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Universidade Estadual do Ceará - Núcleo de Línguas

Programa de Pós-graduação em Linguística Aplicada

Curso de Especialização em Formação de Tradutores

Aluno: Francisco Heron Cavalcante Félix

RELATÓRIO DA TRADUÇÃO DO CONTO “THE SISTERS”, DE JAMES JOYCE

Procede-se a enumeração dos teóricos envolvidos no processo e a descrição do porquê de sua


escolha, via de regra fragmentada, como é próprio de um processo inicial de construção de
uma metodologia.

1. PREVIAMENTE AO PROCESSO DE TRADUÇÃO

Lefevere

Noção de “cânone”: definiu-se a partir daí a responsabilidade do tradutor ao tratar um autor


cuja imagem já está consolidada. Prefigura-se uma preocupação em estudar tal imagem e
adotar uma postura em relação a ela.

Nida

Conjuntamente a tal preocupação admite-se a necessidade de, antes mesmo de iniciar-se o


processo tradutório, avaliar qual a natureza da mensagem: quais os objetivos do autor
(adotando-se uma postura em relação a estes) e qual o público-alvo para o qual ele escreveu
(bem como qual o público-alvo da tradução).

Também a priori define-se qual o grau de visibilidade do tradutor, adotando-se o defendido


por este teórico (o tradutor deve procurar descrever os mecanismo através dos quais a
mensagem total veiculada através de um texto é decodificada, transferida e transformada nas
estruturas de outra língua).

Lefevere

Retorna-se consequentemente a este teórico, uma vez que se considera oportuno adotar a sua
definição de “traductio” (transporte incluindo aspectos linguísticos e ideológicos) como
parâmetro.
Análise do autor e de sua mensagem

- utiliza lugares, fatos, expressões, costumes, lugares e até pessoas de sua vida em seus livros
(texto idiossincrático);

- polissemia e metáforas;

- processos estéticos próprios;

- repetição (leitmotif), definida como a recorrência de temas, emoções ou referências.

- utilização de processos estilísticos próprios (por exemplo: gnômon)

- utilização do stream of counsciousness, método narrativo relacionado com momentos


significativos de instrospecção, que se podem combinar, em muitos casos, com monólogos
interiores. Pretende-se assim que o leitor assista, em primeira-mão e sem interferência do
narrador, ao fluir das sensações e pensamentos das personagens.

Jackbson

A fim de definirem-se os elementos previamente eleitos como essenciais para iniciar-se a


tradução, revelou-se necessária uma prévia tradução intralingual.

2. O PROCESSO DE TRADUÇÃO

A tarefa de traduzir o conto revelou-se tão enriquecedora quanto exasperante. A imensa


quantidade de material já produzido acerca do autor, analisando sua obra e traçando teorias
acerca do significado de suas passagens elípticas, foi tão prestativa quanto nociva, em função
de, tratando-se este de um exercício apenas, ser a internet o meio recorrente de pesquisa. Foi
necessário um trabalho de pesquisa e eleição do era crível ou não, para daí adotar-se uma
postura frente ao que se entendeu como mensagem do autor.

Um problema foi delineado com a própria definição de tal mensagem: mais que críticas à
instituição da Igreja ou referências nacionalistas, o autor elege o processo adotado pelo leitor
como objetivo: deparando-se com passagens inacabadas, é forçado a dar-lhes significado.
Desta forma, um dos aspectos a ser preservado é a elipse em si, passando a tradução a ter que
dosar até que ponto traduzir certos elementos inalcançáveis para o público-alvo (definido de
acordo com o professor, de formação de nível superior e brasileiro – um país que, apesar de
católico, não conhece os rituais eclesiásticos, mesmo os que pratica). É preciso, portanto,
traduzir e elucidar sem conduzir a interpretação.

Assim definidas as características do cânone, da mensagem e de como levá-la adiante, inicia-se


o processo.
Vinay & Darbelnet

Adota-se por vezes o conceito de tradução direta; pelo empréstimo (uso da palavra na L.O.) –
como ao referir-se ao decanter, frasco para servir vinho, cujo nome em inglês já está presente
sem tradução, ou ainda ao referir-se ao jornal Freeman’s General, apresentado com seu nome
e com significado elucidade em nota de rodapé; pelo decalque (sintagmas: expressões ou
estruturas), como quando o tio usa a expressão “Ele que aprenda a se defender seu
corner”; pela tradução literal (palavra por palavra), como em algumas notas de rodapé, como
a referente a “’worms’ (em tradução literal ‘vermes’, tubos de condensação espiralados”.

Adota-se por vezes o conceito de tradução oblíqua; pela transposição (mudança sintática),
como em:

“Eu estava tomado pelo medo”

tradução de

“It filled me with fear”

pela modulação (muda-se a palavra para preservar o sentido), como em:

“Sempre me soara de forma provocativa”

tradução de

“It had always sounded strangely in my ears”

pela equivalência (expressões diversas para a mesma situação), como em:

“E trago isso comigo até hoje”

tradução de

“And that’s what stands to me now”

pela adaptação (recria-se uma situação por não existir no contexto da língua
traduzida), como em:

“os painéis de vidro das janelas voltadas para o oeste refletiam o castanho dourado de
uma massa de nuvens”

tradução de

“the window-panes of the houses that looked to the West reflected the tawny gold of a grat
bank of clouds”

Trecho em que o significado de tawny foi recriado, também, através de uma nota de rodapé.
3. CONCLUSÃO

O processo geral seguiu o que Nida descreveu no seguinte gráfico:

FONTE RECEPTOR 2

(análise) (reestruturação)

mensagem 1 RECEPTOR 1 mensagem 2

Em cada etapa há a potencialidade de erros, sendo essenciais as etapas iniciais, anteriores ao processo,
para evitar ao máximo sua ocorrência.

Parece ser inevitável concordar com o teórico, quando este define a visibilidade do autor como
determinada após um processo de “tradução bem próxima seguida por uma cirurgia plástica”.

Tal afirmação emerge de forma significativa na última fase, de revisão, onde procura-se manter a
tradução coerente com os métodos e características anteriormente elencados.

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