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07 a 09 de Maio de 2012
Introdução
No decorrer dos últimos anos a queixa dos professores acerca dos alunos que
apresentam Dificuldades de Aprendizagem aumentou de maneira significativa. O alto
número de atendimento psicológico nos serviços públicos de saúde em crianças com
queixa de dificuldade de aprendizagem escolar, na faixa etária de sete a doze anos, vem
chamando a atenção dos estudiosos e pesquisadores interessados no assunto
(GONZAGA et al., 2007; FERRIOLLI et al, 2003; GRAMINHA & MARTINS, 1997;
LINHARES, PARREIRA, MATURANO & SANT'ANNA, 1993; SANTOS, 1990;
LOPEZ, 1983).
Segundo o National Joint Comitee for Learning Desabilities (NJCLD), entende-
se por Dificuldades de Aprendizagem “um grupo heterogêneo de desordens manifestas
por meio de significantes dificuldades na aquisição e uso da audição, fala, leitura,
escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas”. (HAMMILL, LEIGH, MCNULT E
LARSEN, 1981, p.336).
Embora as Dificuldades de Aprendizagem tenham se tornado foco de pesquisas
frequentes nos últimos anos, a falta de conhecimento do que vem a ser uma DA e quais
os motivos que a determinam tem levado um número considerável de crianças a
exclusão do processo de escolarização.
Para Teixeira (2008) esta falta de conhecimento “rotula” a dificuldade como um
“defeito”, um “comportamento fora do padrão”, portanto que dificulta a aprendizagem.
Desta forma, a criança sofre duplamente, pois é excluída e “rotulada”, sendo
encaminhada para as aulas de reforço, recuperação, salas especiais; etc.
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1970, apud MENDES e FONSECA, 1987). A idéia central destes estudos parece inferir
que o processo mental superior edifica-se a partir do desenvolvimento adequado dos
sistemas motor e perceptivo.
Apesar destas constatações, nem toda criança com DA apresenta dispraxias,
podendo, até mesmo demonstrar um nível práxico considerável ou elevado. Porém,
conforme afirma Fonseca (1992), na escola regular e na prática clínica surgem muitos
casos de crianças com DA com dispraxias. Além das desordens básicas no
processamento da informação (disfunções de input, elaboração e output) aparecem
também desordens básicas de dificuldades de resolução de problemas num contexto
psicomotor, “revelando dificuldades de simbolização ou verbalização de ações e de
movimentos expressivos ou construtivos, problemas de orientação espacial, de
integração e reprodução rítmica, de identificação e representação somatognósica, de
dissociação e planificação motora, sinais vestibulares e posturais desviantes, etc., que
parecem situar algum grau disfuncional entre a praxia e a apraxia” (FONSECA, 1995a,
p. 290).
Apesar dos estudos atentarem para os benefícios de um trabalho psicomotor, as
maiores dificuldades quanto à sua realização residem no fato de que apesar da
psicomotricidade privilegiar o ato físico, este deve levar ao trabalho mental, no qual se
aprende a escutar, interpretar, imaginar, organizar, representar, passar da idéia ao ato, do
abstrato ao concreto, bases imprescindíveis da aprendizagem. A motricidade é
reconhecidamente importante para a aprendizagem simbólica (PIAGET, 1978; HOLLE,
1979; LE BOULCH, 1982; AJURIAGUERRA,1988), porém, ainda não é claro quando
e como uma intervenção, através da motricidade, ou mesmo da psicomotricidade,
poderia influenciar o desempenho cognitivo, pois muitos autores não estabelecem a
exata fronteira, onde, porque e como a motricidade pode enriquecer e/ou modificar os
processos perceptivos, integrativos e elaborativos da aprendizagem (MOREIRA,
FONSECA E DINIZ, 2000). Diante deste aspecto, o que se buscou com este estudo foi
elaborar uma intervenção psicomotora que pudesse ser aplicada na escola, e por meio da
avaliação dos resultados evidenciar ou não a sua validade.
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Metodologia
Este estudo se caracterizou como quase experimental, que segundo Gil (1991),
ocorre quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as variáveis que seriam
capazes de influenciá-lo, definem-se as formas de controle e de observação dos efeitos
que a variável produz no objeto, somente em um dos dois grupos.
A população foi composta por alunos matriculados no 3°ano de ambos os sexos
de uma Escola do município de Paranavaí-Pr. A amostra foi representada por 40 alunos
com DA, selecionados por meio da aplicação do ADAPE (Avaliação das Dificuldades
de Aprendizagem em Escrita), divididos em dois grupos: Controle e Experimental
sendo o Grupo Controle (GC) composto por 5 meninas e 15 meninos com idade entre 7
e 12 anos e o Grupo Experimental (GE) composto por 8 meninas e 12 meninos.
O teste sobre a Avaliação das Dificuldades de Aprendizagem em Escrita
(SISTO, 2001), consiste em um ditado de um texto denominado “Uma tarde no campo”,
composto por 114 palavras, sendo 60 delas com algum tipo de dificuldade lingüística e
outras 54 palavras sem essas dificuldades. Por meio dessa prova avaliam-se encontros
consonantais, dígrafos, sílabas complexas, sílabas compostas, uso correto do parágrafo e
uso correto da letra maiúscula. Esse instrumento possui validade de critério e alta
precisão. O resultado do teste é composto por uma escala da avaliação da dificuldade de
aprendizagem na escrita. A escala permite a classificação dos sujeitos em: sem indícios
de dificuldade de aprendizagem (DA), até 10 erros; dificuldade de aprendizagem (DA)
leve, de 11-19 erros; dificuldade de aprendizagem (DA) média, 20-49 erros e
dificuldade de aprendizagem (DA) acentuada, 50 ou mais erros.
Para a avaliação psicomotora foi utilizada O Teste Psicomotor proposto por
Oliveira (2003). Os dados referentes à avaliação psicomotora foram coletados
individualmente e centraram-se nos aspectos espaciais e temporais, tendo em vista que
estes aspectos estão intimamente relacionados a aprendizagem da escrita. Cada estágio
de desenvolvimento psicomotor representa a idade cronológica e sua pontuação
esperada em: I – Imagem do corpo vivido (até 3 anos); IA – Reorganização do corpo
vivido (3 a 4 anos e 6 meses); IB – Indícios de presença de imagem de corpo percebido
(5 a 6 anos); II – Imagem do corpo percebido (7 anos); IIA – Reorganização do corpo
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Orientação temporal 1 2a 8 9 a 14 15 16 a 25 26 a 33 34
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Para análise foi utilizada a estatística descritiva, com médias, freqüência e desvio
padrão. Para realizar a comparação dos resultados entre os grupos foi utilizado o teste
‘t’ de Student.
Tabela 1. Número de erros no teste ADAPE nos grupos controle e experimental no início da
intervenção (pré-teste) e após a intervenção (pós-teste).
CONTROLE (n=18) EXPERIMENTAL (n=19)
Pré - Teste 65,8 ± 18,7 72,6 ± 19,5
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oralidade (palavras escritas da maneira como são faladas), 16,8% e omissões de letras,
9,6%. Os resultados apontaram ainda uma queda percentual de erros, no geral, ao longo
das séries, o que demonstra que as crianças estão construindo suas hipóteses e se
apropriando do sistema escrito. No entanto, as representações múltiplas (uma mesma
letra pode representar diferentes sons e vice-versa) permanecem com índice alto ao
longo de todas as séries, comprovando dificuldades atribuídas às próprias
irregularidades características da língua portuguesa.
Para Gregg (1992, apud GARCIA, 1998) as dificuldades encontradas no
processo de ensino e aprendizagem vão desde o desenvolvimento das habilidades de
escrita (disgrafia) e estruturação e pontuação das frases, bem como a organização de
parágrafos. No começo do processo de alfabetização o que mais se observa são:
confusão de letras, lentidão na percepção visual, inversão de letras, transposição de
letras, substituição de letras, erros na conversão símbolo-som e ordem de sílabas
alteradas, essas dificuldades pode se apresentar ao se soletrar ou escrever uma palavra
ditada ou copiada.
Alguns estudos como de Sisto et al., (1994) e Fini et al., (1994) partem do
pressuposto de que o baixo rendimento escolar pode ser entendido como uma
manifestação das DA. Mais precisamente, os estudos de Fávero (2004), Tomazinho
(2002) e Oliveira (1992) mostram a procedência de identificar entre DA às que são
relacionadas ao desenvolvimento psicomotor e, a partir desses dados, mostrar a
necessidade de se abordar os esquemas motores nas primeiras séries como prevenção às
dificuldades de aprendizagem de escrita.
Segundo Zucoloto e Sisto (2002), a leitura e a escrita são as formas mais fáceis
de diagnosticar as DA e de serem avaliadas no ensino fundamental. Elas são a base para
a avaliação escolar, ambas têm um duplo sistema simbólico, pois permitem transcrever
um equivalente visual em um equivalente auditivo, ou o contrário. Um estudo realizado
pelos mesmos autores com alunos da terceira série do Ensino Fundamental aponta que a
maioria dos alunos desta série apresentou dificuldade de aprendizagem média em escrita
e um grupo razoável, contudo, apresentou dificuldade de aprendizagem acentuada.
A tabela 2 retrata as pontuações obtidas na avaliação psicomotora nos grupos
controle e experimental:
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deve compor sinais orientados e reunidos de acordo com normas, a sucessão faz destes
sinais, palavras e frases, tornando a escrita uma atividade espaço-temporal. Para
Fonseca (1995b), um objeto situado a determinada distância e direção é percebido
porque as experiências anteriores da criança levam-na a analisar as percepções visuais
que lhe permitem tocar o objeto, dessas percepções que resultam as noções de distância
e orientação de um objeto com relação a outro, a partir das quais as crianças começam a
transpor as noções gerais a um plano mais reduzido, que será de extrema importância
quando na fase do grafismo.
Para escrever é necessário que se tenha orientação espacial suficiente para situar
as letras no papel, para organizá-las em tamanho e forma ao espaço de que se dispõe. E,
além disso, precisa-se conduzir o traçado da esquerda para a direita, de cima para baixo,
controlando os movimentos de maneira a não segurar o lápis nem com muita, nem com
pouca força, é necessário que a escola proporcione condições para a criança vivenciar
situações que estimulem o desenvolvimento dos conceitos psicomotores (FÁVERO,
2004).
Furtado (1998), estabeleceu relações entre o desempenho psicomotor e a
aprendizagem da leitura e escrita, e os resultados do seu estudo apontam que ao
provocar o aumento do potencial psicomotor da criança, ampliam-se também as
condições básicas para as aprendizagens escolares. Os dados de um estudo realizado por
Nina (1999), sobre a organização percepto-motora e o aprendizado da leitura e escrita
em classes de alfabetização, demonstram para a necessidade de, desde o ensino pré-
escolar, serem oferecidas atividades motoras direcionadas para o fortalecimento e
concretização das funções psicomotoras, essenciais para o êxito das atividades de leitura
e escrita.
Sanches et al., (2004) em seu estudo com 25 crianças com idade entre 6 e 8 anos
contatou que os alunos que apresentavam dificuldades motoras na realização das tarefas
de estruturação espaço-temporal e praxia fina mostraram graus de dificuldades no
aprendizado escolar, evidenciando uma associação entre o perfil psicomotor e a
aprendizagem.
As médias do grupo experimental no pós-teste foram significativamente
superiores a do grupo controle. Em relação a este aspecto, vários estudos comprovam
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Conclusão
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Referências
FINI, L.; OLIVEIRA G.; SISTO F.; SOUZA M.; BRENELLI R. Avaliação escrita de
matemática: em busca de explicação. Zetetiké, Campinas, v.4, n.6, p. 25-43, 1994.
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SISTO, F.; FINI, L.; OLIVEIRA, G.; SOUZA, M.; BRENELLI, R. Matemática e
alfabetização: mecanismos psicológicos subjacentes. Pró-posições, Campinas, v.2, n.
14, p. 49-59, 1994.
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