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Nome: Francisco de Assis Carvalho da Costa

Turma: EAD 20 C
Assunto: Psicanálise e mitologia - Sísifo, uma análise acerca da
compulsão à repetição
BREVE RESUMO SOBRE O MITO DE SÍSIFO

Os heróis, segundo a mitologia grega, são semideuses, detentores de


algumas qualidades que fazem referência a grandeza dos deuses, mas ainda
mortais, segundo a natureza dos homens. Tais condições constroem nos
personagens contradições, excessos, comportamentos destrutivos e violentos
que ultrapassam os limites que já foram condicionados pelos deuses aos
mortais. Entretanto, quando grandiosos e criativos são os feitos e suas elevações
morais, aproximam-se dos deuses.
Sísifo, herói grego, tem entre seus feitos a fundação da cidade de
Corinto, bem como o trono, sendo ele o rei. Em outro feito, conta-se que notara
que seu rebanho diminuía, ao passo em que o de seu vizinho, Autólico, tornava-
se numeroso; constatada a fraude, Sísifo ainda não tinha provas cabais que
pudessem condenar o larápio. A partir de sua perspicácia, marcou seus animais
de modo que ao caminharem deixariam impresso no chão a sua marca,
comprovando assim quais eram os seus, dando por fim o roubo.
Em suas terras não haviam rios ou qualquer fonte de águas,
necessitando que esta fosse colhida em outras terras. Certo dia, Sísifo avista
nos céus a águia de Zeus carregando Egina, a filha do rio Asopo e então teve a
ideia de encontrar o pai da moça e informar que Zeus havia tomado a moça para
si, mas que ele poderia resgatá-la em troca de uma fonte de água em sua cidade.
É evidente que ao cometer a indiscrição, traiu Zeus e despertou sua fúria.
Tânatos, que fora incumbido por Zeus para matar Sísifo, apenas não
contava com a sua astúcia, pois o mesmo não se entregaria fácil, enganando e
acorrentando o deus da morte, fazendo o que poucos mortais fizeram,
adicionando mais um grande feito à sua trajetória e aumentando ainda mais a
fúria dos deuses, fazendo com que Ares libertasse Tânatos e o permitisse que
fizesse de Sísifo a sua primeira vítima.
Sísifo sabia que iria encontrar a fúria dos deuses após sua morte, logo
após subir na canoa de Caronte, cruzar o rio dos mortos e chegar no outro lado.
Foi então que pediu a sua esposa para que não lhe fizesse as honras e os ritos
fúnebres quando morresse, pois sem eles não poderia fazer a passagem e seu
espírito vagaria por um período muito longo na margem do rio dos mortos; com
isto seria necessário retornar para matá-la, diante de grande desfeita. Este foi o
argumento que Sísifo se utilizou para retornar ao mundo dos vivos. Retornando,
Sísifo não cumpre sua promessa de regresso ao mundo dos mortos,
demonstrando estar fadado a transgredir leis divinas e limites, o que o levou a
sua condenação, necessitando que Hermes o recolhesse ao mundo dos mortos
por ordens de Zeus. Sua condenação consistia em mover uma grande pedra
montanha acima, com o objetivo de fazê-la cair do outro lado. Porém a pedra
sempre rolava para baixo, retornando ao seu ponto de partida. Deste modo, sua
condenação seria eterna. Hades ainda prometeu a Sísifo que se conseguisse
derrubar a pedra do outro lado da montanha, conseguiria deixar o castigo eterno,
coisa que nunca conseguiu fazer, pois esta condição está atrelada ao seu
destino, assim como Édipo, que por mais que soubesse do seu destino, jamais
poderia escapar dele.

A COMPULSÃO À REPETIÇÃO

Desde muito tempo a mitologia se mostra como fonte rica de reflexões


acerca do humano e seus atos. Sísifo nos traz elementos que corroboram a
perspectiva da compulsão à repetição: excesso, transgressão e a possibilidade
de restauração da ordem, ou redenção em busca de reequilíbrio.
As repetições compulsivas demonstram-se como principal sintoma de
que há algo a ser compreendido, pois nelas é visível a insistência em realizações
que, em muitos casos, não trazem qualquer benefício ao indivíduo e que
tampouco o mesmo está a considerar os possíveis desprazeres que
acompanham os atos repetitivos em compulsão. Discutir este conceito na obra
freudiana requer um estudo aprofundado, visto que ele está relacionado a vários
outros temas de relevância e em alguns textos diretamente (Recordar, repetir e
elaborar – 1914b, Além do princípio do prazer – 1920, O inquietante – 1919), ao
passo que em outros está a percepção do conceito.
Com evidente presença na literatura freudiana, este é o tema que
dificilmente se esgotará, sendo o objetivo deste texto apenas a breve clarificação
acerca da compulsão à repetição e sua ligação com o mito de Sísifo, visto que
Freud fazia uso, com alguma frequência, de fontes míticas como fontes
metafóricas, pois compreendia que nelas estavam condensadas uma forma de
conhecimento “social” aplicável em qualquer época, e que desde os primeiros
homens até os dias atuais, nada mudou entre nós, senão a necessidade de
repressão e recalque para que possamos dividir um espaço em comum; todavia
a natureza humana é a mesma.

“[...] o analisando não recorda absolutamente o que foi esquecido e reprimido,


mas sim o atua. Ele não o reproduz como lembrança, mas como ato, ele o repete,
naturalmente sem saber que o faz” - Freud – 1914b, p. 149.

A percepção freudiana acerca da compulsão à repetição entende que a


mesma é um ato coercitivo advindo do inconsciente, e que de tal modo
desconsidera a vontade racional do sujeito, compelindo-o a um ato recalcado,
vivenciando-o como natural e atual. Freud aponta que este comportamento nos
atinge em diversas situações, apresentando contradições, sem que saibamos o
seu real motivo; todavia há algo nele que nos parece familiar. É um sentimento
que se baseia em algum elemento recalcado que tende a retornar, não sendo
algo novo no psiquismo.

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