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O autoconhecimento na terapia
comportamental re is o
conceitual e recursos
terap uticos como sugest o de
inter en o
Esequias Caetano de Almeida Neto Denise Lettieri

Poucos discordariam que um repertório refinado de autoconhecimento coloca o


indiv duo em situaç o vantajosa em relaç o a seu mundo f sico e social. Alguém
que saiba reconhecer a sensaç o de fome mais provavelmente irá buscar comida
no momento adequado e, assim, eliminar a fome. Alguém que saiba identificar
quais condições s o capa es de lhe gerar sentimentos agradáveis terá mais
facilidade para criar ocasiões para experimentá-los e, assim, sentir-se melhor.
Uma pessoa capa de perceber quais comportamentos seus geram mais
aproximaç o ou afastamento em suas relações interpesso ais mais facilmente
conseguirá se relacionar de maneira satisfatória com outras pessoas. Conforme
di ia Skinner (1974/2000 , uma pessoa que se tornou consciente de si mesma
(... está em melhor posiç o de prever e controlar seu próprio comportamento
(p. 31 .
Ser consciente de si mesmo, no entanto, é um comportamento e, como tal,
depende de aprendi agem aprendi agem esta que só ocorre por meio da
interaç o com uma comunidade verbal (Sério, 1999 . Skinner (1974/2000
pontua que o grupo social do indiv duo é o responsável por ensiná-lo a
identificar, nomear e relatar os seus (outros comportamentos e as variáveis das
quais s o funç o. Assim, o processo por meio do qual o ensino das
autodescrições ocorre é semelhante àquele em que se aprende a falar sobre as
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coisas do mundo: envolve a imitaç o das descrições fornecidas por outras LEITURAS RECOMENDADAS
pessoas (Malerbi Matos, 1992 Skinner, 1953/2003 e o reforço diferencial de
Del Prette, G. (2011 . Treino didático de análise de conting ncias e previs o de intervenções sobre as
respostas verbais descritivas emitidas pelo indiv duo, os tatos (Malerbi Matos, consequ ncias do responder . Perspectivas em Análise do Comportamento, 2 (1 , 53-71.
1992 Tourinho, 2006 .
Matos, M. A. (2001 . Comportamento governado por regras. Revista Brasileira de Terapia Comportamental
A modelaç o, também chamada de aprendi agem por modelo, é necessária e Cognitiva, 3 (2 , 51-66.
para que a pessoa desenvolva seu vocabulário. Por exemplo, a criança n o nasce
sabendo a palavra bola , t o pouco nasce sabendo pronunciá-la especificamente
diante do contexto-objeto bola . Ela aprende a fa -lo por meio da observaç o
e imitaç o de outros indiv duos que, enquanto brincam, apontam, seguram ou
falam sobre a bola, emitem o operante verbal bola e produ em reforçadores
com isso (Fig. 5.1 .

Figura 5.1 Ilustra o do primeiro processo comportamental envolvido no desenvolvimento do


vocabulário. Observe que, ao imitar o operante verbal bola no contexto objeto bola , a crian a
também entra em contato com refor adores sociais. Esse contato é essencial para que o
comportamento de di er bola volte a ocorrer e continue sendo refor ado.

O reforço diferencial, por sua ve , consiste em apresentar reforçadores para


um comportamento espec fico, e n o para outros, em um determinado contexto
(Lampreia, 1992 . o que ocorre, por exemplo, quando o operante verbal bola
é reforçado diante do objeto bola , mas os operantes verbais cadeira , carro
e casa s o colocados em extinç o ou punidos ou, ainda, reforçados
respectivamente na presença de uma cadeira, um carro ou uma casa. Com o
tempo e com a repetiç o de conting ncias de reforço diferencial como estas,
cada um dos est mulos adquire funç o discriminativa para a resposta verbal
reforçada em sua presença (Moreira Medeiros, 2007 . Dessa forma,
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Lampreia, C. (1992 . As Propostas Anti-Mentalistas no Desenvolvimento Cognitivo Uma discuss o de seus aprendemos a chamar a bola de bola , a cadeira de cadeira , o carro de carro
limites. Tese de Doutorado, Departamento de Psicologia, Pontif cia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, RJ. e a casa de casa (Fig. 5.2 .
Linehan, M. (2010 . Terapia Cognitivo-Comportamental para Transtorno da Personalidade Borderline.
Porto Alegre: Artmed.
Malerbi, F. E., Matos, M. A. (1992 . A análise do comportamento verbal e a aquisiç o de repertórios
autodescritivos de eventos privados. Psicologia Teoria e Pesquisa, 8 (3 , 407-421.
Medeiros, C. A., Medeiros, N. N. F. A. (2011 . Psicoterapia Comportamental Pragmática: uma terapia
comportamental menos diretiva. In C. V. B. B. Pessoa, C. E. Costa, M. F. Benvenuti (Orgs. ,
Comportamento em Foco (Vol. 1, pp. 417-436 . S o Paulo: ABPMC.
Meyer, S. B. (2000 . Mudamos, em terapia verbal, o controle de est mulos Acta Comportamentalia, 8 (2 ,
215-225.
Meyer, S. B. (2003 . Análise funcional do comportamento. In Costa, C. E Lu ia, J. C. Sant Anna, H. H. N.
Primeiros Passos em Análise do Comportamento e Cogni o. Santo André, ESETec, pp. 75-91.
Moreira, M. B., Medeiros, C. A. (2007 . Princ pios Básicos da Análise do Comportamento. Porto Alegre:
Artmed.
Murta, S. G. (2005 . Aplicações do Treinamento em Habilidades Sociais: Análise da produç o nacional.
Psicologia Reflex o e Cr tica, 18 (2 , 283-291.
Figura 5.2 Ilustra o do processo de refor o diferencial, no qual apenas o operante verbal bola
Rodrigues, T. S. P., Dittrich, A. (2007 . Um diálogo entre um crist o ortodoxo e um behaviorista radical. é refor ado diante do contexto objeto bola .
Psicologia Ci ncia e Profiss o, 27 (3 , 522-537.
Saban, M. T. (2011 . Introdu o à Terapia de Aceita o e Compromisso. Santo André: ESETec.
O processo pode parecer simples: 1 a criança observa outras pessoas
Sério, T. M. A. P. (1999 . A concepç o de homem e a busca de autoconhecimento: Onde está o problema
In R. A. Banaco (Org. , Sobre Comportamento e Cogni o Aspectos te ricos, metodol gicos e de di endo palavras ou frases espec ficas na presença de determinados est mulos e
forma o em Análise do Comportamento e Terapia Cognitivista (Vol. 1, pp. 209-216 . Santo André: tendo seu comportamento reforçado ao fa -lo 2 a criança di aquelas mesmas
ARBytes. palavras ou frases na presença daqueles mesmos est mulos ou de est mulos
Skinner, B. F. (1978 . O Comportamento Verbal (M. da P. Villalobos, trad. . S o Paulo: Cultrix. (Obra semelhantes 3 a criança tem seu comportamento reforçado ao fa -lo e 4
originalmente publicada em 1957 .
aqueles est mulos adquirem funç o discriminativa para o comportamento da
Skinner, B. F. (1991 . Quest es recentes na Análise Comportamental (A. L. Neri, trad. . Campinas: Papirus.
(Originalmente publicado em 1989 .
criança. De fato, a conting ncia pode n o ser t o complexa enquanto estamos
falando da descriç o de est mulos p blicos, como lugares, cores, formas, pessoas
Skinner, B. F. (2000 . Ci ncia e Comportamento Humano (J. C. Todorov, R. A i, trads. . S o Paulo:
Martins Fontes. (Obra originalmente publicada em 1953 . ou outros aos quais tanto a criança quanto a comunidade verbal t m acesso.
Skinner, B. F. (2000 . Sobre o Behaviorismo (M. da P. Villalobos, trad. . S o Paulo: Cultrix. (Obra Nesses casos, é fácil o agente reforçador se certificar de que está reforçando a
originalmente publicada em 1974 . resposta adequada à situaç o.
Tourinho, E. Z. (1995 . O Autoconhecimento na Psicologia Comportamental de B. F. Skinner. Belém: Problemas espec ficos surgem, no entanto, quando nos referimos ao processo
UFPA.
pelo qual aprendemos a relatar eventos privados como as emoções, os
Tourinho, E. Z. (1999 . Privacidade, Comportamento e o Conceito de Ambiente Interno. In R. A. Banaco sentimentos e as sensações corporais, aos quais apenas o próprio indiv duo tem
(Org. , Sobre Comportamento e Cogni o Aspectos te ricos, metodol gicos e de forma o em Análise do
Comportamento e Terapia Cognitivista (Vol. 2, pp. 217-229 . Santo André: ARBytes. acesso (Baum, 1994/1999 . Nesses casos, a comunidade verbal n o tem como se
Tourinho, E. Z. (2006 . O autoconhecimento na Psicologia Comportamental de B. F. Skinner. Santo André: certificar de que está reforçando as respostas adequadas à ocasi o, e, como efeito
ESETec. disso, frequentemente as pessoas aprendem a dar nomes diferentes às mesmas
sensações ou, em casos extremos, simplesmente n o aprendem a nomeá-las.
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Muitos clientes, quando questionados sobre como se sentem em relaç o a que o material apresentado no cap tulo possa contribuir para o enriquecimento
algo sobre o que est o falando, s o capa es apenas de di er bem / mal , acad mico e profissional dos interessados no tema por se tratar de um assunto de
bom / ruim , sem dar nomes como triste a, alegria, raiva, tranquilidade, grande importância na prática cl nica.
ang stia ou pa . Outros, sequer di em algo. N o s o raros, também, os casos em
que a emoç o é nomeada de forma pouco coerente com a conting ncia. Foi o
NOTAS
que ocorreu com uma cliente de 17 anos atendida por um dos autores do
cap tulo, chamada aqui de Ana (nome fict cio . 1. O questionamento reflexivo é um dos principais procedimentos da psicoterapia comportamental
pragmática (PCP e, de acordo com Medeiros e Medeiros (2011 , trata-se de um procedimento
Na primeira sess o, Ana relatou que, quando via seus pais se beijando ou se
inspirado no diálogo socrático. Além de visar a gerar autorregras, o questionamento reflexivo
abraçando, sentia ci me . Explicou ainda que aquela emoç o só era também se destina a aperfeiçoar o controle discriminativo da conting ncia sobre as respostas verbais
experimentada enquanto estava olhando na direç o dos pais caso n o estivesse do cliente.
presente no ambiente ou olhasse em outra direç o, por exemplo, já n o sentia o 2. De acordo com Linehan (2010 , a ess ncia da validaç o consiste em o terapeuta comunicar ao
ci me . Porém, após alguns questionamentos do terapeuta, concluiu que sua paciente que suas respostas (p blicas ou privadas fa em sentido e s o compreens veis dentro de seu
contexto ou situaç o de vida atual. Tem como objetivo final levar o paciente a desenvolver aceitaç o
sensaç o poderia ser melhor nomeada como vergonha , uma emoç o bastante e a redu ir o julgamento dos próprios comportamentos.
diferente do ci me . Após maiores investigações, descobriu-se que Ana havia 3. O cap tulo de Silva e Bravin, neste livro, também apresenta estratégias que o analista
aprendido a nomear aquela emoç o como ci me por meio dos modelos dados comportamental cl nico pode utili ar para o desenvolvimento do autoconhecimento.
por um agente espec fico de sua comunidade verbal, a m e, que gostava muito 4. O cap tulo de Lima e de-Farias, neste livro, exemplifica metáforas utili adas em cl nica.
de ler sobre Psicanálise e interpretou a emoç o da filha de acordo com o que
havia compreendido da teoria do Complexo de dipo .
REFER NCIAS
O fato é que, em detrimento de dificuldades como essa, a comunidade verbal
é capa de ensinar a criança a nomear suas emoções de alguma forma. Skinner Banaco, R. A. (1999 . Técnicas cognitivo-comportamentais e análise funcional. In R. R. Kerbauy, R. C.
(1953/2003 enumera quatro estratégias por meio das quais esse processo pode Wielenska (Orgs. , Sobre Comportamento e Cogni o Psicologia comportamental e cognitiva da
reflex o te rica à diversidade na aplica o (Vol. 4, pp. 75-82 . Santo André: ARBytes.
ocorrer. Essas estratégias s o explicadas a seguir.
Baum, W. M. (1999 . Compreender o Behaviorismo Ci ncia, comportamento e cultura. (M. T. Silva, M. A.
Matos, G. Y. Tomanari, trads. . Porto Alegre: Artmed. (Obra originalmente publicada em 1994 .

ENSINO COM BASE EM EST MULOS P BLICOS Delitti, M. (1997 . Análise Funcional: O comportamento do cliente como foco da análise funcional. In M.
Delitti (Org. , Sobre Comportamento e Cogni o A prática da Análise do Comportamento e da Terapia
ASSOCIADOS AO EST MULO PRIVADO Cognitivo-comportamental (Vol. 2, pp. 33-45 . Santo André: ARBytes.
Del Prette, G., Almeida, T. A. C. (2012 . O uso de técnicas na cl nica Anal tico-comportamental. In N. B.
A comunidade verbal observa algum elemento do contexto e o utili a como Borges, F. A. Cassas (Orgs. , Cl nica Anal tico-comportamental Aspectos te ricos e práticos (pp. 147-
refer ncia para dar nome àquilo que possivelmente a criança está sentindo. o 159 . Porto Alegre. Artmed
que ocorre, por exemplo, quando o adulto questiona a criança se ela sente dor ao Guedes, M. L. (1999 . O Comportamento Governado por Regras na Prática Cl nica: Um in cio de reflex o.
observá-la cair da bicicleta. Na ocasi o, a resposta do adulto é emitida sob In R. A. Banaco (Org. , Sobre Comportamento e Cogni o Aspectos te ricos, metodol gicos e de
forma o em Análise do Comportamento e Terapia Cognitivista (Vol. 2, pp. 217-229 . Santo André:
controle da queda que é o que ele tem acesso e n o das sensações que a ARBytes.
criança tem privadamente. Isso é o bastante, porém, para que a criança imite a Hayes, S. C., Strosahl, K., Wilson, K. G. (2011 . Acc eptance and Commitment Therapy The process
palavra dor (ou qualquer outra dita naquela situaç o e seu comportamento and practice of mindful change (2. ed. . New York: Guilford Press
seja reforçado com cuidados ou atenç o. Em ra o do reforço apresentado, o Kohlenberg, R. J. Tsai, M. (2001 . Psicoterapia Anal tica Funcional Criando rela es terap uticas
contexto ao qual a criança está exposta ao di er dor adquire funç o intensas e curativas (F. Conte, M. Delitti, M. Z. da S. Brand o, P. R. Derdyk, R. R. Kerbauy, R. C.
Wielenska,... R. Starling, trads. . Santo André: ESETec. (Obra originalmente publicada em 1991 .
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Em outras palavras, um comportamento que fracassou n o transformaria quem o discriminativa para seu comportamento. Mas a quest o é: a qual contexto,
emitiu em um fracassado. exatamente, a criança está exposta
Diferente do adulto, que só consegue ter acesso à queda, a criança é capa
Como utili ar: pedir que o cliente, usando figuras recortadas de revistas (o também de sentir o que ocorre em seu corpo de forma privada naquela ocasi o.
terapeuta pode recortar algumas imagens antes da sess o ou pode solicitar que o Essas sensações, presentes no momento em que a resposta verbal dor foi
cliente faça isso, ele mesmo, durante a sess o de terapia , lembre-se de reforçada, também adquirem funç o discriminativa e, no futuro, poder o servir
experi ncias vividas no passado. O cliente deve ser orientado a recortar imagens como contexto para que o indiv duo relate estar sentindo dor. Conforme explica
de momentos em que as coisas ocorreram de acordo com as suas expectativas e Tourinho (1995 , por meio desse processo, a estimulaç o privada adquire
de momentos em que ele n o atingiu o objetivo esperado, assim como momentos controle da resposta verbal, ainda que quem ensinou essa resposta o tenha feito
em que ele recebeu elogios ou foi criticado. Depois de selecionadas as imagens, com base em um est mulo p blico (a queda .
o cliente deverá explicar cada uma delas. O terapeuta deve ajudar o cliente a
ficar em contato com as conting ncias que fa iam parte da sua vida no momento
descrito, de modo a ampliar a sua sensibilidade para o que foi determinante para REFOR O DA RESPOSTA VERBAL AO EST MULO
as consequ ncias com as quais ele entrou em contato. PRIVADO NA PRESEN A DE OUTRAS RESPOSTAS
COLATERAIS P BLICAS
En elope dos sentimentos
A comunidade verbal observa alguma resposta p blica associada à estimulaç o
Objetivo: criar condições para que o cliente aprenda a identificar suas emoções. privada e, com base nela, di um nome para o que a criança possivelmente está
sentindo. Um exemplo t pico desse processo é o choro. Ao observar a criança
Como utili ar: escrever em tiras de papéis os nomes de alguns sentimentos, chorar, a m e pode di er: Voc está triste e, com isso, criar contexto para que
como amor, ódio, raiva, alegria, felicidade, pa , tranquilidade, ci mes, triste a, a criança diga a palavra triste e produ a reforçadores por isso, ao mesmo
etc. Colocar todas as tirinhas dentro de um envelope e pedir para o cliente ir tempo em que experimenta uma estimulaç o privada espec fica. Com tudo mais
tirando aleatoriamente cada uma e ler em vo alta o sentimento descrito. O igual, aquela estimulaç o privada adquire funç o discriminativa para o relato de
terapeuta pode fa er perguntas direcionadas à vida do cliente de modo geral ou a triste a.
um contexto espec fico, como: Qual foi a ltima ve que sentiu isso na sua Um problema caracter stico da segunda estratégia citada por Skinner é que
vida ou Qual foi a ltima ve que sentiu isso no seu casamento . nem sempre a resposta p blica ocorre na presença da estimulaç o privada
inferida (Malerbi Matos, 1992 . Seguindo o exemplo do autor, nem sempre o
choro ocorre na presença de triste a. Ele pode ocorrer em ra o de dor, medo ou,
CONSIDERA ES FINAIS ainda, pode ter funç o de esquiva de demanda ou obtenç o de vantagens.
Procuramos aqui tra er alternativas com o intuito de auxiliar o psicólogo a
ampliar suas possibilidades de atuaç o de modo a produ ir ferramentas para REFOR O DAS DESCRI ES QUE O INDIV DUO FA DO
desenvolver o repertório de autoconhecimento em seus clientes. A escolha de PR PRIO COMPORTAMENTO
uma ou outra ferramenta, conforme já comentado, deve se basear na análise
funcional do caso. Cada uma dessas estratégias pode ser utili ada de diversas Essa estratégia se refere ao reforço da descriç o que o indiv duo fa de seu
formas, dependendo, também, da análise funcional reali ada. O terapeuta, próprio comportamento p blico em reaç o a est mulos privados (Malerbi
portanto, pode se sentir livre para adaptá-las ou criar novas estratégias a partir Matos, 1992 , como quando ele di , por exemplo, estou desatento enquanto
delas tomando como refer ncia a avaliaç o do caso. Dessa maneira, espera-se olha para várias direções ou muda abruptamente de um assunto para outro.
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Conforme explica Tourinho (1995 , a comunidade pode reforçar a verbali aç o Objetivo: criar condições para que o cliente aprenda n o só a identificar suas
com base na observaç o de seus comportamentos p blicos de desatenç o , emoções, mas, principalmente, a falar sobre elas. Esse também é um bom
enquanto para o indiv duo os est mulos proprioceptivos (privados (p. ex., a recurso para ajudar o cliente a dessensibili ar os respondentes eliciados quando
aceleraç o do pensamento e sensaç o de agitaç o , envolvidos naquele precisa expor o que pensa, falar sobre o que sente, fa er solicitações ou dar
comportamento, também podem adquirir controle discriminativo para a resposta instruções.
verbal estou desatento .
importante destacar que, diferentemente do que ocorre com as estratégias Como utili ar: escrever uma carta di endo tudo o que gostaria de di er para
anteriores, essa estratégia requer que o indiv duo já possua um repertório alguém e que n o consegue di er pessoalmente. Orientar para que o cliente
autodescritivo m nimo (Malerbi Matos, 1992 ou, em outras palavras, exige escreva como se fosse uma conversa com a pessoa. Pode ser alguém que seja o
que o sujeito já tenha passado pela aprendi agem do tato adequado àquelas motivo do seu desconforto ou ser alguém que já partiu, mas com quem ele n o
condições. conseguiu falar sobre seus sentimentos pode-se também escrever uma carta de
pedido de desculpas para sua melhor amiga enfim, s o várias as possibilidades.
Skinner cita, ainda, duas possibilidades em relaç o a essa estratégia, ambas
descritas por Malerbi e Matos (1992 :
I. A resposta encoberta pode ser semelhante à resposta evidente e, dessa forma, Registro de tr s coisas boas que fe no dia
fornecer à comunidade um est mulo p blico, ainda que mais fraco ou
Objetivo: criar condições para que o cliente entre em contato com as
II. A resposta encoberta pode ser emitida na presença de um est mulo privado,
conting ncias reforçadoras que fa em parte do seu dia a dia e que, por meio de
sem a presença de um componente p blico, desde que no passado seu relato
registros, ele possa ampliar seu contato com os sentimentos experimentados no
tenha sido reforçado na presença de comportamentos p blicos associados.
momento em que ele se comportava em cada uma delas.
A primeira situaç o é exemplificada quando se observa um indiv duo que
sente fraque a. A fraque a sentida pode ser intensa o suficiente para que a Como utili ar: solicitar que o cliente faça registros diários a partir do dia
comunidade verbal testemunhe sua lentid o psicomotora, dificuldade para falar, seguinte da sess o, descrevendo tr s coisas boas que fe ao longo do dia. A nica
entre outros comportamentos p blicos, ou pode ser fraca a ponto de apenas a regra a ser dada para a execuç o do exerc cio é que nenhum registro pode se
própria pessoa identificar em si esses sinais e ser capa de relatá-los. A segunda repetir, ou seja, todas as tarefas registradas ter o de ser tarefas diferentes das
situaç o pode ser observada no relato da desatenç o, previamente descrito. anteriores. Outra possibilidade desse exerc cio é o registro de coisas ruins que
aconteceram no dia do cliente. Tanto em uma quanto em outra possibilidade, o
GENERALI A O DE EST MULOS foco deve ser fa er o cliente relatar os sentimentos que ele experimentou em
cada uma das experi ncias que ser o descritas.
A quarta e ltima estratégia di respeito a um processo comportamental bastante
conhecido: a generali aç o de est mulos. Basicamente, a generali aç o ocorre Máquina do tempo
quando uma resposta verbal adquirida e mantida sob controle de est mulos
p blicos é utili ada, por analogia, para descrever est mulos privados com Objetivo: levar o cliente a tatear que os comportamentos s o mantidos em
propriedades semelhantes, como quando di emos estou me derretendo de esquemas de reforçamento intermitente. Ou seja, que diversos comportamentos
calor , fa endo analogia a objetos que se derreteram em ra o da temperatura do cliente n o ser o reforçados. importante que os clientes tateiem que o fato
quando di emos estou viajando , fa endo analogia entre estar pensando algo de um comportamento n o ser reforçado todas as ve es em que ocorre n o
diferente do que ocorre no momento e estar, de fato, geograficamente distante significa que ele n o será reforçado nunca. Por fim, que as consequ ncias s o
(viajando de um local espec fico. para o comportamento e n o di em respeito necessariamente a quem os emite.
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m e pune meu pai é exatamente o que faço com meu marido quando ele me Skinner (1974/2000 discorre ainda sobre como aprendemos a relatar
aborrece ou Meu pai sempre foi de poucos amigos, nunca confiava em comportamentos usuais, comportamentos prováveis, comportamentos
ninguém. Hoje percebo que sempre me envolvi superficialmente com as pessoas perceptivos, comportamentos passados e comportamentos futuros. De acordo
e n o soube fa er amigos, n o aprendi isso com ele . Um modelo parecido com com o autor, o comportamento usual é aquele de nature a p blica, mas que, por
os quadros na Figura 5.5 pode ser utili ado. ra ões diversas, n o está acess vel ao ouvinte, como, por exemplo, aquilo que
fa emos enquanto falamos ao telefone com alguém. A pessoa do outro lado da
linha telefônica n o tem como ter acesso a nosso comportamento, ainda que ele
seja p blico, a n o ser por meio de nosso relato. Conforme explica o autor, o
vocábulo utili ado para descrever esse comportamento pode ter sido adquirido
em outra ocasi o, quando outras pessoas o observaram, deram modelo de
descriç o e reforçaram os operantes verbais envolvidos em seu relato.
O comportamento provável, por sua ve , é aquele que geralmente chamamos
de desejos , intenções ou vontades . Nesse sentido, quando falamos a
Figura 5.5 Exemplos de quadros para a tarefa: Eu sou voc amanh . alguém sobre o que gostar amos de fa er no próximo Natal, estamos relatando
um comportamento provável. Para Skinner (1974/2000 , relatamos desejos,
Álbum de fotos intenções ou vontades quando estamos na presença de condições de estimulaç o
relacionadas a uma alta probabilidade de o comportamento desejado ocorrer.
Objetivo: criar condições que levem o cliente a discriminar as emoções Por exemplo, no calor, é bastante provável di ermos que queremos beber água
experimentadas em alguns momentos da sua vida. Essa técnica pode evocar quando ocorre algo engraçado, é bastante provável o relato de que sentimos
lembranças e favorecer a investigaç o de conting ncias que determinaram vontade de rir quando vemos amigos viajando ou quando vemos fotos de
alguns dos seus padrões comportamentais, em termos tanto de excessos quanto viagens antigas, é bastante provável o relato de que sentimos vontade de viajar.
de déficits. O comportamento perceptivo e o relato do que percebemos, de acordo com o
autor, s o aprendidos quando a comunidade verbal aponta algo para o indiv duo
Como utili ar: solicitar que o cliente selecione e leve para as sessões fotos que e ele se comporta em funç o daquilo. Por exemplo, quando perguntamos a
possam contar de maneira cronológica a sua vida. Uma dica é solicitar as fotos alguém Está vendo aquilo , e a pessoa responde Sim, estou, é um rouxinol ,
de acordo com a idade do cliente, ou seja, 15 anos, 15 fotos, 24 anos, 24 fotos, e reforçamos seu relato, estamos fortalecendo seu comportamento perceptivo.
etc. A ideia é que cada foto represente um ano da sua vida. Observe junto com o O relato do comportamento passado, na concepç o de Skinner (1974/2000 ,
cliente o local em que ele estava no momento da foto, o que ele estava fa endo, é aprendido em conex o com o relato do comportamento usual. Conforme
se ele aparentemente estava feli ou triste, do lado de quem ele se posiciona, se a discorre, uma pessoa que relata o que já fe está falando de uma posiç o
foto tra alguma lembrança de um momento importante de sua vida, entre outras especialmente vantajosa: essa pessoa esteve lá naquele momento em que agiu da
coisas. muito comum nesse exerc cio clientes se emocionarem. Nesse forma como relata. Nesse sentido, respostas a perguntas como Quem voc
momento, é importante o terapeuta ficar sens vel aos est mulos que estavam viu , O que voc fe no ver o passado ou O que sentiu naquela ocasi o
dispostos na ocasi o. s o respostas descritivas operantes fortalecidas de forma semelhante àquelas que
utili amos para responder às questões Quem voc está vendo , Onde voc
Cartas da erdade está agora , Aonde quer chegar , O que está sentindo e O que te fa
feli .
Quanto ao relato do comportamento futuro, Skinner (1974/2000 argumenta
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que pode se tratar de: 1 um relato enérgico de comportamento encoberto a ser efeitos de seu comportamento sobre o ambiente, um modelo parecido com o
emitido em p blico quando houver ocasi o adequada (p. ex., Estou pensando quadro na Figura 5.4 pode ser utili ado.
em viajar nas férias , 2 uma previs o do comportamento baseada na
observaç o das condições usuais nas quais tal comportamento ocorre (p. ex.,
Sei que vou ficar triste quando isso acontecer ou 3 um relato da alta
probabilidade de agir de uma maneira espec fica (p. ex., Estou com vontade de
dormir nesse caso, de acordo com o autor, estamos diante de uma descriç o do
tipo: Sinto-me como costumo me sentir quando vou dormir .

O AUTOCONHECIMENTO COMO CAPACIDADE DE


Figura 5.4 Exemplo de quadro de registro.
ESTABELECER RELA ES ENTRE EVENTOS
AMBIENTAIS E EVENTOS COMPORTAMENTAIS
Psicoeduca o
Até o momento, discutimos um tipo espec fico de autoconhecimento: a
habilidade de identificar e nomear emoções, relatar experi ncias passadas, Objetivo: criar condições para que o cliente aprenda a descrever de forma
desejos e planos. Essa habilidade é essencial para o indiv duo e para o trabalho adequada aquilo que está vivendo.
do cl nico comportamental, afinal, pode dar pistas das conting ncias em vigor na
vida do indiv duo (Banaco, 1999 , que, por exemplo, ao identificar o medo, Como utili ar: a psicoeducaç o pode ser feita de diversas formas. importante
poderá se proteger do perigo, ao identificar o estresse, poderá lidar com os que, em todos os casos, seja feita de forma colaborativa e que o terapeuta
estressores em quest o, e assim por diante. conheça de forma satisfatória todo e qualquer material que indicar. Algumas
estratégias psicoeducativas s o: a explicaç o didática sobre o que o cliente está
Um segundo tipo de autoconhecimento, também analisado por Skinner
vivendo b apresentaç o de textos didáticos sobre o que o cliente está vivendo e
(1974/2000 , é a habilidade de identificar e descrever as causas do próprio
c indicaç o de filmes ou documentários relacionados à problemática do cliente.
comportamento, explicando-o. De acordo com o autor, essa habilidade também é
aprendida por meio da interaç o com uma comunidade verbal, e, obviamente,
cada comunidade ensina o indiv duo a explicar de uma forma particular as Eu sou oc amanh ?
causas de suas ações, seus pensamentos e suas emoções. Por exemplo, um grupo
religioso mais provavelmente buscará explicações religiosas, e um grupo Objetivo: criar condições que levem o cliente a tatear suas caracter sticas e seus
cient fico, explicações cient ficas. Rodrigues e Dittrich (2007 exemplificam padrões comportamentais a partir de modelos da sua história, assim como
algumas dessas diferenças em um artigo em que apresentam um diálogo discriminar que a forma como sente, reage, fa escolhas, resolve problemas,
hipotético entre Tommaso, um behaviorista radical, e Gottlieb, um crist o enfim, como encara a sua vida, tem uma relaç o direta com o que aprendeu com
ortodoxo. No texto, s o apresentadas, entre outras coisas, as análises de cada um pessoas com as quais conviveu e ainda convive.
deles sobre os determinantes do comportamento religioso.
Como utili ar: a formular quadros com nomes de pessoas importantes em sua
vida, como, por exemplo, pai, m e, irm os e avós b solicitar que o cliente
Autoconhecimento e mentalismo preencha os quadros com as caracter sticas de cada uma das pessoas citadas por
Skinner (1974/2000 explica que, por vivermos em uma sociedade mentalista, ele c analisar os registros em sess o. S o exemplos de algumas poss veis
grande parte das explicações que temos para o comportamento também é análises advindas desse tipo de registro: Percebo que a maneira como minha
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a algo que ele n o entenda, como o processo terap utico (Linehan, 2010 . As mentalista. O comportamento geralmente é explicado pelas emoções, pelos
metáforas podem ser formuladas pelo próprio terapeuta ou adaptadas de acordo pensamentos ou por atributos da personalidade. Quem nunca ouviu um(a
com leituras prévias feitas em outras fontes, como Saban (2010 e Linehan amigo(a ou conhecido(a di er que fe algo porque sentiu vontade ou que está
(2010 4. namorando porque está apaixonado(a De acordo com o autor, explicações
desse g nero s o naturais e n o temos porque tentar modificá-las em conversas
Quadrantes da ida casuais. Tentativas de fa -lo poderiam ser, inclusive, socialmente
contraproducentes: Que cara chato, vive corrigindo o que falamos . Apenas
Objetivo criar condições para que o cliente discrimine como está sua vida quando uma quest o em nosso caso, um problema cl nico precisar ser
atualmente. esclarecida é que devemos buscar por uma explicaç o técnica ou, mais
especificamente, uma explicaç o que identifique as variáveis das quais o
Como utili ar: faça um quadro em uma folha de papel e divida-o em quatro comportamento é funç o (Tourinho, 1999 .
partes, desenhando uma cru dentro dele. Em seguida, na primeira parte, coloque
No contexto do autoconhecimento, questões cl nicas surgem quando a forma
o t tulo o que gosto e faço na segunda, o que gosto e n o faço na terceira,
com que o indiv duo explica o próprio comportamento está relacionada ao seu
o que n o gosto e faço e, na quarta, o que n o gosto e n o faço . Por fim,
sofrimento ou à sua dificuldade na construç o de uma vida que valha a pena ser
peça ao cliente para escrever ao menos cinco (ou 10 coisas para cada quadrante
vivida (Linehan, 2010 . o que se observa, por exemplo, quando tatos do cliente
(ver Fig. 5.3 .
sobre si próprio, seus sentimentos, desejos e planos n o descrevem precisamente
as conting ncias ou est o associados à produç o de aversivos em médio e longo
pra o, quando comportamentos que geram aversivos em médio e longo pra o
est o sob controle de regras, quando as regras inibem atitudes que gerariam
reforçadores positivos em médio e longo pra o (Guedes, 1999 e quando as
respostas autodescritivas do cliente foram, elas próprias, pareadas à estimulaç o
aversiva (Moreira Medeiros, 2007 ao longo de sua história de vida.
Uma ra o convincente apontada por Skinner (1989/1991 para buscarmos
explicações na identificaç o das variáveis das quais o comportamento é funç o,
nessas situações, é a inutilidade das explicações mentalistas para a resoluç o de
Figura 5.3 Exemplo de registro para a tarefa Quadrantes da vida .
problemas. Conforme aponta o autor, quando se atribui as causas do
comportamento a vontades, desejos, estados da mente ou atributos da
Quadro de registro personalidade, as possibilidades de intervenç o s o bastante limitadas. Para
ilustrar, imagine uma pessoa socialmente ansiosa que atribui sua dificuldade de
Objetivo: criar condições para que o cliente registre, durante a semana, aspectos interaç o social a um atributo de sua personalidade: uma suposta incapacidade EXEMPLO
comportamentais ou ambientais relevantes para a terapia. natural. De que forma o terapeuta ou a própria pessoa podem acessar essa
incapacidade e modificá-la N o há como. As alternativas s o: 1 intervir sobre
Como utili ar: a formular o quadro de acordo com as necessidades imediatas do
as condições que levam o indiv duo a n o conseguir interagir e 2 intervir sobre
processo terap utico e entregar uma cópia ao cliente b solicitar que o cliente
as condições que levam o indiv duo a se perceber como incapa .
preencha o quadro ao longo da semana e c analisar os registros em sess o. Por
Na investigaç o sobre as causas da dificuldade de interaç o da pessoa em
exemplo: se a demanda imediata da terapia é ajudar o cliente a discriminar os
quest o, muito provavelmente o terapeuta descobrirá coisas como: 1 o
indiv duo n o teve oportunidades para desenvolver um repertório adequado de
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habilidades sociais 2 seu comportamento social foi punido 3 seu fato, percebo que realmente se sente melhor, mais aliviado, ao evitar sair com
comportamento está sob controle de regras que prejudicam sua compet ncia seus colegas. Fa endo isso, voc evita poss veis cr ticas, julgamentos ou outras
social ou 4 seu repertório de habilidades sociais é adequado, porém, formas de rejeiç o, mas me lembro de voc di er que, ao evitar sair, também
conting ncias espec ficas de sua história de vida o levaram a experimentar um perde diversas oportunidades, como... (descrev -las , além de se sentir culpado
grau de ansiedade que inibe seu comportamento em situações sociais. depois .
Todas as hipóteses levantadas na investigaç o apontam para aspectos da
história de vida do indiv duo, de seu comportamento ou de seu ambiente atual Como eu sou e como os outros me eem?
que podem estar prejudicando seu desempenho, além, é claro, de contribu rem
para que ele descreva a si próprio como incapa . Identificados esses aspectos, Objetivo: criar condições para que o cliente formule autodescrições adequadas
especificamente em partes do ambiente ou do comportamento do indiv duo, o sobre si próprio e diminua autodescrições distorcidas.
terapeuta dispõe de recursos efetivos para intervir. Por exemplo, se as hipóteses Como utili ar pedir ao cliente para dividir uma folha de papel em duas colunas.
1 e 2 forem confirmadas, uma das alternativas dispon veis é o Treinamento de Na primeira, solicitar que escreva como ele se v . Na segunda, solicitar que
Habilidades Sociais (Murta, 2005 . Se a terceira hipótese for confirmada, o escreva sobre como as outras pessoas o veem.
terapeuta pode adotar estratégias para alterar o controle de est mulos do
comportamento do cliente (Meyer, 2000 . Caso a hipótese confirmada seja a Cai a da bele a
quarta, há a opç o de se utili ar técnicas de atenç o plena e enfrentamento da
ansiedade (Saban, 2011 . Em todos os casos, as intervenções s o direcionadas à Objetivo: criar condições para que o cliente aprenda a observar e relatar
modificaç o de aspectos espec ficos da interaç o organismo-ambiente e, nas emoções.
palavras de Skinner (1989/1991 , encontram-se ao alcance da m o.
No que di respeito às condições que levaram o indiv duo a se descrever Como utili ar: solicitar que o cliente leve à sess o objetos que representem
como incapa , cabe ao terapeuta se questionar se, diante das dificuldades que ele momentos significativos de sua vida, recordações agradáveis, grandes mudanças
já enfrentou, haveria de fato a possibilidade de que pensasse de outra forma pelas quais passou, entre outras coisas. O cliente deve ser incentivado a falar
sobre si próprio. Diante do que já expusemos até aqui sobre autoconhecimento, a sobre esses objetos, como os conseguiu, como estava sua vida na época, o que
conclus o óbvia é de que n o há essa possiblidade. Espera-se que, uma ve que a mudou em sua vida desde aquela época, que emoções sente ao se lembrar, que
pessoa aprenda sobre si e sobre as causas de seu comportamento, ela própria pensamentos tem, entre outras coisas.
conclua isso. Conforme explica Linehan (2010 , levar o cliente a reconhecer que
seu comportamento fa total sentido dentro de seu contexto ou condiç o de vida Metáforas
atual é uma forma de intervenç o bastante poderosa e corresponde, inclusive, ao
primeiro passo para a mudança. Objetivo: o uso de metáforas na cl nica baseia-se no princ pio da generali aç o
de est mulos um indiv duo pode responder a um est mulo com base em
Estratégias cl nicas para desen ol er autoconhecimento propriedades que ele compartilha com outros est mulos (Skinner, 1957/1978 .
Tem como finalidade, principalmente, fornecer instruções, informações ou dicas
Já comentamos sobre as estratégias utili adas pela comunidade verbal para de forma indireta ao cliente, de modo a aumentar sua sensibilidade a arranjos
desenvolver autoconhecimento, sobre as diferenças nos tipos de espec ficos de conting ncias, discriminando aspectos até ent o ignorados.
autoconhecimento que cada comunidade verbal produ e sobre a relevância do
autoconhecimento enquanto habilidade de analisar a própria interaç o com o Como utili ar: de forma geral, uma metáfora consiste em pegar algo que o
paciente compreenda, como duas pessoas escalando uma montanha, e comparar
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Como utili ar: quando o cliente relatar um pensamento ao ser questionado sobre ambiente. A quest o que se coloca, neste momento, é: de que forma o psicólogo
como se sentiu (p. ex.: Senti que ele ia embora , o terapeuta pode di er: pode produ ir esse tipo de autoconhecimento na cl nica
Entendo que tenha pensado (parafrasear o pensamento relatado, como que ele importante frisar que o terapeuta é o responsável por possuir o
ia embora , mas emocionalmente (enfati ando a palavra emocionalmente conhecimento teórico e técnico necessário para a tarefa. Conforme já discutido,
pelo tom de vo o que sentiu (ou: o que experimentou . o repertório autodescritivo que o cliente apresenta ao chegar na setting cl nico é
fruto de sua exposiç o a uma ou mais comunidades verbais espec ficas e, como
Fa er perguntas sobre os efeitos do comportamento no tal, apresenta as caracter sticas dessas comunidades. Isso significa que o
ambiente terapeuta deve acolher a forma como o cliente descreve seu próprio
comportamento, ainda que discorde de suas autodescrições. O acolhimento ao
Objetivo: criar condições para que o cliente discrimine os efeitos do próprio qual nos referimos, considerado essencial para a construç o de uma relaç o
comportamento sobre o ambiente. terap utica satisfatória, é tecnicamente chamado de audi ncia n o punitiva
(Skinner, 1953/2000 e constitui condiç o indispensável para que seja poss vel
Como utili ar: o terapeuta pode apresentar diversos questionamentos sobre os ensinar o cliente a formular análises mais refinadas.
efeitos do comportamento do cliente sobre si próprio e sobre o ambiente. Alguns O conceito de audi ncia n o punitiva n o fa refer ncia à aus ncia de
exemplos s o: a O que mudou em (descrever o antecedente após voc intervenções, mas, sim, ao reforçamento n o contingente a respostas espec ficas
(descrever o comportamento do cliente b O que sua atitude de (descrever o nesse caso, as falas do cliente sobre si mesmo e sobre o que vive fora do
comportamento do cliente trouxe para voc c E a médio e longo pra o, o ambiente cl nico. Outras expressões comumente utili adas para descrever esse
que (descrever o comportamento tem produ ido e d Esses efeitos s o os processo s o a aceitaç o incondicional e a promoç o de ambiente acolhedor
que voc deseja . (Del Prette Almeida, 2012 .
Podemos tomar como exemplo o atendimento de um cliente com
Interpretar os efeitos do comportamento do cliente dificuldades de falar sobre experi ncias pessoais e responder a perguntas
atreladas à sua intimidade. Trata-se de uma pessoa com uma história de vida com
Objetivo: criar condições para que o cliente discrimine os efeitos do próprio muita puniç o. Foi uma criança com poucos est mulos, que cresceu cercada de
comportamento sobre o ambiente. adultos que a impediam de dar opini o e expressar seus sentimentos. As regras
de ouro da sua fam lia eram é melhor ficar calado do que se arrepender do que
Como utili ar: a interpretaç o deve seguir alguns princ pios: a para reali á-la, o falou e esquece que passa , pare de sentir isso e deixa pra lá . Diante desses
terapeuta já deve ter hipóteses sobre as variáveis mantenedoras do dados, é fácil pressupor que se trata de um cliente com pouqu ssimo treino em
comportamento e sobre os efeitos desse comportamento em longo pra o b deve tatear sentimentos e falar de si. Em atendimento a um caso como esse, se o
incluir, em uma frase, o efeito em curto pra o (reforçador sobre a conting ncia e terapeuta n o for uma audi ncia n o punitiva, pouco irá contribuir para o
o efeito em longo pra o (aversivos produ idos e c deve explicitar as relações desenvolvimento de habilidades de autodescriç o e autoconhecimento.
existentes entre o comportamento do cliente e esses efeitos, sem qualquer ju o
As terapias de terceira geraç o enfati am bastante a importância de o
de valor ou julgamento.
terapeuta se colocar de forma n o punitiva para o cliente. Por exemplo, a
Para ilustrar, imagine a seguinte situaç o: o cliente relata uma série de Psicoterapia Anal tica Funcional (FAP (Kohlenberg Tsai, 1991/2001 aborda
situações em que evitou conversar com outras pessoas. Di se sentir aliviado a habilidade em meio às suas cinco regras: estar atento aos CRBs, evocar CRBs,
com isso, já que se esquiva de uma poss vel rejeiç o social. Porém, em outros reforçar CRBs, observar os efeitos do próprio comportamento sobre os
momentos da terapia, falou sobre os diversos preju os que a evitaç o produ e comportamentos do cliente e fa er a análise funcional. A terapia de aceitaç o e
sobre como se sente com esses preju os. Uma interpretaç o poss vel é: De compromisso (Hayes, Strosahl, Wilson, 2011 a aborda por meio de sua
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proposta de atenç o plena (mindfulness , que deve ser exercitada pelo próprio se sentido e O que mais voc sentiu na hora ef O que n o faria sentido
terapeuta durante a sess o a terapia comportamental pragmática (Medeiros sentir .
Medeiros, 2011 , por meio de seu modelo de questionamento reflexivo1. A
terapia comportamental dialética (Linehan, 2010 aborda a habilidade por meio Dar modelo
do princ pio da validaç o2, que é considerado, junto à exig ncia benevolente
pela mudança, um dos pilares da proposta terap utica. Objetivo: dar modelo ao cliente sobre como nomear uma emoç o.

Como utili ar: existem várias formas de dar modelo. A t tulo de exemplo, é
A INTERVEN O O QUE FA ER E COMO FA ER? poss vel: a falar nomes de emoções prováveis naquela situaç o b utili ar
algum tipo de baralho das emoções (jogo de cartas com imagens de
Em todas as modalidades de terapia comportamental, a utili aç o de uma ou
personagens apresentando emoções espec ficas seguidas do nome comumente
outra técnica parte da identificaç o das conting ncias operantes em vigor, o que
dado à emoç o c utili ar metáforas e d falar sobre como outras pessoas
deve ser feito por meio da análise funcional (Banaco, 2009 . Meyer (2003
teriam se sentido.
define análise funcional como o processo de identificaç o das relações entre
os eventos ambientais e as ações do organismo ou seja, uma análise funcional
consiste em especificar a ocasi o em que as respostas ocorrem, as próprias Técnica do Nem de le e?
respostas e as consequ ncias reforçadoras que as mant m.
Objetivo: muitos clientes, mesmo quando o terapeuta dá modelo, s o incapa es
Fa er a análise funcional corretamente é o grande desafio para os psicólogos
de discriminar e nomear uma emoç o. Isso pode ocorrer por falta de treino para
comportamentais. De acordo com Linehan (2010 , grande parte dos insucessos
identificar as respostas emocionais ou por esquiva. Nesse contexto, a técnica do
na cl nica di em respeito a falhas em sua elaboraç o. Delitti (1997 explica que
Nem de leve pode ajudar o cliente a prestar atenç o em alterações emocionais
ela é importante n o apenas para a identificaç o das variáveis que mant m o
discretas ou, ainda, pode sinali ar aus ncia de puniç o para o relato daquela
comportamento, mas também para planejar quais repertórios comportamentais
emoç o.
devem ser desenvolvidos.
A seguir, apresentamos algumas das alternativas das quais dispõe o terapeuta Como utili ar: quando o cliente disser n o ter sentido nada, o terapeuta pode
comportamental interessado em desenvolver o repertório de autoconhecimento3. di er frases que indiquem que uma emoç o é esperada para aquele contexto,
A escolha de uma ou outra, conforme já comentado, deve se basear na análise como, por exemplo, a Mas n o sentiu (nomear a emoç o nem de leve
funcional do caso. muito comum as pessoas ficarem (nomear a emoç o quando isso acontece b
Interessante, é bem raro alguém n o sentir nem um pouquinho de (nomear a
Perguntas diretas sobre as emo es emoç o quando (descrever a situaç o que deveria ter gerado a emoç o .

Objetivo: criar condições para que o cliente aprenda a identificar suas emoções. Técnica do Sentindo emocionalmente
Como utili ar: formular perguntas diretas sobre a emoç o sentida. Por exemplo: Objetivo: alguns clientes, quando questionados sobre como se sentem, relatam
a Como se sentiu quando (descrever o fato relatado b O que sentiu pensamentos em forma de frases e n o emoções. A técnica do sentindo
vontade de fa er na hora c Que relaç o a emoç o (descrever a emoç o tem emocionalmente aumenta as chances de o cliente relatar uma emoç o.
com (descrever o evento antecedente possivelmente relacionado d Se (citar
um evento contrário àquele relatado pelo cliente tivesse acontecido, como teria

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