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Unidade II

Unidade II
5 O ICMS (IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS)

5.1 Operação própria - ICMS OP

O ICMS é o imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de


serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicações. É um imposto não cumulativo
de competência estadual e funciona no sistema de débito e crédito. Assim, quando um contribuinte
adquire bens ou serviços tributados pelo ICMS, adquire direito de compensar o imposto pago na
aquisição em operações futuras. Ao realizar uma operação de saída sujeita à incidência do ICMS, passa
a ter a obrigação do pagamento desse tributo.

O ICMS é um imposto calculado “por dentro”. Isso significa que a alíquota incide sobre o valor do
bem ou serviço, integrando o próprio valor. Explicando melhor: se um bem for adquirido por R$ 100,00 e
é tributado a 17% (apesar de haver diversas alíquotas, em nossos cálculos, vamos adotar a alíquota de
17%), o comprador pagará R$ 100,00 pela aquisição do bem e destacará na nota fiscal o valor de R$ 17,00
referente ao ICMS. Porém, o total da aquisição continua sendo R$ 100,00.

Ao analisar minuciosamente o cálculo, descobrimos que a alíquota real é bem maior que os 17%, ou
seja, na realidade, os R$ 17,00 de ICMS cobrados na operação correspondem a 20,48%. Se partirmos do
princípio de que o valor total do bem é R$ 100,00 e o ICMS é R$ 17,00, o valor líquido é de R$ 83,00.

5.1.1 Disposições legais

A Constituição Federal de 1988 atribuiu aos Estados e ao Distrito Federal a competência para
regulamentar o ICMS, pelas normas gerais pela Lei Complementar n. 87 (Lei Kandir) e pelos convênios
firmados entre os Estados (BRASIL, 1996c). Essa lei e posteriores atualizações dispõem sobre o imposto
dos Estados e do Distrito Federal sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações
de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.

O fato de o ICMS ser um tributo de competência estadual implica que cada Estado tenha a sua própria
legislação relativa ao tributo. O problema é que as mercadorias circulam não só dentro dos limites
do próprio Estado, mas também dentro do território nacional, entre diversos Estados. Assim, podem
ocorrer situações em que o Estado de origem tenha legislação ou tratamento diferente dos do
Estado de destino. Esse é um dos principais motivos do alto grau de complexidade na operação desse
tributo. Além disso, há a chamada “guerra fiscal” entre os Estados, que consiste na prática de alíquotas
diferenciadas ou benefícios fiscais concedidos por alguns Estados visando atrair empresas para seu
território com o objetivo de aumentar a arrecadação e estimular o emprego naquela região.

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CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Alguns Estados, buscando um melhor controle da arrecadação dos impostos, criaram a substituição
tributária, na qual se atribui a um determinado elo da cadeia a responsabilidade de antecipar os
recolhimentos que ocorreriam nas operações subsequentes.

5.1.2 Incidência

Em seu art. 2º, a Lei Kandir dispõe que o imposto incide sobre:

I – operações relativas à circulação de mercadorias, inclusive o


fornecimento de alimentação e bebidas em bares, restaurantes e
estabelecimentos similares;

II – prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, por


qualquer via, de pessoas, bens, mercadorias ou valores;

III – prestações onerosas de serviços de comunicação, por qualquer meio,


inclusive a geração, a emissão, a recepção, a transmissão, a retransmissão, a
repetição e a ampliação de comunicação de qualquer natureza;

IV – fornecimento de mercadorias com prestação de serviços não


compreendidos na competência tributária dos Municípios;

V – fornecimento de mercadorias com prestação de serviços sujeitos


ao imposto sobre serviços, de competência dos Municípios, quando a lei
complementar aplicável expressamente o sujeitar à incidência do imposto
estadual (BRASIL, 1996c).

De acordo com redação dada ao inciso I, § 1º do art. 2º pela Lei Complementar n. 114, com efeitos a
partir de 17 de dezembro de 2002, o imposto incide também:

I – sobre a entrada de mercadoria ou bem importados do exterior, por pessoa


física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte habitual do imposto,
qualquer que seja a sua finalidade;

II – sobre o serviço prestado no exterior ou cuja prestação se tenha


iniciado no exterior;

III – sobre a entrada, no território do Estado destinatário, de petróleo,


inclusive lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados,
e de energia elétrica, quando não destinados à comercialização ou à
industrialização, decorrentes de operações interestaduais, cabendo o
imposto ao Estado onde estiver localizado o adquirente.

§ 2º A caracterização do fato gerador independe da natureza jurídica da


operação que o constitua (BRASIL, 2002e).

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5.1.3 Não incidência

Conforme o art. 3º da Lei Complementar n. 87, o imposto não incide sobre:

I – operações com livros, jornais, periódicos e o papel destinado a


sua impressão;

II – operações e prestações que destinem ao exterior mercadorias,


inclusive produtos primários e produtos industrializados semielaborados,
ou serviços;

III – operações interestaduais relativas à energia elétrica e petróleo, inclusive


lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, quando
destinados à industrialização ou à comercialização;

IV – operações com ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou


instrumento cambial;

V – operações relativas a mercadorias que tenham sido ou que se destinem


a ser utilizadas na prestação, pelo próprio autor da saída, de serviço de
qualquer natureza definido em lei complementar como sujeito ao imposto
sobre serviços, de competência dos Municípios, ressalvadas as hipóteses
previstas na mesma lei complementar;

VI – operações de qualquer natureza de que decorra a transferência de


propriedade de estabelecimento industrial, comercial ou de outra espécie;

VII – operações decorrentes de alienação fiduciária em garantia, inclusive


a operação efetuada pelo credor em decorrência do inadimplemento
do devedor;

VIII – operações de arrendamento mercantil, não compreendida a venda do


bem arrendado ao arrendatário;

IX – operações de qualquer natureza de que decorra a transferência de bens


móveis salvados de sinistro para companhias seguradoras.

Parágrafo único. Equipara-se às operações de que trata o inciso II a


saída de mercadoria realizada com o fim específico de exportação para o
exterior, destinada a:

I – empresa comercial exportadora, inclusive tradings ou outro estabelecimento


da mesma empresa;

II – armazém alfandegado ou entreposto aduaneiro (BRASIL, 1996c).


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Podemos observar nitidamente o princípio da seletividade sendo aplicado na não incidência do


ICMS sobre livros, revistas e materiais didáticos, bem como dos papéis destinados à impressão.

ICMS

Figura 12 – O ICMS não incide sobre os livros

Disponível em: https://bit.ly/3wk3xMR. Acesso em: 6 jul. 2021.

5.1.4 Fato gerador

O fato gerador do ICMS está contido na Lei Complementar n. 87, art. 12, o que compreende a
circulação de mercadorias ou a prestação de determinados serviços.

A legislação dispõe que:

Art. 12. Considera-se ocorrido o fato gerador do imposto no momento:

I – da saída de mercadoria de estabelecimento de contribuinte, ainda que


para outro estabelecimento do mesmo titular;

II – do fornecimento de alimentação, bebidas e outras mercadorias por


qualquer estabelecimento;

III – da transmissão a terceiro de mercadoria depositada em armazém geral


ou em depósito fechado, no Estado do transmitente;

IV – da transmissão de propriedade de mercadoria, ou de título


que a represente, quando a mercadoria não tiver transitado pelo
estabelecimento transmitente;

V – do início da prestação de serviços de transporte interestadual e


intermunicipal, de qualquer natureza;
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VI – do ato final do transporte iniciado no exterior;

VII – das prestações onerosas de serviços de comunicação, feita por qualquer


meio, inclusive a geração, a emissão, a recepção, a transmissão, a retransmissão,
a repetição e a ampliação de comunicação de qualquer natureza;

VIII – do fornecimento de mercadoria com prestação de serviços:

a) não compreendidos na competência tributária dos Municípios;

b) compreendidos na competência tributária dos Municípios e com indicação


expressa de incidência do imposto de competência estadual, como definido
na lei complementar aplicável;

IX – do desembaraço aduaneiro de mercadorias ou bens importados


do exterior;

X – do recebimento, pelo destinatário, de serviço prestado no exterior;

XI – da aquisição em licitação pública de mercadorias ou bens importados


do exterior apreendidas ou abandonadas;

XII – da entrada no território do Estado de lubrificantes e combustíveis


líquidos e gasosos derivados de petróleo oriundos de outro Estado, quando
não destinados à comercialização;

XIII – da utilização, por contribuinte, de serviço cuja prestação se


tenha iniciado em outro Estado e não esteja vinculada à operação ou
prestação subsequente.

§ 1º Na hipótese do inciso VII, quando o serviço for prestado


mediante pagamento em ficha, cartão ou assemelhados, considera‑se
ocorrido o fato gerador do imposto quando do fornecimento desses
instrumentos ao usuário.

§ 2º Na hipótese do inciso IX, após o desembaraço aduaneiro, a entrega,


pelo depositário, de mercadoria ou bem importado do exterior deverá ser
autorizada pelo órgão responsável pelo seu desembaraço, que somente
se fará mediante a exibição do comprovante de pagamento do imposto
incidente no ato do despacho aduaneiro, salvo disposição em contrário
(BRASIL, 1996c).

O fundamento legal baseia-se em: art. 155, § 2º, da Constituição Federal de 1988, Emenda
Constitucional n. 3/93 e art. 12º da Lei Complementar n. 87/96.

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5.1.5 Contribuinte

Caracterizam-se como contribuinte todas as pessoas físicas ou jurídicas que, de modo habitual ou
volume que caracteriza intuito comercial, pratiquem operações relativas à circulação de mercadorias,
ou que prestem serviços de transporte interestadual ou intermunicipal e de comunicações ou
telecomunicações, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior.

Luís Martins de Oliveira et al. (2006) definem o contribuinte ou responsável como parte da obrigação
tributária, assim como de qualquer outra obrigação; de um lado, há o sujeito ativo, de outro lado, o
sujeito passivo. O sujeito ativo da obrigação tributária é o ente público (União, Estado ou Município)
criador do tributo. O CTN prevê duas espécies de sujeito passivo: o contribuinte, que é quem tem a
relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; e o responsável, que
é quem, sem revestir a condição de contribuinte (isto é, não pratica ato que enseja a ocorrência do
fato gerador), vê a obrigação de pagar o tributo por força do dispositivo legal. Diz também que o
sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento do tributo ou da penalidade
pecuniária (BRASIL, 1966b).

O art. 121 do CTN define que o sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa que está obrigada
ao pagamento do tributo ou penalidade pecuniária. Diz ainda:

Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação diz-se:

I – contribuinte quando tenha relação pessoal e direta com a situação que


constitua o respectivo fato gerador;

II – Responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua


obrigação decorra da disposição expressa de lei (BRASIL, 1966b).

Segundo a legislação, é também contribuinte a pessoa física ou jurídica que, mesmo sem habitualidade:

I – importe mercadorias do exterior, ainda que as destine a consumo ou ao


ativo não circulante do estabelecimento;

II – seja destinatária de serviço prestado no exterior ou cuja prestação se


tenha iniciado no exterior;

III – adquira em licitação de mercadorias apreendidas ou abandonadas;

IV – adquira lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos derivados de


petróleo e energia elétrica oriundos de outro Estado, quando não destinados
à comercialização ou à industrialização (BRASIL, 1996b).

A legislação instituiu a figura do substituto tributário, que é aquele obrigado a calcular, cobrar e
recolher o imposto que será devido nas operações seguintes.

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5.1.6 Competência

Segundo o art. 1º da Lei Kandir, compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir o imposto
sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual, intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no
exterior (BRASIL, 1996b).

Portanto, o ICMS é de competência dos Estados e do Distrito Federal, mesmo que as operações
tenham se iniciado no exterior, como importações.

5.1.7 Princípios constitucionais

O ICMS tem como principais características o princípio da não cumulatividade e da seletividade.

Esses princípios foram instituídos pela Constituição Federal (BRASIL, 1988a):

• não cumulatividade, conforme o art. 155, § 2º, I, ou seja, do imposto devido em cada operação
será abatido o valor pago na operação anterior;

• seletividade, conforme art. 155, § 2º, III, ou seja, quanto mais supérfluo for o produto, maior será
a incidência do imposto.

O ICMS está regido pela não cumulatividade (BRASIL, 1988a, art. 155, § 2º, I,), compensando-se o
que for devido em cada operação à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com montantes
cobrados nas operações anteriores por ele, por outro Estado ou pelo Distrito Federal. Consta na Lei
Complementar n. 87, em seu art. 19:

O imposto é não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada


operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação com o montante
cobrado nas anteriores pelo mesmo ou por outro Estado (BRASIL, 1996c).

Dessa forma, o contribuinte que adquirir insumos (matéria-prima, material indireto, material de
embalagens etc.) e mercadoria para revender terá incluído em seu valor total o ICMS pago ao fornecedor.
Por ocasião da venda dessa mercadoria, tal contribuinte deverá cobrar de seu cliente o ICMS com base
no valor de venda, incluindo-se no valor total. No final do período, o imposto a ser recolhido deverá ser
calculado pela diferença entre o valor incidente no momento da venda e aquele pago ao fornecedor
na aquisição para determinar o saldo a pagar (saldo devedor), ou saldo a ser estornado nos próximos
períodos (saldo credor).

O controle dos saldos devedores e credores é realizado por meio de livros fiscais (livro de registro
de entradas, livro registro de saídas, livro de apuração do ICMS). Nesses livros, são registrados todos
os documentos hábeis – ou, simplesmente, notas fiscais – emitidos pelos contribuintes em situação

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regular perante o fisco e que comprovem a entrada e a saída dos produtos ou mercadorias de seu
estabelecimento, como o imposto devido destacado no corpo da nota fiscal.

Para a compensação a que se refere o primeiro item – não cumulatividade – é assegurado o crédito
do imposto anteriormente cobrado em operações que tenham resultado em entrada de mercadoria, real
ou simbólica, no estabelecimento, inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente,
ao recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação.

Como já acentuado anteriormente, por ser o ICMS de competência dos Estados e do Distrito Federal,
cada um tem seu próprio regulamento. Contudo, há de se considerar que, de uma forma geral, dão direito
ao crédito do imposto anteriormente cobrado relativo à mercadoria que deu entrada ou à prestação de
serviço recebida, acompanhada do documento fiscal hábil, emitido por contribuinte em situação regular
perante o fisco.

Para que o contribuinte possa se aproveitar de fato do crédito fiscal do ICMS, deve saber que há
algumas hipóteses em que o crédito não poderá ser tomado:

• no caso de o documento fiscal constar como destinatário ou tomador do serviço estabelecimento


diverso daquele que o registrar;

• o documento fiscal não for a 1ª. via ou o Danfe (Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica),
que é uma representação simplificada da NF-e;

• o imposto destacado é maior do que o devido no documento fiscal.

5.1.7.1 Dão direito ao crédito

Os insumos

Segundo o dicionário, insumos significa a “combinação dos fatores de produção (matérias-primas),


horas trabalhadas, energia consumida, taxa de amortização etc. que entram na produção de determinada
quantidade de bens ou serviço” (FERREIRA, 1986, p. 1093).

Por sua vez, Natanael Martins, advogado e ex-membro do 1º Conselho de Contribuintes, tem o
seguinte entendimento:

A legislação do IPI conceitua “insumos” como sendo sinônimo de matéria‑prima,


produto intermediário e material de embalagem, adquiridos para emprego
na industrialização de produtos, incluindo-se, entre as matérias‑primas
e produtos intermediários, aqueles que, embora não se integrando ao
novo produto, forem consumidos no processo de industrialização. Já as
legislações estaduais do ICMS, na esteira da Lei Complementar que as rege,
restringem tal conceito apenas a matérias-primas, produtos intermediários
e de embalagem que se integrem ao produto (MARTINS, 2005, p. 201).
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Com todas as definições e explicações feitas por diversos juristas, é estabelecido que, para ICMS e
IPI, o insumo está ligado intimamente com a materialidade desses tributos, ligados diretamente aos
materiais utilizados na atividade industrial, como matéria-prima, material intermediário, embalagens,
combustíveis e energia elétrica consumidos no processo industrial ou usados para integrar o produto,
objeto da atividade da industrialização, própria ou de terceiros.

Entretanto, para sanar qualquer dúvida decorrente da aplicabilidade dos conceitos, o legislador
desses tributos e o Poder Judiciário delimitaram o conceito de insumos que possam ensejar o crédito.
E, com maior facilidade de apresentação do estudo, vamos nos basear nas definições do Decreto n. 45.490
(SÃO PAULO, 2000), que aprova o Regulamento do ICMS no Estado de São Paulo – RICMS-SP:

• Mercadoria: aquela resultante do processo de industrialização, bem como a revendida no Estado


em que foi adquirida.

• Insumos: toda mercadoria empregada para integração de produto novo ou para consumo no
respectivo processo dessa industrialização, empregada na produção rural e na prestação de serviço
sujeito ao ICMS.

• Matéria-prima: não temos dificuldades nenhuma em identificar, uma vez que é a base no
processo industrial (exemplos: madeira na indústria de móveis, algodão na fábrica de tecidos, a
borracha na fábrica de pneus).

• Material intermediário ou secundário: esse tipo de material costuma gerar muitas dúvidas,
pois há definições como sendo o material que se consome em contato direto com o produto
que está sendo fabricado, sendo nele incorporado. Por exemplo: na fábrica de móveis, pregos,
parafusos, cera para impermeabilizar o móvel etc. A Decisão Normativa CAT n. 1 (SÃO PAULO, 2001)
relacionou vários outros exemplos de produtos intermediários, como: discos de corte, discos de
lixa, óleos de corte, estopa, oxigênio, acetileno.

• Embalagens: todo material empregado no acondicionamento do produto acabado e que não


retornará à empresa. A embalagem acompanha o produto final. Há também produtos que
acompanham a embalagem e, por essa razão, dão crédito do ICMS, como etiquetas, papel de
embrulho, cordas para amarrar, fitilhos, lacres, tinta para identificar a embalagem etc.

• Tratamento de água efluente e afluente: a Decisão Normativa CAT n. 1 (SÃO PAULO, 2001)
admitiu o crédito dos impostos relativo aos produtos químicos usados nos tratamentos.

• Combustíveis: utilizados pela indústria no processo industrial para gerar calor ou força. Exemplo:
os derivados de petróleo, gás natural, lenha, carvão, os quais são usados para acionamento de
máquinas e equipamentos aplicados na produção.

• Máquinas, aparelhos e equipamentos: usados para industrialização dos produtos objetos da


atividade econômica da empresa.

• Veículos: utilizados pelos setores de compras e vendas do estabelecimento.


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• Veículos próprios: usados para transportar insumos e fazer entregas dos produtos acabados,
bem como empilhadeiras para movimentação dos insumos e produtos.

• Energia elétrica: o crédito do ICMS de energia elétrica é restrito, porém, nos Estados nos quais
a legislação permite, o crédito deverá ser tomado quando a energia for consumida no processo
industrial, saída do produto passível de tributação ou, nos casos de exportação, quando a
manutenção do crédito é permitida.

No caso de uma empresa que realiza operações mistas, deverá ratear a energia elétrica consumida
em cada atividade, a fim de atender o que preceitua a legislação. Uma forma de se obter esse rateio é
a elaboração, por meio de empresas de engenharia autorizadas, de laudo técnico de energia elétrica,
no qual será fixado de forma acertada o percentual utilizado na industrialização que dará direito ao
crédito do imposto.

De forma geral, as legislações estaduais não tratam da obrigatoriedade do contribuinte se municiar


de laudo técnico, pois não mencionam a forma adequada de se fazer esse rateio. Todavia, é justamente
por essa falta de legislação que o contribuinte se vê em situação complicada perante o questionamento
da fiscalização. Assim, uma boa forma para evitar questionamento e glosa dos créditos é o rateio baseado
em laudo técnico emitido por profissional capacitado e que tenha competência para tal.

Observação

A título de curiosidade: Minas Gerais e Santa Catarina, em seus


regulamentos do ICMS, citam o laudo técnico textualmente, embora deixem
uma brecha para emiti-lo internamente. O RICMS de Santa Catarina,
inclusive no art. 82, § único, cita para creditar 80% sem a necessidade de
comprovação da destinação. Porém, sempre é mais prudente se municiar
de documentos que tenham reconhecimento legal, nesse caso, “laudos
técnicos emitidos por peritos”.

Observe mais definições do Decreto n. 45.490 (SÃO PAULO, 2000):

• Serviços de comunicação: quando o serviço resultar em operação de saída de produtos.

• Ativo permanente: conforme assunto tratado a seguir.

• Frete: relativo ao serviço de transporte intermunicipal ou interestadual tomado que esteja


relacionado com a atividade industrial ou comercial da empresa.

Para os créditos nas empresas de comércio e serviços, o conceito segue na mesma linha, entretanto,
como alertado anteriormente, o assunto é complexo e não temos a pretensão de esgotá-los neste
livro‑texto, e sim explicar, de forma abrangente, para que as decisões tomadas sejam amparadas
pela legislação.
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Mercadorias adquiridas de empresas tributadas pelo Simples Nacional

O Simples Nacional é o regime simplificado de recolhimento de tributos, por meio do qual as


microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) optantes recolhem seus tributos de forma
unificada e por meio de uma única alíquota.

Originalmente, quando da aquisição de mercadorias de empresas optantes pelo Simples Nacional, o


crédito não era possível em virtude da vedação às ME e EPP de transferência e apropriação de crédito
de tributos que eram abrangidos pelo Simples Nacional. No entanto, a Lei Complementar n. 128 (BRASIL, 2008)
alterou as regras e, a partir de 2009, ficou determinado que as pessoas jurídicas – além daquelas a elas
equiparadas pela legislação tributária que não sejam optantes pelo Simples Nacional – tenham direito
ao crédito correspondente ao ICMS na aquisição de mercadorias de ME e EPP. Todavia, deve-se respeitar
o destino da mercadoria, que deverá ser para comercialização ou industrialização, da parcela efetiva
devida pelas empresas optantes pelo Simples.

Como o percentual de recolhimento é variável, o fornecedor, emitente do documento fiscal, deverá


informar a respectiva alíquota para que a empresa compradora possa se creditar.

5.1.7.2 Não dão direito ao crédito

Nem sempre as aquisições de mercadorias utilizadas em uma empresa dão direito a crédito do
imposto. A seguir, descrevemos o § 1º do art. 20 da Lei Complementar n. 87:

§ 1º Não dão direito a crédito as entradas de mercadorias ou utilização de


serviços resultantes de operações ou prestações isentas ou não tributadas,
ou que se refiram a mercadorias ou serviços alheios à atividade do
estabelecimento.

§ 2º Salvo prova em contrário, presumem-se alheios à atividade do


estabelecimento os veículos de transporte pessoal.

§ 3º É vedado o crédito relativo à mercadoria entrada no estabelecimento


ou a prestação de serviços a ele feita:

I – para integração ou consumo em processo de industrialização ou produção


rural, quando a saída do produto resultante não for tributada ou estiver
isenta do imposto, exceto se tratar-se de saída para o exterior;

II – para comercialização ou prestação de serviço, quando a saída ou a


prestação subsequente não forem tributadas ou estiverem isentas do
imposto, exceto as destinadas ao exterior.

§ 4º Deliberação dos Estados, na forma do art. 28, poderá dispor que não
se aplique, no todo ou em parte, a vedação prevista no parágrafo anterior
(BRASIL, 1996c).
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CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Conforme redação dada ao caput do § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, os efeitos
se iniciaram a partir de 12 de julho de 2000: “§ 5º Para efeito do disposto no caput deste artigo,
relativamente aos créditos decorrentes de entrada de mercadorias no estabelecimento destinadas ao
ativo permanente, deverá ser observado” (BRASIL, 2000b).

Observe a redação original, com efeitos até 11 de julho de 2000:

§ 5º Além do lançamento em conjunto com os demais créditos, para efeito


da compensação prevista neste artigo e no anterior, os créditos resultantes
de operações de que decorra entrada de mercadorias destinadas ao ativo
não circulante serão objeto de outro lançamento, em livro próprio ou de
outra forma que a legislação determinar, para aplicação do disposto no art. 21,
§§ 5º, 6º e 7º (BRASIL, 1996c).

Acrescido o inciso I ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos a partir de 12 de
julho de 2000: “I – a apropriação será feita à razão de um quarenta e oito avos por mês, devendo a
primeira fração ser apropriada no mês em que ocorrer a entrada no estabelecimento” (BRASIL, 2000b).

Acrescido o inciso II ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos a partir de 12 de
julho de 2000:

II – em cada período de apuração do imposto, não será admitido o


creditamento de que trata o inciso I, em relação à proporção das operações
de saídas ou prestações isentas ou não tributadas sobre o total das operações de
saídas ou prestações efetuadas no mesmo período (BRASIL, 2000b).

Redação dada ao inciso III do § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 120, com efeitos a partir de
30 de dezembro de 2005.

III – para aplicação do disposto nos incisos I e II deste parágrafo, o montante


do crédito a ser apropriado será obtido multiplicando‑se o valor total do
respectivo crédito pelo fator igual a 1/48 (um quarenta e oito avos) da
relação entre o valor das operações de saídas e prestações tributadas e o
total das operações de saídas e prestações do período, equiparando‑se às
tributadas, para fins deste inciso, as saídas e prestações com destino ao
exterior ou as saídas de papel destinado à impressão de livros, jornais e
periódicos (BRASIL, 2005c).

Acrescido o inciso III ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos de 12 de julho de
2000 a 29 de dezembro de 2005.

III – para aplicação do disposto nos incisos I e II, o montante do crédito a


ser apropriado será o obtido multiplicando-se o valor total do respectivo
crédito pelo fator igual a um quarenta e oito avos da relação entre o valor
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Unidade II

das operações de saídas e prestações tributadas e o total das operações de


saídas e prestações do período, equiparando-se às tributadas, para fins deste
inciso, as saídas e prestações com destino ao exterior (BRASIL, 2000b).

Acrescido o inciso IV ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos a partir de 12 de
julho de 2000: “IV – o quociente de um quarenta e oito avos será proporcionalmente aumentado ou
diminuído, pro rata die, caso o período de apuração seja superior ou inferior a um mês” (BRASIL, 2000b).

Acrescido o inciso V ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos a partir de 12 de
julho de 2000.

V – na hipótese de alienação dos bens do ativo permanente, antes de


decorrido o prazo de quatro anos contado da data de sua aquisição, não será
admitido, a partir da data da alienação, o creditamento de que trata este
parágrafo em relação à fração que corresponderia ao restante do quadriênio
(BRASIL, 2000b).

Acrescido o inciso VI ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos a partir de 12 de
julho de 2000.

VI – serão objeto de outro lançamento, além do lançamento em conjunto


com os demais créditos, para efeito da compensação prevista neste artigo e
no art. 19, em livro próprio ou de outra forma que a legislação determinar,
para aplicação do disposto nos incisos I a V deste parágrafo (BRASIL, 2000b).

Acrescido o inciso VII ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos a partir de 12 de
julho de 2000.

VII – ao final do quadragésimo oitavo mês contado da data da entrada do


bem no estabelecimento, o saldo remanescente do crédito será cancelado.

§ 6º Operações tributadas, posteriores a saídas de que trata o § 3º, dão ao


estabelecimento que as praticar direito a creditar-se do imposto cobrado
nas operações anteriores às isentas ou não tributadas sempre que a saída
isenta ou não tributada seja relativa a:

I – produtos agropecuários;

II – quando autorizado em lei estadual, outras mercadorias (BRASIL, 2000b).

70
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

ICMS

Figura 13 – Produtos da cesta básica têm alíquotas mais baixas

Disponível em: https://bit.ly/2V8g353. Acesso em: 6 jul. 2021.

ICMS

Figura 14 – Produtos supérfluos têm alíquotas mais altas

Disponível em: https://bit.ly/3hpQJAt. Acesso em: 6 jul. 2021.

5.1.8 Base de cálculo e alíquotas

5.1.8.1 Base de cálculo

Conforme o art. 13 da Lei Complementar n. 87, a base de cálculo do imposto é:

I – na saída de mercadoria prevista nos incisos I, III e IV do art. 12, o


valor da operação;

II – na hipótese do inciso II do art. 12, o valor da operação, compreendendo


mercadoria e serviço;

71
Unidade II

III – na prestação de serviço de transporte interestadual e intermunicipal e


de comunicação, o preço do serviço;

IV – no fornecimento de que trata o inciso VIII do art. 12;

a) o valor da operação, na hipótese da alínea “a”;

b) o preço corrente da mercadoria fornecida ou empregada, na hipótese


da alínea “b”;

V – na hipótese do inciso IX do art. 12, a soma das seguintes parcelas:

a) o valor da mercadoria ou bem constante dos documentos de importação,


observado o disposto no art. 14;

b) imposto de importação;

c) imposto sobre produtos industrializados;

d) imposto sobre operações de câmbio (BRASIL, 1996c).

Redação dada à alínea “e”, V, do art. 13 pela Lei Complementar n. 114, com efeitos a partir de
17 de dezembro de 2002: “e) quaisquer outros impostos, taxas, contribuições e despesas aduaneiras”
(BRASIL, 2002e).

Redação original, com efeitos até 16 de dezembro de 2002.

e) quaisquer despesas aduaneiras;

VI – na hipótese do inciso X do art. 12, o valor da prestação do serviço, acrescido,


se for o caso, de todos os encargos relacionados com a sua utilização;

VII – no caso do inciso XI do art. 12, o valor da operação acrescido do valor


dos impostos de importação e sobre produtos industrializados e de todas as
despesas cobradas ou debitadas ao adquirente;

VIII – na hipótese do inciso XII do art. 12, o valor da operação de que


decorrer a entrada;

IX – na hipótese do inciso XIII do art. 12, o valor da prestação no Estado de


origem (BRASIL, 1996c).

Redação dada ao caput do § 1º do art. 13 pela Lei Complementar n. 114, com efeitos a partir de
17 de dezembro de 2002: “§ 1º Integra a base de cálculo do imposto, inclusive na hipótese do inciso V
do caput deste artigo” (BRASIL, 2002e).

72
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Redação original, com efeitos até 16 de dezembro de 2002.

§ 1º Integra a base de cálculo do imposto:

I – o montante do próprio imposto, constituindo o respectivo destaque mera


indicação para fins de controle;

II – o valor correspondente a:

a) seguros, juros e demais importâncias pagas, recebidas ou debitadas, bem


como descontos concedidos sob condição;

b) frete, caso o transporte seja efetuado pelo próprio remetente ou por sua
conta e ordem e seja cobrado em separado.

§ 2º Não integra a base de cálculo do imposto o montante do Imposto sobre


Produtos Industrializados, quando a operação, realizada entre contribuintes
e relativa a produto destinado à industrialização ou à comercialização,
configurar fato gerador de ambos os impostos.

§ 3º No caso do inciso IX, o imposto a pagar será o valor resultante da


aplicação do percentual equivalente à diferença entre a alíquota interna e a
interestadual, sobre o valor ali previsto.

§ 4º Na saída de mercadoria para estabelecimento localizado em outro


Estado, pertencente ao mesmo titular, a base de cálculo do imposto é:

I – o valor correspondente à entrada mais recente da mercadoria;

II – o custo da mercadoria produzida, assim entendida a soma do custo da


matéria-prima, material secundário, mão de obra e acondicionamento;

III – tratando-se de mercadorias não industrializadas, o seu preço corrente


no mercado atacadista do estabelecimento remetente.

§ 5º Nas operações e prestações interestaduais entre estabelecimentos de


contribuintes diferentes, caso haja reajuste do valor depois da remessa ou
da prestação, a diferença fica sujeita ao imposto no estabelecimento do
remetente ou do prestador (BRASIL, 1996c).

Observação

Quando a venda for feita a não contribuintes ou a mercadoria vendida


for utilizada para consumo final, o IPI comporá a base de cálculo do ICMS.

73
Unidade II

Quadro 3 – Relação simplificada de alguns fatos geradores e base de cálculo

Fato gerador Base de cálculo


Saída de mercadoria de estabelecimento
de contribuinte, ainda que para outro O valor da operação
estabelecimento do mesmo titular
A soma das seguintes parcelas:
- valor da mercadoria ou bem constante dos
documentos de importação;
- Imposto de Importação (II);
Na importação de mercadorias ou bens - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);
- Imposto sobre Operações de Câmbio (IOF);
- quaisquer despesas aduaneiras efetivamente
pagas à repartição alfandegária até o momento
do desembaraço da mercadoria ou bem.
Na prestação de serviço de transporte
interestadual e intermunicipal
O preço do serviço compreende, também, os
valores cobrados a título de acesso, adesão,
ativação, habilitação, disponibilidade, assinatura
Na prestação onerosa de serviço de e utilização dos serviços, bem como aqueles
comunicação relativos a serviços suplementares e facilidades
adicionais que otimizem ou agilizem o processo
de comunicação, independentemente da
denominação que lhes seja dada
No fornecimento de mercadoria com O valor da operação
prestação de serviços não tributados pelo ISS
O valor da operação acrescido do valor dos
Na aquisição em licitação pública de bens Impostos de Importação e sobre Produtos
ou mercadorias importados do exterior Industrializados e de todas as despesas cobradas
apreendidos ou abandonados ou debitadas ao adquirente
Na entrada no território do Estado
de petróleo, inclusive lubrificantes e
combustíveis líquidos e gasosos dele
derivados, e de energia elétrica, oriundos O valor da operação de que decorrer a entrada
de outra unidade federada, quando
não destinados à industrialização ou
comercialização

Integram a base de cálculo do ICMS os descontos concedidos sob qualquer condição, assim
entendidos os que estiverem subordinados a eventos futuros e incertos.

Também integram a base de cálculo do ICMS os valores correspondentes a seguros, juros e demais
importâncias pagas, recebidas ou debitadas ao destinatário, bem como o frete, caso o transporte seja
efetuado pelo próprio remetente ou por sua conta e ordem e seja cobrado em separado.

A seguir, será estudado o tratamento do IPI na base de cálculo do ICMS.

Nas operações de saídas de mercadorias efetuadas por contribuintes do IPI, o valor desse imposto
não integrará a base de cálculo do ICMS quando a operação – realizada entre contribuintes e relativa a

74
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

produto destinado à industrialização ou à comercialização posterior – configurar fato gerador de ambos


os impostos (IPI e ICMS). Ou seja, para que o IPI não faça parte da base de cálculo do ICMS, deve-se
observar, simultaneamente, as seguintes situações:

• a operação deve ser realizada entre contribuintes do ICMS;

• o destinatário do produto não pode utilizá-lo para seu uso/consumo ou integrá-lo em seu
ativo permanente;

• a operação deve configurar fato gerador do IPI e do ICMS.

Exemplificando: vamos criar duas situações para o caso de uma empresa que é contribuinte e cuja
atividade é comercialização de móveis e objetos de arte, tendo adquirido mercadorias de uma indústria
contribuinte do ICMS e do IPI de cadeiras. Tomemos a aquisição de dez cadeiras ao preço unitário de
R$ 900,00, sendo que sobre a venda incide IPI de 10% e ICMS de 17%. Vamos descobrir qual o valor do
ICMS para cada situação.

Situação 1

Aquisição das dez cadeiras para comercialização cuja mercadoria irá ser contabilizada no ativo como
estoque de mercadorias para revenda. Nessa situação, teremos os seguintes cálculos:

Valor da mercadoria R$ 9.000,00


Valor do IPI R$ 900,00
Valor total da nota fiscal R$ 9.900,00
Base de cálculo do ICMS R$ 9.000,00
Valor do ICMS R$ 1.530,00

Situação 2

Aquisição de dez cadeiras para uso na sala de reunião da diretoria, material este que vai compor seu
imobilizado. Nessa situação, teremos o seguinte cálculo:

Valor da mercadoria R$ 9.000,00


Valor do IPI R$ 900,00
Valor total da nota fiscal R$ 9.900,00
Base de cálculo do ICMS R$ 9.900,00
Valor do ICMS R$ 1.683,00

Analisando ambos os casos, podemos observar que o destino que será dado à mercadoria pelo
comprador é que vai determinar a forma do cálculo do ICMS, se na base de cálculo entrará o valor
correspondente ao IPI ou não.

75
Unidade II

Quando a mercadoria é adquirida com a finalidade de comercialização, conforme caso apresentado


na situação 1, a base de cálculo do ICMS será somente o valor da mercadoria, sem considerar a
parcela do IPI.

Contudo, quando a mercadoria for adquirida para consumo próprio e fizer parte do ativo imobilizado
do adquirente, o cálculo do ICMS é feito utilizando como base de cálculo o valor total da nota fiscal,
valor da mercadoria + IPI.

Esse procedimento não é porque o Estado é generoso, ele faz parte da Constituição Federal, em seu
art. 155, § 2º, XI:

não compreenderá, em sua base de cálculo, o montante do imposto sobre


produtos industrializados, quando a operação, realizada entre contribuintes
e relativa a produto destinado à industrialização ou à comercialização,
configure fato gerador dos dois impostos (BRASIL, 1988a).

Esse procedimento ocorre com qualquer produto que tenha incidência dos impostos. O que
vai diferenciar a formação da base de cálculo é a destinação que será dada à mercadoria pelo
contribuinte adquirente.

Para os casos nos quais a aquisição é feita por pessoas físicas, ou não contribuintes, o ICMS sempre
incidirá sobre o valor total da nota fiscal, ou seja, valor da mercadoria + ICMS.

5.1.8.2 Alíquotas

Alíquota é o percentual definido em lei que, aplicada sobre a base de cálculo, determina o valor total
do imposto a ser pago.

A alíquota interna do ICMS é estabelecida em cada Estado pela legislação estadual, ficando sob a
responsabilidade do Senado Federal a fixação das alíquotas interestaduais e de exportação do ICMS.
Essas alíquotas são diferenciadas entre os Estados:

• 7% em operações ou prestações interestaduais com estados da região Norte, Nordeste,


Centro‑Oeste e o Estado do Espírito Santo;

• 12% para as regiões Sul e Sudeste;

• 18% nas operações internas e importações em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e 17% nos
demais estados;

• 7% nas operações com produtos da cesta básica;

• 25% em operações internas, interestaduais e importações de perfumes, cosméticos, cigarros,


armas e munições, bebidas alcoólicas etc.
76
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Em relação às operações e prestações que destinem bens e serviços ao consumidor final localizado
em outro Estado, será adotada:

• a alíquota interestadual quando o destinatário for contribuinte do imposto;


• a alíquota interna quando o destinatário não for contribuinte dele.

Para fins de ICMS, as regiões são compostas pelas seguintes Unidades da Federação (UF):

• região Norte: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins;


• região Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Rio
Grande do Norte e Sergipe;
• região Centro-Oeste: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal;
• região Sudeste: Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo;
• região Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Região Norte
RR AP

Região Nordeste

AM PA MA CE RN
PB
PI
PE
AC
AC AL
RO TO SE
RO
BA
MT
DF

GO
Região
Centro-Oeste MG
MS ES
SP RJ
PR Região Sudeste
Região Sul SC
RS

Figura 15 – Regiões do Brasil

77
Unidade II

A variedade de alíquotas existente é explicada pelo caráter seletivo do ICMS, valendo-se que
quanto menos essencial for o produto em circulação, maior será a carga tributária em virtude de uma
alíquota maior.

Voltamos a frisar que os produtos considerados essenciais – como cesta básica de alimentos, veículos
essenciais e até mesmo produtos do setor de informática – têm alíquotas reduzidas pela essencialidade
do produto ou por meio da implantação de políticas estaduais com o intuito de atrair empresas para o
desenvolvimento da região.

Observação

Nesse instante, vem à tona a seguinte questão: se bens de primeira


necessidade têm alíquotas mais baixas, como ficariam as alíquotas de
fornecimento de energia elétrica, comunicação e combustíveis?

Esses bens não poderiam ser considerados como produtos ou bens supérfluos.

No entanto, estão taxados com alíquota de 25% em quase todos os Estados.

Em todos os nossos exemplos, resolveu-se adotar, tanto para compra como para venda, a alíquota
de 17%.

O cálculo do imposto é o “cálculo por dentro”. Estabelece o art. 6º, § 1º do RICMS (SÃO PAULO, 2000),
que o montante do ICMS integra a sua própria base de cálculo, inclusive na importação de mercadorias,
bens e serviços do exterior, constituindo o respectivo destaque no documento fiscal mera indicação
para fins de controle.

Partindo-se do valor da mercadoria + margem de lucro, para saber o valor da operação com o ICMS,
o cálculo será:

Para alíquota do ICMS = 17%

= 100% (valor do produto) – 17% (alíquota) = 83 / 100 = 0,83

Base de cálculo = R$ 80,00 / 0,83 = R$ 96,38 x 17% = 16,38

ICMS devido = R$ 16,38

Total da nota = R$ 96,38 – R$ 16,38 de ICMS = valor líquido = R$ 80,00.

A divisão por 0,83 aplica-se nos casos em que estejamos calculando o ICMS “por dentro”, considerando
a alíquota de 17%, ou seja, é a divisão por 0,83 (1,00 – 0,17). Caso a alíquota fosse 12%, a divisão seria
por 0,88 (1,0 – 0,12) e assim sucessivamente.
78
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

5.1.9 Exemplo de contabilização de ICMS recuperável

Para as empresas contribuintes do ICMS, o custo dos bens adquiridos deverá ser contabilizado
excluído do valor do ICMS destacado em nota fiscal de compras. Dessa forma, o bem estará registrado
em conta do ativo pelo valor de compra líquida de ICMS.

Na venda desses bens, o ICMS destacado na nota fiscal de saída deverá ser contabilizado como ajuste
da receita bruta de vendas diminuído das vendas canceladas, dos descontos e abatimentos concedidos
incondicionalmente e dos impostos incidentes sobre as vendas, sendo ICMS um desses impostos a
ser diminuído.

Vamos utilizar um exemplo de aquisição de mercadorias no valor de R$ 900,00 para pagamento em


28 DDL (dias da data líquida), a serem comercializadas posteriormente com um acréscimo de 50% com
recebimento programado para 30/60 DDL. A alíquota de ICMS adotada foi de 17%.

Tabela 17 – Pela compra de mercadoria para revenda

Débito
Estoque de mercadorias (Ativo) R$ 747,00
ICMS a recuperar (Ativo) R$ 153,00
Crédito
Fornecedores (Passivo) R$ 900,00

Tabela 18 – Pela venda das mercadorias a prazo

Débito
Clientes (Ativo) R$ 1.350,00

Crédito
Receitas de mercadorias vendidas (Resultados) R$ 1.350,00

Tabela 19 – Pela incidência do ICMS sobre a venda

Débito
ICMS sobre vendas (Resultados) R$ 229,50

Crédito
ICMS a pagar (Passivo) R$ 229,50

79
Unidade II

Tabela 20 – Pelo registro do custo das mercadorias vendidas

Débito
Custos de mercadorias vendidas (Resultados) R$ 747,00

Crédito
Estoque de mercadorias (Ativo) R$ 747,00

Tabela 21 – Pela apuração do imposto ao final do período

Débito
ICMS a pagar (Passivo) R$ 153,00

Crédito
ICMS a recuperar (Ativo) R$ 153,00

O ICMS devido sobre a venda (registrado no passivo circulante) e o ICMS a recuperar (em conta do
ativo circulante) devem proceder aos lançamentos de absorção dos saldos em uma conta contra a outra
ao término do período de apuração. Se o valor a recolher for maior que o valor a recuperar, deverá prevalecer
um saldo a recolher contabilizado no passivo circulante (ICMS a recolher); caso contrário, prevalecerá um
saldo a recuperar no ativo circulante (ICMS a recuperar).

Com esse lançamento, o saldo devedor do imposto no livro de apuração será de R$ 76,50. Ao apurar
o resultado do período, transferindo as contas de receitas e custos ao resultado do período, a DRE
apresentaria o seguinte lucro bruto para a operação:

Tabela 22 – DRE

Vendas de mercadorias R$ 1.350,00


(-) ICMS s/vendas (R$ 229,50)
Receita líquida de venda R$ 1.120,50
(-) Custo das mercadorias vendidas (R$ 747,00)
Lucro Bruto R$ 373,50

5.1.10 Exemplo de contabilização de ICMS não recuperável

Para as empresas não contribuintes do ICMS, como a maioria das prestadoras de serviços, e para
as indústrias que adquirem insumos ou matérias-primas que serão empregadas exclusivamente em
produtos cuja saída não será tributada – seja por isenção ou por não incidência – o crédito referente ao
imposto deverá ser anulado, contabilizando‑se o valor do ICMS pago na compra como parte integrante
do bem adquirido.

80
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Exemplo: empresa prestadora de serviços que adquire materiais de escritório pelo valor de R$ 2.500,00
com pagamento à vista.

Valor total da nota fiscal R$ 2.500,00


ICMS (17%) R$ 425,00

Contabilização pelo valor total da nota fiscal

Tabela 23 – Pela compra da mercadoria

Débito
Estoque e material de escrtitório (Ativo) R$ 2.500,00

Crédito
Caixa (Ativo) R$ 2.500,00

Por ser uma empresa exclusivamente prestadora de serviços, ela não é contribuinte do ICMS. Dessa
forma, todo e qualquer bem adquirido por ela, caso esteja destacado o ICMS na nota fiscal de compras,
não poderá ter seu crédito aproveitado, portanto, a empresa deverá considerar esse imposto no custo
do produto adquirido.

5.1.11 Crédito sobre aquisição de bens do ativo imobilizado

A Lei Complementar n. 102/2000, em seu art. 20, § 5º, estabelece que:

Para efeito do disposto no caput deste artigo, relativamente aos créditos


decorrentes de entrada de mercadorias no estabelecimento destinadas ao
ativo permanente, deverá ser observado:

I – a apropriação será feita à razão de um quarenta e oito avos por mês,


devendo a primeira fração ser apropriada no mês em que ocorrer a entrada
no estabelecimento;

II – em cada período de apuração do imposto, não será admitido o


creditamento de que trata o inciso I, em relação à proporção das operações de
saídas ou prestações isentas ou não tributadas sobre o total das operações
de saídas ou prestações efetuadas no mesmo período;

III – para aplicação do disposto nos incisos I e II, o montante do crédito a


ser apropriado será o obtido multiplicando‑se o valor total do respectivo
crédito pelo fator igual a um quarenta e oito avos da relação entre o valor
das operações de saídas e prestações tributadas e o total das operações de
saídas e prestações do período, equiparando-se às tributadas, para fins deste
inciso, as saídas e prestações com destino ao exterior;

81
Unidade II

IV – o quociente de um quarenta e oito avos será proporcionalmente


aumentado ou diminuído, pro rata die, caso o período de apuração seja
superior ou inferior a um mês;

V – na hipótese de alienação dos bens do ativo permanente, antes de


decorrido o prazo de quatro anos contado da data de sua aquisição, não será
admitido, a partir da data da alienação, o creditamento de que trata este
parágrafo em relação à fração que corresponderia ao restante do quadriênio;

VI – serão objeto de outro lançamento, além do lançamento em conjunto


com os demais créditos, para efeito da compensação prevista neste artigo e
no art. 19, em livro próprio ou de outra forma que a legislação determinar,
para aplicação do disposto nos incisos I a V deste parágrafo; e

VII – ao final do quadragésimo oitavo mês contado da data da entrada do


bem no estabelecimento, o saldo remanescente do crédito será cancelado
(BRASIL, 2000b).

O que Isso quer dizer? Sempre que forem adquiridos bens para o ativo permanente, o ICMS poderá
ser creditado pelo contribuinte, mas somente 1/48 avos do crédito poderá ser utilizado mensalmente.
Adicionalmente, conforme dispõe o item II do art. 20, § 5º da Lei Complementar n. 102 (BRASIL, 2000b),
o aproveitamento de 1/48 avos mensais só poderá ser feito na proporção das operações de saída ou
prestação de serviços tributados em ICMS.

Veja um exemplo de contabilização de uma aquisição de uma central telefônica para atendimento
ao cliente pelo valor de R$ 30.000,00, com ICMS de 17%.

Tabela 24 – Pela compra do bem para imobilização

Débito
Equipamentos (Imobilizado) R$ 24.900,00
ICMS s/imobilizado a recuperar (Ativo) R$ 5.100,00
Crédito
Forncedores (Passivo) R$ 30.000,00

Se esse equipamento for utilizado no processo de industrialização ou de comercialização de produtos


da empresa que forem tributados, o crédito do ICMS poderá ser utilizado em 48 parcelas de R$ 106,25.

A empresa fará o aproveitamento dos créditos gerados no Ciap proporcionalmente às operações


de saída ou prestação de serviço tributada, ou seja, o aproveitamento de 1/48 deverá obedecer à
proporcionalidade de todas as saídas ou prestação de serviço tributada.

Considerando que em determinado período todas as operações de saída ou prestação de serviços


foram tributadas em ICMS, então, ao final desse período, teríamos a seguinte contabilização:

82
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Tabela 25 – Pela apuração do imposto ao final do período

Débito
ICMS a pagar (Passivo) R$ 106,25

Crédito
ICMS s/imobilizado a recuperar (Ativo) R$ 106,25

Por outro lado, se em determinado período a empresa contribuinte apresentasse o cenário a seguir
quanto às suas operações de saída, o aproveitamento do crédito de ICMS proveniente da compra de
ativo imobilizado não seria de $ 106,25 no mês, e sim 80% desse valor.

Operações tributadas em ICMS = $ 200.000 (80% de vendas tributadas)

Operações não tributadas em ICMS = $ 50.000 (20% de vendas não tributadas)

Total das operações = $ 250.000 (100% total das vendas)

Esse controle deve ser feito por meio do controle de crédito de ICMS do ativo não circulante (Ciap),
que desde 2010 passou a ser escriturado digitalmente.

O Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), em sua 138ª reunião


ordinária, realizada em Porto Velho, RO, no dia 9 de julho de 2010, tendo em
vista o disposto no art. 199 do Código Tributário Nacional (Lei 5.172, de 25
de outubro de 1966), resolve celebrar o seguinte

Ajuste

Cláusula primeira. Fica acrescentado o inciso III à cláusula primeira do Ajuste


Sinief 08/97, de 12 de dezembro de 1997:

“III – modelo previsto pela Escrituração Fiscal Digital (EFD), instituído por
meio do Ajuste Sinief 02/09, de 3 de abril de 2009, destinado à apuração do
valor do crédito a ser mensalmente apropriado, nos termos do art. 20,

§ 5º, da Lei Complementar n. 87, de 13 de setembro de 1996, na redação


dada pela Lei Complementar n. 102, de 11 de julho de 2000”.

Cláusula segunda. Este ajuste entra em vigor na data de sua publicação


no Diário Oficial da União, produzindo efeitos a partir do primeiro dia do
segundo mês subsequente ao da publicação (BRASIL, 2010a).

83
Unidade II

Saiba mais

Uma boa forma de complementar o conteúdo deste livro‑texto é consultar


os sites das Secretarias da Fazenda dos Estados e da Receita Federal.

Disponível em: www.fazenda.sp.gov.br. Acesso em: 5 jul. 2021.

Disponível em: www.receita.fazenda.gov.br. Acesso em: 5 jul. 2021.

5.2 Substituição tributária - ICMS ST

A substituição tributária foi criada e implementada pelas UFs bem antes da atual Constituição Federal
por meio de convênios e protocolos celebrados entre as fazendas estaduais. Houve bastante discussão
sobre a sua inconstitucionalidade, alegando-se que não havia previsão constitucional para tal forma de
cobrança do imposto. Por conta disso, a atual Constituição Federal incorporou-a, em seu art. 150, § 7º,
legitimando-a pela Lei Complementar n. 87 (BRASIL, 1996c).

A implementação da substituição tributária do ICMS ocorreu porque foi constatado que poucos
fabricantes vendiam seus produtos a uma infinidade de distribuidores e revendedores, e estes, por sua
vez, sonegavam o ICMS. Dessa forma, os fabricantes passaram a ser tributados, pois é mais fácil fiscalizar
grandes empresas do que pessoas físicas.

5.2.1 Conceito

Como conceito, podemos definir que a substituição tributária como um mecanismo de arrecadação
de tributos utilizado pelo fisco atribuindo ao contribuinte a responsabilidade pelo pagamento do
imposto devido pelo seu cliente.

5.2.2 Tipos de substituição tributária no ICMS

A substituição tributária pode ocorrer sobre mercadorias e serviços de transportes. Sobre mercadorias,
a substituição tributária é feita conforme exposto a seguir:

• Operações anteriores: atribui-se a determinado contribuinte a responsabilidade pelo pagamento


do imposto referente às operações anteriores. Nesse caso, encontramos o diferimento de imposto.

• Operações subsequentes: a substituição é caracterizada pela atribuição a um determinado


contribuinte, em geral ao primeiro da cadeia de comercialização (fabricante ou importador) pelo
pagamento do valor do imposto incidente nas operações subsequentes até que a mercadoria
chegue ao consumidor final (BRASIL, 1996c, art. 6º, § 1º).

84
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Art. 6º. Lei estadual poderá atribuir a contribuinte do imposto ou a depositário


a qualquer título a responsabilidade pelo seu pagamento, hipótese em que
assumirá a condição de substituto tributário.

§ 1º A responsabilidade poderá ser atribuída em relação ao imposto


incidente sobre uma ou mais operações ou prestações, sejam antecedentes,
concomitantes ou subsequentes, inclusive ao valor decorrente da diferença
entre alíquotas interna e interestadual nas operações e prestações que
destinem bens e serviços a consumidor final localizado em outro Estado,
que seja contribuinte do imposto (BRASIL, 2002e).

• Operações concomitantes: a substituição tributária é caracterizada pela atribuição da


responsabilidade pelo pagamento do imposto para outro contribuinte, e não ao que esteja
realizando a operação ou prestação de serviços, concomitantemente à ocorrência do fato gerador.
A substituição tributária dos serviços de transportes está nessa modalidade.

Por sua vez, o ICMS sobre os serviços de transportes é devido no local no qual se inicia a prestação
dos serviços. Por essa razão, as UFs, por meio do Convênio ICMS 25 (BRASIL, 1990), estabeleceram que,
na ocasião da prestação de serviço de transporte de carga por transportador autônomo ou por empresa
transportadora de outro Estado não inscrita no cadastro de contribuintes do Estado no qual se deu o
início da prestação de serviços de transporte, a responsabilidade pelo pagamento do imposto devido,
o ICMS, poderá ser atribuída:

• ao alienante ou remetente da mercadoria, exceto se produtor rural ou microempresa, quando


contribuinte do ICMS;
• ao destinatário da mercadoria, exceto se produtor rural ou microempresa, quando contribuinte do
ICMS, na prestação interna;
• ao depositário da mercadoria a qualquer título, na saída da mercadoria ou bem depositado por
pessoa física ou jurídica.

5.2.3 Contribuintes

5.2.3.1 Contribuinte substituto

É o responsável por reter e recolher o imposto incidente em operações ou prestações antecedentes,


concomitantes ou subsequentes, inclusive do valor referente à diferença entre a alíquota interna do
Estado e a alíquota interestadual nas operações e prestações de serviços que se destinem ao consumidor
final. Em geral, é o fabricante ou o importador.

5.2.3.2 Contribuinte substituído

É aquele que tem o imposto devido relativo às operações e prestações de serviços pagos pelo
contribuinte substituto.
85
Unidade II

5.2.4 Responsável

O contribuinte que receber mercadoria sujeita à substituição tributária, de dentro ou de fora do


Estado, sem que tenha sido feita a retenção total na operação anterior, fica solidariamente responsável
pelo recolhimento do imposto não retido.

No caso de substituição tributária relativa às operações ou prestações antecedentes, o imposto


devido será pago pelo responsável quando:

• da entrada ou recebimento da mercadoria ou serviço;

• da saída subsequente por ele promovida, ainda que isenta ou não tributada;

• ocorrer qualquer saída ou evento que impossibilite a ocorrência do fato determinante do


pagamento do imposto.

A sujeição passiva por substituição tributária aplica-se nas operações internas e interestaduais em
relação às operações subsequentes a serem realizadas pelos contribuintes substituídos, ressaltando-se
que, nas operações interestaduais em relação a algumas mercadorias, a sujeição ocorre também na
entrada de mercadorias para uso e consumo ou ativo imobilizado, quando o destinatário for contribuinte
do ICMS. Nesse caso, não incidirá a margem presumida, predefinida pelo governo.

5.2.5 Casos nos quais não há a aplicação da substituição tributária

São eles:

• Operações que destinem mercadorias a sujeito passivo por substituição da mesma mercadoria.
Por exemplo, a saída de uma fábrica de material elétrico para outra fábrica de material elétrico.

• Transferências para outro estabelecimento, desde que não seja varejista, do sujeito passivo por
substituição, hipótese em que a responsabilidade pela retenção e recolhimento do imposto recairá
sobre o estabelecimento que promover a saída da mercadoria com destino à empresa diversa.

• Nas saídas para consumidor final, salvo se a operação for interestadual e o destinatário contribuinte
do ICMS, tendo em vista que alguns protocolos/convênios dispõem sobre o regime da substituição
tributária, atribuindo a responsabilidade ao remetente em relação à entrada para uso e consumo
ou ativo imobilizado, ou seja, em relação ao diferencial de alíquotas. No caso de lâmpadas, os
estados da Bahia e do Paraná não exigem a substituição tributária, mesmo se o destinatário for
contribuinte do ICMS.

• Operação em que a mercadoria for utilizada no processo de industrialização.

86
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

5.2.6 Mercadorias sujeitas à substituição tributária

Entre uma infinidade de materiais cuja sujeição nas operações está determinada nos convênios/protocolos
assinados pelos Estados ou por uma maioria, destacam-se cimento, veículos novos, lâmpadas elétricas,
lâminas de barbear, tintas e vernizes, pneumáticos, combustíveis, produtos alimentícios, bebidas
quentes, materiais de construção, ferramentas, bicicletas, cosméticos, produtos de higiene e limpeza,
brinquedos, materiais elétricos e produtos eletrônicos.

Figura 16 – Bicicleta é um dos produtos sujeitos à substituição tributária

Disponível em: https://bit.ly/3jVcj10. Acesso em: 6 jul. 2021.

Figura 17 – Automóveis estão sujeitos à substituição tributária

Disponível em: https://bit.ly/36lj308. Acesso em: 6 jul. 2021.

5.2.7 Base de cálculo da substituição tributária

Conforme fixado no art. 8º da Lei Complementar n. 87 (BRASIL, 1996c), tratando-se do regime de


sujeição passiva por substituição, institui-se que a base de cálculo será o valor correspondente ao preço
de venda ao consumidor acrescido do valor do frete, IPI e demais despesas debitadas ao estabelecimento
destinatário, bem como a parcela resultante da aplicação (sobre esse total) do percentual de valor
agregado (margem de lucro). Esse percentual é definido em cada caso, respeitando-se as peculiaridades
de cada mercadoria.

BC = (valor mercadoria + frete + IPI + outras despesas x margem de lucro)

87
Unidade II

5.2.8 Margem de valor agregado (MVA)

É determinada considerando os preços usualmente praticados no mercado, por meio de levantamentos


por amostragem ou por informações cedidas pelas entidades representativas dos setores. Para tanto,
adota-se a margem ponderada dos preços coletados. Os produtos submetidos à substituição tributária
em operações interestaduais terão a MVA fixada por meio de convênio ou protocolo.

Quando um contribuinte de um Estado vende o produto para um contribuinte de outro Estado,


fica com a responsabilidade de recolher antecipadamente ao Estado destinatário o ICMS devido pelas
operações subsequentes com o produto até o consumidor final. Assim, a MVA nada mais é do que a
presunção do valor comercial praticado pelos varejistas.

Com essas novas modalidades de cálculos, tornou-se bastante complexo para o contribuinte o
cenário de recolhimento de impostos. Este, antes de realizar uma operação comercial, deve analisar
se existem acordos firmados para o uso da substituição tributária entre o Estado no qual se localizam
o vendedor e o Estado no qual está estabelecido o comprador. Para se ter uma ideia da complexidade,
hoje, existem em média mais de duzentos protocolos e convênios, e esse número deve aumentar, porque
para os Estados a substituição tributária é a garantia de recebimento dos impostos.

5.2.9 Exemplo prático de cálculo de operações subsequentes

Para se iniciar o cálculo, são necessários alguns dados.

A empresa Mafera Industrial Ltda., fabricante de pneus localizada no estado de São Paulo, vendeu
um lote de pneus para carros de passageiros para a empresa denominada CTOP Ltda., de Pernambuco.

Figura 18 – Pneus estão sujeitos à substituição tributária

Disponível em: https://bit.ly/3jNgps1. Acesso em: 6 jul. 2021.

Observação
Os dados aqui apresentados são meramente exemplos de cálculos;
alíquotas, MVA, convênios e demais dados são hipotéticos.
88
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Valor da venda R$ 20.000,00


Valor do IPI: 40% R$ 8.000,00
Despesas de seguro R$ 400,00
Fretes R$ 1.200,00

ICMS da operação Interestadual: 7%


ICMS interno da UF do destinatário: 17%
Margem de valor agregado do produto: 38%

O ICMS será calculado com base nos seguintes dados:

Tabela 26 – Base de cálculo

Valor da mercadoria 20.000,00


IPI 8.000,00
Seguro 400,00
Frete 1.200,00
Total 29.600,00

Lembrando que é fabricante ou importador quem está vendendo a mercadoria.

• Cálculo do ICMS da operação própria:

— Base de cálculo (20.000 + 400,00 + 1.200,0) = R$ 21.600,00

— ICMS (alíquota interestadual) = 7%

— ICMS = R$ 21.600,00 x 7% = R$ 1.512,00

• Cálculo do ICMS da substituição tributária:

— Base de cálculo (substituição tributária) = (R$ 20.000,00 + R$ 8.000,00 + 400,00 + 1.200,00)


= 29.600,00 + MVA (38 ) = R$ 29.600,00 + R$ 11.248,00 = R$ 40.848,00

A fórmula do cálculo da substituição tributária do ICMS é:

Base de cálculo (ST) x ICMS (alíquota interna) – ICMS interestadual = (R$ 40.848,00 x 17 ) – 1.512,00
= 6.944,16 – 1.512,00 = 5.432,16

89
Unidade II

Tabela 27 – Valor total da nota fiscal

Valor da mercadoria 20.000,00

IPI 8.000,00

Seguro 400,00

Frete 1.200,00

ICMS substituição tributária 5.432,16

Valor total da nota fiscal 35.032.16

5.2.10 Tratamento do ICMS em operações de venda para empresas da ZFM e ALC

A ZFM compreende Manaus, Rio Preto da Eva e Presidente Figueiredo. Por sua vez, as ALC envolvem
Macapá e Santana, no Amapá, Bonfim e Boa Vista, em Roraima, Tabatinga, no Amazonas, Guajará‑Mirim,
em Rondônia, e Brasileia, com extensão ao município de Epitaciolândia, e Cruzeiro do Sul, no Acre. A venda de
mercadorias para empresas localizadas nessas regiões possui alguns benefícios: tributos como ICMS, IPI,
PIS e Cofins terão tratamento especial.

Podemos considerar que, para efeitos fiscais, as mercadorias comercializadas para essas áreas
correspondem a uma exportação de produtos brasileiros para um país estrangeiro, sempre que a
mercadoria for para industrialização ou comercialização, exceto produtos supérfluos.

A ZFM foi instituída em 1967 com o intuito de implantar um polo de desenvolvimento industrial,
comercial e agropecuário, a fim de diminuir as desvantagens decorrentes da distância da região
amazônica. O Decreto-lei n. 288 (BRASIL, 1967) regulamenta a ZFM, que definia tal área como de livre
comércio de importação e exportação, além de fixar incentivos fiscais especiais. O governo federal
prorrogou alguns incentivos e criou outros, e o modelo de desenvolvimento da região é baseado em
incentivos fiscais e extrafiscais que criam condições de alavancar o processo de crescimento dessa área.
Estudaremos esses incentivos a seguir.

5.2.10.1 ICMS

O benefício fiscal de isenção do ICMS para a ZFM foi instituído pelo Convênio 65/88, com alterações
posteriores, inclusive o Convênio ICMS 52 (BRASIL, 1992), que estende às ALC dos estados do Amapá,
Roraima e Rondônia os benefícios do Convênio ICM 65 (BRASIL, 1988b), de 6 de dezembro de 1988.

Toda a mercadoria de origem nacional, com destino à ZFM, cuja aplicação for para o processo
produtivo (industrialização) ou comercialização (revenda), exceto produtos supérfluos, goza de isenção
do ICMS. Contudo, para que esse benefício seja concedido, é mister que o adquirente esteja registrado
na Suframa (Superintendência da ZFM), e o número de inscrição deverá constar no documento fiscal de
saída da mercadoria.

90
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Conforme orientação no site da própria Suframa, as notas fiscais devem conter o número de
inscrição na Suframa, a indicação do valor abatido do preço da mercadoria equivalente ao imposto
(ICMS) que seria devido se não houvesse a isenção indicada na nota fiscal. É preciso informar o Convênio
ICM 65 (BRASIL, 1988b), que isenta as remessas de produtos industrializados de origem nacional a
serem comercializadas ou industrializadas na área incentivada. O código do posto fiscal no qual está
subordinado o estabelecimento remetente e o valor referente ao desconto do ICMS deverão constar no
mesmo documento fiscal.

A Suframa tomou algumas ações quanto ao internamento das mercadorias na ZFM. A partir de 2006,
normatizou esse sistema com a transmissão de dados fiscais por meio do Sistema de Controle de Mercadoria
Nacional – Sinal da Suframa, que é um sistema pelo qual o remetente gera um protocolo de ingresso da
mercadoria, o PIN; depois, esse controle passa a ser conduzido pela transportadora e pelo destinatário.

Em relação à complexidade intrínseca na área tributária, evidencia-se o quanto os tributos (direta ou


indiretamente) influenciam nas mais diversas decisões empresariais. Portanto, o conhecimento tributário
para um profissional de contabilidade torna-se uma obrigação, e não uma escolha.

Partindo-se dessa premissa, temos o ICMS, que, por se tratar de um tributo estadual, logo atenderá
às especificidades de cada Estado; o mesmo ocorrerá com os tributos federais estudados, IPI, PIS e
Cofins, cuja responsabilidade é da União.

Para tornar-se um profissional de contabilidade habilitado, ou seja, com registro no Conselho


Regional de Contabilidade, é necessária a aprovação por meio do exame de suficiência.

Saiba mais

O exame em questão foi instituído pela Lei n. 12.249, de 11 de junho


de 2010. Há duas edições anuais (primeiro e segundo semestre), e basta
ser aprovado em apenas uma delas para tornar-se um profissional de
contabilidade habilitado a fim de exercer funções como contador, auditor,
perito contábil etc. Consulte a legislação:

BRASIL. Lei n. 12.249, de 11 de junho de 2010. Institui o Regime Especial


de Incentivos para o Desenvolvimento de Infraestrutura da Indústria
Petrolífera nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (Repenec)... Brasília,
2010d. Disponível em: https://bit.ly/38UqDAS. Acesso em: 5 fev. 2021.

5.3 Diferencial de alíquota - ICMS Difal

Além de operação própria e substituição tributária, o ICMS pode ser apurado e recolhido como
diferencial de alíquota.

91
Unidade II

5.3.1 Conceito

Publicada em 16 de abril de 2015, a Emenda Constitucional n. 87 (BRASIL, 2015b) altera o § 2º do


art. 155 da Constituição Federal e inclui o art. 99 no “Ato das Disposições Constitucionais Transitórias”,
para tratar da sistemática de cobrança do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias
e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação destinadas a
consumidor final contribuinte ou não do imposto e localizado em outro Estado.

Observe a seguir suas principais características:

• Altera a sistemática de recolhimento do ICMS nas operações e prestações interestaduais que


destinem bens e serviços a consumidor final não contribuinte do imposto.

• O ICMS correspondente à diferença entre a alíquota interestadual e a alíquota interna do estado


de destino (Difal) será partilhado.

• As alíquotas do ICMS a serem utilizadas na operação interestadual, destinadas a consumidor final,


contribuinte ou não, estabelecidas pelo Senado Federal são 4%, 7% ou 12%.

• Não abrange apenas o comércio eletrônico (e-commerce), mas todas as operações interestaduais
destinadas a consumidor final não contribuinte.

A figura a seguir demonstra o cenário que identifica a situação de incidência da substituição


tributária do ICMS.

Destinatário
Operação contribuinte ou Consumidor final
interestadual não do ICMS

Alíquota interestadual (-)


Alíquota interna do destino =
Diferencial de alíquotas

Figura 19

92
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

5.3.2 Partilha do ICMS

Quando a EC n. 87 (BRASIL, 2015b) foi publicada, o ICMS Difal tinha seu valor partilhado entre
os estados de origem e destino, porém a partir de 2019 o valor do ICMS Difal apurado passou a ser
reservado a 100% da UF de destino.

Observe a seguir a definição de contribuinte e não contribuinte:

• o contribuinte é considerado a pessoa jurídica com inscrição estadual ativa e que realiza operações
com mercadoria (indústria ou comércio);

• o não contribuinte é considerado a pessoa jurídica sem inscrição estadual, ou seja, que não realiza
operações com mercadoria ou a pessoa física.

5.3.3 Tipo de recolhimento

5.3.3.1 Recolhimento por operação (por documento)

O recolhimento do ICMS Difal deve ser efetuado por meio da Guia de Recolhimento de Tributos
Estaduais (GRNE) ou outro documento de arrecadação, de acordo com a legislação da UF de destino por
ocasião da saída do bem ou do início da prestação de serviço em relação a cada operação ou prestação
(BRASIL, 2015b, cláusula quarta).

5.3.3.2 Recolhimento por apuração (mensal)

Para efetuar a apuração e o recolhimento mensal, o contribuinte (remetente) deve se inscrever no


cadastro do Estado da UF de destino das mercadorias. Dessa forma, o recolhimento do imposto pode ser
efetuado até o mês seguinte em uma única GNRE ou por outros documentos de arrecadação.

O contribuinte inscrito no Estado de destino deve enviar mensalmente documento declaratório


de apuração, denominado GIA-ST Nacional (Guia Nacional de Informação e Apuração), até o mês
subsequente ao da apuração do imposto, ainda que não tenha ocorrido nenhuma operação e prestação
de serviço com não contribuintes.

5.3.4 Fundo de Combate à Pobreza (FCP)

Segundo o § 4º do Convênio 93 (BRASIL, 2015a), o adicional de até 2% na alíquota do ICMS nas


operações de circulação de mercadoria e serviço serão destinados ao financiamento dos fundos estaduais
e distrital de combate à pobreza.

No cálculo do imposto devido à UF de destino, o remetente deve calcular, separadamente, o imposto


correspondente ao diferencial de alíquota por meio da aplicação sobre a respectiva base de cálculo de
percentual correspondente à alíquota interna da UF de destino sem considerar o adicional de até 2% e
adicionar até 2% no recolhimento para a UF de destino.
93
Unidade II

Exemplo de aplicação

Exemplo 1 – mercadoria nacional

Foi realizada uma venda do estado de São Paulo para o estado do Rio Grande do Sul de mercadoria
nacional no valor de R$ 10.000,00.

Alíquota interna no Estado de destino (RS): 18%


Alíquota interestadual de SP para RS: 12%
Diferencial de alíquota: 18% – 12% = 6%
Base de cálculo do ICMS Difal: 10.000,00 x 6%
Valor do ICMS Difal a recolher: R$ 600,00

O valor de R$ 600,00 será recolhido pelo remetente situado em São Paulo, através da GNRE com
destino ao estado do Rio Grande do Sul.

Observação

O FCP só terá incidência se no Estado de destino a mercadoria que


estiver circulando for enquadrada entre as que devem ter o recolhimento
do adicional de até 2%.

Exemplo 2 – mercadoria importada

Foi realizada uma venda do estado de São Paulo para o estado de Minas Gerais de mercadoria
importada no valor de R$ 10.000,00.

Alíquota interna no Estado de destino (MG): 18%


Alíquota interestadual de SP para MG: 4%
Diferencial de alíquota: 18% – 4% = 14%
Base de cálculo do ICMS Difal: 10.000,00 x 14%
Valor do ICMS Difal a recolher: R$ 1.400,00

O valor de R$ 1.400,00 será recolhido pelo remetente situado em São Paulo, através da GNRE com
destino ao estado de Minas Gerais.

O FCP só terá incidência nas mesmas condições do exemplo anterior.

Exemplo 3 – mercadoria nacional com FCP

Foi realizada uma venda do estado de São Paulo para o estado do Rio de Janeiro de mercadoria
nacional no valor de R$ 10.000,00.

94
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Alíquota interna no Estado de destino (RJ): 18%


Alíquota interestadual de SP para RJ: 12%

Diferencial de alíquota: 18% – 12% = 6%

No estado do RJ, todas as mercadorias que circularem terão um adicional de 2% destinado ao FCP.

Base de cálculo do ICMS Difal: 10.000,00 x 6%


Base de cálculo do FCP: 10.000,00 x 2%
Valor do ICMS Difal a recolher: R$ 800,00

O valor de R$ 800,00 será recolhido pelo remetente, situado em São Paulo, através da GNRE com
destino ao estado do Rio de Janeiro, especificando o valor destinado ao diferencial de alíquota e ao
valor do FCP.

6 EXERCÍCIOS PRÁTICOS

Questão 1 (CFC, 2016a)

Uma sociedade empresária possui um único estabelecimento comercial. Em 31 de janeiro de 2016,


apresentou os seguintes saldos em seu balancete mensal referentes a registros de ICMS incidentes sobre
compras e sobre vendas:
Tabela 28

Conta Saldo Natureza do saldo


ICMS a recuperar R$ 15.000,00 Devedor
ICMS a recolher R$ 10.000,00 Credor

De acordo com as informações apresentadas, é correto afirmar que o registro contábil a ser efetuado
para apuração do ICMS é:

A) Débito: ICMS a recolher R$ 15.000,00


Crédito: ICMS a recuperar R$ 15.000,00

B) Débito: ICMS a recolher R$ 10.000,00


Crédito: caixa R$ 10.000,00

C) Débito: ICMS a recolher R$ 5.000,00


Crédito: caixa R$ 5.000,00

D) Débito: ICMS a recolher R$ 10.000,00


Crédito: ICMS a recuperar R$ 10.000,00

95
Unidade II

Estratégias para responder à questão

Primeiro, é preciso identificar a atividade empresarial para poder classificá-la em comercial, industrial
e/ou prestação de serviços, e, assim, verificar quais os tributos poderão ser recuperados quando se tratar
de aquisições de itens por uma empresa, uma vez que nem todo item adquirido, mesmo com imposto
mencionado na nota fiscal, é passível de recuperação. Conforme estudamos, isso depende da utilização
desse mesmo material na empresa, se haverá continuidade dele (revenda e/ou utilização na produção) ou
seu consumo. Em caso de continuidade, poderá haver a recuperação; porém, em caso de consumo, não
é permitida legalmente sua recuperação.

Deve-se verificar quais tributos estão envolvidos na operação: ICMS, IPI, PIS, Cofins e ISS e, em
seguida, saber quais serão recuperáveis.

Então, é preciso observar o tipo de regime de incidência para o PIS e Cofins, ou seja, cumulativo e
não cumulativo, porque haverá diferença no valor da alíquota e também no valor a ser recuperado (ou não)
dos respectivos tributos, ou seja:

• cumulativo: em empresas tributadas pelo lucro presumido, não haverá recuperação de PIS e
Confis (alíquotas 0,65% e 3%, respectivamente);

• não cumulativo: em empresas tributadas pelo lucro real, haverá recuperação de PIS e Confis
(alíquotas 1,65% e 7,6%, respectivamente).

Lembrete

A tributação das empresas vinculadas ao lucro presumido ou lucro real


está relacionada com o pagamento do IRPJ e da CSLL (Contribuição Social sobre
o Lucro Líquido).

Em seguida, deve-se verificar se a operação foi à vista ou prazo, isto é, se haverá saída de recursos
financeiros de imediato ou se a empresa adquirirá uma dívida. A preocupação aqui está no registro
contábil a ser efetuado, e é vital observar se isso é solicitado em uma questão de concurso.

A questão apresentada destaca uma empresa comercial e menciona apenas o ICMS como imposto.

A empresa possui um saldo de ICMS a recuperar, ou seja, incidente sobre compras, e um saldo de
ICMS a recolher, que, por sua vez, refere-se às vendas de mercadorias. Esse é o cerne da questão, uma
vez que está sendo solicitada a apuração do ICMS.

96
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Lembrete
Impostos a recuperar envolvem um direito, logo, haverá saldo devedor
e respectivo registro no grupo do ativo do balanço patrimonial.

Impostos a recolher indicam uma obrigação, logo, haverá saldo credor


e respectivo registro no grupo do passivo do balanço patrimonial.

Impostos a pagar têm o mesmo significado contábil, ou seja, uma dívida.

É vital observar com muita atenção o enunciado e o que está sendo solicitado, ou seja: apresenta‑se o
saldo de ICMS a recuperar no valor de R$ 15.000,00 e o saldo do ICMS a recolher no valor de R$ 10.000,00.
Em seguida pede-se a apuração do ICMS, o que significa dizer que deverá prevalecer somente uma
situação: ICMS a recuperar ou o ICMS a recolher.

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


15.000,00 10.000,00

A melhor estratégia é abrir os razonetes com os saldos apresentados e zerar o menor entre eles.

Para apurar o ICMS, deve-se debitar o ICMS a recolher pelo valor de R$ 10.000,00 e creditar ICMS a
recuperar pelo valor de R$ 10.000,00:

Débito: ICMS a recolher R$ 10.000,00


Crédito: ICMS a recuperar R$ 10.000,00

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


15.000,00 10.000,00 10.000,00 10.000,00
5.000,00

Embora somente tenha sido solicitada a apuração do ICMS, pode-se afirmar que, após a apuração, a
empresa terá em seu balanço patrimonial do mês de janeiro de 2016 um valor de ICMS a recuperar de
R$ 5.000,00, que será incluído na apuração do ICMS do mês subsequente, ou seja, de fevereiro de 2016.

Análise do lançamento contábil para alternativa A

Débito: ICMS a recolher R$ 15.000,00


Crédito: ICMS a recuperar R$ 15.000,00

97
Unidade II

Como esse lançamento contábil menciona que é preciso debitar a conta de ICMS a recolher no valor
de R$ 15.000,00 e um crédito em ICMS a recuperar pelo mesmo valor, basta destacar novamente os
saldos em razonetes para identificar que essa alternativa está incorreta:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher

15.000,00 10.000,00

Vamos registrar em razonetes as contas de acordo com a alternativa A e você verá que não fará sentido:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher

15.000,00 15.000,00 a) a) 15.000,00 10.000,00


5.000,00

De fato, o lançamento contábil da alternativa A não faz sentido, uma vez que a conta de ICMS
a recuperar foi totalmente zerada, deixando a conta de ICMS a recolher com um saldo a débito no
valor de R$ 5.000,00. Em convenção contábil, é um contrassenso ter uma conta de obrigação com
saldo a débito.

Observação

Em convenção contábil, as contas patrimoniais que representam os bens


e direitos, ou seja, contas do ativo, um dos grupos do balanço patrimonial,
terão saldo a débito (com raras exceções); e as contas patrimoniais que
representam as obrigações, ou seja, contas do passivo, o outro grupo do
balanço patrimonial, terão saldo a crédito, com raras exceções. Por sua
vez, a conta do ICMS a recolher não é uma exceção, pois representa uma
obrigação determinada pela operação de origem.

Portanto, a alternativa A está incorreta.

Análise do lançamento contábil para alternativa B

Débito: ICMS a recolher R$ 10.000,00


Crédito: caixa R$ 10.000,00

98
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Nessa alternativa, nota-se de imediato o erro a crédito na conta caixa, uma vez que o enunciado
pede a apuração do ICMS, e não o seu pagamento. Assim, a alternativa está totalmente incorreta. Para
entender melhor, observe os razonetes:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


15.000,00 10.000,00

Vamos registrar em razonetes as contas de acordo com a alternativa B e você verá que essa alternativa
também não fará o menor sentido:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


15.000,00 b) 10.000,00 10.000,00

Caixa
b) 10.000,00

Foi feito o pagamento do valor do ICMS a recolher pelo valor total dessa conta, sem ocorrer o
confronto com o ICMS a recuperar, portanto, não houve a apuração do ICMS. Além disso, a empresa
está pagando desnecessariamente o ICMS, desembolsando um valor que poderia ser utilizado em outra
operação, deixando um saldo na conta de ICMS a recuperar. Veja que o saldo da conta caixa ficou credor,
ou seja, um contrassenso contábil. Afinal, não faz sentido ter R$ 10.000,00 negativos.

Portanto, a alternativa B está incorreta.

Análise do lançamento contábil para alternativa C

Débito: ICMS a recolher R$ 5.000,00


Crédito: caixa R$ 5.000,00

Nessa alternativa, assim como na alternativa B, nota-se de imediato o erro a crédito na conta caixa,
uma vez que o enunciado pede a apuração do ICMS, e não o seu pagamento. Assim, a alternativa está
totalmente incorreta. Para entender melhor, observe os razonetes:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


15.000,00 b) 10.000,00 10.000,00

99
Unidade II

Vamos registrar em razonetes as contas de acordo com a alternativa C e você verá que essa alternativa
também não fará o menor sentido:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


15.000,00 c) 5.000,00 10.000,00
5.000,00

Caixa
5.000,00 c)

Foi feito o pagamento parcial do valor do ICMS a recolher, ou seja, R$ 5.000,00, permanecendo na
conta um saldo a recolher no mesmo valor, sem ocorrer o confronto com o ICMS a recuperar, portanto,
não houve a apuração do ICMS. Além disso, a empresa está pagando desnecessariamente o ICMS,
desembolsando um valor que poderia ser utilizado em outra operação, deixando um saldo na conta de
ICMS a recuperar. Veja que o saldo da conta caixa ficou credor, ou seja, um contrassenso contábil. Afinal,
não faz sentido ter R$ 5.000,00 negativos.

Portanto, a alternativa C está incorreta.

Análise do lançamento contábil para alternativa D

Débito: ICMS a recolher R$ 10.000,00


Crédito: ICMS a recuperar R$ 10.000,00

Nesse instante, você deve estar pensando que, por eliminação, a alternativa D está correta. Você tem
razão. Todavia, não se pode assinalar uma alternativa por eliminação, deve-se entender porque ela é a
correta. Desse modo, vamos repetir os razonetes:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


15.000,00 10.000,00

Vamos registrar em razonetes as contas de acordo com a alternativa D e você verá que essa
alternativa está correta:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


15.000,00 10.000,00 d) d) 10.000,00 10.000,00
5.000,00

100
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Aqui, sim, houve a apuração do ICMS solicitado no enunciado. Ao zerar o menor saldo (no caso,
foi a conta do ICMS a recolher), restou um saldo na conta do ICMS a recuperar de R$ 5.000,00, o que
está totalmente correto, pois vai compor o balanço patrimonial, no grupo do ativo e subgrupo ativo
circulante, por se tratar de uma conta que representa um direito. Assim, o saldo será transferido para o
mês seguinte, fazendo parte da apuração do ICMS também do próximo período.

Questão 2 (CFC, 2017)

Uma sociedade empresária que possui um único estabelecimento apresentava, em 31.1.2017, após a
apuração do ICMS, um saldo de ICMS a recuperar de R$ 2.500,00.

Durante o mês de fevereiro, a sociedade empresária efetuou registros que totalizaram R$ 27.000,00
(a crédito de ICMS a recolher pelas vendas de mercadorias) e de R$ 21.600,00 (a débito de ICMS a
recuperar pela compra de mercadorias).

Considerando-se apenas as informações apresentadas, o registro contábil relativo à apuração do


ICMS no mês de fevereiro de 2017 será:

A) R$ 21.600,00, a débito da conta de ICMS a recuperar e a crédito de ICMS a recolher.

B) R$ 24.100,00, a débito da conta de ICMS a recolher e a crédito de ICMS a recuperar.

C) R$ 24.100,00, a débito da conta de ICMS a recuperar e a crédito de ICMS a recolher.

D) R$ 27.000,00, a débito da conta de ICMS a recolher e a crédito de ICMS a recuperar.

Estratégias para responder à questão

Primeiro, é preciso identificar a atividade empresarial para poder classificá-la em comercial, industrial
e/ou prestação de serviços, e, assim, verificar quais os tributos poderão ser recuperados quando se tratar
de aquisições de itens por uma empresa, uma vez que nem todo item adquirido, mesmo com imposto
mencionado na nota fiscal, é passível de recuperação. Conforme estudamos, isso depende da utilização
desse mesmo material na empresa, se haverá continuidade dele (revenda e ou utilização na produção) ou
seu consumo. Em caso de continuidade, poderá haver a recuperação; porém, em caso de consumo, não
é permitida legalmente sua recuperação.

Deve-se verificar quais tributos estão envolvidos na operação: ICMS, IPI, PIS, Cofins e ISS e, em
seguida, saber quais serão recuperáveis.

Então, é preciso verificar o tipo de regime de incidência para PIS e Cofins, isto é, cumulativo e não
cumulativo, porque haverá diferença no valor da alíquota e também no valor a ser recuperado (ou não)
dos respectivos tributos, ou seja:

101
Unidade II

• cumulativo: em empresas tributadas pelo lucro presumido, não haverá recuperação de PIS e
Confis (alíquotas 0,65% e 3%, respectivamente);

• não cumulativo: em empresas tributadas pelo lucro real, haverá recuperação de PIS e Confis
(alíquotas 1,65% e 7,6%, respectivamente).

Por fim, deve-se verificar se a operação foi à vista ou a prazo, ou seja, se haverá saída de recursos
financeiros de imediato ou se a empresa adquirirá uma dívida. A preocupação aqui está no registro
contábil a ser efetuado, e é vital observar se isso é solicitado em uma questão de concurso.

No enunciado, não é possível identificar que se trata de uma empresa comercial ou industrial,
menciona-se o ICMS com o imposto tanto a recuperar quanto a recolher, mas consta um saldo final no
mês de janeiro de 2017 na conta de ICMS a recuperar no valor de R$ 2.500,00, que significa um saldo
inicial para o mês de fevereiro de 2017, devendo, portanto, fazer parte da apuração do ICMS do mês de
ferreiro de 2017.

A empresa possui um valor de ICMS a recuperar, ou seja, incidentes sobre compras e um saldo
de ICMS a recolher, que, por sua vez, refere-se às vendas de mercadorias. Esse é o cerne da questão,
uma vez que está sendo solicitada a apuração do ICMS, devendo, nesse caso, considerar o saldo do
mês anterior.

Deve-se observar com muita atenção o que está sendo destacado no enunciado e o que está sendo
solicitado, ou seja: apresenta-se o saldo inicial de ICMS a recuperar no valor de R$ 2.500,00, mais um
saldo de ICMS a recuperar referente ao mês em pauta no valor de R$ 21.600,00, isto é, sobre as compras
efetuadas no período, e um saldo do ICMS a recolher no valor de R$ 27.000,00 referente às vendas
ocorridas no próprio mês da apuração. Em seguida, pede-se a apuração do ICMS, o que significa dizer
que deverá prevalecer somente uma situação: ICMS a recuperar ou ICMS a recolher.

Nesse caso, a melhor estratégia é abrir os razonetes com os saldos apresentados e zerar o menor
entre eles. Assim, temos:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


SI 2.500,00 27.000,00
21.600,00
24.100,00

SI = saldo inicial

Logo, para apurar o ICMS que está sendo solicitado, teremos que creditar o ICMS a recuperar pelo
valor de R$ 24.100,00 e debitar ICMS a recolher pelo mesmo valor de R$ 24.100,00.

Débito: ICMS a recolher R$ 24.100,00


Crédito: ICMS a recuperar R$ 24.100,00

102
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


SI 2.500,00 27.000,00
21.600,00 2.900,00
24.100,00 24.100,00

Embora somente tenha sido solicitada a apuração do ICMS, pode-se afirmar que após a apuração a
empresa terá em seu balanço patrimonial do mês de fevereiro de 2017 um valor de ICMS a recolher de
R$ 2.900,00, que deverá ser pago aos cofres públicos estaduais no mês subsequente à apuração.

Análise do lançamento contábil para alternativa A

R$ 21.600,00 a débito da conta de ICMS a recuperar e a crédito de ICMS a recolher

Como esse lançamento contábil menciona que é preciso debitar a conta de ICMS a recuperar no
valor de R$ 21.600,00 e um crédito em ICMS a recolher pelo mesmo valor, basta destacar novamente os
saldos em razonetes para identificar que essa alternativa está incorreta:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


SI 2.500,00 27.000,00
21.600,00
24.100,00

Vamos registrar em razonetes as contas de acordo com a alternativa A e você verá que não
fará sentido:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


SI 2.500,00 27.000,00
21.600,00 21.600,00 a)
24.100,00 48.600,00
a) 21.600,00
45.700,00

O lançamento contábil da alternativa A não faz nenhum sentido, uma vez que pede para debitar
uma conta já com saldo a débito, a conta do ICMS a recuperar e, ao mesmo tempo, pede para creditar a
conta de ICMS a recolher, que também já possui um valor a crédito, alterando, assim, o valor de ambas
as contas sem nenhum critério de apuração de impostos.

Portanto, a alternativa A está incorreta.

Análise do lançamento contábil para alternativa B

R$ 24.100,00 a débito da conta de ICMS a recolher e a crédito de ICMS a recuperar.

103
Unidade II

Para resolver a alternativa B, é imprescindível a apresentação dos razonetes.

A seguir, serão destacados os valores antes e após o registro da maneira proposta pela alternativa B:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


SI 2.500,00 27.000,00
21.600,00
24.100,00

Vamos registrar em razonetes as contas de acordo com a alternativa B para saber se essa alternativa
é a correta ou não.

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


SI 2.500,00 b) 24.100,00 27.000,00
21.600,00 2.900,00
24.100,00 24.100,00 b)

Após transcrever o lançamento contábil proposto pela alternativa B nos respectivos razonetes das
contas do ICMS a recuperar e a recolher, chega-se à situação ora mencionada nas estratégias para
apuração do ICMS (de quaisquer outros impostos a recuperar x a recolher). Zera-se sempre o menor
saldo, nesse caso, o menor saldo está na conta do ICMS a recuperar, ou seja, o valor de R$ 24.100,00
foi transferido para a conta do ICMS a recolher, gerando um saldo a pagar de R$ 2.900,00, que fará
parte do balanço patrimonial, grupo do passivo e subgrupo circulante, evidenciando, assim, uma dívida
com terceiros.

Portanto, a alternativa B está correta.

Análise do lançamento contábil para alternativa C

R$ 24.100,00 a débito da conta de ICMS a recuperar e a crédito de ICMS a recolher.

Como já sabemos que a alternativa B é a correta, devemos saber porque as outras estão incorretas?
Vamos repetir os razonetes:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


SI 2.500,00 27.000,00
21.600,00
24.100,00

Vamos registrar em razonetes as contas de acordo com a alternativa C e você verá que essa
alternativa também não fará o menor sentido:

104
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


SI 2.500,00 27.000,00
21.600,00 24.100,00 c)
24.100,00 51.100,00
c) 24.100,00
48.200,00

Nota-se que o lançamento contábil da alternativa C não faz sentido, uma vez que pede para debitar
uma conta já com saldo a débito, a conta do ICMS a recuperar e, ao mesmo tempo, pede para creditar a
conta de ICMS a recolher, que também já possui um valor a crédito, alterando, assim, o valor de ambas
as contas sem nenhum critério de apuração de impostos.

Portanto, a alternativa A está incorreta.

Análise do lançamento contábil para alternativa D

R$ 27.000,00 a débito da conta de ICMS a recolher e a crédito de ICMS a recuperar

Vamos repetir os razonetes para entender o respectivo erro dessa alternativa:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


SI 2.500,00 27.000,00
21.600,00
24.100,00

Vamos registrar em razonetes as contas de acordo com a alternativa D e você verá por que essa
alternativa está incorreta:

ICMS a Recuperar ICMS a Recolher


SI 2.500,00 d) 27.000,00 27.000,00
21.600,00
24.100,00 27.000,00 d)
2.900,00

Ao zerar o maior saldo da conta do ICMS, provocou-se uma inversão de valores, portanto, foi apurado
incorretamente na conta de ICMS a recuperar, que gerou um saldo credor para uma conta de direito,
que, por natureza, precisa ter saldo a débito.

Portanto, a alternativa D está incorreta.

105
Unidade II

Resumo

O ICMS é um imposto não cumulativo de competência estadual e


funciona no sistema de débito e crédito. É um imposto calculado “por
dentro”, sendo que cada Estado tem a sua própria legislação relativa
ao tributo. A incidência é sobre a circulação de mercadorias, transporte
interestadual e intermunicipal por qualquer via, serviços de comunicação,
telecomunicações, energia elétrica, importações etc. Não há incidência
de ICMS sobre livros, jornais, periódicos e material de impressão desses
produtos, bem como sobre exportações. O fato gerador se dá na saída de
mercadorias de estabelecimento de contribuinte. Contribuintes são pessoas
físicas ou jurídicas que pratiquem operações relativas à circulação de
mercadorias em volume ou com habitualidade que caracterizem o intuito
comercial, mesmo que tenha sido iniciado no exterior.

Destacou-se que o ICMS tem como principal característica o princípio


da não cumulatividade e da seletividade, não dando direito ao crédito do
imposto as entradas de mercadorias ou utilização de serviços resultantes
de operações ou prestações isentas ou não tributadas, ou alheias à
atividade do estabelecimento. A base de cálculo do imposto ocorre da
seguinte forma: nas saídas da mercadoria ou bem, o valor da operação;
no fornecimento de serviço, o valor do serviço; na importação, o valor do
bem ou mercadoria com o acréscimo dos impostos incidentes, mais fretes,
mais despesas cambiais, entre outros. Nas saídas para não contribuintes ou
com fins de utilização para consumo final, comporá a base de cálculo o IPI
devido, nos casos em que os bens forem tributados por IPI.

As alíquotas do ICMS são variáveis em função do bem ou serviço e são


diferenciadas entre os Estados: 7% para o Norte, Nordeste, Centro-Oeste e
Espírito Santo; 12% para as regiões Sul e Sudeste; 18% para as operações
internas e importações em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e 17%
para os demais Estados; 7% nas operações com produtos da cesta básica
e 25% em operações internas e interestaduais e importações de perfumes,
cosméticos, cigarros, armas e munições, bebidas alcoólicas etc.

O ICMS-ST foi criado e implementado pelas UF bem antes da atual


Constituição Federal, através de convênios e protocolos celebrados
entre as fazendas estaduais com o propósito de recolhimento do ICMS
antecipadamente pelo contribuinte substituto, ou seja, o contribuinte
substituído deixa de incidir o tributo nas próximas etapas de circulação
da mercadoria. O recolhimento do ICMS-ST é realizado à UF do
contribuinte substituído.

106
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Por sua vez, a Difal consiste no recolhimento entre as alíquotas


interestaduais e a alíquota interna do estado de destino. A incidência da
Difal ocorre quando for realizada operação interestadual com consumidor
final. O recolhimento do ICMS Difal é feito através da GNRE para a UF
destino da circulação da mercadoria.

Exercícios

Questão 1. (FCC/Alepe 2014) Determinado estabelecimento atacadista contribuinte do ICMS envia


proposta de venda de mercadorias sem a inclusão de impostos, os quais serão acrescidos por ocasião
do faturamento, obtendo-se o preço total a ser cobrado do cliente. O valor da mercadoria sem o ICMS
é R$ 1.500,00. Nesse caso, a mercadoria é beneficiária de alíquota zero de PIS, Cofins e IPI. Nenhum
outro imposto ou contribuição, portanto, será cobrado além do próprio imposto estadual. Por ocasião
do faturamento, será acrescido o ICMS, que representa 18% do valor da operação. O valor do ICMS que
deverá constar na nota fiscal de venda, por ocasião do faturamento ao cliente, é

A) R$ 270,00.

B) R$ 329,27.

C) R$ 300,00.

D) R$ 180,00.

E) R$ 1.230,00.

Resposta correta: alternativa B.

Análise da questão

Para termos o valor líquido de R$ 1.500,00 com ICMS de 18%, devemos fazer a sequência de cálculos
mostrada a seguir.

100% – 18% = 82%

82%/100 = 0,82

R$ 1.500,00/0,82 = R$ 1.829,27

R$ 1.829,27 – R$ 1.500,00 = R$ 329,27

Podemos ver que 18% de R$ 1.829,27 são R$ 329,27 e que R$ 1.829,27 menos R$ 329,27 resulta
em R$ 1.500,00.
107
Unidade II

Concluímos que, para o caso em estudo, o valor do ICMS que deverá constar na nota fiscal de venda,
por ocasião do faturamento ao cliente, é igual a R$ 329,27.

Questão 2. (Cebraspe 2019, adaptada) Determinado produto, oriundo do estado de São Paulo, foi
comprado, pela internet, por consumidor final residente no estado do Rio Grande do Sul. Com relação ao
ICMS devido nessa negociação, é correto afirmar que, ao estado do Rio Grande do Sul,

A) não caberá ICMS, devendo o estado de São Paulo ficar com o valor integral de alíquota interna.

B) caberá a Difal (Diferença entre a Alíquota Interna) de ICMS do estado do Rio Grande do Sul e a
alíquota interestadual apenas se o destinatário final for contribuinte do ICMS.

C) caberá a integridade da alíquota interna do ICMS do estado do Rio Grande do Sul.

D) caberá a Difal (Diferença entre a Alíquota Interna) de ICMS do estado de São Paulo e a alíquota
interestadual.

E) caberá a Difal (Diferença entre a Alíquota Interna) de ICMS do estado do Rio Grande do Sul e a
alíquota interestadual.

Resposta correta: alternativa E.

Análise da questão

De acordo com a Constituição Federal de 1988, “art. 1º – O inciso VII do § 2º do art. 155 passa a
vigorar com as seguintes alterações”, temos o que segue:

VII – nas operações e prestações que se destinem bens e serviços a


consumidor final, contribuinte ou não do imposto, localizado em outro
Estado, adotar‑se-á a alíquota interestadual e caberá ao Estado de localização
do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a alíquota
interna do Estado destinatário e a alíquota interestadual.

A Emenda Constitucional n. 87/2015, ainda sobre o mesmo assunto, esclarece que a Difal é a diferença
entre a alíquota interestadual e a alíquota interna no Estado de destino.

No caso, São Paulo é o estado remetente e Rio Grande do Sul é o estado destinatário.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: nas operações para consumidor final, independentemente de o destinatário ser


contribuinte ou não do ICMS, sempre caberá ao estado remetente (São Paulo) a alíquota interestadual
(não a alíquota interna).
108
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: nas operações para consumidor final, a Difal sempre caberá ao estado destinatário
(Rio Grande do Sul), independentemente de ser contribuinte ou não do ICMS (não apenas quando é
contribuinte).

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: nas operações para consumidor final, ao estado destinatário (Rio Grande do Sul) só
caberá a Difal (não a integridade da alíquota interna).

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: nas operações para consumidor final, ao estado destinatário (Rio Grande do Sul)
caberão a Difal entre a alíquota interna do ICMS do estado Rio Grande do Sul (e não São Paulo) e a
alíquota interestadual.

E) Alternativa correta.

Justificativa: nas operações para consumidor final, caberão ao estado destinatário (Rio Grande do
Sul) a Difal entre a alíquota interna do ICMS do estado do Rio Grande do Sul e a alíquota interestadual.

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