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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni

UNIVERSIDADE KATIAVALA BWILA

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DE BENGUELA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA

SECTOR DE GEOGRAFIA

GEOGRAFIA ECONÓMICA DE ANGOLA

Elaborado Por: Manuel Caca João Toni

2019

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
UNIVERSIDADE KATIAVALA BWILA

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DE BENGUELA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA

SECTOR DE GEOGRAFIA

GEOGRAFIA ECONÓMICA DE ANGOLA

Elaborado Por: Manuel Caca João Toni

2019
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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni

ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 5

UNIDADE I - POPULAÇÃO ANGOLANA ............................................................................... 6

I.1 - ORIGEM E COMPOSIÇÃO ETNOLINGUÍSTICA ...................................................... 6

I.2 - CRESCIMENTO POPULACIONAL EM ANGOLA .................................................... 14

I.2.2.1 - Taxa de Natalidade .............................................................................................. 22

I.2.2 - Taxa de Mortalidade................................................................................................ 27

I.2.2.1 - VIH/SIDA ............................................................................................................ 33

I.2.3 - Migrações.................................................................................................................. 35

I.3 - ESTRUTURA ETÁRIA ................................................................................................... 38

I.4 - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO ......................................................... 40

UNIDADE II - AGRICULTURA E PESCA ............................................................................. 44

II.1 - AGRICULTURA ............................................................................................................. 44

II.1.1 - Sectores e zonas de produção agrícola ............................................................. 53

II.1.2 - Condicionantes à prática da actividade agrícola ............................................... 57

II.1.3 - Produção animal ..................................................................................................... 59

II.1.3.1 - Quantidade e distribuição geográfica ........................................................... 59

II.1.3.2 - Algumas espécies animais de acordo a sua distribuição no país ........... 62

II.1.3.3 - Tipos de pastos em angola ............................................................................ 64

II.2 – PESCA ........................................................................................................................... 66

II.2.1 – A pesca industrial e semi-industrial .................................................................... 75

II.2.2. Pesca artesanal........................................................................................................ 77

UNIDADE III - INDÚSTRIA....................................................................................................... 79

III.1 - INDUSTRIA EXTRACTIVA ......................................................................................... 79


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III.1.1 - Indústria Petrolífera ............................................................................................... 80

II.1.2 - Indústria de exploração de diamantes e outros inertes ................................... 83

III.2 - IMPACTE DA INDÚSTRIA EXTRACTIVA NO AMBIENTE ................................... 85

III.2.1 - Indústria Petrolífera ............................................................................................... 85

III.2.2 - Outras indústrias extractivas ............................................................................... 87

III.3 - INDÚSTRIA TRANSFORMADORA .......................................................................... 87

III.3.1 - Pólos de Desenvolvimento Industrial (PDI) e Zonas Económicas Especiais


(ZEE) ..................................................................................................................................... 88

UNIDADE IV - SECTOR ENERGÉTICO................................................................................ 91

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ...................................................................................... 98

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INTRODUÇÃO
As relações socioeconómicas são responsáveis pelas modificações do espaço geográfico,
estruturando determinados lugares de acordo com a actividade económica desenvolvida,
alterando o meio, produzindo novos ambientes, criando espaços privilegiados, influenciando os
fluxos migratórios, interferindo na geopolítica mundial, entre outros factores.

Diante desse contexto, a Geografia Económica tem como objecto de estudo as transformações
espaciais desencadeadas pelas relações económicas, a localização e a organização dessas
actividades.
Outro ponto importante é a análise crítica dos motivos pelos quais determinada actividade
económica é realizada em um local, considerando os elementos da região como o clima, relevo,
disponibilidade de recursos naturais, etc.

A cadeira de Geografia Económica de Angola ilustra a complexidade de riquezas e


potencialidades de Angola. Os períodos áureos, difícil e conflituosos que o país atravessou e o
actual momento de paz e estabilidade que o país tem atravessado. É de suma importância ao
discente desta cadeira compreender, assimilar todos estes momentos de forma ater uma visão
holística e crítica da realidade.

A Geografia actual é uma ciência de investigação, cujos objectivos assentam na preservação,


restauração, melhoria e transformação do ambiente natural e as riquezas natural em benefício dos
angolanos de hoje e das gerações futuras. A geografia actual tem os seus objectivos, princípios e
métodos próprios que o futuro docente de geografia deve interiorizar, de modo a poder construir
as paisagens culturais, preservar a riqueza natural e encontrar permanentemente formas de vida
melhor para o cidadão angolano.

O conhecimento do potencial natural e humano que o país possui, constitui um dos pressupostos
fundamentais para potenciar o futuro professo r de geografia, com conhecimentos sólidos da
realidade local, que o irão suster na sua futura carreira docente. Tratando-se de professores de
geografia é de suma importância o conhecimento da realidade geoeconomia do país.

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UNIDADE I - POPULAÇÃO ANGOLANA

I.1 - ORIGEM E COMPOSIÇÃO ETNOLINGUÍSTICA

Angola é um mosaico de diferentes grupos étnicos e tipos humanos (Fig.1), o que acusa uma
composição bastante complexa. Do ponto de vista sociolinguístico, ela é uma sociedade
heterogénea. Essa sociedade é o resultado de sucessivas vagas migratórios.

Figura1 - Mapa etnográfico de Angola

Fonte: M artins, João V, op. cit., p. 37, in Crenças, Adi vinhação e Medicina Tradicionais dos Tchokwe, do Nordeste de
Angola.

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As populações autóctones de Angola são constituídas por Bantu na sua maioria e um número
apreciável de não – Bantus.

Os Bantu Angolano pertencem a grande divisão dos Bantus Ocidentais, cujas migrações
começaram no século V ou seja cerca de 5 000 anos, dirigindo – se numa primeira fase para sul e
leste do continente Africano (figura 2). Até agora a ciência não dispõe de dados exactos sobre o
local ou zona de onde se desencadeou o processo de migração dos Bantu em geral e do grupo
Bantu Angolano em particular. Admite – se, que os Bantu vieram do vale de Benué, na região
compreendida entre a Nigéria e os Camarões.

A palavra "bantu" é derivada da palavra ba-ntu, formada pelo prefixo ba e o sufixo ntu, que
significa "pessoa" ou "humanos". Versões dessa palavra ocorrem em todas as línguas bantus. Por
exemplo:

 Watu em swahili;

 Muntu em Kicongo;

 Batu em lingala;

 Bato em duala (Camarões)

 Abanto em Gusii (Quénia);

 Andũ em Kikuyu (Quénia);

 Abantu em zulu;

 Vanhu em xona (Zimbabue);

 Batho em sesoto;

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Figura 2 – Origem do povo Banto

Fonte: http://www.anthrocervone.org/africanstudies/language-study/

No território Angolano as primeiras penetrações Bantu deram – se no século XIII, seguindo o


curso do rio Zaire até atingirem o noroeste de Angola, são os Bakongos que teriam sido reunidos
por Nmi ya Lukeni, constituindo um dos maiores reinos que Africa já teve em termo de extensão
Geográfica, cuja capital era Mbanza Congo. As migrações só terminaram nos finais do seculo
XVIII e princípio do século XIX com a chegada do último grupo que se fixou entre o rio Cuando
e Cubango, os Cuangares.

Os Bantu constituem o grande fundo populacional de Ango la, sendo o seu número computado
em cerca de 4. 832, 677 de indivíduos. 1 Actualmente convém reter que, em termos globais, a
esmagadora maioria dos angolanos, na ordem dos 87% – é de origem bantu.

1
4 832 677 Indivíduos segundo o censo de 1960, da Repartição de Estatística Geral

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As populações não Bantu são constituídas pelos Khoisan, Vátuas e os Lusodescendentes. OS
dois primeiros, vivem em grupos avulsos, espécie de acampamentos temporários, no sul e
Sudoeste de Angola, ao passo que os últimos resultam da mixagem entre a raça europeia e
Africana.

Nos estudos sobre o desenvolvimento étnico em Angola, alguns autores efectuam uma
classificação baseada na idade histórica do estabelecimento de cada grupo no nosso país.
Distinguem, por conseguinte, de um lado o resto de uma população Bosquimano ou Khoi-San no
sul de Angola e de outro lado os Vátua grupo pré – Banto, confinado no sudoeste do país; Os
Banto composto por etnias diferentes, espalhadas em todo território e por ultimo o grupo Étnico
Europeu constituído na sua maioria por Portugueses metropolitanos, Portugueses atlânticos e
luso – descendentes. 2

a) O Grupo Ovimbundo

O principal grupo étnico bantu é o dos Ovimbundo que se concentra no centro-sul do país, ou
seja, no Planalto Central e algumas áreas adjacentes, especialmente na faixa litoral a Oeste do
Planalto Central. Os Ovimbundo constituem hoje um pouco mais da terça parte da população, e a
sua língua, o umbundo, é por conseguinte a segunda língua mais falada em Angola (a seguir ao
português) com 5,9 milhões de falantes (22,96 por cento da população). Por causa da Guerra
Civil Angolana, muitos Ovimbundo fugiram das zonas rurais para as grandes cidades, não
apenas para Benguela e Lobito, mas também para Luanda e até para cidades geograficamente
periféricas como Lubango, transportando assim a sua língua para regiões onde esta antes não era
falada.

Os Ovimbundos são essencialmente agricultores, com grande realce o cultivo dos cereais.

Os ovimbundos englobam quinze povos: os Bienos, os Bailundos, os Seles, os Sumbes, os


Mbuis, os Quissanje, os Lumbos, os Dombes, os Hanhas, os Gandas, os Huambos, os Sombos,
os Cacondas, os Chicumas e os Quiacas.

2
Redinho José; Distribuição Étnica de Angola, Angola, 7ª Edição 1971

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b) O Grupo Ambundo

Os Ambundos constituem o outro grupo cuja representatividade também é significativa. A sua


língua, o Kimbundu, é falada por 7,82% da população, maioritariamente na zona centro-norte, no
eixo Luanda-Malanje e no Kwanza-Sul. O kimbundu é uma língua com grande relevância, por
ser a língua tradicional da capital, hoje com 6.945.386 milhões de habitantes.

A agricultura é tradicionalmente a principal esfera da actividade económica desta população. A


cultura principal é a mandioca. “Os Ambundos terão sido o primeiro povo a começar o cultivo
do arroz em Angola”3 e no final do seculo XIX já produziam café para exportação.
Paralelemente a esta actividade económica também destaca-se com grande realce a actividade
pesqueira.

Os Ambundos englobam mais de vinte povos. Com realce nos seguintes: os Luandas, os Hungos,
os Luangos, os Ntemos, os Punas, os Dembos, os Ngolas, os Minungos, os Songos, os
Quissamas, os Libolos, os Quibalas, os Hacas, os Sendos etc.

c) O Grupo Bakongo

Segundo maior grupo etnolinguístico de Angola, de língua materna kikongo, representava em


1960, 479 818 falantes. Actualmenete resultado do censo populacional realizado em 2014
demonstrou que a população falante desta língua corresponde a 8,24%.

Entre o povo Bakongo destaca-se os falantes da Língua Fiote que ocupam com maior
predominância o território de Cabinda com cerca de 2,39% da população falante.

Em consequência da guerra pela independência muitos Bakongo refugiaram-se na


hoje República Democrática do Congo onde boa parte aprendeu também o francês e o lingala,
língua de comunicação na parte ocidental daquele país. A maioria dos refugiados Bakongo, e/ou
seus filhos e netos, regressou para Angola a seguir à independência, reinstalando-se em geral no
seu habitat de origem, mas formando também núcleos populacionais importantes nas cidades
situados fora desta área, principalmente em Luanda.

3
Fituni Leonid; Angola Natureza Popula ção Económica, Moscovo, progresso, 1985

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Na sua maioria os Bakongos são agricultores. A mandioca é a principal cultura. De entre as
culturas que entram nos circuitos, os Bakongos cultivam em grande escala o café. Muito deles
particularmente os Cabindas e os Zombos, dedicam-se ao comércio.

Nos Bakongos distinguem-se 18 povos cujos maiores são os Muxicongos, os Sossos, os Pombos,
os Solongos, os Zombos, os Iacas, os Sucos.

d) O Grupo Lunda-Chokwé

Os Chokwe estão presentes numa boa parte do leste de Angola, desde a Lunda
Norte ao Moxico e mesmo ao Bié. Enquanto mais a norte constituem, juntamente com os lunda,
a população exclusiva, a sua presença mais a sul e cada vez mais dispersa e se mistura com a dos
pequenos povos da região, habitualmente designados pelo termo Ganguela. A língua côkwe é
falada actualmente por 6,54% da população.

Para além dos Lundas e dos Chokwé, fazem também parte deste grupo os Lunda – Lua –
Tchinde, Lunda – Ndemba, Mataba, Badinga, Mai etc. Os Lunda-Chokwé são oriundos duma
velha cultura de caçadores, hoje transitada para uma politica agrária.

e) O Grupo Nganguela

Os povos designados como Nganguela - Lwena, Luvale, Mbunda, Lwimbi, Kangala, Ambwila,
Lutchaz, Kamachi etc. - não constituem uma etnia abrangente, e cada um fala a sua língua,
embora estas sejam de certo modo aparentadas. A que frequentemente se designa como "língua
nganguela" e tem actualmente o estatuto de "língua nacional" é na verdade apenas a de uma
população residente a leste e sul de Menongue. A língua nacional Nganguela é falada por 3,11%
da população angolana.

Oriundos de antigos caçadores savánicos, praticam hoje a agricultura principalmente na sua área
oriental e a criação de gado na parte ocidental, por influência do sudoeste.

f) O Grupo Nhaneka-Humbe

Os povos que falam na Lingua Nhaneka, habitam planalto da Humpata na província da Huila e
no vale do Cunene. Fazem parte deste grupo os povos: Mumuilas, Gambos, Humbes, Dongenes,

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Inglos, Cuancuás, Andas, Quipungos, Quilenjes-Humbes, Quilenjes-Mussos. A população
falante desta língua nacional corresponde a 3,42% da população angolana.

A pecuária constitui a principal esfera da actividade económica deste grupo. O cultivo do solo
também desempenha um importante papel sendo esta exercida fundamentalmente pelas
mulheres.

g) O Grupo Ovambo

É um grande grupo étnico existente principalmente na Namíbia, mas em parte significativa


também na província do Cunene, no sul de Angola. A sua língua é o Oshivambo, a língua
africana mais importante da Namíbia. Em Angola esta língua é geralmente falada na forma dos
dialectos próprios dos diferentes subgrupos. O subgrupo de maior destaque é aqui o dos
Kwanyama (também escrito "cuanhama"), mas há ainda os Kwamatu, os Kafima, os Evale e os
Ndombondola. O Kwanyama é falado por 2,26% da população angolana.

Os Kwanhama Habitam sobre tudo a província do Cunene e uma estreita faixa do sudoeste do
Namibe e Cuando - Cubango.

Este povo é fundamentalmente criadores de gado, apesar da actividade agrícola ter uma certa
importância na vida económica destes povos.

h) O Grupo Here ro

São povos banto que habita a Namíbia, Botsuana e Angola. As suas situações e características
são relativamente diferentes nos três países.

Em Angola, os povos considerados Hereros, ou aparentados aos Hereros, são os Kuval


(Vakuval, muitas vezes designados como "Mucubais"), os Himba e os Dimba, todos povos
pastores (semi-) nómades que vivem nas províncias da Huíla e do Namibe. São dotados dum
cerrado etno-centrismo, e as mulheres do grupo possuem status social muito fraco.

i) Grupo Khoisan

Grupo etnolinguístico não Bantu. Subsistem no Sul de Angola alguns núcleos residuais.

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Actualmente, as línguas khoisan são faladas apenas nas imediações do deserto do Kalahari
(Angola, Namíbia, Botswana e África do Sul) e numa região limitada da Tanzânia e estão a
tornar-se extremamente raras, havendo inclusive conhecimento de algumas que se extinguiram.

j) Grupo Vátua

Grupo etnolinguístico não Bantu localizado no sudoeste de Angola junto as margens do rio
Curoca daí serem chamados por vezes de Curocas. Tal como os khoisan a sua principal
actividade e a caça e a recoleção. Tal como Khoi não atingiram um nível de desenvolvimento
considerável.

Figura 3 – Distribuição geográfica das línguas nacionais mais faladas em Angola

Fonte: INE (2016)

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I.2 - CRESCIMENTO POPULACIONAL EM ANGOLA

O crescimento populacional em Angola ao longo dos anos não se fez de forma similar, tendo em
conta ao quadro político-económico que o país atravessou. Falar de crescimento populacional em
Angola pressupõe recurso a um conjunto de indicadores demográficos cuja sua efectivação
assenta nos censos demográfico. Em Angola foram efectuados desde o ano de 1940 até ao ano de
2014 apenas cinco censos populacionais. Tendo havido longos períodos de interrupções desde
1970 altura que se realizou o ultimo censo populacional na Angola colonizada até o censo de
2014 da Angola em paz. A principal causa desta interrupção assenta no longo período de
instabilidade que o país atravessou. Durante os períodos de interrupção foram efectuados
estimativas veiculadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), bem como algumas
organizações internacionais. Também neste período, foram efectuado s, alguns recenseamentos
que não abarcaram a totalidade territorial, o que de certa forma não reflectiam o real quadro
populacional do país.

Falar de censo populacional é uma questão de primor importância, tendo em conta as benéficas
vantagens que os mesmos proporcionam. A utilidade dos recenseamentos da população e de
certas colectas de dados sócio – demográficos, em virtude de ter-se tornado usual e normal ter
esses à própria disposição: grande agregado nacional necessário ao enquadramento, prospectiva e
à planificação, conhecimentos demográficos mínimos num nível geográfico refinado para a
alocação espacial dos investimentos sanitários, escolares, administrativos, assim como para os
estudos de mercado, do sector privado.

A quarenta e quatro anos que não se realizava um censo geral populacional em Angola. Desde
1970 até ao ano de 2014, altura em que se realizou o ultimo censo geral e o primeiro da Angola
em paz e independente, o país viveu sempre de estimativas bem como de alguns censos parciais
que se foram realizando em algumas regiões do país.

Em 1983 foi realizado um recenseamento regional e parcial, na província de Luanda, seguido,


em 1984/85, de outros parciais naquelas províncias e municipalidades não directamente
envolvidas no conflito (Cabinda, Namibe e Zaire) e, durante o período de 1986/1987, em certas
municipalidades das nove províncias que se seguem :

- Malanje

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- Kuanza Norte;

- Kuanza Sul

- Benguela;

- Huambo;

- Moxico;

- Bie;

- Lunda norte;

- Lunda sul.

Os resultados obtidos nesses recenseamentos parciais permaneceram dez anos na fase de


exploração para análise, e, mesmo assim, não são utilizados a contento mesmo após tanto esforço
para a sua obtenção.

Realizou-se em Maio de 2014 o primeiro Censo Geral da População e Habitação da Angola


independente e pacificada, que comporta dados fiáveis sobre o real quadro estatístico
populacional de Angola, bem como o ritmo na qual a população ira crescer até a realização do
próximo recenseamento populacional.

De 2002 até a fase posterior ao censo geral o governo através do Instituto Nacional de Estatística
(INE) efectuou um conjunto de acções preparatórias a actividade censitária.

Desde 1900 altura em que se fez as primeiras estimativas populacional até a realização do último
censo populacional em Angola, a população teve um crescimento lento em determinados
períodos e rápido em outros tal como se pode observar na tabela 1 e o gráfico 1.

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Tabela 1 – Evolução demográfica de população (1900 – 2014)

Ano População

1900* 4 777 636

1920* 4 250 000

1925* 2 438 411

1930* 2 503 794

1935* 2 689 443

1940 3 738 010

1950 4 145 266

1960 4 830 449

1970 5 620 000

1980* 7 722 000

1990* 10 020 000

2014 25 789 024

*Estimativa

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Gráfico 1 - Evolução demográfica entre 1900 a 2014

Do exposto podemos deduzir em como os valores da população variaram ao longo do tempo.


Crescimento lento e deficitário, em alguns anos, decorrente dos valores do crescimento natural.
Um aumento relativo noutros, decorrentes de certas melhorias cujo alcance resultaram positivo
no crescimento populacional.

De 1940 a 1970 se registou um crescimento lento da população, ao passo que partir de 1970 a
1990 a população teve um crescimento relativamente rápido, tendo-se registado uma queda
brusca no crescimento populacional nos anos subsequentes até o período do alcance da paz.

Durante trinta anos (30) isto é de 1940 a 1970, o crescimento populacional foi de 1.881.990
habitantes o que perfaz 29,96%, ou seja a população teve uma taxa de crescimento anual de,
627 330 habitantes. Ao passo que de 1970 a 1990 - 20 anos, a população registou um
crescimento de 4.400.000 habitantes, uma taxa de 70,04%, ou seja crescimento anual de
2.200.000 habitantes.

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I.2.1 - Resultado dos censos realizados entre 1950 a 1970

No censo de 1950 a população angolana era de 4.145 266 habitantes. A Distribuição por
província não era proporcional, onde as 6 províncias mais populosas eram Huambo, Huila,
Malanje, Bié, Benguela e Uíge ao passo que as 4 províncias menos populosas eram: Cuando
Cubango, Zaire, Cabinda e Namibe (Tabela 2).

Tabela nº 2 – Distribuição da população por Província segundo censo de 1950

Distrito Nº de habitantes %
Huambo 567 062 13.68
Huila 503 605 12.15
Malanje 463 011 11.17
Bié 381 903 9.21
Benguela 308 765 7.45
Uíge 309 485 7.47
Kwanza-Sul 296 610 7.16
Luanda 281 791 6.80
Lunda 266 087 6.42
Moxico 251 675 6.07
Kwanza-Norte 216 463 5.22
Cuando Cubango 92 695 2.24
Zaire 90 668 2.19
Cabinda 60 506 1.46
Namibe 54 940 1.33
TOTAL 4 145 266 100

Fonte: Adaptado de Dilolwa C. Rocha (2000)

Em 1960 Os valores da mortalidade se mantinham ainda altos sobre tudo a mortalidade infantil,
valores estes que se refletiam no crescimento populacional que rondava a cifra de 1, 66% mesmo
com os valores altos da taxa de natalidade.

O censo deste ano Luanda concentrava 43,8% da população urbana total e 2,8% da população
rural total um valor inferior se comparado com os 13,1% da Huila e 12,9% do Huambo
províncias que concentravam maior parte da população rural do país.

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Tabela nº 3 - Distribuição da População por Províncias (1960)

Províncias Nº de habitantes Superficie Densidade


Huambo 598 441 30 600 19.56
Huila 595 672 132 800 4.49
Benguela 489 039 39 000 12.54
Bié 453 106 62 200 7.28
Malanje 452 289 105 200 4.30
Kwanza-Sul 405 564 62 600 6.48
Uíge 399 886 44 700 8.95
Luanda 349 764 40 000 8.74
Moxico 266 709 198 800 1.34
Kwanza-Norte 263 600 32 200 8.19
Lunda 247 430 166 900 1.48
Cuando Cubango 113 063 192 700 0.59
Zaire 104 061 27 100 3.84
Cabinda 70 680 7 300 9.68
Namibe 54 145 34 300 1.58
TOTAL 4 863 449 1 176 400 4

Fonte: Adaptado de Dilolwa C. Rocha (2000)

Tabela nº4 – Distribuição da população urbana e rural por províncias (1960)

População Urbana População Rural


Províncias
Número % sobre P.T Número % sobre P.T
Huambo 38 745 0.8 558 587 11.6
Huila 27 411 0.6 567 198 11.7
Benguela 92 590 1.9 395 283 8.2
Bié 28 348 0.6 424 349 8.8
Malanje 19 271 0.4 432 578 9.0
Kwanza-Sul 27 881 0.6 376 769 7.8
Uíge 6 251 0.1 393 161 8.1
Luanda 224 540 4.6 122 223 2.5
Moxico 3 777 0.1 262 672 5.4
Kwanza-Norte 18 571 0.4 244 480 5.1
Lunda 3 092 0.1 244 181 5.1
Cuando Cubango s/d #VALOR! 113 034 2.3
Zaire 3 525 0.1 100 381 2.1
Cabinda 4 635 0.1 53 912 1.1
Namibe 13 906 0.3 29 098 0.6
TOTAL 512 543 #VALOR! 4 317 906 89

Fonte: Adaptado de Dilolwa C. Rocha (2000)

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A distribuição da população angolana por grupos de idades demonstrava neste período a
predominância dos jovens 4 49,4% em relação aos outros grupos de idades, adulta com 45,9% e a
velha 4,5%.

Tabela nº5 – Repartição da população por grupo de idades (1960)

Homens Mulheres Total


Idade % da
Número % sobre P.T Número % sobre P.T Número
População
De 0 a 4 anos 409 192 8.5 418 894 8.7 828 086 17.1
De 5 a 9 anos 367 892 7.6 342 571 7.1 710 463 14.7
De 10 a 14 anos 259 626 5.4 213 203 4.4 472 829 9.8
De 15 a 19 anos 206 566 4.3 172 019 3.6 378 585 7.8
De 20 a 24 anos 208 861 4.3 209 056 4.3 417 917 8.7
De 25 a 29 anos 215 718 4.5 225 347 4.7 441 065 9.1
De 30 a 34 anos 175 417 3.6 193 396 4.0 368 813 7.6
De 35 a 39 anos 160 882 3.3 160 975 3.3 321 857 6.7
De 40 a 44 anos 123 974 2.6 125 420 2.6 249 394 5.2
De 45 a 49 anos 99 282 2.1 93 856 1.9 193 138 4.0
De 50 a 54 anos 67 760 1.4 67 821 1.4 135 581 2.8
De 55 a 59 anos 48 889 1.0 43 916 0.9 92 805 1.9
De 60 a 64 anos 44 274 0.9 46 069 1.0 90 343 1.9
De 65 a 69 anos 28 421 0.6 25 311 0.5 53 732 1.1
De 70 a 74 anos 20 297 0.4 16 549 0.3 36 846 0.8
Acima de 74 anos 21 964 0.5 17 031 0.4 38 995 0.8
TOTAL 2 459 015 51 2 371 434 49 4 830 449 100
Fonte: Adaptado de Dilolwa C. Rocha (2000)

No território Angolano segundo o censo de 1970 viviam 5.620.000 habitantes, dos quais 5.250
000 era negra, 280 000 branca e 89 000 mestiça. O que dava uma densidade extremamente baixa
de 4,5 habitantes por quilómetro quadrado.

4
População jovem De 0 a 19 anos, adulta 20 a 59 anos e velha acima dos 59 anos de idade

20
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Tabela nº 6 - Distribuição da População por Províncias (1970)

% sobre a
Províncias Superficie/Km2 Densidade
Nº de habitantes população total
Huambo 34 274 821 000 23.95 14.61
Bié 70 314 608 000 8.65 10.82
Luanda 33 789 561 000 16.60 9.98
Malanje 97 602 545 000 5.58 9.70
Huila 75 002 548 000 7.31 9.75
Benguela 31 788 466 000 14.66 8.29
Kwanza-Sul 55 660 463 000 8.32 8.24
Uíge 58 698 384 000 6.54 6.83
Lunda 148 432 300 000 2.02 5.34
Kwanza-Norte 24 190 303 000 12.53 5.39
Moxico 223 023 187 000 0.84 3.33
Cunene 89 342 152 000 1.70 2.70
Cuando Cubango 199 049 112 000 0.56 1.99
Cabinda 7 270 80 000 11.00 1.42
Namibe 58 137 52 000 0.89 0.93
Zaire 40 130 38 000 0.95 0.68
TOTAL 1 246 700 5 620 000 122 100
Fonte: Adaptado de Dilolwa C. Rocha (2000)

Entre 1960 e 1970, em virtude da guerra quatro províncias fronteiriças diminuíram de população
(Zaire, Uíge, Moxico e Cuando Cubango). Bem como a província de Benguela também sofreu
uma descida considerável. A maior baixa registou-se no Zaire onde a população passou de
104 000 para 38 000 durante esta década.

Contrariamente as demais províncias, o Bié registou um aumento de 453 000 para 608 000 em
parte devido a transferência forçada da população do Moxico.

A população estava desigualmente repartida as maiores concentrações estavam centradas a


ocidente do meridiano 18º E com cerca de 90% da população. Deste valor 51% da população
residia em 9% do território, nos planaltos centrais e nos centros urbanos do litoral.

De la para cá foi se notabilizando um crescimento progressivo da população, segundo dados


óbitos por estimativas das várias instituições nacionais e internacionais, e particularmente o
ultimo censo geral da população e habitação realizado em 2014.

O censo de 1970 demonstrou que cerca de 85% da população residia no campo.

21
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
I.2.2 - Análise dos indicadores demográficos

O crescimento populacional está em conformidade com o crescimento natural bem como com as
Migrações. A sua forte intensidade decorre dos elevados níveis que se registam em relação à
natalidade e à mortalidade.

I.2.2.1 - Taxa de Natalidade

O número de nascimentos por mil habitantes em um ano, estão cifrados em valores ainda elevado
segundo o censo populacional de 2014, actualmente a taxa de natalidade é de 36.12 e entre os
homens é de 37.39 e as mulheres 34.92. isto implica que neste valor global de nascimentos, são
mais nascidos do que as mulheres.

A taxa de natalidade em Angola sempre registou valores altos, mesmo com uma relativa redução
comparativamente aos anos anteriores, Angola ainda regista uma das mais elevadas taxas de
natalidade a nível Mundial, (Gráfico nº 2). Estes valores são o reflexo de um conjunto de factores
ascensores da taxa de natalidade ainda proeminentes.

Gráfico nº 2 - Comportamento da taxa de natalidade de 2000 a 2012

Fonte: https://www.cia.gov (CIA World Factbook consultado: 02 de Agosto de 2012)

Segunda, Ministério do Planeamento no seu Documento: “Estrategia de Combate a Pobreza”,


edição revista 2005 demonstrou que a taxa de fecundidade ‘e de 7,2 filhos por mulher, em 2011 a

22
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
“CIA World Factbook” estimou o valor em 6 filhos nascidos/mulher. O resultado definitivo do
censo populacional de 2014, demonstrou que actualmente este índice é de 5,7 filhos
nascidos/mulher (tabela nº 7).

Tabela nº 7 – Taxa de fecundidade

ANO TAXA DE FECUNDIDADE

2009 6,32

2010 6,16

2011 5,99

2012 5,83

2013 5,66

2014 5,7*

*censo geral de 2014

Fonte: INE (2012)

1 - O baixo índice de instrução - Tem sido outro factor que eleva a taxa de natalidade sobre
tudo na zona rural, para fazer face as destintas questões ligadas a fertilidade. Em angola o
número de indivíduos fora do subsistema de ensino, apresentou valores extremamente elevados
ao longo dos anos, registando uma certa melhoria nos anos actuais, mais que ainda não
significativa (Gráficos nº 3 e 4).

Gráfico nº 3 - Alunos matriculados por subsistema de ensino de 2005 a 2008

23
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni

Fonte: INE (2012)

Gráfico nº 4 - Proporção da população com 18 ou mais anos por grupos etários, segundo o nível
de escolaridade concluído, 2014

Fonte: INE (2016)

24
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Os níveis de instrução prevalecem ainda baixos com tendências a melhorar, tal como se pode
observar nos gráficos 3 e 4. Segundo o censo de 2014, 48% da população com 18 ou mais anos,
não tem nebhum nivel de escolaridade conluido, estes valores foram ainda mais elevados nos
anos passados altura em que não se verificava a representatividade do ensino médio nem do
ensino superior bem como valores altos de analfabetismo.

Os valores de alfabetismo, são mais elevados no meio urbano bem como entre os homens em
detrimento ao maio rural e as mulheres, (Gráfico nº 5).

Grafico nº 5 - Proporção da população com 15 ou mais anos de idade que sabe ler e escrever
(Alfabetismo)

Fonte: INE (2016)

2 - Factores religiosos culturais – Algumas religiões e culturas concorrem para as elevadas


taxas de natalidade, a não-aceitação em muitos casos do planeamento familiar, o grande valor
acrescentado dos filhos no exercício de algumas actividades produtivas no seio familiar bem
como o asseguramento na velhice:

 O filho constitui riqueza


 O elevado índice de mortalidade justifica o elevado número de filhos.

25
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
3 - A nupcialidade precoce - Constitui entre outros factores elevadores da taxa de natalidade
sobre tudo no meio rural onde jovens contraem o matrimónio a partir dos 14 a 15 anos de idade
aproximadamente.

Do exposto pode se analisar em função dos gráficos 6, 7 e 8

Gráfico nº 6 - Proporção de mulheres com idade compreendida entre 12-49 anos de idade que
tiveram filhos antes dos 20 anos de idade segundo algumas características socioeconómicas (%)

Fonte: INE (2010)

Gráfico nº 7 - Proporção de mulheres com 12 -49 anos de idade casadas ou em união de factos
segundo o método contraceptivo que utilizam (%)

Fonte: INE (2010)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Gráfico nº 8 - Valores médios da fertilidade e esperança média de vida de angola e alguns países
do mundo

Fonte: ONU (2006)

I.2.2 - Taxa de Mortalidade

A taxa de mortalidade é descrita a nívl do país em quatro tipologias:

A taxa de mortalidade bruta;

Taxa de Mortaliddae Infantil;

Taxa de Mortalidade Infantojuvenil e

Taxa de Mortalidade Materna.

Apesar das melhorias que se tem vindo a atingir ao longo dos anos, o estado de saúde da
população angolana é ainda muito débil, em parte devido à guerra prolongada que destruiu e
conduziu à degradação da rede de infra-estruturas sanitárias e da prestação de cuidados de saúde,
e devido também a factores transversais como o estado de pobreza da população, os níveis de
saneamento do meio, a disponibilidade de água potável e a insuficiente oferta de alimentos com
teor nutritivo adequado, as complicações decorrentes ao longo do parto e pós parto (Gráfico 9,
10).

27
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Gráfico nº 9 - Proporção da população com acesso a água e saneamento próprio

Segundo o censo populacional de 2014, apenas 44% dos agregados familiares têm acesso a fonte
de água própria para beber tal como ilustra a o gráfico nº 10.

28
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Gráfico nº 10 – Proporção do agregado familiar segundo o tipo de fonte de água para beber que
tem acesso

Fonte: INE (2016)

Cerca de 6 em cada 10 agregados familiares, nas áreas urbanas, deposita o lixo ao ar livre e cerca
de 9 em cada 10, nas áreas rurais, tem o mesmo procedimento, facto que contribui para
degradação das condições sanitárias.

Gráfico nº 11 - Proporção de agregados familiares, segundo o principal local de depósito do lixo,


por área de residência

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Fonte: INE (2016)

1 - Taxa de Mortalidade Bruta

A taxa de mortalidade bruta ainda acarrecta valores elevados. Segundo dados da CIA World
Factbook, 2013, os valores variaram entre 26 a 12 mortos por mil habitantes entre os anos de
2000 a 2012 (Gráfico nº 12).

Segundo os dados do censo de 2014 houve uma redução significativa nos valores da taxa de
mortalidade comparativamente aos anos anteriores onde os valores na actualidade rondam os
9.12 mortos por mil habitantes. Este valor é superior nos homens co m 10.25 mortes por mil
habitantes comparativamente as mulheres que ronda os 8.06 por mil habitantes. Isto constitui o
reflexo da melhoria registada nos serviços de saneamento e medicina curativa a nível do país.

Apesar da melhoria registada nos níveis de mortalidade a nível do país, os valores ainda se
mantêm numa escala elevada em decorrência dos factores agravadores da taxa de mortalidade
que ainda afectam a população.

Gráfico 12 - Evolucção da taxa de mortalidade bruta (2000 a 2012)

Fonte: Indexmundi; CIA World Factbook, 2013 >50 /000

O quadro epidemiológico do país é caracterizado por doenças transmissíveis e parasitárias com


destaque para a malária, as doenças respiratórias agudas e as doenças diarreicas agudas e a má

30
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
nutrição. Estas doenças são responsáveis por mais de 70% das mortes. A malária mantém-se
como a principal causa de morte em Angola e é responsável por cerca de 35% da procura de
cuidados curativos, 20% de internamento hospitalar, 40% das mortes peri- natal e 25% de
mortalidade materna.

2 - Taxas de Mortalidades Infantil e Infanto-juvenil

As taxas de mortalidade infantil e infanto-juvenil, são as que apresentam valores comparativos


mais elevados.

Para Taxa de Mortalidade infantil os valores estão cifrados em 115.7 como taxa bruta, no meio
urbano está contabilizado em 94.8 e no meio rural 138.

Já a Taxa de mortalidade infanto-juvenil é de 193.5, no meio urbano é de 154.3 e no meio rural é


de 233.2 (Gráfico nº 13).

As doenças diarreicas agudas são a segunda causa de morte das crianças e a segunda causa de
consulta médica depois da málária. As diarreias reflectem, sobretudo, deficiências do
abastecimento de água potável ao domicílio, práticas de higiene muito deficientes, falta de infra-
estruturas de saneamento e deficiências ao nível do aleitamento materno.

Gráfico nº 13 – Taxa de mortalidade infantil e infanto-Juvenil por 1.000 nascimentos vivos

Fonte: INE (2010)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
3 - Taxa de Mortalidade Materna

A taxa de mortalidade materna ainda é elevada, segundo dados da União Africana (2015), o
número de morte materna, era de 1.453/100.000 em 1990, em 2010 foi 512/100.000 e em 2013 o
valor cifrou-se em 487/100.000 (Gráfico nº 14).

As principais causas de morte materna são a malária, hemorragias, eclampsia, abortos inseguros
e complicações de parto. Estas causas estão associadas à falta de acesso a serviços de saúde
reprodutiva.

Gráfico nº 14 - Taxas de Mortalidade Materna 1990, 2010 - 2013

Fonte: African Union (2015)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
I.2.2.1 - VIH/SIDA

A capacidade de rastreio e notificação de VIH/SIDA é bastante débil. De acordo com o


Ministério da Saúde, entre 2002 e 2004 Angola tem uma taxa de prevalência de VIH/SIDA de
5,7%, numa média de 356 000 adultos infectados. Apesar de ser relativamente baixa em
comparação com os países da região, teme-se que, com o aumento da circulação de pessoas e
com o regresso dos refugiados de países vizinhos com taxas de prevalência superiores, o
VIH/SIDA se possa vir a propagar rapidamente pelo território nacional. Segundo estimativas da
ONU-SIDA, os valores atingidos em 2001 são de cerca de 350 000 angolanos adultos, o que
corresponde a uma taxa de prevalência para os adultos de 5,5%.

A UNICEF em 2003 estima haver cerca de 110 mil crianças órfãs devido à SIDA. A população
mais pobre não tem ainda conhecimento sobre a VIH/SIDA nem dos meios para a sua prevenção.
Cerca de 87% das mulheres com idade compreendida entre 15-49 anos e pertencentes à faixa
mais pobre da população não conhece nenhuma forma de prevenir a transmissão do VIH/SIDA,
e 71% não conhece nenhuma forma de prevenir a transmissão de mãe para filho (os valores
correspondentes para a população total com mais de 15 anos são de 65 e 52 %, respectivamente).
De acordo com os diversos estudos esta taxa, para as trabalhadoras do sexo, em Luanda terá
atingido 33%.

É de salientar que o estado de subnutrição da população torna as pessoas mais vulneráveis à


contracção do vírus, associado à maior probabilidade de contrair infecções sexualmente
transmissíveis, tornando os portadores do vírus disseminadores da SIDA.

 O programa de saúde materna e infantil identifica como precoce a gravidez com menos
de 18 anos de idade e de tardia a gravidez com idade superior aos 34 anos.

Número de indivíduos que morreram numa dada localidade entre mil habitantes num per íodo não
superior a um ano, constitui um indicador que nos da um conjunto de valores atingidos por uma
dada sociedade ou população, nomeadamente o nível de desenvolvimento.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Gráfico nº 15 - População infectada com VIH/SIDA de 2002 a 2004

Fonte: Ministério da saúde, 2006

Gráfico nº 16 - Conhecimento, atitudes e prática sobre o VIH/SIDA entre a população com 15-24
anos de idade (%)

Fonte: INE (2010)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
I.2.3 - Migrações

Jogaram também ao longo destes anos uma influência significativa nos valores populacional em
Angola as migrações. Foi caracterizada no longo período sofrível, por uma saída massiva de
populares, para o exterior do país, sobre tudo naqueles regiões cuja proximidade com outras
estrangeiras resultaram numa saída massiva de populares.

No período entre a independência (1975) e os acordos de Bicesse (1991), quando a guerra estava
concentrada em áreas rurais remotas, a deslocação tendia a ser muito localizada, implicando
normalmente movimentos de curta distância entre aldeias e para as sedes municipais. Na altura
dos acordos de Bicesse havia cerca de 800 000 deslocados e 425 000 refugiados angolanos nos
países vizinhos, alguns dos quais regressaram às suas áreas de origem durante o breve intervalo
de paz em 1991-1992 (Gráfico nº 17).

Depois de Bicesse e consequentes eleições de 1992, a guerra intensificou-se, assumindo uma


forma semi-convencional, e várias grandes capitais provinciais tornaram-se teatros de conflito. A
dimensão do conflito provocou deslocações populacionais muito maiores do que anteriormente,
resultando num influxo de pessoas das zonas rurais para as capitais das Províncias, e grandes
movimentos de pessoas das áreas do interior mais afectadas pela guerra para cidades do litoral
mais seguras, com destaque para Luanda.

Segundo o Escritório de Assuntos Humanitários da ONU (Office for the Coordination of


Humanitarian Affairs, OCHA), entre 1992 e 1994, de 1,3 a 2 milhões de Angolanos fugiram de
suas zonas de origem. Nos quatro anos de quase paz que se seguiram ao Protocolo de Lusaka
(1994), alguns deslocados regressaram às suas zonas de origem, mas em pequeno número,
devido à continuação da insegurança e ao facto de muitos deslocados não confiarem na
sustentabilidade da paz.

Quando o país regressou à guerra em 1998, provocaram-se novas deslocações populacionais em


grande escala. Segundo dados do Governo, o número de deslocados notificados subiu de um
pouco menos de 530 000 em Novembro de 1998 para cerca de 4 milhões em Maio de 2002. Isto
significa que cerca de 30% da população angolana está deslocada dentro do país, considerando
uma população total estimada em 14 milhões de habitantes em 2002. No que diz respeito ao

35
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
número de deslocados confirmados, este aumentou de quase 360 000 em Novembro de 1998
para cerca de 1,5 milhões em Maio de 2002.

De acordo com a UNHCR (United Nations High Commissioner for Refugees) e a IDP (Internally
displced people), a população deslocada até a assinatura dos acordos de paz em 2002 era
estimada em mais de quatro milhões de deslocados internos e entre um e dois milhões de
deslocados externos, refugiados nas vizinhas Repúblicas da Zâmbia, Namíbia e República
Democrática do Congo, ou emigrados noutros países do mundo.

O fim da guerra em Angola foi marcado por um regresso massivo de populares para as suas ares
de origem o que resultou num aumento significativo da população em Angola em determinadas
regiões do país.

Hoje também tem-se registado uma entrada massiva de estrangeiros no nosso país. Alguns
encaram Angola como uma porta aberta para novas oportunidades para o negócio e emprego. Ao
passo que outros entram como refugiados vindos de países vizinhos que ate agora se encontram
mergulhados numa guerra ‘e o caso da Republica Democrática do Congo entre outros.

Um fenómeno demográfico importante a destacar é o facto de uma ampla parte das elites das
províncias ter emigrado para as cidades do litoral ou para a capital do país. As implicações deste
fenómeno sobre os processos de desenvolvimento são substanciais, pois sem elites técnica e
cientificamente preparadas, sem capacidade empresarial, as possibilidades de desenvolvimento
rápido e sustentável a nível regional e local ficam bloqueadas e com poucas perspectivas de
futuro.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Gráfico nº 17 - População deslocada durante o conflito armado

Fonte: Elaboração própria

Gráfico nº 18- Estimativa da taxa de crescimento da população por província, tendo em conta os
valores da imigração entre 1985 e 2005

Fonte: INE (1991)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
I.3 - ESTRUTURA ETÁRIA

A estrutura etária da população Angolana sempre foi caracterizada por um contingente bastante
jovem, cuja composição permite perceber a influência dos aspectos demográficos como a
elevada natalidade e mortalidade, (Gráfico nº 19, Tabela nº 8).

Gráfico 19 - Pirâmide etária da população Angolana no ano de 2009

Fonte: INE (2010)

38
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Tabela nº8 - População Angolana estimada por grupo etário (2005-2009)

2005 2006 2007 2008 2009


Grupos Etários
HM HM HM HM HM
TOTAL 15 562 16 043 16 541 17 040 17 561
0 - 14 7587 7823 8063 8307 8561
De 0 a 4 anos 3 103 3 197 3 294 3 395 3 498
De 5 a 9 anos 2 450 2 528 2 607 2 686 2 768
De 10 a 14 anos 2 034 2 098 2 162 2 226 2 295
15 a 59 7 616 7 847 8 092 8 337 8 589
De 15 a 19 anos 1 801 1 854 1 909 1 968 2 028
De 20 a 24 anos 1 572 1 622 1 671 1 720 1 773
De 25 a 29 anos 1 362 1 404 1 448 1 490 1 537
De 30 a 34 anos 953 980 1 011 1 043 1 074
De 35 a 39 anos 637 656 679 700 719
De 40 a 44 anos 502 518 534 550 567
De 45 a 49 anos 347 355 369 378 389
De 50 a 54 anos 255 264 272 281 289
De 55 a 59 anos 187 194 199 207 213
60 e + 359 373 386 396 411
De 60 a 64 anos 141 148 152 156 162
65 e + 218 225 234 240 249

Fonte: INE (1991)

Segundo o censo populacional de 2014, mostra diferenças acentuadas entre os grupos etários.
Perfilada por uma base larga da pirâmide, que corresponde à população mais jovem e um topo da
pirâmide estreito que representa a população mais idosa. A estrutura etária da população é
caracterizada por uma população extremamente jovem porque 65% da população está entre as
faixas etária dos 0-24 anos de idade (gráfico 20).

A população com 0-14 anos é de 121 964 96 pessoas, representando 47% da população residente
total. A população em idade de trabalhar (população com 15-64 anos) é de 12 980 098 pessoas,
representando 50% da população do país. Enquanto, que a população com 65 ou mais anos é de
apenas 612 430 pessoas (2% da população do país).

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Gráfico nº 20 - Estrutura etária da população por sexo

Fonte: INE (2016)

A esperança média de vida está calculada em 48,9 anos para o INE em 2013 e 51,3 anos para o
Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP).

I.4 - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO

A população esta desigualmente repartida, facto que vem desde longa data, grande parte da
população encontra concentrada a ocidente do meridiano 18º E concentra cerca de 89,6% da
população deste valore as províncias de Luanda, Benguela e as planálticas concentram 58,4%,
valor extremamente alto se comparado com a imensidão do território.

Após a independência nacional, duas províncias mais populosas do país – Luanda e Huambo,
repartiam em partes aproximadamente iguais quase 30% da população total do país (Tabela nº 9).

De 1996, ate hoje, Luanda assumiu rapidamente a primazia absoluta nessa distribuição, dado o
crescimento populacional acelerado que ai tem-se registado.

40
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Tabela nº9 – Distribuição espacial da população Angolana por Províncias (2006-2009)

Existe, pois, uma enorme disparidade na distribuição geográfica da população pelas diversas
províncias, com os consequentes impactes ambientais e dificuldades de uma gestão territorial
tendo presentes princípios de equidade.

Na actualidade, as províncias mais populosas de Angola distribuiem-se entre o Litoral, Centro do


país (Gráfico 21 e figura nº4 ).

41
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Gráfico nº 21 – Distribuição Geográfica da população

O leste de Angola e o extremo sul apresentam um fraquíssimo povoamento. Tal facto já se


verificava antes da guerra e devia-se à fraca produtividade dos solos e ao próprio colonialismo
português, pois as populações fronteiriças preferiam emigrar nem que fosse para a África do Sul,
do que viver sob o colonialismo português. Também a noroeste e Cabinda sofrem grandes
hemorragias demográficas pois as condições de vida eram superior nos dois Congo.

Actualmente tendo em conta aos dados definitivos censo populacional de 2014, Angola conta
com uma densidade populacional 20,6 hab/km2 .

A guerra em Angola teve fortes repercussões sobre a estrutura demográfica do país. Uma grande
parte da população foi forçada a abandonar as suas áreas de origem, provocando o êxodo das
populações das zonas rurais em direcção às cidades e criando enormes agregados populacionais,
fundamentalmente na faixa litoral em toda a sua extensão, mas com particular destaque para as
províncias, de Luanda e Benguela. O crescimento urbano desregrado associado a estas
deslocações populacionais provocou uma grande pressão sobre as infra-estruturas sociais e do
ambiente existentes, acentuando o fenómeno da pobreza.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Figura nº 4 - Distribuição da população residente por província (2014)

Fonte: INE (2014)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
UNIDADE II - AGRICULTURA E PESCA

II.1 - AGRICULTURA

O potencial agrícola de Angola o coloca no contexto da África subsariana no grupo dos países
mais rico. Angola possui enormes extensões de terras aráveis capazes de proporcionar produção
alimentar para auto-suficiência e mesmo criar excedentes para exportação.

Antes do conflito armado pós-independência, Angola era um país autossuficiente na


generalidade dos alimentos, à excepção do trigo, tendo sido um grande exportador de café, milho
e sisal além de banana, açúcar, óleo de palma, feijão e mandioca (Tabela nº10).

Os 27 anos de guerra civil, obrigaram uma parte da população rural a deslocar-se para o meio
urbano e interrompendo a sua produção agropecuária, o mau estado das estradas, as pontes
destruídas e a ameaça das minas tiveram como efeito a perda de importância da agricultura na
economia do país, tornando-o fortemente dependente das importações e do sector petrolífero.
Deste modo, o abandono da agricultura familiar e a desestruturação do comércio rural
empurraram uma agricultura cada vez mais voltada para o mercado até meados dos anos 70 para
a subsistência nos dias de hoje.

Tabela nº10 – Principais produtos exportados

Minério de Principais
Anos Café Diamante Petróleo
Ferro minérios
1960 35.45 13.92 4.25 ……….. 18.17
1961 36.1 17.09 3.7 ……….. 20.79
1962 47.1 13.04 3.08 1.33 17.45
1963 40.06 16.23 2.89 2.67 21.79
1964 48.73 12.74 3.99 2.09 18.82
1965 46.75 15.73 2.56 0.7 18.99
1966 48.09 17.65 2.09 0 19.74
1967 51.87 17.61 2.39 0 20
1968 45.3 17.5 8.3 0.1 25.9
1969 34.5 19.6 11.7 5.2 36.5
1970 31.9 19.2 11.7 11.5 42.4
1971 33.1 12.5 9.8 17.8 40.1
1972 27.5 11.4 7.3 25.4 44.1
1973 26.6 10.4 6.3 30 46.7

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Fonte: Adaptado de Dilolwa C. Rocha (2000)

Angola assumiu a nível mundial lugares de destaques na exportação de produtos agrícolas,


particularmente do café e sisal. Entretanto a produção diminuiu drasticamente e grandes
quantidades de alimentos passaram a ser importados, tornando-se o país dependente de ajuda
alimentar, desde o princípio dos anos 80.

As principais produções agrícolas estavam distribuídas da seguinte forma:

 Café nas províncias do Uige, Kwanza-Norte e Kwanza-Sul eram as principais zonas


produtivas com cerca de 94% seguiam-se também Zaire Luanda, Malanje, Bié, e
Benguela (Ganda);
 O Algodão nas províncias de Malanje, Kwanza-Sul e Luanda;
 O Tabaco em Benguela no município do Chongoroi, Huila no Municipio de Kilengues e
em Malanje;
 O Trigo no planalto do Huambo, Bié e Huila;
 O Arroz Bié, Kwanza-Sul Luanda, Moxico, Uige Huila e ao sul de Malanje;
 A Cana Sacarina província de Benguela as unidades da Catumbela e do Dombe Grande,
província do Bengo as unidades de Caxito e do Bom - Jesus e a província de Malanje;
 Óleo de Palma Cabinda, Zaire, Luanda, Kwanza-Sul e Benguela;
 O Milho no planalto central com 99% da produção, também em Kwanza - Sul, Benguela
e Malanje;
 O Sisal a produção situava-se no planalto do Huambo, em Benguela, Kwanza - norte e
Malanje;
 A Banana existia duas grandes zonas produtoras: zona norte, que se estende pelas
margens dos rios Loje, Lifune, Dande, Bengo e kuvo, em que predominavam as grandes
plantações, e uma zona central, no vale do cavaco em que predominavam as unidades
médias.
 Também produzia-se a mandioca, o feijão a batata-doce no norte, etc.

A pôs a independência, o estado confiscou as propriedades abandonadas e estabeleceu a


explorações agrícolas estatais, bem como empresas de comercialização, que se revelaram
bastantes ineficientes. Em 1984, o governo começou a distribuir as explorações estatais e

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
colectivas entre os pequenos agricultores, permanecendo as grandes empresas de plantações nas
mãos do Estado.

Actualmente o sector agrícola tem sido caracterizado por uma recuperação paulatina fruto de
alguns investimentos que tem sido levados a cabo. Contudo apesar desta recuperação o petróleo
ainda exerce um peso significativo na economia nacional.

O peso do sector petrolífero no PIB nominal tem vindo a decrescer desde 2008, descendo de
58% para 45,6% em 2009, e mantendo –se a 46% em 2012. Em contrapartida, o sector da
agricultura, pecuária e pescas, com um peso de 6,8% no PIB nominal em 2008, passando para
10,2% em 2012.

Segundo dados do Ministério da Agricultura, o sector agrícola empregava em 2009 cerca de


4,4milhões de pessoas, na sua maioria do sexo feminino (52%) e jovens. Estimativas do
Ministério para o período 2009-2013 mostram um acréscimo em termos de emprego directo e
indirecto, prevendo-se que se gerem no sector mais de 78 mil empregos rurais directos. A área
cultivada no ano agrícola de 2009/10 foi de cerca de 4,9 milhões de hectares, repartidos por
empresas agrícolas familiares (94,2% da área total cultivada) e por explorações agrícolas do tipo
empresarial (Ministério da Agricultura, 2010).

Os agricultores familiares representam mais de 99% do número total de agricultores. A área


média das explorações familiares era de 2,32 ha e a das explorações tipo empresarial era de
34,08 ha (Tabela nº 11).

Tabela nº 11 – Ocupação da terra por tipo sectores

Sector Familhar Sector Empresarial


Item
Nº/há % Nº/há %
Famílias/Empresas 1 985 987 99.6 8 319 0.4
Área Total (há) 4 604 468 94.2 283 502 5.8
Área Média (há) 2.32 ……………….. 34.08 ……………..

Fonte: MINADERP – Resultados da campanha agrícola 2009/10

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni

Tabela nº12 – Peso das Empresas Agrícolas Familiares na Produção Agrícola

Tiopo de Produtos % EAF*


Cereais 73,8
Raizes e Turbéculos 97,8
Leguminosas e Oleaginosas 97,6
Horticula 41,6
Fruticolas 95,8

Fonte: Ministério da Agricultura – Resultados da campanha 2008/09

* EAF – Empresas Agrícolas Familiares

Como se pode ver pela tabela nº12, as empresas agrícolas familiares têm um papel preponderante
na produção de produtos agrícolas, sendo responsáveis por mais de 95% da produção de raízes e
tubérculos, leguminosas e oleaginosas e frutícolas; por cerca de 74% da produção de cereais e
por 41,6% nas hortícolas. A maior parte da área cultivada é dedicada à produção de cereais,
sendo também as raízes e tubérculos culturas importantes em termos de área utilizada.

Destaque de algumas actividades produtivas no país:

a) Café

Em 1946 o café destronou o diamante do primeiro lugar da lista das exportações de Angola. As
suas exportações passaram de 30 927 para 46 489 toneladas. Começou assim o ciclo do café,
longo reinado de 27 anos, que iria durar até 1973, quando foi substituído pelo petróleo. Até 1975,
Angola foi o 4º produtor mundial, com produções na ordem das 220 mil toneladas, (sobre tudo
da variedade Robusta).

Mais da metade do café de Angola (58% em 1973) seguia para os Estados Unidos. Eram também
compradores: Portugal, Holanda, França, Inglaterra, Alemanha Federal e Itália. A cultura
concentrava-se nas províncias do noroeste, nos bordos ocidentais do planalto. Quando o país
entrou em guerra, em 1975-1976, a produção diminuiu acentuadamente e a estrutura comercial
desapareceu.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
A situação melhorou com a advento da paz visto que o governo tem procurado relançar a
produção do café em Angola. A produção passou de 800 toneladas para 5 mil toneladas em 2005.

Em Porto Amboim, na província do Kwanza-Sul, está a ser desenvolvido um projecto-piloto


destinado a aumentar a produção de café em Angola. Prevê o cultivo de café robusto numa área
com cerca de 17 mil hectares, com vista a obter uma produção anual de 40 mil toneladas.

b) Cereais

Tal como acima indicado, nos últimos anos, Angola não tem produzido alimentos suficientes
para fornecer a toda a sua população. No entanto, verifica-se uma melhoria nos fornecimentos
alimentares. De acordo de acordo com o Ministério da Agricultura “a produção de cereais
(milho, massango e massambala) atingiu durante o ano agrícola 2008/2009, a cifra de 1.052.000
(um milhão e cinquenta e dois mil) toneladas contra as 737.956 toneladas produzidas na
campanha anterior, representando um aumento na ordem de 42 porcento ”5 .

A produção de cereais em Angola cobre, actualmente, 40% das necessidades de consumo do


país. De acordo com o director-geral do Instituto Nacional de Cereais (INCER), a produção
actual de Angola ronda 1,5 milhões de toneladas, resultando num défice de três milhões. O
instituto prevê que a produção interna cubra 90% das necessidades nos próximos três anos. O
Plano Nacional de Desenvolvimento 2013/2017 estima que o país registe uma produção de 3,52
milhões de toneladas de cereais até 2017.

Apesar do aumento da produção, o sector continua a registar insuficiências de cereais, "pois, a


produção interna desses produtos ainda não satisfaz as necessidades do país". Dai que a
satisfação das necessidades tem sido combinada com as importações.

Com um clima diversificado, Angola fornece inúmeras oportunidades para a agricultura.


Estimativas da FAO sobre a superfície arável de Angola, apontam para 3,5 milhões de hectares,
mas o Economist Intelligence Unit (EIU) estima-a entre 5 e 8 milhões.

5
Fonte portal da Angop http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/economia/2010/0/53/Producao-
cereais-Angola-atinge-milhao-mil-toneladas,a9143e8d-6c4d-4735-b8ef-9a995c6f9b1d.html

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
A fertilidade dos solos de Angola atinge o seu ápice nas regiões do norte e centro de Angola
devido as suas particularidades climáticas (precipitações médias anuais normalmente excedem 1
000 mm).

Durante os anos de conflito, a agricultura decaiu para um nível de subsistência em muitas áreas,
com poucos ou nenhuns excedentes vendíveis e uma actividade comercial muito limitada. Em
outras áreas instaurou-se um clima de autêntica insegurança alimentar, o que levou muitas
pessoas a deslocaram-se das áreas rurais para as capitais provinciais, sedes municipais e áreas do
litoral. Esta movimentação da população foi particularmente intensa nas províncias centrais e
orientais do Huambo, Bié, Moxico e Kuando Cubango.

Estima-se que actualmente apenas entre 20% e 30% da área agrícola está efectivamente em uso
(existem outras estimativas que apontam para metade deste valor) e que a agricultura de
subsistência fornece o sustento a 85% da população. O sector familiar detém 90% da área total
e os restantes 10% são aproveitados comercialmente. (PNGA, 2005) A existência de inúmeras
minas anti-pessoais espalhadas pelo território nacional, bem como a ocupação de extensas
parcelas de terras em regiões que anterior mente se praticava a actividade agrícola para o
exercício de outras actividades entre outros, constituíram e constituem um dos grandes
obstáculos, à rápida recuperação deste importante sector da vida económica.

Análise de Alguns gráficos que nos permitem perceber o actual quadro deste sector:

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Gráfico nº 22 – Indicadores de actividade agrícola em Angola, na região sub sariana e no mundo

Fonte: FAO – fid website http://earthtrends.wri.org (2006)

Gráfico nº 23 - Produção de cereais raízes e tubérculos em Angola na região subsariana e em


Angola

Fonte: FAO – fid website http://earthtrends.wri.org (2006)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Verifica-se que, nos últimos anos, as produções dos grandes grupos de culturas têm aumentado
(tabela nº 13), não correspondendo este aumento a ganhos de produtividade, excepto no caso das
raízes e tubérculos, mas sim a aumentos de área.

Tabela nº13 – Evolução da Produção agrícola por grupos de culturas

1999-2001 2003-2005 2007 2008 2009


Produtos Produção Área (1000 Produção Área (1000 Produção Área (1000 Produção Área (1000 Produção Área (1000
(1000 ton) há) (1000 ton) há) (1000 ton) há) (1000 ton) há) (1000 ton) há)
Cereais 546 901 752 1306 705 1 429 728 1 017 1 030 1 752
Raizes e
Tuberculos 4 640 607 8 912 880 11 171 1 034 11 279 852 14 433 1 259
Legumes 77 202 92 305 104 420 124 375 247 716
Oleoginosas 70 117 86 229 92 292 91 320 105 350
Horticolas 259 47 272 48 275 49 275 49 275 49
Fruticolas 440 430 ……. 602 60 422 40 581 69
Açucareira 350 9 350 9 360 10 340 10 340 10
Café 3 620 ……. 1 960 ……. 2 160 ……. 2 160 ……. ……. …….

Fonte: FAO Statistical Yearbook

Gráfico nº 24 - Utilização de fertilizantes em Angola na região subsariana e no mundo

Fonte: FAO – fid website http://earthtrends.wri.org (2006)

Consequentemente, e para fazer face à insegurança alimentar instaurada, durante muitos anos, o
país apoiou-se em importações de alimentos e ajuda alimentar, maioritariamente na forma de
milho e feijão.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Dados do PAM indicam que de Maio a Outubro de 2003 o número de pessoas necessitadas de
assistência alimentar foi de 1,8 milhões. Nos finais do mesmo ano estimou-se que o número
médio de pessoas que precisariam de assistência alimentar em 2004 seria de cerca de 1,4
milhões. De acordo com os achados da Missão FAO/PAM em 2004, a cifra de necessitados seria
de cerca de 1,12 milhões para o período de Maio de 2004 – Abril de 2005. Atribui-se esta
redução significativa à melhoria das condições após o regresso de grandes números de
deslocados e refugiados às suas áreas de origem, alguns dos quais já tiveram colheitas por duas
épocas (FAO/PAM, 2004).

O número total de pessoas na categoria dos que estão em insegurança alimentar diminuiu de
mais de um milhão para cerca de 340 000 desde Abril de 2003. Isto representa uma diminuição
de 67% e uma melhoria muito grande no nível de segurança alimentar no país, reflectindo o facto
de, uma vez alcançada a paz, muitas famílias terem começado a reconstruir as suas vidas após
uma ou duas colheitas. Muitas destas famílias passaram da situação de “insegurança alimentar”
para “moderadamente vulneráveis à insegurança alimentar”, o que se pode considerar uma
evolução positiva (FAO/PAM, 2004).

À medida que mais camponeses regressarem às suas terras, a situação alimentar irá melhorar
gradualmente. Considerando o potencial agrícola do país, este processo poderá ser acelerado em
condições climáticas favoráveis e se as estradas forem reparadas e melhoradas.

Há três zonas agro-ecológicas principais correspondentes às principais caracte rísticas


climáticas e geográficas do país:

- Norte, com um clima húmido;

- Sul, semi-árido; seco

- Planalto Central, com um clima sub- húmido, que é a zona de transição entre o Norte húmido e
Sul seco.

O padrão de cultivo é variado.

No Norte (Uíge, Kwanza Norte, Zaire, Malanje) e no Nordeste (área das Lundas), há o
predomínio da mandioca, milho, feijão e amendoim.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Milho e feijão predominam na área do Planalto Central.

No Sul predominam o milho e a pecuária, movendo-se para áreas em que o milho é substituído
pela mandioca, massambala, massango e feijão macunde, enquanto sistemas pastorais dominam
nas províncias do Cunene e Huíla.

Na maioria das áreas rurais, a agricultura é a principal fonte de sustento, excepto no sul, onde
predomina a pecuária. Os mais vulneráveis sobrevivem através da recolha de lenha, da caça e da
pesca em águas e rios interiores; estas são também as principais fontes de receitas ou alimentos
durante o período de escassez.

A agricultura em Angola é predominantemente uma actividade de trabalho familiar para milhões


de pequenos agricultores em regime de auto subsistência que cultivam uma média de 1,4 ha por
família em dois ou mais pedaços de terra; a área plantada aumenta ligeiramente todos os anos.

A produção agrícola baseia-se numa época principal de plantio de sequeiro de Setembro a Abril
(cultivando de Setembro a Fevereiro). Esta época responde por cerca de 95% da produção total
de cereais e leguminosas, que são também as principais culturas alimentares: cereais (milho,
massambala, massango e arroz), feijão, amendoim, mandioca, batata-doce e batata comum. A
segunda época de plantio ocorre principalmente em baixios húmidos e é realizada de Junho a
Agosto. Esta época fornece cerca de 5% da produção de cereais e legumes. A produção de
verduras e batata-doce é também muito importante nestas áreas. As verduras mais importantes
são o repolho, o tomate, a alface, a cebola, o pimento, a cenoura e a abóbora.

II.1.1 - Sectores e zonas de produção agrícola

É frequente distinguir-se dois grupos nos quais se classificam os agricultores:

- O sector tradicional (agricultura familiar) e O sector empresarial (agricultura comercial).

As culturas mais importantes de Angola pode m classificar-se em dois grupos:

- As alimentares, cuja produção é na sua quase totalidade consumida no país (milho, mandioca,
feijão, amendoim)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
- As de rendimento (alimentares e industriais) cujo valor é dado pela exportação e pelas cotações
que atingem no mercado externo (café, milho, sisal, cana-deaçúcar, algodão, tabaco, palmeira
dendém, e bananas).

A distribuição das principais culturas pelos dois sectores agrícolas ‘e a seguinte:

a) Sector tradicional: milho, mandioca, feijão, amendoim, algodão, tabaco e palmeira


dendém;

b) Sector empresarial: café, cana-de-açúcar, sisal, algodão, tabaco, e palmeira dendém.

O sector tradicional - abrange a grande maioria da população dita rural, espalhando-se em


pequenas explorações familiares nitidamente de subsistência. A maioria dos agricultores
familiares usa instrumentos manuais para a preparação da terra e a capinação, plantando
sementes locais deixadas da colheita anterior. Nas províncias centrais do Huambo, Bié, a área
costeira de Benguela e no Sul, na província da Huíla, muitos agricultores usam a força animal. O
cultivo alternado é a prática agrícola habitual, com o milho, feijão, amendoim e mandioca
intercalando no mesmo campo e o padrão mais usado é o sistema extensivo. As culturas
hortícolas são plantadas principalmente nas áreas baixas designadas nacas (Huambo, Bié) ou
ndombe (Uíge).

Alguns agricultores usam tractores para a preparação da terra e para a sacha; usam fertilizantes e
variedades melhoradas de sementes. Estes enquadram-se num grupo que se pode considerar de
transição entre a agricultura tradicional marcadamente de subsistência e a agricultura empresarial
virada para o comércio (ver caixa a seguir).

Caixa - Estratificação dos agricultores familiares (Fonte: Rede Terra, 2004)

Estudos dos anos 70 e outros mais recentes (1979) mostram que os agricultores familiares no
Huambo poderiam ser agrupados em quatro tipos diferenciados, podendo sem problemas serem
generalizados para todo o País:

- Um primeiro, representado por mulheres sozinhas, viúvas, separadas ou com maridos


ausentes, com uma lógica de subsistência bem vincada, mas que não conseguem produzir o

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
suficiente para o seu sustento e por isso têm que trabalhar frequentemente como assalariados
para os mais abastados.

- Um segundo, constituído por homens, por vezes velhos, voltados para um quadro
“tradicionalista” e fechado, pouco abertos a inovações e que limitam a sua acção ao propósito
da subsistência. Igualmente não conseguem garantir o seu sustento e o das famílias com o
resultado da sua produção própria e por isso procuram também emprego assalariado. É um tipo
muito comum actualmente, por causa da gravíssima situação de pobreza e da falta de
oportunidades locais.

- Um terceiro tipo diz respeito aos que procuram assegurar em primeiro lugar a produção para
a subsistência, mas organizam a sua actividade numa lógica de mercado. Presentemente
encontram-se afectados por tudo quanto aconteceu, mas demonstram vontade e capacidade para
reactivar a sua produção.

- Finalmente, os mais ricos, que gostam de ser designados por agricultores. São elementos que
“não se preocupam com o sustento porque já está garantido, colhem normalmente mais de duas
ou três toneladas de milho, têm no mínimo dez cabeças de gado, têm casa de telha, zinco ou
luzalite e podem empregar vários assalariados”. Nalguns casos têm camião ou motorizada e já
tiveram tractor. Estão inseridos num quadro sociológico já diferenciado, têm contactos com a
sede do Município (onde por vezes vivem) ou mesmo com outros poderes, nas cidades, e
ambicionam um estatuto sócio-económico diferente o mais rapidamente possível.

A cultura de sequeiro e a rotação de culturas são práticas comuns da agricultura familiar


tradicional angolana. No entanto, devido à fraca fertilidade da terra e às práticas utilizadas, a
colheita por hectare é reduzida (PNGA, 2005).

O sector e mpresarial - Engloba todos os restantes produtores e os proprietários rurais,


definindo-se por praticar uma agricultura ou pecuária dita de mercado, visando essencialmente a
obtenção de lucros. Recorre à utilização de equipamento mecânico e ao recrutamento de pessoal
assalariado, cultiva extensas parcelas de terra e usa sementes de alta qualidade ou raças de alto
rendimento.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
As explorações comerciais produzem sobretudo óleo de palma, girassol, vegetais, frutos e café.
No entanto, o processamento e a transformação de frutos e vegetais são efectuados actualmente
por unidades semi- industriais ou mesmo artesanais que utilizam métodos inadequados de
colheita e armazenamento, pelo que a qualidade é insuficiente para exportação (PNGA, 2005).

Em correlação estreita com os aspectos climáticos, nomeadamente quanto aos valores da


precipitação, sua distribuição e duração da estação das chuvas, o território angolano poder-se-á
repartir, no que respeita aos tipos de exploração agrícola, e m três zonas distintas (fig. nº 16) e
cujas características gerais são as seguintes:

A. Zona essencialme nte de exploração de sequeiro - O ciclo vegetativo das culturas


anuais coincide com a estação das chuvas, que é bem expressiva. O regadio torna-se
necessário somente no período seco e em relação a certas culturas perenes (pomares) ou
à produção hortícola.

B. Zona de transição - A exploração de sequeiro nesta zona restringe-se somente às


culturas resistentes à secura ou pouco exigentes em humidade (algodão, mandioca,
massambala, massango), enquanto a exploração de regadio, para além das culturas
perenes, já é exigida para muitas outras culturas de ciclo anual.

C. Zona essencialmente de exploração de regadio - O regadio é condição primeira para a


produção agrícola. O sequeiro é apenas viável no caso de culturas bastante resistentes à
secura e desde que se lhes proporcione condições específicas de solos e topográficas.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Figura 3 – Tipo de exploração agrícola

Fonte: Diniz (1998)

II.1.2 - Condicionantes à prática da actividade agrícola

Além dos factores climáticos e orográficos, e das características do solo, a actividade agrícola é
condicionada por factores bióticos e sócio-económicos.

Factores bióticos - Há que referir que a distribuição e constituição dos vários estratos vegetais
têm uma notável influência na agricultura, principalmente quando o sistema de produção é ainda
rudimentar, baseado numa actuação segundo as condições naturais do meio. A influência pode
ser positiva ou negativa. Exemplo de influência negativa constitui a existência de ervas daninhas

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
de difícil controlo em algumas zonas do país, por exemplo o “kindonga”, no Uíge, que
condiciona ou dificulta o cultivo da mandioca, amendoim e outras culturas.

Exemplos positivos são a presença de abundantes florestas que formam sombras frondosas, o que
favorece por exemplo a cultura do café.

Outros factores bióticos são igualmente importantes – principalmente fungos e insectos – quando
associados a determinadas condições de clima e solo. Tem-se o caso do trigo cujos ataques de
“ferrugem”, Puccinia spp., condicionam o desenvolvimento desta cultura (Lourenço, 1971).

Em pecuária há a considerar a presença da mosca do sono, existindo, felizmente, quase


exclusivamente numa parte Norte e Sudeste do País.

Os factores socioeconómicos - Condicionantes do desenvolvimento agro – pecuário e silvícola


de Angola são vários, destacando-se no entanto os seguintes:

a) Fraca densidade populacional, principalmente na metade oriental e na região ao sul do


Lubango;

b) Baixo nível educacional e técnico;

c) Falta de vias de acesso;

d) Difícil acesso a créditos agrícolas atractivos;

e) Condições de saúde precárias (elevada prevalência de malária, tripanossomíase e outras


endemias, VIH/SIDA).

A aptidão milenária das populações condiciona a distribuição das actividades agrícolas.

Assim, os povos do sul apresentam fácies nitidamente pastoril − possuem uma grande riqueza
em gado bovino –, ao passo que os do centro e norte são mais acentuadamente agrícolas.

A agricultura empresarial, fortemente influenciada pelas facilidades de comunicação, interessa-


se principalmente por culturas que asseguram um maior e mais rápido lucro, quer nas vendas no
mercado interno ou nas exportações.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Quanto aos meios de comunicação, a deficiência no sistema rodoviário constitui um entrave ao
desenvolvimento do sector agrícola. De igual modo, a insuficiência de meios de transporte
necessários para o escoamento dos produtos, a ausência de uma “rede de frio” e outros sistemas
modernos de armazenagem de produtos condicionam o desenvolvimento do sector.

II.1.3 - Produção animal

A área de produção animal em Angola, à semelhança da agricultura, e de acordo com o nível de


consumos, é constituída por dois sectores: o tradicional e o empresarial.

O sector tradicional - É essencialmente familiar e tem como característica básica a utilização do


leite e produtos lácteos na dieta das populações. A quase totalidade dos efectivos pecuários
pertence a este sector, cuja produção se destina essencialmente ao auto consumo, lançando no
mercado apenas os excedentes. Os criadores/pastores utilizam a transumância do seu gado,
sobretudo nas zonas áridas e semiáridas, com vista à obtenção de melhores pastos e como forma
de combater certas doenças e, inclusive, os roubos dos animais, situação com que têm de se
confrontar constantemente.

O sector empresarial – Compõe-se de explorações registadas (fazendas) as quais se dedicam


predominantemente à criação extensiva e semi- intensiva de bovinos, intensiva de suínos e aves
com fins essencialmente comerciais. Estão distribuídas por todo o país com maior intensidade na
periferia dos maiores centros urbanos, grande parte das vezes num sistema de produção integrado
agro-pecuário.

A criação de gado encontra-se maioritariamente no sul, que recebe quedas pluviais mais baixas e
é menos povoado que o resto do país.

II.1.3.1 - Quantidade e distribuição geográfica

A produção animal desempenha um papel de grande relevo na vida socioeconómica do país, não
apenas pela percentagem populacional que se dedica a esta actividade, mas principalmente pelos
recursos de que dispõe. A pecuária tem expressão e m três das seis grandes regiões agro-
pecuárias de Angola dos anos 1970 (PNGA, 2005).

59
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Estimava-se, no fim do tempo colonial, a existência de gado em Angola em 2,2 milhões de
bovinos (gráfico. nº 20), 320 000 suínos, 200 000 arietinos e 800 000 caprinos, representando a
província de Huíla só por si perto de 70% do total de cabeças de gado bovino (Lourenço, 1971).

Gráfico 21 – População bovina de Angola, por província, em 1971 (fonte: neto, 1971)

A pecuária foi uma das actividades económicas que sofreu basta nte com a guerra. O número de
animais baixou acentuadamente. O efectivo bovino baixou para 1,2 milhões em 1989 e os
pequenos ruminantes 477 mil para 379 mil, no mesmo período de tempo.

A zona de maior desenvolvimento pecuário tem conhecido fenómenos cíclicos de seca que têm
afectado o modus vivendi das populações pastoris. A zona da mosca de sono tem pouco
desenvolvimento pecuário, apesar das tentativas de recuperação e introdução de raças já
experimentadas no início da independência (PNGA, 2005).

Os indicadores característicos do sector pecuário não estão, contudo, actualizados. Nas tabelas
que se seguem encontram-se referidos os efectivos pecuários nos anos 1998, 2000 e 2002, de

60
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
acordo com dados dos Serviços de Veterinária do MINADER, bem como os efectivos da
Província da Huíla estimados em 1991.

Tabela nº15 – Controlo de efectivos pecuarios em 1998

Fonte: MINADER/FAO (2004)

Tabela nº16 – Controlo do efectivo pecuário em 2000

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Fonte: MINADER/FAO (2004)

Tabela nº17 – Controlo do efectivo pecuário em 2002

Fonte: MINADER/FAO (2004)

II.1.3.2 - Algumas espécies animais de acordo a sua distribuição no país

a) Bovinos

Encontrados um pouco por todo país, é no centro e sul onde encontramos as grandes
concentrações desta espécie animal que, em Angola, é a de maior valor económico Cerca de 90-
95% deste efectivo pecuário está concentrado a sul do paralelo 14, mais precisamente nas
províncias do Kunene, Namibe e Huíla e em menor escala em Benguela, Kwanza Sul e Kuando
Cubango.

Nas províncias do Norte, devido à sua localização geográfica e presença de tripanossomas são
criados pequenos núcleos de bovinos tripanotolerantes como o Ndama e Daomé.

b) Caprinos

Espalhados por todo país, é na zona litoral onde os encontramos em maior quantidade.

62
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Núcleos de criação semi- intensiva foram registados, com a utilização de animais exóticos.
Apresentam um potencial considerável e fornecem muita carne consumida em Angola, mesmo
que sem registos.

c) Ovinos

A criação de ovinos teve o seu destaque particular nas décadas de 60 e 70, quando Angola
exportava lã e peles de Caraculo. A carne de carneiro não é tão apreciada como as outras, no
entanto ocupa o seu lugar na dieta alimentar das populações. Existem em número mais reduzido
do que os caprinos, mas praticamente no mesmo ambiente. A sua presença é mais notória no
litoral e no interior e em microclimas específicos encontram-se raças autóctones com
particularidades específicas (sem lã), não caracterizadas.

d) Suínos

Constitui presença marcante em todo país, tanto no meio rural como no meio periurbano. É outra
espécie bastante consumida e criada no meio rural. Apesar de uma das grandes limitações ao seu
desenvolvimento _ a Peste Suína Africana, esta espécie registou produções consideráveis em
explorações intensivas e semi- intensivas, nas cinturas verdes das principais cidades do país onde
se encontra até agora capacidade instalada para as produções, embora grande parte das infra-
estruturas estejam actualmente a degradar-se. Os maiores núcleos estiveram em Benguela
(Ganda), no Huambo, Huíla e Luanda.

e) Aves

As aves são os animais mais disseminados no nosso país, a sua presença é notória em todos os
lares rurais e em quase todos os lares periurbanos. Núcleos constituídos por galináceos, pombos,
patos, perus e outros conheceram o desenvolvimento das produções industriais, em sistemas
intensivos de criação nas periferias das principais cidades onde até hoje se encontra instalada,
apesar de muita degradação, uma capacidade considerável. Os maiores núcleos concentram-se
em Luanda, Benguela, Lubango, Cabinda e Malanje.

É grande a variedade de aves continuamente importada. Os galináceos são a variedade mais


consumida, os produtos como a carne e ovos são os mais procurados.

63
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni

II.1.3.3 - Tipos de pastos em angola

Quanto ao tipo de pastagem natural e de acordo com a cobertura herbácea, respectiva


composição florística, valor forrageiro e grau de palatabilidade, o território angolano pode ser
dividido em três zonas: a zona dos pastos doces, a zona dos pastos mistos e a zona dos pastos
acres (lº mapa da fig. nº 18). Esta divisão tem estreita correlação com a distribuição das grandes
zonas climáticas. As características de cada uma das zonas é a seguir descrita e o mapa em anexo
indica a respectiva localização geográfica.

Pastos doces (costa e Sul)

Zona correspondente à faixa de clima árido e semi- árido, onde os animais têm alimentação
durante todo o ano, porque a palatabilidade dos pastos e seu valor alimentício se mantêm durante
o período seco (Cacimbo). Regiões de baixa altitude, quentes e de pluviosidade inferior a 750
mm. A cobertura herbácea é rara e de porte baixo com predomínio de gramíneas, sobretudo
espécies de Aristida na orla litoral mais seca e capins do género Eragrostis, Chloris, Urochola e
Schmidtia mais para o interior. Em pastos doces as queimadas são nitidamente prejudiciais.

Pastos mistos (interme diário)

Zona correspondente à faixa territorial de climas secos, dos tipos semiárido e subhúmido seco,
com uma estação pluviométrica bem definida, porém de quantidades escassas de precipitação e
irregular distribuição de chuvas. Durante o período de cacimbo existe certa percentagem de
plantas de que os animais se alimentam, mantendo o seu peso em condições normais.

A cobertura herbácea é mais densa e de porte mais elevado do que nos pastos doces, salientando-
se a composição florística variada e o seu elevado valor forrageiro, com predomínio das espécies
de Panicum, Andropogon, Heteropogon, Digitaria, Tristachia, Themeda, Hyparrhenia, Chloris e
Setaria.

Sendo considerada como zona dos pastos mistos, designação apropriada que reflecte uma
transição gradual entre os outros tipos de pastos, no aspecto pecuário os recursos do coberto
herbáceo natural são mais elevados nesta zona do que na zona dos pastos doces e daí

64
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
proporcionar um encabeçamento bovino superior, para além de subsistirem ao longo do ano boas
condições de palatabilidade e valor forrageiro.

Pastos acres (planalto)

Ocupando a maior extensão territorial, esta zona está em correspondência com os climas
húmidos da estação chuvosa e quente, alternando com outra seca e fresca. Zonas onde em
condições normais os pastos perdem a palatibilidade durante o período do cacimbo e tornam-se
lenhosos, de Maio até a nova rebentação (Outubro-Novembro), caindo os animais de peso
durante esse período.

Mesmo com queimadas e com apascentação intensa, a falta de alimentação para o gado é
flagrante (embora existam muitas gramíneas na terra); zona planáltica, com mais de 1 000 m de
altitude e com mais de 1 100 mm de chuva. A capacidade de apascentação é enorme durante o
período chuvoso, sendo a época do cacimbo a que limita o número de cabeças de gado a manter
nos pastos.

Figura 4 – Zonagem de pastagem e tipo de cobertura herbácea

Fonte: Diniz (1998)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni

II.2 – PESCA

Angola é um dos mais importantes centros de biodiversidade marinha e uma das áreas mais
produtivas em recursos haliêuticos no mundo (MINUA, 2005b).

A zona costeira, que se estende ao longo de 1 650 km, é inteiramente tropical. As correntes
existentes ao longo da costa criam uma zona de distinta biodiversidade entre a parte Norte e Sul
da costa de Angola. Os habitats marinhos e costeiros são bastante diversificados incluindo zonas
de oceano aberto, ilhas, baías, estuários, mangais, lagunas e praias arenosas e rochosas de pouca
profundidade. Estes ecossistemas representam habitats especiais para diversas espécies de valor
económico e ecológico que, pela sua raridade e singularidade, têm necessidades de protecção
especial (PNGA, 2005).

As condições oceanográficas na zona sul da costa de Angola são caracterizadas por uma elevada
produtividade biológica devido à presença da Corrente de Benguela. A Corrente de Benguela faz
parte dos quatro maiores sistemas de afloramento do mundo (BIANCHI 1986). Este sistema é
um centro importante para a produtividade primária e consequentemente para o desenvolvimento
de muitas espécies pesqueiras com elevado valor comercial (LONGHURST 1995).
A natureza e as características da plataforma angolana e do talude continental variam
significativamente ao longo da costa. Na região sul de Angola, do Tômbwa ao rio Cunene a
plataforma é relativamente larga e pouco funda, atingindo uma largura de 35 milhas náuticas aos
17ºS, mas o declive é íngreme. Do Tômbwa a Benguela, a plataforma é muito estreita (cerca de
11 milhas náuticas) e o declive íngreme. A partir do norte de Benguela até ao rio Congo a
plataforma é geralmente larga, havendo uma parte estreita a norte de Luanda com um declive
acentuado na área do rio Congo (STROMME e SAETERSDRAL 1991).
O regime hidrológico ao longo da costa de Angola é predominantemente dominado pelas
dinâmicas e interacções das águas das Correntes de Benguela e Angola e também pelo influxo de
água doce proveniente dos grandes rios (MOROSHKHIN et al.1970 e AXELSEN et al. 2001,
2003).
A Corrente de Benguela (BC) é caracterizada por águas frias e move-se de sul para norte,
enquanto que a Corrente de Angola (AC) é caracterizada por águas quentes e move-se de norte
para sul.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
A BC, parte do giro anticiclónico subtropical do Atlântico Sul, percorre paralelamente a costa
sudoeste africana, em direcção Norte-Noroeste. Parte da Corrente de Benguela continua para
norte ao longo da costa, geralmente atingindo os 13º ─ 14º S (STROMME e SAETERSDRAL
1991).
Como resultado da interacção entre as águas da BC e da AC forma-se uma zona frontal
denominada “Frente Angola ─ Benguela” (SHANNON et al. 1987). A posição média desta zona
frontal situa-se entre os 14º e 17º S. A zona frontal pode mudar de posição de acordo com as
estações do ano, isto é, “move-se” mais para norte no período frio e mais para sul no período
quente (SHANNON et al. 1987; PEREIRA 1991 e STROMME e SAETERSDRAL 1991).
A zona sob a influência de Corrente de Benguela é dominada pelo sistema de afloramento
costeiro “upwelling” – correntes ascendentes de águas frias e ricas em nutrientes (RÉ 2001,
VAN BENNEKOM e BERGER 1984). Estas massas de água são caracterizadas por baixos
níveis de temperatura, oxigénio e elevadas concentrações de nutrientes (NO3
e PO43 ) à superfície ( NETO et al. 2000). Segundo PEREIRA (1991), o afloramento na região
sul, de Angola atinge o seu máximo em Agosto – Setembro, resultando na intensificação da
produtividade primária.

A vegetação ao longo da costa angolana é mais densa na sua parte norte e centro-norte que
na zona centro e sul. A flora na zona norte e centro-norte é representada por cerca de 0,5% de
mangais, que abundam em estuários de rios como Congo, Cuanza, Dande e Longa (in
MORAIS et al. 2006). Ao longo da costa angolana existem restingas e baías com uma rica
biodiversidade que segundo a Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos (Decreto Lei nº 6-A / 04,
de 8 de Outubro) são, em Angola, consideradas zonas protegidas. Nestes ecossistemas,
encontramos espécies muito peculiares, adaptadas à estas condições específicas locais.

II.2.1 - Parâmetros que distinguem as zonas de produtividade

Salinidade
A concentração de sais minerais dissolvidos na água é expressa como salinidade, que
corresponde ao peso, em gramas, dos sais presentes em 1000 g de água. A maneira mais correcta
de se determinar a salinidade da água, é quantificar a concentração de cada sal separadamente e
depois efectuar a soma total. Devido às inúmeras dificuldades deste procedimento, na prática, a

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
salinidade é determinada com maior exactidão através de aparelho denominados salinómetros
(ESTEVES 1988).
A variação da salinidade em águas superficiais é maior que em camadas profundas, devido às
flutuações que ocorrem primariamente por acção da interacção atmosfera-oceano. Abaixo da
camada superficial existe uma camada denominada haloclina onde a salinidade muda
rapidamente com a profundidade até aos 1000 m. Abaixo desta profundidade a salinidade oscila
pouco, apresentando valores entre 34,5 e 35,0 em todas as latitudes (SILVA et al. 2001).
As grandes diferenças entre os valores de salinidade nos ecossistemas marinhos são resultantes
de vários factores, entre os quais destacam-se: o balanço entre a evaporação e a precipitação, o
grau de influência e composição das águas subterrâneas (ESTEVES 1988) e a acção de influxos
de água doce proveniente dos rios.
As variações de salinidade podem ser tanto horizontais, quanto verticais. Assim sendo, as
variações horizontais e verticais de salinidade são mais evidentes nas regiões onde desembocam
os rios (ESTEVES 1988, GEORGE e HEAVEY 1978), particularmente os de grande caudal.
A contribuição mais significativa de águas doces para a plataforma continental é efectuada
através dos rios Congo, Kwanza e Cunene. As descargas de água doce provenientes do rio
Congo têm influenciado o grau de salinidade das águas superficiais, principalmente na estação
quente (STROMME e SAETERSDRAL 1991). Segundo SALINAS et al. (1987), PEREIRA
(1991) e AXELSEN et al. (2003), ao longo da costa de Angola, regista-se pouca variação de
salinidade entre a superfície e a profundidade. As águas superficiais e mais profundas
apresentam um valor de salinidade acima de 35 (em média 35,5 – 35,8), enquanto que nas áreas
sob influências do influxo de águas dos grandes rios a salinidade geralmente é menor que 35
(ESTEVES 1988).

Temperatura
A temperatura da água do mar reveste-se de um carácter não somente ecológico mas também
pode servir como indicador da ocorrência ou não de determinados processos físicos nos oceanos
(SANGOLAY 2004).
Os organismos planctônicos são poiquilotérmicos (www.ib.usp.br), ou seja apresentam uma
temperatura corporal equivalente ou igual a do meio em que se encontram. O aumento da
temperatura pode ocasionar nos organismos fitoplanctônicos um aumento do metabolismo e
consequente aumento do consumo de oxigénio e energia, para manter esse alto metabolismo e o

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
crescimento normal. O decréscimo significativo da temperatura pode ser prejudicial para estes
organismos, já que geralmente não conseguem se adaptar. Este processo pode resultar em
problemas fisiológicos para os organismos (www.ib.usp.br).
De acordo com AIKEN (in NETO et al. 2005), a distribuição vertical e horizontal da
comunidade fitoplanctónica na coluna de água é determinada pelas condições ambientais, tais
como a luz e disponibilidade de nutrientes. Os organismos marinhos vivem num ambiente
dominado por gradientes verticais: intensidade luminosa, temperatura, nutrientes, disponibilidade
de alimento e das correntes oceânicas. A presença de massas de águas diferentes causa grande
variabilidade vertical na composição química do meio e do fitoplâncton (ESTEVES 1988). Em
suma quando as condições hidrológicas da coluna da água são homogéneas, a distribuição
vertical do fitoplâncton varia em função da energia luminosa. Tal como referimos mais acima, a
taxa fotossintética varia com a intensidade luminosa, que descresce exponencialmente com o
aumento da profundidade (www.ib.usp.br).
Os organismos fitoplanctónicos são mais abundantes nas camadas superficiais da coluna da água
(zona eufótica), sendo raros nas camadas mais profundas (zona afótica). Existem, no entanto,
concentrações variáveis de fitoplâncton na região superior da zona oligofótica devido, sobretudo,
à fenómenos de turbulência (AZEITEIRO et al. 2003) e outros factores ambientais.
Segundo BOUGIS (1974), os organismos fitoplanctónicos não são taxativamente mais
abundantes nas regiões mais iluminadas do domínio oceânico, fundamentalmente devido à dois
factores:
 As fortes intensidades luminosas são por vezes inibidoras ou perturbadoras da capacidade
fotossintética;
 A maioria dos organismos fitoplanctónicos, em particular as diatomáceas, não possui a
capacidade de se movimentar pelos seus próprios meios na coluna de água, assistindo-se
ao seu afundamento progressivo na coluna de água.
A temperatura ao longo da costa angolana varia com as estações do ano. Durante o período com
temperaturas mais elevadas da estação quente, (Fevereiro – Abril) a temperatura da água à
superfície varia entre 25 e 28º C, a partir dos 6º S até ao norte da Corrente de Benguela (região
do Namibe). Nesta zona, a camada superficial apresenta-se estável e com uma termoclina bem
desenvolvida entre 20 e 50 m de profundidade (AXELSEN et al. 2003). Segundo os mesmos
autores, para baixo da termoclina, a temperatura em média diminui até 20º C e abaixo dos 200 m
de profundidade diminui até 15º C (AXELSEN et al. 2003). Ao sul do Namibe até a foz do rio

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Cunene (zona típica de influência da Corrente de Benguela na costa angolana), a temperatura da
água à superfície durante a estação quente, varia entre 17 e 24º C. Na estação fria (Junho –
Agosto) a partir dos 6º S até ao norte da BC a temperatura, à superfície da água, geralmente é de
20 ─ 22º C. Na zona de influência da Corrente de Benguela a temperatura, à superfície, na
estação fria geralmente é de 15 ─ 18º C (AXELSEN et al. 2003).

Oxigénio dissolvido na àgua.


Dentre os gases dissolvidos na água, o oxigénio (O2) é um dos mais importantes na dinâmica e
na caracterizaçäo de ecossistemas aquáticos (ESTEVES 1988). As principais fontes de oxigénio
para a água säo: a atmosfera e a fotossíntese. A solubilidade do oxigénio na água, como todos os
gases, depende de dois factores principais: a temperatura e a pressão. Assim, com a elevação da
temperatura e a diminuição da pressão, ocorre a redução da solubilidade do oxigénio na água
(ESTEVES 1988). Portanto, a solubilidade de gases na água do mar varia em função da
temperatura; quanto menor for a temperatura maior é a solubilidade e vice- versa (SOARES-
GOMES e FIGUEREDO 2002).
As águas quentes e superficiais dos oceanos tropicais contêm somente cerca de 4,0 ml L-1 de
oxigénio dissolvido (SOARES-GOMES e FIGUEREDO 2002). As águas profundas dos oceanos
são bem oxigenadas devido à processos de circulação e mistura. Entretanto, a distribuição
vertical do oxigénio não é uniforme. Com o aumento da profundidade o conteúdo de oxigénio
declina, atingindo um mínimo, entre 500 e 1000 m em águas oceânicas. Os valores mínimos de
oxigénio no geral resultam da actividade biológica, enquanto que o seu aumento abaixo desta
zona (entre 500 e 1000 m) deve ser associado ao influxo das águas mais frias que geralmente são
provenientes das regiões polares (RÉ 2001).

Em resumo, o teor em oxigénio dissolvido na água decresce com a profundidade, ao longo da


termoclina, atingindo 2 ml/L a uma profundidade de cerca de 150 m na região norte e a 50 m na
região sul da costa angolana (SALINAS et al. 1987 e STROMME e SAETERSDRAL 1991 e
AXELSEN et al. 2003).

A pesca é uma importante fonte de emprego, estruturante do tecido social das comunidades
costeiras angolanas.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Foi uma das actividades económicas também bastante afectada pelo período de conflito armado
que se instalou no país a seguir à independência, (gráfico 22).

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Figura 5 – Diferentes áreas da zona económica exclusiva de angola

Fonte: Adaptada do MINUA ( 2005b)

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Gráfico 22 – Captura total de pescado desde 1961 a 2001

Fonte: FAO, website (2006)

Ao remover grandes quantidades de organismos e alterar os seus habitats, a pesca afecta


directamente os ecossistemas marinhos e costeiros. Se for praticada fora dos limites da
sustentabilidade, pode provocar desequilíbrios a nível das cadeias alimentares e da
biodiversidade. A pesca excessiva, apoiada por tecnologias sofisticadas, tem provocado o
desaparecimento ou esgotamento de diversas espécies, especialmente daquelas de maior valor
comercial (INIP, 2005).

Actualmente em Angola regista-se a ocorrência de pesca ilegal, não relatada e não regulada, a
destruição profunda causada por arrastões que pescam em águas reservadas à pesca artesanal, o
desrespeito por períodos de veda ou a inexistência destes e derrames de petróleo que contaminam
os peixes - nomeadamente ao largo de Cabinda e Zaire.

Pode considerar-se que a fiscalização existente não é suficientemente e eficaz (PNGA, 2005).

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Tabela nº18- Espécies estudadas – importância e estado de conservação

Fonte: INIP (2005)

As principais capturas de pescado são a sardinha, carapau, marionga e a lagosta, seguido do


camarão, gamba, caranguejo, garoupa, roncador, cachucho, pescada, etc.

Observa-se uma estabilidade relativa das biomassas nos últimos anos, havendo oscilações em
determinados grupos.

Gráfico 23 – Variação anual da biomassa das principais espécies de peixes demersais de alto
valor comercial

Fonte: INIP (2005)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
II.2.1 – A pesca industrial e semi-industrial

A pesca industrial e semi- industrial é permitida a partir de 2 milhas náuticas (3,7 km) da linha da
costa, estendendo-se até as 200 milhas náuticas.

Este tipo de pesca é realizado por grandes embarcações, com capacidade considerável de carga e
com diferentes artes de captura.

Um dos aspectos preocupantes neste tipo de pesca é a falta de fiscalização, o que provoca uma
grande redução de stocks devido à sobre-exploração, principalmente de espécies pelágicas e de
alguns crustáceos (MINUA, 2004).

Em relação às capturas de peixes demersais de alto valor comercial, nos últimos anos tem
havido, associado a um aumento do esforço de pesca, um decréscimo nos esparídeos (cachucho),
roncadores, garoupas, corvinas, e um ligeiro aumento das pescadas (gráfico 23).

Gráfico 24 – Evolução das capturas dos peixes demersais da pesca industrial

Fonte: INIP (2005)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Quanto aos pequenos pelágicos, com base nos resultados, pode-se concluir que o recurso ao
carapau em Angola está próximo da sobre exploração ou mesmo sobre explorado com níveis de
biomassa extremamente reduzidos, e níveis de captura que excedem largamente a produção
natural do recurso (INIP, 2005).

Actualmente, e devido à exploração muito intensa, a população é dominada por juvenis menores
que 20 cm de comprimento, correspondendo a um a dois anos de idade. Estas classes de idade
têm um potencial de crescimento muito elevado, e se forem protegidos poderão levar a uma
melhoria significativa do estado do stock, recuperando a sua capacidade produtiva. Estas classes
devem ser protegidas de modo a garantir o crescimento até à idade adulta com um comprimento
médio à volta dos 30 cm, o que corresponde a peixes de quatro a cinco anos.

Como forma de dar cobro a esta situação o executivo exarou alguns decretos que visão a
protecção das espécies marinha:

Em 2010 foi exarado o primeiro decreto executivo que proibia a pesca do carapau e da sardinha
durante o ano de 2010, bem como foi estipulado algumas quotas para pesca; crustacios e
muluscos ate 4500 toneladas, pesca de especies demersais ate 76249 toneladas, e a pesca de
especies pelagicas ate 259869 toneladas (Fonte: Joarnal ANGOP webisite
www.portalangop.co.ao, 2010).

No ano 2011 por decreto presidencial 47/11 proibia a pesca do carapau nos meses de Abril,
Maio, Junho, Agosto e Setembro. E estipulava uma quota do peixe a ser capturado assim sendo:
a pesca de crustacios e muluscos ate 4552 toneladas, a pesca de especies demersais ate 68999
toneladas, e a pesca de especies pelagicas ate 334869 toneladas (Fonte: webisite.
www.angonoticias.com/Artigos/item/29560)

Quanto às tendências de biomassas do camarão e do alistado, constatou-se que a biomassa do


camarão atingiu os menores índices em 1991, com cerca de 4 000 toneladas. De uma forma geral
as biomassas foram flutuando ao longo dos anos, mas em 2004 observou-se um ligeiro
incremento.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
II.2.2. Pesca artesanal

A pesca artesanal angolana é coordenada pelo Instituto de Desenvolvimento de Pesca Artesanal


(IPA). É permitida por lei ao longo da costa angolana numa área inferior a duas milhas náuticas
da linha da costa, estando sujeita a restrições no campo petrolífero, - limitação reportada em
1994 pela cláusula da Convenção Internacional da Lei do Mar (MINUA, 2005b).

Segundo o MINUA (2005b), a pesca artesanal utiliza métodos de pesca que variam entre a rede
envolvente e de arrasto, rede de emalhar, de deriva, armadilha e palangre. Utilizam-se também
embarcações que variam entre, pequenos barcos a remo, canoas, chatas e embarcações costeiras
motorizadas até 10 metros de comprimento (catrongas).

Quanto à evolução das capturas dos peixes demersais de grande importância comercial (gráfico
nº 24), constatou-se uma flutuação das capturas das corvinas e dos esparideos (cachucho) de
1996 à 2001, com o pico máximo da captura em 2003, onde se observou um aumento drástico de
mais de 50%. Relativamente às capturas de pescadas e garoupas, observou-se um declínio,
enquanto os roncadores subiram ligeiramente.

Gráfico 25 – evolução das capturas dos peixes demersais da pesca artesanal

Fonte: INIP (2005)

77
Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Há que salientar que o sistema de amostragem na pesca artesanal tem melhorado
consideravelmente nos últimos anos. O aumento das capturas estimadas para a pesca artesanal
deve, por isso, ser interpretado com precaução, pois pode corresponder tanto a um aumento
acentuado do esforço de pesca no final da situação de guerra, como à melhoria do sistema de
recolha de informações implementado no IPA.

Por falta de informação e fiscalização, a pesca artesanal utiliza artefactos de pesca em locais
estratégicos à manutenção da biodiversidade (Morais, 2004), tais como:

- cobertura com redes de emalhar de acesso às zonas de mangal e de extensas áreas nas
desembocaduras dos rios, impedindo a entrada de peixes para desova;

- deposição de redes de forma paralela e junto à linha da costa, impossibilitando a ascensão de


tartarugas à praia para desova;

- utilização do método long line fishing, que tem provocado a captura de numerosas espécies de
aves marinhas.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
UNIDADE III - INDÚSTRIA

Angola, como país subdesenvolvido, explorada pelo imperialismo que era, e as sucessivas
instabilidades políticas que se foram aglutinando, não podia deixar de ter um fraco nível de
industrialização.

A primeira industria digna desse nome é do ramo extractiva, os diamantes cuja descoberta foi em
1912 e a exploração apenas depois de 5 anos. Nos anos 50 surgem ma is dois produtos minerais
importantes: o minério de ferro e o petróleo.

A indústria transformadora era rudimentar, só adquire alguma expressão nos anos 60, após o
desencadeamento da luta armada. Quase não existia indústria pesada e frequentemente as
chamadas «indústrias» eram simplesmente linhas de montagem.

Com a independência nacional deu-se uma retirada massiva dos portugueses detentores de toda
uma gama de conhecimentos para a operacionalidade deste sector, o legado colonial aliada a
guerra civil que eclodiu, levou a destruição de grande parte das infra-estruturas indústrias do país
bem como a paralisação de muitas unidades fabris.

III.1 - INDUSTRIA EXTRACTIVA

A indústria extractiva é a que mais tem contribuído para a balança de pagamentos do país, tendo
sido responsável por cerca de 50% do PIB através de exportações avaliadas em milhões de
toneladas métricas de petróleo, e por cerca de 5% do PIB correspondentes a quilates de
diamantes, aos quais se podem somar pequenas contribuições de granito e de o utros minerais.

Estima-se que o subsolo de Angola alberga 35 dos 45 minerais mais importantes do comércio
mundial. Os recursos minerais predominantes em Angola incluem o petróleo, substâncias
betuminosas, gás natural, os minerais metálicos (ouro, ferro, cobre e zinco), mineiras não-
metálicos (granito, mármore, quartzo, esmeraldas, turmalinas, granadas, águas marinhas e
calcário), fosfatos e água de mesa e minero-medicinais.

São ainda assinalados recursos de urânio, volfrâmio, manganésio, fluorite, feldspato, caulina,
mica, e talco (PNGA, 2005). Contudo, até à data apenas 40% do território foi objecto de

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
levantamento geológico, sendo por isso incipiente o grau de conhecimento dos recursos minerais
do país.

III.1.1 - Indústria Petrolífera

Durante a última década foram descobertos ao largo do litoral angolano mais de 8 biliões de
barris de petróleo em águas profundas, tornando Angola numa das zonas de exploração
petrolífera mais ricas do mundo e uma das mais procuradas pelas empresas petrolíferas.

Apesar da maior parte dos novos campos ainda não ter começado a ser explorada, desde 1980 a
produção de petróleo em Angola já aumentou em mais de 550%, tendo atingido mais de 980 mil
barris/dia em 2004 (gráfico nº 25).

Gráfico 26 – Produção e consumo de crude

Fonte: www.allafrica.com consultado 24 de Maio de 2009

Durante mais de uma década Angola tem sido o segundo maior produtor de petróleo na África
Subsariana, a seguir à Nigéria.

Encontram-se espalhadas pelo mar territorial cerca de 60 plataformas de exploração petrolífera


(fig. nº 24). Com o estabelecimento da paz foram iniciadas algumas prospecções e explorações,
também em terra, sendo que os impactos destas explorações no ambiente e nas comunidades não
está ainda determinado.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Figura 6 – Blocos de concessões para exploração petrolífera

Fonte: Sonangol (2005)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
A Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (SONANGOL) foi criada em 1976 e trabalha
com empresas estrangeiras através de Joint Ventures (JV) e de Production Sharing Agreements
(PSA). É responsável pela totalidade da produção e distribuição em Angola.

A maioria de crude é produzido nos blocos offshore, tendo particular importância o Bloco Zero,
localizado a norte da província de Cabinda, e o Bloco 15, próximo da cidade do Soyo, província
do Zaire.

O petróleo de Angola é maioritariamente médio e leve (30º- 40º API), com baixo teor de enxofre
(0,12% - 0,14%).

A produção petrolífera actual faz-se fundamentalmente em águas pouco profundas (menos de


500 m), mas desde 1999/2000 estão a ser vendidos novos blocos em águas profundas (500-1 500
m) e muito profundas (1 500-2 000 m). O Governo recebe pagamento pela concessão de direitos
de exploração e a SONANGOL – empresa estatal – retém 20% do lucro de cada bloco.

A percentagem do PIB gerada pela indústria petrolífera encontra-se desligada da restante


economia do país, estimando-se que pelo menos 90% da população não beneficie dos seus
lucros. É uma indústria capital- intensiva e que gera poucos empregos – menos de 12 000
angolanos. A sua importância económica cinge-se ao peso preponderante na geração de receitas
fiscais para o Estado.

Muitas das companhias petrolíferas canalizam parte da assistência filantrópica através de um


“fundo social” gerido pela SONANGOL, e algumas delas financiam projectos patrocinados por
ONG e agências da ONU – desde actividades de desminagem a projectos de desenvolvimento
local.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
II.1.2 - Indústria de exploração de diamantes e outros inertes

Diamantes

O conhecimento da existência de diamantes em Ango la data de 1590, tendo a sua confirmação


sido alcançada apenas em 1909. Desde 1910 até meados da década de 1990 o país foi
procedendo à extracção directa de diamantes com maior ou menor intensidade, tendo esta
actividade chegado inclusive a ser interrompida por causa da situação generalizada de guerra em
todo o país – não obstante ter sido também base da sua sustentação.

Angola é o quarto maior produtor de diamantes do mundo, depois do Botswana, da Rússia e da


África do Sul.

A exploração deu-se inicialmente sobretudo em três áreas mineiras, concentradas por duas zonas:

- Zona Oeste (a oeste do rio Luachimo), com o Centro de Operações em Chissanda, onde era
explorada a rica área de Chinfungo que, mesmo nos primeiros anos de exploração, entrava no
seu sexto bloco;

- Zona Leste (a leste do rio Luachimo), com o Centro de Operações em Luaco, onde eram
exploradas as áreas das bacias das ribeiras Cassanguidi e Cartuxi, afluentes do rio Luembe e da
bacia da ribeira Luaco (afluente do rio Luana).

A prospecção sistemática da Lunda Norte e da Lunda Sul, de Malanje e do Bié, assim como de
todo o país, iniciou-se pouco depois da fundação da DIAMANG e as descobertas efectuadas
levaram à abertura da primeira mina, ainda em 1917, no ribeiro Cavuco, afluente da margem
direita do rio Chiumbe.

Desde os tempos de exploração manual e, na década de 1920-1930, com máquinas a vapor, tem
havido uma evolução constante até aos níveis de hoje. Estima-se que as terras das Lundas
tenham um enorme potencial diamantífero, cuja exploração tem vindo a aumentar desde 2002.
Os direitos de exploração são, no presente, exclusivos da empresa estatal ENDIAMA.

A contribuição da indústria diamantífera para o PIB, tem sido muito menor do que a da indústria
petrolífera. Com efeito cerca de um terço da produção tem sido vendido através de redes de

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
contrabando, o que diminui ainda mais a receita fiscal dos diamantes (menos de 10% do valor
das vendas oficiais), o que indica que o Estado pouco ganha com esta indústria.

Contudo, em contraste com a indústria petrolífera, o sector diamantífero é uma grande fonte de
emprego, principalmente nas minas informais ou artesanais, onde se calcula que trabalhem mais
de 200 000 mineiros garimpeiros.

A exploração ilegal e artesanal faz com que o impacte ambiental da exploração de diamantes seja
muito considerável, matéria que será tratada com maior realce nas próximas páginas.

Ferro

O ferro chegou a ser um dos principais bens de exportação de Angola. Desde a década de 1950
até 1975, as minas de ferro existiam nas províncias de Malanje, Bié, Huambo, e Huíla, e a
produção nos últimos anos rondava os 6 milhões de toneladas por ano. Após a independência foi
estabelecida a Empresa Nacional de Ferro de Angola - Ferrangol, para a exploração, mineração,
processamento e comercialização do ferro. A última mina de ferro em exploração foi a de
Cassinga na Huíla, cuja actividade cessou devido à dependência da linha de caminhos-de- ferro,
que requeria reparações, em simultâneo, o preço do aço no mercado internacional estava em
baixa. A capacidade da mina de Cassinga era de 1,1 milhões de toneladas por ano.

Rochas ornamentais

As províncias do Kwanza Sul e as do Sudoeste de Angola são ricas em quartzo. O sudoeste,


nomeadamente a província do Namibe, é igualmente rico em mármore, nomeadamente mármore
ornamental e estima-se que o recurso permita a extracção de 5 000 m3 por ano durante 20 anos.
O granito é também abundante nas províncias da Huíla e do Namibe.

Fosfato

O fosfato encontra-se no Noroeste, estimando-se que a província do Zaire contenha depósitos de


50 milhões de toneladas, e Cabinda 100 milhões de toneladas.

Outros

Areias, burgau e terra vermelha (argila) são exploradas em todo o país.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni

III.2 - IMPACTE DA INDÚSTRIA EXTRACTIVA NO AMBIENTE

III.2.1 - Indústria Petrolífera

A actividade da indústria petrolífera gera, directa ou indirectamente, resíduos de diversa


natureza. Algumas companhias petrolíferas possuem programas de gestão de resíduos (por ex.,
os fluxos designados de resíduos, procedimentos e oportunidades de reciclagem). Estes
programas evoluem de forma contínua de acordo com a evolução dos processos petrolíferos e do
desenvolvimento da disponibilidade de opções de tratamento e eliminação em Angola.

Para além de programas de gestão de resíduos, em algumas companhias existem planos


abrangentes para todas as operações, que incluem desde as actividades de sondagem, à produção,
processamento, armazenamento, condutas e carregamentos marítimos.

Para além da geração de resíduos, há que ter presente a poluição atmosférica gerada pela queima
de gás de tochas de rotina.

Entre os mais importantes impactes ambientais da indústria petrolífera encontram-se os


potenciais derrames de petróleo, na maioria das vezes resultantes de descargas acidentais.

De acordo com os termos utilizados pela indústria petrolífera considera-se derrame quando se
conhece a fonte ou a origem do petróleo derramado; caso contrário utiliza-se o termo sighting.
Estes casos têm provocado muitas discussões entre os organismos ligados ao ambiente, quer
estatais ou ONG, com as empresas petrolíferas.

Existem derrames em terra e derrames no ou na água. O produto derramado pode ser óleo ou
outro produto químico.

Quando o derrame acontece, para a sua resposta são utilizados vários métodos. Os mais usados
são:

- Uso de dispersantes, antecedido de autorização do Ministério dos Petróleos. O regulamento do


Ministério dos Petróleos de Angola só permite o uso de dispersantes se o produto derramado
estiver distante da praia e a uma profundidade de 20 m. Devido às várias discussões que têm

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
existido acerca do uso de dispersantes a nível internacional, algumas empresas petrolíferas já não
estão a utilizar este método para o combate a derrames;

- Recolha dos produtos do derrame utilizando meios mecânicos, principalmente barcos.

Por falta de dados registados sobre os derrames, quantidade e tipos de produtos derramados, não
foi possível organizar uma tabela sistematizando as ocorrências destas situações em Angola.

Os métodos de tratamento dos resíduos de derrames recolhidos incluem:

- Processos térmicos - tal como a incineração;

- Processos químicos - tal como a neutralização da matéria residual;

- Processos de biodegradação - tal como o processo de uso de tratamento biológico de solos


contaminados com óleo e a compostagem.

Os métodos de tratamento podem reduzir o volume ou os potenciais efeitos adversos antes da


reutilização, reciclagem ou eliminação.

É ainda ponderada a eliminação destes resíduos, desde que tal seja prática e economicamente
viável, e após terem sido considerados e integrados todos os métodos já referidos. Os métodos de
eliminação incluem a deposição em aterros sanitários e o enterramento.

Existem vários métodos para melhorar os solos contaminados com os produtos de derrames
petrolíferos, tendo em vista minimizar danos na saúde humana, ou provocar efeitos biológicos e
ecológicos adversos. Alguns desses métodos são:

- Melhoramento biológico;

- Melhoramento fitossanitário - uso de plantas;

- Composto;

- Incineração;

- Melhoramento biológico; pode ser efectuado no lugar onde o derrame aconteceu e pressupõe
autorização das entidades competente.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni

III.2.2 - Outras indústrias extractivas

Existem diversas áreas onde se praticou a extracção mineral e que hoje se encontram
abandonadas e fortemente degradadas, nomeadamente:

- Províncias de Lunda Norte, Lunda Sul, Malanje e Bié - para a exploração de diamantes;
procede-se a desvios dos cursos de rios sem posterior reposição dos cursos iniciais, alteram-se
paisagens, destrói-se fauna e flora; durante o tratamento mineiro (cascalho) poluem-se as águas:
os finos são encaminhados para o rio sem purificação, com impacte até no país vizinho, a
República Democrática do Congo;

- Províncias da Huíla e Namibe - as jazidas exploradas de granito e mármore são abandonadas


sem a adequada recuperação; amontoa-se uma enorme quantidade de resíduos rochosos, que
poderiam, inclusive, ser empregues na construção de estradas e caminhos-de-ferro.

As maiores ameaças a uma gestão sustentável dos recursos minerais são:

- Exploração massiva sem os antecedentes estudos sobre potenciais e reservas existentes;

- Exploração fraudulenta e falta de sensibilização dos garimpeiros para reportar os recursos


encontrados;

- Ausência de planos de reposição de cobertura vegetal após a exploração e

- Ausência de controlo de poluição para os rios durante a limpeza de minérios.

É urgente a preparação de planos concretos de remediação dos impactes negativos no ambiente


das minas em exploração ou abandonadas, assim como estratégias para uma exploração
sustentável destes recursos, numa perspectiva de prevenção e minimização, na origem, dessas
situações.

III.3 - INDÚSTRIA TRANSFORMADORA

A indústria transformadora foi um dos sectores mais fortemente atingidos pela eclosão da guerra
e pelo êxodo dos Portugueses em 1975. Nos dois anos seguintes grande parte da indústria foi

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
total ou parcialmente estatizada, pertencendo, em 1987, 43% das empresas ao estado. A
produção decaio ¾ em 1975 – 1976 e embora tivesse havido uma recuperação parcial entre 1977
e 1983, um novo declínio surgiu em meados dos anos 80 e prosseguiu no início da década de 90.
Contudo, foi nesta altura em que muitas pequenas empresas estatais começaram a ser
privatizadas. Em 1993, grande parte da indústria transformadora estava a laborar a 20% ou 30%
da capacidade disponível.

O governo privatizou várias empresas estatais que estavam a dar prejuízos e que acabaram, em
muitos casos, por ficar nas mãos de entidades que sem suficiente capacidade técnica ou
financeira para as gerir. A industria transformadora está a funcionar bastante abaixo do se u
potencial, o relançamento da indústria transformadora pressupõe a existência de um conjunto de
infra-estruturas - rodoviárias, água e saneamento, energia, etc -, até agora subdimensionadas,
insuficientes. Pressupõe ainda um clima político de paz e o correcto funcionamento das
instituições, bem como um enquadramento legal claro e garante dos direitos de propriedade.
Finalmente, refira-se a necessidade de apostar na qualificação dos recursos humanos, que
permita responder atempadamente aos desafios que o processo de industrialização vai colocando.

III.3.1 - Pólos de Desenvolvimento Industrial (PDI) e Zonas Económicas Especiais (ZEE)

Os pólos de desenvolvimento industrial (PDI) consistem em zonas devidamente equipadas em


termos de infra-estruturas básicas industriais: água, energia, telecomunicações, acessos
rodoviários e/ou ferroviários, tratamento de efluentes industriais, entre outras. As empresas aqui
instaladas usufruem de um conjunto de benefícios fiscais, subvenções a fundo perdido, preço
bonificado do solo industrial e outras vantagens. Os PDIs têm a vantagem de permitir concentrar
a actividade industrial em zonas devidamente equipadas com infra-estruturas industriais
necessárias ao correcto desenvolvimento da actividade, o que se consegue de forma mais rápida
e eficiente do que se as unidades industriais se encontrassem dispersas. A opção por este modelo
permite a mais fácil integração das actividades relacionadas, permitindo a geração de sinergias, a
gestão integrada dos recursos, donde resultará um aumento da produtividade e a competitividade
das indústrias. Finalmente, refira-se que este modelo tem ainda a vantagem de permitir o
desenvolvimento na região de outros sectores de actividade a montante, nomeadamente ao nível
da construção civil, do sector financeiro, entre outros.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Face aos objectivos traçados no processo de re- industrialização, os PDIs estão a ser
desenvolvidos tendo como prioridade o desenvolvimento das indústrias ligadas à agricultura,
transformação de madeira, petroquímica e siderúrgicas, respondendo às necessidades da
construção civil no país. Nos próximos anos, o Governo propõe-se a desenvolver os pólos já
existentes, bem como à criação de outros. Numa primeira fase, os novos pólos previstos
concentram-se junto ao litoral. Está prevista a instalação de PDIs nas províncias de Benguela,
Cabinda, Luanda e Lubango.

Estas localizações correspondem a zonas onde se situam os principais mercados consumidores


do país, proximidade a fontes de energia, vizinhança de portos e aeroportos, existência de vias de
acesso rodoviário e ferroviário, proximidade das capitais das respectivas províncias. Numa
primeira fase, a aposta centra-se nos pólos mais juntos à zona litoral, mas o objectivo é avançar
com a mesma estratégia para o interior do país, acompanhando as melhorias que forem sendo
alcançadas ao nível das infra-estruturas, vias de comunicação, etc. Assim, o Programa do
Governo prevê a implementação de PDIs em várias regiões para a produção de matérias-primas
locais, de que Angola dispõe em abundância. Alguns pólos industriais têm surgido situados junto
de zonas com forte potencial agrícola. Desta forma, os pólos agro-industrias permitirão também
a melhoria das condições e qualidade de vida dessas populações, criando condições para as fixar,
corrigindo os efeitos nefastos do êxodo rural que se observou nos últimos anos e que levaram ao
congestionamento nos principais centros urbanos.

Actualmente, Angola já dispõe de três pólos industriais. O mais antigo pólo de Futila (província
de Cabinda) que se localizará a 25 km a norte da cidade de Cabinda na planície de Malongo, o
Pólo de Desenvolvimento Industrial de Viana (província de Luanda) encontra-se numa província
onde se concentra cerca de 75% da capacidade industrial do país, e é aqui que se situa o principal
mercado consumidor do país.

Outro PDI em franco desenvolvimento é o de Catumbela (província de Benguela), que se


encontra a dar os primeiros passos. Notícias veiculadas na imprensa local já este mês davam
conta de mais de 400 pedidos de licenciamento de espaços industriais neste pólo, dos quais 80 já
dispõem de autorização para iniciar a actividade. O bom estado das vias rodoviárias e a
perspectiva de que a linha ferroviária de Benguela seja reactivada brevemente têm levado a uma
maior interesse dos investidores por este pólo. Esta região (eixo entre as cidades de Lobito e

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Benguela) já dispõe de algumas indústrias em funcionamento (ex. Coca-Cola, Cuca BGI e
SOBA Catumbela).

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
UNIDADE IV - SECTOR ENERGÉTICO

O sector energético tem um papel crucial no desenvolvimento social e económico de um país ou


região. A produção, distribuição e utilização de energia estão, no entanto, também na origem de
vários problemas ambientais, associados sobretudo às emissões de poluentes para a atmosfera.

A Empresa Nacional de Electricidade (ENE) é responsável por toda a energia eléctrica produzida
no país, à excepção da barragem da Lunda Sul, na qual detém 45% 6 . A ENE fornece energia a 13
das 16 províncias, sendo que as províncias do Zaire, Kunene, Kuando Cubango dependem
totalmente da energia fornecida pelos seus municípios. A província melhor servida é Cabinda,
mas esta constitui uma excepção devido às companhias petrolíferas que fornecem energia à
população.

As principais fontes energéticas actuais em Angola são o petróleo, a hidroelectricidade e a


biomassa.

A produção petrolífera encontra-se em expansão no país, principalmente para exportação (cf.


secção sobre o Sector Industrial do Capítulo 3).

Apesar do enorme potencial hidroeléctrico associado a um conjunto de rios caudalosos que


atravessam o território, menos de 10% é explorado. Levantamentos efectuados durante o tempo
colonial apontavam para um potencial na área da grande hídrica na ordem de 150 000 GW/ano,
indicando que os 1 200-1 500 GW/ano gerados hoje em dia representam menos de 1%.

Actualmente estão em operação 3 grandes sistemas:

O Sistema Norte, que se ia confrontando com a perda de capacidade da central de Cambambe


na época das secas por não contar com um reservatório suficientemente grande, apresenta agora
um excesso de produção com a nova central de Capanda, em Malanje. Esta barragem, com
potência de 520 MW, permitirá duplicar a capacidade do país, gerando 2 400 milhões de kW por
ano, e inclusive exportar este tipo de energia a nível regional. Localizada na bacia do rio
Kwanza, no norte de Angola, a barragem poderá beneficiar os três sistemas hidroeléctricos de
geração de energia existentes no país. Capanda é fundamental também para permitir que o país

6
O empreendimento foi financiado pela multinac ional diamantífera russa Alrosa a barragem vai fornecer igualmente águas
para agr icultura e fomentar a piscicultura.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
viabilize outros sete aproveitamentos hidroeléctricos no rio Kwanza, graças ao seu reservatório,
com volume de 4 518 000 m3 e uma área inundada de 164 km2, que permitirão a regularização
da vazão do rio a 500m³/s durante todo o ano. A cota máxima de montante de Capanda será de
950 metros e a cota média de jusante de 853 metros. Há que referir que neste projecto se dedicou
uma especial atenção ao seu impacte ambiental, considerando tratar-se de um reservatório com
uma área superior a 160 km2. Este cuidado reflectiu-se concretamente na preservação de cerca
de 1 700 animais no Centro de Protecção Ambiental de Capanda, onde também se encontra um
banco de sementes e mudas; uma colecção de material científico ficou a cargo do Museu de
História Natural de Luanda.

O Sistema Centro, que é alimentado por diversas barragens hidroeléctricas, entre as quais
Lomaum e Matala, que enfrentam actualmente muitos problemas mas que são responsáveis pela
produção de energia para as regiões central e sul do país, respectivamente. Estudos indicam que
a central de Biópio será insuficiente para dar resposta ao desenvolvimento que se espera na
província do Huambo.

O Sistema Sul que compreende barragens como Ondjiva, Matala e Lubango.

Por outro lado, na Lunda Sul, está a ser construída uma central de 20 MW por um investidor
privado que fornecerá 18 MW a uma mina de diamantes e 2 MW à área circundante,
nomeadamente a Lucapa e Saurimo.

Serão necessários estudos para a planificação de um sistema integral que ligue os actuais sub-
sistemas.

Têm sido levadas a cabo reparações das linhas de transmissão e está prevista a construção de
novas linhas para abastecer Luanda. No entanto, a rede eléctrica angolana continua destruída em
muitas zonas do país, reflectindo o legado das mais de 3 décadas de conflito armado que
assolaram o país, assim como um quadro institucional ainda inadequado para a gestão dos
recursos energéticos.

O fornecimento de energia eléctrica faz-se apenas a uma pequena percentagem da população


(actualmente cerca de 20%), fundamentalmente nos centros urbanos, e mesmo essa faz-se de
modo intermitente, levando a que pessoas e empresas recorram a geradores independentes.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Actualmente a Empresa de Distribuição de Electricidade (EDEL) estima que os bairros em redor
de Luanda consomam cerca de 80% do total da energia que se consome em Angola, o que
corresponde a aproximadamente 1 600 Gw/h. Desta energia a EDEL reporta que 60%
corresponde a consumo doméstico. No entanto a EDEL depara-se com o grave problema dos
consumidores não reportados. Está em curso o registo dos consumidores no sentido de aumentar
os recursos da EDEL, que serão aplicados na melhoria do sistema.

O consumo per capita de electricidade estimado para Angola é de 97 kWh/ano, valor muito
inferior aos 650 kWh/ano na Namíbia ou 550 kWh/ano Zâmbia.

O MINEA aprovou em 2002 a Estratégia para o Sector Energético, que projecta um crescimento
de produção e de capacidade para os horizontes de 2006, 2011 e 2016.

Projecta igualmente que o acesso da população à energia eléctrica aumentará para 28% em 2006,
36% em 2011 e 46% em 2016. No entanto a Estratégia é parca em dados e não descreve
integralmente como será efectuado este crescimento.

A Direcção Nacional de Energia reconhece o imenso potencial das energias renováveis em


Angola, nomeadamente da energia solar e da hidroelectricidade para pequenos e médios cursos
de água. No entanto, até à data, não são conhecidos levantamentos exaustivos nesta matéria.

As informações sobre a produção, a procura e o consumo de energia em Angola são escassas,


apesar de algumas tentativas terem sido feitas nos últimos anos pela SADC, por algumas
instituições governamentais e por ONG. No entanto, e pelo que atrás se disse, a situação
energética no país é precária.

Para a maioria dos angolanos (aproximadamente 70%) a principal fonte energética é a madeira
(fig.25e26) – lenha e carvão –, sendo o consumo de carvão vegetal 100% para fins domésticos.
De uma breve análise dos dados disponíveis, ressalta que a política em vigor não estimula a
substituição da lenha e do carvão por outras fontes de energia, ou a introdução de técnicas
melhoradas de produção e distribuição de carvão.

Este consumo ocorre principalmente nas imediações das concentrações urbanas, resultado do
crescimento demográfico originado pela migração do meio rural para meio urbano e acelerado
pela guerra.

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni

Gráfico 27 – Consumo de energia para fins domésticos

NOTA: Outros= electricidade, gás, petróleo, gasolina, e gasóleo

Fonte: SADC Energy Statistics Yearbook (1989)

Gráfico 28 – Consumo de lenha em Angola e na média dos países da SADC

Fonte: SADC Energy Statistics Yearbook (1989)

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
Segundo dados do balanço energético, publicado em 1992 pela Secretaria de Estado de Energia e
Águas, o consumo de lenha e carvão representa 56,8% do consumo de energia total, seguido do
petróleo iluminante com 41,7%, da electricidade com 1,45% e do gás natural com apenas 0,1%.

A procura anual de lenha e carvão ‘e estimada em 6 milhões metros cúbicos.

Gráfico 29 – Produção nacional anual de lenha e carvão nos últimos 10 anos – produção formal

Fonte: IDF (2004)

A exploração formal de lenha e carvão é feita por concessionários licenciados pelo Instituto de
Desenvolvimento Florestal (IDF). Há, contudo, que ter presente a exploração informal que é
praticada em maior escala e atinge volumes de produção maiores. Esta actividade decorre fora do
controlo das autoridades competentes e constitui uma série ameaça à sustentabilidade dos
recursos florestais dado o elevado número de pessoas que a ela se dedica, bem como aos níveis
de devastação da floresta a ela associados.

A cadeia de produção está constituída da seguinte forma: produção, transporte, distribuição e


comercialização. Luanda e seus arredores, por exemplo, são os grandes centros de

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
comercialização do carvão e da lenha provenientes das províncias do Bengo, Kwanza Norte e
Kwanza Sul. Naturalmente que a sua produção é incentivada por encontrarem um grande
mercado favorável, onde se pode vender durante todo ano e onde os preços conhecem uma alta
na época chuvosa.

Na região sul do país, existe uma grande cadeia de produção e comercialização informal de
carvão localizada nas províncias do Namibe, Benguela, Huíla e Kunene. Os elevados volumes de
carvão e lenha associada à forma como se exerce a actividade tem vindo a assumir contornos
alarmantes. Existe um risco alto da degradação da base dos recursos da região, a qual é
constituída por um ecossistema natural frágil.

Em todo o país o processo utilizado na fabricação do carvão (conversão calorífica da lenha)


obedece a esquemas de fabrico tradicional, através da escavação de enormes fossos (fornos)
subterrâneos, os quais são depois cobertos com capim e bastante areia, o que influencia bastante
nos rendimentos e na qualidade do produto final. Estima-se que utilizando o método artesanal o
rendimento varia entre 10% a 15%, equivalente entre 50 a 75 kg de carvão por cada estere de
lenha queimada (cerca de 0,8 m3 de lenha).

Utilizando o método industrial, o rendimento é de 30% a 33% equivalente a 150 – 165 kg de


carvão por cada estere de lenha. Daí a importância da introdução e utilização de técnicas
modernas de conversão da lenha em carvão.

Por outro lado, os fogareiros tradicionais normalmente utilizados pela populaçã oangolana
também são pouco condizentes com a economia de consumo de energia. A combustão do carvão
nestes fogareiros é assegurada pela utilização de consideráveis quantidades de carvão devido a
forma rudimentar de fabricação desses instrumentos.

Daí a importância da introdução e utilização de fogareiros modernos com base nas experiências
existentes em alguns dos países da região do Sahel.

Nesta conformidade, o IDF, com o apoio da FAO, desenvolveu, em 2003, uma experiência piloto
de introdução de tecnologias modernas de fabricação de carvão e fogareiros melhorados nas
províncias do Bengo, Luanda e Huambo cujos resultados preliminares foram tecnicamente

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Geografia Económica de Angola (ISCED Benguela) Manuel Caca Toni
considerados satisfatórios. Está em falta uma estratégia de divulgação e utilização dos benefícios
dessas novas tecnologias.

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SIGLAS

EIU - Economist Intelligence Unit

ENDIAMA – Empresa nacional de diamantes de Angola

FAO – Organização das nações unidas para alimentação e agricultura

IDF – Instituto de desenvolvimento florestal

INE – Instituto nacional de estatística

INIP – Instituto nacional de investigação Pesqueira

IPA – Instituto pesqueiro de Angola

MINUA – Ministério do urbanismo e Ambiente

ONU – Organização das nações unidas

PAM – Programa alimentar mundial

PIB – Produto interno bruto

PNGA – Programa nacional de gestão ambiental

UNICEF – Fundo das nações unidas para a infância

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