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A CRIAÇÃO E O APRENDER COMO EXPERIÊNCIA ESTÉTICA PELOS SIGNOS

SENSÍVEIS: UM ESTUDO A PARTIR DE GILLES DELEUZE


Sofia Lima do Nascimento
Maria dos Remédios Brito
Universidade Federal do Pará

Resumo
Conforme a filosofia de Gilles Deleuze possui um amplo pensamento a respeito da estética
vislumbrando seu apreço genuíno para com o pensamento em arte, o presente trabalho apresenta um
estudo a partir dos pensamentos estéticos abordados pelo Filósofo em suas obras em cooperação com a
arte, aprendizado, sensação e criação. Buscando a partir de suas principais obras bibliográficas e
comentadores, um paralelo entre a filosofia com o aprendizado estético pelos Signos Sensíveis; a
interpretação a partir da Sensação para proporcionar uma imersão entre artista criador de afectos em
relação com os perceptos que ele proporciona para atingir o tornar-se em conexão com o indivíduo que
capta estas sensações. Nesse sentido, torna-se evidente a presença da filosofia como intercessora na
criação artística, e, com o pensamento deleuziano esses campos distintos quando intercedem-se
proporcionam uma filosofia a partir de uma obra de arte, seja esta bidimensional, musical, teatral etc.;
de agora em diante a filosofia de Gilles Deleuze irá concernir o fenômeno do aprendizado pelos Signos
Sensíveis ao mais prematuro exprimir da necessidade de criação na Arte.

Palavras-chave: signos; intercessor; força; criação; afecto

Abstract
As Gilles Deleuze's philosophy has a broad thought about aesthetics, glimpsing his genuine
appreciation for the thought in art, the present work presents a study from the aesthetic thoughts
approached by the Philosopher in his works in cooperation with art, learning, sensation and creation.
Searching from his main bibliographic works and commentators, a parallel between philosophy and
aesthetic learning by Sensitive Signs; the interpretation from Sensation to provide an immersion
between the artist who creates affections in relation to the percepts he provides to achieve becoming in
connection with the individual who captures these sensations. In this sense, the presence of philosophy
as an intercessor in artistic creation becomes evident, and, with Deleuzian thought, these different
fields, when interceding, provide a philosophy from a work of art, be it two-dimensional, musical and
theatrical; From now on, Gilles Deleuze's philosophy will concern the phenomenon of learning
through Sensitive Signs to the most premature expression of the need for creation in Art.

Key-words: signs; intercessors; force; creation; affection

¹Trabalho desenvolvido com o apoio do Programa Pibic Ufpa


²Graduanda no curso de Artes Visuais, Universidade Federal do Pará. Bolsista PIBIC/CNPq
E-mail: sofialima26082001@gmail.com
³Docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará, E-mail: mrb@ufpa.br

Parecer do Orientador
A discente realiza um grande esforço de convocação dos conceitos deleuziano de perceptos e de
afectos, segue com cuidado na sua escrita para exemplicar processos artísticos (digo: como o artista
cria a obra, suas capturas e forças sensíveis, suas visibilidades e invisibilidades, as formas de
expressividades)e a teoria estética deleuziana. Faz um bom uso da literatura, destaca pontos relevantes
e desenha seus argumentos com rigor, bem como elabora uma escrita clara, pondo o seu corpo em

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Author’s last name (e.g. Klein or Klein and Menezes or Klein et al. Use Times New Roman 9 font normal)
2
movimento, quando promove reflexões e perguntas a respeito dos blocos sensíveis do aprendizado da
arte. Dessa forma, o seu conceito é excelente.

Belém, 31/08/2022

Maria dos Remédios de Brito

A Filosofia como intercessora na chegar até o produto final, quase que


Arte para o exprimir dos sentidos sempre a questão maior é o início e o fim –
mas principalmente o propósito para este
A sensação de se estar na presença de processo está no chegar entre. O eco a que
uma obra artística ou de um pensamento Deleuze se refere em A Transformação do
artístico é de uma singularidade que, em Padeiro é o ponto principal do processo da
alguns casos não se é capaz de exprimir em ideia em arte, e, acima de tudo é o que
palavras o que esta experiência causa no possibilita o conceber daquela obra de arte;
ínfimo de nossos sentidos. Pode-se este espaço é o que conecta os
descrever como algo que emociona, que intercessores, o pensamento filosófico
aguça a curiosidade e prende a atenção como intercessor na criação artística mesmo
fazendo com que, de certa forma, deixe o que, de maneira inconsciente seja integrado
indivíduo inerte em uma jornada obscura de àquele que exerce a pintura, sua resposta
seus sentidos buscando um propósito para está no chegar entre, cria-se um verbete e
aquele pensamento, a imagem que vê, o que dele se faz um pensamento, afinal, por quê
está ouvindo. Essa sensação/experiência daquilo? Qual sua mensagem?
singular pode ser, assim descrita a partir de Mesmo que, na conclusão o produto
pensamentos, conceitos. cinicamente não tenha um propósito ou
A Estética como uma Filosofia da significado, o vazio não é a única coisa que
Arte é uma linguagem de pensamento resta na tela, no papel, ou no mais
crítico e teórico tão singular quanto a agonizante ruído instrumental. A obra foi
experiência de confrontar uma obra ou uma concebida desde sua ideia em abstrato para
ideia em arte, talvez este seja o mais finalmente – de forma inconsciente ou não
próximo do exprimir em conceitos a – ter seu desígnio para o expectador
sensação causada no contato com o inevitavelmente manter seu estado de
artístico. No pensamento Deleuziano, a constância no que sente em busca de um
Arte – assim como a Filosofia em seu conceito para exprimir.
campo produz conceitos – produz
sensações, sendo o artista um criador de O estado de constância da obra e a
importância a ser igualada ao filósofo e ao busca da razão pelos Signos Sensíveis –
cientista. Todavia, esse campo responsável Perceptos e Afectos
por produzir fenômenos sensíveis, não pode
ser descrito ou lido como apenas uma tela Analisando a partir de outra
ou uma nota musical, uma incógnita que perspectiva da arte pelo pensamento
veio a surgir. Deleuziano, é necessário olhar para a teoria
Ler uma obra artística-visual quando dos Signos. O Filósofo designa que há
se tem a vontade aguçada para o exprimir a quatro tipos de signos – os mundanos, os do
partir deste contato, é como encontrar-se amor, os signos sensíveis e os signos da arte
em um campo vazio de indagações e – decerto que todos estes em sua verdade e
suposições que levaram a mente do pintor materialidade convergem-se em um único

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afinal, os signos da arte, todavia, os signos experiência próxima da sensação da alegria


sensíveis seriam o mundo onde o indivíduo desconhecida e da vontade imprescindível?
se aproximaria de um sentido maior, da É uma indagação que talvez não tenha uma
essência que só é encontrada no último resposta exata, mas, especulando que, tal
mundo, o dos signos da Arte. linguagem artística causou a necessidade de
Manter o estado de constância do exprimir a sensação e a busca pelo
exprimir a partir do contato com uma obra conceito, a verdade por trás daquela tela ou
de arte pode ser considerado uma papel, é o indivíduo caindo na armadilha do
experiência similar à que Deleuze se refere objetivismo, o que Deleuze havia alertado
no designo dos signos sensíveis(?), como já em Proust e os Signos, a decomposição do
fora dito, esse mundo seria a aproximação objeto incessante para extrair uma verdade.
da essência, mas de que forma? O indivíduo Nesse processo de associação da
entra em contato com um objeto e este sensação ao objeto – onde se torna um ato
desperta nele uma sensação, uma alegria cômodo – faz-se o exercício de reler, repetir
indescritível seguido de uma vontade – um e então segundo Deleuze (2003)
propósito talvez – de buscar a razão daquele “Reconhecemos as coisas sem jamais as
sentimento mas nele não consegue conhecermos”. Há uma necessidade de
encontrar um sentido máximo para a desvencilhar-se desse estigma – onde o
experiência em si, fazendo com que, sujeito não possui autoconsciência da
cegamente, o indivíduo busque a razão das sensação apesar de ela estar presente, para
sensações no objeto. que seja possível chegar enfim no âmbito
Os signos sensíveis, ainda que mais da sensação-exprimir. Também este seria
plenos que os signos materiais, não são um dos passos essenciais do aprendizado a
totalmente percursores das sensações partir dos signos, a repetição em busca do
permitidas pela essência – a qual seríamos significado traz a decepção pela tentativa da
aproximados com os signos da Arte – sendo interpretação objetiva causando uma
assim, a sensação que é captada a partir do necessidade de interpretação subjetiva.
mundo dos signos sensíveis, possui algo O primeiro contato com o objeto,
que é ligado diretamente a um objetivismo usaremos de exemplo uma obra de arte, é o
que perdura e inibe que o indivíduo decifre momento inexperiente que nos frustra ao
os signos de fato, que poderia proporcionar tentar extrair um significado imediato capaz
um ascender. Volta-se para o objeto e, de saciar tudo aquilo que sentimos ao
novamente exerce a busca de um símbolo confrontar a obra, pois ainda não somos
que está atrelado nitidamente com o objeto capazes de separar o signo do objeto. A
em si e não com a sensação plena que ele interpretação de uma obra sendo ela uma
porta, como designa Deleuze (2003) pintura ou um desenho bidimensional,
“Tomado por um estranho sabor, o herói se colagem etc., nos faz captar primeiramente
inclina sobre a xícara de chá, bebe um pinceladas, linhas, tons e figuras, e de
segundo e um terceiro gole, como se o imediato somos incitados a buscar um
próprio objeto fosse revelar-lhe o segredo significado initerruptamente no que o
do signo”. artista comunica seja com suas pinceladas
Nesse sentido, quando citado, o ou uma imagem perturbadora – O que
indivíduo em contato com a obra e o inspirou? Seria somente representação de
despertar da curiosidade, o que prende algo já existente em material? Algo que ele
naquela obra que é tão singular a ponto de queira dizer à mim e somente à mim –
deixá-lo inerte nas sensações buscando uma quando na verdade o que o artista faz é
resposta, um propósito; o fato da obra de captar forças.
arte despertar isso no sujeito seria uma Um problema da visão da sociedade

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na arte, é repetida uma imagem genérica do e seu principal objetivo seria tornar visível
criador como um ser inteligível incapaz de forças não visíveis, ocasionando assim a
ser compreendido, outrora, este sujeito sensação e não limitando-se à linhas, blocos
como posto de genialidade por essa mesma de cores e figuras. Arte não é imitativa e
imagem ou pelo intermédio de outro meramente representativa.
sujeito, que intercala a leitura de uma obra “É de toda a arte que seria preciso
de arte a partir de sua perspectiva pessoal – dizer: o artista é mostrador de afectos,
em casos que essa leitura pode ser tão vazia inventor de afectos, criador de afectos, em
relação com os perceptos ou as visões que
de significados e, em outras um exagero de nos dá. Não é somente em sua obra que
observações e apontamentos para cada ele os cria, ele os dá para nós e nos faz
detalhe como se fosse de uma vontade transformar-nos com ele, ele nos apanha
violenta por uma razão-significado. A no composto.” (Deleuze; Guattari, 1992,
obsessão pelos sentidos presentes em um p. 227-228)
objeto talvez seja o inimigo através da
universalização das sensações do Como fora dito, o devir implica um
ser-indivíduo, um identitarismo de falsos encontro onde algo não torna-se
signos. Não se suprime a experiência genuinamente si mesmo sem entrar em
pessoal do sujeito que é designado a tratar contato com outra coisa. Ao captar forças o
de arte como uma linguagem significativa, criador estaria no processo de tornar-se, e
mas sim de que, essa linguagem é singular não obstante, partilha esse processo com os
e plural, uma opinião ou uma experiência espectadores para que também de certa
em arte, transcrita e contada, não deve ser forma possam tornar-se.
colocada como um significado universal de Claramente não se propõem um tipo
forma que, as sensações de outros sujeitos de limitação na descrição das sensações
sejam influenciadas por este pensamento materiais, mas que, um vínculo estético a
mesmo que indiretamente; seria como um partir da força – blocos de perceptos e
entorpecimento da percepção do ser com os afectos – seja perceptível aqueles que
signos, forçando de forma involuntária a tomam uma interpretação objetiva como
procura do sentido em constância seguido única de uma obra e somente do objeto,
pela frustração da decepção. A percepção, além de quaisquer outra possibilidade de
estar com uma obra de arte, uma linguagem experimentar uma sensação. A força incita
artística, é única para cada ser-indivíduo, o devir, para que o tornar-se não seja de
ontológica. O resultado do sentimento pode literalidade, novamente, a arte não é
ser similar – euforia, saudade, perda – mas imitativa. Tornar-se, diz respeito ao que a
seu significado ínfimo, o exprimir do ser a sensação nos transforma quando as forças
partir dos signos sensíveis é unilateralmente tornam-se visíveis mas, não referente à um
sui generis. A força captada pelo artista identitarismo ou imitação e sim de algo que
deve tornar visível as forças não visíveis. está no entre, a sensação.
Nesse viés, a força é compreendida
como o estágio onde a sensação é possível, O aprender pelos Signos Sensíveis
podendo ser definida também como blocos como experiência estética – Arte,
de perceptos e afectos. Esta é responsável Linguagem e Sensação
pelo Devir que segundo F. Zourabichvili
(1997) “Devir” implica, portanto, em Quando tratamos do aprendizado, a
segundo lugar, um encontro: algo ou princípio tudo é assimilado aos métodos
alguém não se torna si mesmo a não ser em clássicos e objetivos. É certo que, está
relação com outra coisa.”. O artista capta fixado em cada um a experiência
forças, estas são empunhadas em suas obras vivenciada em uma instituição de ensino,
ou a orientação feita por um tutor

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especialista em um assunto, essa fixação objetivo, pela experiência. Entretanto,


automática está relacionada a um considerando que estas experiências de
significado universal, que causa a falsa alguma forma, foram marcantes e
sensação de que o correto é o método significativamente especiais na vida
ortodoxo por ser mais utilizado. Não daquele sujeito, o aprendizado torna-se uma
associamos o aprendizado diretamente com sensação agradável; a felicidade
algo subjetivo, como, por exemplo, andar desconhecida que, em um dado momento
de bicicleta, pronunciar uma nova palavra, de sua vida irá remeter a experiência para
sentir texturas agradáveis e desagradáveis; com os signos sensíveis.
algumas destas podem ser de uma Compreendendo esse fenômeno por
materialidade mas que, possuem um quê de um ângulo mais exemplificado, o
imanência. Sob uma perspectiva deleuziana descobrimento do “gostar” implícito sem
não aprendemos tudo e todas as coisas nos saber exatamente o porquê de tal sensação
métodos objetivos, ir à escola não é o ponto agradável com um objeto artístico: O
imprescindível do aprendizado, não, de fato indivíduo entra em contato com uma
aprendemos quando entramos em contato melodia, seus sentidos absorvem-na e, de
com os signos, a experiência a partir dos alguma forma aquela música causa um
signos sensíveis. sentimento incógnito, que em seguida se
Nunca se sabe como uma pessoa torna alegre ou melancólico, logo, o espaço
aprende; mas, de qualquer forma que em que se encontra e pessoas se nele
aprenda, é sempre por intermédio de signos,
perdendo tempo, e não pela assimilação de
estiverem presentes, vão complementar
conteúdos objetivos. Quem sabe como um construindo-a ainda mais completa e
estudante pode tornar-se repentinamente abstrata essa sensação vai marca-lo mesmo
"bom em latim", que signos (amorosos ou até que de forma inconsciente. Apesar de essa
mesmo inconfessáveis) lhe serviriam de circunstância estar distante pela memória,
aprendizado? Nunca aprendemos alguma
coisa nos dicionários que nossos professores
ela está ali intrínseca e presente no
e nossos pais nos emprestam. O signo indivíduo, em um momento que um tilintar
implica em si a heterogeneidade como no timbre da melodia, ou um simples item
relação. Nunca se aprende fazendo como decorativo que estava naquele espaço
alguém, mas fazendo com alguém, que não compondo o momento faça-o lembrar. Essa
tem relação de semelhança com o que se
aprende. (Proust e os Signos. DELEUZE,
sensação incógnita marcante vai designar
Gilles. Forense Universitária, 2003. Pag.21) uma necessidade de exprimir no sujeito,
Tomamos o aprender como uma ainda que obscura, essa vontade irá estar
experiência quase que puramente material, sempre esperando para ser expressada,
uma enciclopédia de memorização: sentida ao máximo mas de que forma? Em
fórmulas matemáticas, trechos históricos e qual linguagem? Apenas uma linguagem
sinônimos; também depara-se com o seria suficiente para exprimi-la? Não
aprender material a partir da experiência apenas sendo um alvo da falha da busca
positiva e negativa da vivência, por incessante na repetição do sentido do signo,
exemplo, um indivíduo que é ferido por um trata-se de um primeiro contato, a primeira
objeto através de uma ação precipitada, vontade que não se prende apenas na
dessa experiência negativa provavelmente memória. É esperado o próximo estágio, a
irá manter-se afastado ou buscar auxílio de experiência estética de uma memória
alguém com maior conhecimento para involuntária que está presente no indivíduo,
manusear o objeto com supervisão. Os mas que, não se dissolve apenas na
exemplos referidos no trecho anterior, repetição em busca da razão-significado, é
como, andar de bicicleta e o tato das esperado algo mais, o aprendizado, e, a
texturas, podem sim parecer como aprender partir dele, o exprimir do signo em

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linguagem artística. Temos a visão que papel da arte neste


A linguagem artística pode se estágio é o de inspirar, certamente não
manifestar de diversas maneiras, como, apenas isso, mas principalmente é fulcral
pintura, desenho, cinema, música, teatro que o indivíduo, para tomar
etc. O aprender a partir dos signos autoconsciência de seu exprimir, seja
sensíveis, é um método singular do tocado por uma obra semelhante, captar
pensamento de Deleuze que leva em forças para que possa tornar visível a
consideração a busca pela essência sensação, o devir sensível. Isso o levará a
encontrada nos signos da arte, nele se faz um campo perceptivo onde ele terá
presente os sentidos e sensações a partir da possivelmente o desígnio de manter o
memória e experiência. A partir da estado de constância da obra no que sente
experiência com os signos sensíveis o em busca de uma linguagem para exprimir.
indivíduo é tomado por uma vontade Para esse processo, é necessário o criador
imprescindível de exprimir o sentimento da obra conseguir transmitir sensações –
incógnito, para isso, é necessário um afectos – ao sujeito, estas que faram com
primeiro contato – diferente do primeiro que a euforia e curiosidade tomem seus
estágio do aprender através dos signos, o sentidos, sobretudo a vontade
que busca-se é para além da razão um imprescindível e o aprender, estabelecendo
sentido, e este manifestado pode ser a dessa forma uma conexão – intercessão –
resposta para a questão do problema da entre o artista criador de afectos, e o sujeito
imagem social da arte, a sensação. que adquire a consciência de seu propósito
Este primeiro contato seria designado de criação.
uma descoberta no processo que torna-se
uma influência, o fazer artístico depois da Criação e sensação – reflexo do ser
vontade imprescindível, necessita de um
impulso maior para que o sujeito possa A arte é a única coisa que se
assomar. Tomamos como exemplo um conserva no tempo, o que permanece são
indivíduo afetado por um sentimento suas percepções e afecções, não seguindo o
incógnito, não tão sobrejacente quanto padrão de mesmice mas sim
àquele que fora impulsionado pela melodia, transformando-se de forma contínua; é
mas que tenta manifestar-se sobre linhas e também a única capaz de produzir
cores na tentativa de exprimir uma imagem sensações. Mas, para Deleuze, é necessário
não equivalente, mas significativa à uma algo para fazer a obra "ficar de pé" consistir
memória ou ao sentimento que o em si mesma transformando-se. O que faz
impulsiona, busca expressar através da uma obra manter-se de pé não é a
imagem bidimensional um corpo-sentido representação de imagens, figuras, ou paleta
expresso de um pensamento ou sensação de cores; não é o ruído, não é o grito, é a
dos signos presentes em seu interior captura de forças. A força que o artista
intrínseco. Não só a vontade máxima será capta e transmite em sua obra vai além da
suficiente para exprimir a incógnita, decerto representação de linhas e círculos, acordes e
que, o sujeito não tem total consciência sinfonia, não, é o famigerado tornar-se - o
daquilo que o move para a criação do chegar entre. A sensação.
corpo-sentido bidimensional, essa “O mais difícil é que o artista o faça
autoconsciência vai ser iniciada a partir do manter-se de pé sozinho. Para isso, é
preciso por vezes muita
impulso propulsor do fazer artístico, que é o inverossimilhança geométrica,
primeiro contato com a linguagem artística, imperfeição física, anomalia orgânica, do
o captar das forças para exprimir a ponto de vista de um modelo suposto, do
sensação. ponto de vista das percepções e afecções
vividas.” (DELEUZE, Gilles. que é a

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filosofia?, O. Editora 34, 2007.pag194) plural quanto, constante. Esse estágio


implica diretamente com a sensação pois, a
Nos primeiros passos da criação, mas necessidade de exprimir, o chegar entre,
não necessariamente presente somente não exige que se adeque a uma coisa ou
nesse estágio, é notável que esta é afetada ambiente, ou que seja representado
com o período, os sujeitos ali presentes, o "inspirado em" mas sim de criar novos
contexto social onde o indivíduo criador mundos. Criar blocos de sensação
está inserido. Esse fenômeno cria a imagem equivalentes e únicos, que poderia ser
do reflexo de si mesmo na obra, ou não talvez exemplificado como o "quê",
apenas de si mesmo como pode vir a tornar "visceral", "sensível" – detestável e
um traço presente, marca, signo, que disforme até – em determinada obra. Que
intrinsecamente vai estar presente em sua não aguça somente a busca de sentido mas
criação. Todavia, esse caminho pode ser que proporciona sensações plurais em
visto um tanto como egocêntrico e cruel, a determinado indivíduo.
busca agora não de um significado, mas sim .
do desejo – algo que o frustra e ressurge a
necessidade de retratar um ser ou objeto
que um dia não foi-lhe concebido. Por mais
triste e fria essa obra possa vir a parecer por REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ser fruto de um desejo intrínseco e
inconsciente, ela seria vazia de sensação? Proust e os Signos. DELEUZE, Gilles.
“a sensação é aquilo que transmite Forense
diretamente, evidenciando o desvio ou o Universitária, 2003
desgosto de uma história a ser contada.
De um modo positivo, Bacon não deixa
de dizer que a sensação é aquilo que passa
Deleuze, Gilles. Conversações. Editora 34,
de uma “ordem” a outra, de um “nível” a 1992
outro, de um “domínio” a outro. Esta é a
razão pela qual a sensação é a mão da Deleuze, Gilles. "O ato de criação." Folha
deformação, o agente da deformação dos de São Paulo 27 (1999): 4.
corpos.” (DELEUZE, Gilles. Francis
Bacon: lógica da sensação. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2007. Pag19)
DELEUZE, Gilles. que é a filosofia?, O.
Talvez a sensação possa estar Editora 34, 2007.
presente initerruptamente em uma obra
concebida pelo desejo, o reflexo do artista e DELEUZE, Gilles. Francis Bacon: lógica
seu narcisismo, mesmo que a força captada da sensação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
e transmitida pelo criador seja a 2007.
necessidade de um desgosto ou
infelicidade, pois, ainda sim ela seria capaz MARTINS, Carlos José. Dança, corpo e
de manter-se de pé – mesmo que seja esta desenho: arte como sensação. Pro-Posições,
detestável. Outrossim, esse desejo pode vir v. 21, p. 101-120, 2010.
a ser deformado, mastigado de forma
inconsciente até que a necessidade dele ser FOERSTE, Gerda Margit Schütz; CAMARGO,
expressado seja ínfima, tornando-se um Fernanda Monteiro Barreto. Estranhamento
borrão, um deslize que compõe o corpo e como categoria estética em Arte. Artigo
sensação da obra, mas não encharcando-a. apresentado, n. 19º, 2010.
Mas, e o tornar-se? Transformar-se,
mas não em algo diferente relativo a força
que proporcionou isso, é tão singular e

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