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COMPARATIVO ENTRE MÉTODOS DE CÁLCULO DE PERDAS EM

TRANSFORMADORES ALIMENTANDO CARGAS NÃO-LINEARES

GUIMARÃES, Magno de Bastos LISITA, Luiz Roberto NERYS, José Wilson


EEEC/ UFG/ PEQ EEEC/ UFG EEEC/ UFG/ PEQ
magnobg@hotmail.com lisita@eee.ufg.br jwilson@eee.ufg.br

I. INTRODUÇÃO II. MATERIAL

Nas últimas décadas, tem-se O protótipo montado para a pesquisa


observado um grande crescimento no contém dois transformadores
uso de equipamentos com dispositivos conectados back-to-back alimentando
que utilizam semicondutores, como cargas lineares e não-lineares,
fontes chaveadas e retificadores. Com conforme Fig. 1.
isto, alguns transformadores antes
projetados para cargas lineares
passaram a suprir cargas com conteúdo
harmônico cada vez mais significativo.
Com isto, começaram a ocorrer
problemas sobreaquecimento em
transformadores. Para que não seja
necessário substituí-los, este problema
é controlado através da utilização de
uma potência menor que a nominal, de
forma que o aquecimento no Fig. 1 - Protótipo utilizado.
transformador seja o mesmo que ele
teria alimentando carga linear nominal. As medições são realizadas pelos
Portanto, faz-se necessário calcular os lados de tensão inferior, através de
valores das perdas que provocam o transdutores de tensão e de corrente
aquecimento para que o cálculo da ligados a um computador através da
potência máxima a fornecer seja uma placa de aquisição de dados.
adequado. Informações sobre o O sistema de aquisição e
procedimento de cálculo para a processamento dos dados de tensões e
estimação dessas perdas e o de correntes no domínio do tempo
redimensionamento do transformador permite que se calculem, através do
estão disponíveis nas normas UL 1561- modelo T de circuito equivalente, as
1994, UL 1562-1994 e na perdas diversas perdas medidas e
recomendação IEEE Std C57.110-1998 calculadas pelos métodos utilizados.
[1][2][3]. Entretanto, alguns trabalhos
III. METODOLOGIA
publicados indicam [4][5][6] que estes
métodos podem levar a um A. Determinação dos parâmetros
dimensionamento do transformador
maior que o necessário. As equações para cálculos das
Levando isto em conta, este trabalho perdas dependem do espectro
visa comparar as perdas calculadas por harmônico da corrente de carga e das
estes métodos com perdas medidas, perdas sob condição de carga linear .
utilizando medições de correntes e Ensaios em vazio e em curto-circuito
tensões em dois transformadores são realizados para obtenção da perda
conectados back-to-back. em vazio e da perda em carga sob
excitação senoidal, bem como os
parâmetros para os modelos L e T do
transformador. Através destes reescrita na forma de potência
parâmetros e dos dados de tensões e conforme equação (5) [6].
de correntes, são calculadas as perdas
v1i − v2 i = Racefi ⋅ i1i + Lac ⋅
di1i di
+ Racefi ⋅ i2i + Lac ⋅ 2i (4)
para condição de carga linear nominal dt dt
[6]. T d (i1i + i2 i )
T
∫ (v1i − v2i ) ⋅ (i1i + i2i ) ⋅ dt −Lac ⋅ ∫ ⋅ (i1i + i2i ) ⋅ dt
(5)
Os cálculos de perdas pelos métodos Racefi =
0
T
0 dt

do Fator K e do Fator de Perda ∫ (i1i + i2i ) ⋅ (i1i + i2i ) ⋅ dt


0

Harmônica (FHL) pressupõem que sejam De forma análoga à equação (1),


conhecidos o espectro harmônico da obtém-se a resistência por correntes
corrente de carga, a corrente nominal parasitas eficaz por fase (RECefi),
(IR), a perda fora dos enrolamentos para obtendo-se a resistência equivalente
condição de carga linear nominal (POSL- por fase, sendo que para o modelo
R) e a perda por correntes parasitas nos equivalente monofásico calcula-se a
enrolamentos na freqüência média das três.
fundamental (PEC-O).
Para a determinação desta, B. Cálculo das perdas
primeiramente devem ser encontradas Os métodos referenciados
as resistências equivalentes dos apresentam, para cálculo das perdas,
enrolamentos em dc (Rdc), através de as equações de (6) a (8)[1].
medição direta, e em ac (Rac), através hmax

do ensaio de curto-circuito. ∑I 2
h h2
A resistência que representa a perda FHL = h =1 (6)
hmax
por correntes parasitas nos ∑I 2
h
enrolamentos (REC) é dada pela h =1

equação (1)[6]. hmax

(1)
∑I 2
h h 0 ,8
REC = Rac − Rdc FHL − STR = h =1 (7)
hmax

A perda por correntes parasitas nos ∑I


h =1
2
h

enrolamentos sob carga linear nominal 2


(PEC-R) é dada pela equação (2). I  hmax
FatorK = ∑  h  h 2 (8)
(2) I
h =1  R 
PEC − R = 3 ⋅ REC ⋅ I R2
Onde hmax é a ordem da maior
Para o cálculo da perda por correntes harmônica de potência significativa, que
parasitas nos enrolamentos sob é igual a 50 para este trabalho.
freqüência fundamental em cada um Com os espectros harmônicos das
dos transformadores, utiliza-se a correntes medidas, determinam-se as
equação (3). perdas por correntes parasitas nos
enrolamentos calculadas pelo Fator K
PEC −O = 3 ⋅ REC ⋅ I 2fund (3)
(PEC-K) e pelo FHL (PEC-FHL), conforme
Onde Ifund é o valor rms da equações (9) e (10)[1][2][3].
componente fundamental da corrente. PEC − K = Fator K ⋅ PEC −O (9)
Para carga não-linear, a circulação
de correntes parasitas nos (10)
PEC − FHL = FHL ⋅ PEC −O
enrolamentos aumenta, resultando em
uma maior resistência em ac, A perda em dc nos enrolamentos
denominada resistência eficaz dos (Pdc) é dada pela equação (11).
enrolamentos por fase (Racef). Durante
os ensaios com carga, esta resistência Pdc = 3 ⋅ Rdc ⋅ I 2 (11)
é obtida através da equação (4),
Onde I é o valor rms da corrente no D. Corrente e potência máximas
lado de tensão inferior do A corrente máxima que o
transformador. transformador deve alimentar (Imáx)
Somando-se as perdas em dc com a deve ser tal que a perda no
perda por correntes parasitas obtém-se transformador seja a mesma que ele
a perda nos enrolamentos. A perda fora teria alimentando carga linear nominal.
dos enrolamentos para condição de A equação (14) apresenta esta
carga linear (POSL-R) é obtida através do igualdade, que pode ser reescrita
ensaio em vazio. conforme a equação (15).
C. Perdas medidas POSL− R + PW − R = 3 ⋅ Racef ⋅ I máx
2
+ POSL (14)
A perda medida total é dada pela
diferença entre as potências de entrada POSL − R + PW − R − POSL
I máx = (15)
no transformador T1 e de saída no 3 ⋅ Racef
transformador T2.
As diversas perdas por transformador Onde PW-R é a perda total nos
são medidas de forma indireta, através enrolamentos sob condição de carga
da implantação das equações do linear nominal [6].
modelo T de circuito equivalente A potência máxima que o
monofásico no domínio do tempo. transformador deve alimentar é
Para o cálculo da perda por correntes determinada através do valor em pu
parasitas nos enrolamentos (PEC), desta corrente.
utilizam-se as resistências por correntes
parasitas nos enrolamentos por fase IV. RESULTADOS
inferior (RECef Infi) e superior (RECef Supi),
cada uma considerada como sendo a No procedimento experimental,
metade da resistência por correntes primeiramente são determinados os
parasitas por fase (RECefi)[6]. Esta perda parâmetros do transformador, através
é calculada pela equação (12). do ensaio de resistência em dc dos
enrolamentos, do ensaio em curto-
2 circuito e do ensaio em vazio. Os
3
PEC = ∑
1 T i +i 
∫0 [ RECef Infi ⋅ ii + RECef Supi ⋅  1i 2 2i  ] ⋅ dt
2 (12) parâmetros obtidos são mostrados na
i =1 T
Tabela 1.
Onde ii é a corrente no lado de Tabela 1 - Parâmetros dos transformadores
tensão inferior do transformador. Parâmetro Valor
A perda nos enrolamentos é Rac 0,22031 Ω
calculada através da soma da perda por Rdc 0,19938 Ω
correntes parasitas nos enrolamentos REC 0,02093 Ω
com a perda em dc. Rdc inf 0,08917 Ω
R’dc sup 145,350 Ω
A perda fora dos enrolamentos (POSL) POSL-R (T1) 110,18 W
é calculada utilizando-se a tensão de POSL-R (T2) 103,99 W
excitação (voi) e as correntes por fase Lac 513,7 µH
nos enrolamentos de tensão inferior de
T1 (i1i) e de T2 (i2i), conforme equação Uma vez determinados os
(13). parâmetros, são medidas as tensões e
3
1 T as correntes e calculadas as diversas
POSL = ∑ ∫ voi ⋅ (i1i − i2i ) ⋅ dt (13)
i =1 2T 0 perdas para cada tipo de carga. Os
tipos de cargas utilizados estão
descritos na Tabela 2.
Tabela 2 - Tipos de cargas utilizados A Fig. 3 apresenta os valores das
Carga Descrição perdas nos enrolamentos.
C1 Carga linear (resistências)
600
C2 Retificador trifásico de onda completa
C3 Retificador trifásico de onda completa 500
com filtro capacitivo de 540 µF na

Perda nos enrolamentos (W)


saída 400

C4 Retificador trifásico de meia onda


C5 Retificador trifásico de meia onda com 300

filtro capacitivo de 330 µF na saída Retificador de


Retificador Modelo Adotado
C6 Retificador trifásico de meia onda com 200 onda completa
de meia onda Modelo Linear
FHL
filtro capacitivo de 660 µF na saída Fator K
100
C7 Retificador trifásico de meia onda com
filtro capacitivo de 990 µF na saída 0
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7
Tipo de Carga

A perda por correntes parasitas nos


Fig. 3 - Perdas nos enrolamentos.
enrolamentos, a perda total nos
enrolamentos, a perda no núcleo e a Nos resultados com retificador de
perda total no transformador são meia onda, as perdas por correntes
obtidas através dos diversos métodos: o parasitas nos enrolamentos são
modelo Adotado, que é descrito na menores. Isto ocorre devido à
metodologia deste trabalho; o modelo componente dc na corrente de entrada
Linear, que ignora o efeito das do retificador de meia onda não influir
freqüências harmônicas na perda; o nestas perdas.
FHL, proposto pelo IEEE e o Fator K, A Fig. 4 apresenta as perdas no
proposto pelo UL. núcleo obtidas pelos diversos métodos.
As perdas por correntes parasitas
200
nos enrolamentos estão apresentadas 180
Modelo Adotado
Modelo Linear
na Fig. 2. 160
FHL
Fator K

140
Perda no núcleo (W)
Perda nos por correntes parasitas nos enrolamentos (W)

200
Modelo Adotado 120
180 Modelo Linear
FHL
100
160 Fator K
80
140
60
120
Retificador de Retificador
40 onda completa
100 de meia onda
20
80
Retificador de Retificador de 0
60 onda completa meia onda 1 2 3 4 5 6 7
Tipo de Carga
40

20 Linear Fig. 4 - Perdas no núcleo.


0
C1 C2 C3 C4
Tipo de Carga
C5 C6 C7
As curvas de perda no núcleo para o
modelo Linear e para o Fator K se
Fig. 2 - Perdas por correntes parasitas nos sobrepõem e são constantes, uma vez
enrolamentos.
que ambos o desconsideram a variação
Pelo modelo adotado, observa-se de perda no núcleo devido às
que a perda por correntes parasitas nos freqüências das harmônicas. Porém,
enrolamentos é maior quando há mais percebe-se que a perda no núcleo
componentes harmônicas na corrente medida varia de acordo com o conteúdo
de carga. Porém, o aumento é bem harmônico da carga. A curva obtida
menor do que o previsto pelos métodos pelo método do FHL está acima da curva
referenciados. de perda medida.
800 tensão inferior e de 0,63 A para o lado
700
de tensão superior.
600
VII. REFERÊNCIAS
500
BIBLIOGRÁFICAS
Perda Total (W)

400

300 Retificador de meia onda [1] IEEE C57.110/D7, “Recommended


200 Retificador de Modelo Adotado Practice for Establishing
onda completa Modelo Linear

100
FHL
Fator K
Transfonner Capability when
Perda Medida Média
Supplying non-sinusoidal Load
0
1 2 3 4
Tipo de Carga
5 6 7
Currents”, IEEE, New York, USA,
Febrary 1998.
Fig. 5 - Perdas totais por transformador.
[2] UL 1561, “Dry-Type General
A curva que mais se aproxima do Purpose and Power Transformer”,
modelo T adotado é a obtida pelo 1994.
modelo Linear. No entanto, sabe-se que [3] UL 1562, “Transformers,
ela não deve ser obedecida, pois isto Distribution, Dry-Type – Over 600
provocaria sobreaquecimento no Volts”, 1994.
transformador. As curvas obtidas pelos [4] S.N. Makarov, A.E. Emanuel,
métodos Fator K e FHL superestimam as “Corrected harmonic loss factor for
perdas. transformers supplying
nonsinusoidal load currents”,
V. CONCLUSÃO
Ninth International Conference
Pelas curvas analisadas, nota-se que on Harmonics and Quality of
sob carga linear a perda é praticamente Power - Proceedings, vol. 1, no.
idêntica para qualquer um dos métodos, ,pp. 87-90, October 2000.
uma vez que os fatores de multiplicação [5] E.F. Fuchs, D.J. Roesler, M.A.S.
são iguais a 1. Quando há mais Masoum, “Are Harmonic
harmônicas, as perdas aumentam. Recommendations According to
Porém, o aumento não é tão grande IEEE and IEC Too Restrictive?”
quanto o previsto pelos métodos Fator
IEEE Transactions on Power
K e FHL. Isto indica que eles
superdimensionam as perdas, podendo Delivery, vol. 19, no. 4, pp. 1775-
levar um projetista a especificar um 1786, October 2004.
transformador maior que o necessário. [6] L.R.Lisita, “Determinação de
Perdas, Eficiência e Potência
VI. ANEXO - DADOS NOMINAIS DOS Máxima de Transformadores
TRANSFORMADORES Alimentando Cargas Não-
Lineares”, Dissertação de
Os transformadores utilizados são ∆- Mestrado – Universidade
Y, de distribuição, do tipo imerso em
óleo mineral e apresentam números de
Federal de Goiás, Fevereiro
2004.
série 6266 (T1) e 6267 (T2), do mesmo
lote de fabricação. A potência nominal é
de 15 kVA e as tensões dos lados
superior e inferior são respectivamente
13,8 kV e 380 V. A freqüência e a
temperatura de operação são de 60 Hz
e 50º C, respectivamente. A corrente
nominal é de 22,8 A para o lado de

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