crianças brasileiras. Para colaborar com essa mediação é que
O que há neste Guia? como ampliar as referências das crianças
foram elaborados estes guias que acompanham os acervos – que eles
– sua visão de mundo, suas experiências pré-
Foram produzidos três guias de orientação possam atingir esse objetivo de apoio e colaboração.
vias – por meio da leitura literária, levando-as a
para o uso das obras literárias incluídas nos acer-
conhecer outros espaços, outros tempos, outros
vos: um guia para cada ano (1ºano, 2º ano, 3º ano).
modos de vida etc.
Esta Introdução é a mesma nos três guias,
mas os textos que se seguem a ela são diferentes São muitas as sugestões presentes em cada
em cada guia, porque são textos que se referem um dos textos que compõem cada guia, su-
especificamente aos livros dos acervos destina- gestões de análise e interpretação dos livros
dos a cada um dos três anos. dos acervos e, em princípio, adequadas ao ano
Cada um dos guias apresenta um conjunto a que se destina o guia. Mas nada impede, ao
de textos que representam os gêneros selecio- contrário, será muito enriquecedor, que pro-
nados para o acervo destinado ao ano: prosa, fessores(as) dos três anos leiam e discutam em
verso, imagem e história em quadrinhos. grupo os três guias, leiam e discutam os textos
São textos em que as autoras, sempre com o sobre determinado gênero, as sugestões para tra-
foco voltado para as práticas de leitura literária balhar determinado livro, troquem experiências
na sala de aula e as possibilidades de seu apoio de uso dos livros na sala de aula, experimentem
ao processo de alfabetização, procuram discutir em outro ano o trabalho de um livro destina-
as características de cada gênero, indicando as do a ano anterior ou posterior, no caso de as

14 Literatura na hora certa introdução ao guia 15


Maria Zelia Versiani machado 1
Patrícia Barros Soares batista 2

Vamos brincar de poesia?

C oncordando com o poeta José Paulo Paes, para quem


a poesia na infância se aproxima das brincadeiras, este
texto privilegiou textos em verso do acervo de poemas
para crianças do primeiro ano, do Programa Nacional do
Livro Didático, do Pacto Nacional pela Alfabetização na
Idade Certa, PNLD/PNAIC. Destacam-se, nessa escolha,
a brincadeira, o jogo, a ludicidade na produção de sentidos
da poesia infantil (BORDINI, 1986), em propostas para

1
Professora da Faculdade de Educação/UFMG, pesquisadora do Grupo de Pesquisa do
Letramento Literário e, atualmente, vice-diretora do Centro de Alfabetização, Leitura
e Escrita - Ceale/FaE/UFMG. Organizou vários livros sobre a formação de leitores
literários, entre eles Livros e telas e A criança e a leitura literária - livros, espaços, mediações.
2
Professora formadora do Ceale/FaE/UFMG, do Centro Pedagógico da Escola de
Educação Básica e Profissional da UFMG, pesquisadora do Grupo de Pesquisa In-
fância e Educação: concepções e práticas no Ensino Fundamental de Tempo Integral
e, atualmente, coordenadora do 1º Ciclo de Formação Humana- CP/UFMG.

17
serem vivenciadas por crianças que iniciam o seu pro- das experiências mais prazerosas para que as crianças efetivamente se
cesso de alfabetização. Considerando ser a infância uma apropriem da cultura escrita na escola.
fase da vida caracterizada pela forte presença do brincar, a
convivência com textos literários poéticos que exploram
elementos lúdicos tais como repetições e jogos de palavras, “Cultura escrita é o lugar – simbólico e material – que o escrito
com forte apelo sonoro, pode favorecer o desenvolvimento ocupa em/para determinado grupo social, comunidade ou socie-
do letramento literário das crianças que, nessa fase, en- dade.” Ana Maria Galvão, Glossário Ceale, Termos de Alfabetização,
Leitura e Escrita para Educadores (2014).
contram-se com a curiosidade aguçada pelas novidades
apresentadas pelas linguagens escrita e oral.

Ressalta-se ainda o fato de que a literatura proporciona à criança a


vivência de outros espaços e outros tempos, bem como a participação
“Letramento literário é o processo de apropr iação da literatura imaginária em contextos culturais e sociais que desconhece. Esse exer-
enquanto linguagem. Para entendermos melhor esta definição cício de alteridade que a literatura promove amplia a visão de mundo
sintética é preciso que tenhamos bem claro alguns termos. Pri- dos leitores, contribuindo para seu amadurecimento social e emocional.
meiro, o processo, que é a ideia de ato contínuo, de algo que está As quadras, parlendas, cantigas, adivinhas, trava-línguas, e histórias
em movimento, que não se fecha. [...] O letramento começa em versos são exemplos de textos poéticos que jogam com as palavras,
com as cantigas de ninar e continua por toda a nossa vida [...]. provocam associações, exploram a sonoridade, o ritmo e as repetições,
Não se trata simplesmente de um conjunto de obras consideradas mobilizando uma série de recursos que agradam a criança. No caso do
relevantes, nem do conhecimento de uma área específica, mas aluno no 1º ano do Ensino Fundamental cabe assinalar ainda que, pelo
sim de um modo muito singular de construir sentidos que é a texto poético, a atenção da criança se volta para o plano sonoro da língua,
linguagem literária [...].” Rildo Cosson, Glossário Ceale,Termos de o que contribui para o estabelecimento de relações e distinções entre
Alfabetização, Leitura e Escrita para Educadores (2014). escrita e oralidade, importante etapa para o sucesso da alfabetização.
Os recursos sonoros dos textos em verso são, portanto, atraentes para
as crianças em processo inicial de alfabetização e fundamentais para o
desenvolvimento da consciência fonológica.
Tal como o poeta que convida a brincar com palavras como se
brinca com bola, papagaio e pião, as propostas de atividade que serão
neste guia desenvolvidas consideram o gênero poema para crianças uma
“Entre várias dimensões metalinguísticas, uma, que é fundamen-
espécie de diversão, embora diferente de outros brinquedos, porque
tal para um aprendiz que se alfabetize, é a capacidade de refletir
inesgotável. Esse caráter lúdico do texto poético propicia experiências
sobre os segmentos sonoros das palavras que pronunciamos, isto
com a linguagem em que a matéria-prima – a palavra oral e a palavra
é, a consciência fonológica. Tal consciência é um conjunto de
escrita – seja explorada, também ela, de modo criativo. Desta forma,
habilidades variadas. Estas variam quanto à operação mental
serão apresentadas ideias que podem ser colocadas em prática no 1º ano
que o aprendiz realiza: pronunciar um a um os segmentos que
do Ensino Fundamental, sempre tomando como base as especificidades
compõem a palavra, contar, identificar ou produzir ‘partes sono-
da criança de seis anos, com o objetivo de sensibilizá-la a vivenciar textos
ras’ parecidas, adicionar ou subtrair segmentos sonoros. Variam
poéticos de alguns livros selecionados.
quanto ao tamanho do segmento sonoro, que pode ser uma rima
O trabalho pedagógico com livros de literatura favorece que a escrita
(mato/gato), uma sílaba (cavalo/casaco) ou um fonema (sapo, c).
e a leitura sejam algo relevante e significativo para a criança, e, assim, o
E variam, ainda, quanto à posição (início, meio, final) em que
ensino seguramente não se reduzirá a atividades puramente motoras e
aparecem nas palavras”. Artur Gomes de Morais, Glossário Ceale,
mecânicas. Desta forma, quando se propõem atividades didáticas com
Termos de Alfabetização, Leitura e Escrita para Educadores (2014).
livros de poemas, a exploração lúdica dos textos pode se tornar uma

18 Literatura na hora certa a POESIA NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 19


A presença da poesia na sala de aula e o desenvolvimento de propos- vivencie uma forma brincante de contato com transformando-a em pretexto para o ensino de
tas de mediação de textos poéticos sensíveis às descobertas das crianças as palavras, reinventando os sentidos do texto conteúdos. Deve-se considerar a mediação li-
devem ter sempre em vista que: à medida que lê ou ouve um poema. terária que se faz por meio de livros de poemas
que vão para a sala de aula como uma descoberta
“[...] um poema é um jogo com a linguagem. Compõe-se de
coletiva que produz conhecimentos, desenvolve
palavras: palavras soltas, palavras empilhadas, palavras em fila, Literatura na alfabetização habilidades de leitura, de acordo com a condi-
palavras desenhadas, palavras em ritmo diferente da fala do dia
a dia. Além de diferentes pela sonoridade e pela disposição na As atividades a seguir foram elaboradas ção estética do texto literário que lhe é pecu-
página, os poemas representam uma maneira original de ver tendo em vista as especificidades das crianças liar. Nosso pressuposto é o de que brincar de
o mundo, de dizer coisas [...]” (LAJOLO, 2001). no processo inicial da alfabetização, assim, as poesia é exercitar a percepção sobre os sentidos
propostas didáticas priorizam aspectos impor- das palavras que promovem a ampliação dos
Dessa maneira, a intenção deste guia, que tem como foco a leitura tantes para esse momento da escolaridade: a significados do aprendizado da escrita.
literária na sala de aula, é dialogar com você, professor, sobre possibi- promoção da literatura, a formação leitora, o
lidades de se garantir o trabalho com os livros de poemas que passam a acesso a novos usos da linguagem oral e escrita,
compor os acervos da sala de aula, considerando as especificidades dos a reflexão linguística na exploração de efeitos
Explorando livros de poesia
textos e da fase em que se encontra a criança nessa etapa escolar. Sendo que a língua oferece. Para as sugestões didáticas elaboradas com
assim, atribui-se grande importância nesse momento da escolaridade (1º Parte-se do pressuposto de que “esco- a finalidade de indicar mediações literárias em
ano) à leitura compartilhada. larizar” a literatura (SOARES, 2000) não é sala de aula que poderão ser aprimoradas pelos
apartá-la das funções sociais que ela apresenta professores, foram selecionados os seguintes

“Leitura compartilhada ou colaborativa [...] é uma atividade de


leitura cuja finalidade é estudar um determinado texto em co-
laboração com outros leitores e com a mediação do professor.” com
Professor, uma boa prática literária não ocorre por acaso. É preciso preparar
Kátia Lomba Bräkling, Glossário Ceale, Termos de Alfabetização, ser trabalh ado,
antecedência as atividades a serem exploradas: conhecer o livro a
Leitura e Escrita para Educadores (2014).
refletir sobre as possíveis intervenções didáticas a serem realizadas, considerando
tanto o que o livro oferece como a realidade sociocultural dos alunos.

A leitura frequente de livros literários para as crianças ajuda os


aprendizes a compreenderem os modos como o texto escrito funciona,
reconhecendo as formas próprias da linguagem e suas funções, pois
durante as atividades que envolvem a leitura e a escrita de textos eles
comentam e refletem sobre o mundo e também sobre a própria lingua-
gem. Considera-se, assim, a atividade de leitura de livros para crianças
na alfabetização inicial de suma importância, pois gera oportunidades
para os alunos falarem sobre os textos a partir de uma experiência que
mobiliza a sensibilidade e a afetividade.
Aprender a ler pelo contato com diferentes gêneros, incluindo o
poético, oferece uma grande variedade de experiências com a linguagem,
dada a sua inventividade. Assim, os elementos sonoros e rítmicos e o
posicionamento estratégico de palavras ou expressões no texto possibi-
litam outras formas de leitura além da linear. O poema convida “[...] o
leitor/espectador/ouvinte a retornar à obra mais de uma vez, desven-
dando as pistas que ela apresenta para a interpretação de seus sentidos”
(GOLDSTEIN, 2006). Além disso, a poesia dá abertura para que o aluno

20 Literatura na hora certa a POESIA NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 21


livros: A velha a fiar, história e canção po- Livros de poesia na sala
pular adaptada por Sandra Regina Félix, com Segundo Luís da Câmara Cascudo
ilustrações de Jefferson Galdino; ABC do
de aula de alfabetização
(1962), os contos acumulativos são
trava-língua, escrito e ilustrado por Rosinha; Os livros do acervo de “textos em verso” aqueles em que os episódios são su-
e Meu bicho de estimação, narrativa contada devem ser vistos como um conjunto hetero- cessivamente encadeados, com fases
em versos por Yolanda Reyes e ilustrada por gêneo de obras, pois cada livro pode propi- temáticas consecutivamente articu-
Mariana Massarani. ciar atividades diversificadas. Reconhecer essa ladas. Também conhecidos como
Para a melhor compreensão das atividades heterogeneidade leva a uma relação com o contos de nunca acabar.
literárias na alfabetização, este guia adotará a acervo sempre renovada, que não se esgota em
seguinte organização: 1) Breve resenha sobre um único planejamento de atividades para a
a obra, com a descrição e o levantamento de exploração das obras em verso com os alunos.
aspectos passíveis de serem focalizados nas ati- leitor, surge um personagem que desencadeia
uma instabilidade, e na sequência vão surgindo
vidades; 2) Sugestões de atividades, parte que Uma história cumulativa um a um outros personagens e elementos que
se subdivide em: 2.1) Antes da leitura; 2.2)
Durante a leitura; 2.3) Após a leitura. Convém
ou acumulativa em versos: interferem na cena anterior. Esse tipo de estrutu-
esclarecer aqui que não há uma rigidez que A velha a fiar ra facilita a antecipação do que virá, tornando a
impeça que determinados aspectos assinalados leitura mais fácil em função da previsibilidade, e
“Estava a velha a fiar.
em um tópico sejam realizados em outros mo- propicia a retenção da história em função da re-
Veio uma mosca lhe incomodar.
mentos. Além disso, as possibilidades de traba- petição. Com a utilização de fontes em caixa alta
A mosca na velha e a velha a fiar [...]”
lho com o livro não se esgotam nas propostas de boa legibilidade para crianças que aprendem a
sugeridas, que são apenas ideias que indicam ler, a programação visual conta com ilustrações
Assim começa a história contada em versos
um dos caminhos que podem ser trilhados a divertidas em sintonia com o texto verbal. A
que, paulatinamente, repetem cenas com perso-
partir destes e de tantos outros livros. brincadeira gira em torno do acúmulo de seres e
nagens e acumulam ações. O livro escrito por
As três obras do acervo PNAIC foram esco- elementos que tentam tirar o sossego da velha a
Sandra Regina Félix e ilustrado por Jefferson
lhidas pela qualidade dos elementos literários que fiar. O desafio é lembrar de todos os elementos
Galdino é uma adaptação de canção popular
oferecem, pela exploração de rimas, pelo ritmo que se acrescentam a cada reinício da contínua
muito conhecida no Brasil. Ele traz uma série
marcado que favorece a leitura dos versos pelas repetição das estruturas verbais, característica
de ocorrências em sequência que se passam em
próprias crianças, pelos recursos expressivos que das histórias cumulativas. Cada página do livro
torno de uma velhinha que não se abala no seu
estimulam a inteligência, a fantasia e a imaginação. sempre se inicia pela frase “Estava a velha no seu
trabalho de fiar na roca manual.
lugar”, e termina com a frase “a velha a fiar”...
A estabilidade que se cria pelo emprego dessas
repetições pode promover uma grande interação
Rima: repetição regular dos mesmos sons ou das crianças com a história, podendo elas até
Vamos brincar? Estava a velha no seu
de sons que se aproximam. Existem vários mesmo participar da leitura com a professora.
lugar e veio a mosca lhe fazer mal.
esquemas de rimas de acordo com os versos Livros desse tipo, assim como o livro que
A mosca na velha, a velha a fiar [...]
que rimam entre si. Muito popular entre nós também faz parte do acervo PNAIC do primeiro
são as quadrinhas, poemas de quatro versos, ano e é sugerido no box a seguir, normalmente
que podem apresentar vários tipos de rima. agradam muito os alunos em processo de alfabeti-
Ritmo: O número de sílabas determina a Assim como no livro A velha a fiar, as demais zação, pois encorajam a leitura, ao oferecerem um
métrica do verso do poema e no verso o jogo histórias cumulativas ou acumulativas apresentam grau de previsibilidade quanto ao texto verbal e ao
entre sílabas átonas e tônicas lhe confere um um evento desencadeador da narrativa, que a visual, o que instiga a participação. A repetição,
ritmo. Poemas com versos livres também têm partir daí passa a se repetir ao longo do enredo, no livro A velha a fiar, é reforçada pelas imagens
um ritmo próprio. ou seja, há um jogo entre o já conhecido e o que antecipam conteúdos e levam a criança a
novo: na cena conhecida e já apresentada ao prosseguir a aventura da leitura autônoma.

22 Literatura na hora certa a POESIA NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 23


pedir a sua releitura várias vezes. Assim, a cada nova leitura é importante
Explore os demais paratextos (orelhas e diversificar a exploração de determinados aspectos do livro.
contracapa): indague as crianças sobre o que elas
acham que acontecerá, quem/o quê participará
da história. Neste momento você poderá utili-
zar as orelhas do livro – abra a primeira orelha A canção de tradição popular foi adaptada de modo que os episódios fossem encadeados com
e a surpresa certamente será geral: um cachorro ações e gestos que se relacionam sempre por um verbo que rima. Assim, todos os versos sem-
aparece; apresente a contracapa e abra a segun- pre se iniciam com a frase “Estava a velha no seu lugar”, e os verbos que se seguem possuem
da orelha; a essa altura o leitor já terá algumas a terminação –AR: incomodar, perturbar, encurralar etc. Quando o poema é lido com ex-
pistas de que se trata de uma história em que, pressividade, o aluno reconhece essas correspondências sonoras e brinca com essa descoberta.
Pipoca, um carneirinho e um além da velha, diferentes bichos participam.
tambor, conto cumulativo Pode-se também instigá-las a criar hipóteses,
de Graziela Bozano Hetzel, perguntando quem mais participará da história.
ilustrado por Elma. Esse momento de exploração inicial é
Durante a leitura
uma boa oportunidade de verificar se as crianças A leitura compartilhada é o momento em que os alunos podem
sabem o significado da palavra “fiar”, essencial acompanhar a história contada pelo texto e pelas imagens, expressando
Algumas sugestões que para a compreensão da história. Pergunte aos suas impressões e tendo a mediação do professor no processo de pro-
alunos se eles sabem o que a velha que aparece dução de sentidos do texto.
o livro-canção oferece na capa está fazendo, qual o nome do objeto Sugira aos alunos, antes de iniciar a leitura, que prestem bastante
que ela está utilizando, e qual é a matéria-pri- atenção nas ilustrações, mostrando que o livro é composto por páginas
Antes da leitura ma que é utilizada para fiar. A intenção aqui é duplas sendo que alguns personagens aparecem na página da direita e
As sugestões apresentadas neste tópico possi- levar os alunos a verificarem a ligação entre a outros na página da esquerda. Com certeza, essa programação visual tem
bilitam ao professor levantar as hipóteses e os co- imagem e o título. Esse pode ser um momento uma razão de ser para a história que será contada. Exemplo: Estava o
nhecimentos prévios dos alunos sobre a história interessante para apresentar usos do dicionário galho no seu lugar. Estava o rato no seu lugar./ Veio um gato lhe encurralar./
e explorar importantes elementos paratextuais. na sala de aula. O gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a
Professor, antes de realizar a leitura para os Busque saber se alguma criança já co- velha a fiar. Nesta passagem, o gato aparece na página da esquerda e o
alunos, leia o livro, preste atenção nas ilustrações e nhece uma história ou a canção que tem uma rato e a aranha na página seguinte.
exercite a leitura em voz alta. Esse ensaio auxiliará velha a fiar. Caso alguma criança diga que já No início da leitura os alunos podem se mostrar um pouco dis-
você a ficar mais preparado e seguro no momento conhece a música, pode-se explicar o motivo persos, mas certamente prestarão atenção na história à medida que
da leitura na sala de aula, com seus alunos. de estar escrito junto ao nome da autora o perceberem que, a cada página, um novo bicho aparece para perturbar
Organize o espaço onde a leitura será termo “adaptação de”, informando aos alunos o outro apresentado anteriormente e que a história vai se complicando
realizada, de modo a favorecer que todas as que adaptar é fazer um arranjo, uma espécie com tantos personagens.
crianças consigam ver o livro. Sabemos que de modificação do texto original. Nesse caso, É muito comum durante a leitura de histórias acumulativas as
o tamanho das letras não viabiliza às crianças explique às crianças que a autora adaptou a crianças tentarem repetir a história junto com o professor. Isso não é
acompanharem a leitura do texto verbal, mas história, que originariamente era uma canção, ruim, pelo contrário, é uma ação muito importante, pois demonstra a
o foco nesse momento é o texto visual. para ser contada no livro. compreensão dos alunos sobre o gênero: a repetição e a acumulação.
Explore a capa: ela é a porta de entrada Retome a apresentação do livro destacando É preciso, assim, dar vez à participação das crianças, mesmo que, para
para que a criança se interesse pelo livro: per- outras informações presentes na capa, como, por isso, a leitura pelo professor tenha de ser interrompida.
gunte aos alunos o que eles acham que está exemplo, o nome da editora (que vem acompa- Manusear e explorar o livro durante a leitura é essencial: pode-se
escrito na capa em letras grandes e coloridas, nhado de um desenho ou logotipo), os nomes do perguntar às crianças se somente pelas ilustrações é possível recontar a
em uma espécie de bordado (alguns alunos que autor e do ilustrador (e também a pequena bio- história e fazer esse exercício coletivamente – esta é uma boa oportu-
já leem certamente responderão esta pergunta grafia de ambos, apresentada ao final da obra) e nidade para enfatizar a entrada de um personagem a cada página, por
lendo o título; outros que ainda não leem po- as demais informações da contracapa. As crianças exemplo. Pode-se também indagar: Por que no início da história o texto
derão levantar hipóteses a partir da ilustração); quando gostam muito de uma história costumam é pequeno (apenas 3 linhas)? E por que ao final da história o texto é

24 Literatura na hora certa a POESIA NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 25


bem maior (9 linhas)? Neste ponto, o mediador dimensão fantástica: o pato que nada na água, que personagem seguinte. Ao final, será construída Produção escrita: nome dos personagens a
pode procurar auxiliar na compreensão de que apaga o fogo, que incendeia o galho, que balança uma espécie de linha do tempo da narrativa, partir do uso de letras móveis. A atividade pode
o texto vai aumentando na medida em que as perto do cachorro, que assusta o gato, que encurrala formada apenas por personagens. Nesse mo- ser organizada em duplas. Cada dupla recebe
personagens vão aparecendo na história. o rato... sem que se perturbe a tranquilidade da velha mento o professor pode pedir às crianças que uma folha correspondente a uma página do
Ao final da leitura o professor poderá que continua a fiar. recontem a história, não se esquecendo da ordem livro. As duplas deverão ser formadas a partir do
colher as impressões do grupo fazendo per- das ações. Se a atividade for muito complexa nível em que se encontram. Assim, o professor
guntas direcionadas do tipo: vocês acham que Depois da leitura para os alunos, pode-se levantar apenas os per- pode selecionar a formação de palavras simples,
teve algum personagem que mais incomodou sonagens e suas ações: estava velha a fiar/ veio a como gato/rato/pato, para alunos que estejam
o outro na história? Qual foi a parte de que Para desenvolver atividades relacionadas ao mosca lhe incomodar/ veio uma aranha lhe atacar/ na fase inicial de alfabetização, e palavras mais
vocês mais gostaram? Por quê? E a velha, o que livro lido, primeiramente o professor pode per- veio um rato lhe perturbar etc.) – ver sequência de complexas, como mulher/galho/ovelha, para
ela fez ao final da história? O que é tosquiar? guntar aos alunos se conhecem histórias cumu- fotos acima. Essa atividade contribui para que os alunos que estejam um pouco mais avançados.
A última página do livro se desdobra e lativas parecidas com a que foi contada. Em caso alunos relacionem os personagens com o texto Essa atividade favorece a reflexão sobre a escrita,
resume de modo invertido o enredo da história positivo, o professor deve explorar as semelhanças e, ao retomar o livro para o reconto da história, as letras utilizadas, sua ordem etc. Por meio
que culmina com o título do livro na página entre as pequenas histórias cumulativas. deve-se propor a eles que observem detalhes da desse exercício, o aluno analisa oralmente a
seguinte: A velha a fiar. O recurso de dobrar/ Em seguida, o professor pode pedir que ilustração e os conectem com o texto. palavra e busca fazer associações entre o que se
desdobrar a página final confere ao objeto livro os alunos desenhem um personagem que apa- fala e as unidades gráficas disponíveis.
uma condição lúdica, oferecendo outro tipo rece na história. Para organizar essa atividade Trabalhando a identificação de rimas: com
de manuseio da obra que agrada muito os lei- sugerimos que o professor chame um aluno para a mesma matriz da atividade o professor pode
tores desse segmento. Além disso, permite ao folhear o livro, para propiciar um contato maior pedir que os alunos coloram as palavras que ri-
professor retomar oralmente com os alunos a com o personagem que aparece a cada página. mam da mesma cor. Após o término desta etapa,
sequência das ações das personagens da história. À medida que os alunos vão apontando os per- ler com as crianças todas as palavras sublinhadas
O professor pode perguntar também se sonagens, o professor pode listá-los no quadro e perguntar o que todas têm em comum. Es-
os alunos acham que se trata de uma história e, em seguida, escrever o nome das crianças pera-se com esta a atividade que os aprendizes
que aconteceu de verdade ou se é uma história que farão os desenhos. A divisão dependerá do comparem a terminação silábica de todas as
inventada, e sondar a partir de que elementos número de alunos da turma. Se a turma tiver palavras grifadas e identifiquem as semelhanças
eles a consideram real ou ficcional. A ideia 24 alunos, por exemplo, o mesmo personagem sonoras das terminações silábicas –AR.
é explorar o conteúdo fantástico da narrativa deverá ser desenhado por duas crianças. Criar situações de leitura participativa, em Percebendo o tempo da narrativa: explicar
contada por meio de versos, mostrando que, Após a realização dos desenhos, as crianças que as crianças são convidadas a lerem o texto aos alunos que, juntos, todos farão a leitura do
embora as pequenas ações dos personagens pos- deverão ordená-los (pode-se utilizar o próprio com o apoio da memorização. Pode-se pedir livro novamente, mas que devem prestar atenção
sam ser tomadas como reais (a mosca que inco- quadro ou um varal da sala) a partir da retoma- aos alunos que leiam o livro, sozinhos. Assim, para descobrir se a história já aconteceu, está
moda, a aranha que ataca, o rato que perturba da da história feita pelo professor. A cada novo eles experimentam uma maneira diferente de acontecendo ou ainda vai acontecer. Durante
etc.), a acumulação dos fatos dá à história uma personagem as crianças deverão apresentar o ler, antes mesmo de dominar a leitura. a leitura, enfatizar, registrando no quadro, os

26 Literatura na hora certa a POESIA NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 27


verbos no passado repetidos na história: “estava” e ABC DO TRAVA-LÍNGUA construídos dessa forma (as letras A, C, D, G,
“veio”. Após a leitura fazer perguntas do tipo: “A S, T, por exemplo, compõem-se de cinco ou
história está acontecendo hoje?” ou “Aconteceu Historicamente os abecedários são livros seis versos).
há algum tempo?”, “Como é possível saber?”. usados na alfabetização, que auxiliam no apren- As sugestões de atividade que apresentare-
O vocabulário utilizado no texto é simples, dizado das letras e da ordem alfabética. Tal mos agora buscam criar situações que possibi-
mas alguns vocábulos como “fiar” e “tosquiar” como muitos textos da tradição oral, o livro litem ao aluno construir conhecimento sobre
podem ser desconhecidos por muitos alunos. ABC do trava-língua brinca com as letras, as pa- o gênero trava-língua, desafiando a pronúncia
As hipóteses sobre o significado da palavra tos- lavras, seguindo a ordem alfabética socialmente e a memória de maneira lúdica, contribuindo
quiar, por exemplo, podem ser registradas e, após convencionada, mas faz isso estabelecendo um também para o aprendizado de novas palavras.
a consulta mediada ao dicionário (neste caso, diálogo com outro gênero da tradição oral, o
deve-se disponibilizar dicionários adequados à trava-língua. Antes da leitura
faixa etária), o professor pode instigar a turma a Assim a maior contribuição da obra é favo-
refletir sobre a definição que mais se assemelha recer a brincadeira com a sonoridade das pala- Apresentar o livro ABC do trava-língua
vras, assumindo funções lúdicas e poéticas, para às crianças e fazer um levantamento junto à
à da história. Atividades desse tipo contribuem
além do trabalho convencional com a ordem turma sobre trava-línguas que eles conhecem.
para a ampliação do vocabulário pelos alunos.
alfabética. Para cada uma das letras do alfabeto, Organizar o espaço onde a leitura será
há um trava-língua diferente. realizada, de modo que todas as crianças sin-
Trava-línguas: um desafio É essencial destacar que, mais do que se tam-se à vontade e com boa disposição para a
poético de sons, que exige apegar simplesmente ao abecedário pela função recepção do livro.
pedagógica no trato com as letras, é fundamen- Explorar a capa: ela abre as portas para
concentração e memória tal ater-se a elementos literários que qualificam o interesse à leitura: pergunte aos alunos quais
Os trava-línguas são especialmente eficazes a obra. Assim, nesta obra, os 26 textos evocam letras aparecem no alto da capa, o nome do
nas atividades que ajudam as crianças a refletir sons – a sua matéria-prima – dando-lhes um título da obra e que relação pode haver entre
sobre a relação fonema-grafema (relação entre tratamento poético. Para a criança que está o título e a imagem apresentada (de uma Gali-
o que se fala e o que se escreve) de forma lú- sendo alfabetizada, conhecer a gama variada nha de Angola estilizada que ilustra a capa e as
dica. A proximidade sonora entre as palavras de sons que a nossa língua oferece é estimu- páginas referentes às letras G e H).
que compõem esses textos favorece a reflexão lante para o seu aprendizado. As ilustrações Levantar o conhecimento da turma sobre
acerca do sistema de escrita, pois fornece pistas fortemente coloridas em ABC do trava-língua o que é um trava-língua a partir da imagem
importantes às crianças sobre as possíveis letras ocupam um grande espaço nas páginas e des- de um personagem com um “nó” na língua.
a serem usadas em cada palavra, cujas escolhas tacam elementos do texto verbal, dando-lhes Para amarrar a discussão, explique aos alunos
são decisivas para o processo de significação. uma dinamicidade e valorizando esteticamente que o trava-língua é um conjunto de palavras
Os trava-línguas são gêneros que fazem a obra. As imagens instigam a ampliação de
parte da tradição oral. Neles a intencionalidade sentidos do texto verbal.
estética da linguagem se destaca por colocarem O contato com esse tipo de texto enriquece
em primeiro plano a materialidade sonora das muito o processo da alfabetização. Para cada O levantamento do repertório de textos dos alunos é um importante instrumento
palavras, explorando ao máximo a sonoridade, letra, há pequenos versos que remetem a trava para que o educador se familiarize com os conhecimentos que os alunos possuem
as oposições entre os fonemas, os significados -línguas populares, um para cada letra. O texto e priorize determinados aspectos do trabalho. Dessa forma, se ocorrer de os alunos
inusitados produzidos pela junção de palavras explora, assim, aliterações (repetição de sons não conhecerem ou conhecerem poucos trava-línguas, é nesse momento que o
que se aproximam pela forma em composições consonantais) e assonâncias (sons semelhantes professor vai apresentar e explorar as características do texto com diferentes exem-
que beiram o nonsense. São considerados desa- das vogais), provocando “travas” na língua e plos. Caso contrário, se as crianças já dominam bem uma diversidade de textos, o
fios verbais, devido à grande concentração que desafiando o leitor. professor poderá retomar algumas características do gênero, a partir da exploração
exigem para que o texto, de difícil articulação, Na obra, muitos desses textos se apresen- de alguns trava-línguas, para que os alunos possam compreender e apreciar mais
quando oralizado, seja pronunciado de forma tam em forma de quadrinhas – outro gênero essa forma poética popular.
rápida e correta. poético, de forma fixa. Mas nem todos são

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que brincam com os sons e o significado das palavras, exigindo muitos Depois da leitura
movimentos da língua, devido à presença de palavras com sonoridade
semelhante ou de difícil pronúncia, que levam o falante a confundir os Distribuir um trava-língua do livro, digi- xerocado para cada aluno e em seguida pede
fonemas e pronunciá-los de forma errada, “travando” a língua, daí o tado, para cada aluno (conforme as sugestões do que eles circulem determinadas palavras. Po-
nome do gênero. tópico anterior) e instigar as crianças a recitá-lo de-se, por exemplo, explorar as terminações
Ler o texto da quarta capa, recitando e instigando os alunos a re- algumas vezes. Essa atividade pode (e deve) ser silábicas que rimam no texto, na página 23
citarem o trava-língua “Três pratos de trigo”. Em seguida, diga algumas levada para casa, de modo que a família cola- (como praça, traça e graça); ou palavras que
letras do alfabeto aleatoriamente (uma por vez) e pergunte se alguma bore com a memorização do aluno. Caso você possuem uma consoante antes do R (como
criança conhece trava-línguas com essa letra. perceba que não será viável o exercício fora da trufa, truta, trancou, tramou etc.); ou ainda
sala de aula, selecione alguns minutos do dia encontrar determinada palavra.
para exercitar a dicção dos alunos. Dependendo do nível da turma é possí-
Durante a leitura Organizar a turma para um campeonato vel também ditar diferentes trava-línguas para
Ler os trava-línguas do livro seguindo a ordem alfabética. Nesse de “Trava-língua, trava e brinca”. Dependendo serem escritos em um cartão ilustrado. Pos-
momento pode-se instigar os alunos dizendo, por exemplo, que o livro da infraestrutura da escola, os alunos poderão teriomente, o professor poderá reproduzir os
começa com a mesma letra do nome de determinada criança. Seguir realizar essa atividade em um ambiente externo cartões em outro formato e organizar um jogo
a ordem nesse primeiro momento é muito importante, pois os alunos à sala de aula. A disputa terá como vencedor da memória.
podem acompanhar a sequência alfabética apoiando-se no alfabeto ex- aquele(s) que recitar(em) o texto mais rápido e Pode-se também propor a criação de no-
posto na sala de aula. sem errar. O vencedor deve ser eleito por toda vos trava-línguas a partir das iniciais dos nomes
Para dinamizar a leitura, escolha alguns trava-línguas para recitar a sala de forma democrática e divertida. de cada aluno. Sugerimos a organização dos
durante a semana, sempre convidando os alunos a recitarem junto. Os textos que foram entregues para cada alunos em duplas: um aluno cria o trava-língua
Deixar os alunos escolherem um trava-língua para memorizar e aluno por escrito poderão ser utilizados para essa a partir da letra do nome do seu par. (Aqui o
recitar. Essa atividade pode ser organizada de acordo com as iniciais dos próxima atividade. Com o intuito de explorar professor assume o papel de escriba quando
nomes e dos sobrenomes dos alunos (no caso de repetição). as rimas presentes em todos os trava-línguas da necessário. Caso a atividade seja difícil para
obra, peça aos alunos que coloram somente as a maioria da turma, realize-a coletivamente.
palavras que rimam. Na hora de socializar a Neste caso, a escolha das letras com as quais
atividade cada aluno recitará novamente o texto novos textos serão criados de acordo com a
e, em seguida, lerá apenas as palavras marcadas. intenção do professor).
Pode-se trabalhar a memorização coletiva Após a criação dos trava-línguas as duplas
de um trava-língua escolhido pela turma e, deverão recitá-los no momento “Trava-turma,
posteriormente, o professor poderá distribuir trava-dupla”; em seguida, as produções podem
o texto com lacunas a serem preenchidas pelos ser ilustradas pelas crianças e expostas no mural/
alunos. Segue um exemplo, com o trava-língua varal da sala.
da letra K: “Kika caiu ________ / Kakito caiu Atividade de produção do ABC dos
de ___ / Coitada da Kika ______ / Kakito trava-línguas da turma.
correu ____”
Outro exemplo de atividade que se utiliza História sobre bichos
da memorização é o registro de um trava-lín-
gua já memorizado pela turma em um cartaz
contada em versos
decorado. O(a) professor(a) explica às crianças O terceiro livro dessa seleção é Meu bicho
que elas deverão prestar bastante atenção, pois de estimação, de Yolanda Reyes, com ilustra-
em determinadas palavras fará uma pausa para ções de Mariana Massarani. Como num jogo
que elas as leiam sozinhas. de adivinhação, passam pelas páginas diver-
Localizar e identificar palavras. O profes- sos bichos e seus donos, mas nenhum deles é
sor entrega um trava-língua digitado/escrito e o bicho do menino, narrador dessa pequena

30 Literatura na hora certa a POESIA NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 31


história, de ritmo forte e cadenciado, conta- companheiros, traidores,/Mas o meu é diferen- vive, dando pistas para os colegas. O interessan-
da em versos. O nosso personagem apresenta te, não existe outro igual”. te da brincadeira é propor adivinhações como
ao leitor vários bichos e anuncia que nenhum Ao final dessa exploração, seria muito na narrativa lida.
deles é igual ao seu: “...o meu é diferente, não interessante deixar os alunos falarem sobre seus Bichos de A a Z. Nesta atividade, os
existe outro igual...” A sua mascote faz tudo bichos de estimação, antes de se iniciar a leitura alunos podem pesquisar em casa com a ajuda
que os outros bichos fazem e muito mais. Ao da história. dos pais alguns bichos cujos nomes se iniciam
final da história, descobrimos que a mascote ou por uma letra do alfabeto. Nas aulas seguintes,
bicho de estimação é o pai do menino, que, Durante a leitura eles levarão uma foto ou desenho do animal e
na sua imaginação, se metamorfoseia em vários construirão coletivamente uma quadrinha sobre
bichos em brincadeiras que inventam juntos. Ao ler as quadrinhas de cada par de pá- o bicho, tendo a professora como escriba.
As ilustrações que dialogam com o texto verbal ginas (elas aparecem ora na página da esquer- São muitos os livros de poemas e de
são ricas em detalhes que reforçam o clima de da ora na da direita), é importante mostrar as narrativas que exploram a temática bichos de
suspense sobre qual seria o bicho de estimação imagens, as quais oferecem muitos elementos estimação e outros animais. Os poemas de Vi-
que reúne tantas características comuns aos que, com certeza, mobilizarão as crianças com nícius de Moraes, do livro A arca de Noé, por
outros bichos e muito mais. A brincadeira de os conhecimentos que têm sobre os bichos. exemplo, podem ser lidos e declamados no
adivinhar se mostra desde as folhas de guarda, Algumas perguntas podem contribuir decorrer das atividades sobre a temática, am-
que estampam vários bichos, entre os quais se para a construção dos sentidos na relação que pliando o repertório dos alunos e propiciando
destaca um estranho pinguim. A criança é assim se estabelece entre texto e imagem, logo no o envolvimento com ritmos e rimas, bem-vin-
provocada a descobrir que bicho tão querido é início da história: que bichos são da terra, do dos na fase de descobertas em que as crianças
esse, afinal, seguindo as pistas, muitas delas pro- ar e do mar? Possivelmente os alunos terão começam a refletir sobre o que aproxima ou
positalmente falsas e por isso muito divertidas. mais dificuldade de encontrar resposta para os distingue os sons da língua.
mencionados bichos do fogo, e a resposta pode que compartilham. Como é de se esperar, o
vir das ilustrações: os bichos que queimam. Que forte apelo afetivo do texto literário pode fazer
Antes da leitura bichos são da roça e quais são os que temos em emergir na sala de aula as mais diferentes reações REFERÊNCIAs BIBLIOGRÁFICAs
Apresentar aos alunos, sentados em cír- casa, nas cidades? dos alunos, que devem ser acolhidas por quem BORDINI, Maria da Glória. Poesia infantil. São Paulo:
culo, o livro: seus elementos de capa, da con- Na continuidade da narrativa em versos, conta a história. Ática, 1986. (Série Princípios).
tracapa, das folhas de guarda. a segunda quadrinha brinca com dimensões CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore
Na capa, explorar as imagens buscando – bichos grandes e pequenos – e com caracte- Depois da leitura brasileiro. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro/
relacioná-las com o título do livro. Quem são rísticas dos animais. Que outros bichinhos são Ministério da Educação e Cultura, 1962.
Terminada a leitura, as crianças podem
os personagens que aparecem na capa do livro? pequeninos como as pulgas ou enormes como FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva; et al. Glossário
desenhar o seu bicho de estimação, e se já sou- Ceale: termos de alfabetização, leitura e escrita para educa-
O que eles fazem? Qual o título do livro? os cavalos?
berem escrever, podem dar-lhe um nome, es- dores. Belo Horizonte – UFMG/Faculdade de Edu-
Se as crianças ainda não conseguirem ler À medida que se conta a história, inicial- crevendo-o abaixo do desenho. Os desenhos cação, 2014.
o título, este pode ser lido pelo professor, para mente mais descritiva na apresentação de vários e nomes vão compor o painel do “Zoo de GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 14.ed.
que, em seguida, se explorem os elementos bichos, a leitura vai ganhando um novo interes- estimação da turma”. São Paulo: Ática, 2006. (Série Princípios).
visuais em relação a ele. Se o nome da história se em torno do misterioso bicho de estimação. Para explorar a linguagem oral, cada LAJOLO, Marisa. Palavras de encantamento: antologia
é “Meu bicho de estimação”, qual desses bichos Esse fluxo, com certeza, deve ser considerado criança tira de um saco o nome de um animal de poetas brasileiros. v.1. São Paulo: Moderna, 2001.
é o bicho de estimação do menino? Por quê? na leitura e na exploração das imagens para que vem acompanhado de sua imagem, para, SOARES, Magda. A escolarização da leitura literária.
A quarta capa dá continuidade à conversa que as crianças se envolvam mais e mais na sem dizer qual é o bicho, falar o que ele gosta In: EVANGELISTA, Aracy; et al. (orgs.). A escolari-
iniciada na exploração da 1ª capa, trazendo ou- tentativa de descobrir qual é, afinal, o bicho de fazer ou de comer, como ele é e como ele zação da literatura. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
tros bichos e aumentando a dúvida que só será de estimação do menino.
resolvida no final da história com as imagens A cena final, composta por imagens e
de outros bichos e o pequeno texto em verso com apenas uma palavra, surpreende ao mostrar
que anuncia: “Esses bichinhos que amamos po- que o bicho de estimação é o pai do menino,
dem ser encantadores,/detestáveis, rabugentos, que incorpora todos os bichos nas brincadeiras

32 Literatura na hora certa a POESIA NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 33


Luciene Juliano Simões 1
Eliana Guimarães Almeida 2

A o escrever, é preciso que tenhamos certo propósito e


leitores em mente, não é mesmo? Pois bem, começa-
mos por aí. Escrevemos este capítulo tendo como interlo-
cutores projetados um grupo de professores alfabetizadores
que, empenhados em garantir às crianças, seus alunos, as
aprendizagens de que têm direito, pensam também, como
nós, que a escola tem um compromisso com a formação
do leitor de literatura. Nesse sentido, este capítulo é um
convite: vamos pensar em literatura e em seu lugar na
educação escolar, em seu mais impactante início?

1
Doutora em Letras, professora titular do Instituto de Letras da UFRGS. Atua como
orientadora de estágios de docência de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental
e no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRGS. É autora dos Referenciais
Curriculares do Estado do Rio Grande do Sul, no componente de Linguagens -
Língua Portuguesa e Literatura. Entre suas publicações, está o livro Leitura e autoria
– planejamento em Língua Portuguesa e Literatura (PNBE/Professor).
2
Pedagoga e mestre em Educação pela FaE/UFMG. Atua na rede municipal de ensi-
no de Belo Horizonte. Formadora no Ceale-FaE/UFMG e Membro do Grupo de
Pesquisas do Letramento Literário – GPELL.

35
Primeiras palavras: leitores e Antes de mais nada, quando se trata de um memorizados de escrita, até mesmo da sucessão
leitor que ainda não sabe decodificar a escri- de episódios de uma história que conhecem e
leitura no primeiro ano de escola ta alfabética, corremos o constante perigo de que sabem estar escrita em determinado porta-
O primeiro ano do Ensino Fundamental é talvez aquele que se definir ler como decodificar, como conhecer dor de textos. Enfim, as crianças que convivem
enraizou em nossa memória coletiva como a estreia na escola; afinal, letras e saber associá-las no reconhecimento com a escrita podem ler à sua maneira e apoiar-
é o ano de aprender a ler e escrever. Por mais que saibamos que essa de palavras, ou mesmo de definir ler como ser se em múltiplas pistas na tentativa de construir
aprendizagem já começa nas experiências cotidianas das crianças fora da capaz de fazê-lo em voz alta, de modo fluente uma compreensão. O reconhecimento desses
escola e nos anos de Educação Infantil, e por mais que desejemos que e fiel ao conjunto de sinais gráficos registra- variados gestos de ler, contudo, novamente
vá se estender por toda a vida, nada tira do primeiro ano a expectativa dos em determinados materiais impressos. Isso não nos coloca diante da leitura, por mais que
do encontro direto com as letras e com o mundo da escrita, mundo no porque de fato essas aprendizagens já são um haja neles um fenômeno de compreensão. Ou-
qual a literatura é um universo importante e mesmo fundamental, sem extraordinário passo na aproximação entre um tro perigo, então, é associar ler tão somente a
o qual não se pode pensar em formação do leitor. É o momento, então, leitor-aprendiz e a escrita, passo em si mesmo reconhecer certo texto em seu sentido geral,
de nos perguntarmos: o que significa ler e ler literatura? A resposta a essas complexo e, como sabemos, puxado – para as dispensando a decifração e a reflexão: mais uma
duas perguntas é fundamental para que realizemos um bom planejamento crianças e para seus professores. Além do mais, vez nos deparamos com uma redução.
da nossa atividade como professores e mediadores de leitura. Em nossos esse também é um passo indispensável para que Por fim, sabemos que as práticas de leitura
ditos e nas entrelinhas, estaremos até o final do capítulo tecendo uma as crianças venham a desempenhar seu papel são significativas na vida das pessoas e, portanto,
resposta a essa pergunta, e gostaríamos que ela acompanhasse vocês e de leitores de modo proficiente. das crianças, por trazerem a elas a possibilidade
seus colegas de escola constantemente. O que você considera leitura e Contudo, nunca é demais lembrar que as- de um deslocamento, de uma descoberta. En-
leitura literária? E mais: como você pode proceder de modo a mostrar o sociar a leitura apenas à decodificação é uma fim, a leitura é revestida de propósitos: lemos
que são (leitura e leitura literária) para crianças bem pequenas, que apenas redução. Isso porque leitores assíduos jamais em busca de informação, em busca de conheci-
começam a adquirir suas habilidades para ler? Eis nosso grande desafio. param na decodificação; apesar da decodificação mento do mundo e do conhecimento de outros
acompanhar o leitor sempre, nem sempre se pontos de vista sobre o mundo, em busca de
verifica que venha antes de outros processos de entretenimento, de prazer e de reflexão sobre
compreensão e interpretação, também atuan- nós mesmos, sobre nossa história coletiva, para
tes na leitura proficiente. Ao contrário, quando a compreensão e a superação de nossos con-
atingimos a maturidade como leitores, é pre- flitos. Nesse sentido, quando, por exemplo,
ciso encontrar palavras novas e desconhecidas uma criança escuta uma história a ela contada
combinações entre elas, quem sabe estranhas ou oralmente e é chamada a expressar seus enten-
inventadas, para que tenhamos consciência de dimentos, suas reações, além de ser chamada
que estamos decodificando: no mais, lemos de tal a conhecer o modo como outros, adultos ou
modo que nos interessam os sentidos ou mesmo não, compreenderam e reagiram ao texto, ela
as sonoridades, e não as letras em si, que apa- está imersa num evento que oportuniza um
rentemente não nos ocupam no ato da leitura. exercício de leitura crítica e participativa. No
Ao mesmo tempo, nós, que convivemos entanto, mais uma vez, se as experiências com os
com crianças pequenas e prestamos detida aten- escritos forem sempre mediadas por um porta-
ção em suas relações com os escritos que as voz que ocupa o lugar de decifrador, por mais
cercam, notamos que, mesmo antes de decodi- ricos que sejam esses exercícios interpretativos
ficar a escrita alfabética, elas podem estabelecer na leitura coletiva, temos mais uma redução das
relações múltiplas com a leitura: as crianças práticas de leitura: o leitor que não decodifica
ocupam-se com gestos leitores e investigam de com autonomia, que não se vale, ele mesmo, das
modo ativo os livros a que têm acesso. Nessa pistas gráficas e linguísticas para a compreensão,
investigação, elas podem apoiar-se em ilustra- e que não pode, assim, estar fisicamente sozinho
ções para construir sentidos, podem lançar mão com o livro no ato de ler. Enfim, esse tampouco
do reconhecimento de nomes, de fragmentos é um leitor no sentido cheio da palavra.

36 Literatura na hora certa Prosa para o pequeno leitor 37


Considerando, então, esse panorama, queremos desenvolver com Leitura literária na prosa
nossos pequenos leitores atividades de sala de aula que deem um teste-
munho de leitura incluindo aspectos conjunturais resumidos na figura Uma alegria: ao dirigir esta reflexão a você, única e envolvente. Provavelmente, ao pensar
abaixo, a qual elenca as práticas simultâneas, não ordenadas e sempre professor(a), sabemos que o fazemos numa cir- em prosa, pensamos logo nas narrativas, não é?
necessárias para que tenhamos leitores e leitura. cunstância fecunda. Isso porque você acaba de As histórias para crianças são o elo que liga os
receber um acervo de qualidade para uso por textos de prosa, com toda a sua diversidade.
seus alunos na sala de aula de alfabetização. Por que temos aqui uma narrativa, um conto?
Quem sabe começamos por um passeio por esse Temos personagens envolvidos em ações que
acervo e, a partir dele, refletimos juntos sobre se dão num tempo delimitado e num espaço
Decodificar: Participar e compreender:
o que está escrito aqui? quais os sentidos do texto? o que é indispensável na leitura literária e sobre reconhecível; a partir das ações, resulta uma
o que há em comum entre os livros incluídos complicação que se desenrola para um clímax.
sob a etiqueta “prosa”? O convite está feito! A esse clímax, segue-se um desfecho no qual
LER o equilíbrio inicial é recuperado, e o leitor é
Vamos pensar juntos sobre Bililico. O
Interpretar e criticar: livro está no acervo PNAIC que sua escola re- premiado pela solução de um conflito.
Atingir finalidades: cebeu? Então, retire o livro da caixa e leia. Não Além disso, essa história vale-se dos gestos
que ponto(s) de vista o(s)
para que leio? verbais e motes historicamente presentes na lite-
texto(s) expressa(m) e como é uma beleza? Trata-se de um texto encantador,
me posiciono diante dele(s)? ao mesmo tempo delicado, engraçado e aven- ratura infantil de modo bem exemplar. Temos a
turoso – e nesse último ponto com certa dose recriação ficcional e imaginativa de um mundo
de suspense. Também, é um texto que atrai, reconhecível: a casa e a família. Nesse espaço,
Pensando em aprendizagem, esse conjunto implicado na leitura diverte e faz pensar, pois mostra como é arris- vivem dois personagens também conhecidos, e
aponta para a necessidade, no ensino e na mediação, de darmos atenção cado simplesmente viver, para mães amorosas disponíveis para que o pequeno leitor se iden-
à alfabetização vinculada ao letramento, e vice-versa. Se você quiser ler e filhos curiosos e brincalhões, ainda por cima tifique – uma mãe em seu grande tamanho e o
mais sobre isso, três bons textos são os de Solé (1998), Soares (2004) e quando estes são pequenos demais para andarem filho em sua evidente pequenez. Note que algo
Picolli e Camini (2012). sozinhos e perdidos por aí. Trata-se, ainda, de fundamental na relação entre mães e filhos é
Os momentos de leitura na sala de aula, assim pensados, serão, um texto simples do ponto de vista linguístico simbolizado aqui pelos tamanhos – algo bem con-
então, oportunidades para que estejam em jogo tanto as atividades e do ponto de vista da linguagem visual. Essa creto está disponível para representar sentimentos
cognitivas de decodificar e de compreender a escrita quanto as práticas simplicidade, contudo, está a serviço de uma e conflitos existenciais, que de outro modo se-
sociais que estão ligadas aos textos, permitindo que o leitor conheça as notável riqueza simbólica, associada não apenas riam de difícil discussão por crianças pequenas.
letras e o mundo da escrita. Para isso, é importante dosar ao invés de à maestria das autoras no manuseio da lingua- Na exploração dessa metáfora dos tamanhos,
fragmentar. Mas o que queremos dizer com isso? Queremos dizer que, gem visual e da língua portuguesa, mas também tudo colabora para a imaginação simbólica: os
a cada distinta atividade de leitura planejada, é importante dosar e dar à maestria com que lançam mão dos recursos nomes dos personagens; o modo direto e simples
foco a um ou a alguns dos aspectos da leitura, sem com isso acreditar da narrativa para crianças e criam uma história como o texto verbal descreve os personagens e
que possamos ter leitura se não tivermos, de modo algum, qualquer uma
de suas práticas constitutivas. Se usarmos os textos para apenas levar a
criança a decodificar, estaremos fragmentando. Se mediarmos a leitura
sem nunca solicitar que a criança decifre, estaremos fragmentando. Se
realizarmos leituras orais com discussão e não dermos espaço para o Bililico narra um momento de aflição vivido por
contato com o portador de texto, para dar oportunidade à compreensão Bi, a mãe, e Bililico, seu filho. A aventura narrativa
gira em torno do sumiço de Bililico dentro de sua
direta pela criança, estaremos fragmentando. E assim por diante. A ideia própria casa, para susto dele e de sua mãe. Carregado
então é ter maior ou menor ênfase nessas atividades numa determinada por um pássaro, ele cai dentro de uma flor, de onde
aula ou momento de aula, mas jamais, em nossa pedagogia, perder de sai navegando em uma folha. Só que as águas são o
vista o todo (o conjunto) implicado na leitura. Você verá que nossas choro de Bi, que não o encontrava. O mote do livro
são os tamanhos incomensuráveis de mãe e filho,
sugestões favorecem essa integração, e servirão de exemplos do que além de muita fantasia. Munidos de apitos, eles estão
estamos discutindo aqui. seguros de que não se perderão mais.

38 Literatura na hora certa Prosa para o pequeno leitor 39


os acontecimentos; além da representação visual, cujo desfecho é proporcionado pela decisão Mas não há apenas contos. Alguns dos tex- acervos PNAIC que chegam às escolas opor-
que torna mãe e filho reconhecíveis figurativa- bem-humorada, e bem possível em realidades tos em prosa nos acervos PNAIC são convites à tunizam o cerne da experiência literária: ofe-
mente, por atributos como a chupeta e a touca, vividas, em favor do uso de apitos: note que brincadeira – seja com a imaginação, a curiosi- recem fruição estética e, por meio dela, pro-
mas lhes dá certo aspecto onírico e bem-hu- o expediente garante a autonomia de Bililico dade ou a própria linguagem, como em Cada blematizações e oportunidades para imaginar
morado: seus rostos são engraçados, e o uso da para seguir brincando livre, mas salvaguarda casa casa com cada um, seja lançando mão e brincar, na direção do autoconhecimento e
perspectiva (figura da mãe, de quem só se veem seu seguro retorno para a supervisão da mãe. de propostas que colocam o livro em relação do conhecimento de mundo. Sem dar lições,
os pés) e da proporção (figura de Bililico, menor No entanto, caso você não tenha recebido com as ações e o corpo do leitor, como na ordens ou conselhos explícitos, sem apelar para
do que a louça da casa) conspiram para a enor- o acervo que contém o livro Bililico, leia a histó- obra Aperte aqui. Nesses casos, temos so- moralismos. Além disso, por meio das relações
midade da mãe e a pequenez de Bililico. ria Mil e uma estrelas, de Marilda Castanha. bretudo provocações, mediadas pelo ludismo. intertextuais que se revelam nas histórias, cons-
Esses tamanhos tão distintos são apenas um Novamente, é uma história rica em repre- No primeiro livro, trabalha-se a sonoridade da tituem-se em itens pertencentes a uma tradição
dos elementos fabulosos que transformam esse sentações simbólicas que servem à elaboração língua para brincar com conhecimentos acerca literária, que aos poucos virá a ser conhecida
conto, até certo ponto comprometido com o da existência pelo pequeno leitor, contada por do mundo dos animais; no segundo, uma série pelas crianças (ver CADEMARTORI, 2009;
real, num conto híbrido, no qual o maravilhoso meio da criação de um mundo ficcional reco- de jogos motores e espaciais incentivam o pro- ZILBERMAN, 2003; 2005).
intervém para auxiliar o leitor mirim a refletir. nhecível e de uma sucessão de ações na direção tagonismo infantil, ações e reações entretidas. Assegurar, acima de tudo, essa experiência
Outros elementos evidentes dessa imaginação de um novo equilíbrio. Ademais, a capa de Cada casa casa com cada um imaginativa e aberta, ainda que esteja associada,
fabulosa são o voo com o pássaro, o rio de lágri- Nos acervos PNAIC de livros em prosa, é atrativa de modo tátil e o livro Aperte aqui no conjunto das atividades, a outros direitos
mas e a noite passada dentro de uma flor. Esses estamos, portanto, diante de contos cuja nar- oportuniza sugestões à ação digital, também de aprendizagem, é nossa principal preocu-
episódios da história lembram bem aventuras rativa pode ser mais ou menos realista e que promovendo o ler-brincando. pação ao didatizar, nas sugestões que faremos,
como as de Alice no país das maravilhas, não é permitem, pelo contato com um desequilíbrio Assim, além de apresentarem diversifica- a leitura literária. É claro que queremos dar
mesmo? Criam uma atmosfera fantástica numa e sua solução, que as perspectivas de mundo das explorações artísticas da prosa ilustrada, os lugar à progressiva conquista das habilidades
história linear, ancorada na vida cotidiana, do leitor se alarguem, possibilitando reflexões
sobre si mesmo, por meio da diversão com his-
tórias alheias – imaginado em outros mundos o
encaminhamento de suas próprias curiosidades
e de seus próprios problemas.
Além dos contos mais ligados ao fantástico
como os descritos, há aqueles mais ligados ao
cotidiano das crianças, como Alô, mamãe!
Alô, papai! ou Na janela do trem. Outros,
ainda, são histórias de animais, alegoria bem
presente na literatura para crianças, como Dia
de pinguim e Gato no telhado.

40 Literatura na hora certa Prosa para o pequeno leitor 41


de leitura: decodificar, reconhecer as informações explícitas no texto, marca a leitura literária, virá paulatinamente. um encadeamento que pode ser lido de modo
fazer inferências, antecipações e confirmações de hipóteses, integrar as Ao permitir que a criança circule pelos livros, mais independente e contam com um projeto
partes e os eventos num todo narrativo, entre outras. Essas aprendizagens, estamos dando o recado de que a consideramos gráfico-visual bem adaptado ao leitor iniciante?
contudo, farão parte de nossas preocupações didáticas de tal forma que capaz de selecionar e de ler. Um exemplo de obra que atende a esses
estejam a serviço da leitura literária: o centro da atividade é a abertura Começamos, então, com a experiência au- requisitos é Bililico, já comentada aqui. Outro
para sentidos plurais, para a conotação, para a fruição direta, reiteramos, tônoma com a leitura, discutindo sua impor- exemplo é O gato no telhado. Note que, apesar
de uma experiência sobretudo estética e imaginativa. tância para a formação do leitor literário desde do dinamismo dos elementos visuais desta capa,
Antes de prosseguir, desfrute você do conjunto de livros. pequeno e propondo modos de favorecê-la. que se vale de cores e de figuras geométricas
Mas, antes, uma pergunta. Seus alunos, em para dar movimento ao todo, o gato com seu
sua maioria, ainda não decodificam a escrita instrumento musical é representado de modo
alfabética? Isso não é motivo para que não te- bem figurativo, piscando seu olho brincalhão
Vá para o final deste Guia para obter uma visão do conjunto das nham a oportunidade de manusear os livros para o leitor. A criança tem condições de ime-
obras em prosa disponíveis. Note que há dois acervos: identifique livremente e mesmo de compreender, numa diatamente identificá-lo e, se não puder notar
qual deles você recebeu, usando as obras Bililico e Mil e uma es- atividade de leitura inicial, algumas das narra- que segura um instrumento musical, logo, logo,
trelas como pista; cada uma delas pertence a um dos dois acervos tivas, uma vez que estas são apoiadas por uma ao abrir o exemplar, poderá reconhecê-lo. Isso
em prosa do Programa (PNAIC). Talvez sua escola conte com exploração rica da linguagem visual. Retome porque, ao abrir este livro, o leitor se depa-
ambos. Nesse caso, você poderá trabalhar em conjunto com seus o acervo: observe que livros são mais breves. ra com uma nova representação, ainda mais
colegas, de forma a ampliar a diversidade de títulos que passarão Que histórias organizam seu universo de modo figurativa e sem texto verbal, dos elementos
pelas mãos dos alunos. Dê uma boa olhada nas capas, títulos e bem recortado e se valem de texto verbal sim- presentes no título: nota-se evidentemente que
autores disponíveis para consulta. ples e direto? Quais das histórias ilustradas têm nosso bicho travesso está em cima do telhado.
Leia integralmente o maior número possível de obras. Vá sepa-
rando: Como se agrupam confor me os gêneros da prosa? Como
se agrupam confor me as condições de leitura dos alunos?

Escolha autônoma, leitura mediada


Nas salas de aula que conhecemos, a heterogeneidade é a regra.
Embora a separação por faixa etária seja fruto de nosso empenho em
ter conosco grupos cujos membros têm muito em comum, sabemos
que cada criança é única. Suas histórias como leitores não poderiam
ser, portanto, idênticas. Assim, fazemos aqui apenas sugestões, a serem
pensadas na perspectiva de seus alunos e das condições de trabalho ofe-
recidas por sua escola e por seu entorno.
A heterogeneidade a que nos referimos começa pelas habilidades
variadas de leitura de seus alunos e pelo contato mais ou menos intenso
com a prosa literária que tiveram na Educação Infantil e fora da escola.
Uma vantagem de ter o acervo PNAIC em sala é que os livros opor-
tunizarão a você observar as crianças: Como cada um interage com os
livros disponíveis; como cada um lê? Como vão se tornando cada vez-
mais autônomos, fluentes e experientes? Um dos objetivos deste acervo
é assegurar a relação intransferível de cada criança com seus livros de
escolha: a leitura integral, dentro dessa experiência de liberdade que

42 Literatura na hora certa Prosa para o pequeno leitor 43


– Então, o que vocês trouxeram para a roda hoje?
– Por que você escolheu este livro hoje?
– Mostre do que você gostou: foi do livro todo ou só
de uma página ou parte do livro?
– O que você captou sobre a história? É mesmo? Como
você ficou sabendo disso?

No decorrer da história, ainda que alguns sala, decorado para as contações, delimitado e Assim provocadas, é possível que as crianças principiem uma discussão
animais e instrumentos, como o próprio violi- com espaço para que as crianças leiam; nele, entre si sobre os livros lidos. Deixe que tomem seu tempo e conversem
no e o tatu, não sejam tão fáceis de identificar, uma estante pode guardar o acervo permanen- livremente, manifestando suas hipóteses, gostos ou até rechaços. Deste
outros, como o porco e seu tambor, são bem temente disponível para manuseio e atividade modo poderão escutar as histórias e versões coletivas e vão levantar um
familiares. Além disso, nosso leitor mirim poderá autônoma. Se não houver espaço e móveis, repertório – ao longo do ano, mais um conhecimento vinculará a turma, o
perceber ao longo das ilustrações que trata-se de disponha os livros pendurados em TNT trans- conhecimento sobre como cada um se relaciona com as histórias ficcionais.
uma história em que bichos tocam música e po- parente ou em uma cesta ou caixa e mantenha Por fim, nas rodas, elementos importantes para o aprendizado da leitura
derá aguçar sua curiosidade acerca do conteúdo o acervo na sala, em lugar acessível para que aparecerão: palavras associadas às ilustrações ou decodificadas, prontas para a
do texto verbal que acompanha cada quadro. as crianças mexam e escolham as obras. Você partilha, assim como hipóteses, antecipações, curiosidades. Dê corda! Nada
Note como o texto verbal é oferecido à criança pode, evidentemente, optar por deixar disponí- como oportunidades emergentes de ensino-aprendizagem.
de modo bem claro: sempre na mesma posição, vel todo o acervo. O que não imaginamos, de Para terminar, contemple a escolha de um aluno e leia uma
sobre fundo branco, em fonte graúda e letras modo algum, é que este acervo fique guardado história integralmente. Aproveite o momento para, por meio de sua
maiúsculas. Quem sabe algumas das crianças não longe das crianças e interditado! própria leitura expressiva, oportunizar a plena fruição da obra. Mas não
possam mesmo reconhecer algumas das palavras, Propomos que haja, pelo menos, dois mo- a reconte, dispensando o livro ou adaptando-o: neste momento, apoie
como gato, tatu, bode, música e assim por diante: mentos semanais para oferecer um conjun- sua leitura no texto tal como aparece no livro e posicione-o de tal forma
palavras comuns cuja estrutura silábica é simples, to de livros e tempo para que as crianças os que, se não todo o tempo, pelo menos de tanto em tanto, os pares de
iniciadas por consoantes já conhecidas de muitas manuseiem autonomamente. Nesse momento ilustrações em página aberta, acompanhados de texto, fiquem visíveis.
crianças. Por fim, ainda que nada disso ocorra, de sua rotina, os alunos examinarão as obras A contação de histórias é um maravilhoso evento de oralidade: vamos
cada quadro da narrativa visual proporciona por para escolher as de sua preferência, tomando considerá-la um dos modos de trabalhar as aprendizagens da oralidade e
si fruição: as cores e as formas são utilizadas com uma (ou mais de uma a depender do tempo da tradição artística ligada à comunhão pela fala. Aqui, entretanto, é o
qualidade para, ao mesmo tempo, encenar e que têm) nas mãos para folhear e fruir. Quem dizer de um texto simultaneamente lido, com esforço desse leitor por
ambientar a história, assim como para abrir os sabe no mínimo uma das duas sessões semanais tornar reconhecível a origem escrita do que diz, que temos em mente.
horizontes artísticos da criança, uma vez que de atividade autônoma com o acervo possam Não esqueça de alternar essa leitura expressiva, semana a semana, entre
as correspondências entre cores e formas são ser completamente livres e gratuitas? Simples- o livro eleito por uma criança e o livro de outra, de modo que todas
inusitadas e o conjunto é ao mesmo tempo har- mente, as crianças terão seu tempo de leitores, venham a ter sua escolha premiada. Além disso, tenha em mente o pro-
mônico e um pouco estranho. e pronto. Nesse caso, uma outra sessão pode pósito de, aos poucos, passar a função de dizer o texto para as próprias
Então, ao examinar o acervo PNAIC, se- ser reservada para um início de turno de aula crianças e, por fim, chegar ao compartilhamento na roda de conversa,
lecione as obras que têm características afins às na mesma semana; tente valorizar uma roda sem necessidade de leitura em voz alta: ou seja, almeje formar um grupo
descritas e ofereça às crianças. Uma possibili- de conversa, na qual você, primeiro, poderá que discute leituras que pôde escolher e realizar em silêncio, autonoma-
dade para isso é manter um canto de leitura na instigar seus alunos a mostrar e a falar: mente. Mas aí já estamos falando da leitura autônoma propriamente dita.

44 Literatura na hora certa Prosa para o pequeno leitor 45


Leitura autônoma Leitura mediada
Na seção acima, falamos de atividade autônoma e de escolha autô- Para que as crianças tenham acesso a um atri-
noma. Isso porque enxergamos o desenrolar do ciclo de alfabetização buto fundamental da leitura literária – a liberdade
como uma dinâmica de conquista da competência alfabética: no início, de escolha e a abertura para interagir com o livro
nossos dois tempos semanais de aula serão, de fato, escolhas e interações a seu modo – já estabelecemos dois tempos sema-
autônomas que se travam entre crianças e livros. Aos poucos, contudo, nais: um completamente autônomo, na atividade
esperamos que se tornem seus momentos de leitura solitária – ao longo de manusear o acervo, e outro momento também
do 1º ano ou do 2º do Ensino Fundamental. Note: sempre desconfiamos autônomo, seguido de compartilhamento. Agora,
do uso dos adjetivos autônomo ou solitário quando se fala da linguagem queremos voltar nossa atenção para a importância
– a linguagem é diálogo por excelência. Isso dito, esclarecemos: por da mediação na aprendizagem da leitura literária.
autônomo aqui estamos tomando os momentos de leitura em que são Com isso, queremos estabelecer certo patamar
privilegiadas as relações entre o leitor e seu livro, aquele que livremente de equivalência entre ensinar e mediar, dando
tomou para ler; entre leitor e texto, aquele que, com sua história, este um sentido ao ensino que enfatiza as atividades
particular leitor fixou por sua singular leitura. Gostaríamos de enfatizar de planejamento pelo professor e de provocação,
a importância dessa rotina escolar. São os tempos que chamamos aqui no momento da interação, de procedimentos
de momentos de leitura autônoma que darão acesso a algo que é central importantes para a leitura proficiente. Se aprende
no literário. Assim, fica de pé a proposta de que, toda semana, em dois a ler lendo, mas se aprende muito mais se, en-
momentos, as crianças possam se sentar ou deitar e ler um livro de sua tremeadas à leitura, tivermos oportunidades de
escolha. Mantemos também a proposta de que um desses dois momen- interação com leitores experientes.
tos seja seguido de compartilhamento e da escolha de um aluno para Para a mediação, escolha alguns dos livros
provocar uma leitura pública. do acervo PNAIC. Imaginamos pelo menos uma
Uma das riquezas de manter a atividade de dizer o texto ao longo atividade por semana desse tipo. No início, isso
do ano, mesmo no caso da escolha de uma obra por uma criança alfa- será fundamental para que as crianças se apro-
betizada, que vai, ela mesma, realizar a leitura expressiva, é exatamente priem dos conteúdos do texto verbal, mesmo que
trabalhar a leitura em voz alta como um dizer, como atividade expres- explícitos. Aos poucos, a atividade vai passar a
siva regida pelos sentidos do texto. Nesse caso, estimule a criança que incidir apenas sobre as estratégias de compreensão
fará sua leitura em voz alta a tomar consciência dos atributos do texto desses textos verbo-visuais e sobre as ampliações,
que demandam pausas, variações na entonação ou até mesmo no tom dando lugar à multiplicidade de leituras que cada
da voz: é importante que a leitura expressiva demarque a alternância texto literário oferece, por definição.
entre personagens, suas mudanças de humor, a presença da voz de um Vamos começar por uma sugestão de
narrador etc. A essa altura, acreditamos que você terá feito isso por leitura mediada que privilegia a atividade con-
várias semanas, e que as crianças já saibam que não basta ler de modo junta em torno do código e da compreensão,
monocórdico: o dizer expressivo, com entonações apropriadas e seg- sem perder de vista a fruição.
mentações, substitui as pistas visuais importantes para a compreensão, Trata-se da tradução “Muito, muito longe”.
além de oferecer já uma interpretação (ver BAJARD, 2005). Note primeiro que o formato do livro favorece A história narra uma briga entre um adulto
cuidador e uma criança, ambos representados
E claro, mantenha seu olhar de professor firmemente sintonizado a leitura coletiva e mediada: grande e arejado, por corpo e fisionomia de porcos.
com as crianças: dê tempo àquelas que não participam, invente atividades o livro apresenta ilustração e texto de tal forma Tudo começa no mercado e segue durante
em pares ou trios que ofereçam a elas maior intimidade e companhia, que estes podem ser visualizados e lidos de longe, parte do dia em casa. Furiosa, a criança ameaça
ou seja você a parceria de que essas crianças precisam em conversas mais por todos os alunos numa roda. Isso permitirá ir embora para ‘muito, muito longe’. Entre a
ironia e o carinho, o porco ou porca adulta(o)
individualizadas sobre os livros manuseados e escolhidos. Como sabe- que você, por vezes, faça ver o texto verbal
decide-se por fazer um bolo enquanto estimula
mos, nem todos terão o mesmo ritmo ao longo de seu primeiro ano de impresso, mesclando seu propósito principal de a fujona a imaginar como seria ‘lá longe’.
alfabetização e nem todos terão vontade de falar no grande grupo ou fruição literária a atividades de alfabetização. Se Os episódios do conto dão lugar a essa fuga
segurança para tanto. você optar por mediar a leitura desse livro mais imaginada, que, ao final, não se realiza.

46 Literatura na hora certa Prosa para o pequeno leitor 47


adiante ou por fazê-lo mais de uma vez no ano, Enfim, esse equilíbrio entre oportunidade livro precioso para dar aos pequenos o recado na composição da história, que remete ao coti-
você poderá ler e garantir que as crianças estejam e desafio é o que buscamos na progressão de implícito de que não se deve perder os textos diano, mas tem elementos fantásticos: os porcos
acompanhando a leitura ou até mesmo pedir que leituras a oferecer: nem tão difíceis que não de apoio e pular direto para o miolo do livro. humanizados e a alusão a esse espaço remoto do
leiam uma ou outra passagem. possam ser lidas de algum modo, nem tão fáceis Sugerimos começar por uma boa leitura “reino distante”. Assim, caso seus alunos tenham
Além disso, a história permite possibilida- que não provoquem aprendizagens. da capa, com o livro fechado: “Agora, vamos conhecimento prévio de contos como Os três
des de identificação em seu argumento central: Sugerimos que você comece fazendo uma ler uma história. Está neste livro (mostre a capa porquinhos, eles ativarão esse conhecimento; caso
a vontade de ir embora de tanta raiva! Quem atividade de preparação para a leitura. Essa ati- da frente): Sobre o que vocês acham que será não tenham, terão essa conversa na memória
não passou por isso? Entretanto, seus específicos vidade tem como propósito a evocação pelo esta história?” Deixe que as crianças observem, quando você oferecer, ao longo do ano, mais
andamentos narrativos são muito marcados por leitor de memórias que poderão reforçar sua sem pressa, e estimule sua participação. Caso experiências no mundo das histórias infantis.
um ambiente de classe média, em virtude das prontidão para associar o texto a suas próprias não ofereçam antecipações, faça perguntas mais Agora, abra o livro e mostre a folha de rosto.
características do edifício, dos espaços internos vivências, ampliando a leitura. Por exemplo, específicas: O que será que vai acontecer com Ajude os alunos a perceberem que o título apa-
e mesmo dos brinquedos do nosso protagonista. você pode fazer uma roda de conversa sobre este personagem? Quem é ele? Se isso não pro- rece de novo; porém, há outra ilustração ali. O
Essa especificidade sociocultural, porém, é con- momentos em que seus alunos ficam muito bra- vocar uma quebra de atenção, por romper o que podemos ver nessa ilustração? Como essa
trabalançada pelo fato de que a narrativa antro- vos: com quem ficam bravos e o que ficam com arranjo espacial do grupo, registre as antecipa- nova ilustração e as que estão nas três páginas
pomorfiza animais, abrindo espaço para que os vontade de fazer? Peça que contem a história ções no quadro por meio de palavras-chave. seguintes mudam nossa imagem da história que
alunos, em seus mais diversos ambientes, possam de alguma briga que tiveram: onde foi e quem Por exemplo, digamos que a turma, por meio virá? Por meio de uma conversa em que o maior
se identificar com o personagem. Isso pode ser estava com eles? O que provocou a discussão? de suas próprias contribuições ou por meio número possível de crianças possa participar,
estimulado, como se sugere, mostrando como Passe, então, à leitura, começando pelas de conclusões a partir das suas provocações, recupere a descrição verbal do que se vê ali:
esse tipo de estratégia pode dar lugar a interpreta- antecipações importantes de se fazer antes de construa algo em torno de o porquinho estar O porquinho está num carrinho de compras
ções diversas pelas crianças. A ideia é justamente ler. Essas antecipações são parte das práticas de andando de bicicleta, carregando um saco à empurrado por outro porco: Mas são porcos
deixar que todas essas múltiplas posições, da total leitores experientes: estes o fazem sem nem moda das bagagens nas histórias tradicionais; ou porcas? O que vocês acham? Onde estão?”.
identificação à recusa, fiquem manifestas e pos- perceber mas, antes de adentrar um livro, exa- talvez percebam, ainda, que o farol da bicicleta Indague as crianças. Permita que elas arrisquem
sam ser associadas ao andamento da narrativa. minam o exemplar. Sua capa, seus textos se- projeta um facho de luz apenas visível à noite: e discordem: um prazer da leitura literária é a
Por fim, os sentimentos dos personagens são cundários ou paratextos, como a folha de rosto curiosidade frente à indeterminação... Faça o
expressos com muita força neste texto, sem qual- ou as orelhas, o texto da capa de trás (4ª capa), convite: Agora vamos olhar de novo para as
quer explicitação. Isso aparece no texto verbal e assim por diante. No caso deste livro, note BICICLETA quatro cenas, prestando bem atenção no rosto
por meio de vários índices: a exclamação, a re- como os paratextos iniciais são importantes, deles. O que está acontecendo?” Nesse caso,
PORQUINHO/A
petição de palavras em segmentos, de segmentos pois contêm informações que, de certo modo, o importante é que compreendam que houve
em páginas e de estruturas sintáticas em lances começam a história antes do início efetivo: há PASSEIO briga. Não permita que essa conclusão seja de
narrativos. De um lado, está a ambiguidade do pequenas ilustrações que mostram a sucessão VIAGEM apenas um ou alguns, sem que os demais perce-
adulto cuidador, que por vezes debocha e man- de cenas no mercado, durante as quais a dis- ESCURO bam que as ilustrações deram as pistas necessá-
tém uma expressão irônica, mas que permanece cordância entre os personagens começa. Esse rias: retorne e recupere com as crianças as pistas,
firme em seu carinho e proteção; isso requer que é um aspecto divertido dessa edição: há uma trazendo a turma conjuntamente para este ato
as inferências produzidas pelas ilustrações sejam mescla entre texto e paratexto, e o texto verbal Questione as crianças sobre o título da his- de compreensão de texto e de inferência.
notadas. De outro, a mudança de ânimo do pro- já começa com a briga em pleno andamento, tória: Onde está o título? Alguém sabe me dizer Agora adentre o texto, e realize a leitura
tagonista, que começa bravo e vai mudando ao o que torna coerente o aparentemente abrupto qual é o título? Caso ninguém consiga ainda expressiva, dando às crianças, sempre que pos-
longo das hipóteses que traça sobre sua ‘viagem’. início, com a declaração: “É isso. Estou indo construir essa leitura do código, provoque: Há sível, acesso visual ao livro – queremos que
Outro atrativo desta obra é que ela oferece embora. Esta noite. Para sempre. Você não uma palavra no título que aparece duas vezes. aprendam a acompanhar, a relacionar a voz
ampla oportunidade para as descobertas das pode me impedir.” Enfim, neste livro, toda a Vocês notam? Onde está? Uma vez recupera- ao texto verbo-visual. Na leitura do texto,
crianças em seu processo de alfabetização: as orientação da narrativa é oferecida nas ilustra- do o título, pelos alunos ou por você, amplie: propomos três pausas, a fim de estimular os
frases são curtas e simples, algumas estruturas ções, que começam nas páginas de paratextos, Vocês já ouviram alguma história em que se diz alunos a verbalizar seus entendimentos, a fazer
aparecem muito, com é o caso do ‘E/e’ seguido passam a uma página que contém apenas uma isso – Muito, muito longe? Essa última pergunta e verbalizar inferências, a fazer antecipações
de um segmento nominal que corresponde de ilustração na base, para então iniciar a sucessão vai provocar os alunos a perceberem a intertex- para depois confirmá-las ou não ao ouvir o
maneira direta a um referente na ilustração. de episódios da história propriamente dita. É um tualidade e a presença dos contos tradicionais seguimento e/ou o desfecho da narrativa. São

48 Literatura na hora certa Prosa para o pequeno leitor 49


procedimentos a serem alternados ao longo se circunscreve a este livro. Gostaríamos que
do ano, durante as leituras. Nesse ponto, é você a tomasse como motivo para pensar, de Leia e dê acesso visual ao texto O que aconteceu? É possível que as crianças falem dos even-
que se inicia com “É isso.”, na tos – foram para casa, um deles começou a fazer um bolo, a
importante advertir que o número de paradas preferência em conjunto, numa boa reunião de
primeira página do texto verbal, criança disse que vai embora, e assim por diante. Caso nesse
vai variar de livro para livro, de grupo para gru- planejamento, fazendo suas próprias escolhas, até “Muito, muito longe daqui!”, compartilhamento não comentem a mudança de atitude do
po. Dependerá de decisões pedagógicas: aonde decisões e propostas. na sétima página a partir do iní- adulto, estimule-as a isso, voltando à quarta página, que mostra
quero chegar nesta leitura, considerando que As três paradas sugeridas partem de uma cio do texto verbal. Nesse ponto, bem o rosto do porco, enquanto mistura o bolo: Olhem bem:
faça uma pausa para provocar o que cara é essa? De braveza? De quê? Em seguida, peça que os
vou dispor de um conjunto de leituras media- leitura nossa do avanço desta narrativa. Acredi-
compartilhamento da leitura. alunos façam previsões: O que vocês acham que vai acontecer?
das para dar meu recado ao longo do ano? Por tamos ser possível reconhecer quatro momentos
quanto tempo meus alunos mantêm a atenção da história, seguidos do encaminhamento do
a uma atividade conjunta? Perderão o fio da desfecho e considerando que partimos do início E então, o que está acontecendo? Ao falarem, as crianças come-
Siga com a leitura da oitava até çarão a expressar não apenas seu entendimento, mas talvez suas
meada se eu realizar uma parada aqui? Assim, do texto verbal, e que a orientação à história
a décima quinta página, a partir posições sobre a cena narrativa. Acolha e estimule sua interação
reiteramos: esta é apenas uma sugestão, não um já foi oferecida anteriormente, pelas ilustrações do início do texto verbal. Nesse com o texto, tratando de retomar suas hipóteses no desenrolar da
passo a passo fechado, nem uma proposta que mescladas aos paratextos. ponto, faça nova pausa. atividade. Se não o fizerem, faça perguntas: O que vocês fariam
se estivessem no lugar deles? O que acham que eles vão fazer?

• Ilustrações junto aos paratextos e antes do texto verbal.


Orientação E agora? Vocês concordam que ele conseguirá levar tudo isso?
• Personagens estão no mercado, surge uma discussão e ficam bravos.
O que vocês acham? Se fossem sair de casa tem alguma coisa
Retomem a leitura, da décima
que vocês não deixariam de levar? O quê? Enfim, formule
sexta até a vigésima terceira pá-
• Da primeira à sétima página, a partir do texto verbal. perguntas que estimulam a interação entre as crianças e o livro.
gina, a partir do início do texto
• Surge a complicação, com a criança declarando que vai embora.
É importante que se coloquem questionamentos, mesmo que
Parte 1 verbal. Nesse ponto, faça a úl-
seja para dizer que tudo não passa de uma bobagem... Feita a
• Personagem adulta passa de brava a uma atitude complacente, e retoma seus afazeres. tima pausa.
conversa, pergunte como acham que a história vai terminar e
leia o final da história.
• Da oitava à décima quinta página, a partir do início do texto verbal.
• Personagem adulto passa a estimular a imaginação e a antecipação pelo pequeno sobre
Parte 2
a viagem, como estratégia para mudar sua atitude.
Se for possível, depois de lida a história, colo- consigo o objeto ou animal de estimação que eles
• Da décima sexta até a décima sétima página, a partir do início do texto verbal. que o livro no centro da roda e deixe as crianças próprios não deixariam para trás se fossem partir
Parte 3 • Personagem adulto dá conselhos ao fujão sobre aquilo de que ele precisará para a viagem. manusearem um pouco o suporte. Isso feito, é para “muito, muito longe”. Esses textos visuais
hora de realizar atividades para depois da leitura. podem compor uma exposição na sala ou no
Sugerimos duas possíveis. Primeiro, retornar à corredor da escola.
• Da décima oitava até a vigésima terceira página, a partir do início do texto verbal.
roda e comentar a história. Nesse momento, não Note que nos esforçamos por não fechar, em
Parte 4 • Nosso fujão começa a se lembrar das coisas que deixaria para trás e pensa em levá-las consigo.
se contente com contribuições muito abertas, nossas descrições, a determinação do gênero dos
do tipo gostei e não gostei. Estimule as crianças a personagens: são uma mãe e seu filho? Um pai
• Da décima quarta página ao final, a partir do início do texto verbal. apresentarem suas razões, explicando de que exa- e seu filho? Uma mãe e sua filha? Um pai e sua
• Encaminha-se o desfecho, com a criança voltando sua atenção para o bolo assando e acabando tamente não gostaram, de que partes ou figuras filha? Ou será uma avó? Claro que nossos esque-
Desfecho
por declarar sua mudança, que revela novo equilíbrio.
ou falas gostaram. Estimule-as a concluir sobre o mas mais estereotipados, ao ver o porco adulto
que era a história, afinal. Sobre uma briga? Sobre fazendo um bolo, de avental, logo nos lembram
a vida nas famílias? Enfim, que leitura global essa de mães; do mesmo modo, a atitude da criança
Note que já foi realizada uma leitura con- partes numa narração contínua. Assim, faríamos pa- narrativa inspira? Proponha, depois, um fecha- e seus brinquedos (o carrinho, por exemplo) nos
junta, pausada, da orientação da narrativa. Além radas para chamar atenção dos alunos para aspectos mento na forma do registro de alguma resposta ao lembram mais meninos. Mas será mesmo assim
disso, a parte aqui descrita como “Parte 3” é bre- importantes do texto e para estimular sua apren- texto. As crianças podem, por exemplo, retomar para nossos alunos? É claro que não estamos
ve, e motiva os acontecimentos da assim dita dizagem de estratégias de leitura, como dissemos, a figura de porcos para desenhar a cena de uma propondo que você se antecipe e problema-
“Parte 4”. A fim de evitar um excesso de paradas em mais três momentos após o início da leitura de suas próprias brigas, relatadas antes da leitura; tize isso, caso não haja qualquer necessidade
que cansem as crianças, propomos juntar essas duas do texto verbal, conforme as sugestões a seguir. ou desenharem o porquinho lembrando de levar emergente. No entanto, é preciso notar que os

50 Literatura na hora certa Prosa para o pequeno leitor 51


personagens em si não têm atributos de gênero Referências Bibliográficas
tão definitivos, e que é possível, por exemplo,
BAJARD, E. Ler e dizer: compreensão e comunicação do
que alguma criança tenha um cuidador, pai, avô,
texto escrito. 5.ed. São Paulo: Cortez, 2005.
tio, por exemplo, que cozinha. É maravilhoso
que a literatura possa também contemplar esse BALDI, Elizabeth. Leitura nas séries iniciais: uma pro-
posta para formação de leitores de literatura. Porto Alegre:
leitor, e cabe a nós não fechar de pronto essa e
Editora Projeto, 2009.
qualquer outra possibilidade. São esses detalhes,
CADEMARTORI, Ligia. O professor e a literatura: para
fruto de nossa máxima atenção aos detalhes das
pequenos, médios e grandes. Belo Horizonte: Autêntica
obras e de nossos repertórios e conhecimentos, Editora, 2009. (Série Conversas com o Professor).
que dão aos momentos de leitura literária sua
CECCANTINI, José Luiz;VALENTE,Thiago Alves.
potência problematizadora – e é importante,
Para formar leitores bons de prosa. In: Centro de Alfa-
acima de tudo, acolher estas versões. Não realize betização, Leitura e Escrita da UFMG (org.). PNBE na
um fechamento pedagógico de obras abertas... Escola: Literatura fora da caixa. Guia 2. Anos iniciais do
Convide à fruição. Medeie a leitura atenta e Ensino Fundamental. Brasília: Ministério da Educação,
as múltiplas interpretações. E, acima de tudo, Secretaria de Educação Básica, 2014. p. 27-46.
não esqueça de se divertir com a turma! PICCOLI, Luciana; CAMINI, Patrícia. Práticas pe-
dagógicas em alfabetização: espaço, tempo e corporeidade.
Erechim: Edelbra, 2012.
Palavras finais SIMÕES, Luciene.Tempo de prosa. In: Centro de Al- Ana Paula mathias de paiva 1
Tivemos, neste capítulo, o propósito de con- fabetização, Leitura e Escrita da UFMG (org.). PNBE Celia Regina Delácio FERNANDES 2
vidar você a pensar conosco, introdutoriamente, na Escola: Literatura fora da caixa. Guia 3. Educação de
Jovens e Adultos. Brasília: Ministério da Educação,
nas múltiplas possibilidades abertas pelo(s) acer-
Secretaria de Educação Básica, 2014. p. 33-48.
vo(s) que você recebeu. É claro que há infinitas

N
outras possibilidades. Poderíamos, por exemplo, SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto alegre: Artes
Médicas, 1998. a nossa cultura, quando o assunto abrange leitura lite-
ter associado as propostas de sala de aula às idas à
biblioteca; afinal, sua escola conta também, no SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas rária, o texto verbal costuma ter primazia sobre a ima-
mínimo, com os acervos do Programa Nacional facetas. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, gem impressa. Costumamos elogiar livros que trazem im-
n. 25, p. 05-17. jan./abr. 2004.
Biblioteca da Escola (PNBE); para saber mais pressas suas histórias textuais, em prosa ou verso; e enorme
SOUZA, Renata Junqueira de; GIROTTO, Cynthia
sobre isso, leia Ceccantini e Valente (2014); Jun-
G. S. Era uma vez... uma caixa de histórias: prosa no
é a oferta de livros textuais endereçados a crianças: clás-
queira e Girotto (2014); Simões (2014). sicos, fábulas, parlendas, quadrinhas etc. Mas ano a ano,
acervo do PNBE 2014. In: Centro de Alfabetização,
Além disso, de acordo com o perfil de cada
turma, o trabalho proposto precisa ser modi-
Leitura e Escrita da UFMG (org.). PNBE na Escola: não podemos nos abster de notar, cresce no mundo um
Literatura fora da caixa. Guia 1. Educação Infantil. Bra-
ficado, e as provocações do próprio professor sília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação interesse das crianças por livros que trabalham predomi-
ao tomar contato com os livros podem fazer Básica, 2014. p. 29-42. nantemente com narrativas visuais, os chamados livros de
surgir excelentes ideias (ver, quanto a isso, Baldi ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. imagem ou simplesmente livro-imagem.
(2009)). O importante é que você dê vida São Paulo: Global, 2003.
a esse acervo PNAIC: coloque-o, acima de _____. Como e por que ler a literatura infantil brasileira.
tudo, a serviço das crianças. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. 1
Doutora em Educação pela FAE/UFMG, formadora (Ceale/SMED), professora,
escritora, mediadora de leitura e oficinista de produção de livros artesanais no Brasil
e no exterior. Autora, dentre outras obras, de A aventura do livro experimental e Professor
criador – fabricando livros para a sala de aula.
2
Doutora em Teoria e História Literária pelo IEL/UNICAMP (2004). Professora
da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Desenvolve atividades de
ensino, pesquisa e extensão na Graduação e Pós-Graduação em Letras, nas áreas de
leitura, literatura infantojuvenil e políticas públicas de leitura.

52 Literatura na hora certa 53


Em observação ao que há disponível para a leitura e a apreciação o que há de comunicativo, assimilável, sugesti-
literária, vale então a pena pensar na imagem como NARRATIVA e vo, destacável, surpreendente ou indagador nas
não somente como um acessório gráfico do livro, isto quando sua ação cenas apresentadas. Abra as caixas!
envolve personagens, tempo, espaço e conflito, quando os fatos sequen- Sugerimos a você, antes da roda com os
ciados têm uma estrutura lógica no contexto e propósito no desfecho. alunos, que através da visualização das capas
Mas, para muitas pessoas, livro ilustrado ainda é sinônimo de livro disponíveis se indaguem: Quem veio nos con-
para criança pequena. Todavia, o livro ilustrado contemporâneo não é tar estas histórias? Olhem as capas, o que elas
um suporte de leitura exclusivamente prazeroso nas mãos de uma criança parecem nos dizer e nos indicar em expressão,
leitora; ele pode encantar, comover e provocar reações em um público sugestão e conteúdo.
amplo: infante, jovem e adulto. Concomitantemente, livros de imagem, Vamos fazer este início de aproximação
como uma das categorias de livro ilustrado, não devem estar associados juntos! Vamos escolher algumas capas.
somente à primeira infância ou a um período que anteceda a alfabeti- No caso do livro ...E o lobo mau se
zação. Há livros de imagem capazes de atrair leitores e mediadores de deu bem, idealizado por Suppa, é o próprio
leitura de faixas etárias bem diferentes, como é o caso da obra Onda, lobo, ilustrado na capa descontraidamente, que
de Suzy Lee, e do livro Vai e vem, de Laurent Cardon (acervo PNAIC). protagoniza a história. A obra ilustra um lobo
Para Luís Camargo, um estudioso pioneiro sobre o livro de imagem jovem, com o qual nos identificamos e que atiça
no Brasil, este tipo de livro é um valioso recurso de aprendizagem em uma curiosidade... o mau se deu bem? Esta cha-
qualquer idade: mada já fomenta um bom diálogo com a turma.
O livro de imagem não é um mero livrinho para crianças Em O lenço, de Patricia Auerbach, a capa
que não sabem ler. Segundo as experiências de vida de cada propõe sugestivamente que pela ação infantil
um e das perguntas que cada leitor faz às imagens, ele pode
brincadeiras estão por trás de invencionices com
se tornar o ponto de partida de muitas leituras, que podem
significar um alargamento do campo de consciência: de nós
o tecido estampado, enfatizado em vermelho
mesmos, de nosso meio, de nossa cultura e do entrelaçamento vivo ao lado de desenhos em preto e branco.
de nossa cultura com outras culturas, no tempo e no espaço Fica a provocação: o que a criança da capa (apa-
(CAMARGO: 1995, p. 79). recem seus pezinhos e parte do tronco) vai
nos apresentar? Pode-se propor aos alunos uma
Para você, professor(a), que está recebendo um indagação prévia: é possível se divertir com um
acervo de livros novos para a sua sala, é válida a per- pano colorido? O que podemos fazer com ele?
cepção de que neste conjunto há livros mistos, com Vamos brincar de inventar?
texto e imagem, e outros só de imagem. Lembrando,
Luis Camargo (1995, p.70) considera livros de imagem A capa de Zoo, De Jesús Gabán, evoca
aqueles que contam uma história sem precisar usar a duas linguagens de forma lúdica: a textual (título)
palavra e, também, aqueles em que há o predomínio e a imagética (figuras). Ambas são expressivas
da ilustração sobre a palavra. e enunciam sentidos para o leitor, de modo a
Para um trabalho mais rico em possibilidades de situar um contexto e convidar à apreciação da
interação com as crianças, compreendamos que a au- história imagética. Neste caso, palavra e ima-
sência de texto verbal e a presença de imagens não são gem se ratificam na apresentação conjunta de
indicativos de ausência de discurso. Isto é, se ao folhear uma ideia clara cujo foco são bichos (eles vêm
um livro de imagem, após a apreciação de sua capa, há contar a história). Fica um convite: vamos ao
enunciação naquilo que os olhos veem e sentem é sinal zoo? Abra o livro e comece a aventura!
de que estes bens culturais podem fomentar interpre- Bocejo, de Renato Moriconi, é uma capa
tações e diálogos com a turma. Por isso, mãos à obra! divertida e que logo deve despertar brincadei-
Num primeiro momento, sugerimos que você olhe ras entre as crianças na imitação do gesto tão
as capas dos livros que chegaram pelo PNAIC, observe corriqueiro. Como professores mediadores de

54 Compartilhando experiências com livros de imagem 55


leitura, podemos evidenciar todo o gestual do que nos remete a algo patriótico e popular, Os três porquinhos, de Mariana Massarani, ilustra na capa três
personagem (Napoleão) na capa, sua fisionomia pois as bandeiras estão penduradas na rua. A bem joviais e modernos porquinhos, de bicicleta, mochila e skate, vesti-
e o formato alongado da boca.A seguir, algumas representação desta capa vai tocar e mobilizar dos como meninos contemporâneos. Os três porquinhos aparecem bem
perguntas podem preencher um início de diá- os leitores de formas diferentes, dependendo alegres, bem dispostos e espertos. Como será que nesta história eles vão
logo com as crianças: ele está com sono? Can- da formação dos mesmos. Mas podemos fo- enfrentar o lobo mau? Será que não terão mais medo? Será que moram
sado? Com preguiça? Quando a gente boceja? mentar a curiosidade dos alunos indagando em lugares diferentes na cidade?
Bocejar faz algum som? O corpo acompanha que presente será esse de que a história fala,
o bocejo? Quem mais boceja?
O gato Viriato, o encontro, de Roger Mello, ilustra um gati-
despertando afinidades entre algo que tenha a
nho com uma flor na boca esperando por um trem que acabou de sair
O guloso, de Lilian Sypriano e Cláudio ver com o nosso país. Afinal, as cores iniciam
da estação. Por quem será que ele esperava? O que vai acontecer? O
Martins, nos remete à descontração, ao prazer, a atratividade nesta capa, além dos traços e
encontro virou desencontro? A partir das suas sensações ao olhar esta
ao estar à vontade. O ratinho na capa já nos belos desenhos.
capa, provoque sugestões e comentários dos alunos.
ajuda a prever seu gosto e predileção: comer! Tem lugar para todos, de Massimo Após este exercício de leitura, observamos que mesmo em livros de
Quem se identifica com ele? Quem é guloso Caccia, é uma capa que nos lembra superlo-
imagem a apreciação prévia das capas é muito importante, pois todo
como ele? Que alimentos te dão prazer de co- tação, excesso, falta de espaço e disputa pelo
mer? O diálogo pode ser aberto na turma. livro tem um título e a junção de título e ilustração nos oferece bons
mesmo espaço. Por que os animais estariam
indícios acerca da história a ser contada.
Bichano, de Tino Freitas, é uma capa vivendo esta disputa? Qual seria o sentido por
No entanto, é preciso algum treino para ler livros só de imagem.
mais abstrata e minimalista, composta por cores trás disso, desta disposição em que um animal
Afinal, livros sem texto verbal em seu miolo (ou seja, em sua parte de
e poucas formas geométricas. Pela capa não é está sobre o outro? Até que o leitor entenda do
dentro) concentram a força narrativa nas imagens, suas enunciações e
possível identificar o conteúdo do livro. Neste que se trata na história, muitas interrogações
sugestões. Observemos então, após a leitura das capas, as páginas dos
caso, pode-se trabalhar no quadro com o al- lúdicas podem ser discutidas em sala de aula
livros que você tem em mãos, as ênfases, argumentos de cena, vínculos
cance universal de certas imagens (um círculo com a participação ativa das crianças.
entre personagens, espaços e eixos de temporalidade. Atentos às
lembrando a lua, dois triângulos como orelhas Hoje não quero banana, de Sylviane representações autorais das obras, tentemos notar o que ativa um
pontudas, meio círculo como um sorriso etc.). Donnio e Dorothée de Monfreid, apresenta primeiro contato com a história a partir da capa, se a obra cria
Ademais, podemos nos perguntar: o que linhas uma capa lúdica, que ilustra um filhotinho de intertextualidade e o que é capaz de motivar a leitura, e por quais
e formas têm a nos dizer? Elas podem nos co- jacaré um tanto contrariado. Quando ficamos ganchos, chamadas e argumentos.
municar algo? O que? Linhas e formas podem contrariados, resmungando ou com a cara amar- Num segundo momento, convidamos você, professor(a), a dar
ter peso, indicar direção? rada, o que é que nos chateia? Quando não continuidade à mediação. Observe para isso a parte de dentro
O presente, de Odilon Moraes, valoriza quero comer alguma coisa é por qual motivo? dos livros (seu miolo), a narrativa completa, sua abordagem de
a delicadeza dos desenhos feitos a mão. A capa O jacarezinho também tem um motivo para conteúdo, ganchos com os interesses dos alunos e tente prever as
nos lembra situações e objetos cotidianos e não querer comer banana hoje. Qual será este chances de uso de cada obra na sala de aula. Então, se faça outra
cria empatia entre livro e leitor. As cores da motivo? E será que ele sabe ceder? Alunos e pergunta: Que histórias estes livros vieram nos contar?
capa destacam várias bandeiras do Brasil, o professores podem discutir juntos esta questão. Por exemplo, vamos conversar sobre algumas obras:

56 Literatura na hora certa Compartilhando experiências com livros de imagem 57


O lanche, de Vanessa Prezoto, intitulado O lenço, de Patricia Auerbach, brinca se encontrar... as crianças podem sugerir encontros e daí podem surgir
pela autora um livro-imagem, valoriza o mo- desde o início com o universo infantil de in- divertidas narrativas. Convide alguém para representar o personagem.
vimento, o ir e vir, a observação dos espaços, a vencionices e improvisos lúdicos. Um pano Observe também neste momento com os alunos, enquanto estiver
liberdade da ação e aventuras que podem surgir a vermelho de bolinhas brancas torna-se o grande mediando as contações, como as imagens se posicionam no espaço gráfico
partir de trajetos e detalhes cotidianos.Agradável motivo de distração de uma simpática garoti- (nas capas e páginas internas do livro) e criam discurso, interpretações.
ao manuseio em seu formato, a obra convida nha. O excelente contraste entre as imagens Em roda, demonstre para os alunos como as imagens são enunciadoras,
o leitor de qualquer idade a um passeio visual desenhadas em preto e branco e o destaque comunicativas, como puxam pelo nosso raciocínio e ativam nossa ima-
rico em sutilezas, continuidades e jogos de cores. do vermelho do lenço acentuam no leitor a ginação. Proponha que eles (alunos) olhem as imagens e troque ideias
Variações rítmicas de cena, em sequência lógica, atenção e a curiosidade. A descoberta das brin- sobre o que elas contam, expressam.
criam uma narrativa fluida, agradável e rica para cadeiras é gradativa e vai assim envolvendo o A mediação do professor pode também ajudar as crianças na tarefa
a apreciação visual, que encanta e prende a aten- leitor, motivando sua apreciação, ativando sua de perceber o que se ganha com a apreciação – que foge de uma leitura
ção. Situações espaciais e temporais mesclam cognição, provocando emoções e estimulando rápida e superficial – e com a ação autônoma do folhear.
ambientes urbanos a outros mais naturais, os simbolismos. A narrativa instiga a fantasia, brin- Ler um livro de imagens estimula diversas competências visuais,
personagens em cena interagem com o meio cê- cadeiras, a ação e o contato com objetos lúdicos cognitivas, simbólicas e reflexivas. Segundo a autora Sophie Van der
nico narrativo, surpresas atravessam o percurso da do dia a dia.A escola pode, inclusive, levar alguns Linden, na obra Para ler o livro ilustrado (2011), ler um livro de imagens
personagem principal, detalhes criam combina- tecidos para a sala num dia previsto, e deixar as pode até parecer simples, natural, mas é algo reflexivo e intenso, que se
tórias fisionômicas lúdicas entre os personagens crianças livres para inventar brincadeiras. refere a um entendimento de uma “natureza mista”, com alcance ao
e um sentimento de aventura e passeio invade
O gato Viriato, o encontro, de Roger discurso embutido nas imagens. Por isso, frequentemente faça leituras
os leitores que folheiam a obra até o desfecho
que explica seu título. Esta obra também trata Mello, explora uma leitura visual dinâmica e
de amizades e da flânerie, que é um sentimento ágil. O leitor vai encontrar na leitura surpresa,
ligado à apreciação da duração dos momentos. impacto visual, tensão, pausa, suspense, humor,
Há escolas que podem trabalhar a partir desta aventura, agilidade, sonho e romance: ótimos
obra com trajetos, sensações e impressões, regis- motivos para um rico diálogo acerca da obra.
trando os sentimentos dos alunos. O gato, enfim, tinha motivos para desejar tanto
a flor. Distribua flores entre os alunos e per-
Bárbaro, obra de Renato Moriconi, gunte a quem eles gostam de dar flores e por
revela em seu formato e disposição das ima-
qual motivo.
gens uma forte provocação em sua forma de
narrativa: a história que começa no plano de ...E o lobo mau se deu bem, de Suppa,
leitura tradicional engrena depois diversas outras traz um título provocador: o (lobo) mau se deu
situações de percepção do espaço cênico, com bem. Mas e você, como vê o lobo? Ele é mau?
amplo aproveitamento da área gráfica do livro, Simpático? Solitário? Guloso? Engraçado? De-
segundo uma arte que valoriza a observação sastrado? Este diálogo pode desenvolver reper-
e a apreciação na leitura. Cada conjunto de tório, observação de comportamento e opinião.
páginas duplas instiga compreensões e narrati- Esta divertida narrativa nos remete a contos
vas, mantendo vivo o sentimento de fantasia e clássicos só que de forma inusitada; a obra deve
aventura até um desfecho surpreendente. Este animar uma boa intertextualidade, pois nela estão
livro propicia a contação de muitas histórias e vivos o humor e muitos personagens bem co-
ênfases a partir de seu folhear livre. Se o pro- nhecidos pelos pequenos leitores (a saber, o livro
fessor se interessar por um jogo teatral, podem faz referência a clássicos: Os três porquinhos, Pedro
ser fabricados cenários em papel e um dedoche e o lobo, Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida
do Bárbaro, e os alunos podem ir atravessando etc.). A turma pode “convidar” algum persona-
perigos e situações afins às do livro enquanto gem clássico para uma visita e perguntar para
criam sua narrativa oral na sala. ele com que outro personagem ele gostaria de

58 Literatura na hora certa Compartilhando experiências com livros de imagem 59


em voz alta na classe, valorizando a percepção Com base nessas constatações, percebi que suma, minha mediação funcionou para uma
das partes narrativas do livro e permita que os eu precisava, além de educar o olhar da criança, aproximação afetiva das crianças com o livro,
alunos interajam com suas interpretações para educar também o meu próprio olhar. Então, fui desenvolvendo uma estratégica dialógica que
o jogo de imagens sequenciadas na história. pesquisar alguns estudos teóricos sobre o livro levou em consideração os conhecimentos pré-
A seguir, transcrevemos uma proposta de de imagens e o que esses especialistas propu- vios da vida desses educandos.
leitura em voz alta com uma das obras literárias nham para o trabalho com o gênero. Nossa, con- O livro escolhido para a leitura coletiva
do acervo PNLD/PNAIC 2014, realizada pela segui levantar um material muito interessante foi O lanche, de Vanessa Prezoto, porque achei
professora Milena. escrito por estudiosos que eu não conhecia: a obra muito atraente, dinâmica, divertida e
ABRAMOVICH (1989), CADEMARTORI apropriada ao leitor pretendido.Você conhece?
(2008), CAMARGO (1995), FARIA (2004), Trata-se de uma narrativa visual que conta a
COMPARTILHANDO PROPOSTA: LIVRO GÓES (1996), RAMOS (2011). No final de história de uma menina que vai de bicicleta,
DE IMAGEM NA SALA DE AULA minha investigação, descobri um caminho pos- acompanhada de seu gato, comprar lanche
sível e bem simples para crianças em fase de numa padaria. Durante o trajeto, acontecem
Querida Milena,
alfabetização: a construção oral e coletiva muitas surpresas: o cachorro que pega carona,
Como estão as coisas por aí? Por aqui, ape-
da história. Ou seja, eu mostraria as páginas os passarinhos pousados nos fios, a chuva que
sar do tumulto com a mudança para o Estado do
do livro, uma a uma, e a elaboração da histó- começa a cair, uma máscara jogada no chão,
Mato Grosso do Sul, estou vivendo momentos
ria seria feita oralmente e com a participação uma menina que anda de patins, entre outras
de muitas descobertas e aprendizagens na escola
de toda turma, por meio de minha mediação pequenas aventuras que o caminho oferece an-
que assumi. Ando bastante entusiasmada com
com questões que instigariam a curiosidade da tes de chegarem até a padaria. Na verdade, o
minha nova turma do primeiro ano do Ensino
criança e direcionariam seu olhar para perceber lanche acaba sendo apenas um pretexto; o tema
Fundamental, na cidade de Dourados, e que-
aspectos significativos, propiciando atribuições inclui as descobertas cotidianas que ocorrem
ria compartilhar com você uma experiência
de sentido que relacionem a leitura da imagem durante a trajetória percorrida, num cenário
realizada recentemente em sala de aula, com
e a leitura de mundo dessas crianças. Desse que valoriza diferentes cores, paisagens, peri-
esses alunos. Ao verificar o acervo de literatura
modo, juntei o que li recentemente sobre o pécias e sensações.
infantil da escola e sabendo da importância das
imagens para a vida das crianças, decidi trabalhar gênero com as nossas antigas leituras de gradua-
com o letramento visual de maneira lúdica e ção, inspirada pelos nossos mestres Paulo Freire
interativa, a partir dos livros de imagens que (1982), Marisa Lajolo (1993) e Magda Soares
foram comprados e distribuídos pelo governo (2012) quando afirmam que o ato de ler precisa
federal para as escolas públicas. ter sentido para o aluno, que a leitura precisa
A princípio, comecei a me questionar que ser incorporada na vida do leitor, tornando-o
tipo de prática de leitura eu poderia fazer a um sujeito letrado crítico para compreender e
partir desses livros de imagem. Assim, num pri- transformar o mundo. No caso da prática de
meiro momento, à medida que ia observando leitura de imagem, o texto imagético também
as crianças lendo os livros sozinhas na sala de precisa gerar identificações, provocações, confli-
Milena, fiz questão de registrar o passo a
aula, fui percebendo que esse não era o caminho tos, estranhamentos, os quais precisam ser com-
passo de algumas questões para compartilhar
mais promissor para o trabalho com o gênero, preendidos pelo leitor de imagem, tornando-o
com você. O livro O lanche organiza os elemen-
tendo em vista a rapidez com que elas viravam um sujeito visualmente letrado.
tos visuais em páginas duplas, no entanto não
as páginas, sem deter o olhar na imagem para Nessa perspectiva, compreendo que o tra- traz impresso o número das páginas. Em vista
produzir sentido. Dessa experiência, concluí que balho de mediação da leitura é fundamental disso, enumerei a obra em 22 páginas duplas,
eu necessitava desenvolver uma prática leitora para o exercício de um olhar mais sensível e segundo uma contagem mental, em que cada
que formasse o aprendiz para uma vivência inteligível. Então, durante o tempo todo, deixei número de questão a seguir corresponde a uma
letrada e que educasse o seu olhar para atribuir as crianças falarem das imagens mostradas e página dupla, começando a contar logo após
sentido às imagens. compararem elas com suas experiências. Em a página de rosto na cor laranja, com nome

60 Literatura na hora certa Compartilhando experiências com livros de imagem 61


da autora e da obra, indicando elementos que compõem a narrativa, 4 Na próxima página dupla, o que acontece com o trajeto? Qual é a
ou seja, duas manchas vermelhas que formam uma echarpe. Para “dar nova paisagem? Qual é a sensação da menina e do gatinho? O que eles
uma palinha” da riqueza dessa obra literária e deixar você com “água veem e o que sentem?
na boca” para experimentá-la em sala de aula, seguem as páginas duplas
escaneadas, seguidas das interrogações:

1 O que será essa mancha vermelha que aparece na primeira página


da história? Você já conhecia esse adereço? Sabe para que serve?

5 A seguir, uma nova surpresa: quem é o bicho que aparece no trajeto?


Você conhece esse bicho? Gosta dele? Vamos dar um nome para ele? O
que você acha que ela vai fazer com o cachorro? No caminho, quem
está subindo e quem está descendo?

2 Quem está usando esse adereço no pescoço? Vamos dar um nome


para essa menina? Qual? O que ela está fazendo? Quem está com ela?
Como se chama o bicho? Você também tem um bicho de estimação?
Como ele é?

6 Enquanto a menina continua pedalando, o que o novo bicho que


apareceu está fazendo? O que apareceu de diferente no caminho? Como
ficou o trajeto agora: subida, descida ou plano?

3 O que eles fazem? Como estão os cabelos da menina? Você já conhecia


esse ornamento que ela usa na cabeça? Olhe para cada um, especialmente
para os olhos e a boca, e diga como acha que eles estão se sentindo?
7 Na sétima página dupla, o que aconteceu com a paisagem? Como
nossos amiguinhos estão se sentindo?

62 Literatura na hora certa Compartilhando experiências com livros de imagem 63


8 Olhe a oitava página dupla. O que está acontecendo? Como ficou 12 O que está acontecendo? Quem é a nova personagem que aparece
o colorido da página? Houve alguma mudança nos personagens? Como na história, atravessando a frente deles? Você conhece alguém que sabe
eles se sentem agora? O que será que eles estão pensando em fazer? O fazer isso?
que você faria?

13 O que o encontro com essa personagem causou em nossos amigui-


9 Na próxima ilustração, eles passam do pensamento para a ação.
nhos? Foi possível desviar da menina de patins? Olhe bem para os olhos
O que estão fazendo?
e as bocas e descubra o que cada um está sentindo.

10 Como está o colorido do caminho agora? O que eles encontraram?


Você sabe para que serve esse objeto? Já o usou para brincar de alguma 14 Ao prosseguir, qual é a nova surpresa? O que eles encontraram nesse
coisa? Em sua opinião, os personagens vão querer esse objeto? cenário? E o cachorro, viu a pipa? O que você acha que eles vão fazer?

11 O que eles fizeram com o objeto? Que elementos da narrativa tro-


15 O que a menina fez com esse achado? O que mudou para o ca-
caram de lugar? Como ficou cada um? E a paisagem? O que será que
chorro? Quem mudou de lugar?
vai acontecer?

64 Literatura na hora certa Compartilhando experiências com livros de imagem 65


16 Enquanto eles se divertem, outra surpresa aparece na paisagem: o 20 Afinal, o que será que a menina queria nesse lugar? Você costuma
que são essas bolinhas laranja perto das folhas verdes? O que você faria ir à padaria todos os dias?
com essas frutinhas?

17 O que a menina faz embaixo da árvore? E os bichinhos, o que fazem? 21 O que a menina leva na cestinha da bicicleta? Qual a relação disso
com o título do livro?

18 O que desapareceu dessa página? O que está acontecendo? Para


onde eles vão?
22 Como a menina e seus companheiros se sentem no trajeto da volta?
E você, como está se sentido ao terminar de ler essa bela história?
Você também tem caminhos repletos de aventura em seu cotidiano?
Vamos conversar um pouco mais sobre isso?

19 Diga o que mudou na próxima ilustração. A menina chegou aonde


queria? O que ela queria nesse lugar? Se você já sabe ler, leia a única
palavra escrita que aparece nessa história.

66 Literatura na hora certa Compartilhando experiências com livros de imagem 67


Milena, você não pode imaginar a beleza FARIA, Maria Alice de Oliveira. Como usar a literatura
de narrativa que foi sendo construída coleti- infantil na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.
vamente, com uma riqueza de detalhes surpre- FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três
endente, com o envolvimento de toda a turma. artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1982.
Após essa construção oral, fiquei pensando que GÓES, Lúcia Pimentel. Olhar de descoberta. Il. Eva
era preciso registrar a história criada pelos alu- Furnari. São Paulo: Mercuryo, 1996.
nos a partir da sequência de imagens mostradas LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do
com a mediação das questões compartilhadas mundo. São Paulo: Ática, 1993.
acima com você. Então, em outro momento, LINDEN, Sophie Van der. Para ler o livro ilustrado.
assumi o papel de escriba da turma e fomos São Paulo: Cosac Naify, 2011.
olhando a história novamente, pois as páginas RAMOS, Graça. A imagem nos livros infantis: caminhos
foram escaneadas em slides, projetados em para ler o texto visual. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
datashow, para que pudéssemos acompanhar SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros.
em tamanho maior. 3.ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
E você, o que tem feito com os livros de
imagem em sala de aula? Como agora estamos
longe geograficamente, quero muito receber
BIBLIOGRAFIA recomendada
notícias sobre o que anda inventando com seus CADEMARTORI, Ligia. Para pensar o livro de imagens
alunos. Vamos trocando nossas experiências e – roteiros para leitura literária. Belo Horizonte: Autêntica,
200-. Disponível em: http://www.autenticaedito-
nos nutrindo mutuamente dessas vivências em
ra.com.br/download/roteiros/roteiro_livro_de_
lugares tão distantes e diferentes, sabendo que imagens.pdf. Acesso em: 02 nov. 2014.
pertencemos a uma mesma aldeia global.
CAMARGO, Luís. Para que serve um livro com ilus-
Abraços e beijos, com muitas saudades, trações. In: JACOBY, Sissa. (org.). A criança e a produção Leila Cristina Barros 1
da Germana cultural – do brinquedo à literatura. Porto Alegre: Mercado
Aberto, 2003. p. 273-301. Martha Lourenço Vieira 2
CASTANHA, Marilda. A linguagem visual no livro
Referências Bibliográficas sem texto. In: OLIVEIRA, Ieda (org.). O que é quali-
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras dade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra

Q
e bobices. São Paulo: Scipione, 1989. o ilustrador. São Paulo: DCL, 2008.
uem nunca ouviu falar de alguém que amava ler revis-
CADEMARTORI, Ligia. Para não aborrecer Alice. In: NUNES, Marília Forgearini. Leitura mediada do livro de
PAIVA, Aparecida; SOARES, Magda. (orgs.). Literatura imagem no ensino fundamental: letramento visual, interação e
tas em Quadrinhos, quando criança, mas que teve de
infantil: políticas e concepções. Belo Horizonte: Autêntica sentido. Tese (Doutorado em Educação), Universidade esconder suas preferências de leitura de pais ou professores
Editora, 2008. p. 79-80. Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. que as detestavam? Talvez você próprio, caro professor, te-
CAMARGO, Luís. Ilustração do livro infantil. Belo Ho- ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a Literatura nha sido vítima da desconfiança que não ficou de todo no
rizonte: Lê, 1995. Infantil Brasileira. São Paulo: Objetiva, 2005.
passado e ainda guarda resquícios do preconceito contra
o gênero Histórias em Quadrinhos.

1
Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), professora de Língua Portuguesa e coordenadora do Programa de Biblio-
tecas da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte (SMED).
2
Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e professora do
Ensino Fundamental do Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas
Gerais (CP/UFMG).

68 Literatura na hora certa 69


As justificativas (infundadas) para o preconceito são, dentre outras: os História em Quadrinhos
Quadrinhos são concorrentes dos livros de alfabetização, pelo potencial
de distrair a atenção dos estudantes; Quadrinhos são meros passatempos selecionada para o 1 o ano
e, portanto, podem ser lidos pelas crianças nos momentos de diversão; do Ensino Fundamental
sendo passatempos, HQs3 concorrem com leituras mais “aprofundadas” A obra Meu primeiro Maluquinho em quadrinhos
por parte de crianças e jovens. é composta por sete histórias curtas, que exploram
Contudo, não devemos deixar que preconceitos desse tipo impeçam intensamente recursos visuais (além de diversas
a nós, educadores, de usufruir dos bons resultados que podemos obter onomatopeias); o texto verbal propriamente dito
ao fazer uso das HQs nas mais diversas disciplinas. Os próprios PCNs aparece apenas no quadrinho final. O título sugere
– Parâmetros Curriculares Nacionais – recomendam o uso, em sala de – bem como o balão de fala do protagonista, na
aula, de textos dos mais diversos gêneros, como romance, conto, crônica, capa – que a obra é uma porta de entrada das crian-
jornal, quadrinhos, dentre outros.Ademais, o PNBE – Programa Nacional ças pequenas para o universo dos Quadrinhos.
Biblioteca da Escola – seleciona e distribui, anualmente, obras de literatura De fato, a professora Leila Barros fez a ex-
para as bibliotecas de todas as escolas públicas do País, incluindo dentre periência de mediar a leitura deste livro para
os gêneros os Quadrinhos. Portanto, há um respaldo governamental que três crianças entre 2 anos e 2 meses e 4 anos.
confirma a importância do uso dos Quadrinhos em sala de aula, como O resultado foi motivador: as histórias geraram
instrumento pedagógico, inclusive para a alfabetização. interesse, curiosidade e interação (algumas das
Se, por um lado, iniciativas governamentais como as citadas demons- crianças já sabiam identificar, por exemplo, a
tram um incentivo crescente ao uso dos Quadrinhos na educação, por ou- cara brava da mãe, a tristeza ou o choro do
tro lado, lamenta-se que a indicação de obras deste gênero, pelas editoras, personagem, a chuva, dentre outros recursos
visuais comuns aos Quadrinhos).
3
Sigla para História em Quadrinhos.
O livro possui formato quadrado, grande
(25x25cm), com imagens visíveis e coloridas,
o que o torna bastante apropriado a leitores
que estão iniciando o processo de alfabetização.
O tamanho e o formato também são impor-
tantes para o manuseio do livro, não só pelo
aluno, mas pelo professor, que pode explorá-lo
de maneiras diferentes daquelas com as quais
estamos acostumados quando lemos Histórias
para participarem do processo de seleção de em Quadrinhos em revistas ou livros menores.
acervos para o Programa do PNLD/PNAIC, De modo geral, pelo tamanho pequeno e pelas
tenha ficado aquém do esperado e desejado. próprias características do gênero, as Histórias
No caso do 1º ano do Ensino Fundamental, foi em Quadrinhos se adequam mais a uma leitura
possível (diante da quantidade e qualidade de individual, silenciosa e intimista.
obras recebidas para análise) selecionar apenas No caso da obra selecionada para este acer-
um título de História em Quadrinhos este ano. vo, o professor poderá ler o livro em voz alta
Apesar da escassez, porém, devemos ressaltar que numa roda de histórias, compartilhando com
a obra selecionada – Meu primeiro Malu- as crianças partes do livro e pedindo que fa-
quinho em quadrinhos – é bastante rica e, çam comentários, deduções e inferências, bem
sendo a única a compor o acervo do primeiro como explorando características do gênero: as
ano, ganha agora uma reflexão detalhada dos ilustrações, os personagens, os recursos gráficos
recursos que ela oferece, a fim de subsidiar seu (balões, expressões dos personagens, onomato-
trabalho, professor(a), em sala de aula.Vejamos. peias, sequência entre os quadrinhos etc.).

70 Literatura na hora certa Quadrinhos e alfabetização: o caso do Menino Maluquinho 71


Explorar os paratextos também é fundamental. Por isso, sem- formatos de publicação das HQs: revistas (que
pre que possível, professor(a), trabalhe a capa, o título, a autoria, são as mais comuns e fáceis de encontrar), livros
a apresentação, o texto da quarta capa (que funciona como um ou em tiras (publicadas em revistas e jornais).
convite à leitura e indica o público ao qual a obra se destina), os Como o próprio nome indica, as Histórias
dados técnicos do livro, mesmo que de maneira rápida e menos em Quadrinhos são enredos narrados em quadros
profunda (o maior ou menor aprofundamento da atividade de- com desenhos simples e textos verbais que se asse-
pende do nível em que a turma se encontra). No caso desta obra, melham à língua falada. Os personagens interagem
de Ziraldo, há orelhas: observe que elas trazem duas mini-histórias, uns com os outros por meio de palavras, gestos e
contadas em apenas quatro quadros cada; perceba que há início, expressões faciais. Os Quadrinhos se organizam
meio e fim na narrativa e humor neste elemento extratextual de uma forma muito parecida com o texto falado,
(orelha), atraindo o leitor para o texto propriamente dito. como uma conversa natural entre duas ou mais
Note também que, na apresentação do livro Meu primeiro pessoas. Os Quadrinhos se assemelham também
Maluquinho em quadrinhos, o autor utiliza um tom de conversa com autor, mostrar o quanto seus quadrinhos são ao cinema, no entanto sua sequência de quadros,
o pequeno leitor, sugerindo a possibilidade de leitura apenas das expressivos e divertidos, conceituando para a imagens e textos não se movimenta, como ocorre
imagens, caso a criança ainda não saiba ler. De maneira simples e turma o gênero história em quadrinhos, seus nos filmes. Por serem impressas, as HQs precisam
direta, o autor e ilustrador Ziraldo convida a criança a interagir personagens primários e secundários. apresentar recursos gráfico-visuais que auxiliem
com a obra, naquilo que ela tem de visual. Ziraldo também aponta As sete histórias que compõem este livro o leitor na compreensão da história. Esses recur-
o recurso que usou nestas histórias: todas elas têm apenas uma em HQs exploram temáticas próprias do co- sos, que você verá logo adiante, dão ao leitor a
frase, no último quadrinho. Segundo o autor: tidiano infantil, como venda de brinquedos, possibilidade de construir a ideia de movimento
futebol, esconde-esconde, animal de estimação, e continuidade das ações e falas dos personagens.
Não é necessário ler essa frase para entender a histó-
trapalhadas de criança etc.Todas as histórias, por
ria. O balão apenas acrescenta um toque de humor.
É uma piada que fica de lambuja para premiar quem terem seu desfecho atrelado ao último quadri-
está no comecinho dessa aventura deliciosa que é nho e à frase final, trazem um elemento surpresa Quais recursos são usados no
aprender a ler (p. 3). para aguçar a atenção do leitor e o seu desejo livro Meu primeiro Maluquinho
Ainda nesta apresentação, Ziraldo destaca a importância de
de saber logo como a história vai acabar. Além em quadrinhos ?
disso, o final da história é sempre engraçado,
alfabetizar também para a leitura de imagens: bem humorado e marcado pelo duplo sentido, Variados recursos (verbais e visuais) são
o que faz com que as crianças pensem sobre usados nos Quadrinhos, o que torna o gênero
Os quadrinhos quase não têm palavras. O leitor vai
toda a história e se sintam estimuladas, em sua ao mesmo tempo complexo e rico. Assim, é de
entender tudo lendo apenas as imagens. Ué?!Você não
sabia que podia ler imagens? Ler não é somente juntar curiosidade, para ler outras histórias. suma importância que todos os professores (de
letrinhas, fazer bê-a-bá. É também juntar ideias, uma Também é fundamental, professor, que você diversas disciplinas) conheçam bem sua lingua-
ao lado da outra, e compreender o sentido completo reconheça e explore, com os estudantes, os di- gem e suas especificidades, para que as HQs
do que se vê – ou do que está escrito (p. 3). versos recursos da linguagem dos Quadrinhos sejam exploradas, com propriedade, em sala de
que o autor utiliza neste livro (e são muitos!). aula. Reconhecendo a importância dos Quadri-
É fundamental que você apresente o autor da obra em nhos como um instrumento pedagógico cheio
Vamos analisar alguns?
questão para seus alunos, contextualizando-o no universo dos de possibilidades, corroboramos a afirmação
Quadrinhos. Ziraldo Alves Pinto é um importante escritor do professor Waldomiro Vergueiro,4 estudioso
brasileiro de livros infantis, também artista gráfico, humoris- o que são as Histórias dos Quadrinhos, de que é necessário alfabetizar
ta, ilustrador, cartunista, caricaturista, dramaturgo e jornalista.
Lançou, em 1960, a primeira revista brasileira de Quadrinhos,
em Quadrinhos?
com a Turma do Pererê, e é reconhecido especialmente pelo O gênero textual Histórias em Quadrinhos 4
VERGUEIRO, Waldomiro. A linguagem dos quadri-
famoso personagem que deu nome ao livro O menino Maluqui- também tem outros nomes, como Quadrinhos nhos: uma “alfabetização” necessária. In: RAMA,Angela;
VERGUEIRO,Waldomiro (org.). Como usar as Histórias
nho, que já foi adaptado para as HQs, teatro, cinema e televisão. ou Gibis, por exemplo. Com o objetivo de narrar em Quadrinhos na sala de aula. 4.ed. 2. reimpressão. São
Assim, caro(a) professor(a), sua aula ficará bastante divertida histórias de diversos tipos e estilos, as HQs in- Paulo: Contexto, 2014. (Coleção Como usar na sala de
e rica se você, por exemplo, ao explorar a vida e obra deste tegram textos verbais e imagens. Existem vários aula). p. 31-64.

72 Literatura na hora certa Quadrinhos e alfabetização: o caso do Menino Maluquinho 73


o professor nessa linguagem. Portanto, é necessário que você conheça bem um grito ou um sussurro, por exemplo) e os pensamentos. O conteúdo
o gênero (por exemplo, já tenha lido várias HQs) para que explore ao dos balões de fala pode ser expresso pela linguagem verbal ou não
máximo seu potencial com os alunos. Também tenha em mente que é verbal, como nos exemplos que trazemos para esta página:
importante, quando for trabalhar os Quadrinhos, que você sonde qual
o conhecimento prévio que seus alunos já trazem.
Os exemplos de recursos próprios dos Quadrinhos vão muito além
daqueles que apresentaremos aqui, mas já é um início de caminho para
o professor que deseja conhecer um pouco melhor o gênero. Cabe
explicar, em primeiro lugar, a ordem de leitura dos quadrinhos, que
segue a mesma lógica do texto escrito: quer dizer, para nós ocidentais,
a leitura é sempre da esquerda para a direita; de cima para baixo. No
interior de cada quadrinho, a lógica é a mesma e obedece à sequência
temporal em que as ações acontecem: os fatos que acontecem primeiro
Balão de fala
são representados à esquerda. Da mesma forma, o balão mais alto deve Balão de fala imagético
ser lido primeiro. Então, vamos aos recursos. e o uso de (p. 16).
O Quadrinho (também chamado de vinheta) divide a página em palavras (p. 21).
várias ações. A sequência de quadrinhos, nas histórias, define o espaço
e o tempo no qual cada ação acontece, delimitando-as. Os quadrinhos
têm, em geral, formato quadrado ou retangular. Às vezes dois (ou mais) personagens têm a mesma fala, ao mesmo
Os títulos são extremamente importantes numa história. Nas HQs, tempo; para isso, é apresentado apenas um balão com dois rabichos
ganham, em geral, um destaque especial. No primeiro exemplo oferecido (rabicho é o prolongamento no balão que indica qual personagem está
abaixo, o título “Quebra-cabeça” se enche de sentido, na forma como falando), um para cada personagem.
a palavra é escrita, explorando sua materialidade. Na história “Julieta &
Romeu”, o título sugere uma história de amor, em alusão aos famosos
personagens de Shakespeare, mas tendo o humor como foco.
Leve sempre que possível seus alunos – cada turma dentro de seu Note que a “fala” do Menino Maluquinho é com-
nível de desenvolvimento – a ampliar sua experiência cultural, men- posta de uma linguagem visual: o rosto do persona-
cionando as relações intertextuais, quer dizer, as relações que uma obra gem Bocão, seguido de uma interrogação. O peque-
pode manter com outra ou outras, enriquecendo a leitura. no leitor não terá dificuldades em interpretar que
Os balões são de vários tipos, variando seu formato. Eles podem Maluquinho está perguntando “onde está Bocão?”.
expressar as falas dos personagens (ou variantes do modo de falar, como Julieta e Carolina reforçam, juntas (daí o único balão
para as duas), a dúvida sobre o paradeiro do amigo.
Em destaque: rabichos. p. 35.

O balão de grito difere em sua forma do balão de fala,


para expressar a maneira como a mensagem é transmitida.Veja
no exemplo desta página o formato do balão e a ênfase na
interjeição de alegria (Uhú!), com uso de fonte mais escura e
em maiúsculas para reforçar o grito.
Balão de grito.
p. 21.
Título. p. 57. Título. p. 48.

74 Literatura na hora certa Quadrinhos e alfabetização: o caso do Menino Maluquinho 75


Dor - P. 15. Choro - P. 21. Xingamento - P. 43.

p. 31.
As estrelinhas são facilmente reconhecíveis como sinal de dor, assim
p. 34.
como o sinal gráfico para lágrimas (a boca aberta também denota o choro
do personagem) (p. 15 e p. 21).
O balão de pensamento, tal qual o balão de fala, pode usar texto Sinais como cobra, faca, caveira etc. seguidos compõem o clássico
verbal ou imagens, para indicar a expressão dos personagens. O primeiro balão que indica xingamento (p. 43).
exemplo acima mostra um balão de pensamento usando uma imagem; Outro recurso simples e bastante conhecido: o coração indica amor
no segundo, o rabicho está apontando para fora do quadro, pois o per- e o coração rachado, decepção amorosa ou, simplesmente, o “coração
sonagem está saindo de ação. Mesmo o pequeno leitor saberá interpre- partido” em função de algo que causou mágoa ou decepção.
tará esse sinal da lâmpada, comum nas Histórias em Quadrinhos, e que
significa que o personagem teve uma ideia.
As HQs também fazem uso de vários recursos gráficos – além
daqueles já mencionados e exemplificados – para representar os mais dife-
rentes conteúdos, como: a ideia que um personagem teve; dor; choro; xin-
gamento; amor e decepção amorosa; movimento; dentre outros. Nos dois
exemplos a seguir, a ideia é representada sem o uso do balão; no segundo
exemplo, a ideia está associada ao lucro que o personagem espera obter.

Há ainda recursos que indicam movimento: um movimento de


mão, para chamar alguém (primeiro quadrinho abaixo) ou um pulo
(segundo quadrinho). Note que os sinais são bastante simples, mas efetivos
na transmissão da mensagem, o que deve atrair os alunos mais novos.

Orelha.
p. 6.

Ideia (sem o uso do balão) - Orelha Ideia (associada a lucro) - P. 6.

76 Salas de aula literárias 77


Na obra analisada de Ziraldo, há ainda o uso de diversas onomato-
peias, que são a imitação de sons produzidos por pessoas – tosse (cof,
cof...), sopro (fff...), bocejo (uááá...), choro (buá!) –; objetos – água
jorrando de uma mangueira (tchá!), estalo (pop!), objeto se quebrando
(craco!); ou animais – latido (au! au! au!), o farejar (func! func!), ou
rosnado de um cão (Grrr!). Mesmo não sendo um recurso exclusivo
dos Quadrinhos – sendo amplamente usado na literatura –, nas HQs as
onomatopeias são fundamentais e bastante destacadas, do ponto de vista
da expressividade plástica e discursiva.Vejamos alguns exemplos.

Objeto se quebrando - P. 5. Latido - P. 60.

Tosse - P. 15. Sopro - P. 15.


Farejar - P. 34. Rosnado de um cão - P. 43.

O que fazer? Um exemplo prático


Feita uma primeira apresentação dos recursos dos Quadrinhos e
da obra em análise, apresentamos, a seguir, uma sequência didática da
história “À venda”, do livro Meu primeiro Maluquinho em quadrinhos, que
pode ajudá-lo, professor(a), a desenvolver uma aula, aproveitando ao
máximo este livro.
Bocejo - P. 20. Choro - P. 36.
A turma
A história foi contada numa turma de 1º ano,5 com características
bastante variadas, já que a mesma se constitui de crianças de 5 a 7 anos,
oriundas de ambientes e condições socioeconômicas diferenciadas e
realidades heterogêneas. Antes de darmos início ao relato da atividade
propriamente dita, é importante apresentar um breve resumo da história.

5
A turma em que a atividade foi realizada pertence à escola de Ensino Fundamental
Água - P. 17. Estalo - P. 53. Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (CP), e a professora
referência é uma das autoras deste texto, Martha Lourenço Vieira.

78 Literatura na hora certa Quadrinhos e alfabetização: o caso do Menino Maluquinho 79


A história
A história “À venda” narra um problema personagem, muitos ainda não o conheciam
corriqueiro na vida das mães e de seus filhos: em quadrinhos. A professora mostrou também
a bagunça do quarto das crianças. Na tentativa o livro Menino Maluquinho, que deu origem ao
de procurar alguns brinquedos, Maluquinho filme, e explorou um pouco as características
faz uma enorme bagunça em seu quarto, sua do personagem e as hipóteses das crianças sobre
mãe chega e vê toda aquela confusão. Assustada, os tipos de história que poderiam encontrar no
ela pede, em tom autoritário, que ele arrume livro. Da mesma forma, a professora preparou
tudo e se desfaça de algumas coisas. É aí que os alunos para a temática da história que iria
a história começa: Maluquinho tem a ideia contar, dizendo que o seu conteúdo tinha re-
de montar uma pequena banca para vender lação com uma situação vivenciada por eles na
os brinquedos e cacarecos que não lhe ser- aula de Matemática, em que eles fizeram um
vem mais. Ele monta a banca em frente à sua bazar de troca de brinquedos. Nesse momento,
casa e coloca uma placa com um texto para a mediadora explorou o título da história, “À
chamar a atenção dos compradores, mas não venda”, e perguntou qual a diferença das duas
podemos vê-la, pois apenas o seu verso aparece. situações: “a da história e a do bazar que vocês
Maluquinho acaba vendendo tudo e, ao final, fizeram”. E as crianças responderam:“No nosso
quando chega o último comprador, o perso- a gente não vendeu os brinquedos, a gente só
nagem “Junim”, ele não tem mais nada para trocou”; “É, a gente devia ter vendido, ia ser
vender. Mas o personagem argumenta, dizendo mais legal”. A professora pede às crianças para
que quer suas calças e mostra o que está na ficarem bem atentas à história porque no final
placa. Derrotado pelos argumentos de Junim, tem um segredo que eles terão que descobrir, e
Maluquinho é obrigado a lhe dar suas calças. mostra o último quadrinho da história coberto 2 o ato
A história, então, termina, quando a frente da com um papel. A professora dá continuidade à história, passando as páginas e cha-
placa é mostrada e dá sentido à situação, pois mando a atenção das crianças para as expressões dos personagens, para
nela está escrito: “Vendo tudo!”. os espaços onde a história acontece, para a sequenciação dos fatos e
A atividade - 1 o ato
para alguns elementos típicos do gênero Quadrinhos: “Olhem só: o
A professora, então, passou a mostrar as que significam esses risquinhos em cima e na frente do rosto da mãe?”.
A preparação para a atividade outras páginas do livro, perguntando às crianças E as crianças logo respondem: “Ah, é que a mãe tá muito brava com o
A história foi contada em uma roda, com as o que elas estavam vendo, o que havia em cada menino”; “Ela tá morrendo de raiva”; “Ela tá com vontade de bater no
crianças sentadas no chão e a professora sentada quadrinho, sempre retomando a sequência dos Maluquinho” etc. A professora mostra a segunda página e as
em uma cadeira, de modo que o livro pudesse mesmos, para que as crianças não perdessem o crianças vão contando o que estão vendo, até que a professora
ser visto por todos. Inicialmente, a professora fio da narrativa. Uma das crianças, então, per- pergunta: “O que significa a lâmpada e os cifrões em cima da
explorou a capa, o título e o autor. A mediadora guntou: “Você não vai ler não?” A professora cabeça do Maluquinho?”. E as crianças dão várias respostas:
também relacionou esta obra a outras histórias respondeu: “Essa história é diferente, é uma “É que ele teve uma ideia genial”; “É que ele teve a ideia
do mesmo autor que os alunos já conheciam. história de ver e vocês é que vão contando pra de ganhar dinheiro”, “Ele teve a grande ideia de vender os
O título – e o fato de ser um livro de His- mim o que está acontecendo”. A professora brinquedos” etc.
tória em Quadrinhos – também foi bastante mostrou a primeira página, destacando o título A professora mostra o quarto quadrinho da segunda
explorado, já que a turma estava acostumada a da história, e as crianças repararam, no quadro página e pergunta: “E esta madeira, aqui?”. Uma das crian-
revistas em quadrinhos e não a livros em qua- inicial: a bagunça do quarto. Assim, passaram ças responde: “Ele vai fazer uma tenda pra vender os brin-
drinhos. O personagem principal, o Menino a fazer comentários do tipo: “Nossa, que ba- quedos”. E a professora continua mostrando os quadri-
Maluquinho, foi apresentado aos alunos, pois, gunça!”; “Ainda bem que a mãe chegou, ela nhos e perguntando sobre alguns aspectos importantes
embora alguns já tivessem assistido ao filme do vai limpar tudo”. para a compreensão da história. Na oitava página, quando

80 Literatura na hora certa Quadrinhos e alfabetização: o caso do Menino Maluquinho 81


o personagem Maluquinho pega uma folha de papel e começa es- Final da história –
crever o cartaz, a professora pergunta: “E aqui? O que o Maluqui-
nho está fazendo?”. As crianças respondem: “Ele tá desenhando”, desvendando o segredo
“Ele tá é escrevendo”. A professora pergunta às crianças: “Como está mostrando o que está escrito no cartaz.
A professora intervém: “Tá escrevendo o quê?”. E as crianças con- vocês sabem que Junim está querendo comprar E vocês vão ter que acertar o que está escrito
tinuam: “Tá escrevendo um cartaz”. E a professora chama a atenção das as calças de Maluquinho?”. E elas respondem: pra eu tirar o papel”. As crianças, alvoroçadas,
crianças para o quarto quadrinho: “E aqui, o que o Maluquinho está “Porque sai um balão na boca dele com um começam a responder todas juntas: “A calça é
fazendo?”. As crianças respondem, rapidamente: “Tá chamando as pes- desenho de uma calça preta, que é do Maluqui- 10 reais”, “É um preço bem caro” etc.
soas para comprar os brinquedos”. E a professora intervém novamente: nho”. “E o Maluquinho quer vender?”, conti- A professora, então, relembra com as crian-
“E como a gente sabe que ele está chamando?”. E uma das crianças nua a professora. Uma das crianças – Rafaela – ças toda a narrativa até chegar novamente ao
responde: “É porque tem uns risquinhos na boca dele e ele tá com a responde:“Não, porque o balão do Maluquinho final da história. Então pergunta novamente:
mão igual quando a gente grita”. A professora então imita um vende- tem um X vermelho, que mostra que ele não “O que estava escrito no cartaz que fez o Junim
dor: “Ei, pessoal, venha comprar os meus brinquedos!”. E as crianças quer vender”. E a professora pergunta a todos: entender que era para o Maluquinho tirar as cal-
a acompanham na imitação. A professora continua explorando outros “Vocês acham que a Rafa tem razão?”.As crian- ças?”. Rafaela e Caio respondem: “É o preço!”.
aspectos do quarto quadrinho e dialogando com as crianças. “O que o ças: “É verdade”, “Ele não quer vender porque A professora: “Não é isso, é outra coisa”. Ma-
Maluquinho pôs aqui no chão?”. As crianças respondem:“Ah, é o preço tem o X”. E a professora continua: “E por que theus, responde:“Vendo até calça”.A professora,
dos brinquedos”(vê-se o cartaz no chão). vocês acham que o Junim está apontando para então, tira o papel e as crianças acham muito
A professora, então, continua dialogando com as crianças sobre os o cartaz no chão?”. E a professora continua: engraçada a situação do Maluquinho de cueca
quadrinhos da história, mostrando o que as pessoas compraram e os mo- “E o que será que está escrito no cartaz para o de bolinhas com a banca na cabeça, e o cartaz
tivos que as levaram a comprar o que compraram, como, por exemplo, Junim pedir pro Maluquinho tirar as calças?”.As na frente:“Vendo tudo!”. Depois do alvoroço, a
a senhora que compra um caminhãozinho para colocar suas compras, crianças respondem em alvoroço:“Porque tem professora retoma a história e diz:“Então, gente,
a menina que compra uma mola de plástico e põe nos cabelos etc. As o preço da calça do Maluquinho”. A professora na hora que o Junim viu o cartaz, ele pensou: Se
crianças se divertem muito com as situações e se identificam com elas, então prossegue para a última página: “Olhem é pra vender tudo, você vai ter que vender até
achando engraçadas. Até que, na página 11, Maluquinho pensa que só, o Maluquinho tirou a calça”. E as crianças sua calça”. E uma criança diz: “Por isso que o
sua tarefa está terminada, mas chega o personagem Junim e, na página exclamam: “Professora, tira o papel pra gente Maluquinho não teve escolha, né professora?”.
seguinte, este pede ao Maluquinho que venda suas calças. As crianças saber o final”. A professora argumenta: “Não, o Professores e professoras, agora é com vocês!
riem muito da situação. final vocês vão ter que adivinhar, porque nele Escolham um livro e boa leitura, boa mediação!

82 Literatura na hora certa Quadrinhos e alfabetização: o caso do Menino Maluquinho 83


Referência Bibliográfica
RAMA, Angela;VERGUEIRO, Waldomiro (org.). Como usar as Histórias em
Quadrinhos na sala de aula. 4.ed. 2. reimpressão. São Paulo: Contexto, 2014. (Coleção
Como usar na sala de aula). 155 p.

Bibliografia recomendada
DIONÍSIO, A. P.; BEZERRA, M. A.; MACHADO, A. R. Um gênero quadro
a quadro: a História em Quadrinhos. In: Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2002.
Gibis na alfabetização. In: Revista Educação, edição 205, maio de 2014. Disponível em:
<http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/205/gibis-na-alfabetizacao-311386-1.
asp>. Acesso em: maio 2014.
MACIEL, Francisca Izabel Pereira.As Histórias em Quadrinhos (HQs) nas sequências
didáticas (SD): o prazer no fazer, ensinar e aprender. In: Projetos didáticos no ciclo
de alfabetização. Ano XXIII, Boletim 6, maio 2013. Salto para o futuro. p. 28-37.
Disponível em: www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/15400306_Proje-
tosdidaticos.pdf. Acesso em: 19 nov. 2014.
RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2014. 157 p.
(Coleção Linguagem & Ensino)
VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo (org.). Quadrinhos na educação: da
rejeição à prática. São Paulo: Contexto, 2009. 224 p.

84 Literatura na hora certa Quadrinhos e alfabetização: o caso do Menino Maluquinho 85


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... E O Lobo Mau A Árvore Eu Queria Ter... Eu te disse


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Texto e ilustrações: Suppa Sandrine Thommen Zoboli e Simona Mulazzani Editora: Berlendis &
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Uma Colherzinha De Café Texto (adaptação): Autoria: Sylvia Orthof Sérgio Penna
Autoria: Elvira Vigna Sandra Regina Félix Ilustrações: Eva Furnari Ilustrações: Fábio Sombra
Ilustrações: Simone Matias Ilustrações: Jefferson Galdino Editora: Salamandra Editorial Editora: Meneghetti’s
Editora: Editora Positivo Editora: Noovha America Categoria: Textos em verso Gráfica e Editora
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ALÔ, MAMÃE! ALÔ, PAPAI! Meus Porquinhos


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Gatinho levado! Hoje não quero banana O lobo não morde!
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Autoria e ilustrações: Autoria: Sylviane Donmio Autoria e lustrações:
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Pipoca, um carneirinho
Mamão, melancia, tecido Piccolo e Nuvola e um tambor
Lugar de bicho e poesia Autoria e ilustrações: Autoria: Graziela Bozano Hetzel
Autoria:Viviane Veiga Távora Autoria: Fábio Sombra Emilio Urberuaga
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Ilustrações: Clara Gavilan Ilustrações: Sabina Sombra Editora: Livros da Matriz
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Editora: Guia dos Curiosos Editora: Moderna Categoria: Livros ilustrados e/ou
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Meu primeiro Maluquinho Se eu fosse muito magrinho


Muito, muito longe!
em quadrinhos pra ler desde Que bicho será Autoria: António Mota
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Autoria e ilustrações: Ziraldo Editora: Planet Books Autoria: Angelo Machado Editora: GLB
Editora: Távola Infanto Juvenil Categoria: Textos em prosa Ilustrações: Roger Mello Categoria: Livros ilustrados e/ou
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Todos zoam todos


Na janela do trem Vovó viaja e não
Natureza maluca Autoria e ilustrações: Dipacho
Autoria e ilustrações: sai de casa
Lúcia Hiratsuka Autoria e ilustrações: Editora: O Jogo de Amarelinha
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Editora: Cortez Ilustrações: Bebel Callage
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Categoria: Textos em prosa Editora: Florescer
Categoria: Textos em prosa
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O aniversário Zoo
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Autoria: Christina Dias O gato e a pedra Jesús Gabán Bravo
Ilustrações: Elma Autoria e ilustrações: Editora: Projeto
Fernando A. Pires
Editora: Stamppa Categoria: Livros ilustrados e/ou
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Categoria: Textos em prosa
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A mais bela noite de natal A onça dolores Eu vou ser um Fulustreca


Autoria: Sophie Beaude e o bode quirino jogador de futebol Autoria: Luiz Raul Machado
Ilustrações: Jérôme Ruillier Autoria: Zeco Homem de Montes Autoria e ilustrações: Ilustrações: Roger Mello
Editora: Digisa Deborah Engelender Philip Waechter Editora: Singular
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Editora: Ôzé Editora Categoria: Textos em prosa
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A ponte
Autoria: Heinz Janisch Immi Jeremias desenha
A predileta do poeta
Ilustrações: Helga Bansch um monstro
Autoria: Glauco Mattoso Autoria e ilustrações:
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Ilustrações: Lourenço Mutarelli Peter Mccarty
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As jabuticabas
Autoria: Monteiro Lobato Lulu ou a hora do lobo
Aventura animal Ladrão de galinha
Ilustrações: Roberto Weigand Autoria: João Pedro Mésseder
Autoria e ilustrações:
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Fernando Vilela Ilustrações: Daniel Silvestre
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Categoria: Textos em prosa Editora: IMP
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Cai ou não cai? Haicais e animais Cocô de passarinho
Autoria: Jean Marcel e O balão O domador de monstros
Autoriae ilustrações:
Simone Alves Pedersen Autoria e iustrações: Autoria: Ana Maria Machado
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Ilustrações: Ana Carolina Iabrudi Juste Daniel Cabral
Editora: Moderna Ilustrações: Suppa
Editora: Avis Brasilis Editora: Positivo
Categoria: Textos em prosa Editora: FTD
Categoria: Textos em verso Categoria: Livros ilustrados
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crianças e histórias em quadrinhos

É mentira da barata! Enquanto o sono não vem O marimbondo do quilombo


Autoria e ilustrações: Autoria: José Mauro Brant O peixe e a passarinha
Autoria: Heloisa Pires Lima
May Shuravel Ilustrações: Ana Maria Moura Autoria: Blandina Franco
Ilustrações: Rubem Filho
Editora: Richmond Educação Editora: JPA Ilustrações: José Carlos Lollo
Editora: Manole
Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em prosa Editora: Reviravolta
Categoria: Textos em prosa
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Era um avesso - Os fantásticos livros


curiosas historietas e rimas Era uma vez um cão voadores de modesto
O sonho do ursinho rosa
que deram na veneta Autoria: Adélia Carvalho máximo
Autoria: Roberto Aliaga
Autoria: Márcio Januário Pereira Ilustrações: João Vaz de Carvalho Autoria e ilustrações:
Ilustrações: Helga Bansch
Ilustrações: Biry Sarkis Editora: Canguru William Joyce
Editora: Positivo
Editora: Compor Categoria: Textos em prosa Editora: Rocco
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em prosa
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PARLENDAS PARA BRINCAR Piolho na Rapunzel e A história de Emília À noite, a caminho de casa
Autoria: Josca Ailine Baroukh outros bichos em versos Autoria: Monteiro Lobato Autoria: Giovanna Zoboli
e Lucila Silva de Almeida Autoria: Leo Cunha Ilustrações: Taline Schubach Ilustrações: Guido Scarabottolo
Ilustrações: Camila Sampaio Ilustrações: Joãocaré Editora: Globo Livros Editora: Pequena Zahar
Editora: Guia dos Curiosos Editora: Projeto Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa
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Abraço de pelúcia
Abc da água e mais poemas
Poesias do Nilo Pula, boi! Autoria: Selma Maria Autoria: Marta Lagarta
Autoria e ilustrações: Autoria e ilustrações: Ilustrações: Nina Anderson Ilustrações: Mariângela Haddad
Gilles Eduar Marilda Castanha
Editora: Guia dos Curiosos Editora: Gutenberg
Editora: Reviravolta Editora: Abril Educação
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As crianças vão Cantigamente


Quantos nomes Que bicho está no verso?
ficar doidas! Autoria: Leo Cunha
tem um menino? Autoria: Adriano Messias
Autoria: Tino Freitas Ilustrações: Nelson Cruz
Autoria: Olivia de Mello Franco Ilustrações: Cris Eich e Marilda Castanha
Ilustrações: Mariana Massarani
Ilustrações: Simonbe Matias Editora: Posigraf Editora: Ediouro
Editora: Manati
Editora: Dimensao Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em verso
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Travatrovas CHAPÉU
SAPO COMILÃO Autoria e ilustrações:
Autoria: Ciça Dentro deste livro
Autoria: Stela Barbieri Paul Hoppe
Ilustrações: Ziraldo moram dois crocodilos
Ilustrações: Fernando Vilela Editora: Brinque-Book
Editora: Planet Books Autoria: Claudia Souza
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Era uma vez


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Autoria: José Carlos Aragão de amos macgee Autoria: Anna Claudia Ramos Autoria e ilustrações:
Ilustrações: Elma Autoria: Philip C. Stead Ilustrações: Véronique Vernette
Editora: Piá Ilustrações: Erin E. Stead Alexandre Rampazo Editora: O Jogo de Amarelinha
Categoria: Textos em verso Editora: Paz e Terra Editora: Globo Categoria: Livros ilustrados
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e/ou livros de imagens para crianças e histórias em quadrinhos
VAI E VEM crianças e histórias em quadrinhos Festa no meu jardim
Texto e ilustrações: Autoria: Marcos Bagno Júlia tem uma estrela
Laurent Cardon Ilustrações: Lúcia Hiratsuka
Autoria: Eduard José
Editora: Gaivota Editora: Posigraf
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Categoria: Livros ilustrados Categoria: Textos em verso
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Categoria 2 (2 o ano do ensino fundamental) - Acervo 2 Categoria 2 (2 o ano do ensino fundamental) - Acervo 2

Lenga-lengas Limeriques trava-línguas O saco O sapateiro e os anõezinhos


Autoria: Nelson Albissú Autoria:Viviane Veiga Távora Autoria e ilustrações: Autoria: Bia Bedran
Ilustrações: Mirella Spinelli Ilustrações: Larissa Ribeiro Ivan Zigg Ilustrações: Thais Linhares
Marcello Araujo
Editora: Elementar Editora: Guia dos Curiosos Editora: Escala Educacional
Editora: Ediouro
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em prosa
Duetto Editorial
Categoria: Textos em prosa

O violino
Mas por que??! Meu leão Autoria: Carolina Michelini Pantufa de cachorrinho
Autoria e ilustrações: Autoria e ilustrações: Ilustrações: Michele Iacocca Autoria e ilustrações:
Peter Schössow Mandana Sadat Editora: Saraiva Jorge Luján
Editora: Cosac & Naify Editora: Escala Educacional Categoria: Livros ilustrados Editora: Autêntica
Categoria: Livros ilustrados Categoria: Livros ilustrados e/ou livros de imagens para Categoria: Textos em verso
e/ou livros de imagens para e/ou livros de imagens para crianças e histórias em quadrinhos
crianças e histórias em quadrinhos crianças e histórias em quadrinhos
Psiu!
MINHOCAS COMEM AMENDOINS Moral da história... Autoria e ilustrações: Quando você não está aqui
Autoria e ilustrações: Fábulas de esopo Valeri Gorbachev
Autoria e ilustrações:
Elisa Géhin Autoria: Rosane Pamplona Editora: Jardim dos Livros María Hergueta
Editora: Jorge Zahar Editor Ilustrações: Eugenia Nobati Categoria: Textos em prosa Editora: O Jogo de Amarelinha
Categoria: Textos em prosa Editora: Elementar Categoria: Livros ilustrados
Categoria: Textos em prosa e/ou livros de imagens para
crianças e histórias em quadrinhos
Quibungo
Nícolas Autoria: Maria Clara Seu g.
O bode e a onça Cavalcanti Autoria e ilustrações:
Autoria: Agnès Laroche
Autoria: José Santos Ilustrações: Allan Rabelo Gustavo Roldán
Ilustrações: Stéphanie Augusseau
Ilustrações: Jô Oliveira Editora: Cata-Sonho Editora: SM
Editora: Aletria
Editora: Texto Editores Categoria: Livros ilustrados Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa e/ou livros de imagens para
Categoria: Textos em prosa
crianças e histórias em quadrinhos

Tantos barulhos
O convidado de raposela O livro dos trava-línguas
Autoria: Caio Riter Tato, o gato
Autoria e ilustrações: Autoria: António Mota
Ilustrações: Martina Schreiner Autoria e ilustrações:
Alex T. Smith Ilustrações: Elsa Fernandes Rob Scotton
Editora: Edelbra
Editora: Claro Enigma Editora: Texto Editores Editora: Rocco
Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em prosa

O papagaio real
Uxa, ora fada, ora bruxa
Autoria: Luís da Câmara Cascudo O rabo do macaco
Autoria: Sylvia Orthof
Ilustrações: Claudia Scatamacchia Autoria: Sonia Junqueira
Ilustrações: Gê Orthof
Editora: Gaia Ilustrações: Rafael Anton
Editora: Nova Fronteira
Categoria: Textos em prosa Editora: Callis
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa
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Categoria 3 (3 o ano do ensino fundamental) - Acervo 1 Categoria 3 (3 o ano do ensino fundamental) - Acervo 1

A bela e a fera: A casa do meu avô Lá vem o homem do saco Lolo barnabé
conto por imagens Autoria e ilustrações: Autoria e ilustrações: Autoria e ilustrações:
Autoria e ilustrações: Rui de Oliveira Ricardo Azevedo Regina Rennó Eva Furnari
Editora: Consultor Editora: Ática Editora: União Brasileira Editora: Altea
Categoria: Livros ilustrados e/ou Categoria: Textos em verso de Educação e Assistência Categoria: Textos em prosa
livros de imagens para crianças e Categoria: Textos em prosa
histórias em quadrinhos
Lúcio e os livros
A orquestra da lua cheia Animais
Autoria e ilustrações: Ziraldo Mabel, a única
Autoria e ilustrações: Jens Rassmus Autoria: Arnaldo Antunes
Editora: Globo Livros Autoria: Margaret Muirhead
Editora: Reviravolta Ilustrações: Grupo Xiloceasa
Categoria: Livros ilustrados Ilustrações: Lynne Avril
Categoria: Textos em prosa Editora: 34 e/ou livros de imagens para
Editora: Dumará
Categoria: Textos em verso crianças e histórias em quadrinhos
Categoria: Textos em prosa

As doze princesas
Árvore dançarinas Mania de explicação
Mar de sonhos
Autoria e ilustrações: Autoria: Irmãos Grimm Autoria: Adriana Falcão
Autoria e ilustrações:
João Proteti Adaptação e ilustrações: Ilustrações: Mariana Massarani Dennis Nolan
Editora: MMM Rachel Isadora Editora: Richmond Editora: Singular
Categoria: Textos em verso Editora: Dumará Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros ilustrados
Categoria: Textos em prosa e/ou livros de imagens para
crianças e histórias em quadrinhos
Curupira - Dois chapéus vermelhinhos
o guardião da floresta Autoria: Na rua do sabão
Meus contos de
Ronaldo Simões Coelho Autoria: Manuel Bandeira
Autoria e ilustrações: fadas preferidos
Marlene Crespo Ilustrações: Ilustrações: Odilon Moraes
Humberto Guimarães Recontos e ilustrações:
Editora: Peirópolis Tony Ross Editora: Gaia
Editora: Aletria Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa Editora: Martins Fontes
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

E o dente ainda doía Gabriel tem 99 centímetros


Autoria: Annette Huber O livro do rex
Autoria e ilustrações: Ana Terra O grande chefe
Ilustrações: Manuela Olten Autoria e ilustrações: Ivan Zigg
Editora: DCL Autoria: Carlos Nogueira
Editora: Saber e ler Editora: Ediouro
Categoria: Textos em verso Ilustrações: David Pintor
Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros ilustrados e/ou
Editora: Canguru livros de imagens para crianças e
Categoria: Textos em prosa histórias em quadrinhos

Hocus pocus um pai de presente Já pra cama, monstrinho!


O menino e seu irmão O urso, a gansa e o leão
Autoria: Kiara Terra Autoria e ilustrações: Autoria: Ana Maria Machado
Ilustrações: Ionit Zilberman Mario Ramos Autoria: Leticia Wierzchowski
Ilustrações: Roberto Weigand
Editora: Schwarcz Editora: Berlendis Ilustrações: Alessandra C. Lago
Editora: Quinteto Editorial
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa Editora: Record
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Livros ilustrados e/ou
livros de imagens para crianças
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Categoria 3 (3 o ano do ensino fundamental) - Acervo 1 Categoria 3 (3 o ano do ensino fundamental) - Acervo 2

Os hai-kais do Os pássaros A BISA FALA CADA COISA! A FOME DO LOBO


menino maluquinho Autoria: Albertine Autoria: Autoria: Cláudia Maria de
Autoria e ilustrações: Ziraldo e Germano Zullo Carmen Lucia Campos Vasconcellos
Editora: Melhoramentos Ilustrações: Albertine Ilustrações: Marília Bruno Ilustrações: Odilon Moraes
Categoria: Textos em verso Editora: 34 Editora: Original Editora: Iluminuras
Categoria: Livros ilustrados e/ou Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa
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A REVOLTA DAS PRINCESAS
Pequenas guerreiras Pinóquio A LENDA DA PEMBA
Autoria: Céline Lamour-Crochet
Autoria:Yaguarê Yamã Autoria: Lecticia Dansa Autoria: Márcia Regina da Silva
Adaptação: Clara Alterman Couto
e Salmo Dansa Ilustrações: Rosana Paulino
Ilustrações: Taisa Borges Ilustrações: Lisbeth Renardy
Ilustrações: Salmo Dansa Editora: Escala
Editora: FTD Editora: Saber e Ler
Editora: Dibra Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso

Poemas sapecas, rimas traquinas ARANHA POR UM FIO


Porque os gatos A TELEVISÃO DA BICHARADA
Autoria: Almir Correia não usam chapeú Autoria e ilustrações:
Autoria: Sidónio Muralha
Ilustrações: Regina Miranda Laurent Cardon
Autoria:Victoria Pérez Escrivá Ilustrações:
Editora: Érica Editora: Biruta
Ilustrações: Ester García Claudia Scatamacchia
Categoria: Textos em verso Categoria: Livros ilustrados e/ou
Editora: Livros da Matriz Editora: Gaudi
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Categoria: Livros ilustrados Categoria: Textos em verso histórias em quadrinhos
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Rinocerontes não crianças e histórias em quadrinhos AS GARRAS DO LEOPARDO
AS MIL E UMA
comem panquecas Autoria: Chinua Achebe HISTÓRIAS DE MANUELA
Autoria: Anna Kemp Ilustrações: Mary Grandpré
Sorri, lia! Autoria: Marcelo Maluf
Ilustrações: Sara Ogilvie Editora: Schwarcz
Autoria: Rita Taraborelli Ilustrações: Weberson Santiago
Editora: Paz e Terra Categoria: Textos em prosa
Ilustrações: Editora: Autêntica
Categoria: Livros ilustrados Armando Antenore
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crianças e histórias em quadrinhos Editora: Moitara
Categoria: Textos em prosa
Uma cama para três CADÊ O JUÍZO DO MENINO?
Autoria: Tino Freitas CHÁ DE SUMIÇO
Autoria:Yolanda Reyes Uma estátua diferente E OUTROS POEMAS
Autoria: Charlotte Bellière Ilustrações:
Ilustrações: Ivar Da Coll Autoria: André Ricardo Aguiar
Mariana Massarani
Editora: Timbó Ilustrações: Ian De Haes
Editora: Manati Ilustrações: Luyse Costa
Categoria: Textos em prosa Editora: Saber e Ler
Categoria: Textos em verso Editora: Gutenberg
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso

Uma ideia toda azul CHARLES NA


Autoria e ilustrações: ESCOLA DE DRAGÕES COMO SURGIRAM
Marina Colasanti Autoria e ilustrações: OS VAGA-LUMES
Editora: Boa Viagem Philippe-Henri Turin Autoria: Stela Barbieri
Categoria: Textos em prosa Editora: APC Ilustrações: Fernando Vilela
Categoria: Textos em prosa Editora: Scipione
Categoria: Textos em prosa
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Categoria 3 (3 o ano do ensino fundamental) - Acervo 2 Categoria 3 (3 o ano do ensino fundamental) - Acervo 2

DOIS PASSARINHOS ENTRE NUVENS O NOIVO DA RATINHA O PATO, A MORTE E A TULIPA


Autoria e ilustrações: Dipacho Autoria e ilustrações: Autoria e ilustrações: Autoria e ilustrações:
Editora: O Jogo de Amarelinha André Neves Lúcia Kioko Hiratuka Wolf Erlbruch
Categoria: Livros ilustrados e/ou Editora: Brinque Book Editora: Araguaia Editora: Cosac & Naify
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crianças e histórias em quadrinhos

EROS E PSIQUE,
UMA HISTÓRIA DE AMOR O TAPETE DE PELE DE TIGRE
FÁBULAS DE ESOPO O SOM DA TURMA
Autoria: Luís Dill Autoria e ilustrações:
Autoria e ilustrações: Autoria e ilustrações: Ziraldo
Gerald Rose
Ilustrações: Marco Antonio Godoy Fulvio Testa Editora: Globo Livros
Editora: Saraiva
Editora: Colégio Claretiano Editora: WMF Martins Fontes Categoria: Livros ilustrados
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Livros ilustrados e/ou Categoria: Livros ilustrados e/ou e/ou livros de imagens para
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OS TRÊS LOBINHOS E O PORCO MAU


HAI-QUINTAL: HAICAIS HISTÓRIAS RIMADAS O VOO DA ASA BRANCA Autoria: Eugene Trivizas
DESCOBERTOS NO QUINTAL PARA LER E BRINCAR Autoria e ilustrações: Ilustrações: Helen Oxenbury
Autoria: Maria Valéria Rezende Autoria: Alexandre Parafita Rogério Soud Editora: Brinque Book
Ilustrações: Myrna Maracajá Ilustrações: Elsa Navarro Editora: Prumo Categoria: Textos em prosa
Editora: Autêntica Editora: Unyleia Categoria: Livros ilustrados
Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em verso e/ou livros de imagens para
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PRA SABER VOAR
JOÃO E MARIA JOÃO E O PÉ DE Autoria e ilustrações:
Autoria: Irmãos Grimm OU ISTO OU AQUILO
FEIJÃO (CORDEL) Ana Terra
Ilustrações:Víctor Escandell Autoria: Cecília Meireles
Autoria:Klevisson Viana Editora: Abacatte
Editora: Escala Educacional Ilustrações: Odilon Moraes
Ilustrações: Hemetério Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa Editora: Global
Editora: Fundação
Demócrito Rocha Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em verso
Ninguém e eu PROCURA-SE LOBO QUANDO O LOBO TEM FOME
Autoria: Bart Mertens
NOSSA RUA TEM Autoria: Ana Maria Machado Autoria: Christine
UM PROBLEMA Ilustrações: Laurent Cardon Naumann-Villemin
Ilustrações:
Autoria e ilustrações: Editora: Maxiprint Ilustrações: Kris Di Giacomo
Benjamin Leroy
Ricardo Azevedo Categoria: Textos em prosa Editora: Berlendis
Editora: Hedra Educação
Editora: Abril Educação Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa

O LAGO DOS CISNES VLADIMIR E O NAVIO VOADOR


Autoria: Pyotr Llyich Tchaikovsky O MELHOR AMIGO
Autoria: Fábio Sombra
Adaptação: Lee Ji Yeong Autoria e ilustrações:
Antonio Luiz Ramos Cedraz Ilustrações: Walter Lara
Ilustrações: Gabriel Pacheco Editora: Abacatte
Editora: Martin Claret
Editora: União Brasileira Categoria: Textos em verso
de Educação e Assistência Categoria: Livros ilustrados
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Categoria: Textos em prosa
crianças e histórias em quadrinhos
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