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6314-Texto Do Artigo-18086-2-10-20190504
6314-Texto Do Artigo-18086-2-10-20190504
para o diagnóstico
diferencial dos
transtornos específicos
da aprendizagem
ÂNGELA MARIA VIEIRA PINHEIRO*
KARINA DE ALMEIDA MARQUES**
RITA DE CÁSSIA DUARTE LEITE***
Resumo
Determinar uma forma efetiva de avaliar as dificuldades que surgem no processo
de ensino e aprendizagem, especialmente fazendo a distinção entre aquelas de
origem ambiental (as chamadas Dificuldades de Aprendizagem) das de origem
biológica (os chamados Transtornos Específicos de Aprendizagem), é um desafio.
O presente artigo descreve o protocolo de avaliação do Ambulatório de Avaliação
e de Intervenção nos Transtornos da Linguagem Escrita (AmbLin) no que tange,
principalmente, ao diagnóstico diferencial desses transtornos. Apresenta um
levantamento dos casos diagnosticados e dos recursos e técnicas adotados
no procedimento de avaliação, realizado com base em evidências científicas. O
ambulatório conta com uma equipe multidisciplinar para a avaliação, intervenção
* Psicóloga (PUC-Minas), Mestre em Psicologia Educacional (University of Glasgow), Doutora em Psicologia Cognitiva
(University of Dundee) e Pós-doutora (Universidade de Educação de Ludwigsburg). Professora Titular da Universidade
Federal de Minas Gerais.
*** Fonoaudióloga. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Bolsista CAPES. Belo Horizonte - MG.
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Paidéia r. do cur. de ped. da Fac. de Ci. Hum., Soc. e da Saú., Univ. Fumec Belo Horizonte Ano 13 n. 19 p. 13-28 jan./jun. 2018
Ângela Maria Vieira Pinheiro, Karina de Almeida Marques e Rita de Cássia Duarte Leite
Introdução
A competência em leitura é desenvolvida à medida que a criança
mantém contato com a língua, inicialmente falada e, posterior-
mente, escrita, além da exposição explícita ao princípio alfabético,
no caso das línguas alfabéticas. Compreender quais transtornos
e elementos que podem interferir na aprendizagem da leitura
tem relevância social e educacional. De acordo o DislexiaBrasil
(PINHEIRO et al., 2012), frente aos problemas de aprendizagem,
os familiares e os professores, quando não conseguem determi-
nar as causas das dificuldades, por desconhecimento, acabam
associando-as a ‘preguiça’ ou ‘baixa inteligência’. Por exemplo,
as crianças disléxicas (mas também muitas com outros tipos de
dificuldade aprendizagem), acabam rotuladas com estigmas que
afetam suas relações sociais e escolares gerando, baixa autoesti-
ma e aversão à aprendizagem, estados que, em conjunto, podem
determinar um curso de vida negativo.
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Protocolo de avaliação para o diagnóstico diferencial dos transtornos específicos da aprendizagem
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Transtornos específicos da
aprendizagem
Segundo o CID-10, os Transtornos Específicos do Desenvolvi-
mento das Habilidades Escolares, relacionados, diretamente, às
funções cognitivas que dão suporte à aprendizagem, são carac-
terizos por disfunção na aprendizagem da leitura, da soletração
e da aritmética, que pode afetar cada uma dessas habilidades de
forma isolada ou em combinação, o que caracteriza, no último
caso, uma condição mista (CID, 2006).
Já para a Associação Americana de Psicologia, no Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), em
sua quinta edição, publicada em 2014, os transtornos da apren-
dizagem são condições do neurodesenvolvimento, classificadas
como Transtornos Específicos da Aprendizagem e definidos pela
presença de comprometimentos que afetam a aprendizagem e uso
das habilidades escolares. Dependendo da habilidade prejudicada
– leitura, escrita ou matemática – tem-se a definição de dislexia,
de disgrafia (ou disortografia) e de discalculia, respectivamente,
ou de condições comórbidas, quando o prejuízo é identificado em
mais de uma dessas habilidades. O diagnóstico deve se basear
em uma síntese clínica composta por informações sobre o desen-
volvimento, história médica, familiar e educacional do indivíduo,
associada a relatórios escolares e avaliação psicoeducacional, e
em quatro critérios, expostos a seguir.
De acordo com o primeiro critério, a dificuldade na aprendizagem
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Dislexia
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Protocolo de Avaliação
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Protocolo de avaliação para o diagnóstico diferencial dos transtornos específicos da aprendizagem
FIGURA 1 – Diagrama das atividades de avaliação do Ambulatório de Avaliação e de Intervenção nos Trans-
tornos da Linguagem Escrita (Amblin).
Fonte: Produzido pelos autores.
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Materiais e métodos
A metodologia do ambulatório é quanti-qualitativa e caracteri-
zada como exploratória-descritiva. Ao longo do ano de 2017, 55
clientes foram atendidos, passando todos pelo acolhimento inicial.
Desses, somente dois casos não iniciaram a triagem por desejo do
familiar. As demais 53 iniciaram pelo menos uma parte da Triagem
2 (avaliação da inteligência e da cognição geral).
O presente artigo faz o primeiro levantamento dos tipos de casos
encontrados em um total de 31 clientes que tiveram diagnóstico fe-
chado até novembro de 2017. Todos os casos apresentaram queixa
de baixo desempenho escolar, sem aparente explicação para tal
desempenho, observada na Triagem 1 e tiveram suas habilidades
intelectuais e desempenho escolar avaliados por meio da Triagem
2. Nem todos os casos foram submetidos a diagnóstico diferencial
(Triagem 3), sendo esse procedimento destinado apenas àqueles
sob suspeita de dislexia.
Resultados e discussão
Dos 31 (trinta e um) casos com diagnóstico realizado até no-
vembro de 2017 pelo AmbLin:
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Considerações finais
A medida da dificuldade de aprendizagem é o baixo desempe-
nho escolar, cujas causas podem levar a diferentes rumos de ação.
De acordo com o Manual de Diagnóstico Diferencial do DSM-5,
escrito por First (2015), o caráter inespecífico e comum das dificul-
dades escolares gera dúvidas no momento do diagnóstico, sendo,
no entanto, a questão escolar a queixa principal queixa apontada
por grande parte dos transtornos existentes na literatura, desde
os específicos até os globais.
Uma avaliação cuidadosa de todos os casos considerados des-
toantes nesse ambiente deve ser efetuada com base em testes de
inteligência, em avaliação das habilidades específicas subjacentes
ao desempenho escolar e em checklist de todos os critérios diag-
nósticos dos transtornos que afetam a aprendizagem. Os passos
sugeridos pelo manual, que é editorado pela Associação Brasileira
de Psiquiatria, são: i) estabelecimento de prejuízo substancial e
quantitativamente alto nas tarefas escolares, laborais ou sociais;
ii) avaliação da presença de transtornos psiquiátricos por meio da
consulta ao histórico pregresso familiar e clínico, de acordo com
a visão de diferentes pessoas; e também da influência do uso de
alguma substância (medicamentos ou drogas); e iii) avaliação de
todas as possibilidades de comorbidades e sugestões presentes
no algoritmo de decisão para baixo desempenho escolar. Transtor-
nos psiquiátricos podem associar-se aos Transtornos Específicos
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