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Plano de Trabalho
Nome do Orientador: Simaia do socorro Sales das mercês
Título do Plano de Trabalho
Produção privada do espaço intraurbano no município de Belém
Resumo
Produção do espaço urbano. O trabalho é um estudo de caso e teve por objetivo
principal analisar as formas de produção privada do espaço urbano no município
de Belém, em período recente. Os procedimentos metodológicos adotados foram
revisão bibliográfica e análise documental. O recorte privilegiou a reunião de
dados e informações da produção a partir de 2011 no âmbito do mercado formal,
entendido este no sentido restrito de cumprimento das normas edilícias,
pressuposto para o licenciamento de obras pela Prefeitura Municipal. A análise
toma em conta trabalho anterior, que sistematiza o licenciamento da produção
privada de edifícios residenciais no município de Belém até o ano 2010, em
especial a partir de 2000. Adicionalmente, a partir da revisão bibliográfica e
considerando o impacto potencialmente significativo no espaço urbano, decidiu-se
por ampliar o escopo dos dados coletados, incluindo-se a produção pública do
espaço urbano e a privada sob diferentes formas, além da forma edifício, como
grandes edificações horizontais, parcelamento do solo, parcelamento e edifício,
conjuntos habitacionais e condomínios fechados. O estudo indicou a manutenção
da hegemonia por parte das empresas na produção de edifícios de uso
residencial, com concentração significativa na área central da cidade, revelando o
caráter conservador do processo de verticalização em Belém, mas também revela
a retomada da produção de empreendimentos de uso residencial pelo Estado em
áreas periféricas. Assim, verificamos um adensamento cada vez maior nas áreas
centrais por conta da produção de grandes empreendimentos horizontais e
edifícios e percebemos alguns empreendimentos de grande magnitude licenciados
para localização em áreas subequipadas, produzindo nos termos de Pedro
Abramo (2011), uma cidade "COM-FUSA".
Justificativa
Os estudos sobre a produção, a apropriação e o consumo do espaço intraurbano
no Brasil e da moradia nas cidades brasileiras são numerosos. Tem sido
identificada a especificidade desse processo, tendo como ponto de vista as
características históricas da formação da sociedade brasileira, o modelo de
desenvolvimento adotado, principalmente, a partir da segunda metade do século
passado e a estrutura socioeconômica resultante, em que é dramático o perfil de
concentração de renda e de desigualdade social. Entre os principais atores sociais
envolvidos, o Estado, os agentes do mercado imobiliário formal e informal e os
segmentos da população excluídos têm tido suas lógicas e estratégias de ação
apontadas. O espaço intraurbano produzido no Brasil por esses agentes se
caracteriza, em geral e entre outros, por informalidade e descontrole da ocupação
e uso do solo; concentração dos investimentos públicos em infraestrutura,
equipamentos e serviços urbanos; segregação e exclusão sociais, em que a
ilegalidade, em sentido amplo, é a tônica. Poucos desses trabalhos são voltados à
análise das cidades na Amazônia. No que concerne à ação dos agentes do
mercado imobiliário formal, merecem destaque as transformações observadas em
anos recentes na origem dos capitais e nas características de sua produção,
voltada agora também ao atendimento de categorias de população de baixa e
média rendas, o que demanda a realização de estudos acerca das implicações
para o processo de segregação socioespacial urbana. A pesquisa também se
justifica por permitir a atualização do banco de dados sobre a produção do espaço
urbano no município de Belém e possibilitar a realização de um estudo
comparativo com a fase anterior da pesquisa e identificar ou não possíveis
mudanças no processo de produção do espaço urbano.
Problemática
A pesquisa tem por objetivo analisar o processo histórico de produção do
espaço e da habitação em cidades na Amazônia e suas transformações
recentes, buscando relacionar com as desigualdades sociais e a segregação
socioespacial. No Brasil, estudos sobre o espaço urbano e o processo de
segregação socioespacial realizados na década de 1970 identificaram o
padrão centro-periferia, entendida esta como “espaço de reprodução da força
de trabalho no interior da ordem capitalista periférica e subordinada” (Cf.
MARQUES e TORRES, 2005:), onde as condições materiais de existência
constituíam o que foi chamado de “espoliação urbana” (KOWARICK, 1979). As
transformações observadas posteriormente nas periferias urbanas reforçaram
a ideia de um espaço marcado pela heterogeneidade (MARQUES e TORRES,
2005, entre outros autores), abrigando diversas classes sociais em que se
mantém, contudo, processos de segregação socioespacial. Dadas as
peculiaridades do urbano na Amazônia, o projeto de pesquisa investiga as
características desse processo nas cidades da região.
A nossa questão problema é se o processo de produção do espaço contribui
para a segregação socioespacial no município de Belém?
Hipótese
A hipótese levantada após um estudo preliminar é que a produção privada do
espaço no município de Belém reforça um processo de verticalização
conservador, onde apenas alguns grupos sociais têm acesso à moradia com
serviços e equipamentos urbanos adequados e vantagens de monopólio, deixando
a margem disso uma esmagadora parcela da população, que acabam residindo
em áreas sub equipadas e com menor infraestrutura nas áreas periféricas da
cidade, dificultando a integração desses grupos sociais no espaço intraurbano,
impactando diretamente na efetivação do direito à cidade.
Objetivo geral
Objetivo geral Analisar os processos de produção privada do espaço intraurbano
em municípios selecionados da Região Metropolitana de Belém, em especial no
período de 2008 até 2015.
Objetivos específicos
- Identificar as formas de produção privada do espaço intraurbano em
municípios selecionados da Região Metropolitana de Belém, no período de
estudo; e
- Analisar e interpretar o papel que a produção privada do espaço
intraurbano podem desempenhar na produção e/ou reprodução da segregação
socioespacial em municípios selecionados da Região Metropolitana de Belém.
Além desses, foi possível ampliar o escopo do trabalho, somando-se a
análise dos licenciamentos para intervenções públicas.
Cronograma de atividades
ATIVIDADES Meses
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Revisão bibliográfica x x x X x X
Coleta de dados e informações x x
Tratamento e análise de dados X x
e informações
Elaboração do TCC x X X x
Metodologia
Método: quali-quantitativo
MATERIAIS E MÉTODOS Atividades realizadas e a serem realizadas:
1. Revisão bibliográfica e documental e levantamento e leitura crítica da produção
acadêmica existente acerca da temática da pesquisa e de relatórios técnicos.
2. Coleta de dados e informações (complemento dos dados que faltam junto à
SEURB)
Um primeiro recorte privilegiou a reunião de dados e informações da produção do
espaço urbano no âmbito do mercado formal, entendido este no sentido restrito de
cumprimento das normas edilícias, pressuposto para o licenciamento de obras pela
Prefeitura Municipal de Belém. A análise pretendida neste estudo toma em conta
trabalho anterior, que sistematiza o licenciamento de obras da produção privada de
edifícios residenciais no município de Belém até o ano 2010 (Mercês, 2011). Isso
permitiu que a coleta de dados sobre essa forma de produção do espaço urbano
fosse voltada aos licenciamentos ocorridos a partir de 2011.
Adicionalmente, a partir da revisão bibliográfica e considerando o impacto
potencialmente significativo no espaço urbano, decidiu-se por ampliar o escopo dos
dados coletados, incluindo-se a produção pública do espaço urbano e a privada sob
diferentes formas, além da forma edifício. Definimos produção com potencial impacto
como sendo:
edifício - edificação com 3 pavimentos ou mais, ou seja, tipologia vertical.
grandes edificações horizontais - edificação com até 2 pavimentos e mais de
1.000m² de área construída;
parcelamento do solo - divisão de uma área de terras em lotes menores.
parcelamento do solo e edifício - um mesmo empreendimento combina
parcelamento do solo e construção de edifício
conjuntos habitacionais e condomínios fechados - tipologia horizontal conforme
declarado pelo solicitante do alvará de obra
Atividade 2:
Método: Aplicação de entrevistas
Material: Roteiros de entrevistas pré-definidos
Fonte: Primária
Atividade 3:
Método: Análise e interpretação dos dados
Material: Material coletado nas etapas anteriores
Fontes: Utilizadas nas etapas anteriores
Referencial teórico
O processo de urbanização se deu de maneira diferente entre os países
desenvolvidos e subdesenvolvidos, como afirma Castells (1983). Ainda assim, há
uma tendência à produção de um espaço urbano cada vez mais homogeneizado.
O espaço urbano é constantemente mutável, ele é produzido pela da ação de
diversos agentes que têm interesses convergentes e/ou divergentes e
desenvolvem relações de conflito e/ou harmonia, gerando formas espaciais que se
materializam na cidade, é um complexo conjunto de usos da terra que agem na
organização espacial da cidade. Os usos definem áreas, como o centro da cidade,
centros de atividades e serviços, áreas industriais e áreas residenciais, elas são
distintas em suas formas e conteúdos.
Para Corrêa (1999) a diferenciação espacial dentro da cidade não pode ser
atribuída apenas ao seu sentido funcional, pois em uma mesma área podem ser
realizadas duas ou mais funções e/ou a função simbólica que está vinculada aos
processos da sociedade. O espaço urbano da cidade capitalista é formado por
diversas áreas, entre elas, áreas residenciais segregadas, que são reflexo de uma
estrutura social desigual. O espaço urbano também é um condicionante da
sociedade, o condicionamento se dá através das obras feitas pelo trabalho
humano, por meio de suas formas espaciais, que acabam desempenhando um
papel nas condições e relações de produção.
O espaço urbano é o local onde os grupos e as classes sociais se reproduzem
socialmente, seja no campo concreto ou simbólico, o espaço urbano possui uma
dimensão simbólica que varia segundo os diferentes grupos sociais, para Corrêa
(1999) o espaço urbano é entendido como "fragmentado e articulado, reflexo e
condicionante social, um conjunto de símbolos e campos de lutas" (p. 9). O
espaço urbano possui áreas desiguais, levando aos conflitos sociais, por exemplo,
as greves e os movimentos sociais urbanos, tornando-se cenário e o objeto das
lutas sociais, visando o direito à cidade, à cidadania plena e igualdade para todos.
A apropriação simbólica da cidade gera um conflito de interesses pelo direito à
cidade, para H. Lefebvre (2008) a produção do espaço urbano é feita de maneira
concreta e simbólica pelos diferentes grupos e classes sociais envolvidos, mas o
uso dos espaços da cidade não é equitativo e traz vantagens para os grupos
detentores do poder político-econômico.
Para Lefebvre (2008) a cidade é um reflexo do momento histórico, social e
econômico vivido por uma determinada sociedade, com a introdução do modo de
produção capitalista as cidades foram produzidas e organizadas segundo a lógica
do consumo, mais que pelas das pessoas. A lógica do consumo enxerga os
espaços e a cidade como um espaço para o valor de troca, enquanto a lógica das
pessoas vê o espaço e a cidade como um valor de uso pela sociedade.
Para Lefebvre (2008), os grupos e classes socialmente excluídos e principalmente
o proletariado seriam decisivos na efetivação do direito à cidade, já que através
deles, a cidade irá redefinir o seu valor, deixando de ser o valor de troca para o
valor de uso. O direito à cidade se mistura com o próprio direito de viver, em
particular viver a vida urbana, cobrando uma integração à cidadania por todos os
habitantes da cidade, seja ela qual for, sendo este reconhecimento formal ou não.
O direito à cidade para Lefebvre (2008) constitui uma batalha para a construção
da cidade pelas classes e grupos socialmente excluídos, redefinindo seus
conteúdos, significados e privilegiando o valor de uso e acesso a urbanidade
propiciada por ela. É necessário à inserção de um sustentáculo social e de forças
políticas que conduzam a uma atuação mais penetrante e de maneira imediata.
O proletariado é o componente essencial em um processo de revolução no
espaço urbano, pois a classe operária é a única que pode acabar com um
processo de exclusão que é dirigido fundamentalmente contra ela própria, mas ela
não fará isso de maneira isolada à sociedade urbana, mas sem ela, isso não será
possível.
O Estado teve papel destacado na reestruturação das cidades em todo o país, não
sendo diferente em Belém, ele se articulou para atender interesses próprios e de
outros agentes, sejam eles políticos e/ou financeiros, evidenciando a forma que a
cidade é pensada pelos agentes imobiliários, com a possibilidade de maximização
dos lucros, por exemplo, com a lei vigente deste período nº 3.450 de 6 de outubro
de 1956, que estabelecia um mínimo de 12 (doze) pavimentos para edifícios
situados na Avenida 15 de agosto (atual Presidente Vargas) e na Praça da
Republica (COIMBRA, 1992).
Corrêa (1999) destaca que o espaço urbano passa por diversos processos
socioespaciais e adquire certas formas espaciais. São eles:
Centralização e a Área Central: O processo de centralização tem como sua
correspondente forma a área central. A área central torna-se o foco
principal das atividades de gestão e de serviços especializados, lá é onde
"concentram-se as principais atividades comerciais, de serviços, da gestão
pública e privada e os terminais de transportes inter-regionais e intra-
urbanos. Ela se destaca na paisagem da cidade pela sua verticalização. (...)
é assim, em grande parte, um produto da ação dos proprietários dos meios
de produção, ainda que o Estado fosse chamado a intervir” (CORREA, p.38
e p.40).
Descentralização e os núcleos secundários: Em momento posterior surge
um processo contrário, o de descentralização. As empresas migram do
centro para novas áreas, deixando no centro apenas a sua gerência,
causando impactos em outras localidades na medida em que se
estabelecem como uma concorrente com o comércio local que possui
menor abrangência e também na oferta de empregos e deposição de
resíduos. Além das indústrias, também estavam localizados na área central
as residências das camadas sociais mais elevadas. Estas tendem a seguir
o mesmo percurso das primeiras, retirando-se da área central. Ao se
retirarem do centro, esses grupos sociais migram em direção as áreas
periféricas que já estavam dotadas de alguma estrutura e estas passam ser
o foco de atração dos investimentos do Estado (CORRÊA, 1999).
Historicamente o processo de descentralização é mais recente do que o de
centralização, ele não tem uma razão especifica, podendo acontecer por
diversos fatores como uma medida de empresas para acabar com as
deseconomias geradas por uma excessiva centralização na área central
e/ou pode ser indícios de uma menor rigidez locacional no âmbito da
cidade, por conta de fatores de atração que surgem fora da área central.
Com o processo de descentralização, a antiga área central começa a sofrer
deterioração, o centro e outras áreas próximas passam a ser o local de
atração das classes sociais mais baixas que são repelidas das áreas
periféricas, que passam agora por um processo de valorização.
. "O processo de descentralização está relacionado ao crescimento espacial
e demográfico da cidade, isso leva o espaço urbano se tornar mais
complexo, originando vários núcleos secundários, que são entendidos
como subcentros regionais" (CORRÊA, 1999, p.45).
Coesão e as áreas especializadas: Quando segmentos de uma mesma
atividade econômica organizam-se juntas em uma determinada área,
gerando assim o monopólio espacial. Esse processo leva à criação de
áreas especializadas (CORREA, 1999, p.56).
Segregação e as classes sociais: Préteceille (2004) diz que a análise
crítica sob o processo de segregação social é um dos temas mais
discutidos ao estudar a cidade. A influência da primeira escola de Chicago
serviu para a difusão de suas ideias no decorrer do século XX, com isso
nasce à sociologia urbana enquanto disciplina científica, sendo reforçada
no final do século através dos estudos de teóricos que se propõem a
discutir um novo paradigma, o da cidade global, onde existe a relação dual
entre o social e o espacial nas grandes metrópoles.
Os estudos sobre segregação nas cidades aparentemente estão
convergindo na mesma direção, as teses, referências, vocabulários e
métodos, mas com divergências sob a ótica dos pesquisadores, para
Préteceille (2004) essas pesquisas ficam concentradas em países que
dominam este tema, como por exemplo, os Estados Unidos, que estão bem
à frente nos estudos desse tema do que outros países.
Para Préteceille (2004) há três problemas metodológicos que precisam ser
resolvidos nos estudos sobre o processo de segregação social nas cidades,
as categorias que são utilizadas, os recortes espaciais e a utilização dos
métodos estatísticos.
O primeiro problema a ser enfrentado é em relação às diferentes categorias
sociais, um problema metodológico e principalmente teórico. Préteceille
(2004) cita o exemplo de duas escolas tradicionais, a americana e francesa,
ele evidencia que cada leva em consideração determinados aspectos em
detrimento de outros. Os estudos americanos, por exemplo, têm suas
análises sobre segregação ligadas muito mais à segregação racial, já a
escola francesa trabalha com questões de segregação socioeconômicas.
Préteceille (2004) afirmou que não é fácil chegar a uma adoção de
classificações sociais comuns, elas saem dos problemas meramente
metodológicos, sua eficácia não depende apenas da sua construção
teórica, como também na sua pertinência para os sujeitos classificados,
mas em alguns casos é impossível buscar essa homogeneidade entre as
categorias sociais, isso se deve muito à especificidade de cada país, à
divisão social e técnica do trabalho na economia, achando favorável que a
escolha das variáveis seja feita a partir da definição do problema social a
ser estudado.
O segundo problema metodológico a ser resolvido é o recorte espacial do
urbano, pois segundo ele, esse é um problema duplo, já que "a primeira
questão se refere ao conjunto a ser estudado e a segunda às unidades
espaciais elementares a serem estudadas." (PRÉTECEILLE, 2004, p. 14).
Para o primeiro problema existem duas possibilidades de análise como
aponta o autor. Na primeira, pode-se fazer o recorte espacial de certos
lugares e na segunda estudar sistematicamente o conjunto da cidade. O
pesquisador é que vai definir qual é o método mais adequado para o seu
estudo, por exemplo, o uso da primeira possibilidade pode ser utilizado
devido à hipótese do autor considerar que alguns espaços da cidade
sofram transformações sociais mais significativas que outros. A utilização
da segunda opção considera o estudo do conjunto da cidade, no sentido
econômico e social, essa visão enxerga a cidade como um sistema, onde
os bairros tem uma relação de interdependência estrutural uns com os
outros.
Préteceille (2004) aponta para um problema além do metodológico, ele diz
que há dificuldades na utilização das escalas nos recortes espaciais no
urbano, o autor argumenta que "é preciso escolher - quando se tem a
oportunidade - aquele cuja escala corresponde à prática social da qual se
quer privilegiar a análise." (p. 15).
O terceiro problema metodológico é em relação à utilização dos métodos
estatísticos. Neste ponto, dois tipos de abordagem da medida da
segregação podem ser distinguidos. O primeiro é o de índices globais, eles
comparam a distribuição de duas categorias nas unidades espaciais
estudadas, o índice de segregação compara a distribuição de uma
categoria em relação àquela do resto da população.
Eles são muito sensíveis à definição das categorias utilizadas e a
forma e precisão dos recortes espaciais, o que tem por
consequência que, apesar de sua simplicidade e de seu caráter
sintético, eles, por exemplo, dificilmente podem ser usados para
responder se uma cidade é mais segregada que outra, sobretudo
quando se trata de cidades e países diferentes. (PRÉTECEILLE,
p. 16).
O segundo tipo de abordagem é o de análise tipológica, eles visam
reagrupar as unidades espaciais em classes, tipos e subconjuntos definidos
pela similitude dos perfis de distribuição das categorias sociais nas
unidades agrupadas em cada um, elas também são sensíveis à definição
de categorias.
Préteceille (2004) considera a questão da segregação nas políticas públicas
um diálogo pertinente. Ele evidencia que nas políticas urbanas existe a
propagação do discurso de promover a equidade nas cidades, buscando
espaços menos fragmentados e excludentes, mas na prática isso não
ocorre, principalmente quando se observa de mais perto as orientações e a
intensidade das ações conduzidas.
Préteceille (2004) diz em seu estudo sobre o processo de segregação
social que os resultados dos diferentes estudos sobre o tema se mostram
diferentes em relação à origem do seu local de origem, mas eles têm
resultados que são parecidos em alguns aspectos, contudo, essas
diferenças são inevitáveis, pois refletem o processo sociopolítico especifico
de cada país na construção histórica das representações da questão social
e urbana. O autor afirma que essa tematização faz parte do problema e
deve ser considerada pelo pesquisador e, por conta disso, a comparação
entre esses estudos de segregação nas cidades se torna impossível, mas,
mesmo assim, as pesquisas comparadas revelam um avanço, pois a
reflexão comparada viabiliza precisar quais categorias semelhantes são
possíveis e aqueles estudos onde as diferenças são importantes demais.
Com o processo de mundialização, foram encontradas evidencias de
processos de convergência social pelo menos de maneira parcial, que
estimularam as pesquisas compartilhadas sobre o processo de segregação,
mostrando-se positivas frente ao processo de globalização, no entanto, é
preciso ficar cauteloso para não se pensar que as diferenças nacionais não
se fazem mais presentes na particularidade de cada estudo.
O processo de segregação está vinculado à existência e reprodução dos
diferentes grupos sociais, eles são ligados à residência e não às indústrias,
comércio e serviços. Os processos citados anteriormente definem uma
divisão econômica do espaço, enquanto o processo de segregação define
especificamente a divisão social do espaço. O processo de segregação
age como um elemento condicionante sobre a sociedade, atuando para a
manutenção, controle e reprodução dos privilégios da classe dominante
(CORREA, 1999, p.66). A segregação residencial é um processo que
suscita a tendência a uma organização espacial, possuindo forte
homogeneidade social interna e forte disparidade entre elas. A dinâmica
espacial da segregação diz respeito à mutabilidade da área habitada, pois
ao longo do tempo vão sendo produzidos novos valores de uso sobre a
mesma (CORREA, 1999, p.70). A produção dessas áreas se dá
basicamente ao diferencial da capacidade de cada grupo social tem de
pagar pela habitação que ocupa, apresentando diferentes características na
sua tipologia e localização. Mas estas soluções não podem ser vistas como
independentes das classes sociais (CORRÊA, 1999). O Estado intervém
nesse processo, seja de maneira direta (construção de habitações) ou
indireta (financiamento aos consumidores e as construtoras), tornando-se
necessário.
O conceito de segregação utilizado por Castells (1983) foi incorporado
neste trabalho porque nós compreendemos que esse é o conceito
corresponde melhor ao nosso objeto de estudo.
Segregação é um processo de dissociação mediante o qual indivíduos e
grupos perdem o contato físico e/ou social com outros indivíduos e grupos.
Essa separação pode variar de diversos fatores econômicos, sociais,
culturais etc.
Castells (1983) aponta alguns fatores que podem contribuir para a
segregação (étnicos, políticos, econômicos, históricos, etc.) e que
acrescentam uma grande complexidade a respeito da temática da produção
da segregação nas cidades. Castells (1983) diz que o processo de
segregação urbana proporciona, de forma não absoluta, a criação de
espaços que possuem grande homogeneidade interna e que por este
mesmo fator, a homogeneidade interna, se diferenciam uns em relação aos
outros, além de possuírem acessos diferenciados aos equipamentos e
serviços urbanos.
A segregação urbana não aparece como a distribuição da
residência dos grupos sociais no espaço, segundo uma escala
mais ou menos exposta, mas como a expressão, em nível da
reprodução da força de trabalho, das relações complexas e
mutáveis que determinam suas modalidades. Assim, não há
espaço privilegiado antecipadamente, em termos funcionais, sendo
o espaço definido e redefinido segundo a conjuntura da dinâmica
social (CASTELLS, 1983, p. 262).
Segundo Castells (1983), a segregação socioespacial está ligada a fatores
econômicos, políticos-institucionais, ideológicos e com a luta de classes,
portanto, os agentes sociais urbanos são pró-ativos na dinâmica urbana da
cidade, podendo atenuar ou intensificar o processo em questão.
Para esse autor, segregação urbana está ligada ao processo de
urbanização e industrialização, sendo complementares. A intensa migração
para os centros urbanos necessitava que estes possuíssem condições
habitacionais necessárias para o alojamento da população trabalhadora, o
que não ocorreu, gerando um problema:
Historicamente, a crise da moradia aparece nos grandes
aglomerados urbanos subitamente conquistados pela indústria.
Com efeito, no local onde a indústria coloniza o espaço, necessita
organizar, ainda que em nível de acampamento, a residência da
mão de obra necessária (CASTELLS, 1983, p. 226).
Com isso, as classes com menor poder aquisitivo tentaram, por meio da
ocupação das áreas periféricas, edificar seus imóveis :
Enfim, o que sucede quando, numa situação de congelamento, o
Estado não vem ajudar a construção ou faz de forma insuficiente?
A resposta é clara: é a invasão de terrenos livres pelos que não
tem casa e a organização de um espaço rude, obedecendo às
normas de seus habitantes, equipados conforme seus meios, e
que se desenvolve numa luta contra a repressão policial, as
ameaças jurídicas e, às vezes os atentados criminosos das
sociedades imobiliárias, derrotadas desta maneira em seus
projetos (CASTELLS, 1983, p. 249).
A produção do espaço urbano é realizada por diversos agentes sociais e o
processo gera certas formas espaciais que são usadas de maneira concreta e
simbólica pelos diferentes grupos e classes sociais envolvidos, mas o uso dos
espaços da cidade não é equitativo e traz vantagens para os grupos detentores do
poder, seja político ou econômico, alterando a apropriação e o consumo dos
espaços pelos diferentes agentes sociais envolvidos. Para Lefebvre (2008), a
cidade sempre foi um reflexo do momento histórico, social e econômico vivido por
uma determinada sociedade.
Os estudos sobre a segregação apontam algumas tendências, particularmente,
nos países que originaram esses estudos.
A revisão bibliográfica empreendida permitiu conhecer grande parte das principais
e pioneiras referências teóricas, além de outras mais recentes, acerca do
processo de produção do espaço, dos agentes sociais envolvidos, de quais são
seus interesses e estratégias, destacando-se as convergências e conflitos entre
eles, além das formas espaciais geradas nas cidades através dos processos
socioespaciais.
Segundo Capel (1974), Corrêa (1999) e Harvey (1980) o Estado é um importante
agente social no processo de produção do espaço, ele regulamenta a ação dos
outros agentes, ao estabelecer um marco jurídico e institucional, além de atuar em
diferentes situações como produtor de espaço,, sem deixar de mediar conflitos ou
ter seus interesses. Dessa forma, o Estado acaba sendo um ator central no
processo. Os autores estudados colocam também a relevância dos agentes
integrantes das classes hegemônicas, como os proprietários dos meios de
produção, os proprietários fundiários e os incorporadores. A ação desses agentes
tem impacto no consumo do solo urbano e nas condições de usufruto da vida
urbana pelos grupos sociais menos favorecidos econômica e politicamente, que,
embora também sejam agentes da produção do espaço urbano, o fazem em
condições que não lhes permitem usufruir plenamente do direito à cidade.
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